segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Míriam Leitão

Presença de Dilma em ato do PT que atacou cúpula do Judiciário enfraquece a democracia

Quando a presidente da República participa de um evento em que se acusa a cúpula do Judiciário de manipulação, e de ter realizado um julgamento de exceção, está enfraquecendo a democracia brasileira. Foi o que a presidente Dilma fez. O que ela não disse explicitamente, o ex-presidente Lula o fez. O que ela demonstrou no 5° Congresso do PT, por ação ou omissão, é grave.

Dilma sabia o que seria na abertura do 5° Congresso do seu partido. Sabia que lá defenderiam os condenados do mensalão. Ao mesmo tempo, como chefe do Poder Executivo, ela não pode participar de urri ato em que a Justiça brasileira está sob ataque. O Supremo Tribunal Federal cumpriu todo o devido processo legal. Dilma consentiu — pelo silêncio e pela presença — com as acusações ao Tribunal. Ela é militante do PT e é a candidata. A situação era delicada, mas ela só poderia participar de um evento sóbrio em que não ocorresse o que ocorreu.

Míriam Leitão, “Dilma tomou partido”, O Globo, 14 de dezembro de 2013

Michelle Bachelet é eleita presidente do Chile

Candidata da coalizão oposicionista Nova Maioria volta ao poder em segundo turno marcado pelo baixo comparecimento dos eleitores

Ex-presidente volta ao poder, com 62% dos votos, em eleição marcada pela abstenção. Desafio é fazer as ambiciosas reformas tributária, educacional e constitucional, prometidas na campanha.

Eleições no Chile - Bachelet volta ao poder

Disputa com abstenção de mais de 50% premia agenda reformista da candidata socialista

SANTIAGO - A partir de março, Michelle Bachelet volta a ser presidente do Chile, cargo que ocupou entre 2006 e 2010, com a pressão de cumprir uma ambiciosa agenda de reformas prometida em campanha. A candidata da coligação de esquerda Nova Maioria confirmou seu favoritismo e recebeu 62% dos votos no segundo turno, enquanto a candidata do governo, Evelyn Matthei, ficou com 37% em uma disputa marcada pela abstenção de mais da metade dos eleitores.

O fato de muitos chilenos considerarem o resultado previsível foi apontado por analistas políticos como uma das principais razões para 53% dos 13,5 milhões de eleitores não terem ido às urnas — desde o ano passado, o voto é voluntário, ou seja, qualquer chileno em idade eleitoral não precisa de registro para votar. Outros especialistas viram no baixo comparecimento às urnas um recado de uma população insatisfeita para a classe política de forma geral. Políticos passaram todo o domingo incentivando, via redes sociais, a ida às urnas, mas não tiveram sucesso. A abstenção registrada ontem foi ainda pior que a do primeiro turno, quando 50% dos eleitores não votaram e Bachelet venceu com 46,7% dos votos, contra 25% de Evelyn.

— Estou feliz com o resultado e a vitória, e serei uma presidente para todos no Chile — disse a vencedora.

Amigas na infância e filhas de militares, as duas candidatas trilharam caminhos diferentes e acabaram em lados opostos do espectro político. O pai de Bachelet não aderiu ao golpe militar de 1973, foi preso, torturado e morreu na cadeia; o de Evelyn veio a se tornar um dos nomes mais poderosos da ditadura de Augusto Pinochet. Nas eleições, a candidata da Nova Maioria promoveu uma programa de governo ambicioso, de caráter reformista, no rastro das manifestações que levaram milhões de chilenos às ruas nos últimos anos principalmente em defesa de avanços na educação pública. Evelyn foi ministra no Gabinete do presidente Sebastián Pinera e virou candidata só depois que outros três nomes desistiram de concorrer pela coalizão governista Aliança pelo Chile. A defesa da classe média foi o cerne de sua campanha.

— O resultado é de minha exclusiva responsabilidade política — disse Evelyn, que depois de reconhecer a derrota foi dar os parabéns a Bachelet pessoalmente. — Não fui capaz de me recuperar, mas não me arrependo um só minuto de ter aceitado esta candidatura.

"Nenhuma das duas me convence"
Ainda pela manhã, o presidente chileno, Sebastián Pinera, foi cauteloso ao comentar as eleições e se valeu do fato de as duas candidatas serem mulheres para não se ver obrigado a abordar as escassas chances de vitória de Evelyn.

— A futura presidente sabe que, de nossa parte, terá uma atitude leal. Quero desejar toda a sorte para a futura presidente do Chile — disse Pinera, que ligou para Bachelet após a confirmação da vitória da opositora.

O presidente encerra 2013 com apenas 34% de aprovação popular, um baque para o primeiro governo de centro-direita eleito desde o fim da ditadura, em 1990. Entre os eleitores, o sentimento de mudança foi praticamente unânime, mas as manifestações da mesma aspiração se mostraram de forma diferente de acordo com o candidato apoiado.

- Fora do país é comum ouvir que este país está crescendo e evoluindo mais que os outros na América Latina, mas não pode ser apenas uma questão de crescimento — argumentou Paola Bustamante, de 40 anos, que disse tervotado em Bachelet. — Precisamos de reformas urgentes na educação, melhorias na saúde, e acho que Bachelet pode cumprir as promessas de mudanças profundas desta vez.

Já Olga Espinoza, de 62 anos, afirmou que também queria mudança, mas não com Bachelet. A eleitora lembrou o terremoto e o tsunami de fevereiro de 2010, quando a candidata da Nova Maioria, então presidente, foi criticada depois que o govemo falhou no alerta para a catástrofe.

— Eu não gosto de Bachelet. Ela fez muitas coisas ruins quando era presidente. — disse Olga, que contou ter votado em Evelyn Matthei. — Quantas pessoas morreram no terremoto por causa dela? Temos a mesma idade, o mesmo signo, mas não gosto de nada nela.

E há também os que simplesmente não foram às urnas, minando tanto uma possível vitória ainda mais elástica de Bachelet quanto uma inesperada reação de Evelyn. Raquel Baeza, de 37 anos, preferiu aproveitar o domingo para fazer compras de Natal em um shopping de Santiago e mostrou um pouco da pressão que a presidente eleita enfrentará neste novo mandato.

— Bachelet não me convence. Nenhuma das duas candidatas me convence — afirmou Raquel. — Sou de esquerda, mas preferia outra pessoa que não fosse Bachelet. Ela só cria comitês para o que ela quer fazer; ela não faz nada de concreto.

A aparente distância da política tomada por muitos chilenos pode dificultar a obtenção de respaldo para as reformas almejadas por Bachelet. Além de defender a elaboração de uma nova Constituição que substitua a atual, de 1980 e herança da ditadura de Augusto Pinochet, a presidente eleita quer aumentar impostos para empresas e, com isso, bancar investimentos em educação. Seus aliados têm uma curta maioria na Câmara e no Senado.

"Uma alta abstenção não tira a legi-mitidade do processo, mas em algum grau "desempodera" quem for eleita", provocou via Twitter a economista Maria Cecilia Cifuentes, integrante da campanha de Evelyn Matthei, ainda antes do anúncio dos resultados.

Fonte: O Globo

Bachelet: carisma para impulsionar reformas no Chile

Ex-presidente, eleita para novo mandato, enfrenta altas expectativas e desafio de aprovar medidas para diminuir a desigualdade no país

Reuters

SANTIAGO - Quando Michelle Bachelet foi designada ministra da Saúde, em 2000, o então presidente Ricardo Lagos lhe deu uma tarefa desafiadora: terminar em três meses com as longas filas nos centros médicos. Bachelet trabalhou duro para cumprir o prazo, mas não conseguiu. No entanto, quando Lagos visitou um posto para avaliar a situação, uma mulher se aproximou dele para elogiar a ministra e pedir-lhe para mantê-la no cargo.

- Nesse curto período, ela estabeleceu um relacionamento, uma empatia (com as pessoas) - contou Lagos.

Os esforços para melhorar e aumentar os centros de saúde e seu estilo descontraído abriram as portas para Bachelet se tornar a primeira mulher a ocupar a Presidência chilena, entre 2006 e 2010. A política socialista volta para um segundo mandato com o mesmo carisma e uma meta ainda mais ambiciosa - reduzir o fosso cada vez maior entre ricos e pobres.

Torturada durante a ditadura de Augusto Pinochet e mãe solteira de três filhos, Bachelet foi um dos presidentes mais incomuns no conservador Chile desde o retorno à democracia, em 1990. Ela é amada pela maioria das mulheres das classes média e baixa, desencantadas com a elite política chilena - que se orgulha de estabilidade e crescimento da economia de um país com o pior índice de distribuição de renda entre os membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) .

Mas seus críticos dizem que sua popularidade depende muito de sua personalidade. E muitos eleitores - desiludidos com o seu primeiro mandato por suas políticas moderadas - estão céticos em relação às promessas de mudança. Bachelet prometeu várias reformas, incluindo um aumento nos impostos corporativos para financiar melhorias na educação pública, mudanças na Constituição herdada da ditadura e a legalização do aborto em alguns casos.

Tortura, exílio e medicina
Muitos daqueles que se sentem marginalizados em um país citado como uma história de sucesso na América Latina depositaram suas esperanças sobre ela. Longe dos arranha-céus brilhantes e dos parques imaculados de Santiago, dezenas de fãs em êxtase, no bairro humilde de Cerrillos, aplaudiram a ex-presidente durante um comício de campanha no mês passado.

- Ela é uma lutadora. Isso é o que eu mais valorizo - disse Josefina Osorio, uma estudante de direito de 32 anos, que deu os gritos de boas-vindas a Bachelet . - Ela vem com novas ideias.

Impedida de concorrer a um segundo mandato consecutivo pela Constituição, Bachelet se mudou para Nova York para chefiar o Escritório das Nações Unidas para a Mulher. Nesse cargo, viajou ao redor do mundo para defender os direitos das mulheres, o que lhe permitiu desenvolver sua capacidade de negociação e autoconfiança, dizem analistas.

Em um exemplo de simplicidade, Bachelet disse durante uma entrevista de televisão recentemente que uma das coisas que gostou em viver fora do Chile foi a liberdade de ir às compras de bermuda. Durante o mesmo programa, dançou com o popular apresentador Don Francisco.

- Ela defende uma espécie de ideologia social e não uma ideologia política - explica Guillermo Holzmann, analista político da Universidade de Valparaíso. - Não há uma explicação lógica ou teórica (sobre sua popularidade).

Algumas de suas propostas estão enraizadas em sua própria vida, refletindo as cicatrizes da ditadura militar chilena. Como uma jovem ativista de esquerda, a vida de Bachelet foi profundamente marcada pelo golpe de Estado que derrubou o presidente Salvador Allende em 1973. O pai de Bachelet, um general da Força Aérea leal a Allende, foi preso e torturado por agentes de Pinochet. Alberto Bachelet morreu na prisão em 1974.

Dois anos mais tarde, dois policiais à paisana invadiram o apartamento no qual viviam Bachelet e sua mãe, que foram levadas de olhos vendados para Villa Grimaldi, um centro de tortura nos arredores de Santiago. Bachelet foi espancada e torturada durante a detenção. Uma vez livre, partiu com a mãe, a arqueóloga Angela Jeria, para a Austrália e depois para a Alemanha Oriental. No exílio, ela conheceu Jorge Davalos, um arquiteto chileno, pai de dois dos seus filhos.

Bachelet voltou ao Chile em 1979 para completar seus estudos em medicina, depois entrou para o Ministério da Saúde e começou sua carreira política. Muitos se perguntam por que ela não implementou antes as propostas apresentadas na nova campanha. E as expectativas são altas para o novo mandato.

- Espero, principalmente, que implante a educação gratuita. Isto é o que eu mais quero, porque tenho netos - disse Marta Monica Ramirez, uma comerciante de 65 anos.

Fonte: O Globo

Eleita com folga, Bachelet quer reformas no Chile

Socialista obteve mais de 60% dos votos; entre as promessas estão ensino gratuito e reforma tributária

A candidata socialista Michelle Bachelet foi eleita a nova presidente do Chile com ampla vantagem. Com 98,16% das umas apuradas até o início da noite de ontem, Bachelet tinha 62,2% dos votos contra 37,8% da candidata governista Evelyn Matthei. Bachelet, que governou o país de 2006 a 2010, planeja uma ampla agenda de reformas. Ela propõe instituir um sistema educacional gratuito e promover uma reforma tributária para bancar as mudanças no ensino. Bachelet também quer elevar o valor das aposentadorias e mudar o sistema eleitoral. Mas o baixo comparecimento de eleitores às urnas pode dificultar a aprovação da reforma constitucional, segundo analistas políticos.

Chilenos elegem Bachelet em 2º turno com baixa participação do eleitorado

Guilherme Russo

SANTIAGO - Michelle Bachelet, líder da coalizão Nova Maioria, foi eleita ontem a nova presidem te do Chile em um segundo turno marcado pelo baixo comparecimento da população. A socialista, que já governou o país de 2006 a 2010, derrotou a conservadora Evelyn Matthei por uma diferença expressiva de votos - com 98,16% das urnas apuradas, Bachelet tinha 62,2%, contra 37,8% de Matthei.

A conservadora reconheceu a derrota no início da noite. "Meu desejo mais honesto e profundo é que tudo vá bem para ela. Ninguém que ame o Chile pode desejar o contrário", afirmou.

A presidente eleita participou ontem de uma comemoração em frente ao hotel onde estava seu comando de campanha na capital, Santiago. Diante do local, um palco foi montado e militantes começaram a chegar assim que os primeiros resultados foram divulgados.

"Ganhou a chefa! A que saber mandar. A outra não sabe nada!", disse o inspetor de transporte coletivo José Riquelme, de 44 anos. "É um grande triunfo para o povo chileno. Uma alegria enorme", afirmou o mecânico Marco Llanor, de 57 anos, que veio para a comemoração com o filho, a nora e a neta.

Um vídeo em que Bachelet era entrevistada por correligionários foi exibido no telão do palco. "Serei a presidente de todos os chilenos e todas as chilenas", disse a socialista.

A votação que confirmou a vantagem dada por pesquisas a Bachelet, no entanto, teve um comparecimento muito baixo. As filas que os chilenos enfrentaram para votar em 17 novembro não se repetiram no segundo turno da disputa.


Foram as primeiras eleições presidenciais no Chile sem voto obrigatório. No primeiro turno, pouco menos da metade dos votantes registrados foram às urnas: 6,7 milhões, em um universo de 13,5 milhões. Os números do segundo turno ainda não foram divulgados.

Desencanto. Nos centros de votação visitados pelo Estado em Santiago ontem, o movimento erabaixo. No Estádio Nacional do Chile, onde longas filas se formaram em novembro, não havia espera para votar. As urnas, de vidro emoldurado, tinham poucos votos às 13 horas - e uma mesária dormia sobre os registros de votação.

"Tem muito menos gente. No primeiro turno, esperei meia hora na fila, hoj e (ontem), não esperei nenhum minuto. O desencanto é muito grande com a classe política", afirmou o administrador de hotéis Cris-tián Verdugo, de 50 anos.

"Como agora o voto é voluntário, as pessoas deixaram de lado o comprometimento cívico, pois não existe mais essa obrigatoriedade", disse a dona de casa Natacha Moran, de 63 anos, após votar.

A mesma impressão tinham os eleitores que votavam em centros eleitorais que concentravam menos mesas. "Da outra vez, esperei uma hora. Hoje (ontem), não demorei nem três minutos. O voto deveria voltar a ser obrigatório", afirmou o motorista de ônibus Angel Arias, de 55 anos.

Analistas políticos chilenos ressaltam que uma baixa participação prejudicará Bachelet na implementação de suas principais promessas de campanha. Com a maioria que possui no Parlamento, de 55% nas duas Casas, sua coalizão tem votos suficientes para aprovar suas principais medidas - como a criação de um sistema educacional gratuito e de qualidade e uma reforma tributária que bancaria as mudanças na educação.

Para conseguir aprovar a reforma constitucional que pretende fazer, porém, a socialista precisará cooptar parlamentares da oposição, em busca da maioria qualificada necessária - para tanto, um grande número de votos do eleitorado chileno. daria a ela o cacife político necessário para convencer os conservadores a apoiá-la.

Diálogo. "Este é um dia muito importante. Espero que as pessoas possam participar e, com o seu voto, dar uma clara expressão de qual é o Chile em que queremos continuar vivendo.

Do ceticismo não se produzem as mudanças de que precisamos", afirmou Bachelet pouco após votar, na manhã de ontem, no Colégio Enrique Teresiano Ossó.

Evelyn Matthei adotou discurso conciliador. Pouco antes de votar, a candidata conservadora já havia reconhecido que uma vitória seria quase impossível. "Vou pedir diálogo a ela.

Que não haja arrogância de ne-! nhum lado", disse Matthei à emissora TVN. Ela afirmou que seria um "milagre" se ela fosse eleita. "Pela maneira que começamos, na última hora (...), seria uma façanha (vencer)."

A ex-dirigente estudantil Camila Vallejo, eleita deputada pelo Partido Comunista em novembro, pediu que o voto se torne obrigatório novamente no Chile. "Sou partidária da volta ao voto obrigatório, de que todos estejamos automaticamente inscritos nos registros eleitorais e tenhamos a obrigação de votar — mas, se não quisermos, possamos nos retirar do registro", disse no Estádio Bicentenário, onde votou ontem.

Agressão. O ex-candidato conservador à presidência chilena Pablo Longueira, que abandonou a disputa 16 dias após vencer as primárias da Aliança, em julho, foi agredido na manhã de ontem quando foi votar.

De acordo com a polícia, quatro pessoas foram detidas após cuspir no político gritou palavras de ordem contra ele. Poucos minutos depois, Matthei negou ao mesmo centro eleitoral para votar e, enquanto falava com a imprensa, foi interrompida por uma mulher que gritava críticas contra a candidata. Matthei pediu que ela falasse depois e não interrompesse o trabalho dos jornalistas.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Apoiadores de Marina querem mudar alianças estaduais

Daiene Cardoso

Militantes da Rede Sustentabilidade, partido em formação liderado pela ex-senadora Marina Silva, insistiram, neste domingo, 15, na reformulação da política de alianças regionais para as eleições de 2014 a ser encabeçada pelo PSB do governador e presidenciável Eduardo Campos (PE).

Durante o primeiro seminário programático da futura sigla, em Brasília, os principais apoiadores de Marina defenderam que a coligação Rede-PSB promova nos Estados a mesma lógica nacional de se apresentar como terceira via, acabando com as alianças regionais com o PSDB e PT. "Como se fala em nova agenda para o Brasil compondo com esses partidos?", deu o tom o deputado federal Walter Feldman (SP).

Apesar do governador Eduardo Campos ter reafirmado, hoje, a disposição de se chegar a um entendimento na maioria dos Estados, os apoiadores de Marina não esconderam as dificuldades em convencer o PSB a abandonar os palanques de PT e PSDB no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e São Paulo, estados estratégicos para o plano de candidatura presidencial independente. "A nossa tese é a de que tem de ter candidaturas articuladas com o projeto nacional", explicou Pedro Ivo, coordenador de organização da Rede. "O melhor para nós, do ponto de vista de identidade com a política nacional, é reproduzir no maior número de Estados esse valor programático", concordou Feldman.

Em São Paulo, a Rede quer tirar o PSB da base de apoio à reeleição do governador tucano Geraldo Alckmin. Os "marineiros" dizem que a manutenção da aliança PSB-PSDB em São Paulo não é consenso nem no partido de Eduardo Campos e que não devem mudar de ideia nem se pesquisas de intenção de voto indicarem a viabilidade da manutenção da aliança, como quer o presidente do PSB no Estado, deputado federal Márcio França. "Não precisamos de pesquisa lá", disse Pedro Ivo.

Em recente conversa com Alckmin, Feldman explicou que a rejeição à candidatura tucana "não é pessoal" e o governador pediu uma nova conversa nos próximos dias. "O eleitorado que quer mudança quer em São Paulo também essa oportunidade", justificou Feldman. São Paulo é considerado ponto crucial para as discussões com o PSB.

Segundo o deputado, a Rede quer a revisão da aliança em pelo menos 10 Estados, como Rio de Janeiro e Minas Gerais. "Precisamos reduzir os locais onde a aliança ainda se faz no modelo antigo", pregou Feldman.

A sigla, hoje coligada ao PSB porque não conseguiu seu registro junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), formalizou no sábado, 14, a criação de um grupo de trabalho que fará um estudo da tática eleitoral para a sucessão do próximo ano. Os "marineiros" farão um documento com o balanço da evolução das conversas com o PSB sobre os palanques estaduais.

Fonte: O Estado de S. Paulo

PSB e Rede podem se separar em Estados, diz Marina

Segundo ex-ministra, partidos podem apoiar candidatos diferentes nas eleições de 2014

Laís Alegretti

A ex-ministra Marina Silva reconheceu que, no âmbito regional, militantes da Rede Sustentabilidade e do PSB podem apoiar candidatos diferentes para as eleições de 2014. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), por outro lado, destacou que tem informação de que em 20 dos 26 Estados e Distrito Federal já há entendimento entre os dois grupos. "Mais de 20 Estados já caminham muito aplainado, muito tranquilo, entre militância da Rede e o PSB, inclusive do ponto de vista do debate eleitoral regional", afirmou.

"A nossa aliança não é verticalizada. Ela não estabelece para a lógica dos Estados a mesma do plano federal", afirmou Marina. Ela destacou, entretanto, que a estratégia é discutir um plano nacional para depois compor os planos regionais. "Não teremos como ter um bom programa no plano nacional que não se reflita nos Estados", afirmou.

Para Campos, mesmo nos Estados onde existirem "composições diversas" haverá coligações com coerência. "Se procurar nas outras (alianças), não verá esse nível de unidade entre a campanha nacional e as campanhas regionais", afirmou. Marina afirmou que ela e Eduardo Campos participarão de eventos nos dias 18 e 19 na Bahia.

Vice. Marina afirmou que o nome para vice da esperada candidatura de Campos não foi discutido e que o apoio da Rede não depende de espaço na chapa do pernambucano em 2014. "Fica Campos como presidente. Essa história de vice ninguém discutiu", afirmou. "Quando conversei com o PSB, em momento algum o apoio foi condicionado a ocupar espaço dentro da chapa", afirmou, em referência à união da Rede Sustentabilidade ao partido de Campos.

Questionada se o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), seria um bom nome para vice de Campos, Marina respondeu que não quer antecipar a discussão. Freire vai se reunir com Campos amanhã (hoje) para firmar o apoio do PPS em 2014 ao governador de Pernambuco. "As lideranças do PPS estarão discutindo tanto quanto as lideranças da Rede e do PSB qual será a melhor construção para darmos a melhor contribuição para o País", afirmou.

"As pessoas querem que a gente esteja sempre colocando a carroça diante dos bois. Mas queremos que as coisas tenham curso natural", afirmou Marina.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Campos comemora chegada do PPS à aliança PSB-Rede

Laís Alegretti

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), comemorou a chegada do PPS ao grupo do PSB e da Rede e afirmou que, mesmo com essa aliança, conseguirá manter o discurso da nova política. O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), vai se reunir com Campos nesta segunda-feira, 16, para firmar o apoio do PPS ao governador de Pernambuco nas eleições de 2014. "Estamos felizes com a chegada dele", disse Campos.

Questionado sobre se conseguiria manter o discurso da nova política após a aliança com o PPS, Campos disse que sim. "Vamos porque temos historia para manter. Minha história é da nova política. Nunca estivemos ao lado da velha política", afirmou. "Ninguém constrói o novo em cima de nada. A gente constrói em cima do que já existe. Temos de ter cuidado para o velho não engolir o novo." Campos disse acreditar que ele, Marina Silva e Freire conseguirão se reunir no início do ano.

Campos disse ainda que ele e Freire têm "estilos diferentes de ver". "Minha forma de ver todo esse processo histórico se assemelha bem mais à leitura de Marina do que à de Freire", afirmou, acrescentando que respeita a visão de Freire. "Ele sempre foi um militante muito ativo. O importante é olhar para o futuro e ele tem um papel."

O pernambucano falou que a aliança "deixa muita gente animada e muita gente preocupada" e enumerou o que ele chamou de teses que afirmam que a união não daria certo. "Primeiro, não deixaram a Rede sair, aí a Marina e a Rede viram um caminho que o convencional não assistia, que foi fazer aliança com PSB", disse. "Naquele momento, começou uma tese. ''Eles são muito diferentes, vai pegar ''sonhático'' e bicho grilo com turma da política e eles não vão ter como discutir''", afirmou.

Campos acrescentou que outros afirmam que o grupo ficará isolado por ter pouco tempo na TV e que poderá ter problemas nas alianças regionais. "Dentro do partido já tem problema, imagina quando soma dois. Imagina quando soma três. Ainda assim, menos que eles", disse, sem especificar a quais partidos se referia.

Aécio Neves
Campos disse que foi uma coincidência o encontro que teve no último fim de semana com o presidenciável do PSDB, Aécio Neves. "Conversamos sobre esse ambiente de 2013", contu. Ele não confirmou que o tucano declarou que o apoiaria caso não chegasse ao segundo turno em 2014. "Nosso tempo não é o do debate eleitoral. Agora estamos concentrados no debate de fundo, qual é a estratégia para o Brasil melhorar. Sobre a questão eleitoral, trataremos no tempo certo."

Fonte: O Estado de S. Paulo

Campos diz que aliança entre PSB e Rede é tranquila em pelo menos 20 estados

Marina admite porém que poderá apoiar outras legendas em algumas regiões

Júnia Gama

Marina Silva e Eduardo Campos durante entrevista coletiva neste domingo O Globo / Leo Cabral
BRASÍLIA - O governador de Pernambuco e presidenciável Eduardo Campos (PSB) e a ex-ministra Marina Silva minimizaram neste domingo divergências entre o PSB e a Rede Sustentável que vêm causando desconforto em ambos os lados desde que a aliança entre os dois foi formada. Em entrevista durante o Primeiro Seminário Programático da Rede Sustentabilidade, em Brasília, Campos afirmou que, em ao menos 20 estados, a situação entre os militantes da Rede e do seu partido estaria “tranquila”.

- Até 90 dias atrás, estávamos vivendo outra realidade. Demos conta de superar o revés do não reconhecimento da Rede como partido e construímos um entendimento programático e deixamos que nossos companheiros nos estados se conheçam e encontrem convergências. Dos 27 estados, temos mais de 20 com um caminho muito aplainado e tranquilo entre a militância da Rede e do PSB - afirmou o governador, que vai se reunir nesta segunda-feira com o presidente do PPS, Roberto Freire, em Recife, para formalizar a aliança entre as duas siglas e debater o mapa eleitoral nos estados.

Marina reforçou que as decisões nos estados não serão tomadas de forma “verticalizada” em relação à aliança nacional, mas cobrou coerência nas questões regionais com o programa de governo que está sendo elaborado nacionalmente. A ex-ministra citou o exemplo do Paraná, em que o PSB deverá se unir ao PSDB, e a Rede, ao PV.

- Nossa aliança não é verticalizada, não estabelece nessa lógica para o plano federal a lógica nos estados. No entanto, estamos trabalhando a prioridade nacional para que nos ajude na composição regional, e é preciso ter coerência nos dois processos. Não tem como ter um bom programa nacional que não se reflita nos estados - disse a ex-ministra.

Antes da aliança entre os dois, Eduardo Campos vinha tentando uma aproximação com o agrobusiness, com o qual a Rede mantém relação conflituosa. O governador tem enfrentado dificuldades na tentativa de conciliar o ambientalismo ao discurso para o setor produtivo. Recentemente, por exemplo, um dos possíveis aliados de Campos, o líder do DEM na Câmara e ruralista, Ronaldo Caiado (GO), foi afastado do cenário por duras declarações de Marina.

No evento, a ex-ministra também reafirmou que Eduardo Campos é o candidato na aliança à Presidência da República em 2014, tema que gerou dúvidas logo que o acordo entre os dois foi firmado. Marina Silva afirmou, no entanto, que ainda não há decisão a respeito de seu lugar na aliança e que uma possível composição de vice na chapa presidencial não está assegurada.

- (A aliança) significa ele como presidente, essa história de vice ninguém discutiu não. Não quero fazer uma antecipação dessa discussão. Em momento nenhum o apoio foi condicionado a ocupar espaço na chapa, mas foi feito em torno de um programa e uma estrutura. Não existe essa história de que a Rede entra porque quer ter uma cadeira cativa - pontuou Marina.

Fonte: O Globo

Negociação difícil entre PSB e Rede

Marina Silva e Eduardo Campos estão unidos, mas nem tanto. Complicadas alianças regionais em grandes colégios eleitorais como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro são o problema

Consenso, só na corrida ao Planalto

Marina Silva diz que Eduardo Campos é o candidato à Presidência pelo PSB/Rede, mas admite divergências com palanques em pelo menos sete estados, incluindo os maiores colégios do país: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro

João Valadares

Pela primeira vez desde que a Rede Sustentabilidade selou aliança com o Partido Socialista Brasileiro (PSB), a ex-ministra Marina Silva descartou de maneira enfática, em razão das recorrentes especulações, a possibilidade de ser cabeça de chapa. Ela cravou o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, como o candidato a presidente. “Fica ele (Campos) como presidente. Essa história de vice, ninguém discutiu ainda não.”Se há consenso quanto ao cabeça de chapa na corrida pelo Palácio do Planalto, nos estados a situação é diferente. Marina reconheceu divergências, o que pode levar os dois a palanques regionais diferentes em 2014. “A nossa aliança não é verticalizada. Não estabelece a mesma lógica nos estados e no plano federal”, ressaltou.

Campos tentou minimizar as arestas aparentes e salientou que, contabilizando os 26 estados e o Distrito Federal, em 20 deles o caminho entre a Rede e o PSB já está “aplainado, muito tranquilo entre os dois grupos”. O consenso político entre os marineiros e pessebistas é bastante complicado e distante nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Maranhão e no Distrito Federal.

Durante discurso na abertura do primeiro seminário programático da Rede, em Brasília, Eduardo Campos mudou o tom que vinha adotando até então, quando o assunto era eleições de 2014. Para uma pequena plateia, discursou como se estivesse num comício. Disse que a aliança formada com Marina iria vencer a disputa. “Estamos aqui discutindo um programa, para depois discutir um programa político, para depois ganhar as eleições e fazer o que muitos podiam ter feito e não fizeram”, declarou.

O governador pernambucano mencionou que “eles (os governistas) têm muita força e poder, mas não têm o poder de querer fazer com que a gente faça o que eles querem”. Sem citar o PT, fez uma metáfora futebolística, típica do ex-presidente Lula, para ilustrar as dificuldades que os governistas irão enfrentar para derrotá-lo na disputa pela Presidência da República. “O esquema que eles (os petistas) montaram é colocar um zagueiro para marcar um centroavante que chuta com a direita, mas quando colocam o zagueiro para marcar um centroavante que chuta com a esquerda…”, ironizou.

Neoaliado
Um pouco depois, durante coletiva de imprensa, evitou especular sobre composições eleitorais e voltou ao ritmo rotineiro de que “não é o momento de falar das eleições”. Questionado se, com a entrada do presidente do PPS, Roberto Freire, na aliança, a chapa não passaria a chutar com “as duas pernas”, Eduardo abriu um sorriso e desconversou sobre o estilo de oposição agressiva feita pelo novo aliado. “Temos que marcar uma partida de futebol. Acho que eu e ele (Freire) temos estilos diferentes. Minha forma de atuação se aproxima mais da leitura de Marina. Ele sempre militou assim. Eu respeito a forma que ele faz. O importante é que a gente está olhando para o futuro. Essa aliança deixa muita gente animada, mas deixa muita gente preocupada”.

O presidenciável afirmou que “eles tenham desmanchar todo dia o que a gente fez” e se refere à aliança com Marina como o fato político do ano. “Nós vamos, com esse conteúdo debatido, andar no Brasil inteiro juntos, eu não tenho dúvida disso. Ao conversarmos com mais de 20 estados, já percebemos claramente que as coisas estão indo com grande tranquilidade e vamos ter capacidade política para andarmos juntos nos 27 estados do Brasil", afirmou.

Sobre a possibilidade de Marina Silva ou Roberto Freire ser o vice na chapa, a ex-ministra declarou que este assunto ainda não estava colocado. “Não existe essa história de que a rede entra porque quer uma cadeira cativa. Vamos preservar as boas conquistas e mudar o que achamos inadequado. Por isso, cria um certo incômodo. As pessoas querem que estejamos sempre colocando a carroça na frente dos bois”, afirmou.

Convidada pela Rede para participar do seminário, a vereadora de Maceió Heloísa Helena fez o discurso mais duro contra o PT e conferiu ao evento um ar de campanha eleitoral. Foi bastante aplaudida. “Fomos expulsos do PT por fidelidade partidária”, afirmou. Ela criticou os “conchavos” feitos após as eleições. “No papel (conteúdo programático) tudo é lindo”, brincou.

Segundo turno
Eduardo Campos preferiu não comentar a declaração do senador e presidenciável, Aécio Neves, de que era natural o pessebista o apoiar num eventual segundo turno contra a presidente Dilma Rousseff.

“Tivemos um encontro, mas não foi um encontro previamente marcado. Não é o tempo do debate eleitoral. Não é tempo de discutir chapa e composição regional. Estamos concentrado nesse debate de fundo e qual a mensagem nós vamos levar ao país. Sobre a questão eleitoral, no tempo certo nós vamos tratar isso”, finalizou.

"Fica ele (Eduardo Campos) como presidente. Essa história de vice, ninguém discutiu ainda não”
Marina Silva (PSB/Rede-AC)

"Acho que eu e ele (Roberto Freire) temos estilos diferentes. Minha forma de atuação se aproxima mais da leitura de Marina. Ele sempre militou assim. Eu respeito a forma que ele faz”
Eduardo Campos, governador de Pernambuco

Fonte: Correio Braziliense

PPS oficializa apoio hoje aos socialistas

Jumariana Oliveira

Primeiro partido a declarar apoio à candidatura do governador-presidenciável Eduardo Campos (PSB), o PPS vai reunir toda sua cúpula, hoje, no Recife para anunciar oficialmente a adesão ao projeto socialista. O ato, que está previsto para as 18h no Recife Praia Hotel, contará com a presença do vereador Raul Jungmann (PPS), que tem uma posição crítica em relação à gestão de Campos e é vice-líder da oposição no Recife, onde o prefeito Geraldo Julio é afilhado político do socialista.

Em Pernambuco, o PPS não decidiu se vai seguir a orientação da Executiva nacional. Contudo, o presidente nacional Roberto Freire disse que as direções estaduais ficarão livres para definir as posições locais.

Roberto Freire disse que está programando um encontro com a ex-senadora Marina Silva - que recebeu o convite para se filiar ao PPS antes da não viabilização da Rede Sustentabilidade - para conversar sobre a adesão ao projeto do PSB. A agenda está sendo articulada com o governador Eduardo Campos. Durante evento do PSB-Rede, ontem, em Brasília, Marina ressaltou a importância do apoio dos pós-comunistas.

Freire afirmou que quer a participação dos pós-comunistas nas agendas realizadas em conjunto por membros do PSB e Rede, chamadas pelos socialistas de "agendas programáticas". O pós-comunista disse que o seu partido ainda não pensou na possibilidade de compor a chapa majoritária na eleição presidencial. "Sendo Marina (a vice), estamos contemplados", finalizou.

Em Pernambuco
Segundo Raul Jungmann, a cúpula do PPS estadual vai se reunir na próxima semana para deliberar se segue a orientação nacional e declara apoio ao PSB ou não. Ele garante que, por ora, continuará com o mesmo discurso de oposição. Porém, alega que a nível nacional vai seguir o projeto da sigla. "Tenho que seguir uma orientação tomada nacionalmente", afirmou.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Aécio acena a empresários em pré-programa de governo

Por Marcos de Moura e Souza

BELO HORIZONTE - Depois de reunir-se por três vezes com grandes empresários do país, o senador e pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves (MG), prepara-se para apresentar amanhã 12 ideias que servirão de esqueleto de seu futuro programa de governo. Um dos pontos a ser apresentado pelo pré-candidato tucano atende à crítica feita por muitos empresários, de que o governo da presidente Dilma Rousseff peca por adotar o que consideram ser uma ineficaz política de intervenção estatal na economia. Aécio vai defender uma reversão desse modelo.

O encontro mais recente do tucano com empresários se deu na quinta-feira, com cerca de 30 representantes do setor produtivo em São Paulo, na casa do presidente do Grupo Alpargatas, Márcio Utsch. Entre os covidados estavam representantes do setor financeiro, industrial e de serviços. As outras reuniões de Aécio com empresários, em sua pré-campanha, ocorreram em Brasília, há alguns dias, e no Rio. O tucano deve fazer uma nova rodada de conversas com o empresariado em janeiro, novamente no Rio.

O encontro realizado na quinta-feira foi reservado. Aécio estava acompanhado por uma comitiva de tucanos, composta pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, pelo governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, pelo ex-presidente do Banco Central no governo FHC Armínio Fraga e pelos senadores Aloysio Nunes Ferreira (SP) e Cássio Cunha Lima (PB).

"Aécio encontrou um ambiente muito acolhedor. Circulou e conversou com empresários, que se ficaram divididos em grupos menores", disse Lima ontem, ao Valor. "Depois, ele fez um fala no qual tocou em aspectos que ele tem tratado: a necessidade de um governo que tenha planejamento, que não seja perdulário, que gaste mais com as pessoas e menos como a máquina pública, como faz o PT, com o aparelhamento que existe", afirmou o parlamentar.

Todos os tucanos apresentaram suas ideias aos empresários, segundo relato do senador da Paraíba. Um dos pontos que atraíram muita concordância dos comensais foi, segundo Lima, quando Armínio Fraga falou de um ponto que traz muito receio, que é o atual ritmo da inflação associado ao baixo crescimento da economia.

Não se tratou de um encontro de apoio, nas palavras de outro interlocutor de Aécio. Ainda que houvesse homens de negócios muito simpáticos à candidatura presidencial de Aécio, na mesma sala havia também aqueles que veem o pré-candidato com alguma dúvida, segundo uma terceira fonte ouvida pelo Valor.

O PSDB e seu pré-candidato contam, em geral, com aprovação do empresariado. Em novembro, outro pré-candidato ao Palácio do Planalto, Eduardo Campos (PSB), já havia estado em São Paulo. Campos fez palestras em dois bancos: no Pine, instituição de médio porte forte em crédito ao agronegócio, e no Credit Suisse.

A reportagem procurou Márcio Utsch, por meio de sua assessoria, para ouvi-lo sobre o jantar com Aécio, mas não conseguiu falar com o empresário. Os tucanos optaram por não revelar os nomes dos convidados.

Aécio chegou por volta das 21h ao encontro. Antes, o pré-candidato havia feito uma parada na casa de FHC. A comitiva tucana deixou o encontro pouco depois da meia-noite.

Na segunda-feira, o pré-candidato havia se reunido, também na capital paulista, com um grupo de cerca de 60 ambientalistas - que em geral são mais alinhados à ex-senadora Marina Silva. Desde outubro, Marina está no PSB de Campos.

Uma nova conversa de Aécio com ambientalistas está prevista para ocorrer no início de 2014, no Rio de Janeiro.

Um aliado do senador mineiro disse que a conversa com empresários e com os ambientalistas faz parte da fase da pré-campanha tucana na qual o senador ouve sugestões e apreensões para que possa formular melhor suas propostas.

Aécio, que é presidente nacional do PSDB, tem cumprido uma agenda corrida de viagens pelo Brasil. Na maioria delas, entre bandeiras e gritos de campanha, o tucano aparece ao lado lideranças políticas locais, entusiastas de sua candidatura e com eleitores comuns no campo e nas cidades.

O senador está em segundo lugar nas intenção de voto, com 19%, de acordo com pesquisa realizada pelo Datafolha no fim de novembro. O também pré-candidato Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, registrou 11% das intenções de voto na pesquisa do Datafolha. Na sondagem anterior, Aécio tinha 21% e Campos, 15%.

Os dois são os mais prováveis adversários da presidente Dilma Rousseff (PT) nas eleições do ano que vem. O percentual de eleitores que disseram que querem a reeleição da subiu de 42% para 47%, segundo o Datafolha. Na sexta, pesquisa CNI/Ibope apontou que 43% dos entrevistados consideram o governo Dilma como ótimo ou bom.

Fonte: Valor Econômico

Papa responde críticas de conservadores: ‘Não sou marxista’

Francisco também negou que pretenda nomear uma cardeal feminina e disse que está fazendo progresso para sanear finanças do Vaticano

ROMA — Depois de ser acusado de marxista por suas críticas ao capitalismo no mês passado, o Papa Francisco rejeitou as críticas e pediu mais atenção aos pobres. Em declarações ao jornal italiano “La Stampa”, o Pontífice argentino disse que os pontos de vista defendidos por ele - que o radialista americano Rush Limbaugh atacou como “dramáticos, embaraçosos e errados” - eram simplesmente os da doutrina social da Igreja. Francisco também negou que pretenda nomear uma cardeal feminina, disse que está fazendo um bom progresso para sanear as finanças do Vaticano e confirmou que irá visitar Israel e a Palestina no ano que vem.

- Não estava falando como um técnico, mas de acordo com a doutrina social da Igreja Católica Romana, e isso não me transforma em um marxista. Estava apenas tentando mostrar um recorte do que estava acontecendo no mundo - afirmou.

No documento, considerado uma plataforma do seu papado, Francisco atacou o capitalismo como “uma nova tirania” e disse que “a economia de exclusão e desigualdade” matou pessoas ao redor do mundo, causando decepção a críticos conservadores. Limbaugh, que não é católico, afirmou que partes do documento eram “marxismo puro saindo da boca de um Papa” e sugeriu que alguém escreveu o documento por ele. O radialista também acusou o Pontífice de passar dos limites do catolicismo e ser “puramente político”. Em resposta às acusações, que iniciaram um debate na mídia e em blogs americanos, Francisco, membro da ordem dos Jesuítas defendeu que “a ideologia é errada”, mas que conhece boas pessoas que são marxistas.

- Na minha vida, conheci muitos marxistas que são boas pessoas, então não me sinto ofendido.

A entrevista de 95 minutos, foi realizada na terça-feira passada pelo correspondente do jornal do Vaticano, Andrea Tornielli, e publicada neste domingo. Francisco tocou em muitos dos temas que dominaram seus primeiros nove meses como chefe da Igreja Católica, como o sofrimento dos pobres e sua agenda de reformas. Sobre as especulações de que estaria pensando em nomear uma cardeal feminina ano que vem, foi enfático.

- Eu não sei da onde essa ideia saiu. As mulheres na Igreja deveriam ser valorizadas, mas não virarem clérigos.

Para ele, as reformas financeiras estão “no caminho certo”, mas ainda não decidiu o que fazer com o Banco do Vaticano, envolto em escândalos nas últimas décadas. Francisco também contou que está “quase preparado” para visitar a Terra Sagrada no ano que vem, quando completa 50 anos desde que o Papa Paulo VI se tornou o primeiro nos tempos modernos a visitar o local. O convite para a visita partiu de Israel e da Autoridade Palestina. Ela deve ser realizada em maio ou junho.

Fonte: O Globo

As políticas sociais do governo e seus resultados - Marcus Pestana

O Brasil avançou muito nas últimas duas décadas no combate à pobreza e na promoção da cidadania. Mas os indicadores da qualidade da educação pública ainda são inaceitáveis, a violência campeia na juventude que mora na periferia das grandes cidades, os empregos criados, em sua esmagadora maioria, são na faixa inferior a dois salários mínimos e a desigualdade social brasileira ainda é uma das maiores do mundo.

O fim da inflação, que transformava o orçamento familiar em peça de humor negro, e a construção da rede de proteção social a partir da Constituição de 1988 são um bom ponto de partida. Mas estão longe de ser um confortável ponto de chegada.

Minas Gerais tem um cenário desafiador. São 20 milhões de brasileiros, espalhados em 853 municípios, em um território do tamanho da França, com desigualdades regionais que fazem de Minas uma síntese nacional.

Desde 2003, os governos de Aécio e Anastasia têm como pilar central na construção das políticas públicas o combate às desigualdades regionais e pessoais de renda. Um esforço multissetorial foi desenvolvido para contrabalançar as desigualdades.

Na sociedade contemporânea, a chave do sucesso está no conhecimento e na educação. O governo mineiro do PSDB foi o primeiro a trazer as crianças aos seis anos de idade para a escola. Isto, somado a um conjunto de intervenções visando à qualificação do ensino, levou Minas Gerais ao primeiro lugar nas primeiras séries do ensino fundamental na avaliação do Ideb/2011, promovida pelo próprio Ministério da Educação. Ficamos à frente de Santa Catarina, Distrito Federal e São Paulo, que têm realidade social e econômica muito mais homogênea. Nos anos finais do ensino fundamental, ocupamos a segunda posição e, no ensino médio, a terceira. O ensino profissionalizante atendeu a mais de 200 mil jovens. Nada disso veio com o vento ou caiu com a chuva, foi fruto de um esforço planejado e de determinação em sua implementação. Mas não devemos dormir sobre os louros das vitórias parciais, é preciso avançar e aprofundar as transformações na educação pública de Minas. É preciso envolver cada vez mais a comunidade e as famílias, empoderar e estimular as diretoras de escolas para que exerçam sua liderança, reforçar os prêmios por resultados, qualificar professores e revolucionar sempre os métodos pedagógicos para que tenham eficácia.

O esforço educacional foi acompanhado de outras políticas sociais de sucesso reconhecido. Os programas Travessia, Poupança Jovem, Fica Vivo, Valores de Minas, Porta a Porta, a consolidação do Suas levaram Minas Gerais a alcançar antecipadamente as metas da ONU no combate à pobreza e a reduzir a miséria extrema de 9% para 3%.

O desafio ainda é enorme, o combate à pobreza continua ponto central na agenda da sociedade brasileira. A travessia é longa, mas a caminhada em Minas, nos últimos 11 anos, autoriza sonhar com um futuro melhor para todos os cidadãos mineiros.

Marcus Pestana, deputado federal e presidente do PSDB de Minas

Fonte: O Tempo (MG)

Para mudar o Brasil - Aécio Neves

O PSDB apresenta amanhã, em Brasília, as primeiras ideias colhidas em encontros regionais, que, acreditamos, podem representar as bases de uma nova agenda para o Brasil.

Não se trata de um diagnóstico técnico ou um programa de governo, mas de reivindicações, cobranças, expectativas e sentimentos vindos dos quatro cantos do país, que constituem pontos de partida para o aprofundamento do diálogo com os brasileiros.

Nesse tempo, fomos honrados com a preciosa interlocução de cidadãos, profissionais e militantes das mais diversas causas. E mergulhamos em alguns dos grandes desafios das regiões. Constatamos que as urgências de dez anos atrás permanecem as mesmas de hoje. E vimos surgir novos desafios.

Testemunhamos a luta diária das famílias nordestinas, vítimas e reféns da seca e os limites do atual projeto de gerenciamento da pobreza extrema, sem horizonte concreto capaz de libertar e habilitar uma nova cidadania.

Fomos impactados pela tragédia de milhares de vidas perdidas impunemente nas grandes cidades, em um país que não tem sequer um arremedo de política nacional de segurança, e pelo desastre cotidiano de um sistema de saúde abandonado em macas pelos corredores de hospitais superlotados, em filas imensas, em demora, desvios e desrespeito.

Foi possível ver de perto, no Centro-Oeste, a contradição entre a alta produtividade brasileira da porteira para dentro e os gargalos da infraestrutura precária que se eternizaram da porteira para fora, travando nosso desenvolvimento.

É desolador constatar o declínio da indústria de transformação e a extinção dos melhores empregos e como fazem falta ao país o direito básico do cidadão de ter acesso a uma educação de qualidade, os anos perdidos em escolaridade e uma mão de obra mais qualificada.

Dos inúmeros fragmentos de esperanças irrealizadas foi possível modelar uma paisagem de desafios reais a serem vencidos. Nela, descobre-se que as grandes conquistas nacionais não foram suficientes para acolher todos os brasileiros e grande parte dos nossos ficaram e continuam pelo caminho.

Descortina-se um país inteiro ainda a ser construído, que demanda a superação do "nós e eles", estimulado pelo poder central, e a construção de uma inédita convergência em torno das grandes causas nacionais. Para isso, é preciso desprendimento, espírito público e generosidade. A formatação de um novo diálogo nacional tornou-se imprescindível para que a lógica das decisões do poder público, tantas vezes distante da realidade, ganhe legitimidade e efetiva participação da cidadania.

É hora de somar forças para a construção coletiva de um novo projeto para mudar de verdade o Brasil.

Aécio Neves, senador(MG) e presidente nacional do PSDB

Fonte: Folha de S. Paulo

Temos estadistas no Brasil? - Renato Janine Ribeiro

Quem cumprirá nossa nova tarefa histórica?

Na última coluna prestei homenagem, como a maioria da humanidade, a Nelson Mandela - e defini "estadista" como o governante que vai além do comum, melhorando decisivamente o mundo. Daí, uma pergunta inevitável: tivemos ou temos, no Brasil, estadistas?

Para começo de conversa, a definição que propus de estadista é relativamente nova. No Império, e em geral antes que as massas ingressassem na política, estadistas se ocupavam do Estado, de suas instituições, da nação. Não era errado celebrar como estadistas Bismarck e Cavour, autores das unificações alemã e italiana - nem, em nosso país, o barão do Rio Branco, a quem devemos a segurança e a paz das fronteiras. Mas, de meio século para cá, essa definição se tornou insuficiente.

Talvez seja o caso de substituir a palavra "estadista", no que tem de elogiosa, por outra. O cientista político José Murilo de Carvalho, faz tempo, lamentou que no Brasil tenhamos mais "estadania" - neologismo que ele cunhou a contragosto - do que cidadania. O cidadão importa menos do que o Estado repressivo. O que sugiro vai no mesmo espírito dele: deveríamos valorizar quem melhora a vida do povo, não o poder estatal que, no fim das contas, muitas vezes só beneficia uns poucos.

Estas ressalvas, que submetem a avaliação de nossos homens políticos a uma concorrência internacional, podem porém ser severas demais com nossos estadistas, republicanos ou imperiais. Talvez não devamos ser tão exigentes, pelo menos com os tempos mais afastados, quando fortalecer o Estado era tarefa essencial, até mesmo para melhorar a vida dos pobres. Difícil não dar um merecido destaque a Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. Getúlio efetuou a transição do Brasil rural para o urbano, incluindo na vida social e política massas de trabalhadores e pobres. Fez isso com um regime autoritário, altamente repressivo, em especial contra os comunistas. Mas é certo que promoveu mudanças necessárias, de cuja relevância e necessidade poucos tinham consciência então, e que o resultado foi mais justo e benéfico do que o contrário.

JK teve em seu ativo a industrialização. A urbanização de Vargas se completa com ele. Também sinalizou, ao transferir a capital para Brasília, que saíamos do litoral, do legado de Tordesilhas, e assumíamos o território nacional como um todo. Tudo isso teve efeitos colaterais - o automóvel nos trouxe a poluição, um trânsito horrível e cidades em frangalhos, mas isso era difícil de prever e, com sucessores mais capazes, a sequência teria sido diferente. Acrescento, como um grande feito de JK, seu espírito pacífico e democrático, coisa rara no Brasil e de que andamos ultimamente necessitados.

O problema surge mesmo na avaliação dos presidentes recentes, FHC e Lula. Foram estadistas? Em favor de FHC, seus apoiadores mencionam a vitória sobre a inflação e a definição dos rumos da economia, entre privada e estatal. Mas se pode contra-argumentar que, se foi difícil vencer a inflação, quase o mundo todo o conseguiu, na década de 1990: isso não justifica o título de estadista. O que realço em seu governo foi a paciência política, a capacidade de articular, a transmissão calma e tranquila da presidência a um sucessor que vários temiam. Não é coisa trivial.

Lula também tem pontos a promovê-lo. Comecemos pela grande inclusão social. Seguiu iniciativas de Itamar e FHC, mas ampliou sua escala e, sobretudo, tornou esse tema central em nossa agenda política. Ninguém mais no Brasil disputa o Executivo se opondo a programas, emergenciais ou estruturais, de eliminação da miséria e redução da pobreza - assim como nenhum candidato será viável se opondo à democracia instaurada em 1985 ou defendendo a volta da inflação. Pelo alcance social, este feito foi notável, alçando Lula a uma posição de respeito. Além disso, ele alcançou um notável destaque internacional. Seus projetos de combate à miséria são saudados como exemplares. É elogiado fora das fronteiras como raro brasileiro o foi. Basta isso? Não sei.

O verdadeiro problema, aqui, é que dar o apodo de estadista a um ou outro destes grandes presidentes virou tema de rixa partidária. Uns acusam FHC de ter deixado uma "herança maldita", termo injusto, que causou ressentimentos talvez insuperáveis entre os tucanos. Outros atacam Lula com ódio (FHC despertou bem menos raiva). Qualquer elogio a um é visto, por alguns partidários do outro, como detestável. Isso dificulta um juízo. Mas não nos impede de discutir o tema. Sugiro que, pelo menos, os consideremos como grandes presidentes, bem superiores à média de seus antecessores.

Porque o relevante não é a resposta (foram ou não estadistas?), mas a discussão. Desta maneira nos perguntamos o que é um grande presidente - ou melhor, o que queremos nós de um presidente.

Tanto se pergunta quem tem mais chances de se eleger em 2014... Por que não priorizar outra questão: o que desejamos, dele ou dela? Tenho sustentado que o momento histórico é de uma agenda clara e dificílima: assegurar serviços públicos (saúde, educação, transporte e segurança) de qualidade. No Brasil, nem mesmo o asfalto dos bairros ricos presta... Ter serviços básicos bons é o grande fim de que precisamos; como fazer para chegar a isso são meios, que podem ser variados. Somos um país em busca de transformações significativas. Mas, se deixarmos claro que perfil desejamos para o chefe de Estado, teremos dado um bom passo para saber - e eleger - qual candidato mais nos convém. É uma questão simples, mas que tem estado fora de nosso debate, demasiado eleitoral.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

Fonte: Valor Econômico

Governadores em perigo - José Roberto Toledo

Em 2010, a eleição nos Estados apontou para a continuidade. Dos 27 governadores, 20 concorreram a um segundo mandato, e 13 deles foram reconduzidos ao cargo. Outros três elegeram seu candidato. Para 2014, a bússola virou de ponta-cabeça. Dos 15 governadores aptos à reeleição, só três podem confiar que estão no rumo certo para voltar ao palácio depois de passarem pelas urnas.

A pesquisa CNI/Ibope divulgada na sexta-feira forneceu o melhor mapa da sucessão estadual até agora. Pela primeira vez em três anos, todos os governadores foram avaliados simultaneamente. A sondagem não perguntou em quem o eleitor pre tende votar, mas revelou o que os governados acham de seus governantes -e essa opinião é menos volátil que a intenção de voto.

A principal conclusão é que o ranking de 2013 é muito pior para a maioria dos governadores do que foi o de 2010: 11 estão devendo, 9 estão numa zona que não pode ser chamada de conforto, e, dos 7 que estão realmente bem avaliados, 4 não são candidatos. A chave da pesquisa é o saldo de avaliação. Na eleição passada, ele mostrou-se o melhor fator para prever o resultado das urnas.

O saldo de avaliação é o que sobra, ou não, da popularidade do governador após levar-se em conta as opiniões negativas: é a taxa de ótimo e bom, descontada a de quem acha o governo ruim ou péssimo. Essa classificação é melhor do que a simples pontuação pela taxa de ótimo/bom porque considera também o tamanho e a intensidade da oposição ao governante avaliado. Garma pesa.

Em 2010, o saldo médio dos governadores era de 31 pontos positivos - uma festa. Agora,e de 4. Quase um velório. Na eleição passada, nove governadores tinham saldo igual ou superior a 45 pontos. Foi a nota de corte: todos se reelegeram (7) ou elegeram seus candidatos (2). Hoje, só três governadores estão nessa faixa de quase certeza.

Omar Aziz (PSD-Amazonas) tem 67 pontos de saldo de avaliação, mas não pode se candidatar, mesmo estando há apenas quatro anos no cargo: era vice de Eduardo Braga, e teve que assumir o governo em 2010. Concorreu e se elegeu para o segundo mandato. Divide-se, agora, entre apoiar seu vice ou seu antecessor.

Tião Viana tem o 20 maior saldo, 48 pontos, e deve concorrer à reeleição. Tenta uma façanha: o quinto mandato seguido do PT no governo do Acre. Eduardo Gampos (Pernambuco) está em 3o lugar no ranking, com 45 pontos. É o candidato do PSB, mas a presidente.

A seguir aparecem quatro governadores com saldos entre 31 e 38 pontos. Dois deles não podem se recandidatar: André Puccinelli (PMDB), no Mato Grosso do Sul, e Antonio Anastasia (PSDB) em Minas Gerais. Os outros dois disputam a reeleição: Beto Richa (PSDB) no Paraná, e Renato Casagrande Espírito Santo.

Em 2010, havia sete governadores nessa situação: cinco se reelegeram, um perdeu e o terceiro não influiu. Ou seja, Richa e Gasagrande têm boas chances de voltar ao governo, mas, como João Cahulla provou em 2010, imprevistos acontecem. Junto com Viana, são, hoje, os três governadores mais perto de se reelegerem.

A terceira faixa tem nove governadores com saldo de aprovação entre zero e 18 pontos. É uma zona arriscada. Na eleição passada, dos sete que estavam nesse patamar, só um se reelegeu. Estão nessa zona de peri- raldo Âlckmin (PSDB), e do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT).

Abaixo deles no ranking há 11 governadores com saldo negativo -dos quais seis poderiam se candidatar à reeleição, pois estão no primeiro mandato. Mas eles correm alto risco de fracasso: nenhum governador devendo popularidade se reelegeu em 2010. Aos 11, só lhes resta mudar a imagem de seus governos em poucos meses. Para eles o tempo urge mais do que para os outros.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Cabral a bordo - Ricardo Noblat

"A democracia de vocês é só de vocês. A liberdade que pregam não praticam pra nós " Roberto Jefférson a jornalistas

Ou o governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) já não está mais aí para nada ou foi vítima de um dos defeitos mais flagrantes de sua personalidade — a arrogância. Que tal um governador flagrado utilizando helicópteros do Estado para viajar com a família nos fins de semana para sua casa de veraneio? Diante do escândalo, ele assina decreto tornando seus passeios impossíveis. Depois, simplesmente volta a voar.

POIS É DISSO que se trata. Em julho último, a "Veja" descobriu que Cabral abusava da utilização dos helicópteros oficiais. Cabral mora no Leblon, a curta distância da Lagoa Rodrigo de Freitas. Escoltado por seguranças, ele ia de carro até a lagoa e, de lá, de helicóptero para o Palácio Guanabara - um voo de 10 minutos. Nos fins de semana, embarcava com família, empregados e cachorro para Mangaratiba.

ALI, NUM CONDOMÍNIO de luxo, Cabral construiu duas casas valorizadas pela paisagem paradisíaca da Baía de Sepetiba e pela proximidade com Angra dos Reis e Paraty. Com frequência, um dos helicópteros fazia mais de um voo às sextas-feiras e aos domingos para levar e trazer a comitiva, de Cabral. Na época, ensaiou-se a desculpa de que o uso dos helicópteros se devia a razões de segurança. Não colou.

ENTÃO, HUMILDEMENTE, Cabral desculpou-se e assinou um decreto restringindo o uso de helicópteros ao "governador, vice-governador, chefe de poderes, secretários e presidentes de autarquias e de empresas públicas" Teve o cuidado de registrar que os helicópteros só poderiam ser requisitados para "atividades próprias do serviço público" Como suas viagens de fim de semana nada tinham a ver com tais atividades... Cabral suspendeu-as.

PAÍS ATÉ QUE, NA SEMANA passada, a "Folha de S. Paulo" anunciou em seu site: Cabral voltou a se valer dos helicópteros do estado para ir veranear em Mangaratiba com a família e empregados. Notou-se a ausência do cachorro. A mesma desculpa esboçada da vez anterior foi sacada desta: razões de segurança. Cabral atendeu a recomendação da Subsecretária de Segurança Militar da Casa Civil. Ele é um alvo precioso para traficantes e bandidos. Não pode se arriscar.

PALAVRAS DE CABRAL: "Infelizmente, o fato de ser governador impõe que temos que enfrentar a segurança pública, a marginalidade, o tráfico de drogas. Para ganhar essa luta difícil, o gabinete militar impõe a mim e à minha família restrições. E eu tenho que segui-las por uma questão de segurança". O poder da bandidagem deve ter aumentado muito entre julho último, quando Cabral renunciou aos voos a Mangaratiba, e agora, quando os retomou.

NÃO FAZ SENTIDO que o poder tenha se mantido o mesmo e, no entanto, Cabral tenha mudado sua conduta. Ou faz sentido, sim, se admitirmos que Cabral possa estar mentindo - ele e seus assessores. O governador é obrigado a comparecer diariamente ao seu local de trabalho - e nada mais natural, no Rio ou em qualquer outro lugar, que seja acompanhado de seguranças. Não é obrigado a veranear nos fins de semana. Se o fizer, que seja às suas próprias custas.

CABRAL VAI MAL. Entre os 17 governadores do país é o quarto pior avaliado. Há três anos, foi um dos cabos eleitorais mais cortejados por Lula para eleger Dilma presidente. Lula já o abandonou. O PT terá candidato ao governo do Rio - o senador Lindbergh Farias. Foi tal o número de erros políticos cometidos por Cabral que a maioria dos políticos quer distância dele. O que Cabral fez de mais certo — as UPPs — está a perigo.

Fonte: O Globo

Adivinhe quem vem para a ceia do Natal? - Luiz Carlos Azedo

Nossos políticos até hoje não se deram conta de que o atual modelo de financiamento da política está esgotado. Foi preciso o Supremo meter sua colher nessa panela para caírem na real

Como já aconteceu algumas vezes, os nossos políticos estão em pânico em razão de uma iminente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que julga ação impetrada pela OAB para que o financiamento de campanhas por empresas seja considerado ilegal. A medida praticamente desestrutura todo o atual sistema de doações, ao restringi-lo às pessoas físicas, o que significa não pôr quase nada no lugar para a maioria dos partidos. Como financiamento de campanha por empresas é considerado quase um sinônimo de superfaturamento de contratos de execução de obras, prestação de serviços e fornecimentos de insumos à administração pública, a decisão do Supremo tem certa simpatia de formadores de opinião e pode cair no gosto popular.

O julgamento foi suspenso quando estava 4 a 0, pelo ministro Teori Zavaski, que pediu vistas do processo. Se for retomado nesta semana, provavelmente será concluído com uma maioria a favor da proibição. A não ser que haja uma forte reação do Congresso, que mais uma vez teve suas atribuições “judicializadas” porque se omitiu da questão. Assim como o voto proporcional unipessoal, o atual sistema de votação, que é considerado “imexível” pela maioria dos deputados, o financiamento de campanha também é um tema tabu no Congresso Nacional. Mexer no atual sistema, somente se for de forma cosmética, como aconteceu até agora. Com licença de vegetarianos e outros defensores dos direitos dos animais, no Congresso, fazê-lo é mais ou menos a mesma coisa do que convidar o peru para a ceia de Natal.

Nossos políticos até hoje não se deram conta de que o modelo de financiamento da política está esgotado. Foi preciso o Supremo meter sua colher nessa panela para caírem na real. O fato é que o atual modelo de financiamento é a raiz de um fenômeno que começa a comprometer nosso sistema representativo, com a avassaladora vantagem adquirida pelo poder econômico em relação ao voto de opinião. Hoje, não existe campanha com chance de sucesso se não tiver “estrutura”, o que, no jargão dos políticos, significa dinheiro para contratar marqueteiros e uma militância quase toda ela profissionalizada, com honrosas exceções. Dirigentes sindicais, líderes comunitários, blogueiros, o que não falta é gente ansiosa pelo começo da campanha para ganhar uns trocados a mais. No caso de marqueteiros e outros profissionais especializados, o custo disso está na casa dos milhões.

De onde vem esse dinheiro? Ora, vem das empresas que prestam serviços ao governo ou têm algum outro interesse específico no Congresso Nacional. Como já comentei por aqui, numa ordem capitalista democrática, há dois tipos de políticos: os que defendem o bem comum e os que veem a política como negócio. Os primeiros dependem, teoricamente, do voto da opinião pública; os segundos, do poder econômico. Nos Estados Unidos, o lobby é legalizado para que o sistema funcione com transparência e o eleitor possa escolher com mais segurança que tipo de político o representa. No Brasil, todo político só defende o bem comum, nenhum assume a política como negócio, mas hoje é que mais têm no Congresso são os segundos. O mais curioso é o envolvimento das grandes empresas do país no financiamento da campanha, muitas vezes por meio de “caixa dois”. Se for feito um cruzamento de dados das “pessoas jurídicas” envolvidas nos escândalos, veremos que há muitas coincidências. Algumas grandes empreiteiras do país são arroz de festa nos casos de superfaturamento. Ou seja, o sistema está “bichado”.

Como financiar campanhas caríssimas? A saída pode ser um sistema híbrido, no qual cada um poderia escolher entre o financiamento público e as doações privadas, como nos lembrou ontem a nossa colega jornalista Tereza Cruvinel. Essa é a proposta apresentada pelo deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), coordenador da comissão especial da reforma política da Câmara. A ideia, porém, nunca foi levada a sério pelos partidos, a começar pelo PT, que renega a proposta e está satisfeito com o rumo da votação no Supremo. Por que esse contentamento? Ora, porque numa situação de terra arrasada, o PT leva a vantagem de ser o partido com mais militantes e, simultaneamente, controlar as relações do governo com os maiores empresários do país.

Para encerrar o assunto, um breve comentário sobre o papel do iluminismo nas decisões do Supremo, que foi enaltecido pelo ministro Luiz Roberto Barroso. Não haveria o Estado moderno, democrático, sem o racionalismo e os iluministas, que apartaram as questões de Estado das religiões. Montesquieu, o pai do sistema de “trias política”, dizia que quando o Executivo e o Legislativo estão juntos, não pode haver liberdade. Por isso, caberia ao Judiciário interpretar as leis, e não aos demais poderes. A Constituição dos Estados Unidos e a Revolução Francesa universalizaram esse princípio do liberalismo, que agora está sendo exercido com pleno vigor pelo Supremo Tribunal Federal.

Fonte: Correio Braziliense

Vestais dissolutas - Paulo Brossard

Quando fundado o PT, seus integrantes eram, em regra, sindicalistas e alguns intelectuais. Por esta razão, ou por outra, o nascente partido tinha a pretensão de ser melhor que os demais. Proclamavam-se superiores. Eram os puros, enquanto os outros seriam os ímpios, ou de segunda categoria.

Cedo, porém, ficou demonstrado que a nova agremiação haveria de revelar-se possuidora de mazelas, quiçá superiores às atribuídas aos outros partidos; com efeito, chegados ao poder não hesitariam em abrir um capítulo novo no elenco das ilicitudes, o mensalão foi o maior, pelo menos o mais chocante por seu ineditismo e ostensividade; não foi o único, formou um rosário. Um dos mais conhecidos relacionou-se quando da eleição a governador de São Paulo, do atual ministro da Educação. Ficaram famosos os fatos que tiveram como cenário o Hotel Ibis, em São Paulo, local onde agente petista compraria um dossiê que comprometeria o adversário, ao preço de R$ 1,7 milhão, dinheiro de contado. Se bem me lembro, o dossiê não passava de um agregado de coisas ineptas a ponto de o virtual adquirente desinteressar-se da suposta preciosidade e de evadir-se para não se encontrar com a Polícia Federal, deixando mesmo no hotel a soma de R$ 1,7 milhão durante algum tempo. Menciono o caso por ter se tornado público o episódio para demonstrar o proteiforme procedimento instaurado. Diante da repercussão, nada menos que o presidente Luiz Inácio tentou diminuir a importância da ocorrência chamando os compradores, seus correligionários, de aloprados, vocábulo que, se não mentem os dicionários, significa endoidados, malucos, estúpidos.

Agora veio a público que, numa investigação sobre contas no Exterior, o Ministério da Justiça consultou o Legal Department Cayman Islands Government, aparecendo nada mais nada menos que o nome de José Dirceu de Oliveira e Silva. Por esta, ou aquela razão, o Ministério da Justiça, que requerera esclarecimentos, parece ter sepultado a incômoda revelação e o fato não teve a menor consequência, quer dizer, são fatos, e fatos de suma gravidade, e os serviços oficiais da alçada de um ministério de alta responsabilidade e conceito teriam arquivado documento que lhe foi dirigido em resposta a inquirição sua. Tais fatos são bastantes para demonstrar a deterioração das normas da nossa administração, sob o governo que pretendia ser um padrão de excelência. Diante deles, poderia o Ministério da Justiça arquivá-los, conservando sem divulgação e sem consequências o fato gravíssimo, sem converter-se em corresponsável nem incidir em prevaricação?

Agora, outro fato arrasador vem de ocorrer, envolvendo o coração do governo. Acaba de ser publicado livro, com base em copiosas revelações de Romeu Tuma Junior, ex-secretário nacional da Justiça do Ministério. Alega-se que Tuma Junior foi exonerado em razão de ilegalidades cometidas ou coisa parecida, mas quanto tempo decorreu desde a demissão? Não foi bastante para apurar a responsabilidade do demitido, suposta a veracidade das imputações que lhe foram feitas? A verdade, porém, é que nada, absolutamente nada, nenhuma iniciativa tomou a administração de apurar fatos ditos graves como lhe cabia.

Publicado em livro e divulgado nacionalmente, não se viu nem ouviu uma palavra do governo a respeito. Essa omissão não importa em cumplicidade e esta em corresponsabilidade; as revelações atingem mortalmente a alta administração do país.

Enfim, parece que em matéria de "traficâncias" as vestais revelaram-se insuperáveis.

*Jurista, ministro aposentado do STF

Fonte: Zero Hora (RS)

A narrativa e os esqueletos - Denis Lerrer Rosenfield

Revolver tumbas e mexer com esqueletos são formas de manipulação de algo putrefato, que exibem um tipo de prazer mórbido. Pior ainda, quando isto se faz sob a bandeira ideológica de uma suposta busca da verdade. Olado físico do cadáver toma o lugar do que deveria ser um modo simbólico de o país lidar com o seu próprio passado. A reelaboração cede o lugar à exploração dos esqueletos.

A exumação do cadáver do ex-presidente João Goulart está sendo a ocasião de toda uma narrativa que procura se sobrepor aos fatos. Desenterrar alguém é uma atividade dolorosa, que deveria ser evitada ao extremo, salvo se, bem fundada, fosse absolutamente necessária. Nada indica, segundo, mesmo, depoimentos de seus próximos, que o ex-presidente tenha sido envenenado. Foi construída toda uma "estória" que procura justificar tal ato com o objetivo explícito de exploração política, em uma nítida tentativa de reescritura da "história"

O país vive uma extraordinária fase de normalidade institucional, de estabilidade democrática e de fortalecimento das instituições, fruto de todo um processo negociado de transição política que culminou na Constituição de 1988. A nova Carta Maior tem demonstrado toda a sua vitalidade, inclusive em processos de mudança de vários de seus artigos, conforme procedimentos e regras que exibem toda a sua força.

Nunca é demais lembrar que a Lei da Anistia foi um instrumento central de todo esse processo, tendo como protagonistas a oposição liberal e de, encarnada por figuras notáveis como Ulysses Guimarães, Paulo Brossard, Teotônio Villela, Franco Montoro, Tancredo Neves, Mário Covas, entre outros; os dissidentes da Arena, que formaram o Partido da Frente Liberal; e os militares democráticos, que não só abriram esse caminho como o sustentaram.

A esquerda radical, derrotada, não tinha nada a dizer, senão reconhecer um processo de democratização de tipo liberal, levado a cabo contra as suas convicções. Na linguagem marxista, teve de se resignar à "democracia burguesa" pois o seu projeto socialista/comunista tinha fracassado.

O Brasil foi e é um exemplo político para o mundo. Exemplo de concórdia e de negociação, sabendo deixar as seqüelas do passado para trás, ciente de que o presente só vislumbra a esperança quando voltado para o futuro.

Ocorre que os derrotados estão, agora, tentando reescrever a história, procurando a vitória através da manipulação das ideias e de sua consequente exploração midiática.

Um episódio particularmente significativo ocorreu no reenterro do ex-presidente João Goulart com suas honras devidas. Havia parlamentares presentes e ministros. O Exército brasileiro esteve representado na figura do General Bolivar Goellner, comandante militar do Sul. Seguiu, enquanto soldado, o regulamento, conforme as determinações do Comando do Exército, subordinado à presidente da República. Atuou, portanto, enquanto militar constitucionalista que é.

Soube, no entanto, distinguir entre homenagem militar e suposto reconhecimento de um "erro histórico". Não havia nenhuma retratação em pauta, pela simples razão de que este não era o significado dessas honras fúnebres, tampouco cabendo a ele refazer a história. A história é constituída por fatos que não podem ser reescritos, embora, evidentemente, possam servir de aprendizado para as futuras gerações, não importando o lado atingido.

A ministra Maria do Rosário, irritada segundo a notícia, teria declarado que o assunto deveria ser levado ao Comando do Exército. Um outro parlamentar utilizou da ironia para dizer que nem sabia o nome do comandante militar do Sul e que este deveria apenas seguir o regulamento. Queria que ele o desrespeitasse? Trata-se de afrontas totalmente desnecessárias à instituição militar que, sim, garantiu a transição democrática e foi sua garantia em momentos difíceis.

Note-se que a exumação do cadáver para exames toxicológicos e outros deixou de ser a questão e o problema se deslocou para as honras militares do novo enterro. Já era um despropósito a exumação, que foi seguida de um espetáculo político, cada partido e político procurando extrair o máximo de benefícios. Foi uma forma canhestra de reescritura da história. O recato desapareceu em proveito da ideologia.

Já não se fala mais dos exames. Seus "resultados" conforme foi anunciando, podem demorar entre seis meses e um ano. Um dos especialistas, aliás, é um médico cubano, como se a ditadura comunista caribenha fosse um grande centro de medicina, contando com profissionais e laboratórios mundialmente renomados. Deveriam, isto sim, enterrar o seu próprio regime político, exemplo de abolição das liberdades e da democracia.

O problema tornou-se o "reenterro" como se a exposição do cadáver devesse ser seguida de atos de desrespeito à instituição militar, provocada na figura de seu representante. Sua resposta, contida e clara, mostra o amadurecimento do Exército, precisamente quando confrontado aos que procuram provocá-lo. Por que, aliás, a provocação?

É como se a exumação e o novo enterro tivessem como finalidade uma rees-critura histórica, que poderia levar à abolição da Lei da Anistia. Já não bastou a Comissão da Verdade ter se recusado a investigar os crimes da esquerda armada, em um comportamento evidentemente parcial. Tampouco é suficiente que os que propugnavam estabelecer no Brasil uma ditadura comunista sejam agora apresentados como "combatentes da liberdade" Não prezam a estabilidade institucional do país?

Parece não haver limites. Agora, outra reescritura entra em pauta, a da morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek, apresentada como "assassinato político". Todos os especialistas que analisaram o fato se recusam a essa nova pantomima, reiterando o acidente que foi. Os cadáveres estão se tornando protagonistas políticos graças a esses criadores de "mortos-vivos"

Pensam que o país deve seguir o exemplo da Argentina que se enterra cada vez mais?

Denis Lerrer Rosenfield é professor de filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Fonte: O Globo