segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Nelson Mandela (1918-2013)

Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.

Mensalão: Jefferson pode ir para a cadeia, diz laudo

Avaliação médica encomendada pelo STF sustenta que ex-deputado não precisa de benefício de prisão domiciliar

Segundo o documento, petebista não tem mais nenhuma evidência do câncer que sofria no pâncreas

Bernardo Mello Franco

RIO - O laudo médico encomendado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) para avaliar a saúde do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) sustenta que ele não precisa cumprir sua pena em prisão domiciliar.

A informação, veiculada ontem pelo canal Globo News, foi confirmada pelo petebista à Folha. A reportagem teve acesso ao documento, enviado ao ministro Joaquim Barbosa, que afirma que o autor da denúncia do mensalão está curado do câncer.

Jefferson foi condenado a 7 anos e 14 dias de prisão no regime semiaberto pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele havia apresentado pedido para cumprir a pena em casa.

"Do ponto de vista oncológico, esta junta médica não identifica como imprescindível, para o tratamento do senhor Roberto Jefferson Monteiro Francisco, que ele permaneça em sua residência ou internado em unidade hospitalar", afirma o laudo.

De acordo com o documento, o ex-deputado "não apresenta qualquer evidência" de câncer em atividade, mas há a recomendação de que continue a fazer acompanhamento médico periódico.

Isso significa que, se for para a cadeia, Jefferson deverá ser autorizado a sair regularmente para consultas e exames. Assinam o laudo os médicos Carlos José Coelho de Andrade, Cristiano Guedes Duque e Rafael Oliveira Albagli, do Inca (Instituto Nacional do Câncer).

A defesa do petebista, que continua em casa, deve insistir no pedido de prisão domiciliar. Jefferson tem afirmado que está livre do câncer no pâncreas, mas que precisa do benefício devido às consequências da cirurgia que sofreu, em julho de 2012, para retirar partes de vários órgãos. O petebista, que precisa tomar um coquetel diário de remédios e vitaminas, sofre de anemia e diabetes.

Fonte: Folha de S. Paulo

STF avalia financiamento eleitoral

O Supremo Tribunal Federal agendoupara esta quarta-feira o julgamento de uma ação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que visa declarar a inconstitucionalidade do financiamento privado de campanhas eleitorais.

A OAB também pretende que sejam proibidas doações de pessoas jurídicas a partidos políticos e que haja novos limites para o financiamento de campanhas e de siglas por pessoas físicas. A ideia é que o Congresso reformule posteriormente o teto atual, no qual pessoas físicas podem doar até 10% dos seus rendimentos brutos no ano anterior à eleição. A legislação atual também prevê que pessoas jurídicas possam doar até 2% do faturamento bruto do ano anterior à eleição.

O pleito pelo fim do financiamento privado atinge diretamente a principal fonte de arrecadação para campanhas eleitorais.. Segundo o Estadão Dados, do total de R$ 114 milhões doados à campanha da presidente Dilma Rousseff (PT) em 2010, quase 98% vieram de empresas.

Para a OAB, a influência do poder econômico nas disputas eleitorais resulta em distorções entre as condições dos candidatos. "A excessiva infiltração do poder econômico nas eleições gera graves distorções. Ela engendra desigualdade política, na medida em que aumenta ex-ponencialmente a influência dos mais ricos sobre o resultado dos pleitos eleitorais, e, consequentemente, sobre a atuação do próprio Estado", escrevem os advogados na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4650, de 2011. A ação afirma que adita infiltração cria perniciosas vinculações entre os doadores de campanha e os políticos, que acabam sendo fonte de favorecimentos e de corrupção após a eleição".

Conceito. O presidente da OAB, Marcus Vinicius Coelho, disse ao Estado que pessoas jurídicas não devem participar de eleições por não se enquadrarem no "conceito de povo". "A ideia da ADI é manter o princípio republicano de um "homem, um voto7. Empresas não constituem o conceito de povo. São entes importantes que devem ser respeitados, mas não integram o conceito de povo e por isso não podem definir rumos eleitorais do País", disse.

Diante de declarações recentes de alguns ministros, a expectativa da OAB é de um cenário favorável à ADI. Embora esteja pautado para esta semana, o julgamento pode ser adiado, vez que qualquer ministro pode apresentar pedido de vista.

A ação pede a proibição imediata das doações privadas, mas a própria entidade avalia que, caso o STF avalize a proposta, o fim do financiamento poderia não valer já para 2014, pela proximidade do processo eleitoral. Sobre novos limites para doações, a OAB pede que a Corte determine ao Congresso que, em 18 meses, seja votada nova legislação, com a reformulação dos tetos atuais. Caso o Parlamento descumpra a determinação, caberia ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidir os novos limites, de forma provisória. Pelo pedido da OAB, os limites de hoje só seriam anulados num período de dois anos.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Para a Justiça, presidente do Cade ainda é filiado ao PT

A Justiça Eleitoral barrou estratégia do presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Vinícius de Carvalho, para que o reconhecimento de sua desfiliação do PT retroagisse a 16 de maio de 2008, informa Fausto Macedo. Nessa data, ele diz ter comunicado sua saída ao Diretório Municipal do partido, porém, segundo a Justiça, como não fez o mesmo ao juiz eleitoral, o vínculo ainda existe. Carvalho afirma que a desfiliação está comprovada.

Presidente do Cade não saiu do PT, diz Justiça

Vinícius de Carvalho pediu desfiliação só ao partido, sem notificar cartório eleitoral

Fausto Macedo 

A Justiça eleitoral barrou estratégia do presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Vinícius de Carvalho, que pretendia reconhecimento retroativo de sua desfiliação do PT a 16 de maio de 2008 - data em que afirma ter comunicado sua decisão ao Diretório Municipal do partido. Como não fez o mesmo perante a Justiça, ele continua ligado ao PT, segundo a decisão.

Para a juíza Rosângela Maria Telles, da 252.a zona eleitoral de São Paulo, o fato de Carvalho ter notificado apenas o partido não lhe confere a desfiliação no âmbito da Justiça. Ao requerer a retroatividade, Carvalho alegou que pretendia evitar questionamentos acerca da legitimidade do exercício de seu mandato no Cade, cadeira que ocupa desde 30 de maio de 2012, mas que lhe seria vedada caso não tivesse efetuado a comunicação de sua desfiliação.

São antigos os vínculos de Carvalho com o PT. Ele trabalhou no gabinete do deputado licenciado Simão Pedro, secretário de Serviços da gestão Fernando Haddad na Prefeitura de São Paulo, mas omitiu esse dado de seu currículo em ao menos quatro oportunidades, como revelou o Estado, em setembro. O gesto lhe custou advertência da Comissão de Ética da Presidência. Ele disse que foi "um lapso".

Em maio, o Cade fez acordo de leniência com a Siemens que revelou cartel no sistema metro-ferroviário em governos do PSDB em São Paulo (1998/2008) e no governo do DEM, do DF. Os lenientes são 6 executivos da multinacional alemã, entre eles Everton Rheinheimer, que fez delação premiada na Polícia Federal e apontou suposto esquema de propinas para parlamentares.

Em meio à polêmica, Carvalho bateu à porta da Justiça eleitoral. Em despacho de 17 de outubro, a juíza Rosângela Telles assinalou. "O requerente comunicou a sua desfiliação tão somente ao Diretório do Partido dos Trabalhadores. Contudo, nada comunicou ao Juízo eleitoral."

Ajuíza cita que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já se posicionou sobre a matéria. "Dessa forma, o eleitor deveria ter comunicado não apenas a desfiliação ao diretório do partido, como também ao Juízo Eleitoral. Caso não adote esta última providência, continuará a ser considerado filiado ao partido. Isto vale para as hipóteses em que o eleitor pretende apenas a sua desfiliação, sem se filiar novamente a outro partido, como também no caso de desfiliar-se de um partido e filiar-se a outro, situação que configurará dupla filiação partidária. De sorte que não há como acolher a pretensão inicial (de Carvalho)"

"Desfiliação já foi comprovada"
Vinícius Carvalho já entrou com recurso. Ele pede que a sua desfiliação, nos registros do Tribunal Superior Eleitoral, seja datada de 16 de maio de 2008.

"Uma vez que desfiliação partidária é ato unilateral de vontade, e cabe ao partido e à Justiça Eleitoral apenas tomar ciência dessa vontade, o recurso pleiteia que nos registros do TSE conste a data de desfiliação de fato", diz a assessoria de Carvalho. "Independentemente da decisão da Justiça, fato é que Carvalho já comprovou estar desfiliado desde 2008, o que, por si só, já o impediria de exercer atividade partidária, conforme a Lei 12.529/11."

Fonte: O Estado de S. Paulo

Punição branda, campanha na rua

Faltam sete meses para o início oficial da campanha eleitoral, mas qualquer brasileiro que tenha parado alguns minutos em frente à tevê ou próximo a um rádio este ano já percebeu que a disputa começou faz tempo. No horário da novela ou do jornal, inserções e programas partidários em todo o país estão recheados de pré-candidatos ressaltando a própria trajetória e mostrando o que pensam sobre tudo. A prática é proibida, mas, como a punição é tímida, o preço que se paga para ter exposição em horário nobre é pequeno, em comparação com os benefícios.

Somente este ano, chegaram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nove representações contra presidenciáveis. Duas são de autoria do PT contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato tucano. As demais questionam a atuação da presidente Dilma Rousseff — quatro apresentadas pelo PSDB, duas pelo PPS e uma pelo Ministério Público Eleitoral (MPE). Desse total, somente duas têm decisão, uma para cada lado.

Dilma e PT foram acusados de usar o horário da propaganda política para promover a presidente, tanto nos programas da legenda como em pronunciamentos oficiais. O PSDB e o PPS, por exemplo, alegam existir "inegável semelhança entre a publicidade institucional e as peças da campanha eleitoral de 2010" da petista. O TSE se pronunciou sobre uma das representações do PPS, negando o prosseguimento da causa. As demais ainda não foram julgadas.

A oposição, no entanto, já perdeu uma. Em maio, o PSDB foi obrigado a tirar de circulação um dos vídeos partidários em que Aécio Neves falava na primeira pessoa. Conforme a decisão da ministra Laurita Vaz, a função do programa tucano não chegou a ser desviada nem se tratou de promoção pessoal ou propaganda antecipada, mas houve "uma nítida predominância da linguagem em primeira pessoa, com ênfase na atuação" do presidenciável.

Na semana passada, os petistas encaminharam nova representação com o mesmo teor, referente a outro programa de Aécio, ainda sem decisão do tribunal. Mesmo tendo se consolidado como pré-candidato em outubro, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, ainda não foi alvo de nenhum questionamento judicial.

Antes da hora
A campanha eleitoral só começa oficialmente em 5 de julho do ano que vem. Enquanto isso, os partidos têm à disposição, no mínimo, 10 minutos por ano na tevê e no rádio para expor suas ideias. As legendas maiores chegam a ter dois programas anuais em horário nobre, com o total de 20 minutos, além de mais 20 minutos para inserções fatiadas, de até um minuto cada, em horários diversos. Tudo isso sem pagar um tostão às emissoras. Só têm o custo de produção das peças publicitárias.

De acordo com profissionais do mercado ouvidos pelo Correio, programas bem produzidos para preencher esses 40 minutos chegam a custar R$ 2 milhões. E boa parte desse dinheiro sai, em última análise, do bolso do contribuinte. Isso porque a verba para pagar a divulgação sai do Fundo Partidário, composto por repasses federais e doações privadas. Além disso, as emissoras, que são concessões públicas, deduzem do Imposto de Renda 80% do valor que receberiam se vendessem o espaço para anunciantes comuns no mesmo horário.

Um comercial de 30 segundos no horário nobre noturno da TV Globo, por exemplo, custa, em média, R$ 500 mil. Como não paga pelo espaço, uma legenda de maior porte deixa de gastar, ao longo do ano, cerca de R$ 40 milhões. Já a multa por propaganda antecipada atinge, no máximo, R$ 25 mil.

Gustavo Severo, do Instituto Brasileiro de Direito Eleitoral, diz que, com a possibilidade de mostrar suas apostas para milhões de brasileiros por tanto tempo, os partidos preferem se arriscar porque, se condenados pela Justiça Eleitoral, acabam punidos com uma multa relativamente pequena. "Acaba valendo a pena, sai barato para eles", destaca. "O TSE tem sinalizado que pode adotar postura menos restritiva, pois, se o partido não puder expor seus grandes nomes, a propaganda perde a finalidade, seria fechar os olhos para a realidade já posta. Mas exibir o currículo de uma pessoa específica é promoção pessoal e deve ser punido", argumenta.

O ex-ministro do TSE Walter Costa Porto acrescenta que as punições tendem a ser brandas por falta de clareza na lei. "É muito difícil para a Justiça definir o que é ou não propaganda antecipada, porque é um dever do eleito prestar contas aos eleitores. Só fica claro o erro quando uma pessoa pede voto ou apenas expõe o próprio currículo."

O que diz a lei

Constituição:
A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos. O descumprimento pode ser considerado improbidade administrativa.

Lei de partidos políticos:
A propaganda partidária no rádio e na tevê deve ser utilizada, exclusivamente, para difundir os programas partidários; transmitir mensagens aos filiados sobre a execução do programa partidário, dos eventos relacionados e das atividades da sigla; divulgar a posição do partido sobre temas político-comunitários; e promover e difundir a participação política feminina.

Entre as proibições do programa partidário, estão a divulgação de propaganda de candidatos a cargos eletivos e a defesa de interesses pessoais ou de outros partidos.

O partido que infringir a lei poderá ter a transmissão de programas do semestre seguinte suspensa.

Lei eleitoral:
A propaganda eleitoral somente é permitida após o dia 5 de julho do ano da eleição. Quem descumprir a regra estará sujeito à multa de R$ 5 mil a R$ 25 mil.

Não é considerada propaganda antecipada a participação de pré-candidatos em entrevistas e debates nem a divulgação de atos de parlamentares e debates legislativos, desde que não se faça pedido de votos.

Fonte: Correio Braziliense

Oposição em busca de 66% que querem mudar

Aécio e Campos disputam o papel de melhor representante de parcela do eleitorado apontada por pesquisas

Paulo Celso Pereira e Maria Lima

-Brasília- A perspectiva de renascimento das manifestações de rua na Copa do Mundo e o desejo amplamente majoritário por mudanças na condução das ações governamentais, já captado na última pesquisa Datafolha, jogam cada vez mais imprevisibilidade sobre as eleições de 2014. E é nesse cenário, novo em relação às últimas eleições, que os adversários da até agora favorita Dilma Rousseff tentarão se consolidar como catalizadores desse sentimento de mudança. Se, até os protestos de junho, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) disputavam sobre quem poderia continuar da melhor forma o governo do PT, usando como slogans "fazer mais" ou "fazer melhor" agora a disputa será pelo papel de melhor representante da mudança desejada por 66% da população, segundo aferiu o Datafolha.

Embora esse dado, associado à preocupação popular com a economia, prejudique o favoritismo de Dilma, por outro lado nenhum dos pré-candidatos de oposição até agora conseguiu consolidar-se como catalisador desse sentimento. Por isso, a tendência é que a própria Dilma também entre nesse embate pela "mudança" lutando para se consolidar como a opção segura para promover as alterações necessárias.

Três grandes temas
O diretor do Datafolha, Mauro Paulino, lembra que esse percentual (66%) se aproxima do captado em setembro de 2002, um mês antes de Lula eleger-se presidente como contraponto ao governo Fernando Henrique, quando 76% dos brasileiros queriam que as ações do novo governo fossem diferentes.

— Esse número tem muito significado. Mas não quer dizer necessariamente tendência total de querer escolher a oposição, até porque, mesmo entre os que hoje dizem votar em Dilma, há parcela grande que quer mudança. Isso pode ser porque não enxergam na oposição discurso convincente de mudança ou porque acreditam que Dilma é a alternativa mais segura para promover essas mudanças. Não tenho dúvida de que os candidatos vão levar muito em conta esse desejo, que se expressou no apoio em massa às manifestações de junho — explica Paulino.

Segundo o diretor do instituto, há três grandes temas — Saúde, Educação e Segurança Pública — para os quais os candidatos devem apresentar propostas concretas e compreensíveis em busca dos votos. São as três áreas que a população considera prioritárias, especialmente a Saúde, apontada por mais da metade dos entrevistados como principal problema do país.

Há, no entanto, outro fator que, como em toda eleição presidencial, terá papel decisivo: a economia. E, nela, os dados não são positivos para Dilma. Dias antes do início dos protestos de junho, a avaliação positiva do governo já havia sofrido forte queda de oito pontos coincidindo com crescimento do percentual de eleitores que acreditavam que o desemprego e a inflação tendiam a aumentar. Após um refluxo, esses indicadores voltaram a crescer na última pesquisa do Datafolha.

— A forma como a economia vai se comportar será decisiva na eleição. A preocupação com desemprego e inflação aumentou, os que acham que a inflação vai aumentar subiram de 54% para 59%. É a maior taxa desde novembro de 2007, a primeira data que tenho. E os que acham que o desemprego vai aumentar subiram de 38% para 43%. No começo de junho, antes das manifestações, tinham subido de 31% para 36% e chegado no final de junho, após os protestos, a 44%. É quase o mesmo índice de hoje — explica Paulino.

Daqui até agosto do ano que vem, quando a eleição entrará no dia a dia da população, a receita dos candidatos de oposição é ter tranquilidade com pesquisas e investir em viagens e no diálogo com setores organizados. Tanto para Aécio Neves quanto para Eduardo Campos, o dado mais importante no momento é o que confirma o sentimento de mudança.

— Temos que ter tranquilidade. A grande população ainda não tomou conhecimento de que existem opções viáveis na disputa. Até o início da campanha para valer, será um tempo mais desafiador. Só depois da Copa o tema "eleição" entrará no cotidiano das pessoas para valer — disse Campos ao GLOBO. — Agora é o período de aprofundar o diálogo com setores já preocupados com a sucessão: a academia, os empresários, os trabalhadores.

O socialista, que tem rodado o país para travar esse diálogo mas ainda é desconhecido do grande público, faz apostas.

— Os que estão com a presidente Dilma e querem mudança serão os primeiros a descolar quando tomarem conhecimento de quem são as outras alternativas. Só aí ela pode perder 30 ou 20 pontos, e voltar ao núcleo duro de 27% (de intenções de votos) nas pesquisas — avalia o governador de Pernambuco, que na última pesquisa Datafolha aparece com 9% das intenções de votos.

Aécio diz que não subestima a capacidade de compreensão e de discernimento do eleitor no momento de decidir o seu voto, mas ressalva que esse processo tem tempo certo para ocorrer:

— Não temos sequer candidaturas lançadas, exceto a da presidente. Uma candidata full time, com enorme exposição e que utiliza todo o aparato de propaganda-oficial. O dado relevante neste momento, em todas as pesquisas, é o de que há sentimento claro da população por mudanças, seja de quem vive nas capitais ou no interior do país — disse Aécio. — Cabe aos partidos na oposição mostrarem à população que podemos fazer essa mudança.

Os socialistas avaliam que chegou a hora de uma nova ruptura. Relembram o que aconteceu em 1964, com o golpe, militar; em 1974, quando, na ditadura, o MDB elegeu uma enorme bancada de senadores; em 1984, com as Diretas Já; em 1994, com a eleição de FH; e o Plano Real e em 2002, com Lula.

— Movimentos de mobilização social sempre marcaram o início e o fechamento desses ciclos. É o que estamos vendo de novo agora — diz Campos, lembrando as manifestações de junho e as pesquisas que pedem mudança.

Fonte: O Globo

Por Alckmin, tucanos e governo lançarão campanha ‘casada’

Palácio dos Bandeirantes gastará R$ 40 milhões em publicidade na mesma época de exibição de programas do PSDB

Pedro Venceslau

O PSDB de São Paulo e o governo do Estado lançarão uma campanha publicitária "casada" para promover o governador Geraldo Alckmin, que disputará a reeleição no ano que vem.

No programa partidário, que vai ao ar entre o Natal e o Ano Novo, não aparecerão o ex-governador José Serra e o senador mineiro Aécio Neves, que postulam a vaga de candidato à Presidência pela legenda. Na última leva de programas eleitorais do PSDB nacional, o governador paulista foi único personagem, além do senador, que também é presidente da legenda.

Produzidos pelo publicitário Nelson Biondi, que deve ser o marqueteiro de Alckmin na campanha paulista em 2014, os comerciais terão tom ameno e 100% do seu tempo dedicado ao governador.

Os principais focos de desgaste de Alckmin em 2013, como as suspeitas do cartel dos trens e as manifestações de junho, não serão abordados. Em paralelo às inserções do PSDB, começará a ser veiculada uma campanha publicitária maciça do governo, que será exibida entre dezembro e fevereiro.

O valor da campanha, segundo auxiliares do governador, será em torno de R$ 40 milhões. Assinadas por três agências de publicidade - Propeg, Lua Branca e Nova SB - as inserções mostrarão obras de mobilidade urbana, saúde e educação, além de iniciativas de todas as pastas e autarquias, como Dersa, Sabesp, Metrô e Artesp.

A decisão de lançar a campanha no fim do ano foi estratégica. Além de reforçar a imagem e garantir uma dianteira confortável de Alckmin nas pesquisas de opinião dos primeiros meses do ano, quando as costuras de alianças partidárias se intensificam, a ofensiva é necessária para garantir um bom volume de recursos com publicidade em 2014.

A lei exige que a verba reservada para propaganda em ano eleitoral deve ser igual ou menor à do ano anterior ou da média anual usada desde o começo da gestão. Alei eleitoral determina que é permitido fazer propaganda oficial até três meses antes da eleição.

Largada. O PSDB terá direito a novas inserções publicitárias em abril,e junho. Os tucanos esperam que o governador chegue ao patamar dos 50% de aprovação quando a campanha à reeleição começar.

Depois das manifestações de junho, Geraldo Alckmin teve seu pior desempenho nas pesquisas. Pesquisa Datafolha mostrou que a avaliação positiva do governador (ótimo ou bom) foi de 38%. No levantamento anterior, realizado em 7 de junho, ele havia aparecido com 52% de aprovação.

Fonte: O Estado de S. Paulo

PSB e Rede farão pesquisa para decidir rumo em SP

Socialistas preferem apoio a Alckmin, mas grupo de Marina aposta em candidatura própria

Marcelle Ribeiro

O PSB e a Rede Sustentabilidade farão uma pesquisa qualitativa no início do ano que vem para decidir se vão apoiar a candidatura à reeleição do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), ou se lançam nome próprio no estado.

Os dois partidos, que firmaram aliança em outubro, têm posições contrárias. A Rede defende que não há espaço para apoio a Alckmin, posição reafirmada em encontro dos seguidores de Marina Silva, na manhã de sábado em São Paulo. O PSB, por sua vez, acredita que o melhor é apoiar o governador.

Coordenador executivo nacional da Rede, o deputado federal Walter Feldman defende que a aliança com o PSB represente uma terceira via não só em São Paulo, mas onde for possível.

— A ideia de fazer uma pesquisa qualitativa é para ouvir o sentimento das pessoas e dar elementos científicos ao quadro incerto em São Paulo. A Rede defende que existe um quadro de instabilidade política no Brasil e que há um caminho de terceira via que deveria ter repercussão em todos os estados em que isso for possível — acrescentou.

Feldman, que foi do PSDB por 25 anos, disse que, durante encontro com o governador na semana passada, explicou a Alckmin que a Rede não pretende apoiá-lo por uma questão programática, e não, pessoal. Questionado sobre se será o candidato da Rede e do PSB, caso a tese de candidatura própria prevaleça, Feldman disse que há outros nomes além do seu sendo aventados:

— Neste sábado, a Rede definiu que gostaria de ter candidatura programática e colocou alguns nomes possíveis, como a Luiza Erundina e o Márcio França (ambos do PSB).

Mas o próprio França defende o apoio à reeleição de Alckmin, que, segundo ele, pode ajudar na eleição do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB-PE), à Presidência da República.

— Temos uma pesquisa interna que mostra que o voto em Geraldo Alckmin é casado com o voto em Eduardo Campos. São pessoas que votam muito antiPT — disse França.

Fonte: O Globo

PPS aprova apoio a Campos para 2014

Resolução ainda precisa ser confirmada em convenção do partido

Em uma votação tumultuada anteontem à noite, em São Paulo, o PPS aprovou apoio em 2014 a uma eventual candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). A decisão precisou ir a voto no congresso que a sigla realizou no fim de semana na capital paulista — e, por 152 a 98, a proposta de aliança com o PSB e a Rede da ex-senadora Marina Silva venceu a tese de candidatura própria. O apoio a uma candidatura do senador Aécio Neves (PSDB) ficou fora da votação.

Após proclamado o resultado, o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire, explicou que não se trata de uma decisão definitiva, mas o posicionamento indica o caminho que o partido deverá seguir na eleição presidencial do ano que vem.

— O indicativo não está significando que o PPS fechou-se, mas que precisa construir uma alternativa para 2014 — disse Freire.

A convenção partidária que oficializa alianças eleitorais acontecerá somente em junho. O PPS aprovou anteontem também uma pré-convenção em março, para fazer uma nova consulta a seus dirigentes.

O mesmo procedimento foi usado para dar o apoio ao ex-governador José Serra na eleição presidencial de 2010. Primeiro, houve a aprovação de uma indicação de aliança. Depois, ela acabou confirmada na convenção.

O PPS tem sido cortejado por Campos e Aécio há meses. Antes mesmo de se iniciar a votação, a ala do partido que defende a continuidade da parceria com o PSDB — os dois partidos são aliados históricos — retirou a proposta da discussão, alegando que não concordava com a tese de que o partido deveria decidir durante o congresso as alianças para 2014. A manobra foi uma tentativa de impedir uma vitória do grupo pró-Eduardo Campos, liderado por Roberto Freire.

Os diretórios do PPS no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, maiores apoiadores de Aécio, votaram com os partidários da candidatura própria, mas isso não foi suficiente para derrotar o grupo a favor de uma coligação com o PSB.

A votação terminou por volta das 20h e foi marcada por muita confusão e debates acalorados. A contagem dos votos teve que ser feita por meio dos crachás dos delegados do partido, que foram depositados em duas urnas.

No congresso, ficou claro que o partido está rachado em relação aos rumos que deverá tomar em 2014. A candidatura própria com Soninha Francine, ex-vereadora paulistana, foi praticamente descartada, porque a maioria considera não haver tempo hábil para viabilizar politicamente a chapa.

Freire considerou o acirramento interno "normal" e disse que a reunião foi "séria e respeitosa"

Desde o início deste ano, o PPS busca alternativas eleitorais para 2014. Primeiro, tentou a criação de um novo partido, o Mobilização Democrática (MD), que sairia da fusão do PPS com o PMN. Mas uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) inviabilizou os planos.

Depois, o PPS iniciou conversas para a filiação de Marina Silva, que daria ao partido uma candidatura própria competitiva na corrida à Presidência da República. Mas a ex-senadora preferiu uma parceria de seu atual partido, a Rede, com o PSB.

Por fim, Roberto Freire convidou o tucano José Serra para ingressar na legenda. As tratativas se desenrolaram por meses. Sem espaço no PSDB para tentar disputar mais uma vez a sucessão presidencial, o ex-governador paulista tinha no PPS uma alternativa para ser presidenciável em 2014; mas ele desistiu.

Fonte: O Globo

PSDB quer depoimento de Tuma Jr. sobre livro

Ex-secretário nacional de Justiça está lançando obra em que diz ter recebido ordens" para produzir dossiês contra adversários do governo

Celta Froufe

BRASÍLIA - Escrito pelo ex-secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Junior, que exerceu o cargo no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o livro Assassinato de Reputações - Um Crime de Estado, ainda nem chegou às livrarias, mas já está movimentando Brasília.

A obra retoma alguns dos piores momentos do PT, como a morte do prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel, a criação de dossiês e o mensalão. O PSDB vai convidar o autor para dar mais detalhes sobre as denúncias no Congresso.

Em entrevista à revista Veja, Tuma Jr. disse que recebeu ordens para "produzir e esquentar" dossiês contra adversários do governo no período em que trabalhou no Ministério da Justiça. Disse ainda ter ouvido de Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, a "confissão" de que recursos "arrecadados" em Santo André na gestão Celso Daniel alimentavam campanhas do partido. Por fim, afirmou ter encontrado uma conta nas Ilhas Cayman que teria recebido recursos do mensalão.

Tuma Jr. perdeu o cargo no governo em 2010, após gravações telefônicas da Polícia Federal revelarem ligações entre ele e Li Kwok Kwen, apontado como um dos chefes da chamada máfia chinesa em São Paulo. Kwen foi preso e acusado de liderar uma quadrilha especializada em contrabando.

Roteiro. "É importante aprofundar questões colocadas por Tuma Júnior no livro. Ele retirou do armário alguns esqueletos", disse o senador Alvaro Dias (PSDB-PR). O ideal, de acordo com o tucano, é que Tuminha, como é conhecido, faça um depoimento oficial na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. "É preciso ver se ele tem documentos que possam dar credibilidade às denúncias. Ele é um policial experiente, não faria isso (denunciar) sem ter algum material (que comprove as acusações)", considerou. "Ao ouvir o Tuma oficialmente, teremos subsídios para protocolar denúncia na Procuradoria-Geral da República e instaurar inquéritos."

O líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), chamou a entrevista do ex-secretário de "esclarecedora e estarrecedora" por meio de nota. Sampaio vai requerer no início da semana à Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara a realização de audiência pública com a presença de Tuma Júnior para esclarecer as denúncias.

"O ex-secretário confirmou tudo aquilo que sempre denunciamos", disse Sampaio.

A reportagem entrou em contato com o Instituto Lula, que não preferiu não comentar as denúncias feitas por Tuminha no livro.

Carvalho diz que vai processar autor
O secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, divulgou ontem uma nota oficial respondendo às acusações feitas por Romeu Tuma Jr. no livro Assassinato de Reputações. "Repudio as acusações absolutamente falsas do senhor Romeu Tuma Júnior. Vou processá-lo imediatamente, para que ele responda na Justiça pelas calúnias que fez contra mim." Ex-secretário nacional de Justiça, Tuma Jr. disse ter ouvido de Carvalho a confissão de que recursos arrecadados em Santo André na gestão do prefeito petista Celso Daniel alimentavam campanhas eleitorais do Partido dos Trabalhadores.

Fonte: O Estado de S. Paulo

O Livro bomba

As impressionantes afirmações do ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Junior sobre a fábrica de dossiês dos petistas contra os adversários, o assassinato do prefeito Celso Daniel, o mensalão e o passado do ex-presidente Lula

Robson Bonin

A Secretaria Nacional de Justiça é um posto estratégico no organograma de poder em Brasília. Os arquivos do órgão guardam informações confidenciais de outros países, listas de contas bancárias de investigados e documentos protegidos por rigorosos acordos internacionais. Cercado por poderosos interesses, esse universo de informações confere ao seu controlador acesso aos mais restritos gabinetes de ministros e a responsabilidade sobre assuntos caros ao próprio presidente da República. Durante três anos, o delegado de polícia Romeu Tuma Junior conviveu diariamente com as pressões de comandar essa estrutura, cuja mais delicada tarefa era coordenar as equipes para rastrear e recuperar no exterior dinheiro desviado por políticos e empresários corruptos. Pela natureza de suas atividades, Tuma ouviu confidências e teve contato com alguns dos segredos mais bem guardados do país, mas também experimentou um outro lado do poder — um lado sem escrúpulos, sem lei, no qual o governo é usado para proteger os amigos e triturar aqueles que são considerados inimigos. Entre 2007 e 2010, período em que comandou a secretaria, o delegado testemunhou o funcionamento desse aparelho clandestino que usava as engrenagens oficiais do Estado paia fustigar os adversários.

As revelações de Tuma sobre esse lado escuro do governo estão reunidas no livro Assassinato de Reputações — Um Crime de Estado (Topbooks: 557 páginas; 69,90 reais), que chega às livrarias nesta semana. Lançado no momento em que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, enfrenta acusações de ter usado a estrutura da pasta para vazar detalhes de uma investigação que comprometeria líderes da oposição, o livro mostra que esse procedimento, mais que uma coincidência, é um método dos petistas para perseguir e difamar desafetos do governo. Segundo o ex-secretário, a máquina de moer reputações seguia um padrão. O Ministério da Justiça recebia um documento apócrifo, um dossiê ou um informe qualquer sobre a existência de conta secreta no exterior em nome do inimigo a ser destruído. A ordem era abrir imediatamente uma investigação oficial. Depois, alguém dava uma dica sobre o caso a um jornalista. A divulgação se encarregava de cumprir o resto da missão. Instado a se explicar, o ministério confirmava que, de fato, a investigação existia, mas dizia que ela era sigilosa e ele não poderia fornecer os detalhes. O "investigado", é claro, negava tudo. Em situações assim, culpados e inocentes sempre agem da mesma forma. O estrago, porém, já estará feito.

No livro, o autor apresenta documentos inéditos de alguns casos emblemáticos desse modus operandi que ele reuniu para comprovar a existência de uma "fábrica de dossiês" no coração do Ministério da Justiça. Uma das primeiras vítimas dessa engrenagem foi o governador de Goiás. Marconi Perillo (PSDB). Senador à época dos fatos, Perillo entrou na mira do petismo quando revelou à imprensa que tinha avisado Lula da existência do mensalão. O autor conta que em 2010 o então ministro da Justiça Luiz Paulo Barreto entregou em suas mãos um dossiê apócrifo sobre contas no exterior do tucano. As ordens eram expressas: Tuma deveria abrir uma investigação formal. O trabalho contra Perillo, revela o autor, havia sido encomendado por Gilberto Carvalho, então chefe de gabinete do presidente Lula. Contrariado, Tuma Junior refutou a "missão" e ainda denunciou o caso ao Senado. Esse ato, diz o livro, foi o primeiro passo do autor para o cadafalso no governo, mas não impediu novas investidas. A fábrica de dossiês voltou então a sua artilharia contra o então senador Tasso Jereissati (PSDB), severo opositor de Lula no Congresso. A fórmula era a mesma. Tuma Junior relata que foi chamado ao Congresso para uma conversa com o então senador Aloizio Mercadante (PT). No encontro, recebeu dele um pen drive e um pedido para que investigasse Jereissati. O autor abriu o dispositivo e constatou que se tratava de outro dossiê apócrifo. O livro conta que até o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), também chefiado por Tuma Junior, chegou a ser usado clandestinamente na tentativa de obter informações desabonadoras sobre despesas sigilosas da ex-primeira-dama Ruth Cardoso.

Assassinato de Reputações é um livro cujas revelações não podem simplesmente ser varridas para debaixo do tapete. Seu autor afirma relatar apenas fatos e situações vividas por ele próprio. E é rigoroso. Não se vale de depoimentos de terceiros nem passa adiante boatos ou insinuações. "Eu conto aquilo que vi", disse Tuma Junior a VEJA. Ele viu muita coisa. Seu livro traz documentos que deixam o governo Lula em péssima luz. Alguns deles mostram que o governo agiu para engavetar uma investigação que identificara uma suposta conta do mensalâo no exterior. O ex-secretário revela que todos os ministros do Supremo Tribunal Federal foram grampeados ilegalmente pela Polícia Federal e pela Abin em 2007. Um dos capítulos é dedicado ao ainda misterioso assassinato do prefeito petista Celso Daniel, em 2002. Tuma Junior reproduz um diálogo entre ele e Gilberto Carvalho no qual o ministro confessa que entregava o dinheiro desviado da prefeitura de Santo André nas mãos do mensaleiro José Dirceu. O autor se convenceu de que Celso Daniel foi mono em uma operação de queima de arquivo.

Idealizado inicialmente para desconstruir a campanha de difamação de que o autor foi vítima (Tuma foi demitido do governo sob a acusação de manter relações com contrabandistas), o livro, escrito em parceria com o jornalista Cláudio Tognolli, professor de duas universidades em São Paulo, pescou mais fundo das memórias do autor: "Entrevistei Tuma Junior seis dias por semana durante dois anos. Ele queria uma obra baseada na revelação de fatos, queria que a publicação do livro o levasse ao Congresso para depor nas comissões, onde ele poderia mostrar documentos que não tiveram lugar no livro na sua inteireza". Fica a sugestão.

"Havia uma fábrica de dossiês no governo"

Por que Assassinato de Reputações?

Durante todo o tempo em que estive na Secretaria Nacional de Justiça, recebi ordens para produzir e esquentar dossiês contra uma lista inteira de adversários do governo. 0 PT do Lula age assim. Persegue seus inimigos da maneira mais sórdida. Mas sempre me recusei. Tentaram me usar para esquentar um dossiê contra o governador de Goiás, Marconi Perillo, só porque ele avisou o Lula da existência do mensalão. Depois, quiseram incriminar o ex-senador Tasso Jereissati servindo-se do meu departamento para forjar uma investigação sobre contas no exterior. Havia uma fábrica de dossiês no governo. Sempre refutei essa prática e mandei apurar a origem de todos os dossiês fajutos que chegaram até mim. Por causa disso, virei vítima dessa mesma máquina de difamação. Assassinaram minha reputação. Mas eu sempre digo: não se vira uma página em branco na vida. Meu bem mais valioso é a minha honra.

De onde vinham as ordens para atacar os adversários do PT?

Do Palácio do Planalto, da Casa Civil, do próprio Ministério da Justiça... No livro, conto tudo isso em detalhes, com nomes, datas e documentos. Recebi dossiês de parlamentares, de ministros e assessores petistas que hoje são figuras importantes no atual governo. Conto isso para revelar o motivo de terem me tirado da função, por meio de ataque cerrado à minha reputação, o que foi feito de forma sórdida.Tudo apenas porque não concordei com o modus operandi petista e mandei apurar o que de irregular e ilegal encontrei.

O senhor queria denunciar a fábrica de dossiês do PT ou atingir o próprio partido quando escreveu o livro?

Tem muita gente do PT que eu respeito. Não escrevi este livro para atacar o PT. 0 maior problema do PT está nas facções do partido. Muitas vezes por disputas internas é que surgem os dossiês. As disputas são legítimas, mas fazer dossiê é incompatível com qualquer prática republicana. Levantar falso testemunho contra alguém é uma prática violenta que enoja. 0 pior é que as coisas continuam exatamente iguais. Se você trocar os personagens do livro, vai ver que os fatos continuam ocorrendo da mesma forma. É só olhar o que está acontecendo com o Cade nesse escândalo do metrô de São Paulo.

O Cade era um dos instrumentos da fábrica de dossiês?

Conto isso no livro em detalhes. Desde 2008, o PT queria que eu vazasse os documentos enviados pela Suíça para atingir os tucanos na eleição municipal. 0 ministro da Justiça, Tarso Genro, me pressionava pessoalmente para deixar isso vazar para a imprensa. Deputados petistas também queriam ver os dados na mídia. Não dei os nomes no livro porque quero ver se eles vão ter coragem de negar.

O senhor é afirmativo quando fala do caso Celso Daniel. Diz que militantes do partido estão envolvidos no crime.

Aquilo foi um crime de encomenda. Não tenho nenhuma dúvida. Os empresários que pagavam propina ao PT em Santo André não queriam matar, mas assumiram claramente esse risco. Era para ser um sequestro, mas virou homicídio.

Por que o senhor sabe tanto sobre a morte de Celso Daniel?

Eu era o delegado da área onde o crime aconteceu. Fui o primeiro a chegar ao local quando o corpo foi encontrado. Tanto que fui eu que reconheci oficialmente que era o Celso Daniel e mandei abrir a investigação para apurar a morte. Só que, naquela época, nem o PSDB nem o PT quiseram prolongar o caso por causa das eleições. Fui afastado das investigações, mas apurei tudo. Eu encontrei o carro e fotografei os cabelos que, depois, os peritos disseram que eram pelos de cachorro. Mas eu sei que não eram. Só que nunca quiseram apurar a fundo. Ponho no livro o que descobri e não foi considerado.

O ministro Gilberto Carvalho disse ao senhor que havia um esquema de cobrança de propina na prefeitura?

Foi num momento de emoção, quando eu estava sob fogo cruzado na imprensa e fui falar com o Gilberto Carvalho. Desabafei, chorei e ele começou a chorar comigo. Aí ele falou: "Veja, Tuma, quanto fui injustiçado no caso Celso Daniel. Quando saiu aquela história de que havia desvios na prefeitura, eu, na maior boa-fé, procurei a família dele para levar um conforto. Fui dizer que o Celso nunca desviou um centavo para o bolso dele, e que todo recurso que arrecadávamos eu levava para o Zé Dirceu, pois era para ajudar o partido nas eleições". Fiquei paralisado quando isso aconteceu. Pensei comigo: estou ouvindo uma confissão mesmo?

Com que convicção o senhor afirma que todos os ministros do STF foram grampeados?

Minha convicção está em tudo o que vivi e descobri conversando com alguns personagens dentro do governo na época. Eu não tenho dúvida de que os ministros foram grampeados. Se isso for investigado a fundo, com seriedade, será provado facilmente.

O senhor também diz no livro que descobriu a conta do mensalão no exterior.

Eu descobri a conta do mensalão nas Ilhas Cayman, mas o governo e a Polícia Federal não quiseram investigar. Quando entrei no DRCI, encontrei engavetado um pedido de cooperação internacional do governo brasileiro às Ilhas Cayman para apurar a existência de uma conta do José Dirceu no Caribe. Nesse pedido, o governo solicitava informações sobre a conta não para investigar o mensalão, mas para provar que o Dirceu tinha sido vítima de calúnia, porque a VEJA tinha publicado uma lista do Daniel Dantas com contas dos petistas no exterior. O que o governo não esperava é que Cayman respondesse confirmando a possibilidade de existência da conta. Quer dizer: a autoridade de Cayman fala que está disposta a cooperar e aí o governo brasileiro recua? É um absurdo.

Quem engavetou a investigação?

Eu levei o processo para o Tarso Genro e disse: olha, tem de apurar isso. Mas, quando veio essa resposta de Cayman, os caras pararam tudo. Isso foi para a gaveta da Polícia Federal e do ministro Tarso Genro. Estou esperando até hoje o retorno. Eu tenho certeza de que era a conta do mensalão. Eu publico no livro o documento para dizer isto: o governo não deixou investigar isso em 2007.

No livro, o senhor escreve que um dos réus confirmou que essa era a conta do mensalão.

Não posso revelar o nome, mas, quando ele soube, disse-me: "Você matou na mosca. Ainda bem que você não estava investigando isso". Seis meses depois da minha demissão, esse personagem me disse que eu tinha caído por mandar investigar a conta do mensalão, a conta que pagava as viagens para Portugal. Eu falei para ele: os caras vão mandar me matar.

Como surgiu a ideia de fazer o livro?

Quando a imprensa publicou todos aqueles fatos inverídicos sobre o meu envolvimento com uma suposta máfia chinesa, busquei toda as instâncias para me defender, mas não consegui contar a minha versão. Fui defenestrado do governo por fatos baseados numa investigação arquivada na qual eu não tinha sido denunciado nem processado. Quando aconteceu tudo aquilo comigo na Secretaria Nacional de Justiça, percebi que não teria espaço para me defender em nenhuma instância, muito menos no governo ou na própria Justiça. Conversando com dois jornalistas, meus conhecidos e amigos, resolvi escrever o livro para contar a minha história sobre os fatos que vi em três anos de governo, para explicar por que isso aconteceu comigo, por que tentaram me defenestrar, por que acabaram tentando assassinar a minha reputação.

É uma espécie de vingança pessoal?

De forma alguma. Quem ler o livro vai perceber que o que escrevo são fatos. Eu precisava explicar por que cheguei ao governo, por que havia a confiança do presidente Lula em mim. Só dá para fazer isso contando as histórias que vivi com as pessoas, os fatos, e como a minha reputação foi construída para depois ser destruída. 0 livro é uma prestação de contas às pessoas que me querem bem, que sempre me honraram com sua confiança. É a forma que encontrei de tornar pública a minha história para aqueles que têm o interesse de conhecer esse retrato da minha vida profissional. Para que eles possam compreender o motivo pelo qual virei alvo do governo do PT.

As pessoas podem interpretar como vingança ou ressentimento, não?

É lógico que tem a mágoa. Eu vi meu pai, o senador Romeu Tuma, morrer por causa do que fizeram comigo no governo. Mas isso é diferente de vingança. Eu descrevo fatos no livro, conto a minha história, exponho a minha vida e até corro riscos. Vingança não se faz assim. Eu não seria burro de praticar uma vingança dessa forma. As colocações podem ser fortes, mas é o meu jeito. Não tem nada ali que seja leviandade. São fatos verdadeiros.

Por que o senhor decidiu fazer essas revelações só agora?

De tudo que vivi em três anos de governo, não há nada relatado no livro que eu não tenha denunciado imediatamente aos órgãos adequados. O livro só vai ser publicado agora porque demorei a escrever e porque precisei me aposentar da carreira de Estado para ter liberdade de tornar públicos os fatos sem ser acusado de oportunismo político ou eleitoral. Eu sei que neste momento vão querer me atacar, dizer que estou a serviço de interesses escusos. Mas não sou de me prestar a servir ninguém. Quem me conhece sabe que falo o que penso e presto contas do que faço.

O senhor afirma no livro que o ex-presidente Lula foi informante da ditadura. É uma acusação muito grave.

Não considero uma acusação. Quero deixar isso bem claro. O que conto no livro é o que vivi no Dops. Eu era investigador subordinado ao meu pai e vivi tudo isso. Eu e o Lula vivemos juntos esse momento. Ninguém me contou. Eu vi o Lula dormir no sofá da sala do meu pai. Presenciei tudo. Conto esses fatos agora até para demonstrar que a confiança que o presidente tinha em mim no governo, quando me nomeou secretário nacional de Justiça, não vinha do nada. Era de muito tempo. O Lula era informante do meu pai no Dops (veja o quadro ao lado).

O senhor tem provas disso?

Não excluo a possibilidade de algum relatório do Dops da época registrar informações atribuídas a um certo informante de codinome Barba. Era esse o codinome dele. Os relatos do Lula motivaram inúmeras operações e fundamentaram vários relatórios de inteligência para evitar confusões maiores com os movimentos na época. Ademais, o livro por si só é uma prova. Existe na área policial prova documental e prova testemunhal. Eu sou uma testemunha viva. Não tem nada contado no livro que eu não tenha vivido. Ninguém me contou aquilo. Eu vivi e agora estou relatando. E digo mais: como informante do meu pai no Dops, o Lula prestou um grande serviço naquele período. Eu quero deixar isso muito claro. Graças às informações que o Lula prestava ao meu pai, muitos relatórios foram produzidos, muitas operações foram realizadas.

Uma afirmação dessas certamente vai gerar protestos e processos. É uma forma de interpretação, mas eu não acho. Acho que o Lula prestou um grande serviço ao país. Por se portar dessa forma, ele chegou aonde chegou. Sabe essa violência nas manifestações de hoje com black blocs? Se fosse no tempo do Dops com o Lula, não se criava. O Lula combinava tudo com o Tumão (Romeu Tuma, ex-chefe do Dops e ex-senador). Quando fazia as manifestações dos metalúrgicos, era tudo tranquilo. O Lula conseguia manter a manifestação sob o controle dele.

Além do senhor e do próprio Lula, quem mais sabe dessa história?

Meu pai está morto. Então, só eu e ele. Talvez alguma pessoa próxima a ele saiba. Digo e repito isso em público, pessoalmente e até no Estádio do Pacaembu. Quero que o Lula se sente na minha frente e diga que é mentira. Tenho fotos com ele desde a época do Dops. Ele e o meu pai tinham uma relação muito sigilosa. Se isso vazasse, os dois estariam mortos.

O cartel dos trens
"Desde 2008 o PT queria que eu vazasse isso para atingir os tucanos na eleição municipal, e eu me negava por dois motivos: primeiro, por discordar do modus operandi; e, segundo, porque eu dizia que se aquilo vazasse nunca se chegaria ao final da investigação, à verdade dos fatos e a todos os envolvidos. 0 tempo mostrou que eu tinha razão, mas o PT nunca desistiu da tática. 0 ministro da Justiça, Tarso Genro, estava me pressionando pessoalmente, vinha à minha orelha como um grilo falante. Aliás, vinham também os deputados petistas, esperneantes, e com noções jurídicas e éticas muito vagas, estrilando que era para deixar sair essa história toda na mídia."

Ruth Cardoso
"O PT usava o meu laboratório para fazer dossiês. A ex-ministra Erenice Guerra foi inocentada, em 2012, desse tipo de acusação. Mas eu sustento, com o nome que herdei do meu pai: havia, sim, uma fábrica de dossiês em via de ser normatizada, que inviabilizei com a mudança do laboratório para a estrutura da secretaria. Estavam usando o meu laboratório para fazer um dossiê contra a finada Ruth Cardoso, mulher do ex-presidente FHC, e obviamente contra o governo de seu marido."

Dossiê Tasso Jereissati
"Em janeiro de 2009, fui chamado à liderança do governo no Senado, onde encontrei o senador Aloizio Mercadante e um deputado federal, para tratar de projeto de interesse do governo e do ministério. Lá me entregaram um pen drive com "seriíssimas denúncias" contra um adversário do governo. Pensei: "Outro dossiê para destruir um novo "alvo" do governo". Dessa feita, o alvo era o ex-governador do Ceará Tasso Jereissati, naquele momento um dos senadores líderes da oposição. A exigência era que eu plantasse uma investigação em cima do Jereissati. Disseram-me que naquele pen drive havia um dossiê".

Fulmine o Perillo
"Um dos mais escandalosos pedidos para fulminar alguém me foi feito pelo ex-ministro da Justiça Luiz Paulo Barreto. Um dia, ele me chamou ao seu gabinete e. um tanto lívido, disse: "Isso aqui veio de cima, lá do Planalto, do Gilberto Carvalho, secretário particular do presidente Lula. Ele quer que você atenda a um pedido do Lula e mande para o DRCI investigar isso aqui". 0 "isso aqui" do ministro da Justiça era um envelope numa pastinha que ele me entregou, com um dossiê contra Marconi Perillo."

Grampo STF
"Segue a verdade do caso: não só Gilmar Mendes foi grampeado como também todos os outros ministros do STF. 0 grampo foi feito com uma maleta francesa, empregada para rastrear celulares em presídios.

Todos os ministros do Supremo foram monitorados, quer através de escuta dos telefones móveis com a utilização da maleta móvel, quer por via da implantação física, em seus computadores, de aparelhos de escuta ambiental.Todo o aparato foi tocado com a participação de arapongas, que prestavam serviços de segurança e limpeza aos próprios gabinetes dos ministros e estavam vinculados aos agentes que operavam a Satiagraha."

Mensalâo
"Em maio de 2006, VEJA publicou que José Dirceu, entre outros, teria conta em paraíso fiscal das Ilhas Cayman. Eu, como secretário Nacional de Justiça, já investigava casos engavetados, relativos ao Opportunity. Mas, nesse esforço, recebo um retorno diverso: Daniel Dantas aparecia como denunciante, e não como réu. Embora tivesse cargo executivo no governo petista, eu suspeitava da existência de tal conta. E mais: que essa conta era a lavanderia do mensalão no exterior. (...) Mandei cópia para o ministro Tarso Genro apurar isso, e espero a resposta até hoje... Será que fui defenestrado por ter chegado à conta caribenha do mensalâo?"

O caso Celso Daniel
""Ministro, vou dizer ao senhor o que aconteceu no caso Celso Daniel até onde pude apurar. A priori, seus amigos de Santo André não queriam matá-lo, mas assumiram claramente esse risco. Planejaram e mandaram executar o sequestro de Celso Daniel para lhe dar um susto. Sentiram-se ameaçados pela voracidade do partido." O todo-poderoso Gilberto Carvalho começa a chorar junto comigo, sua voz trôpega atropela minha fala e as próprias sílabas: "Eu te entendo. Veja, Tuma, quanto fui injustiçado no caso Celso Daniel. Não aceito essa injustiça até hoje. Imagina você que eu era o braço-direito do Celso, seu homem de confiança. Quando saiu aquela história de que havia desvios na prefeitura, eu, na maior boa-fé, procurei a família dele para levar um conforto. Fui dizer a eles que o Celso nunca desviou um centavo para o bolso dele, e que todo o recurso que arrecadávamos eu levava para o Zé Dirceu, pois era para ajudar o partido nas eleições"."

Informações úteis
O sindicalismo de resultados de Lula desembocou no pragmatismo político que o levou à Presidência da República e na governabilidade pela compra de apoio no Congresso com o uso de diversos tipos de moeda. A tilintante resultou na condenação e prisão de seu ministro-chefe da Casa Civil, do presidente e do tesoureiro de seu partido, o PT, que cumprem pena pelo escândalo do mensalão na penitenciária da Papuda, em Brasília. Lula escapou do mesmo destino por conveniência dos políticos de oposição e pelo silêncio, entre outros, de José Dirceu e do publicitário Marcos Valério, cujas visitas à Granja do Torto, embora registradas na agenda presidencial, ainda não vieram a público. O uso de outras moedas, por exemplo o relativismo moral que deu sobrevida a inimigos históricos que ele chamava de corruptos, como Paulo Maluf e José Sarney, teve um custo menor - pequenas retiradas do imenso tesouro de popularidade de Lula. Mesmo sabendo que Lula subordina a seus objetivos todas as demais considerações, são de estarrecer, se tomadas pelo valor de face, as afirmações de Romeu Tuma Junior, ex-secretário nacional de Justiça. Tuminha diz que Lula foi informante do Dops, órgão que seu pai, Romeu Tuma, dirigia em São Paulo e no qual ele próprio trabalhava. Importante: ele não acusa Lula de ter traído sua causa ou seus companheiros. Diz que Lula dava informações que ajudavam a evitar choques violentos com a polícia. Isso é prática comum hoje e, como diz Tuminha, se os black blocs fizessem o que Lula fez, haveria menos violência. Seria de alto interesse histórico um encontro público entre Lula e Tuminha para compararem as lembranças pessoais que cada um tem daqueles tempos duros.

Fonte: Revista Veja

A morte de um estadista - Renato Janine Ribeiro

Estadistas agem mudando o mundo para melhor

A morte de Nelson Mandela, último estadista do século XX, suscita uma questão importante: o que é mesmo um estadista? Sabemos todos que essa palavra constitui um elogio, e que a esmagadora maioria dos governantes não merece ser assim chamada. Mas o que significa?

Reservo o nome de estadista, no século que passou, a quatro governantes que se destacaram. Três deles estiveram entre os vencedores da II Guerra Mundial, Franklin Roosevelt, Winston Churchill e Charles de Gaulle. (Mas não basta ter derrotado o nazismo para ser chamado de estadista. Os generalíssimos Stalin e Chiang Kai Shek seguramente não mereceram, da humanidade, esse elogio). O quarto, a meu ver, foi Nelson Mandela. Mas por quê?

O critério que adoto é simples, mas exigente. Estadistas são governantes cuja ação muda o mundo para melhor. O primeiro ponto parece óbvio - que estadista tem de ser, antes de mais nada, governante - mas não o é. Já ouvi várias pessoas apontarem, como estadista, Gandhi. Considero-o o maior líder ético do século XX, mas ele nunca exerceu nem almejou um cargo de poder. Estadista é um homem de Estado, ou seja, alguém que governa.

Mas a novidade do estadista, na segunda metade do século XX, é que seu campo de ação sai do Estado para se voltar para a sociedade. E sai da nação para se voltar para a humanidade. Joaquim Nabuco podia escrever a biografia de seu pai, Nabuco de Araújo, e dar-lhe o belo título de "um estadista do Império". Na época, construir o Brasil e o Estado brasileiro eram ações importantes. Seguramente, os dois Nabucos merecem nosso reconhecimento histórico. Mas, hoje, o estadista tem que ir além da construção do Estado. Talvez um dia, aliás, devamos mudar a própria palavra, e inventar outra, que enfatize a sociedade, e não mais o Estado.

Mas o fato é que, desde o fim da II Guerra Mundial, gradualmente uma exigência ética impacta as políticas dos Estados. Veja-se o contraste, nos Estados Unidos, entre a política amoral do secretário Kissinger, no começo dos anos 1970, e a adoção desde 1977, pelo presidente Jimmy Carter, de uma agenda de direitos humanos. Carter perdeu a reeleição, mas mudou o perfil de seu país. Não é à toa que, hoje, Kissinger mal pode viajar para fora dos Estados Unidos, correndo o risco, como Pinochet, de ser preso em qualquer outro lugar. Um dos homens mais influentes do mundo virou um fora da lei, pela simples razão de que sua Realpolitik visava a promover, por quaisquer meios, os interesses de poder de seu país.

Os próprios Estados nacionais são cada vez mais cobrados em nome de uma moralidade internacional - que converge com os direitos humanos reconhecidos pelas Nações Unidas - e de compromissos com as sociedades. Um governante que reprima seu próprio povo, o que antes era tolerado, está-se tornando algo tão odioso que muitos até pedem, como é hoje o complexo caso da Síria, que se intervenha para afastá-lo e puni-lo.

Os estadistas que enumerei repartem algumas características. O único dos quatro a ter uma sequência clara em suas ações foi Roosevelt, que começou acabando com a tragédia social causada pela crise de 1929 e depois enfrentou o fascismo na II Guerra Mundial. Churchill teve uma vida duvidosa, "enfant terrible" que foi, vaidoso, ministro desastrado, colonialista. Redimiu-se graças à luta implacável que, desde meados da década de 1930, moveu contra Hitler. Era quase o único no Parlamento britânico a alertar para os riscos que o nazismo trazia. Derrotada a França, enfrentou o inimigo com enorme coragem. Não podemos esquecer que, nos meses decisivos e intermináveis de junho de 1940 a junho de 1941, seu país foi praticamente o único a enfrentar o poder enorme dos exércitos alemães e japoneses.

De Gaulle, na mesma hora que Churchill assume o poder no Reino Unido, tem apenas algumas centenas de homens dispostos a lutar, com ele, pela França. A maior parte do seu povo aceita a rendição, a humilhação. Ele luta. Monta um exército, recria o Estado. Consegue que seu país apareça como um dos cinco vencedores do nazismo. Salva a França. Volta ao poder, em 1958, pela direita colonialista, mas supera essa limitação ao reconhecer as independências africanas, inclusive, com risco de vida seu, a da Argélia. E contesta a aventura dos Estados Unidos no Vietnã.

Mandela também passou por enorme mutação. Defendeu a luta armada contra o poder racista e por isso foi encarcerado. Travou uma luta nobre e digna contra um regime criminoso, próximo em vários pontos do nazismo. Mas sua grandeza foi, ao sair da cadeia, renunciar à vingança - e, mesmo, a uma justiça que não fosse temperada pela bondade. Se quisesse mandar os brancos embora, teria o direito moral de fazê-lo. Mas seu país viraria algo a meio termo entre o Zimbabwe e a Argélia. Teve a grandeza de não se vingar. Soube estender a mão. Em vez de tribunais de Nuremberg, como os que julgaram os nazistas, criou a Comissão de Verdade e Reconciliação. Os criminosos mais detestáveis, se confessassem e pedissem perdão, eram anistiados. Inúmeros gestos humanos, como o de chamar à sua posse seus antigos carcereiros ou o de promover o esporte dos brancos racistas, tema do filme "Invictus", engendraram a paz. Restam ainda pobreza e injustiça social em seu país, mas tenho certeza de que uma política de enfrentamento e castigo teria causado danos bem maiores. Mandela foi, como estadista, o homem político mais próximo da generosidade de Gandhi. Deixa um exemplo de política feita sem ódio, de política feita para acabar com o ódio. Esse é um enorme elogio.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

Fonte: Valor Econômico

Mandela - Aécio Neves

Nestes dias, milhares de textos estão sendo escritos, em diversas partes do mun- do, celebrando Nelson Mandela. O amplo reconhecimento e a reverência a ele não ocorrem sem razão.

Mandela tornou-se um dos mais expressivos líderes do nosso tempo, um símbolo à democracia e à igualdade de direitos, ao se dedicar à construção de uma obra política excepcional, que colocou fim ao "nós e eles" que caracterizava a violenta e injusta organização social da África do Sul.

Assim como alguns outros líderes da história, ele teve a consciência de que o ódio e a hostilidade, transformados em instrumento de luta política, aprofundam a intolerância e a perpetuam, impedindo que a nação floresça e se realize em sua integridade e significado.

O impressionante na obra de Mandela não é apenas o que ele foi capaz de fazer, mas como o fez. Foi surpreendente e exemplar a sua posição pacificadora, superando ressentimentos naturalmente existentes sobre um regime que roubou parte importante da sua vida, encarcerando-o injustamente por quase três décadas, e dominou o seu país, dividindo-o em privilégios e castas, opressores e oprimidos, brancos e negros, ricos e pobres, mantendo milhares subjugados pelo execrável apartheid.

Em sua saga, ele ultrapassou os limites do seu país e ensinou ao mundo. Ninguém pôde ficar indiferente à sua incomparável generosidade. Diante dela tombaram adversários incrédulos e aliados de toda vida, movidos, naquele primeiro momento de ascensão, por um estéril --embora compreensível-- revanchismo.

Por isso, o significado de Mandela é ainda maior.

É absolutamente admirável o sentido que ele soube dar ao exercício da política, libertando-a da conflagração tradicional que alimenta o dissenso e também das suas obviedades e mesquinharias.

Seu amplo olhar ultrapassava o curto horizonte das circunstâncias. Cerziu, pacientemente, naquele cubículo sob grades, durante anos a fio, uma consciência clara acerca do futuro. Ele sabia que o seu país só seria capaz de abrigar igualmente todos os seus concidadãos se fossem rompidas poderosas amarras e superadas divisões abismais que fraturaram durante tanto tempo a alma sul-africana. Ele conseguiu. E nos deixou o mais importante legado: a política a serviço do bem comum, a que o mundo inteiro se curva agora.

São especialmente comoventes as celebrações que ocorrem nas ruas da África do Sul. Elas reavivam em cada um de nós uma rara confiança na política, como instrumento transformador da sociedade e habilitador da plena cidadania.

Num mundo em que ainda há espaço para a tirania, onde rotineiramente a conveniência se sobrepõe a valores, o exemplo de Mandela é a exceção que enobrece a humanidade.

Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB

Fonte: Folha de S. Paulo

Personalidade excepcional - Paulo Brossard

Sem exagero, pode-se dizer que, com a morte de Nelson Mandela, desaparece uma grande figura humana; independente da cor da sua pele e da posição por ele assumida ao enfrentar o enorme poder estatal que o levou à prisão por 27 anos, era um homem. Era um homem que, ao cabo desse longo tempo de encarceramento, teve a grandeza e a sabedoria de, assumindo a liderança da maioria negra da África do Sul, selar a mútua convivência que não existia entre brancos e pretos. Era uma sociedade em que suas partes não conviviam porque, dada à segregação imposta, não poderia haver convivência.

Em vez de fel ao sair da prisão, ele trazia o mel no coração e, desse modo, ao retomar a liberdade, veio a realizar o milagre da junção de duas parcelas longamente desavindas, em recíproca aversão decorrente da histórica animosidade senão repugnância. Graças à ação daquele homem que passou no cárcere quase o período de uma geração, o negro apesar de negro, e o branco, a despeito de ser branco, deixaram de ser incompatíveis e como seres humanos passaram a conviver. Também aqui suponho não exagerar ao dizer que, sem ele, o fenômeno não teria se consumado e tornado indivorciável. E o que é mais: o inacreditável se operou em poucos sóis.

Foi presidente da República e continuava a ser a personalidade mais notável de sua pátria. Em vida, colheu as maiores homenagens, principalmente internacionais, o Prêmio Nobel da Paz entre elas, e ainda em vida atingiu a imortalidade. Morreu um imortal, quer dizer, o arcabouço material cessou de funcionar, mas a imortalidade transcende ao tempo.

Jurista, ex-ministro do STF (aposentado)

Fonte:Zero Hora (RS)

O acordo com o Irã e a hegemonia dos EUA - Sérgio Amaral

As reuniões da madrugada de 25 de novembro em Genebra, entre o chamado P5+1 (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha) e o Irã, para a conclusão de um acordo sobre o programa nuclear iraniano ainda darão muito o que falar. O entendimento alcançado é frágil e ambíguo. Na verdade, limita-se ao congelamento por seis meses de atividades de enriquecimento de urânio, ante um alívio parcial nas sanções impostas ao Irã, num montante de cerca de US$ 4,2 bilhões por mês.

A diferença entre o êxito e o fracasso dependerá, entre outras condições, da capacidade de operacionalizar cláusulas complexas de verificação pela Agência Internacional de Energia Atômica. O objetivo da moratória é criar as condições para a negociação de um acordo mais abrangente, capaz de impedir o acesso do Irã à arma nuclear. Não obstante as dificuldades à frente, que são muitas, o plano aprovado sinaliza um novo caminho. Se tiver êxito, mais do que um simples entendimento tópico com o Irã sobre a extensão do seu programa nuclear, poderá representar úm passo significativo para a reestruturação da governança mundial, sob a égide de uma nova hegemonia norte-americana.

O acordo com o Irã é a reafirmação do multilateralismo e da ONU. É o fortalecimento do regime internacional de não proliferação nuclear, que já parecia fadado ao fracasso. É a fixação de critérios objetivos, quantificáveis e verificáveis para o exercício do direito ao enriquecimento de urânio para fins pacíficos e, ao mesmo tempo, o fechamento da porta - que a índia foi a última a transpor - para o acesso consentido ao restrito clube dos detentores da arma nuclear. Uma vez estabelecidos, os novos parâmetros tenderão a estender-se a todos os países que buscam dominar o ciclo da tecnologia nuclear, o Brasil incluído.

O palco para a negociação foi a ONU. Foram as sanções adotadas pelo Conselho de Segurança que levaram o Irã à mesa da negociação. Mas se a moldura é a da ONU, não é necessariamente a de um Conselho de Segurança reformado, como temos legitimamente defendido, e sim a de um arranjo informal P5+1, concebido para incluir a Alemanha. A reformado Conselho de Segurança pode, assim, já estar em curso, de modo informal, tal como tem ocorrido com a constituição de diretórios ad hoc, em outros elos da nova governança mundial.

Ao unilateralismo de George W. Bush seguiu-se o multilateralismo de Barack Obama. Ade-cisão solitária pelo recurso à força cedeulugar auma paciente ourivesaria política, ao diálogo e à negociação, com aliados e adversários. O novo não está na defesa retórica do multilateralismo, mas no compromisso de respeitá-lo e na demonstração de que pode funcionar. Assim, o desenho de uma nova governança mundial é ao mesmo tempo a reconstrução da hegemonia norte-americana, abalada pela crise econômica e pela desastrada política externa de Bush. Os contornos da nova hegemonia afirmam-se, com mais nitidez, no momento em que parece não haver candidato cóm condições ou com vontade para disputá-la.

A China segue o script da emergência pacífica, na economia antes, na política depois. Essa visão, que se tomou a doutrina oficial da diplomacia chinesa, ajudou a abafar os ruídos provocados pelos deslocamentos que a China continua a introduzir na economia mundial. Favoreceu o reconhecimento da necessidade de um novo tipo de relacionamento entre grandes potências, consagrado pelo encontro Xi Jinping-Obama, de junho passado. Beijing apoia o fortalecimento do regime de não proliferação nuclear, mas de maneira discreta. Joga ao mesmo tempo a carta do Conselho de Segurança e a dos Brics. Mas os seus interesses estratégicos estão mais na mesa da negociação P5+1 do que nas cúpulas dos Brics.

A Rússia teve a sua visibilidade restaurada, ainda que temporariamente, pela contribuição que deu ao compromisso da eliminação das armas químicas na Síria. Mas, tanto quanto a China, não tem interesse no descarrilamento do processo de não proliferação, que preserva o seu papel privilegiado de potência nuclear.

A Europa compartilha a preocupação com o eventual acesso do Irã ao armamento nuclear e não teve hesitação em conceder aos Estados Unidos a liderança no processo, até mesmo simbolicamente, pois foi Obama que anunciou os termos do novo acordo. A Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento, apesar das dificuldades inerentes a um projeto tão ambicioso, explicita a vontade de ambos os lados do Atlântico de partilhar uma mesma visão estratégica e construir uma poderosa aliança econômica neste cenário em profunda transformação.

O deslocamento do eixo estratégico do Oriente Médio para a Asia, do Atlântico para o Pacífico, sinaliza a sintonia da diplomacia norte-americana com as novas realidades econômicas e geopolíticas do mundo global. E o reconhecimento de que alguns conflitos regionais terão uma duração mais longa que o esperado e, exceto no caso do Irã, não afetam, necessariamente, interesses estratégicos dos Estados Unidos. A prioridade para a Ásia já é uma realidade no plano militar e um projeto em construção no plano econômico, pela via de várias parcerias transpacíficas. A nova hegemonia está, por fim, lastreada pela retomada da economia, sob o impulso da revolução do gás de xisto, que não apenas reduz a dependência da energia importada, mas estimula a reindustrialização do país.

É bem verdade que a formação de um condomínio global ampliado, com o ingresso da China e, em certa medida, de outros países emergentes, implica objetivamente uma perda do poder relativo dos Estados Unidos. Mas também é verdade que o desenho multipolar em construção reserva à potência norte-americana a posição de um polo central e hegemônico da nova ordem.

Fonte: O Estado de S. Paulo

O avanço na infraestrutura para o desenvolvimento - Marcus Pestana

Onze anos se passaram tendo Aécio e Anastasia à frente do governo de Minas. As mudanças são visíveis. Os resultados, palpáveis. O lado nobre da política é quando ela se transforma em poderoso instrumento para a melhoria da qualidade de vida da população. Nas discussões sobre políticas públicas, às vezes, há uma contraposição mecânica entre investimentos em infraestrutura e políticas sociais. É um enorme equívoco. A melhoria dos padrões de vida tem tudo a ver com as condições da matriz de transporte, energia, comunicação e saneamento. E os governos do PSDB em Minas são a mostra viva disso.

Em 2003, havia 225 cidades sem comunicação asfáltica com a malha principal. Asfalto não é luxo. Imaginem ambulâncias, ônibus escolares, caminhões de produtores rurais, turistas enfrentando poeira na seca e barro nas chuvas. Isso é cidadania sequestrada. O programa Pro-acesso levou asfalto a 219 municípios. Os outros seis, infelizmente, dependem do governo federal, como aqueles na beira da BR–367, que liga Minas Novas a Virgem da Lapa. O Pró-MG é a mais avançada estratégia de todo o Brasil para a manutenção de estradas. Em vez da velha e ineficiente postura de contratar depois a recomposição e o tapa-buraco que as chuvas provocaram, foi feita a contratualização do conjunto de serviços permanentes de manutenção das estradas estaduais (pavimentação, sinalização, capina). Nem mesmo a medida unilateral do governo Dilma de zerar a Cide, tirando mais de R$ 300 milhões anuais do Tesouro estadual para aliviar o caixa da Petrobras, conseguiu abalar tão exitosa experiência. Agora foi desencadeado o Caminhos de Minas, que produzirá a integração social e produtiva interna de diversas microrregiões do Estado.

Nas comunicações, mais de 400 cidades não tinham telefonia celular. Diferentemente do governo federal, que não conseguiu operacionalizar o Fundo de Universalização das Telecomunicações (Fust), o governo de Minas arquitetou a pioneira e inovadora parceria público-privada que levou o sinal de celular a todas as cidades mineiras. Isto é cidadania, aumento de produtividade, modernização econômica.

Na matriz energética, a Cemig desencadeou o maior programa de investimentos de sua história e expandiu suas alianças estratégicas para além das fronteiras mineiras. A Copasa consolidou sua boa governança e também bateu recordes na expansão dos serviços de água, coleta e tratamento de esgoto. A criação da Copanor reafirmou a nossa visão social-democrata de fazer das políticas públicas ferramenta de promoção da equidade social.

As ações do governo de Minas pavimentaram os caminhos da cidadania e do desenvolvimento. Infelizmente, isso não foi acompanhado pelas ações federais. Os desafios das duplicações das BRs 381 e 040, a expansão do transporte metroviário na RMBH, o Rodoanel, entre outros investimentos federais, não saíram do papel.

Mas o PSDB, depois de 11 anos governando Minas, tem a consciência clara que cumpriu o seu papel.

Marcus Pestana, deputado federal e presidente do PSDB de Minas

Fonte: O Tempo (MG)

Só Dilma em campo - Ricardo Noblat

"O que conta na vida não é o fato de termos vivido. É a diferença que fizemos para a vida dos outros." MANDELA

Por ora, as pesquisas de intenção de voto para a eleição do próximo presidente da República não passam de curiosidade. Ou de assunto oferecido à discussão dos aficionados pela política, à falta de algo mais empolgante. Ainda vivemos à sombra do julgamento do mensalão. E tudo indica que assim continuará, até que sejam examinados, daqui a alguns meses, os derradeiros recursos impetrados pelos réus.

FAÇA DE CONTA que você é um paulista apressado de passagem pelo Centro da cidade. Ou um carioca que percorre as ruelas por detrás da Avenida Rio Branco. De repente, você é abordado por um rapaz que lhe apresenta a credencial do Instituto Datafolha e que pede licença para lhe fazer perguntas rápidas. Uma delas, de resposta espontânea: em quem você pretende votar para presidente da República em 2014?

VOCÊ NEM SABE quais serão os candidatos. O mais provável é que você cite Dilma, o primeiro nome que lhe ocorra, ou Serra, cujo nome guardou na memória desde a eleição de 2010. Ou o nome daquela moreninha magrinha, que já foi ministra... Sim, a Marina. No Rio, principalmente, ela foi bem votada. Em Belo Horizonte, teve mais votos do que Dilma. Em seguida, o pesquisador exibe uma lista de candidatos. Em qual deles você votaria hoje?

EM ORDEM ALFABÉTICA, o nome de Dilma aparece em segundo lugar. Em primeiro, o de Aécio Neves. Governador... De qual estado mesmo? Sim, de Minas, auxilia o pesquisador. E esse aqui? Quem é Eduardo Campos? Nunca ouvi falar nele, você se desculpa. E cadê Marina? Ah, ela só entra na lista no lugar de Eduardo. É o que o pesquisador chama de cenário. Ou cenários, porque são vários. O sol esquenta, e você quer ir embora.

SERIA MAIS CONFORTÁVEL se você tivesse diante de si um pesquisador do Ibope. O do Datafolha atua na rua, no meio do fluxo de pessoas. O do Ibope bate à sua porta. É uma questão de metodologia de cada instituto. Há vantagens e desvantagens em cada uma delas — mas, no geral, se bem aplicadas, funcionam. De mais a mais, a gente só liga para resultado de pesquisas a poucas semanas da eleição. É ou não é?

A DEFINIÇÃO DE PARCELA expressiva dos votos também se faz a poucas semanas da eleição. Em alguns casos, na semana da eleição. Em 1989, por exemplo, Lula acabou derrotado por Fernando Collor na antevéspera do dia da eleição. Ancorado pelo Plano Real, Fernando Henrique Cardoso venceu Lula com folga, em 1994. Mas dali a quatro anos, na noite da apuração dos votos, levou um susto: corria o risco de a decisão ficar para o segundo turno.

NO TIPO DE PRESIDENCIALISMO que temos, é brutal a força da presença do presidente em quase tudo que tenha a ver com o dia a dia dos cidadãos. A reeleição, introduzida durante o primeiro mandato de Fernando Henrique, serviu para aumentar essa força. Daqui até meados de agosto próximo, só dará Dilma na telinha e nas ondas sonoras. Fora a Copa do Mundo. Talvez manifestações contra a realização da Copa por aqui.

BOBAGEM DIZER QUE os candidatos de oposição não ocupam espaço nos meios de comunicação porque não conseguem articular um discurso inovador, capaz de seduzir. Onde eles farão tal discurso? A partir de agosto, no rádio e na TV, conforme manda a lei. Mas, antes? Enquanto isso, qualquer espirro dado pela presidente é notícia. A propaganda oficial se encarrega de massificar os supostos êxitos do seu governo.

Fonte: O Globo