sábado, 9 de novembro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Fernando Gabeira: ‘bolsa dos ricos’

O BNDES garante que foi um acidente histórico e que o País não perderá nem 20 centavos com essa história. Acontece que o banco financia os amigos do governo e se recusa a dizer a quem e como financia, alegando sigilo bancário. A partir da derrocada de Eike e das chamadas campeãs nacionais, é necessário saber exatamente como o BNDES investiu dinheiro, quanto perdeu, se perdeu, quanto ganhou, se ganhou.

Falta curiosidade aos nossos parlamentares. Existe na imprensa, mas o banco resiste a ela. Somente com uma investigação séria e oficial seria possível desvendar essa monumental bolsa dos ricos, muitas vezes superior à Bolsa Família, mas, ao contrário desta, protegida pelo segredo.

Fernando Gabeira. ”Ninguém mais conhece Eike”. O Estado de S. Paulo, 8 de novembro de 2013

Suspeitas de superfaturamento - Dilma critica TCU por parar obra suspeita

Presidente diz que é difícil ressarcir prejuízos trazidos com paralisação

Tribunal apontou problemas em sete obras; Gilberto Carvalho afirma que objetivo não é afrontar órgão, mas garantir projetos

‘Acho absurdo paralisar obra’

Dilma critica recomendações do TCU e afirma que ninguém ressarce o custo das interrupções

Flávio Ilha

RIO GRANDE (RS) - A presidente Dilma Rousseff criticou ontem, em entrevista a rádios do Sul, a possibilidade de paralisação de obras públicas devido a irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Respondendo a uma pergunta sobre a conclusão da BR-448, uma das sete obras em que o TCU verificou indícios de superfaturamento, Dilma disse que acha “um absurdo” parar projetos em andamento. — Eu acho um absurdo paralisar obra.

Você pode usar vários métodos (de correção), mas paralisar obra é uma coisa extremamente perigosa, porque depois ninguém repara o custo. Se houve algum erro por parte de algum agente que resolveu paralisar não tem quem repare, a lei não prevê. Se você para por um ano, se você para por seis meses, por três meses, ninguém te ressarce depois. De qualquer jeito, essa obra (a BR-448) vai ficar pronta — afirmou a presidente.

Dilma confirmou que vai participar da inauguração da rodovia, na Região Metropolitana de Porto Alegre, apesar da recomendação do TCU. Pelo cronograma do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a rodovia deve ser inaugurada no dia 19 de dezembro, depois de dois atrasos. Mesmo assim, alguns acessos devem ser concluídos após a inauguração.

— Eu não perco a inauguração por nada. É um resgate da segurança. Encerrou uma polêmica e é emblemática para qualquer governo que sabe o que cada cidade precisa, não tem nada a ver com eleição — disse ela, em relação à obra, que servirá para desafogar o trânsito na BR-116, uma das mais perigosas do estado.

“Não queremos afrontar o TCU”, diz Carvalho
A BR-448, conhecida como Rodovia do Parque, tem 22,3 quilômetros, entre Porto Alegre e Sapucaia do Sul, e está sendo construída para desafogar o trânsito na BR-116. A obra vai custar pelo menos R$ 1 bilhão e já foi alvo de recomendação de interrupção por parte do TCU em 2012 — o órgão apontou falhas no projeto que resultariam em gastos irregulares de R$ 1 15 milhões.

Dilma foi ao Rio Grande do Sul participar da inauguração da plataforma P-58, construída pelo consórcio Quip, em Rio Grande. De jaleco laranja, a presidente encontrou operários no Estaleiro Rio Grande, onde a Petrobras também constrói estruturas de produção de petróleo para o pré-sal. Em São Paulo, o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, endossou o raciocínio de Dilma, e defendeu que problemas como sobrepreço e erros de traçado não justificam interrupções de obras.

— Só deve haver (paralisação) quando há uma constatação efetiva, comprovada e reconhecida de uma irregularidade tão grave que seja necessária, por exemplo, uma nova licitação. Agora, correção de rota, de preços, não faz sentido parar uma obra. Você pode aplicar multas e penalidades à empresa e não punir o Estado brasileiro.

Apesar das críticas ao TCU, Carvalho disse que o governo jamais quis “afrontar” o tribunal. — Sempre há um entendimento nosso com o TCU. A gente prefere ir na boa. Não queremos afrontar o TCU. Já fomos bem-sucedidos em alguns acordos.

(Colaborou Silvia Amorim).

Fonte: O Globo

Em três contratos na rodovia BR-448, foi constatado superfaturamento de R$ 91 milhões

Demétrio Weber

BRASÍLIA - O Tribunal de Contas da União (TCU) não quis comentar as declarações da presidente Dilma Rousseff. Na última quarta-feira, o tribunal decidiu recomendar ao Congresso a paralisação das obras da BR-448, na Região Metropolitana de Porto Alegre, devido a indícios de irregularidade grave. Para o TCU, houve superfaturamento de R$ 91 milhões em três contratos que cobrem a construção de 22,34 quilômetros da nova rodovia, que ligará Porto Alegre a Sapucaia do Sul.

Orçada em R$ 1 bilhão, a BR-448 faz parte de uma lista de sete obras que tiveram a paralisação recomendada nesta semana, por causa de indícios de irregularidade grave. A ideia é que essas obras não recebam mais recursos públicos até a regularização dos problemas. Ou seja, que fiquem fora do Orçamento de 2014, que ainda será votado por deputados e senadores.

A fiscalização do tribunal concluiu ainda que houve quatro tipos de superfaturamento: preços acima dos de mercado, itens pagos em duplicidade, reajustes irregulares e quantitativo inadequado. A exemplo de outras obras, a da rodovia BR-448 já foi incluída pelo TCU na lista com recomendação de paralisação em 2011 e 2012.

Mesmo assim, continuou recebendo verbas, porque a decisão de incluir ou excluir um empreendimento é tomada pelos parlamentares, ao votarem o Orçamento. E eles não são obrigados a acatar a orientação do Tribunal de Contas da União, que é um órgão auxiliar do Legislativo. Durante o processo, os auditores do tribunal acolheram parcialmente as justificativas do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) e das empreiteiras, reduzindo em R$ 24 milhões o tamanho do superfaturamento, que tinha sido calculado em R$ 115 milhões e caiu para R$ 91 milhões.

A BR-448 pertence ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Das sete obras com indicação de paralisação, quatro estão no PAC. As outras são: ferrovias Norte-Sul (TO) e de Integração Oeste-Leste (BA); e ponte sobre o Rio Araguaia, ligando Pará e Tocantins.

Fonte: O Globo

Para Lembrar: Ex-presidente atacou órgão

Em seu segundo mandato, de 2007 a 2010, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva travou diversos embates contra o Tribunal de Contas da União (TCU), acusando o órgão de dificultar as realizações de obras federais, especialmente aquelas que faziam parte do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC).

Ao lançar mais um pacote de projetos do PAC, em Salvador, em 2008, por exemplo, o ex-presidente disse que o órgão "quase que governa o País, porque diz que obra que pode, que obra não pode" ser executada.

Em outra ocasião, a menos de dois meses de deixar o Palácio do Planalto, em novembro de 2011, Lula voltou a atacar o órgão de fiscalização, durante uma viagem a Moçambique, a caminho de uma reunião do G-20, em Seul. "Nem sempre o que o TCU diz que constata é verídico", afirmou. E, mais uma vez, o ex-presidente aproveitou para pedir a revisão nos métodos de trabalho do tribunal.

Fonte: O Estado de S. Paulo

É injusta a critica - Carlos Ari Sundfeld

Tribunal de Contas da União tem deveres a serem cumpridos

É injusta a crítica da presidente Dilma ao Tribunal de Contas da União. O órgão de controle está simplesmente cumprindo o seu papel constitucional.

Em relação às obras públicas, cabe à administração pública montar o projeto e fazer a estimativa de preços. A seguir, comandar a licitação e celebrar o contrato.

Depois, fiscalizar a execução da obra pelo contratado e, se tudo estiver correto, fazer os pagamentos.

Quais são as diretrizes gerais da legislação a respeito disso? Os projetos devem ter boa qualidade técnica. As estimativas precisam ser compatíveis com o mercado. As licitações têm de ser realmente competitivas. Obras e pagamentos devem seguir o contratado. O contrato não pode ser alterado sem razão, beneficiando indevidamente o contratado.

E um processo complexo e longo. Para evitar ou corrigir irregularidades é que, além do controle interno da própria administração, existe o controle externo, previsto na Constituição Federal.

No caso das obras federais, o controle é do Tribunal de Contas e do Congresso Nacional. Cabe ao TCU acompanhar todas as etapas, faz recomendações de correção e aplica multas e outras sanções. Considerando haver risco de lesão grave aos cofres públicos, o tribunal propõe a paralisação das obras.

Se as ilegalidades não forem corrigidas pela administração, o Congresso Nacional, por meio da Comissão Mista do Orçamento, é que pode sustar os contratos.

Para tanto, há regras e procedimentos bastante sofisticados previstos na Lei de Diretrizes Orçamentárias. A sustação não é automática: há uma ponderação jurídica, técnica e política quanto à gravidade e ao impacto das ilegalidades e quanto aos custos da eventual paralisação.

Todos os interessados, a começar pelo próprio governo, podem se manifestar com tranquilidade noprocedimento, inclusive defendendo a continuidade, se houver boas razões para isso.

Em suma, existem normas jurídicas e instituições bem organizadas para proteger o interesse público. A presidente da República, ao invés de colocá-las em dúvida quando estão funcionando normalmente, devia respeitá-las e valorizá-las.

É professor de Direito Administrativo na Direito FGV-SP e autor do livro "Contratações públicas e seu controle" (Ed. Malheiros)

Fonte: O Estado de S. Paulo

Contrato da Petrobrás com Odebrecht é investigado

A Petrobrás fechou, em 2010, contrato de US$ 825,6 milhões com a Construtora Odebrecht que é investigado por suspeita de superfaturamento. O acordo, para serviços nas áreas de segurança e meio ambiente em dez países, incluiu previsão de pagamento, na Argentina, de R$ 7,2 milhões pelo aluguel de três máquinas de fotocópia; R$ 3,2 milhões pelo aluguel de um terreno próprio e salário mensal de pedreiro de R$ 22 mil nos EUA, segundo documentos obtidos pela repórter Sabrina Valle, do Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado

Contrato da Petrobrás com a Odebrecht é investigado por superfaturamento

Suspeita. Acordo de US$ 825,6 milhões foi fechado em 2010 para execução de serviços nas áreas de segurança e meio ambiente em dez países, e incluía itens como o pagamento de R$ 7,2 milhões pelo aluguel de três fotocopiadoras e salário de R$ 22 mil para pedreiros

Sabrina Valle

Um contrato da Petrobrás com a Construtora Odebrecht, fechado em 2010 no valor de US$ 825,6 milhões para serviços na área de segurança e meio ambiente, em dez países, está sendo investigado por suspeita de superfaturamento. O acordo incluiu previsão de pagamento, na Argentina, de R$7,2milhões pelo aluguel de três máquinas de fotocópias; R$ 3,2 milhões pelo aluguel de um terreno próprio da Petrobrás e salário mensal de pedreiro de R$ 22 mil nos Estados Unidos, segundo documentos sigilosos da companhia obtidos pelo ‘Broadcast’, serviço em tempo real da ‘Agência Estado’.

Ainda em vigor, o contrato 6000.0062274.10.2, chamado de PAC SMS, foi fechado pela área internacional na gestão José Sergio Gabrielli e reduzido quase à metade neste ano, na gestão Graça Foster. Grande parte dos 8.800 itens apresentava indícios de irregularidades, segundo auditoria interna da Petrobrás. O corte interno já realizado, de pelo menos US$ 344 milhões, aconteceu depois de crivo da auditoria, que considerou a contratação equivocada e recomendou sua revisão.

Antes da redução, o contrato foi aplicado durante dois anos e meio para ativos na Argentina, Estados Unidos, Paraguai, Uruguai, Chile, Colômbia, Bolívia, Equador e Japão, além de Brasil. “Muito dinheiro já tinha sido gasto quando houve o corte, esse foi o problema”, disse uma fonte da Petrobrás que pede para não ter a identidade revelada. A reportagem conversou com sete fontes graduadas que acompanharam direta ou indiretamente o caso, além de fontes do setor.

Os documentos coletados mostram indícios de direcionamento na licitação, sobrepreço e falhas contratuais que deixaram a Petrobrás desprotegida. A Petrobrás e Gabrielli preferiram não comentar. Em nota, a “Odebrecht nega veementemente qualquer irregularidade nos contratos firmados com a Petrobrás”. Disse que “não foi envolvida e desconhece o questionamento da auditoria da Petrobrás”. Também afirma que o valor contratado foi afetado pela redução de escopo do contrato decorrente do plano de desinvestimentos da estatal.

O diretor do contrato na Odebrecht, Marco Duran, disse que a redução aconteceu já que a Petrobrás decidiu vender ativos no Japão, Colômbia, Bolívia, Equador e Chile. O contrato era de três anos, renováveis por mais três. Duran disse que será encerrado em fevereiro de 2014. Ele disse que nunca foi faturado ou proposto pagamento pelos itens citados na matéria.

“Neste contrato não existe aluguel de máquina de xerox. Existem valores unitários de serviços a serem executados.” Duran também disse que o pagamento tampouco foi faturado, nem por empresas subcontratadas. O diretor também desconhece o pagamento de aluguel por terreno da Petrobrás. “Relatório de auditoria interna da Petrobrás eu não tenho conhecimento”, disse. “Não sei de onde saíram essas informações.”

Fonte: O Estado de S. Paulo

Rombo no governo Dilma vai passar dos R$ 500 bi

Rombo no governo Dilma será de R$ 534 bilhões

Deficit nominal nos quatro anos de mandato da petista será 73,5% maior do que o registrado na primeira gestão de Lula

Simone Kafruni

A administração Dilma Rousseff deixará uma marca nada agradável para um governante: entre 2011 e 2014, o rombo nas contas do setor público deverá totalizar R$ 534,6 bilhões, segundo as estimativas mais conservadoras do mercado e da equipe econômica. O buraco será maior do que os R$ 500 bilhões em investimentos prometidos pela presidente da República por meio das concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, um claro sinal de descontrole das finanças federais. Para os especialistas, o próximo ano será tão complicado, com o deficit podendo chegar a 4% do Produto Interno Bruto (PIB), que o futuro comandante do Palácio do Planalto será obrigado a aumentar impostos para manter o país governável.

Em relação ao primeiro mandato de Lula, quando houve deficit nominal (que inclui os juros da dívida pública) de R$ 308,1 bilhões, o rombo do governo Dilma será 73,5% maior. Na comparação com os últimos quatro anos do petista, nos quais faltaram R$ 336,3 bilhões para o fechamento das contas, o salto foi 59%. Não à toa, o Brasil está sob total descrença entre os investidores e pode ser rebaixado pelas agências de classificação de risco, fato que, se confirmado, elevará o custo dos empréstimos que as empresas fazem no exterior para incrementar negócios no país.

No primeiro ano de mandato, as contas de Dilma ficaram R$ 108 bilhões no vermelho. Em 2012, houve estabilidade, com deficit de R$ 109 bilhões. Neste ano, as projeções apontam para um buraco mínimo de R$ 150 bilhões, correspondente a 3% do PIB. Para 2014, ano de eleições, as estimativas apontam para rombo de R$ 167,7 bilhões, o equivalente a 3,2% do PIB. Os mais pessimistas, como o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto, falam em deficit nominal de até 4% do Produto ou R$ 210 bilhões.

Apesar da forte piora dos números, o governo tenta minimizá-los. “O resultado nominal é a variação do estoque da dívida. A métrica em valores nominais não é a mais adequada para a avaliação da solvência e a sustentabilidade das contas públicas”, afirmou, por meio de nota, o Tesouro Nacional. No entender do órgão, “a análise econômica relevante, portanto, deve ser feita em percentual do PIB. Entre dezembro de 2002 e setembro de 2013, a dívida líquida do setor público caiu 25,4 pontos percentuais do PIB, passando de 60,4% para 35,0%. A dívida líquida era de 39,1% do PIB em dezembro de 2010, tendo caído 4,2 pontos percentuais do PIB até agora, o equivalente a R$ 195,2 bilhões”, destacou.

Nível especulativo
Os especialistas contestam. Na avaliação deles, a deterioração das contas públicas no governo Dilma é incontestável. Para eles, essa certeza se consolidou depois de o Banco Central informou que, em setembro, houve um rombo de R$ 9 bilhões — foi o estopim para que a desconfiança na capacidade do governo se multiplicasse. “A política fiscal tem caminhado exatamente na direção oposta àquela apontada pelo governo, quando do anúncio do pacto pela responsabilidade fiscal. Ou seja, a direção da austeridade que o Ministério da Fazenda ensaiou iniciar, desde que a economia brasileira foi brindada com avaliações negativas de duas importantes agências de classificação de risco, ficou só na promessa”, afirmou o analista da Tendências Consultoria Felipe Salto.

Na opinião da diretora para América Latina da Fitch Ratings, Shelly Shetty, há motivos de sobras para a desconfiança em relação às contas brasileiras. Segundo ela, a credibilidade do governo Dilma só será recuperada se as metas de superavit primário (economia para o pagamento de juros) forem cumpridas, com mais transparência e houver redução de empréstimos do Tesouro Nacional ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “As contas fiscais do Brasil têm se deteriorado devido a uma combinação do crescimento moderado das receitas (que foram afetadas pelo fraco desempenho econômico do país) com as pressões de gastos crescentes e continuados”, afirmou.

Para Shelly, o Brasil terá que atender a meta de superavit primário, seja de 2,3% seja de 3,1% do PIB, e limitar os empréstimos aos bancos públicos se quiser garantir a classificação de risco ainda dentro do grau de investimento, selo de qualidade que indica a segurança de se investir em um país, “especialmente porque a dívida bruta do governo brasileiro, de 58,8% do PIB, continua a ser significativamente maior do que a mediana das nações classificadas como BBB”. O país está dois degraus acima no nível especulativo.

Alta dos juros
As principais preocupações da Fitch são relacionadas à fragilidade prolongada da economia do Brasil e ao espaço fiscal limitado em função da pesada dívida, além da falta de capacidade de enfrentar choques. “A melhora no sentimento dos investidores e uma recuperação mais rápida do investimento são muito necessárias. Além disso, continuamos a acompanhar a inflação, que segue quase no teto da meta (de 6,5%). A fraqueza da moeda também pode impactar negativamente na dinâmica da inflação”, resumiu.

Para a analista Shelly Shetty, a debilidade prolongada da economia corrói a confiança no quadro político, coloca pressão sobre as contas públicas e leva a uma derrapagem orçamentária significativa, resultando no aumento do endividamento do governo e em grave perda de reservas internacionais. “O lado positivo do Brasil tem sido o aumento dos juros pelo Banco Central para ancorar as expectativas de inflação”, disse. Para Felipe Salto, como pouco coisa deve mudar no quadro fiscal no próximo ano e o crescimento da atividade continuará baixo, “em 2015, seja lá quem assumir o governo, terá que aumentar impostos para ter mais receita”.

Fonte: Correio Braziliense

Aécio: o Brasil virou "cemitério de obras"

Tucano critica a má execução dos projetos federais de infraestrutura e se opõe a Alckmin na defesa da Zona Franca

Em contraposição à presidente Dilma Rousseff, que disse ser um “absurdo” paralisar obras, como o Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou esta semana, o pré-candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves (MG), acusou ontem o governo federal de ser o responsável pelas deficiências apontadas por técnicos e ministros da corte de fiscalização. Para Aécio — que cumpriu agenda política em Manaus, cidade governada pelo tucano Arthur Virgílio Neto —, a gestão petista não tem “planejamento nem capacidade de execução” de projetos.

“O Brasil é um cemitério de obras inacabadas não por culpa do TCU, mas da ausência de planejamento, de projetos que não são feitos adequadamente”, atacou. Na quinta-feira, o TCU recomendou ao Congresso a paralisação de sete das 136 obras fiscalizadas em 2013 por indícios de irregularidades graves, como sobrepreço, superfaturamento e erros na execução do projeto básico.

Para sustentar a crítica, Aécio listou obras inacabadas da gestão petista, como a transposição do Rio São Francisco e a Ferrovia Transnordestina. “(A transposição) foi orçada em R$ 3,5 bilhões, já se gastou R$ 4 bilhões, e não se sabe quando vai ser entregue”, disse. No mês passado, o ministro da Integração Nacional, Francisco Teixeira, disse que a previsão para concluir a megaobra é o fim de 2015. Em 2006, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu que as águas do São Francisco estariam irrigando o sertão nordestino em 2010.

“O PT quer nos fazer crer que é natural planejar uma obra, apresentar um projeto absolutamente distante daquilo que vai ser executado. A paralisação dessas obras é fruto, na minha avaliação, da incapacidade de gerenciar do governo”, atacou o tucano, ao lado do prefeito Arthur Virgílio Neto.

Aécio criticou mais uma vez as “privatizações atabalhoadas” do governo federal. “O PT passou 10 anos demonizando as privatizações, as concessões e as parcerias com o setor privado. E curva-se a ela no final do governo, mas de forma atabalhoada, apressada, e isso tem custado caro ao Brasil”, se referindo, principalmente, ao leilão do primeiro campo do pré-sal.

Benefícios fiscais
Aécio foi a Manaus participar da comemoração dos 35 anos de vida pública de Arthur Virgílio Neto. O ato é um afago ao prefeito, que está incomodado com algumas lideranças do partido — em especial, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin — que defendem mudanças nas regras da Zona Franca de Manaus. Assim, Aécio tenta garantir palanque no Amazonas para 2014.


Perguntado sobre o apoio do PSDB às isenções de impostos que beneficiam a Zona Franca, Aécio se disse favorável à manutenção dos benefícios fiscais. “Temos que respeitar essas posições individuais, mas a posição do PSDB, com todo respeito que eu tenho ao governo Geraldo Alckmin, o consenso do partido e de setores importantes do PSDB de São Paulo é o de fortalecer a Zona Franca. Vamos votar pela prorrogação dos incentivos e, mais do que isso, que ela se fortaleça e vire um polo exportador importante”, disse o senador.

Fonte: Correio Braziliense

Serra critica PSDB e vê partido complexado

Ex-governador compara legenda com personagem Madame Bovary e afirma que sigla quer ser 'aceita pelo PT'

Tucano sinaliza que 'critérios regionais' não deveriam ser utilizados para definir candidato a presidente em 2014

Marina Dias

SÃO PAULO - O ex-governador paulista José Serra fez ontem duras críticas ao PSDB e afirmou que seu partido tem necessidade de "ser aceito pelo PT".

Ele usou o termo "bovarismo", em referência ao romance "Madame Bovary", de Gustave Flaubert, para descrever um dos problemas da sigla.

"Me desculpem as mulheres, porque é mais complexo que isso, mas a madame Bovary queria ser aceita pelo outro. Ela vai à loucura, quebra a família, trai o marido com Deus e o mundo para ser aceita. E o PSDB tem um pouco de bovarismo, de precisar ser aceito pelo PT", disse Serra durante palestra no Diretório Estadual do PSDB paulista.

Serra fez críticas veladas ao senador Aécio Neves (MG), favorito no PSDB para disputar a Presidência: "O PT faz um leilão mal feito como o do campo de Libra. E o que faz o PSDB? Sai dizendo: Olha aí, eles sempre foram contra a privatização e agora estão fazendo a privatização'. Isso dá voto? Nenhum", disse Serra.

O paulista disse que, no PSDB, "se confunde o fato de que a economia deve ser aberta com a ideia de que o mercado vai resolver tudo": "É um desvio do mercadismo".

Serra afirmou ainda que é um erro fazer uso do "regionalismo" para pautar decisões pré-eleitorais: "A questão regionalista acaba pesando e se supõe que um partido como o PSDB possa transcender essas questões para que esses instrumentos não sejam usados nas lutas internas".
Na mesma semana em que Aécio se reuniu com FHC e Geraldo Alckmin para discutir a antecipação de sua candidatura, Serra disse que o debate não pode ser feito por "colunas de jornais" e que "os tucanos estão entrando nessa".

"Colunismo é a maneira de fazer política pelas colunas de jornais e não no debate. Chegou aqui a notícia de que roubei o Aloysio Nunes do Aécio, que está em Manaus." Bem-humorado, o senador disse: "Você não precisa me roubar. Sou seu".

Fonte: Folha de S. Paulo

Campos superar Aécio 'não seria tragédia', diz FHC

Ex-presidente, porém, ressalta acreditar em senador tucano e diz que governador precisa "se encorpar" para haver 2º turno

Gabriel Manzano

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que "não será nenhuma tragédia" se, nas eleições presidenciais do ano que vem, o PSB tomar o lugar do PSDB na disputa de um eventual segundo turno com a presidente Dilma Rousseff, hoje a grande favorita da disputa. "Não acredito nessa possibilidade, mas se ela ocorrer não será nenhuma tragédia", afirmou FHC. "O que eu acho é que temos de ter alternância no poder. O PT está há muito tempo no poder".

Mas FHC advertiu que o governador Eduardo Campos, provável nome do PSB em 2014, "tem que se encorpar", porque "se ele não encorpar, não teremos segundo turno". A avaliação foi feita em entrevista ao blog do jomalista Kennedy Alencar.

Mas o ex-presidente deixou claro, na conversa, que não acredita nessa possibilidade - a de o provável candidato tucano, Aécio Neves, vir a ser superado nas urnas pelo governador pernambucano. Segundo ele, Aécio "tem mais condições, porque a organização do PSDB é maior". Ele mencionou, então, os Estados de São Paulo, Minas, Paraná, que têm um grande eleitorado, e o Pará. "O Aécio tem um enorme apoio em Minas, enquanto o Eduardo só tem Pernambuco", completou. No cenário eleitoral por ele traçado, o apoio da ex-senadora Marina Silva "Vai ajudar, e é bom que ajude mesmo" a fortalecer a candidatura de Campos. Mas o ex-presidente preferia mesmo, segundo observou, que houvesse quatro candidatos fortes na disputa - ou seja, que Marina tivesse conseguido registrar a sua Rede Sustentabilidade. "Tinha que ter quatro candidatos. Agora é mais complicado".

Renovação. FHC justificou sua decisão de apoiar o nome de Aécio - e não o do ex-governador José Serra - pela necessidade de renovação. "Há um momento em que precisa renovar. O Serra é um quadro muito capaz, votei nele a vida inteira, mas é o momento de Aécio”. Recorreu ao exemplo de seu sucessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que depois de lançar Dilma à presidência indicou Fernando Haddad na disputa pela prefeitura de São Paulo e agora recorre ao ministro Alexandre Padilha para disputar o governo paulista. "Hoje há uma fadiga de material, um certo cansaço. O Lula percebeu isso, tentou colocar candidatos novos".

Candidatura. Mas Fernando Henrique não defendeu como indispensável o lançamento antecipado da candidatura - uma questão que veio à tona, dentro do PSDB, depois de Serra ter defendido a ideia de se aguardar até março de 2014 para a definição do nome tucano.

Na verdade, já estamos em disputa", definiu o ex-presidente. "Dilma já tem uma agenda de candidato. No cargo, tem uma enorme vantagem e temos que contrabalançar isso, o mais cedo possível". Ele não considera indispensável "lançar necessariamente a candidatura", mas "atuar como candidato". Não há "necessidade de lançamento formal", completou. Provocado a definir qual é a marca do governo Dilma, falou em "produtivismo, uma volta ao governo (Ernesto) Geisel: produzir, crescer. Mas não está crescendo. Então a marca é da frustração."

Tapando buraco
FHC também descartou a acusação de que haja uma campanha da oposição, do mercado e da mídia a respeito da situação fiscal do País. Para ele, a situação não está "fora do controle", mas há "sinais graves de que (o governo) está perdendo a higidez fiscal". "Não há uma coisa caótica", avisou, "mas dá a impressão de que o governo está tapando buraco". FHC queixou-se, também, da "falta de generosidade" do ex-presidente Lula, que, segundo ele, nao reconhece ações positivas de seu governo. "Falta um pouquinho de generosidade e reconhecer as coisas. Eu reconheço o que ele fez de bom, mas o Lula não consegue".

Fonte: O Estado de S. Paulo

Entrevista - Francisco de Oliveira: Assustaram os donos do poder, e isso foi ótimo

Ao completar 80 anos, sociólogo faz balanço positivo da onda de protestos no país e critica o 'violento' modelo brasileiro de crescimento

Ricardo Mendonça

SÃO PAULO - Socialista inveterado, acadêmico prestigiado, parceiro rompido de Fernando Henrique Cardoso e Lula, o sociólogo Francisco de Oliveira completou 80 anos na última quinta sem qualquer sinal de afrouxamento da energia crítica.

Em entrevista em seu apartamento, em São Paulo, falou com entusiasmo dos protestos de rua ("a sociedade mostrou que é capaz ainda de se revoltar") e criticou as principais figuras da cena política.

A presidente Dilma Rousseff é uma "personagem trágica" que deu uma "resposta idiota" às manifestações de junho. Lula "está fazendo um trabalho sujo". Marina Silva é uma "freira trotskista". O Bolsa Família, "uma declaração de fracasso". E por aí vai.

Oliveira não teme expor suas posições ousadas. Uma delas é separar o Brasil para resolver a questão indígena: "Há um Estado indígena. Ninguém tem coragem de dizer".


Folha - Oitenta anos. Que tal?

Chico de Oliveira - Oscar Niemeyer disse que a velhice é uma merda. Não sou tão radical. Mas não tem essas bondades que se diz. A história de que se ganha em sabedoria é uma farsa. Não é bom envelhecer. As pessoas sábias deveriam morrer cedo [risos].

Antigamente era assim. Longevidade é uma novidade, né?

É recente mesmo. Não é façanha sua. É a economia que te leva até os 80. As condições de vida mudam, você não precisa de trabalho pesado. Quem condiciona tudo é o trabalho. E gente da minha classe social está apta a aproveitar essas benesses do desenvolvimento capitalista. Mas não é agradável. E não há solução. Você vai se matar para poder não cumprir os desígnios de sua classe social?

O senhor se surpreende aos 80. Em junho, falou do ineditismo dos protestos. Qual é o saldo?

Deu uma coisa ótima: a sociedade mostrou que é capaz ainda de se revoltar, ir para a rua. Não precisa resultado palpável. Assustaram os donos do poder, e isso foi ótimo. Eu falava inédito porque a sociedade brasileira é muito pacata. A violência é só pessoal, privada, o que é um horror. Quando vai para a violência pública, as coisas melhoram. Isso que interessa: um estado de ânimo da população que assuste os donos do poder.

Assustou mesmo?

Assustou. Foi mesmo inédito. Isso é bom para a sociedade. Não é bom para os donos do poder. Mas são eles que a gente deve assustar. Se puder, mais que assustar, derrubá-los do poder. Não acho que as manifestações tenham esse caráter. Mas regozijo-me porque foi manifestado o não conformismo.

Aí a presidente Dilma lançou a ideia de Constituinte para a reforma política. O que achou?

Eu achei idiota. Não gostaria de fazer uma avaliação precipitada do governo Dilma para não dar força à direita, que está em cima dela. Mas é uma resposta idiota. Ninguém resolve problema assim na Constituição.

O que teria sido adequado?

Reconhecer que o país está atravessando uma zona de extrema turbulência devido ao crescimento econômico. É o crescimento que cria a turbulência, não o contrário. Todos pensam que crescimento apazigua. Não é verdade. Ele exalta forças que não existiam. O capitalismo é um sistema violentíssimo. Os EUA, o paradigma, são uma sociedade extremamente violenta. O Brasil vive adormecido. De repente, o tipo de crescimento violento e tenso em pouco tempo quebra as amarras, e a violência vai para rua.

Mas Dilma é criticada pelo baixo crescimento.

Não é verdade. O país cresce de forma violentíssima nos últimos 20 anos. E é um crescimento diferenciado. Não dá mais para ser no campo. Agora é na cidade, com relações público-privadas diferentes. Se o Estado não tem políticas para tal, é melhor ficar calado do que dizer besteira.

E o que achou do papel dos governadores?

Esse [Geraldo] Alckmin é uma coisa... É bem o representante dessa política. Um ser anódino. Já o chamaram picolé de chuchu. Ele de fato não desperta paixões nem ódio. Em geral é assim. Não tem nenhum governador que inspire empolgação. Tudo conformado. E a imprensa tem um papel horroroso: o que for conformismo, exalta; o que for rebeldia, condena.

Que avaliação o senhor faz do movimento "black bloc"?

Boa avaliação. Se eles se constituem como novos sujeitos da ação social, é para saudar. Vamos ver se, com eles, a gente chacoalha essa sociedade conformista. Parece que tudo no Brasil vai bem. Não é verdade. Vai tudo mal. O Estado não age no sentido de antecipar-se à sociedade que está mudando rapidamente. E aí vem o Lula fazendo um trabalho sujo, aquietar aquilo que é revolta.

Trabalho sujo?

Ah, tá. A questão operária tem a capacidade de transformar o Brasil e ele está acomodando, matando a rebeldia que é intrínseca ao movimento. Rebeldia não quer dizer violência, sair para quebrar. É um comportamento crítico.

Onde o senhor vê isso no Lula?

Em tudo. Lula é um conservador, nunca quis ser personagem do movimento [operário]. Na Presidência, atuou como conservador. Pôs Dilma como uma expressão conservadora. Você não vende uma personalidade pública como gerente. Gerente é o antípoda da rebeldia. Ele a vendeu como a gerentona que sabe administrar. É péssimo. O Brasil precisa de políticos com capacidade de expressar essa transformação e dar um passo a frente. Não se pode nem ter uma avaliação mais séria dela, pois ele não deixa ela governar. Atrapalha, se mete, inventa que é o interlocutor. Ela não pode nem reclamar. É uma cria dele, né?

O sociólogo Boaventura Santos disse que Dilma tem insensibilidade social. Citou problemas com movimentos sociais, indígenas, camponeses, meio ambiente. Concorda?

Não diria com essa ênfase. É um equívoco analisar o capitalista brasileiro nos moldes europeus. Aqui nunca teve campesinato, pois teve uma propriedade extremamente concentrada do escravismo. Isso se projetou depois numa economia capitalista. O que tem é uma questão urbana grave, que é preciso resolver.

Mas problema indígena tem.

É um problema. Porque a sociedade só sabe tratar indígena absorvendo e descaracterizando. Para tratar dessa questão é preciso, na verdade, de uma revolução de alto nível. Qual é? É reconhecer que há um Estado indígena.

Estado indígena?

É. A real solução. Há um Estado indígena. O Estado capitalista no Brasil não sabe tratar essa questão. Só sabe tratar indígena atropelando, matando, trazendo para a chamada civilização. A real solução é de uma gravidade que a gente nem pode propor. Um Estado indígena. Separa. Ninguém tem coragem de dizer isso. Então todo mundo quer integrar. Para integrar, você machuca, mata, dissolve as formações indígenas.

E meio ambiente,sensibiliza?

Não acredito que seja uma forma de fazer política. A Marina Silva está aí. Ela não tem nada a dizer sobre o capitalismo? Será? Será que a política ambiental é ruim? Ou é o capitalismo que é ruim? Ela não diz. Então, para mim a Marina é uma freira trotskista [risos]. Cheia de revolução sem botar o pé no chão. Ela juntou com o Eduardo Campos, uma jogada política importante. Mas eles não têm proposta nenhuma. A Marina fica com esse ambientalismo démodé. Criticar a política de meio ambiente é fácil. Quero ver criticar o sistema capitalista nas formas em que ele está se reproduzindo no Brasil. Aí sim é botar o dedo na ferida.

O senhor disse que a política da Dilma é conservadora. Diria que ela é de direita?

Não diria. Ela é um personagem difícil, coitada. Uma personagem trágica. Porque ela não pode fazer o que ela se proporia a fazer. Ela tem uma história revolucionária. Mas não pode fazer isso porque está lá porque Lula a colocou. E Lula é o contrário, um antirrevolucionário. Ele não quer soluções de transformação, quer apaziguamento. Talvez, se as opções estivessem em suas mãos, Dilma faria uma política mais de esquerda. Mas ela não foi eleita para isso. Nem tem força social capaz de impor essa mudança.

O senhor vê alguma virtude?

O pouco de virtude é, talvez, dar um pouco mais de atenção à área social. Que eu não gosto, porque é um conformar-se em não resolver. O Bolsa Família é uma declaração de fracasso. Para não morrer de fome, dá uma comidinha. Sou socialista há 50 anos. Para mim, a gente tem de mudar. E não necessariamente por revolução violenta, que está fora de moda. Bolsa Família é política conservadora. Atende uma dimensão da miséria, mas sem promessa de transformação.

Fonte: Folha de S. Paulo

Tucanos e socialistas caçam candidatos a governador do Rio

Com principais adversários já definidos, PSDB não consegue conquistar Bernardinho; sem nome próprio, PSB quer conversar com Gilberto Gil, do PV

Letícia Fernandes

Na caça a um candidato para concorrer ao governo do Rio, terceiro maior colégio eleitoral do país, e com os pré-candidatos de PMDB (Luiz Fernando Pezão), PT (Lindbergh Farias), DEM (Cesar Maia) e PR (Anthony Garotinho) já definidos, socialistas e tucanos procuram o postulante ao cargo dos sonhos, mas têm dificuldade de emplacar um nome competitivo.

O PSDB queimou a largada e confirmou, na terça-feira, o nome do técnico de vôlei Bernardinho, negado, em seguida, por sua mulher, a ex-jogadora Fernanda Venturini. Na baia socialista, o presidente do PSB, Eduardo Campos, está ansioso por uma definição.

Com a falta de quadros tradicionais do partido interessados em disputai e de olho nos 2,6 milhões de votos que a ex-senadora Marina Silva recebeu no Rio nas eleições de 2010, o PSB sondou o ator Marcos Palmeira, que recusou o convite. Agora, Campos quer conversar com Gilberto Gil, filiado ao PV Voltou a ganhar força, ainda, o nome do ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão.

Nesse contexto, nem Romário, presidente do PSB do Rio, é descartado. — o Romário é uma liderança, pode disputar uma majoritária no Rio. Ele está nos ajudando a prospectar quadros, como o Temporão, Marcos Palmeira está animado. Para governador, não há, neste momento, nenhum indivíduo reivindicando para si essa questão (de se lançar candidato), está todo mundo de acordo em traçar um projeto, para depois achar a pessoa que pode incorporar isso — disse Beto Albuquerque, líder do PSB na Câmara, que acredita que o nome do candidato possa sair de urna reunião com artistas no dia 23 de novembro.

Com a dificuldade de vislumbrar um candidato, socialistas cogitam formar bloco com PV, PROS, PPS e PSDB para dar palanque a Campos e Aécio, nos moldes de 2010, quando José Serra e Marina Silva dividiram palanque no Rio. Apesar da movimentação, a prioridade de Campos é lançar candidato próprio. — Sinto que ele (Campos) está ansioso.

Ele quer ter um candidato para o Rio, vamos buscar um nome que faça sentido para o estado e que ajude na eleição do Eduardo Campos, com a ressalva de que, para ter o mínimo de viabilidade política, talvez precise ter um duplo palanque. Desse conjunto de forças, quem está empenhado em viabilizar uma candidatura é o Miro — explica o deputado marineiro Alfredo Sirkis (PSB).

Para Miro Teixeira, não é hora de discutir candidatura: — Não entrarei nessa discussão, estou dedicado ao meu mandato. Tem muita gente querendo provocar ruídos. Não são jogos ilegítimos, eu é que não quero entrar nisso agora.

Fonte: O Globo

Kassab já ameaça retirar apoio a Pezão

Fundador do PSD diz que PMDB quebrou acordo para chapa de federal

Cássio Bruno

O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), está perto de perder mais um aliado na corrida para eleger o vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB). Fundador do PSD em 2011, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab ameaça não apoiar Pezão e vai iniciar as negociações com possíveis adversários do vice-governador nas eleições de 2014. Kassab se irritou porque o PMDB não ajudou o PSD a formar uma chapa competitiva de candidatos a deputado federal. O auge da crise ocorreu quando deputado federal Hugo Leal deixou o PSC.

Eleito com 98.164 votos, o parlamentar iria para o PSD como uma aposta. No entanto, foi pressionado pelo prefeito de Duque de Caxias, Alexandre Cardoso (ex-PSB), e pelo deputado federal peemedebista Eduardo Cunha a ir para o PMDB. Mas Leal optou pelo PROS. O rompimento da aliança ganhou força após o presidente regional do PSD, Índio da Costa, ter posto o cargo de secretário municipal de Esportes à disposição do prefeito Eduardo Paes (PMDB).

Em recente conversa com Cabral e Pezão, Kassab disse que vai procurar outros pré- candidatos, como o senador Lindbergh Farias o deputado federal Anthony Garotinho (PR), o ex-prefeito Cesar Maia (DEM) e o ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB). Em 2010, o PSD elegeu cinco deputados federais. Hoje, tem apenas três e tem o objetivo de eleger oito deputados em 2014.

Na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), o PSD possui nove deputados. Perde apenas para o PMDB, com 14. O líder do governo Cabral na Alerj é André Corrêa, do PSD. O PSD pode ser a quarta baixa da aliança de Cabral desde o início das manifestações, em junho. O PT deixará o governo até o fim do mês.

O PCdoB e PSB já saíram. Em nota, Kassab não negou a informação de que pode deixar a aliança de Cabral: “Nunca estivemos fechados com o PMDB. Já fomos mais próximos do apoio (a Pezão), mas as conversas prosseguem e a decisão fica apenas para 2014”. Pezão desconversou: — Não estou nem sabendo disso. Estou na China. Só volto amanhã (hoje). Procurados pelo GLOBO, Cabral e Índio da Costa não quiseram comentar o assunto. O deputado André Corrêa não foi encontrado.

Fonte: O Globo

Fim de ciclo - Demétrio Magnoli

Para derrotar o lulismo, a frente oposicionista precisaria dialogar com os cidadãos comuns

"Não existe essa coisa de sociedade" --a frase célebre, de Margaret Thatcher, era a exposição da crença ultraliberal no individualismo. Situado no polo oposto aparente do thatcherismo, o lulismo compartilha a descrença nessa "coisa de sociedade": no lugar da coleção de indivíduos atomizados da ex-premiê britânica, nosso presidente honorífico enxerga uma coleção de corporações reivindicantes. É essa leitura da política que explica a reação indignada do Planalto às críticas sobre a deterioração da situação fiscal do país. Na visão do governo, os "empresários" --os beneficiários da concessão de desonerações tributárias-- comportam-se como traidores quando atiram pedras nas autoridades que protegeram seus lucros. Trata-se de uma forma de auto-engano: o recurso habitual para conservar a ilusão num encanto que já desapareceu.

A inteligência política de Lula, cantada em prosa e verso, é uma qualidade real, mas circunscrita às conjunturas favoráveis. Formado no sindicalismo, o presidente honorífico montou seu sistema de poder como uma mesa ampliada de negociação sindical. Trajando o manto do Bonaparte, o governo opera como Grande Negociador, distribuindo benesses aos "setores organizados" em grupos empresariais, máfias políticas, corporações sindicais e movimentos sociais. A estratégia funcionou, do ponto de vista da reprodução do poder lulista, enquanto o cenário econômico proporcionou recursos para atender às "reivindicações" dos parceiros negociadores. Mas o ciclo da abundância encerrou-se, explodindo a casca frágil do consenso político.

Na "era Lula", o Brasil esculpiu um modelo econômico impulsionado pelos motores do crédito público e privado e da explosão do consumo. A "etapa chinesa" da globalização proporcionou os combustíveis do modelo: investimentos externos fartos, derivados da elevada liquidez internacional, e altas rendas de exportação, oriundas da valorização das commodities. A poção mágica diluiu-se com o colapso das finanças mundiais, mas as reservas no tanque permitiram ao governo servir um simulacro aditivado na hora das eleições de 2010. O tanque, agora, está quase vazio: o governo reduz a bolsa-empresário enquanto pressiona o Congresso para fechar a torneira que irriga as corporações sindicais. Sem acesso à substância estimulante, os negociadores se dispersam --e até os fiéis petroleiros ensaiaram uma "traição".

As "Jornadas de Junho" foram o primeiro sintoma do encerramento do ciclo. Desconcertando o governo, centenas de milhares de pessoas tomaram as ruas para dizer que a sociedade existe --e exige serviços públicos dignos. O segundo sintoma foi o rearranjo do tabuleiro eleitoral deflagrado pela unificação entre PSB e Rede, uma operação celebrada pelo PSDB. O radar dos analistas ainda não detectou o alcance dos eventos, mas o Planalto entendeu o que se passa. Eduardo Campos e Marina Silva saltaram da condição de alternativas dissidentes à de candidatos oposicionistas, enquanto Aécio Neves admitiu que os tucanos perderam o estatuto de núcleo dirigente da oposição. Na prática, configurou-se uma frente de oposição tricéfala --e os três aspirantes decidiram que o primeiro turno de 2014 será tratado como uma eleição primária para a escolha do desafiante da oposição unida.

O giro da política monetária americana, previsto para os próximos meses, ameaça provocar uma tempestade perfeita no Brasil, desvalorizando o real e pressionando o botão da inflação. Mesmo assim, Dilma Rousseff (ou Lula da Silva) conserva o favoritismo. O fim de ciclo, por si mesmo, não conduz automaticamente à reversão da fortuna eleitoral. Para derrotar o lulismo, a frente oposicionista precisaria dialogar com os cidadãos comuns: os manifestantes de junho e o país que os apoiou. Os três aspirantes teriam que dizer que "essa coisa de sociedade" existe.

Fonte: Folha de S. Paulo

A guerra contra as mulheres - Rosiska Darcy de Oliveira

A história das mulheres é um longo percurso de lutas contra a humilhação e a brutalidade, escrevi há 30 anos. Não pensei que voltaria a escrever. Tudo parecia indicar que a sociedade brasileira saíra da Idade da Pedra com seus Brucutus arrastando as mulheres pelos cabelos e possuindo-as no melhor estilo animal.

Ilusão. A história das mulheres continua marcada pela humilhação e a brutalidade. É o que contam os dados do Fórum Nacional de Segurança Pública: 50 mil casos de estupro no Brasil no ano de 2012.

Este número aberrante não deveria cair no esquecimento como uma má notícia entre outras. Cinquenta mil americanos morreram na Guerra do Vietnam e isso mudou a América. Aqui 50 mil mulheres são violadas por ano e a sociedade assiste em silêncio.

Segundo a pesquisa, o número de casos vem aumentando. Os estupros de fato aumentaram ou o que aumentou foi sua notificação? Se assim for, é provável é que esses números sejam apenas a ponta do iceberg.

Um caso isolado de estupro é uma tragédia que o senso comum põe na conta de algum tarado que ninguém está livre de encontrar numa rua deserta. São psicopatas que agem por repetição à semelhança dos serial killers. Requintados torturadores, desprovidos de culpa ou remorso, são descobertos e presos. Quando saem, reincidem.

Cinquenta mil casos têm outro significado. A psicopatia não explica. Configura-se uma tara social, uma sociedade que convive com a violência sexual com uma naturalidade repugnante. São milhares de estupradores que, assim como os torturadores, transitam entre nós como gente comum. Estão nas ruas, nas festas, nos clubes, lá aonde todos vão, e passam despercebidos. Estão nas famílias e nas vizinhanças onde mais frequentemente agem — suprema covardia — aproveitando-se da proximidade insuspeita com a vítima.

Dissimulam seu alto potencial de crueldade no magma de desrespeito em que se misturam machismo, piadas grosseiras, gestos obscenos, aceitos como parte da cultura. A certeza da supremacia da força física, herdaram das cavernas. O desprezo pelas mulheres, aprendem facilmente em qualquer conversa de botequim. Ninguém nasce estuprador: torna-se.

O estupro é uma mutilação psíquica que a vítima carrega para sempre. Fecundação pelo ódio e contaminação pelo vírus do HIV são sequelas possíveis desse pesadelo. O medo ronda. Quantas mais estarão em risco? Pergunte-se a qualquer mulher se, uma vez na vida, se sentiu ameaçada pela violência sexual. Há uma guerra surda contra as mulheres. Quando as guerras de verdade se declaram, o estupro como arma se pratica às claras. Na Bósnia, a “limpeza étnica”, crime contra a humanidade, se fazia violando as mulheres.

Há décadas os movimentos de mulheres denunciam essa guerra surda. Estão aí as Delegacias da Mulher e a Lei Maria da Penha. O anacrônico Código Penal, que falava de crime contra os costumes, hoje capitula o estupro como crime hediondo. Aumentaram as penas e os agravantes. A Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres criou o número 180 para acolher as denúncias e promete espalhar Casas da Mulher em todos os estados.

Dir-se-ia, no entanto, que estupradores não temem a denúncia, a lei e a Justiça. Por que será? De onde lhes vem a sensação de que o que fazem não é crime e, se descobertos fossem, ficariam impunes?
A resposta está no sentimento de poder sobre o corpo das mulheres que nossa sociedade destila como um veneno. É esse caldo de cultura, em que a violência sexual de tão banal fica invisível, que estimula e protege os agressores, realimentando a máquina de fazer monstros. Some-se a isso uma espécie de pacto de silêncio que, salvo quando os dados gritam como agora, impede que se reconheça a gravidade do problema que, na sua negação da dignidade humana, é comparável à prática da tortura.

Os governos descuidam do indispensável amparo às vítimas. Ora, se não há reparação possível, deve haver acolhimento e socorro. Em todo o país os serviços de saúde pública capazes de oferecer a possibilidade de um aborto previsto em lei são ridiculamente insuficientes para atender às consequências desse massacre.

A mesma energia com que a sociedade brasileira condena a tortura é necessária para debelar a epidemia de crueldade. Três mudanças de comportamento se impõem, imediatas: o fim da tolerância com o desrespeito às mulheres, em casa e nas ruas; a inclusão para valer da prevenção e repressão da violência sexual na agenda da segurança pública; e a expansão dos serviços de amparo às vítimas. É o mínimo que o Brasil deve às mulheres.

É escritora

Fonte: O Globo

Espectros, falácias e falésias - Ricardo Antunes

Um espectro ronda o Brasil: o da terceirização total, não só das atividades-meio, como já existe, mas também das atividades-fim, como propõe o projeto de lei nº 4.330, do deputado Sandro Mabel (PMDB-GO).

Sua justificativa é singela: "A empresa moderna tem de concentrar-se em seu negócio principal e na melhoria da qualidade do produto ou da prestação de serviço". Mas a propositura é eivada de falácias, como vamos indicar neste espaço.

Primeira falácia: a terceirização cria empregos. Como hoje temos aproximadamente 12 milhões de terceirizados no Brasil, ela cumpriria papel de relevo na ampliação do mercado de trabalho.

Mas esse argumento omite que os terceirizados têm jornada de trabalho em média bem maior do que o conjunto dos assalariados contratados sem tempo determinado.

Assim, o que ocorre é que onde três trabalham com direitos e por tempo não determinado, aproximadamente dois terceirizados acabam por realizar o mesmo trabalho, padecendo de maior intensificação e jornadas mais longevas. Desse modo, em vez de efetivamente empregar, a terceirização desemprega.

Segunda falácia: os terceirizados percebem salários, assim devem agradecer pelo emprego que obtêm.

Mas esse argumento "esquece" que os salários dos terceirizados são bem menores do que os dos demais trabalhadores, especialmente os que estão na base da indústria e dos serviços. O que as pesquisam mostram, quando realizadas com rigor científico, é que os terceirizados trabalham mais e recebem menos.

Terceira falácia: os terceirizados têm direitos. Esse argumento omite que é exatamente neste âmbito das relações de trabalho que a burla e a fraude se expandem como praga. E quanto mais na base da pirâmide estão os assalariados terceirizados, maiores são as subtrações.

Bastaria dizer que, na Justiça do Trabalho, há incontáveis casos de terceirizados que não conseguem nem sequer localizar a empresa contratante, que não poucas vezes desaparece sem deixar rastro.

Muitos terceirizados estão há anos sem usufruir as férias, pois a contingência e a incerteza avassalam o seu cotidiano.

E, vale lembrar, só uma minoria consegue ir à Justiça do Trabalho, pois o terceirizado não tem nem tempo nem recurso e quase sempre carece do apoio de sindicatos para fazê-lo. E sabemos que, nos serviços, setor no qual se expande celeremente a terceirização, viceja também a ampla informalidade e a alta rotatividade.

Quarta falácia: terceirizar é bom, pois "especializa" e "qualifica" a empresa. Mas seria bom explicar por que essas atividades terceirizadas são as que frequentam com mais constância as listas de acidentes de trabalho. E mais: no serviço público, elas não raro aumentam os custos, sendo fonte inimaginável de corrupção.

Bastaria lembrar as empresas terceirizadas que fazem a coleta do lixo urbano. E a brutalidade sem limites que é ver um trabalhador correr como louco atrás dos caminhões para manter as "metas" e a "produtividade" na coleta privada dos lixos nas cidades.

O essencial que o PL 4.330 tenta esconder, em meio a tantas falácias, é que a terceirização, especialmente para os "de baixo" que não dispõem do capital cultural que sobra aos estratos superiores, têm dois objetivos basais. Primeiro, reduzir salários, diminuindo direitos. Segundo, e não menos importante: fragmentar e desorganizar ainda mais a classe trabalhadora, agora convertida em classe "colaboradora".

Se aprovado esse PL 4.330, ele terá um efeito erosivo ainda maior na nossa já gigantesca falésia social.

Ricardo Antunes, 60, é professor titular de sociologia do trabalho na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É autor de "Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil" e "Os Sentidos do Trabalho"

Fonte: Folha de S. Paulo

O vilão da inflação é também o da estagnação - Rolf Kuntz

Esqueçam o tomate, a carne e as passagens aéreas. Não falem mal das leguminosas, dos hortigranjeiros ou dos salões de beleza. O vilão da inflação nunca será encontrado na lista de bens e serviços comprados pelos consumidores. A imagem usada pela imprensa é mera repetição de uma velha metáfora criada lá pelos anos 80 ou pouco antes. Ninguém deve entender literalmente essa figura de linguagem. O vilão existe, sim, mas é de outro tipo. É o mesmo da estagnação econômica, da irresponsabilidade fiscal e da erosão das contas externas. Em uma palavra, é o governo, embora esse nome pareça um tanto inadequado para designar a presidente Dilma Rousseff e a trupe espalhada por 39 ministérios, uma porção de estatais e outros órgãos da administração indireta.

Explicar e justificar uma sucessão de números muito ruins tem sido, há algum tempo, uma das principais atividades desse pessoal. Mas nenhum ma retórica disfarça o péssimo desempenho fiscal de setembro, quando até o resultado primário foi negativo, ou a aceleração contínua da inflação mensal desde agosto. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, ainda classificou como bom resultado a alta de 0,57% do índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no mês passado. Não há nada de bom nesse número, nem se pode - ao contrário da afirmação do ministro - considerá-lo normal para esta época do ano.

Só se pode falar de normalidade em outro sentido: esgotado o efeito dos truques com as tarifas de transporte e as contas da energia, o recrudescimento da alta de preços foi absolutamente natural. Que mais poderia ocorrer, quando há um desajuste inegável entre a demanda, principalmente de consumo, e a capacidade de oferta da indústria nacional? Esse desajuste, é bom lembrar, é alimentado principalmente pela política oficial, marcada pela gastança e pelos estímulos ao consumo e reforçada pela expansão do crédito.

Sem esses fatores, nenhum aumento do preço do tomate ou da carne bovina produziria um impacto tão amplo sobre todos os mercados. Além disso, o efeito da depreciação cambial seria muito menos sensível, como tem sido em outras economias emergentes. Aquelas, como a da Índia, com problemas graves de inflação, têm também, como o Brasil, sérios desajustes fiscais e limitações importantes do lado da oferta.

O efeito da demanda é também evidente na evolução dos preços dos serviços, com alta de 0,52% em outubro e 8,74% em 12 meses. No caso dos bens, o aumento de preços tem sido atenuado, em parte, pela importação crescente, mas essa é uma solução inviável quando se trata de aluguel residencial, conserto de automóvel, consultas médicas ou serviços de manicures, para citar só alguns itens de uma lista muito ampla de atividades. O mesmo desequilíbrio entre a demanda crescente e a capacidade de oferta muito limitada reflete-se também no déficit comercial de US$ 1,83 bilhão acumulado de janeiro a outubro. Nesse período, o valor exportado, US$ 200,47 bilhões, foi 1,4% menor que o de um âno antes, pela média dos dias úteis, e o gasto com importação, US$ 202,3 bilhões, 8,8% maior.

O aumento das compras de petróleo e derivados - diferença de US$ 6,64 bilhões de um ano para outro - foi um fator importante, mas o total da importação foi determinado principalmente por outros fatores. A elevação de US$ 17,29 bilhões na despesa com bens estrangeiros refletiu acima de tudo os desajustes internos e especialmente a perda de eficiência da economia nacional.

Não há comó disfarçar a redução da produtividade e do poder de competição, resultante principalmente de uma coleção de falhas da política econômica. A agropecuária ainda é produtiva em grau suficiente para compensar os problemas sistêmicos da economia brasileira e conquistar espaços no mercado internacional. A maior parte da indústria tem sido incapaz de vencer esses obstáculos. Os mais comentados são as deficiências de infraestrutura e a tributação irracional, mas a lista é ampla e um dos mais importantes, embora nem sempre lembrado, é o despreparo da mão de obra.

Há pouco tempo a Confederação Nacional da Indústria divulgou pesquisa sobre a escassez de trabalhadores qualificados para o setor de transformação. Outra sondagem, nesta semana, tomou o quadro ainda mais dramático: 74% das empresas de construção consultadas indicaram dificuldades para encontrar pessoal aproveitável. Quase todo esse grupo -94% - reclamou da escassez de trabalhadores preparados até para serviços básicos, como os de pedreiro e ajudante.

Em outros tempos, a construção exercia, entre outras, a função estratégica de absorver pessoal de baixa qualificação. Isso mudou. As construtoras progrediram tecnologicamente e a educação ficou para trás, principalmente nos níveis fundamental e médio. Pessoas um pouco mais atentas apontaram a má escolha do objetivo, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu cuidar prioritariamente do acesso a faculdades/por meio de bolsas, cotas e maior oferta de vagas.

O País paga caro, hoje, por essa decisão obviamente demagógica e eleitoreira. Ninguém deve esperar grandes avanços na política educacional em curto prazo. No Rio Grande do Sul, nesta sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff repetiu, como se fosse algo muito bom, uma ameaça muito ouvida nos últimos tempos: por meio dos recursos do petróleo, a educação será transformada no "caminho fundamental" do desenvolvimento. Essa é uma assustadora conversa mole. O Brasil precisa de educação há muito tempo, é preciso cuidar do assunto imediatamente e há recursos mais que suficientes para isso. Apostar no hipotético dinheiro do pré-sal equivale a encontrar mais uma desculpa vergonhosa para nada fazer de sério pela educação.

* Jornalista

Fonte: O Estado de S. Paulo

Guerra sem fim - Merval Pereira

A reforma tributária fatiada que o governo federal havia se disposto a fazer para dar fim à guerra fiscal, começando com a harmonização do ICMS, trazendo gradativamente a alíquota interestadual de um máximo de 12% para 4%, chega ao fim do ano em regime de urgência, mas aparentemente sem a possibilidade de uma decisão satisfatória.

Da parte dos estados, houve surpreendente aproximação da maioria deles, mas com a persistente dissidência de Ceará, Goiás e Santa Catarina, que querem continuar podendo dar incentivos fiscais. Da parte do governo, há uma percepção de que as compensações financeiras oferecidas inicialmente para um acordo passaram a ser onerosas demais para a situação fiscal atual, e, por isso, agora estaria incentivando as dissidências para que não se chegue a um acordo.

Um componente que surpreendeu favoravelmente nas negociações foi a postura de São Paulo, cedendo tudo para acabar com a guerra fiscal logo e reformar o ICMS. Seus representantes aceitaram perdoar o passado, revogar as multas que aplicaram, dar crédito para empresas, até mesmo no caso do comércio eletrônico, último ponto em que resistiam, negociam uma solução intermediária.

Essa postura levou a acordos surpreendentes, permitindo que São Paulo e Amazonas, que sempre brigaram pela Zona Franca, chegassem a um meio-termo, e que São Paulo e Mato Grosso do Sul, que sempre brigaram pelo gás da Bolívia, fizessem o mesmo. O mais intransigente mesmo é o Ceará — e a leitura geral é que o faz a pedido da presidente Dilma, como uma das contas do acordo com os irmãos Gomes na ida ao PROS.

Quem pressiona para que se encontre uma saída são as empresas que receberam incentivos fiscais que o STF decidiu serem inconstitucionais, já que foram dados sem autorização do Confaz, conselho que reúne os secretários estaduais de Fazenda e cujas decisões têm de ser unânimes. O grande empresariado tem urgência em regularizar os incentivos passados. Se não sair a reforma, terão de lançar nos seus balanços as multas que tomaram por receber incentivos ilegais.

Outro componente dessa equação é o ex-presidente Lula, que também está em campo, conversando com o empresariado. Em posição radicalmente oposta à de Dilma, ele costura um acordo para a reforma, entendendo que essa insegurança jurídica tem poder de interferir nos investimentos estrangeiros no país. Para resolver o problema dos estados que vão perder o direito de dar incentivos fiscais, o governo propôs — e agora se arrependeu — criar um Fundo de Compensação de Receitas, constituído com recursos da União postos no Orçamento, num montante calculado entre 250 bilhões e 500 bilhões de reais em 20 anos.

Uma demonstração de que o governo recuou foi a última reunião virtual do Confaz, quando o Ministério da Fazenda tentou dar um golpe e, em vez de pôr em votação o texto do pré-acordo dos 24 estados, apresentou outro de sua lavra. No fim, levou um contragolpe, pois a maioria dos estados apresentou um substitutivo, e a Fazenda, para não sofrer a primeira derrota na história do conselho, suspendeu a reunião com uma alegação formal qualquer. Nada disso estava no radar do governo federal.

E agora ele está em sinuca de bico — foi ele que propôs a reforma e ofereceu bilhões de reais como compensação aos estados em troca de aprovarem a reforma. Como o governo federal vai negar o que já ofereceu por escrito? Se o Congresso aprovar o que ele propôs, Dilma vetará? Um último componente-chave que foge do controle do governo é que, embora essa reforma exija três ou quatro mudanças legislativas diferentes, a mais importante é a resolução do Senado que mudará as alíquotas.

Há maioria para aprovar se houver acordo entre os estados, e resolução não vai a veto presidencial. Se o Senado baixar as alíquotas, o governo federal vai negar, especialmente aos estados aliados, a compensação pelas perdas e um Fundo de Desenvolvimento Regional que levou anos oferecendo como compensação? Se vetar, será que tal veto se sustenta no Congresso? O fim do ano como prazo não existe em lei ou em tese, mas foi imposto pela necessidade: as empresas precisam de uma solução, e todos sabem que não se aprova reforma dessa envergadura em ano de eleição.

Fonte: O Globo

Desastre no manejo político - Fernando Rodrigues

É um desastre gerencial a emenda constitucional que cria o chamado "Orçamento impositivo".

É impositivo porque obriga o governo a liberar cerca de R$ 14 milhões por ano para cada deputado e senador. É o dinheiro das emendas ao Orçamento propostas por esses congressistas.

Nas campanhas eleitorais, os candidatos poderão zanzar pelas ruas com uma plaquinha pendurada no pescoço: "Valor: R$ 14 milhões". Alguns negociarão antecipadamente como usar o dinheiro. É fácil imaginar o nível das traficâncias daí derivadas. Já na saída, um deputado valerá R$ 56 milhões ao longo dos quatro anos de mandato.

Nessas horas muitos malham o Congresso Nacional. Penso diferente. A culpa por mais essa decisão tresloucada deve ser compartilhada com o Palácio do Planalto. Afinal, se há um fato na política brasileira nunca desmentido, é a genuflexão quase eterna do Legislativo em relação à Presidência da República.

Quando um Poder submisso como o Congresso começa a aprovar bobagens, não é porque está se tornando mais independente --até porque ali ainda vale a triste máxima segundo a qual, toda vez que um deputado (ou senador) tem uma ideia, o Brasil piora. O que se passa é um vácuo de liderança por parte do Planalto.

Um desastre na política é como a queda de um avião. Não ocorre por um motivo isolado. O desfecho trágico se dá após uma sucessão de equívocos. Foi o que se passou na administração Dilma Rousseff, desde o início, no manejo das relações entre Executivo e Legislativo.

A presidente vem tentando reparar seus erros por omissão. Parece ser tarde. Faz reuniões inócuas com gente que sai do Planalto e já liga para jornalistas falando mal do governo.

A menos de 14 meses do fim de seu mandato, a petista tem pouco a fazer. Já o Brasil só pode lamentar. E torcer para o Congresso ter menos ideias até o fim do ano que vem.

Fonte: Folha de S. Paulo

Ideli, a missão - Luiz Carlos Azedo

Reportagens deste Correio deram o mote para o cruzamento de informações feito pelo Ministério Público Federal sobre o uso de um helicóptero-ambulância pela ministra de Relações Institucionais. Descobriu-se o inevitável: 73 feridos, sem chances de resgate aéreo, caso precisassem

A 1,7 mil km de distância do gabinete da ministra Ideli Salvatti no Planalto, o procurador da República Mário Sérgio Barbosa e mais dois colegas do Ministério Público Federal fizeram um cruzamento de dados e apontaram para um resultado que deveria constranger ainda mais a chefe da Secretaria de Relações Institucionais. A partir de reportagens deste Correio — sobre o uso pela petista de um helicóptero conveniado do Samu para visitar, em três dias distintos, bases eleitorais de Santa Catarina — e de comunicados da Polícia Rodoviária Federal sobre acidentes nos períodos em que ela utilizou a aeronave, os investigadores viram o número inevitável de 73 pessoas feridas e duas mortas nas estradas do estado.

Ao usar um helicóptero preparado para salvar vidas, era inexorável que a aeronave — a única da PRF na região – deixaria de atender vítimas de trânsito, afinal, estava à disposição da ministra. Tal operação, a de atender a petista, não é uma das tarefas mais fáceis. Quando a “missão” passa a ser Ideli, os equipamentos de socorro são retirados da aeronave e a escala de atendimento de urgência é suspensa. Isso ocorreu, por exemplo, em 25 de janeiro.

Ideli, naquele dia, usou o helicóptero para ir até a cidade de Laguna, a 130km da capital de Santa Catarina. A tarefa da ministra era “acompanhar a assinatura de uma ordem de serviço” e “verificar” trabalhos de transposição do Túnel do Morro do Formigão. A revelação foi feita pelo repórter João Valadares, deste Correio. Antes de voltar para Florianópolis, ela ainda foi a Timbé do Sul para outro compromisso imperdível: o anúncio da publicação do edital de licitação de obras de pavimentação. Enquanto tudo isso acontecia, 40 acidentes foram registrados, com 21 feridos.

É mais do que razoável aceitar que o helicóptero cedido a Ideli não socorreria todos os 75 feridos, caso estivesse sendo usado na principal e nobre missão de salvar vidas. É possível que até mesmo não conseguisse ou precisasse buscar nenhuma daquelas pessoas envolvidas nos 52 acidentes, por questões técnicas e operacionais. Refiro-me à distância dos acidentes ou mesmo a opção dos envolvidos nos regastes em levar os feridos por terra, numa ambulância. Tudo isso poderia, de fato, ter ocorrido.

O problema para Ideli — pré-candidata ao Senado por Santa Catarina — é que tal cálculo nunca poderá ser feito. O que conta é que ela não deveria usar um helicóptero designado para socorrer vítimas graves de acidente de trânsito, por mais que estivesse com uma agenda oficial. Aliás, o cargo atual de Ideli Salvatti praticamente não diz respeito aos compromissos daqueles três dias em que ocorreram os acidentes no estado. É o pior exemplo dado por uma autoridade, principalmente de alto escalão.

Por mais que ela, ou pelo menos a assessoria da pasta, insista em lembrar um decreto presidencial que estabelece o uso de aeronaves multifunção, podendo ser “utilizado para transporte de autoridades, policiamento e missão de resgate”, está tudo errado. O decreto pode até livrar Ideli de ações na Justiça ou mesmo mantê-la firme no Planalto até a saída para a campanha. Mas é impossível não confrontar a letra fria da lei quando sabe-se que a aeronave, tal qual uma ambulância, é única e usada para resgatar acidentados. E que, durante as agendas oficiais da ministra, 77 pessoas ficaram feridas e duas morreram. Talvez o Palácio do Planalto nunca faça tal confronto. Quanto a Ideli, ela parece não se constranger.

Outra coisa
A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou o que já deveria não valer há muito, caso o Congresso Nacional tivesse um pouco mais de amor ao dinheiro do contribuinte. Na última terça-feira, o projeto que acaba com o 14º e o 15º salários para parlamentares reeleitos finalmente passou. É que o texto que tinha sido votado no último mês de fevereiro encerrou a regalia dos pagamentos anuais, mas não acabou com duas parcelas do benefício, as referentes ao início e ao fim do mandato, a título de ajuda de custos como a mudança de deputados e de senadores dos estados de origem para Brasília. Até aí, tudo certo. O detalhe é que os políticos reeleitos, mesmo sem precisar de uma nova transferência de endereço, embolsam a regalia. Agora, o Congresso tem mais uma chance de derrubar o escárnio.

Fonte: Correio Braziliense

Panorama político - Ilimar Franco

Respeito à lei brasileira
O governo Dilma propôs ao Google e ao Facebook acabar com o impasse no marco civil da internet. Se elas assumirem o compromisso de atender o Judiciário, poderão ser dispensadas de desenvolver “data centers” no país, mantendo seus dados armazenados no exterior. Hoje, elas não cumprem decisões do STJ e do STF, exigindo a retirada de vídeos, fotos ou textos ofensivos.

Desafios: Dilma, Aécio e Eduardo
As eleições serão no ano que vem, mas não se fala de outra coisa. Os coordenadores dos candidatos já elegeram suas prioridades até a campanha na TV. Os três candidatos querem chegar na reta final com “expectativa de poder”. A da presidente Dilma (PT) é fazer o governo deslanchar, para voltar ao patamar dos 50% nas pesquisas de intenções de voto. A do senador Aécio Neves (PSDB) é sobreviver a este período de pouca exposição na mídia eletrônica e se manter com cerca de 20% nas pesquisas. A do governador Eduardo Campos (PSB) é capitalizar o apoio de Marina ‘Silva’. Hoje, ela é associada, nas pesquisas qualitativas, ao ex-presidente Lula da ‘Silva’.

“A dissidência do PSB com o PT e o lançamento da candidatura do Eduardo Campos são uma luz” Darcísio Perondi
Deputado federal (PMDB-RS), um dos líderes da Frente da Saúde, para o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral

Caiu na rede
A presidente Dilma terá uma conta oficial no Facebook a partir da semana que vem. A página que atualmente leva seu nome é administrada pelo PT. Na última quinta-feira, gravou o vídeo de apresentação aos internautas.

Festa à baiana
Será em Salvador (BA), nos dias 19 e 20 de dezembro, o último encontro do PSB deste ano para tratar das eleições de 2014. Terá como ponto alto a filiação da ministra do STJ e ex-presidente do CNJ, Eliana Calmon. Como jurista, ela tem prazo até abril, mas o candidato do PSB ao Planalto, Eduardo Campos, pediu para ela antecipar.

Compulsório
Os petistas que forem, amanhã, participar da eleição para presidente do partido, terão que rubricar obrigatoriamente os abaixo-assinados promovidos pelo PT em favor da Reforma Política e da regulação da mídia.

PPS: estica e puxa
A despeito do namoro do PPS com a candidatura Eduardo Campos (PSB), os tucanos não estão preocupados. Um dos coordenadores da candidatura de Aécio Neves proclama: “100% dos deputados do PPS dependem de aliança conosco, nos estados, para se reeleger”. E cita: “Arnaldo Jardim (SP), Rubens Bueno (PR) e até o (presidente do partido) Roberto Freire (SP)...”.

Abrindo o jogo
Num dia desses, em Icó, no interior do Ceará, o governador Cid Gomes (PROS) abriu sua preferência pela candidatura da secretária Izolda Cela para sucedê-lo. “Quem sabe uma mulher não vai governar o Ceará?”, perguntou.

Cada um na sua
Está fechado. O ex-ministro Fernando Bezerra Coelho será o candidato do governador Eduardo Campos (PSB) em Pernambuco. O palanque do PSDB terá o deputado estadual Daniel Coelho e, o do PT, o senador Armando Monteiro (PTB).

O GOVERNADOR DO PIAUÍ, Wilson Martins (PSB), quebrou três costelas por causa de uma queda. O acidente foi doméstico. Ele caiu de uma rede.

Fonte: O Globo