quinta-feira, 3 de outubro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Ulysses Guimarães: Constituição 25 anos

Eu tenho ódio e nojo à ditadura”.

No discurso da promulgação da Constituição, em 5 de outubro de 1988.

Com a Rede, 2014 em jogo: Decisão de hoje do TSE muda destino de Marina e sua Rede e também das eleições

Decisão que impacta 2014

TSE decide hoje se aceita criação da Rede, sigla pela qual Marina quer disputar Presidência

Paulo Celso Pereira, Carolina Brígido

BRASÍLIA - Exatamente três anos após obter quase 20 milhões de votos na eleição presidencial, e ainda um fenômeno nas pesquisas de intenção de votos, a ex-senadora Marina Silva verá hoje no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o desfecho de seu projeto de criação de um novo partido, a Rede Sustentabilidade, pelo qual pretende disputar as eleições de 2014. Segunda colocada em todas as pesquisas de intenção de voto, Marina começou ainda em 2011 o debate sobre a possibilidade de fundar a legenda, mas corre o risco de não conseguir sua aprovação em função da demora em obter certidões que comprovassem o apoio mínimo de cerca de 492.000 eleitores ao seu plano — ironicamente, cerca de módicos 2,5% do número de votos que recebeu em 2010. O julgamento marcado para a noite é decisivo para Marina e deve ter impacto direto no quadro da eleição presidencial do ano que vem. Mas ela garante que não vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal no caso de derrota.

Entre terça-feira e ontem, três ministros do TSE que vão participar do julgamento do processo da Rede falaram publicamente sobre o caso e geraram muita apreensão entre apoiadores da Rede. Mas os ministros ouvidos concordam também que o julgamento será precedido de um grande debate sobre a situação atípica da Rede, de lastro na sociedade, e sobre a possibilidade de abusos na rejeição de assinaturas, que pode virar o jogo.

Após passar o dia em casa, Marina participou, ao lado de parlamentares, de uma última reunião no escritório do seu advogado Tor-quato Jardim, onde ouviu uma prévia da linha que ele adotará da tribuna do TSE. Torquato reiterou estar confiante na tese jurídica que sustentará. Pela lei eleitoral, todo partido políti-
co que pretenda disputar as eleições do próximo ano precisa ser aprovado pelo TSE até sábado. Na saída do encontro, Marina disse estar "muito tranqüila" mas evitou se estender:

— Agora, não vamos mais falar. Só amanhã, com o registro na mão, e aí a conversa vai ser bem mais tranqüila. Estou saindo daqui muito tranqüila, vou dormir com muita confiança.

Como a Rede apresentou apenas 442.000 certidões de apoio — cerca de 50.000 a menos que o exigido em lei —, o partido aposta todas suas fichas na tese de que o TSE deveria "validar" cerca de 95.000 assinaturas rejeitadas pelos cartórios sem justificativa. Mas a tese enfrenta resistências. Depois de o ministro João Octávio Noronha afirmar ainda na terça-feira que caberia à Rede atender aos requisitos legais, e que os cartórios eleitorais não eram obrigados a justificar quando rejeitam assinaturas de apoio, ontem outros dois ministros que participarão do julgamento também se pronunciaram.

Tanto Gilmar Mendes quanto Marco Aurélio Mello destacaram considerar difícil a situação do partido da ex-senadora. Mas não arriscam que haverá a rejeição.

— É muito difícil (a concessão do registro). Sob a minha ótica. É o que eu digo, colegiado é uma caixa de surpresas. É possível que eu esteja errado, porque fiquei na corrente minoritária, já flexibilizaram a nossa resolução relativamente ao PSD e ao Solidariedade. Vamos esperar para ver. Ela (Marina Silva) já tem pela proa o parecer (pela rejeição) da Procuradoria — disse Marco Aurélio, reiterando em seguida sua admiração pela ex-senadora, mas destacando que o tribunal não vai julgar a personalidade dela:

— A ex-senadora forma no melhor quadro da República em termos de apego a princípios, em termos de ética, mas, em direito, o meio justifica o fim e não o fim o meio. Não podemos estabelecer, considerados esses aspectos ligados à personalidade de quem capitaneia o futuro partido, o critério de plantão. O critério é linear para todos. A exigência legal é que a autenticação seja implementada pelos escrivães dos cartórios. E cartório aí é o da zona eleitoral, não é o Tribunal Superior Eleitoral como terceiro patamar do Judiciário e da administração em si da matéria.

Gilmar Mendes, ministro substituto do TSE; que participará da sessão no lugar de Dias Toffoli, que está no Panamá, afirmou que o tribunal terá de discutir se flexibiliza ou não a regra das assinaturas.

— Vamos examinar, em função das alegações que são feitas de que teria havido aqui e acolá abusos na rejeição (de registros de partidos). Há exemplos que estão sendo mostrados. Isso tem de ser examinado e o TSE está sendo muito criterioso. Participei do julgamento do PROS e a relatora foi muito minuciosa nesse exame — afirmou.

Reservadamente, aliados da senadora reagiram às declarações, que na avaliação deles configurariam uma antecipação de voto. Em um vídeo divulgado ontem na página da Rede na internet e no perfil de Marina no Facebook, a senadora destacou que cabe ao TSE reparar as falhas dos cartórios.

— A Rede Sustentabilidade encaminhou para o TSE o pedido de validação dessas assinatura para que a própria Justiça repare essa falha dos cartórios. (...) Muitos partidos se institucionalizam para depois ganharem representação social. Nós fizemos exatamente o contrário: ganhamos representação social no país inteiro e depois buscamos a institucionalização. E estamos confiantes de que a Justiça reparará esse erro cometido pelos cartórios e teremos o registro de um novo partido político para defender a democratização da democracia, a Rede Sustentabilidade — afirmou.

O clima entre os parlamentares que pretendem migrar para a nova sigla é de apreensão. Ontem, um parlamentar perguntou a Domingos Dutra (PT-MA), sobre seu destino. Bem humorado, Dutra respondeu:

— Não sei, vou para o céu. Tem que esperar amanhã (hoje).

Fonte: O Globo

Palavra de especialista

Se Marina disputar, é prejuízo para Dilma

Marcelo Simas, professor de Ciência Política do Iuperj

"O PT tem escolhido como adversário preferencial o PSDB. É uma briga que o PT já conhece e que, no plano simbólico, ele consegue vencer; é uma polarização que ele já ganhou. PT e PSDB são distinguíveis no plano simbólico, um é a política social, o outro, a privatização. O que atrapalhou o PT na eleição de 2010foi a novidade de uma terceira opção, vinda com a candidatura da Marina Silva. Por isso, a mais prejudicada, caso ; Marina vá para a disputa, é a presidente Dilma Rousseff. Na última eleição presidencial, 20 | milhões de eleitores, que foram os votos para Marina, mostraram que não estavam mais interessados nesse debate polarizado.

Agora, não fica claro qual será o maior favorecido se Marina disputar. É uma incógnita para a estratégia da oposição—tanto da candidatura do Aécio Neves quanto do Eduardo Campos— o efeito que Marina terá. Um efeito positivo seria levar a eleição ao 2o turno, mas não vai ser positivo para o Aécio se quem for para o segundo turno for Marina, não ele. Não é clara a natureza do eleitorado da Marina, mesmo os votos dela tendo ido mais para Dilma no segundo turno em 2010 do que para José Serra".

Mudar de partido afeta credibilidade

Emil Sobottka, professor de Sociologia e Ciência Política da PUC-RS

"A presença da Marina Silva éo maior risco para a reeleição da presidente Dilma Rousseff. O que Dilma pode perder de votos é para ela, não é para Aécio. Os votos para ele são os das parcelas mais liberais e conservadoras. Eduardo Campos também tem presença maior no estado dele; mesmo no restante do Nordeste, não tem. Mas, caso a Rede não seja criada e Marina vá concorrer por outro partido, isso pode fazê-la perder votos. Se ela cair na tentação de ir para um partido que será quase de aluguel, apenas para que possa concorrer, ela bota a credibilidade fora, porque em torno dela se reuniu um projeto que é contra essa prática. E credibilidade na política é algo que está sendo valorizado, sobretudo depois dos protestos deste ano. Outro erro que Marina pode cometerá, caso haja segundo turno e ela não esteja nele, adotar novamente a postura de neutralidade, como em 2010. Se naquele ano ela tivesse negociado participação na área ambiental e indígena no governo Dilma, por exemplo, mesmo que ela não fosse a ministra mas indicasse alguém, hoje esse flanco não estaria órfão como está. E ela tinha credibilidade para ter garantido presença nele".

A ida para outra legenda é justificável

Luiz Werneck Vianna, professor de Ciência Política da PUC-Rio

"Se formos analisar os cenários da eleição presidencial de 2014,e considerando a distância de tempo para ela, o que podemos dizer agora é que a não inclusão da candidatura da ex-senadora Marina Silva, caso o partido Rede não seja criado, favorece a candidata da situação, a presidente Dilma Rousseff. Se Marina Silva fosse candidata nas próximas eleições presidenciais, ela certamente seria bem votada, e carregaria a eleição para o segundo turno. Para os candidatos da oposição, a esta altura ninguém está pensando ainda no que vai acontecer no segundo turno em 2014—se quem iria para ele seria Marina ou Aécio Neves, por exemplo—, porque isso seria muita especulação. A esta altura, o que se quer primeiramente é que haja segundo turno.

Agora, caso a Rede não seja criada, acho que a figura da Marina e o carisma dela, somados a essa história de que ela lutou por um partido e não conseguiu por causa de burocracia, justificaria que ela se candidatasse por outro partido, sem que isso prejudicasse a sua imagem".

Fonte: O Globo

Ministros do TSE indicam que Marina não vai ter partido

Com a oficialização de que a Rede Sustentabilidade não obteve o mínimo de apoios exigidos, ministros do TSE ouvidos pelo Estado, entre eles a presidente Cármen Lúcia e Marco Aurélio Mello, indicam dificuldades para a criação do partido a tempo de Marina Silva disputar eleições.

Maioria do TSE diz que ‘aritmética’ deve enterrar a Rede de Marina Silva

Partido novo. Tribunal vai decidir hoje se concede ou não o registro a partido que a ex-ministra quer criai pai a se candidatai à Presidência; tendência é que 4 ministros da corte rejeitem a criação sob a alegação de que ela não obteve assinaturas em tempo hábil.

A maioria dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vê com "dificuldade" a criação do partido a tempo da ex-senadora Marina Silva disputar a eleição de 2014 pelo fato de a Rede Sustentabilidade não ter conseguido alcançar o número mínimo de apoios exigidos pela lei. Hoje os ministros da corte decidem o futuro da Rede. Quatro dos sete integrantes do TSE afirmaram ao Estado que o problema é aritmético e não jurídico e avaliaram que a tendência é negar o registro.

A presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia, disse que não pode antecipar expectativas e o voto que vai dar no caso da Rede, mas sinalizou com uma sugestão à ex-senadora. Na opinião da ministra, para que Marina se candidate à Presidência - o que "seria legítimo e bom para o povo" a Constituição exige apenas que ela esteja filiada a um partido. "É legítimo ela buscar já um grupo que tenha essa afinidade de discurso", afirmou, ao ressaltar que o País tem 32 partidos que poderiam servir de opção a Marina.

"É claro que esse partido (a Rede) representaria, uma trajetória, uma vertente a que ela se propõe, mas eu tenho certeza que ela tem uma força muito maior do que apenas essa circunstância", completou.

O ministro Marco Aurélio Mello afirmou que a falta de assinaturas para a criação da Rede toma a situação muito difícil a5ob a minha ótica, o que está na lei em termos de exigência consubstancia formalidade essencial para o registro. E todos se submetem às regras do jogo para criação de partidos." O ministro acrescentou que a ex-senadora é um dos melhores quadros políticos do País, mas ressaltou que a lei vale para todos.

"A ex-senadora forma no melhor quadro da República em termos de apego a princípios, em termos de ética, mas, em direito, o meio justifica o fim e não o fim ao meio. Não podemos estabelecer, considerados esses aspectos ligados à personalidade de quem capitaneia o futuro partido, o critério de plantão. O critério é linear para todos", avaliou.

O TSE deve julga hoje o pedido de criação da Rede. Pelos dados do tribunal, Marina Silva só conseguiu coletar 442.534 assinaturas. Desse total, 339.827 foram registradas nos cartórios eleitorais e 102.707 encaminhadas aos Tribunais Regionais Eleitorais. De acordo com a Lei Eleitoral, o mínimo exigido para criação de um partido são 492 mil apoiamentos. Por conta disso, o vice-procurador eleitoral, Eugênio Aragão, deu parecer contrário à criação do partido.

Criatividade jurídica. Apesar da tendência da maioria, alguns dos ministros ouvidos ainda deixam em aberto o voto apostando que em eventual "criatividade jurídica" que possa constai no relatório da ministra Laurita Vaz. A ministra deve abrir a sessão desta quinta-feira no TSE com a leitura do parecer do processo de registro da Rede. Essa será a última audiência ordinária da corte antes do dia 5 de outubro, prazo final para criação de legendas que estarão aptas a disputar a eleição de 2014.

O ministro Gilmar Mendes fez ponderações sobre o caso. "Vamos examinar em função das alegações que são feitas de que teria havido aqui e acolá abusos na rejeição (de assinaturas). Há exemplos que estão sendo mostrados (de abusos). Isso tem de ser examinado e o TSE está sendo muito criterioso."

Mendes não é membro titular do TSE, mas participará do julgamento em razão da ausência do ministro Dias Toffoli, que fará viagem para representar oficialmente o TSE. O ministro afirmou que aguardará o voto da relatora, ministra Laurita Vaz, para decidir se libera ou não a criação do partido.

Pesar coletivo. Em meio a um cenário controverso para a Rede, alguns ministros já ensaiam nos bastidores um discurso de que não estão contra a candidatura de Marina, mas apenas seguindo as regras. O próprio vice-procurador-geral eleitoral, Eugênio Aragão, recorreu a argumentos que fogem a questão jurídica ao publicai com "certo pesar" que Marina não obteve o número mínimo de assinaturas. "Há que ser registrado certo pesar pela não obtenção dos apoiamentos necessários à criação da agremiação em questão", argumentou Aragão.

O pesar se deve ao peso eleitoral da ex-senadora fator que pode ser considerado no dia do julgamento, tornando a decisão mais política do que jurídica. Nas últimas eleições presidenciais de 2010, mesmo com uma pequena estrutura partidária, em comparação com os demais candidatos, Marina atingiu cerca 20 milhões de votos, sendo a responsável por levar a disputa ao segundo turno. Atualmente, ela figura em segundo lugar nas pesquisas atrás apenas da presidente Dilma Rousseff.

Um desfecho desfavorável a Marina na Justiça Eleitoral e ela mantendo o discurso de que não há plano B, abre-se a temporada pela disputa do patrimônio eleitoral da ex-senadora por aqueles que deverão disputar a Presidência em 2014.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Ex-ministra faz último apelo em vídeo na internet

Valmar Hupsel Filho

A menos de 24 horas da decisão do TSE que vai autorizar ou não a criação da Redes a ex-ministra Marina Silva divulgou vídeo em que diz ter certeza de que a Justiça vai "reparar os erros dos cartórios", pela invalidação de 95 mil assinaturas "sem justificativa", e concederá o registro.

Até agora, o TSE reconheceu 442.534 nomes apresentados pela Rede, número insuficiente ante aos 492 mil exigidos pela Lei Eleitoral para a criação de um partido. No vídeo divulgado ontem, Marina defendeu a "Usura" com que foi feita a coleta de assinaturas e criticou os cartórios pela falta de estrutura para atender à demanda em pouco tempo. Ao todo, segundo ela, voluntários colheram 910 mil apoiamentos nos Estados.

A ex-senadora fez um resumo do processo de mobilização para a criação do partido, que contou com a presença de 12 mil voluntários, a maior parte deles jovens que se movimentaram via redes sociais. "Muitos partidos se institucionalizam para depois ganhar representação social. Nós fizemos exatamente o contrário", afirmou a ex-ministra no vídeo.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Sobrou apoio popular, faltou ‘timing’ político

Desde 2011 Marina e seu grupo falavam em ação suprapartidária, mas só em fevereiro iniciaram a coleta de assinaturas.

Isadora Peron

Para entender o sufoco que a Rede Sustentabilidade passa nesta reta final é preciso voltar a 2011. Em julho daquele ano, a ex-ministra Marina Silva e seu grupo, apelidados de "sonháticos" deixaram o PV e começaram a articular um movimento suprapartidário. Marina acabara de sair das eleições presidenciais com um capital de quase 20 milhões de votos, mas negava a intenção de criar uma nova sigla.

Foi só em fevereiro deste ano que o grupo oficializou a criação da Rede e deu início à coleta das 492 mil assinaturas necessárias para pedir o registro na Justiça Eleitoral. Apoiadores da sigla têm dito que, se houvesse mais 15 ou 20 dias, o número exigido seria ultrapassado com folga. Mas o tempo se esgotou. O pedido vai ser julgado hoje pelos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a aprovação da Rede depende, agora, de uma exceção jurídica.

Diante da hipótese de ver a Rede naufragar, parte dos aliados de Marina admite, reservadamente, que a decisão de transformar o movimento "Nova Política" em um partido foi tardia. Outros, no entanto, defendem que tudo foi feito dentro do tempo necessário para o amadurecimento programático.

Voluntários. Assim que optaram pela criação da Rede, os articuladores da sigla deram declarações de que estavam cientes do desafio que teriam pela frente. Pelas redes sociais, começaram a recrutar colaboradores pelo País e conseguiram reunir 12 mil pessoas que ajudaram no processo de coleta de assinaturas. O grande número de voluntários, nos cálculos da Rede, iria compensar a falta de políticos profissionais, já que apenas três deputados apoiaram a ideia desde o início.

O trabalho demorou para engrenar, mas deu resultados. O grupo diz ter conseguido levantar mais de 900 mil fichas de apoio. Depois de uma triagem, encaminhou cerca de 660 mil aos cartórios. Segundo a Rede, a matemática não fecha porque os cartórios descumpriram o prazo de 15 dias para a validação das assinaturas e invalidaram apoiamentos sem justificativa.

Comparar o processo da criação das duas siglas que foram aprovadas pelo TSE na semana passada com a de Marina ajuda a perceber porque a ex-senadora enfrenta tantas dificuldades.

O Solidariedade começou a ser articulado em outubro do ano passado. Foram só quatro meses de diferença, mas, nesta reta final, dariam o fôlego que a Rede tanto precisa. Outra diferença é que a sigla, liderada pelo deputado Paulinho da Força, contou com o apoio de outros 15 parlamentares e de toda a estrutura das 2,1 mil entidades que formam a Força Sindical.

O PROS tem uma história mais peculiar. O ex-vereador de Planaltina de Goiás (GO) Eurípedes Júnior começou a recolher assinaturas em 2010. Foram quase quatro anos viajando pelo País até coletar 1,5 milhão de nomes e conseguir o registro.

O caso do PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab, destoa da regra. Ele anunciou o partido em março de 2011 e, em junho, já havia coletado mais de 1,2 milhão de assinaturas. A sigla do ex-prefeito contava com o apoio de um grande número de políticos profissionais. O partido foi aprovado em setembro daquele ano.

Fonte: O Estado de S. Paulo

‘Marineiros’ se aproximam do PPS

Emissários da ex-ministra Marina Silva iniciaram ontem conversas com dirigentes do PPS sobre a possibilidade de ela se transferir para o partido caso o TSE rejeite a criação da Rede. Por causa dos contatos. O presidente do PPS, deputado Roberto Freire, suspendeu a viagem que faria a São Paulo. Ele vai permanecer em Brasília até que se defina a situação da Rede. Anteontem, Marina elogiou o PPS, dizendo que se trata de um partido que vem renovando quadros, defendendo candidaturas independentes e quebrando "monopólios" da política. O PPS já havia aberto as portas para José Serra, mas o tucano decidiu ficar no PSDB.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Sem registro provisório

A lei partidária não permite o registro provisório de legendas, o que poderia viabilizar a criação da Rede Sustentabilidade até o próximo dia 5, para poder concorrer às eleições de 2014. Essa prática vigorou até setembro de 1995, quando entrou em vigor a atual Lei nº 9.096. Até então, o sistema eleitoral era regido pela Lei º 5.682, de 1971. Ela permitia que a sigla obtivesse um registro precário até que regularizasse sua situação perante a Justiça Eleitoral no prazo de até 12 meses.

Pela lei atual, a única possibilidade, segundo advogados especializados em direito eleitoral, seria o TSE reproduzir o que fez no caso da análise do pedido do Partido Ecológico Nacional (PEN), em que determinou a realização de diligências para confirmar a regularidade das 492 mil fichas de apoio de eleitores necessárias. Esse procedimento está previsto na Resolução nº 23.282 do TSE.

A diferença para a situação do partido de Marina, lembra o advogado Márcio Silva, é que o PEN ainda dispunha de tempo até o prazo final para obter o registro e concorrer nas eleições do ano seguinte. Segundo ele, a Rede pode, em tese, requerer por meio de medida cautelar no próprio TSE o registro condicionado, pois o prejuízo de ter a criação anulada posteriormente seria menor do que o do risco de ficar fora das eleições do ano que vem. "Mas seria algo inédito", disse.

Até a edição da Lei nº 9.096 era comum partidos terem registro provisório. O advogado José Eduardo Alckmin lembra que o apresentador Silvio Santos, com altos índices nas pesquisas de intenção de voto, não pôde sair candidato à Presidência da República, em 1989, porque o PMB, o partido ao qual se filiou na última hora, estava com o registro provisório caducado, pois não foi regularizado dentro do prazo de 12 meses.

Fonte: Correio Braziliense

O destino do capital político

A possibilidade concreta de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não conceder o registro à Rede Sustentabilidade faz com que os 19,6 milhões de votos recebidos por Marina Silva nas eleições de 2010 fiquem sem dono definido. Caso não aceite a proposta feita pelo Partido Ecológico Nacional (PEN) de filiar-se ao partido, Marina verá seu capital político — inclusive os milhares de votos que ela recebeu em Brasília — se dissolverem, na grande maioria, entre os candidatos de oposição à presidente Dilma Rousseff.

Os votos políticos tendem a ser divididos entre os eleitores do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e os do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB-PE). Em tese, Campos leva vantagem, uma vez que esse eleitorado de Marina, em 2010, se formou, em grande parte, por pessoas que não queriam votar na petista Dilma Rousseff nem no tucano José Serra.

Além disso, pode pesar a favor do governador pernambucano o fato de este, explicitamente, ter trabalhado por Marina. Foi o PSB quem apresentou no Supremo Tribunal Federal a ação direta de inconstitucionalidade (Adin) para suspender a votação do projeto de lei proibindo que os parlamentares que mudassem de legenda levassem para a nova sigla o tempo de televisão e o fundo partidário.

Mas os votos de Marina não são apenas políticos. Boa parte do contingente dos eleitores marineiros é de evangélicos. A Igreja Universal tende a apoiar Dilma pela influência do ministro da Pesca, Marcelo Crivella. A aposta é que os demais votos religiosos fiquem mais soltos. Caso o pastor Everaldo seja realmente candidato a presidente pelo PSC, poderá ser beneficiado. "Quanto mais próxima da comunidade, maior a influência do voto religioso. Para deputado estadual e federal, a influência é maior. Para presidente da República, o poder de persuasão religioso torna-se mais diluído", acredita o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz. Há ainda os eleitores jovens — as pesquisas de intenção de voto de Marina mostraram uma sintonia fina entre a candidata e os manifestantes que tomaram as ruas do país em junho. "Esses eleitores devem anular os votos, não optando por nenhum candidato tradicional", afirmou o deputado Domingos Dutra (PT-MA).

Fonte: Correio Braziliense

Marina chega ao 'Dia D' com placar desfavorável no TSE

Maioria dos ministros tende a rejeitar Rede; relatora pode mudar julgamento

Tribunal decide hoje se concede registro à sigla; ex-senadora diz confiar em validação de apoios recusados em cartórios

Ranier Bragon, Valdo Cruz e Severino Motta

BRASÍLIA - Exatos três anos após receber 19,6 milhões de votos na disputa à Presidência da República, a ex-senadora Marina Silva acompanhará hoje em Brasília o julgamento que deve decidir se ela poderá concorrer novamente ao Planalto pelo partido que começou a montar em fevereiro, a Rede Sustentabilidade.

Cinco dos sete ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ouvidos pela Folha disseram que tendem a não aprovar a legenda caso fique demonstrado que de fato ela não conseguiu reunir as 492 mil assinaturas de apoio exigidas em lei. Todos ressalvaram que podem mudar de posição se a relatora do processo, Laurita Vaz, apresentar argumentos técnicos em sentido contrário.

Segundo a área técnica do tribunal, a Rede só apresentou 442,5 mil nomes validados pelos cartórios eleitorais, quase 50 mil a menos do que o mínimo necessário.

Por isso, o Ministério Público Eleitoral recomendou a rejeição do pedido de registro.

"Se, realmente, como consigna o Ministério Público Eleitoral, os requisitos legais não estão atendidos, eu evidentemente tenho que preservar a ordem jurídica, o direito posto", afirmou o ministro Marco Aurélio Mello. Anteontem, o colega João Otávio de Noronha também indicou posição semelhante.

Os integrantes da Rede ainda apostam na aprovação do TSE, mas manifestam preocupação com o voto da relatora, considerada pelos colegas como pouco afeita a flexibilizações da lei tais como as que a Rede pede.

O principal argumento do partido é o de que o TSE deve validar um lote de 98 mil assinaturas que, após checagem, foi rejeitado pelos cartórios sem que eles divulgassem o motivo da recusa.

"Vamos examinar em função das alegações que são feitas de que teria havido aqui e acolá abusos na rejeição. Há exemplos que estão sendo mostrados. Isso tem de ser examinado e o TSE está sendo muito criterioso", disse o ministro Gilmar Mendes.

Entre os ministros ouvidos pela Folha, pelo menos dois disseram, reservadamente, que uma eventual rejeição ao processo de criação da Rede seria injusta, já que o partido "tem mais legitimidade" que os recém-aprovados pelo tribunal --Pros e Solidariedade.

Ontem, Marina divulgou um vídeo, na internet, em que pede ao TSE que "corrija o erro cometido pelos cartórios" e permita a criação da Rede.

"Estamos confiantes de que a Justiça reparará esse erro cometido pelos cartórios e teremos o registro legal de um novo partido político para defender a democratização da democracia", disse Marina no vídeo de 3min29s.

O advogado da Rede, Torquato Jardim, e o coordenador-executivo da agremiação, Bazileu Margarido, negaram rumores de que o partido irá recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal) caso o TSE rejeite o pedido de registro.

Sem dar detalhes, Torquato, que é ex-ministro do TSE, disse que apresentará na sessão de julgamento da noite de hoje um argumento extra em prol da Rede, com base no princípio constitucional da livre criação de partidos.

Em nota, a sigla negou ontem que tenha intenção de recorrer ao Supremo Tribunal Federal para obter o registro.

Caso o pedido da Rede seja negado, Marina ainda tem a opção de se filiar a outra legenda até sábado para disputar a Presidência.

Fonte: Folha de S. Paulo

Voto de relatora será decisivo para Rede

Por Maíra Magro e Zinia Baeta

Noronha: "O cartório valida ou invalida administrativamente, não profere decisão judicial para ter que motivar"

BRASÍLIA - O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve decidir nesta noite se autoriza o registro do Rede Sustentabilidade, partido com o qual a ex-senadora Marina Silva pretende se candidatar à Presidência em 2014. O julgamento está na pauta da sessão de hoje, que começa às 19h. A decisão gera expectativa porque o partido não apresentou ao TSE o número mínimo de 492 mil assinaturas validadas pelos cartórios eleitorais, exigido para autorizar o registro de uma nova sigla. O Rede alega, entretanto, que os cartórios cometeram abusos ao rejeitar 95 mil assinaturas sem qualquer justificativa.

No julgamento, o TSE terá que decidir o que fazer com esse lote de fichas de apoio. Se o registro não for concedido nesta semana, Marina, que figura como segunda colocada nas pesquisas de intenção de voto para presidente, perderá o prazo para concorrer com a legenda própria nas próximas eleições. Se o registro for aprovado, o Rede será o 33º partido brasileiro e Marina terá sinal verde para concorrer pela sigla.

O julgamento começa com um relatório apresentado pela corregedora do TSE, a ministra Laurita Vaz. Depois, tanto a defesa quanto o procurador eleitoral terão 20 minutos para apresentar suas teses. Em seguida, Laurita será a primeira a apresentar seu voto, que pode influenciar o entendimento dos demais integrantes da Corte. Depois, votam os ministros João Otávio de Noronha, Henrique Neves, Luciana Lóssio, Marco Aurélio Mello, Gilmar Mendes e, ao final, a presidente do TSE, Cármen Lúcia.

A se levar em conta posicionamentos recentes dos ministros do TSE, o placar pode ser apertado. Ontem, Marco Aurélio Mello classificou como "muito difícil" a situação de Marina.

Para o ministro, se o mínimo de assinaturas é exigido de todas as siglas, uma exceção não se justificaria nem pela popularidade de Marina. "A ex-senadora forma no melhor quadro da República em termos de apego a princípios, em termos de ética, mas, em direito, o meio justifica o fim e não o fim ao meio. Não podemos estabelecer, considerados esses aspectos ligados à personalidade de quem capitaneia o futuro partido, o critério de plantão. O critério é linear para todos", falou.

Ele também deu a entender que não seria possível alterar uma decisão dos cartórios. "Devemos considerar que não estamos a julgar no campo jurisdicional. Nós estamos a constatar dados concretos para decidir administrativamente. Ou seja, se houve percalços nos cartórios, evidentemente, nós não poderemos considerar esses percalços."

Já o ministro Gilmar Mendes manifestou entendimento diverso. Para ele, o TSE terá que examinar as alegações de abuso nas rejeições de assinaturas pelos cartórios. "Há exemplos que estão sendo mostrados. Isso tem de ser examinado e o TSE está sendo muito criterioso", falou.

O ministro João Otávio de Noronha opinou, por outro lado, que os cartórios não são obrigados a justificar o motivo pelo qual rejeitam assinaturas. "O cartório valida ou invalida administrativamente, não profere decisão judicial para ter que motivar. Se acha que não conferiu, ele rejeita." Para ele, o TSE não poderia reavaliar as assinaturas rejeitadas pelos cartórios e a Corte não poderia aprovar o registro de um partido político sem o número mínimo de 492 mil assinaturas. "A lei é clara. Você tem que ter o apoiamento. Se não tiver, não satisfaz. O que cabe ao TSE é aplicar a lei, que é o que vamos fazer", disse o ministro.

No entanto, em conversas com integrantes do tribunal, Marina Silva vem tentando convencê-los de que o mais importante seria avaliar o deferimento do registro do partido pelo espírito da lei e não pela literalidade da legislação que estabelece um patamar mínimo de assinaturas para a criação da legenda.

Segundo Marina, estaria evidente que o Rede conseguiu os apoiamentos necessários mas, pelas "confusões" nos cartórios, esse número pode não ser comprovado. O espírito da lei, de acordo com Marina, seria o da representatividade. Marina procurou todos os ministros do TSE e apresentou este argumento a eles nas audiências.

No primeiro destes encontros, Marina reclamou dos cartórios e disse que havia pouca gente trabalhando. A resposta na época foi a de que a precariedade dos cartórios é uma realidade do país e que esta serviu tanto a ela quanto aos demais que formaram partidos, como o Pros e o Solidariedade. A diferença é que os outros realizaram em quatro anos o que Marina quis fazer em sete meses. Os ministros rebateram dizendo que a Justiça Eleitoral está funcionando com eficiência e que as precariedades dos cartórios nunca afetaram a lei eleitoral.

Quanto ao argumento de Marina sobre o espírito da lei, um integrante da Corte disse ao Valor que a lei é taxativa e que não há como se discutir isso. O argumento de Marina não seria uma grande tese a ser defendida perante os tribunais, principalmente o STF, ao qual, segundo este ministro, Marina já teria dito que recorreria, caso perdesse no TSE. Nessa possibilidade, o magistrado não vê instrumentos jurídicos, que tipo de recurso o Rede poderia apresentar ao STF. E ainda acha difícil o Supremo desfazer um entendimento já consolidado por um tribunal superior, no caso o TSE, por falta de argumento. "Marina pode recorrer, mas resta saber se há argumentos para desfazer um julgamento do TSE perante o Supremo", disse. O recurso que ela poderia apresentar no próprio TSE seria um pedido de reconsideração. O que também seria difícil e demoraria, ultrapassando o prazo de filiação de Marina.

O entendimento deste ministro é de que, se o julgamento do processo for contrário à formação do partido, Marina certamente jogará a culpa na Justiça Eleitoral.

Fonte: Valor Econômico

Aécio Neves critica cooptação do Solidariedade pelo governo Dilma

Ministra Ideli Salvatti ofereceu a políticos do partido de Paulinho da Força manter cargos no governo em troca de apoio

Presidente do PSDB também defende a criação da Rede e diz que governo usou sua força para inibir criação da legenda de Marina Silva

Júnia Gama

BRASÍLIA - Um dia após a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) se reunir com líderes do recém-criado Solidariedade e oferecer a manutenção de cargos em troca do apoio ao governo, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), criticou a ação do Palácio do Planalto para cooptar o partido criado pelo deputado Paulinho da Força (SP). Ele também defendeu a criação da Rede Sustentabilidade, da ex-ministra Marina Silva.

- É o Estado, a população brasileira, pagando pela migração de parlamentares da oposição para a base. Houve a criação de um partido que não nasceu na órbita do governo, mas já está sendo cooptado também, em parte, pelo governo. Isso depõe contra a democracia, não ajuda que as pessoas se identifiquem e se aproximem da política, porque não veem nenhuma vinculação delas com os partidos que deveriam representá-las - comentou Aécio, que esperava ter o apoio do Solidariedade.

A ofensiva do Planalto foi lançada ontem em reunião de Ideli com Paulinho da Força e integrantes partido, que tinha sido criado com viés oposicionista. A ministra conseguiu arrancar declarações do deputado de que a legenda não ficará contra o governo. No encontro, Ideli prometeu manter os cargos de políticos do partido, em troca do alinhamento. Sobre a concessão de mais cargos ao Solidariedade, a ministra afirmou que a presidente Dilma Rousseff irá decidir sobre isso.

Aécio disse ainda esperar que o partido de Marina Silva seja viabilizado para participar das eleições de 2014. Para Aécio, as digitais do governo estariam gravadas no cenário de dificuldades que a Rede Sustentabilidade tem enfrentado para ser criado oficialmente. O senador afirmou ainda que o PSDB pode receber parlamentares de outros partidos na reta final do prazo de filiações, assim como alguns tucanos abandonaram a legenda

- Ajudamos no que pudemos, demos a ela toda a nossa solidariedade. Companheiros ajudaram inclusive na coleta de assinaturas. Esperamos que ela possa, realmente cumprindo as exigências legais, estar no jogo político. Para o Brasil seria muito importante ter a oportunidade de uma opção de candidatura presidencial como a da Marina, que agrega valores, agrega temas importantes no debate eleitoral. Mas mais uma vez o governo usa da sua força, como tentou usar aqui, no Congresso Nacional, através de projeto de lei, para inibir a criação do partido - disse o senador do PSDB.

Aécio voltou a comemorar a decisão do ex-governador José Serra (SP) de permanecer no PSDB. Disse que é uma maneira de derrotar o PT nas urnas em 2014.

- A permanência do Serra é uma grande vitória do PSDB. Serra é um nome extremamente qualificado, tem enorme capital político, enorme capital eleitoral e vai estar ao nosso lado para encerrarmos esse ciclo do PT. Estou extremamente feliz, foi com muita alegria que recebi ontem dele próprio a notícia de que fica no PSDB. Na verdade, nunca tive outra expectativa. Temos um objetivo comum: permitir que o Brasil volte a ter, após a derrota do PT, governos éticos, eficientes e que coloquem o Brasil no caminho do desenvolvimento e do crescimento econômico, o que, infelizmente, não vem acontecendo hoje - disse Aécio.

Na tarde de terça-feira, os tucanos colocaram um ponto final na novela a respeito da permanência de José Serra no partido. Depois de cogitar migrar para o PPS para concorrer à Presidência da República em 2014, Serra definiu em conversa na segunda, com Aécio Neves, que fica no PSDB e sinalizou que não haverá briga interna pela indicação do partido para concorrer ao Palácio do Planalto.

Fonte: O Globo

Recém-criado, PROS já anuncia apoio a Dilma

Partido anuncia filiação de 28 deputados e diz que vai apoiar reeleição da presidente; dirigente afirma ter gasto R$ 3 milhões para viabilizar projeto

João Domingos, Daiene Cardoso

BRASÍLIA - Animado com a filiação do governador do Ceará, Cid Gomes, e do ministro dos Portos, Leônidas Cristino, o Partido Republicano da Ordem Social (PROS) anunciou ontem apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff nas eleições de 2014.

No entanto, apesar de assegurar já ter 28 deputados federais - o que o tornaria a sétima maior bancada da Câmara dos Deputados - na cerimônia de filiação na Casa compareceram ontem menos da metade disso: apenas dez parlamentares.

Ainda assim, o clima era de otimismo, mesclado com um intenso governismo. "Nós vamos ajudar na governabilidade da presidente Dilma Rousseff", disse o líder do partido, Givaldo Carimbão (AL), que deixou o PSB, partido pelo qual tem quatro mandatos. Sua expectativa é de que a bancada de 28 deputados dê grande poder de fogo nas negociações com o Palácio do Planalto, além de facilitar a manutenção do ministro dos Portos na legenda. Cristino deixou o PSB quando o partido do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, rompeu com o governo federal.

Segundo Carimbão, o PROS tem tamanho suficiente até para "sonhar com a Presidência da
República". "O partido já nasce largo, com estatura e musculatura e pode sonhar o sonho acordado de todos os brasileiros. Chegar à Presidência da República é o nosso sonho acordado."

Já o presidente do PROS, o ex-vereador Eurípedes Júnior, de Planaltina de Goiás (cidade a cerca de 60 quilômetros de Brasília) disse que o conceito de direito e esquerda está ultrapassado. Eurípedes Júnior destacou que seu partido é de centro. Segundo ele, a principal bandeira do PROS será a redução de impostos.

O líder da legenda destacou que o partido conseguiu 1,5 milhão de assinaturas (sendo 515 mil certificadas e outras 100 mil aptas a serem apresentadas, mas que não foram protocoladas). Ele aproveitou a cerimônia de filiação dos deputados, realizada no Salão Nobre da Câmara, para criticar a Rede Sustentabilidade, da ex-ministra Marina Silva. Segundo Carimbão, a Rede não teve competência para coletar as assinaturas. Ele informou ainda que se a Rede não conseguir o registro, três deputados que se filiariam ao partido de Marina deverão ingressar no PROS.

Custo. Já o secretário-geral da legenda, Raul Canal, disse que o PROS gastou cerca de R$ 3 milhões para fundar o partido. Foram usados 600 coletores de assinaturas e para cada uma validada, o prêmio era de R$ 2. "O dinheiro é proveniente de doações de amigos", disse ele.

Nos bastidores, o que se sabe, é que ministros e empresários, com José Batista Júnior, da Friboi, candidato ao governo de Goiás pelo PMDB, ajudaram a estruturar o PROS. Entre os ministros, atuaram na estruturação do novo partido Ideli Salvatti (Relações Institucionais), Fernando Pimentel (Indústria e Comércio Exterior) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil).

Dos deputados que entraram no PROS, só dois eram de oposição: Major Fábio (DEM-PB), e Dudimar Paxiuba (PSDB-PA). Todos os outros são governistas. Boa parte é proveniente do PSB, insatisfeitos com o rompimento de Eduardo Campos com o governo Dilma.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Dilma é vaiada ao defender governadora

Presidente pediu respeito do público a Rosalba Ciarlini (DEM) e também foi alvo de apupos

Lisandra Paraguassu

CEARÁ-MIRIM - A baixíssima popularidade da governadora do Rio Grande do Morte, Rosalba Ciarlini (DEM), respingou ontem na presidente Dilma Rousseff. Dilma foi alvo de vaias ao defender a governadora contra os apupos das cerca de 5 mil. pessoas que acompanhavam a solenidade de formatura de 4,5 mil alunos no Programa Nacional de Ensino Técnico (Pronatec), em Ceará-Mirim, na região metropolitana de Natal.

"A gente pode discordar delas, mas temos que deixá-las dizer o que pensam. Vamos respeitar a governadora que está aqui", disse a presidente ao começar seu discurso. Apesar da simpatia com Dilma, a plateia não perdoou a defesa que ela fez de Rosalba. "Isso é feio", reagiu a presidente após ser vaiada.

A governadora discursou antes de Dilma, mas praticamente não foi ouvida. Nos menos de 10 minutos que tentou falar foi vaiada constantemente e, por quatro vezes, teve que parar porque os gritos não lhe permitiam continuar.

A situação irritou a presidente profundamente, que ficou com o semblante fechado e reclamou várias vezes com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e com a ministra da Comunicação, Helena Chagas. Dilma chegou a mudar seu discurso para iniciar com um "pito" nos presentes.

"Nós somos uma das maiores democracias do mundo, nós aceitamos a diversidade, nós aceitamos a diferença de crença e de religião, de etnia. Nós também respeitamos as pessoas", começou a presidente, ainda recebendo aplausos, até o momento em que saiu em defesa da governadora.

Rosalba, que tem entre 83% e 96% de desaprovação, a depender da pesquisa, foi recebida pelo público presente não apenas com vaias, mas gritos de "fora" e sinais de negativo desde o momento em que entrou, com Dilma, no ginásio onde aconteceu a cerimônia de formatura. Cada vez que seu nome era citado, mais vaias. A governadora já desistiu de tentar a reeleição.

Cabral. No mês passado, a presidente também saiu em defesa do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), alvo de vaias durante evento na cidade de São Gonçalo. A cerimônia oficial foi organizada para que Dilma anunciasse investimentos de R$ 2,57 bilhões na construção de um monotrilho.

Fonte: O Estado de S. Paulo

PSDB traça plano antiatrito entre Aécio e Serra

Alas do partido combinam discurso para boa convivência do governador paulista com o senador mineiro a fim de não afastar possíveis apoiadores

Pedro Venceslau, Débora Bergamasco

BRASÍLIA - Apesar de ter celebrado a permanência de José Serra no PSDB como uma vitória para seu projeto de poder, o comando tucano se prepara agora para outro processo tenso: evitar atritos do ex-governador paulista com o senador mineiro Aécio Neves na disputa por espaço no debate político nacional.

A avaliação de aliados de Aécio, mais provável candidato dos tucanos nas eleições presidenciais do ano que vem, é que se o clima de disputa interna prevalecer no noticiário será mais difícil conduzir o processo de aproximação com aliados. O grupo do senador mineiro é atualmente majoritário no partido que Serra ajudou a fundar.

A ideia, portanto, é evitar ao máximo as rusgas entre os dois. Pelo plano traçado pelos aliados de Aécio, Serra continuará dizendo que seu nome está à disposição como presidenciável. O senador mineiro, como atual presidente do partido, adotará um discurso segundo o qual é uma honra contar com um nome tão forte como o do colega para disputar a Presidência.

Serra já disputou a Presidência pelo PSDB nos anos de 2002, quando foi derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva, e em 2010, quando foi derrotado pela presidente Dilma Rousseff.

Os aliados de Serra, diante da tentativa de boa convivência dos colegas ligados a Aécio, devem evitar fustigar o rival interno com a tese de realizar prévias para a escolha do candidato do partido à Presidência.

A ideia é que os dois grupos insistam na tese de que é preciso derrotar o PT. Trata-se de um discurso já explorado por Serra na nota divulgada anteontem na qual anunciou que permaneceria no partido. Nos últimos meses, o ex-governador paulista alimentou a possibilidade de deixar os tucanos e se filiar ao PPS a fim de disputar o Palácio do Planalto em 2014.

A avaliação de amigos de Serra é que ele sabe que, agora, não tem como vencer o confronto interno com Aécio numa prévia, mas espera se manter como protagonista do processo.

O combinado é que o martelo será batido em março, com a realização de um evento com a presença dos dois. "Hoje o candidato que conta com o apoio da maioria do partido é o Aécio, mas o Serra tem consciência de que é um nome disponível para entrar na disputa a qualquer momento", diz, por exemplo, o ex-vice-governador paulista Alberto Goldman, vice-presidente nacional do PSDB e aliado de Serra.

Um ponto de encontro entre os dois grupos é que o ex-governador paulista poderá, se disputar uma vaga no Congresso e vencer, comandar um processo de reforma política que proporia, entre outros pontos, o fim da reeleição e a adoção do mandato presidencial de cinco anos. Isso possibilitaria a Serra reivindicar uma candidatura em 2019, quando terá 77 anos - a reeleição foi aprovada no governo Fernando Henrique Cardoso, que se beneficiou da emenda constitucional e obteve um segundo mandato no Palácio do Planalto em 1998.

A possibilidade de Serra disputar uma vaga no Congresso congela a disputa pela candidatura ao Senado em São Paulo pelo menos até março de 2014. Tanto serristas quanto aecistas duvidam que o ex-governador aceite disputar uma cadeira de deputado federal e realize o sonho de dez entre dez tucanos paulistas. A saída mais óbvia para Serra é mesmo disputar o Senado contra o PT no mesmo palanque do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que tentará reeleição em São Paulo, "Acho que o Geraldo seria fortalecido com a candidatura de Serra ao Senado", afirmou ontem José Henrique Lobo, tucano com bom trânsito nas duas alas do partido.

Colaboraram Caio Junqueira e Ricardo Chapola

Fonte: O Estado de S. Paulo

De novo infraestrutura. Pelo peso que terá na disputa eleitoral de 2014 - Jarbas de Holanda

Os chamados gargalos da infraestrutura, há muito apontados como obstáculos relevantes ao crescimento do país pela maioria dos analistas econômicos, por lideranças do empresariado (sobretudo do agronegócio e da indústria) e pelas lide-ranças políticas mais responsáveis, esses gargalos ganharam crescente visibilidade no conjunto da mídia. E passam a ter seus efeitos inflacionários e demais implicações restritivas percebidas e sentidas por amplos contingentes da população. Parte deles, a correspondente aos problemas de mobilidade urbana foi uma das tônicas das manifestações de rua de junho último. Problemas agravados por generosas isenções fiscais concedidas de uma década para cá aos veículos automotores, envolvendo vultosos recursos que, bem aplicados, teriam possibilitado um salto de qualidade do transpor-te público, sobretudo do metrô e dos trens metropolitanos

Mas os gargalos que se tornaram mais emblemáticos do descaso, do mau gerenciamento do governo e do desperdício de recursos estatais são os ligados aos projetos de expansão da limitadíssima rede ferroviária federal e da transposição do rio São Francisco. Que se arrastam anos a fio, com sucessivas protelações da promessa de conclusão feitas pelos presidentes eleitos a partir de 2002. Ganharam também progressivo destaque em toda a imprensa a persistência do déficit dos serviços de saneamento básico (fator relevante das chamadas doenças da pobreza) e a piora da criminalidade, potencializada pelo narcotráfico. E o tratamento dessas e de outras carências de infraestrutura econômica e dos serviços públicos combina agora os efeitos restritivos do crescimento (da circulação interna e das exportações de produtos, bem como das taxas de juros e da inflação) com as consequências deles no dia a dia e nas perspectivas do conjunto da sociedade – nos salários e nas aposentadorias; nas feiras; nos supermercados, nas farmácias; nos índices de criminalidade; nas reações diante da impunidade, de governantes e políticos corruptos.

Para o preparo, em 2012, e o desencadeamento no início deste ano da campanha reeleitoral de Dilma Rousseff, a opção político-econômica pelas concessões à iniciativa como respostas aos gargalos da infraestrutura (após evidenciar-se o precaríssimo andamento dos projetos reunidos no PAC), envolveu muita polêmica no lulopetismo e é posta em prática com muitos ziguezagues. Primeiro, foi preciso vencer resistências ideológicas internas. Enfrentadas precariamente com propostas contraditórias – destinadas a atrair investidores e a garantir o maior controle estatal possível nos critérios adotados, o que está sendo responsável pelo adiamento, para sucessivos remendos, dos leilões programados dos vários modais de transporte. E, mais importante, a “virada” nesse sentido teve de esperar o demorado reconhecimento oficial – imposto pelo Pibinho de 0,9% de 2012 – do esgotamento do modelo de consumo (baseado em desonerações seletivas e outros subsídios) como motor de expansão da economia. Vencidas essas etapas, as concessões converteram-se na aposta principal do Palácio do Planalto para a conquista de tal expansão. Aposta justificada pelas grandes oportunidades de investimentos de fato oferecidas pela nossa infraestrutura. E bem recebida pelo merca-do, mesmo com as distorções que têm retardado, ainda mais, e dificultado boa parte dos processos correspondentes.

Nesse amplo contexto, os gargalos e carências da infraestrutura econômica e social e as alternativas de políticas e ações do governo central (bem como daqueles dos principais estados), através de parcerias consistentes com a iniciativa privada, de par com um salto na qualidade do gerenciamento das obras públicas, terão peso decisivo no debate e nos palanques eleitorais de 2014.

Jarbas de Holanda é jornalista

A atração do poder - Merval Pereira

Aécio Neves aprendeu com o avô Tancredo que não existe nada que agregue mais na política do que a expectativa de poder, mais até que o poder presente, que é finito, tem prazo de validade. Por isso mesmo, deveria observar com cuidado o processo de "conversão" do sindicalista Paulinho da Força, que organizou o partido Solidariedade para fazer oposição ao governo federal e, à primeira abordagem, já admite aderir à base governista em troca da manutenção de alguns cargos de seus novos filiados.

Potencial candidato à Presidência da República pelo PSDB em 2014, o senador Aécio havia investido no apoio ao Solidariedade, apesar de criticar a facilidade de formação de partidos de aluguel no país. Também ele esperava contar com os dois minutos e tanto que o novo partido terá na propaganda oficial e vê agora ir por água abaixo sua estratégia.

Tem razão Aécio quando diz que essa cooptação em troca de cargos "depõe contra a democracia, não ajuda que as pessoas se identifiquem e se aproximem da política, porque não veem nenhuma vinculação delas com os partidos que deveriam representá-las"!

Mas, na vida real — e foi com base nela que contava o apoio do Solidariedade —, o que significa essa guinada de posição do sindicalista Paulinho da Força é que a presidente Dilma ainda mantém a "expectativa de poder" que atrai apoiadores de todos os lados.

No Brasil há poucos políticos que mantêm posições coerentes ao longo dos governos, mesmo que fiquem no ostracismo durante muitos anos. O PT era um desses partidos quando estava na oposição e, quando assumia posições claramente antimajoritárias, como ficar contra o Plano Real ou contra a Constituição de 1988, estava preparando seu futuro, que chegou depois de 14 anos de oposição e três derrotas de Lula para a Presidência da República (uma para Collor e duas, no primeiro turno, para FH).

Para se achegarem ao governo do turno, políticos fazem o diabo, e criar novos partidos virou a mágica da hora para permitir a revisão de atitudes. O PSD de Gilberto Kassab nasceu do temor de ficar na oposição, no DEM, e amargar esse exílio político do poder.

Agora mesmo o PROS já formou a sétima bancada da Câmara com políticos vindos de vários partidos, alguns da oposição e outros do PSB que pretendem permanecer no regaço do governo.
O fato é que, com a provável ausência de Marina na corrida presidencial e a desistência de José Serra de sair do PSDB para disputar a eleição por outra sigla, o cenário é cada vez mais favorável à reeleição de Dilma.

Paradoxalmente, a desistência de Serra é prejudicial à oposição de modo geral, como salientou o deputado Roberto Freire, que o queria como candidato do seu PPS, mas é boa para a unidade do PSDB. O ex-govemador já não tem condições de atrapalhar a candidatura de Aécio dentro do PSDB, mas a atrapalharia com certeza se fosse candidato por outra legenda. Seria quase impossível, por exemplo, Aécio vencer em São Paulo com Serra na disputa. Agora, sem um paulista na corrida presidencial pela primeira vez desde a redemocratização, o que falará mais alto será a máquina partidária, que estará mobilizada para eleger o governador Geraldo Alckmin em dobradinha com o candidato da sigla ao Planalto.

Até mesmo porque a máquina do PT também está fortalecida em São Paulo com a eleição do prefeito Fernando Haddad.

Também na oposição o que mais se persegue é a tal da expectativa de poder, que já foi maior quando o cenário previa vários candidatos de oposição, e a possibilidade de ir para o segundo turno parecia certa. Com a provável saída de Marina - se ela realmente não conseguir a apírovação do TSE e se recusar a ir para outra legenda —, não se sabe para onde vão os votos que seriam dados a ela. A perspectiva de que boa parte deles, ligados ao eleitorado de esquerda descontente com o PT, volte para a candidata do governo, como aconteceu em 2010, pode não se repetir.

Pelo menos por enquanto candidato à Presidência da República, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, teria aí uma chance de crescer nas pesquisas se conseguisse passar para esse eleitorado que é uma oposição à esquerda, como definiu sua candidatura o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral.

O maior enigma é saber para onde iriam os votos evangélicos, que foram importantes na votação de Marina em 2010. Mas muita água ainda vai rolar até que se defina realmente o quadro, lá pelo começo de 2014.

Fonte: O Globo

O troca-troca da reforma - Denise Rothenburg

A eleição ainda nem chegou, Lula mal entrou em campo em favor dos petistas, mas a relação entre PT e PMDB está a cada dia mais azeda. A última rusga se deve à nomeação de Francisco Teixeira para o comando do Ministério da Integração Nacional. Ainda que seja interino, a escolha de um técnico deixou aos peemedebistas aquela sensação de que o senador Vital do Rêgo Filho foi preterido. Nem a promessa de, quem sabe, entregar o cargo em janeiro serviu para acalmar deputados e senadores do partido. Numa reunião da bancada ontem, o tema foi tratado como "descaso" por parte do Planalto. Mas, diante do frenético troca-troca de partido dos últimos dias, Dilma só nomeará ministro depois de conhecer a nova cara da base aliada.

O PMDB, que está há tempos nesse ônibus petista, espera a nomeação para breve, independentemente da força de cada bancada. O próprio senador diz a amigos que o ministério estará de portas abertas para recebê-los num futuro próximo. Ocorre que interlocutores do governo afirmam que a reforma ministerial tem outros ingredientes além da simples troca do PSB pelo PMDB, conforme mencionamos aqui en passant ontem.

Dilma pretende avaliar a correlação de forças que surgirá até sexta-feira. O Pros, por exemplo, terá uma bancada superior a 20 deputados. O PDT, de 23, é bem capaz que passe para 10, um a menos do que tem hoje o PRB. E há de se levar em conta que o PDT tem hoje o Ministério do Trabalho, enquanto o PRB comanda a Pesca, com o senador Marcelo Crivella (RJ). Ninguém diz abertamente, mas se o PDT mantiver apenas 10 deputados, ficará difícil deixar a pasta do Trabalho sob comando do partido.

Para completar a ira dos aliados para com o governo e o PT, os pré-candidatos a governador pelo Partido dos Trabalhadores correm mundos atrás de aliados nessa fase pré-campanha. Em Mato Grosso do Sul, o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) conquistou PSD, PSC, PCdoB, PV e Pros. Em São Paulo, o PT percorre os municípios em busca de aliados para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, tirando musculatura de partidos amigos do governo Dilma.

Enquanto isso, no Congresso...
Tudo isso deixou no parlamento um gosto de "a vingança será maligna", especialmente, entre os peemedebistas. Na Comissão Mista de Orçamento, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que deveria ter sido votada em julho, permanece represada. O Orçamento de 2014, então, nem se fala. Nada vai para frente enquanto não sair o tal orçamento impositivo, fruto de queda de braço no Senado. E, se o PMDB não se sentir prestigiado em breve, é bem capaz de o governo terminar com algum susto por ali.

E na oposição...
O senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato do partido à Presidência da República, espera, de braços abertos, os peemedebistas insatisfeitos com o governo Dilma. Ele sabe que, em alguns estados, o partido de Michel Temer irá apoiá-lo. Mesmo com a permanência de José Serra no partido, o senador por Minas Gerais continua na linha de frente como principal nome do PSDB para concorrer contra Dilma Rousseff. Em conversas reservadas, os tucanos afirmam que a bancada deseja a renovação do nome que vai disputar o Planalto. No Paraná, por exemplo, o evento do partido teve cara de pré-campanha, com Aécio carregado nos ombros dos militantes.

Resta saber, entretanto, que forças terão a ex-senadora Marina Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). A preços de hoje, Marina balança na bolsa de apostas, uma vez que não se sabe sequer se conseguirá formalizar a criação da Rede. Ontem à tarde, no Congresso, deputados comentavam que ficou tudo muito corrido. Ainda que Marina consiga montar o partido, não haverá tempo para proceder as filiações dentro do prazo exigido pela legislação eleitoral. Ou seja, a saída agora é buscar uma legenda alternativa para os integrantes da Rede e, depois, passada a eleição buscar a sigla de Marina.

A situação de Eduardo Campos é mais confortável, mas não chega a ser um oásis. Seu partido foi desidratado com o auxílio do governo Dilma. No Ceará, por exemplo, depois da saída de Cid e de Ciro Gomes do PSB para o Pros, Eduardo simplesmente não tem palanque no estado. Os Gomes, o PT e o PMDB estão hoje com Dilma, e o ex-senador Tasso Jereissati prepara um palanque para o PSDB.

Nesse contexto, a sorte de Eduardo será a divisão de alguns palanques com o PSDB. Em Minas Gerais, por exemplo, eles devem compor uma única chapa. Hoje, Eduardo Campos estará em Belo Horizonte, para a filiação do presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil. De lá, irá ao Rio de Janeiro, para uma reunião com o deputado federal Romário (PSB) e novas filiações ao partido. Não foi à toa que, ontem, nem deu quórum para votação na Câmara. Estão todos correndo para seus estados, em busca de times para 2014. Nós, por aqui, continuamos de olho em Marina.

Fonte: Correio Braziliense

Culpa dos cartórios? - Dora Kramer

Uma chance, em tese, sempre há, mas é remota a possibilidade de a ex-senadora Marina Silva conseguir o registro da Rede Sustentabilidade na sessão que deverá examinar a questão hoje à noite no Tribunal Superior Eleitoral.

Se for seguido o texto estrito da lei e confirmado que Marina não conseguiu validar as 492 mil assinaturas de apoio ela não poderá concorrer à Presidência pelo partido, embora possa fazê-lo por outra legenda.

Resta, porém, uma brecha: a relatora Laurita Vaz, cujo voto deveria ser liberado ainda ontem a tempo de ir ao plenário hoje, depois da revisão de todo o processo poderá concluir que há de fato assinaturas certificadas em número superior às 442.524 reconhecidas pelo Ministério Público e que levaram o procurador eleitoral a dar parecer contrário ao registro.

A maioria dos ministros também pode aceitar o argumento que Marina usou nos encontros que teve com eles. Segundo ela, o "espírito da lei" leva em conta a representatividade do criador de um partido e isso a senadora tem.

A presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia, reconhece essa realidade. Só não aceita que, caso o registro não seja obtido, a Justiça Eleitoral venha a ser responsabilizada. Se a estrutura é pesada e burocratizada é a mesma para todas as legendas que conseguiram registro, argumenta.

Se o resultado for negativo para a Rede, a ministra já espera reação contra a Justiça Eleitoral que, no entanto, na visão dela não pode ser culpada pelo fato de alguém não conseguir concorrer a uma eleição por um determinado partido.

"Não há restrição ao direito de associação partidária nem impedimento a essa ou àquela candidatura. Apenas a Justiça Eleitoral, que funciona bem, não pode funcionar tendo como referência o tempo dos candidatos".

Sacode a poeira. Ao ficar no PSDB depois do habitual suspense sobre suas decisões, José Serra trocou o certo pelo duvidoso: no lugar de uma jornada quase impossível rumo à candidatura presidencial no PPS conseguiu o retorno ao elenco principal de um partido que praticamente lhe subtraiu todos os espaços de atuação.

Ainda sem papel definido, fato é que voltou ao jogo, tendo o silêncio público como o aliado mais retumbante que poderia ter na mudança de comportamento interno dos tucanos.

De politicamente aposentado, Serra passou a receber tratamento de protagonista. É tido como "indispensável" depois de um longo período sendo visto como coisa do passado.

Contumaz. Que o ex-presidente Lula minta e se desminta como se não houvesse amanhã e o ontem não tivesse existido, é um direito dele. Que dê a si a generosa qualificação de "metamorfose ambulante", só acrescenta informação à sua tendência a se apropriar da obra alheia.

Na vasta lista de exemplos, citemos três mais recentes. Depois de jactar-se de saber como ninguém se comportar com a discrição adequada a um ex-presidente, Lula anuncia que atuará como "candidato" pela reeleição de Dilma Rousseff.

Afirma que teria mais "critério" ao indicar ministros ao Supremo, admitindo que os escolheu com base na suposição de que seriam condescendentes no julgamento do mensalão.

Culpa o PT por ter "jogado fora" a aliança com o governador de Pernambuco quando foi ele quem avalizou a quebra de acordo para eleição à prefeitura do Recife em 2012, que resultou no afastamento de Eduardo Campos.

Que boa parte dos brasileiros considere esse comportamento normal e até elogiável indica compartilhamento da patologia. Ou ausência total de discernimento.

Fonte: O Estado de S. Paulo

A hora do pesadelo - Vera Magalhães

Depois de meses tecendo sua Rede Sustentabilidade com base no tal ideário "sonhático", Marina Silva vive dias de pesadelo. Não há saída simples nem à prova de danos à sua imagem para a discussão, no limite do prazo legal, sobre se ela cumpriu os requisitos legais para criar o partido.

Digamos que a relatora Laurita Vaz encontre argumentos para, contrariando a matemática e o parecer do Ministério Público, considerar que sim. Admitamos que a maioria dos ministros do TSE siga o voto da relatora e a Rede seja, enfim, criada.

Marina não escapará de responder se foi beneficiada pelo "jeitinho" e pela mania de resolver as questões "por cima", vícios que sempre condenou na chamada "velha política".

Especulemos, ainda, que se dê o contrário, e o TSE decida que ela não obteve o número necessário de assinaturas de apoio para criar a Rede. Nesse caso, a ex-senadora terá poucas horas para decidir se ingressa ou não em outro partido sem o grau de "pureza" daquele que idealizou.

Se ela seguir o que dita o senso comum da política, fará isso e continuará detentora, no quadro de hoje, de cerca de 20% das intenções de voto para 2014. Mas tisnará a aura de política "diferente" --que a ajudou a amealhar esse capital eleitoral.

Caso siga o conselho dos sonháticos e fique sem partido, como mártir de um complô imaginário para tirá-la do páreo, se arrisca a ver esse patrimônio se esvair, a oportunidade passar e virar uma ONG política.

Há, porém, um cenário ainda pior. O TSE pode pedir novas diligências sobre a Rede e adiar a decisão final para depois de 5 de outubro. Nesse caso, se a presidenciável ingressar em outra sigla, corre o risco de ver a Rede ser criada depois, sem ela.

Tantos percalços só atestam que a ex-senadora e seus seguidores levaram muito tempo para acordar do sonho e agir segundo preceitos da realidade (e da lei). O que é um dado importante para tentar projetar o que seria um eventual governo Marina.

Fonte: Folha de S. Paulo

Acordo implícito de cavalheiros - Raquel Ulhôa

A pré-candidatura do senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB, à Presidência da República em 2014 acumulou boas notícias nos últimos dias. A permanência do ex-governador e ex-ministro José Serra no PSDB, confirmada na terça-feira, foi a mais importante delas, mas não a única.

No caso de Serra, o que traz mais alívio aos tucanos é a união do partido em São Paulo. Deixando o PSDB para concorrer ao Palácio do Planalto pelo PPS - possibilidade mantida até o último momento da decisão - o ex-governador enfraqueceria a candidatura do governador Geraldo Alckmin à reeleição e dividiria a base eleitoral do PSDB no Estado, o maior colégio eleitoral do país. Esse transtorno foi afastado. São Paulo fica unificado.

Nas conversas entre Aécio e Serra, ficou implícita uma espécie de acordo de cavalheiros, para tentar afastar as intrigas e fofocas entre os aliados dos dois, que tradicionalmente marcam as campanhas eleitorais do PSDB. Aécio não quer ser prejudicado em São Paulo e Serra não quer ser acusado de estar sempre armando alguma arapuca para o mineiro.

Candidato a presidente será conhecido em março

Outra combinação entre ambos é que a definição do candidato a presidente não acontecerá antes de março. É apenas um gesto político, já que Aécio é o nome consensual da legenda para a disputa. Os serristas sabem disso e não cogitam a solicitação de prévias, nem mais à frente.

De qualquer forma, esse adiamento, ainda que simbólico, mantém Serra como uma possibilidade. É um nome forte, competitivo, que não vai brigar pela vaga, mas não está totalmente fora do jogo. Se houver uma reviravolta no cenário político, ele pode ser uma possibilidade. No quadro atual, seu futuro será a disputa ao Senado ou à Câmara dos Deputados.

Aecistas dizem que esse acordo atende totalmente à estratégia do grupo. Ou seja, o senador mantém suas viagens pelo país como presidente do partido e só assume sua candidatura no ano que vem. E, espera-se, com o apoio formal de Serra. O ex-governador pretende viajar, fazer suas palestras e expor suas críticas aos governos do PT.

Outro movimento favorável à pré-candidatura tucana ocorreu sábado, em Curitiba. Aécio conseguiu garantir uma aliança entre o governador do Paraná, Beto Richa, e o senador Álvaro Dias, seu desafeto, para as eleições do próximo ano.

Os dois estarão na mesma chapa, vista como a mais forte do Estado. São mais 500 mil votos no Paraná, segundo tucanos. Álvaro chegou a cogitar sair do PSDB, o que preocupava o partido. Aécio conseguiu mantê-los no mesmo palanque, cada um candidato à reeleição a seu atual cargo.

O terceiro movimento recebido pelo PSDB como favorável à candidatura de Aécio foi a criação do Solidariedade, partido organizado pelo deputado Paulo Pereira da Silva, que deixa o PDT. Ainda que deputados da base governista tenham migrado para a nova legenda e mantenham disposição de apoiar a presidente Dilma Rousseff, esse é um fato minimizado pelo PSDB.

Essas alianças locais são consideradas irrelevantes. Os tucanos estão seguros de que a aliança nacional do Solidariedade será com o PSDB, o que agrega precioso tempo de propaganda eleitoral gratuita na televisão.

Após esses três movimentos contabilizados a favor de Aécio, agora as atenções de seus aliados estarão voltadas para a decisão a ser tomada hoje pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com relação à Rede Sustentabilidade, garantindo ou não a criação do partido para a ex-ministra Marina Silva concorrer ao Palácio do Planalto.

Tanto Aécio quanto o governador Eduardo Campos (PE), que pretende disputar a presidência pelo PSB, são defensores da criação do Rede e do direito de Marina disputar o Planalto pela nova legenda. O argumento é que sua participação na eleição afasta o risco de Dilma Rousseff ser eleita em primeiro turno.

Mas, entre tucanos, há quem diga que, no fundo, a torcida é para que Marina não dispute. Ela no jogo a briga será entre os três - Aécio, Eduardo e Marina - para ver quem irá para o segundo turno com Dilma. Sem Marina, há quem acredite, no PSDB, que Aécio possa crescer e conquistar uma boa fatia desse eleitorado de Marina.

A decisão não foi fácil para Serra. Ele esteve com um pé no PPS, legenda pela qual pensou em disputar a Presidência da República, mesmo considerando chance praticamente zero de vitória. Não tinha expectativa de alianças eleitorais e o tempo de televisão seria mínimo.

Mas evitaria o desconforto de permanecer no PSDB e ter de fazer campanha para Aécio. E ainda ser acusado de estar por trás de qualquer fato negativo que ocorresse no caminho do senador.

Se saísse do PSDB, Serra incomodaria mais Aécio. Ele sabe que entregou uma mercadoria ficando no partido. Não tem a menor possibilidade, hoje, de ser escolhido candidato a presidente. Mas imprevistos podem acontecer. O resto é futuro.

Líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), formalizou, em seu parecer à PEC do "orçamento impositivo", a proposta de vincular a ações e serviços de saúde os recursos de 50% das emendas parlamentares incluídas ao Orçamento da União. Mas há muita resistência na Câmara dos Deputados, Casa que apresentou a sugestão de destinar à saúde 40% das emendas. Braga e os líderes do Senado receberam do Palácio do Planalto a garantia de que o percentual de 50% estava negociado com os deputados. Mas, por enquanto, não é o que se percebe. E, como a PEC será novamente submetida à Câmara, os deputados poderão suprimir esse dispositivo. Ou seja, o orçamento impositivo pode acabar sendo aprovado sem vinculação à saúde. Por outro lado, Braga determinou que 15% da receita corrente líquida da União serão aplicados no setor, ainda que em cinco anos. Nesse ponto, parece haver acordo.

Fonte: Valor Econômico

Semana S - Tereza Cruvinel

Com o fico de Serra, o PSDB evita o risco de perder a posição de principal alternativa de poder ao PT, que viria com a divisão dos votos tucanos em São Paulo

O jogo para a sucessão presidencial alcançará seu ponto mais claro a partir da semana em curso. Com o "fico" do ex-governador José Serra ao PSDB, o senador Aécio Neves (MG) não apenas avançou na construção da própria candidatura. Mais que isso, evitou a divisão dos votos tucanos e o risco de perder a posição de principal antagonista do PT, ocupada pelo PSDB desde que o país ingressou no regime eleitoral bipolar, em 1994. Hoje, o TSE decidirá sobre a validade das assinaturas não certificadas de apoio à criação da Rede Sustentabilidade de Marina Silva. São fortes as indicações de que o pedido de registro nessas condições será negado e de que haverá um recurso ao Supremo. Mesmo sem a Rede, só no sábado ficará claro se Marina concorrerá por outro partido, como o PEN ou o PPS. Ela nega a hipótese, mas será pressionada a não frustrar seus eleitores.

Se Marina ficar fora da disputa, a presidente Dilma Rousseff enfrentará apenas dois adversários hoje competitivos, Aécio e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que também já fez seu jogo, empurrando para fora do PSB os que resistiam à sua candidatura, como o núcleo cearense dos irmãos Gomes e o grupo fluminense liderado pelo prefeito de Caxias, Alexandre Cardoso. Para Aécio e Campos, será uma perda. Marina, a segunda colocada nas pesquisas, ajudaria a garantir o segundo turno, embora a presidente Dilma, hoje, não tenha potencial eleitoral para ganhar no primeiro. Há entre petistas e governistas quem veja na ausência de Marina o quadro ideal para a presidente. Ela ficaria livre do emblema do "novo", poderia herdar parte dos votos marinistas e se sentiria mais à vontade para enfrentar Aécio na segunda posição. Há entre eles, porém, os que já pensam o contrário: que num inevitável segundo turno a disputa com Marina seria mais confortável e segura. Na escolha final e decisiva, o eleitor pensaria duas vezes antes de interromper o governo que aí está, mesmo contrariado com isso ou aquilo, para entregá-lo a uma candidata de muitas virtudes, mas desprovida de um partido ou de aliados que garantam a governabilidade, bem como de projeto claro para outras demandas do país, afora a questão da ética na política e do desenvolvimento sustentável, pilares de seu discurso atual. Mas tais considerações, nesta altura, são inócuas. O TSE e o STF é que julgarão o destino da Rede, apesar das torcidas em um sentido e outro, e só Marina decidirá sobre a filiação a outra sigla, em caso de fracasso de seu projeto partidário.

Paz tucana
A união tucana, com a permanência de Serra no partido, foi um passo importante não apenas para Aécio como candidato, mas para o PSDB como principal alternativa de poder ao PT. Se Serra deixasse o partido para ser candidato pelo PPS, levaria pelo menos a maior parte dos votos tucanos no estado de São Paulo, que, somados aos de Minas, devem constituir a base eleitoral mais forte da candidatura de Aécio. Serra anunciou o "fico" com uma declaração forte, de que ficava para ajudar a derrotar o governo do PT, que hoje "compromete o presente e ameaça o futuro". Aécio confirmou o acordo com uma chuva de elogios ao companheiro. Mas há uma sombra ainda sobre a paz tucana, que diz respeito à escolha oficial do candidato, adiada para o ano que vem, segundo o próprio Aécio. Os parlamentares ligados a Serra insistiam ontem que a realização de prévias não foi descartada no acordo que garantiu o "fico". Os aecistas diziam, por seu lado, que Serra tomou sua decisão conhecendo a realidade do partido, em que a candidatura de Aécio desfruta de maioria avassaladora. Ainda que não tente atropelar Aécio, Serra se colocará como alternativa até o último momento, para o caso de tropeço ou inviabilidade do mineiro. Por fim, se quiser ser candidato ao Senado, terá que enfrentar a postulação do deputado e secretário José Aníbal, e o risco de uma disputa com o petista Eduardo Suplicy. Por tudo isso, alguns tucanos já defendem que ele seja candidato a deputado federal, ajudando a puxar votos para a ampliação da bancada.

Guerras de Pernambuco
Talvez em nenhum estado a agitação pré-eleitoral seja tão grande quanto em Pernambuco. Começo porém registrando esclarecimentos do senador petista Humberto Costa a respeito do que disse o ex-presidente Lula em sua entrevista publicada pelo Estado de Minas no domingo. Falando sobre a dificuldade de convencer alguém a não ser candidato em nome das alianças, Lula recordou encontro que teve com Humberto em janeiro de 2012, no qual o aconselhou a não disputar a Prefeitura do Recife, concluindo que foi inútil. Costa acabou derrotado pelo candidato de Eduardo Campos, Geraldo Julio, disputa que contribuiu para azedar a relação PT-PSB. O senador esclarece que ouviu mesmo esse conselho quando, em companhia do senador Jorge Viana, visitou o convalescente ex-presidente. "Desisti mas, meses depois, o partido enfrentou problemas internos e acabou anulando as prévias que foram disputadas por Maurício Rands e o ex-prefeito João da Costa. Em busca de uma alternativa pacificadora, a direção nacional do PT fez um apelo para que eu fosse candidato. Todos os ex-presidentes do partido, inclusive Lula, foram consultados e concordaram. De modo que não fui candidato de mim mesmo ou de minha ambição", diz o senador. Endossando a versão do senador, a assessoria do ex-presidente admite que ele contou apenas a primeira parte da história.

Fonte: Correio Braziliense