domingo, 25 de agosto de 2013

OPINIÃO DO DIA – Marco Aurélio Nogueira: jornadas de junho


"O sistema recuperou o controle. Mas, por continuar o mesmo, permanece improdutivo e gera mais problemas que soluções, expondo-se ao risco de ser novamente desafiado pelas ruas.

As vozes de junho não foram genéricas nem alienadas. Foram claras: queremos um Estado aberto para as pessoas, menos dependente de multinacionais, bancos e empresários. Mais social e menos econômico: com serviços e políticas melhores, não somente com obsessão por crescimento e oferta de bens. Os que protestaram, no fundo, pediram mais cidadania e menos consumo, mais Estado e menos mercado.

É uma agenda básica, que converge para a reformatação do Estado e desafia a inteligência política. Se for enfrentada com as práticas de antes, não será sequer arranhada. E o mal-estar persistirá."

Professor titular de Teoria Política e Diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da UNESP. In “Depois de junho”. O Estado de S. Paulo, 24/8/2013.

Custo de vida - Inflação no comércio vai dobrar com alta do dólar

Aumento dos preços deve chegar a 7,4%, contra apenas 3,5% no ano passado

A disparada do dólar, que acumula alta de 15% este ano, está atingindo em cheio o bolso dos brasileiros. Os preços no comércio varejista vão subir 7,4% em 2013, segundo a Confederação Nacional do Comércio, o dobro dos 3,5% do ano passado, informa Cristiane Bonfanti. Entre os setores mais afetados pelo câmbio estão os de eletrodomésticos e móveis. No caso de alimentos, bebidas e artigos farmacêuticos, as altas serão de quase 8%, influenciadas também pela queda de safra e pelo aumento da renda no país.

Alta do dólar pesa no bolso

Preços do comércio devem subir 7,4% este ano, contra apenas 3,5% em 2012, diz a CNC

Cristiane Bonfanti

BRASÍLIA - A alta do dólar, que de janeiro até a última sexta-feira já acumulava quase 15%, atingirá em cheio o bolso dos consumidores este ano. Projeção da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostra que os preços no comércio varejista vão subir 7,4% em 2013, sendo que em alguns setores, como de bens duráveis, serão fortemente afetados pela variação do câmbio. A inflação projetada para o varejo é mais do que o dobro da alta registrada no ano passado, de 3,5%. E acima da média da inflação projetada para este ano, de 6%.

No caso dos bens duráveis, a alta média dos preços projetada é de 3,6%, contra uma deflação de 1,2% no ano passado. O economista da CNC Fábio Bentes explicou que, no intervalo de um ano, 40% da alteração dos preços dos bens duráveis podem ser atribuídos à variação cambial.

Já os bens não duráveis, como alimentos, bebidas e artigos farmacêuticos, devem subir 7,9% no ano, contra 3,9% em 2012. Nesse caso, outros fatores também terão impacto na variação dos preços, como a quebra de safras e as pressões na demanda decorrentes do aumento da renda.

Os reajustes no segmento de móveis e eletrodomésticos deverão chegar a 3,1%. A inflação dos artigos de uso pessoal e doméstico, que englobam os eletroeletrônicos, deverá ficar em 6,2% - no ano passado, foi de apenas 2,5%. Já no terceiro componente de bens duráveis da pesquisa, artigos de informática e comunicação, os preços deverão registrar uma queda este ano, mas bem abaixo da verificada no ano passado. A redução passará de 6,7% para 3,3%. Os dados foram projetados com base na Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE.

Os brasileiros também sentirão o impacto do câmbio nos itens que vão à mesa. Estimativa da Associação Paulista de Supermercados (Apas) indica que, se o dólar se mantiver entre R$ 2,35 e R$ 2,40, haverá um aumento de até 5% nos preços dos alimentos importados no fechamento do ano. No caso de produtos que vão compor a ceia de Natal, como vinho, azeite e frutas secas, a elevação pode chegar a 10%.

- Como a alta do dólar não tinha se configurado de forma permanente, havia uma negociação entre indústria e varejo para segurar os preços. Mas, agora, não será mais possível sustentar esses valores - afirmou Rodrigo Mariano, gerente de Economia e Pesquisa da Apas.

Desde o início do ano, a advogada Tatiane Becker Amaral, de 36 anos, vem observando um reajuste na maioria dos preços nos supermercados. Os gastos com as compras semanais, para uma família com cinco pessoas, saltaram de R$ 400 para R$ 600. No caso do vinho sul-africano que a gaúcha costuma levar para casa, o aumento também foi expressivo: o preço da garrafa subiu de R$ 20 para R$ 28 desde a semana passada. Tatiane diz que não pretende trocar a bebida, mas, se a escalada de preços continuar, a alternativa será mudar as marcas de outros importados.

- Toda semana os preços sobem. Já tenho trocado a marca de alguns produtos e, no fim do ano, posso mudar o cardápio também - disse.

Importado: "tive de pagar fatura alta"

A dona de casa Maria Auxiliadora Bandeira, de 70 anos, tem sempre em casa azeite português e compra vinho importado, chileno ou argentino, a cada dois meses. Ela ainda não verificou mudança nos preços, mas, se a alta se confirmar, disse que o melhor caminho é pesquisar.

- Sempre vou a mais de um supermercado. Em alguns casos, o preço do alimento chega a dobrar - disse.

Já a nutricionista Isabela Borges, de 35 anos, afirmou que, no dia a dia, prioriza os produtos naturais e nacionais. Nas festas de fim de ano, mesmo com os reajustes, deve manter no cardápio os importados. Mas, em outras compras, ela já amargou a alta do dólar:

- Eu sempre peço para meu irmão trazer produtos do exterior, como roupas, e agora tive de pagar uma fatura alta - lamentou.

No caso de materiais escolares, itens de decoração e produtos de cama, mesa e banho, o aumento no preço ao consumidor deverá ser de, pelo menos, 15% no início de 2014, nas contas do presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro Junior.

- O reajuste será de, no mínimo, o dobro da inflação (oficial) em virtude dessa desvalorização do real. O impacto mais imediato, da alta desta semana, será sentido em 30 ou 60 dias, quando os produtos importados e insumos negociados agora começam a chegar - previu Pellizaro Junior.

Repasse de preços

Segundo ele, deverá haver uma variação também nos preços de alimentos, devido ao trigo, e de eletroeletrônicos, por causa do elevado número de peças importadas. O presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Lourival Kiçula, disse que a indústria já sentiu o impacto da alta do dólar e que, no máximo, em 45 dias, começará a repassar reajustes para o varejo. Ele observou que, no caso da linha marrom, que reúne artigos como televisores, o índice de importação de peças chega a 70%.

- As fábricas podem ter estoque, mas, em algum momento, terão de repassar o custo. Em alguns casos, ainda em agosto. Aí é uma negociação entre os associados e o varejo - explicou Kiçula.

Em nota, a Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex) informou que as grandes redes de varejo estão se esforçando para não transferir os aumentos de custos aos consumidores, mas observou que "as margens estão bastante comprimidas".

Nas contas da analista Adriana Molinari, da Tendências Consultoria, se o dólar se estabilizar no patamar de R$ 2,40, a projeção que a empresa faz para a inflação medida pelo IPCA passará dos atuais 5,70% para 5,95%. Isso sem contar uma possível elevação no preço da gasolina.

Fonte: O Globo

Ibope aponta que brasileiro sabe pouco de reforma política

O Brasil acha a reforma política importante, mas sabe muito pouco sobre ela. Pesquisa Ibope/Estado mostra que dois em cada três brasileiras ouviram falar pela primeira vez do assunto ao serem interpelados pelo pesquisador, ou nem sequer souberam responder à questão. Apenas disseram ter conhecimento de que existe um debate sobre reforma política cm curso no País, e 7% dos entrevistados se declararam bem informados sobre a reforma política

Só 7% dizem saber bem do que se trata a reforma política

Pesquisa Ibope/"Estado" mostra que assunto era novidade para 2 a cada 3 eleitores; voto aberto no Congresso é causa mais apoiada

José Roberto de Toledo, Daniel Bramatti

O Brasil acha a reforma política importante, mas sabe muito pouco sobre ela. Pesquisa Ibope/Estado mostra que dois em cada três brasileiros ouviram falar pela primeira vez do assunto ao serem interpelados pelo pesquisador -ou nem sequer conseguiram responder à questão - e menos de 1 em 10 entrevistados diz saber bem do que se trata.

Apenas 36% disseram ter conhecimento de que se discute a reforma política. Saber que o debate existe não significa estar por dentro do seu conteúdo. Tanto que só 7% dos entrevistados se declararam bem informados sobre a reforma política. Outros 34% disseram ao Ibope estar pouco informados, e a maioria absoluta disse estar "nada informado" (52%) ou nem sequer soube responder (7%).

Considerando-se apenas os 41% que têm alguma informação (a soma dos ""bem" e "pouco" informados), a maioria é favorável à realização da reforma política no Brasil: 39% concordam totalmente, 33% concordam em parte e 7% discordam. O resto ficou 110 muro (nem concordou, nem discordou) ou não respondeu.

Mas nem todos desses 41% teoricamente informados sabem dizer, espontaneamente, do que trata a reforma política. Um em cada três (28%) não conseguiu dizer nenhuma medida específica que esteja sendo discutida para reformar a política brasileira.

Na prática, sobram 30% de brasileiros que dizem ter algum grau de informação sobre a re forma política e sabem citar um exemplo do que está em debate. Os pontos mais mencionados por eles foram: acabar com suplente de senador, com as votações secretas no Congresso, com as coligações partidárias e com o voto obrigatório - todas essas na faixa de 20% a 23% de citações.

A seguir, os exemplos de reformas mais lembrados foram a realização de um plebiscito conforme proposto pelo governo federal (18%), mudar a forma de financiar as campanhas eleitorais (12%), reduzir o número de partidos (12%), realizar uma constituinte sobre o tema (8%) e outros menos cotados.

O Ibope perguntou então aos entrevistados quão informados eles estavam sobre sete pontos específicos da reforma política. As opções de resposta ("bem", "pouco" ou "nada" informado) foram convertidas em uma es cala de até 100 pontos, que mede o grau de conhecimento do brasileiro sobre cada uma dessas reformas.

Voto secreto. O tema que se mostrou mais popular entre os brasileiros foi "acabar com o voto secreto no Congresso Nacional, ou seja, permitir que todos possam saber como os deputados votam". Mesmo assim, marcou apenas 26 pontos num máximo de 100 na escala de conhecimento sobre o tema. Com os outros foi ainda pior.

"Acabar com suplente de senador" e "mudar a forma de financiamento das campanhas eleitorais" empataram em segundo lugar, com grau de conhecimento 22 em 100. Depois vieram "acabar com alianças entre partidos nas eleições de deputa: dos" (20/100),"voto distrital" e "permitir candidatos não filiados a partidos nas eleições" (ambas com 18/100). A "lista fechada" para eleição de deputados e vereadores ficou em último lugar, com 16/100.

É levando-se em conta esse baixo grau de conhecimento dos eleitores sobre as propostas que se deve analisar o seu grau de concordância com cada uma delas. Usando-se a mesma escala de o a 100, o maior apoio dos entrevistados foi para acabar com as votações secretas no Congresso: 86 num máximo de 100. A seguir, com 85/100, vem o apoio ao fim dos suplentes de senador.

Acabar com as coligações partidárias nas eleições proporcionais marcou 81 pontos de apoio, e a permissão para candidaturas avulsas, ou seja, de pessoas sem filiação partidária nas eleições ficou com 72 pontos num máximo de 100.

Pelo baixo grau de conhecimento prévio das propostas, essas questões configuram o que se chama de imposição de problemática: a maioria dos entrevistados só toma pé do assunto após ser abordado. Isso significa que as taxas de apoio e rejeição estariam sujeitas a grandes variações caso a reforma política fosse popularizada via campanhas publicitárias durante a preparação para um plebiscito, por exemplo.

A pesquisa Ibope/Estado foi feita entre os dias 15 e 19 de agosto. Foram 2.002 entrevistas face a face, na residência dos entrevistados. A pesquisa tem abrangência nacional: foi feita em 143 municípios de todas as regiões do Brasil. Sua margem de erro máxima é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, num intervalo de confiança de 95%.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Concessões terão custo de R$ 70 bilhões

Despesa é resultado de indenizações e subsídios que a União terá que bancar, se forem seguidos os modelos previstos

Valor, maior que todo o investimento público federal de 2012, deverá ser desembolsado nas próximas três décadas

Dimmi Amora

BRASÍLIA - Concessões de rodovias, ferrovias e portos e a reforma do setor de energia deixarão uma conta estimada em R$ 70 bilhões aos cofres públicos nas próximas três décadas, caso executadas como o governo federal planeja.

A despesa --maior que todo o investimento público federal de 2012-- é resultado de indenizações e subsídios que a União terá que bancar se forem seguidos os modelos de concessão ao setor privado (veja quadro ao lado).

Os programas visam ampliar investimentos em infraestrutura e garantir serviços melhores e mais baratos.

O governo defende que os custos, bancados pelos impostos e pelas taxas pagas por toda a sociedade, vão reduzir preços cobrados dos usuários desses sistemas.

Em alguns casos, como o setor de energia, o benefício seria universal. Em outros, será concentrado em grandes companhias usuárias.

Para Eduardo Sampaio, diretor da consultoria FTI Consulting Brasil, os administradores públicos têm ferramentas para calcular custos e benefícios de um investimento, mas que o atual governo tem um viés intervencionista que atrapalha a decisão.

Os novos subsídios já começaram a ser pagos pelo setor elétrico. As concessões de usinas e linhas de transmissão foram renovadas em troca de preços mais baixos de fornecimento, o que levou a desembolsos que podem chegar R$ 30 bilhões.

Isso ocorre porque as concessionárias fizeram ao longo dos anos investimentos não previstos. Um contrato de concessão prevê que tudo o que for gasto precisará ser ressarcido pela tarifa, o que não havia ocorrido.

Ao longo dos anos, os consumidores vinham pagando um pequeno percentual a mais nas contas de energia para bancar o ressarcimento. Mas esse dinheiro, também público, não será suficiente para indenizar as companhias, e o Tesouro bancará uma parte com outras fontes.

Fonte: Folha de S. Paulo

Incompetência e corrupção roubam R$ 1 trilhão por ano do Brasil

É estarrecedor, mas o desperdício equivale ao PIB argentino. Em outras palavras, de cada R$ 100, quase R$ 25 são drenados pela ineficiência, pela informalidade, pela gestão atrapalhada ou pela má-fé. Em uma reportagem especial, o Correio repassa todas as mazelas embutidas no chamado Custo Brasil e mostra que o setor privado não escapa da sangria. O diagnóstico dado pelos especialistas ouvidos é preocupante: como nação, optamos pelo atraso, o que impactará a vida das gerações futuras.

A cada ano, país joga R$ 1 trilhão no lixo

Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, o equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento.

Além de dinheiro, que poderia ser investido em educação, saúde e transporte público, escorre pelo ralo muitas outras oportunidades. O Brasil deixou passar a bonança externa — entre 2003 e 2008, o mundo viveu a sua era de ouro, puxado pelo supercrescimento chinês — sem fazer as reformas estruturais necessárias à economia. Agora, se vê sem capacidade de colher os frutos do bônus demográfico, período único em que as nações usam a sua força de trabalho para se tornarem ricas. De farto e próspero, o país ganha cada vez mais a cara do desperdício.

Não à toa, o Brasil está tomando uma sova de desconfiança. O real, que ostentou, por anos, o status de moeda forte, é hoje a divisa no mundo que mais perde valor ante o dólar. Para piorar, o crescimento médio anual do PIB, de 1,8%, é o menor em 20 anos. A inflação se mantém sistematicamente próxima ao teto da meta, de 6,5%. Os investimentos produtivos minguam e a confiança das famílias está no chão. Mais uma vez, o futuro que nos parecia tão perto toma feições de miragem.

O período de forte crescimento global na década passada, quando havia grande fluxo de capitais e os nossos produtores agrícolas eram muito bem pagos para alimentar o planeta, deu a folga necessária para a administração pública aposentar a incompetência e a ineficiência e entrega serviços melhores, apesar da montanha de dinheiro que os brasileiros depositam todos os meses nos cofres da Receita Federal. Nada foi feito. "Infelizmente, fizemos a opção pelo atraso", resume o economista Paulo Rabello de Castro, presidente do Instituto Atlântico e integrante do Movimento Brasil Eficiente.

Amarras
Nas últimas três semanas, o Correio vasculhou o país para ir além do que se habituou a chamar de Custo Brasil. O resultado encontrado é assustador. As manifestações que tomaram as ruas entre maio e junho surpreenderam muita gente. Mas o desperdício justifica o sentimento de basta. Não é mais aceitável que uma nação com tantos recursos naturais, apontada como o maior celeiro do mundo, jogue no lixo, todos os anos, o equivalente a quase um quarto do PIB nacional. Essa, ressalte-se, é a parte visível dos prejuízos, baseada em estimativas conservadoras, admitem os especialistas.

A falta de cultura de manutenção e de planejamento e um sistema político que facilita os desmandos e os malfeitos se transformaram em barreiras que impedem que tanto dinheiro seja revertido em benefícios à sociedade. Água, energia elétrica, comida — tudo vai fora. "Há também o desperdício moral. Todos esses problemas desmoralizam a capacidade desse eu coletivo, que é a sociedade brasileira, de ter vontade de perseguir a eficiência, a produtividade e o comprometimento com o sucesso", argumenta Rabello de Castro.

A pesada carga tributária é o veículo por meio do qual o governo suga os recursos que serviriam de energia vital para as empresas e para as famílias. Verbas que viram gastos estéreis, jogados em obras que não andam. A ineficiência do Estado, contudo, tem queimado mais que dinheiro, despreza as chances de brasileiros que amargam uma vida de pobreza, impede uma educação formal de qualidade, ceifa vidas em leitos de hospitais sem estrutura.

Um carimbo em tempo hábil pode ser a diferença entre viver e morrer, ao menos para quem depende da saúde pública no interior do país. Em Águas Lindas (GO), distante quase 40 quilômetros da sede do Ministério da Saúde, em Brasília, é comum os pacientes terem de se deslocar para a capital federal em busca de atendimento. Muitos morrem no meio do caminho.

O socorro não pode ocorrer no município porque um dos hospitais da cidade, que deveria ter quase 300 leitos, está abandonado. A licitação para a obra foi embargada devido à corrupção. "É preciso reconhecer que a forma como o Estado contemporâneo atua não é mais capaz de atender as necessidades da população", observa Márcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo. Ele pondera que a forma de organização dos governos está ultrapassada, e encontrar maneiras de pensar e executar políticas públicas é um desafio para o Brasil.

Diante de tanto descalabro, os especialistas são unânimes em um ponto: as ineficiências do Brasil são a maior fonte de riqueza e de oportunidade. Se todos os recursos desperdiçados fossem devidamente aproveitados, o país trocaria a cadeira de emergente por uma de desenvolvido. O PIB potencial, que é a taxa de crescimento possível sem gerar inflação e desequilíbrios, seria bem maior que os 2% ou 2,5% atuais. A população poderia ser beneficiada verdadeiramente com serviços públicos e privados eficientes.

Gula tributária
A carga tributária no Brasil é uma das mais pesadas no mundo. Pelos cálculos do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), o brasileiro trabalhou cinco meses neste ano, até 31 de maio, apenas para pagar impostos. Se fosse na Argentina ou nos Estados Unidos, seriam aproximadamente três meses. Comparado aos anos de 1970, esse tempo dobrou no país. Atualmente, são pagos pelos contribuintes 63 tributos.

Fonte: Correio Braziliense

Aécio Neves visita Barretos em clima de campanha eleitoral


Senador tucano criticou Mais Médicos: ‘importação de profissionais é tapar o sol com a peneira’
 
E emenda: “Não sou de renunciar aos cargos que ocupo”

Sérgio Roxo

BARRETOS (SP) - Apesar da disputa interna com o ex-governador José Serra, o senador Aécio Neves (MG) foi lançado neste sábado candidato a presidente da República pelo PSDB, durante a Festão do Peão de Boiadeiro em Barretos, no interior de São Paulo. Num dia típico de campanha, Aécio posou para fotos com eleitores, usou chapéu de boiadeiro e até montou num touro.

Depois de ser apresentado pelo prefeito da cidade, Guilherme Ávila (PSDB), como "futuro presidente da República", o senador afirmou, no discurso em uma reunião com cerca de 200 correligionários:

- Eu peço a cada um de vocês para iniciarmos a partir de hoje a grande caminhada rumo à Presidência da República.

A fala foi marcada por críticas ao governo da presidente Dilma Rousseff e pela defesa das privatizações realizadas na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em seguida os correligionários, inciaram o coro de "Brasil pra frente, Aécio presidente" e o locutor do evento afirmou:

- Está aí o senador Aécio Neves lançando oficialmente a sua candidatura a presidente da República aqui em Barretos.

O senador, que é presidente nacional do PSDB, tentou negar que já tenha iniciado a sua campanha:

- Estou aqui na condição de presidente nacional do PSDB. Não se trata de lançamento de candidatura porque a lei não permite isso, mas nós não vamos deixar tudo para última hora. Nós vamos construir as nossas ideias e as nossas propostas.

No evento, Aécio teve ao seu lado o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), um dos principais aliados de Serra no partido. Apesar de ter elogiado o mineiro, Aloysio, líder da legenda no Senado, disse que o nome do candidato tucano ainda não está definido:

- No momento, nós não temos candidato a presidente da República.

Deputados federais presentes, porém, afirmaram que o objetivo da atividade era justamente iniciar a campanha de Aécio.

Carlos Sampaio, líder do partido na Câmara, avalia que há poucas chances de se realizarem as prévias:

- Para haver prévia, é necessário que haja dois candidatos e que esses candidatos dividam a direção do partido. Mas os 27 diretórios estaduais são favoráveis ao Aécio.

A escolha do interior de São Paulo para o pontapé inicial da campanha foi estratégica. O estado era o que, inicialmente, mais apresentava resistência ao nome do senador. Aécio fez questão de destacar em seu discurso a liderança dos paulistas dentro da legenda. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, não compareceu, segundo presidente estadual do PSDB, deputado federal Duarte Nogueira, porque tinha "outros compromissos".

Aécio tentou se conter para não ultrapassar os limites da legislação eleitoral e deixou a festa para os aliados. Quando chegou à reunião com os correligionários, houve uma grande queima de fogos. O ex-presidente do PSDB paulista Pedro Tobias vestia uma camiseta em que estava escrito: "Sou Aécio, sou Geraldo".

Uma equipe que trabalha para o marqueteiro Renato Pereira filmou a atividade para exibir nos próximos programas eleitorais do partido. Na Festa do Peão, além de pegar crianças no colo e abraçar visitantes, Aécio andou a cavalo e montou num touro por alguns segundos.

Antes de ir à festa, o senador conheceu o hospital do Câncer da cidade. Uma das unidades do hospital visitada por Aécio, a de atendimento pediátrico, tem o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No local, ele criticou o programa Mais Médicos, do governo federal:

- A importação de médicos é tapar o sol com a peneira. Temos um governo paliativo, que promove soluções midiáticas. Não tenho preconceito quanto a origem dos médicos, o que me causa estranheza é remunerar um governo autoritário (Cuba) e não saber quanto recebem os médicos - disse.

Na sexta-feira, no município de Ribeirão Preto, Aécio se reuniu com líderes políticos da região e afirmou que não pretende renunciar à presidência do partido para disputar uma eventual prévia com Serra. A renúncia é defendida por aliados de Serra, para que Aécio não tenha privilégios na disputa.

- Não costumo deixar os cargos que ocupo - afirmou.

A viagem ao interior de São Paulo é a primeira de uma série que o senador pretende fazer pelo país nos próximos meses para articular sua candidatura à Presidência da República em 2014.

Fonte: O Globo

Cúpula do PSDB nos Estados rejeita prévias e apoia Aécio

Só diretório paulista admite disputa por candidatura presidencial tucana

Entrada de Serra no páreo não sensibiliza dirigentes estaduais, que temem divisão da sigla com consulta

Breno Costa, Gabriela Guerreiro e Ranier Bragon

BRASÍLIA - O atual cenário político interno no PSDB não respalda, nem remotamente, a pretensão declarada pelo ex-governador de São Paulo José Serra de disputar com o senador e presidente tucano, Aécio Neves (MG), o posto de candidato do partido à Presidência nas próximas eleições.

A Folha conversou nos últimos dias com 23 dos 27 presidentes de diretórios estaduais do PSDB.

Nenhum disse considerar Serra o melhor candidato para o partido, e apenas o deputado federal Duarte Nogueira, que dirige a seção paulista da sigla, defendeu claramente a necessidade de realização de prévias no partido para essa definição.

Eduardo Jorge Caldas Pereira, do diretório do DF, e Marcus Pestana, presidente do PSDB mineiro e um dos mais próximos aliados de Aécio, optaram por não responder. Eles entendem que o debate de prévias "inexiste" no partido e defendem o nome do mineiro como consolidado na corrida pelo Planalto.

Tabu
O sistema nunca foi adotado entre os tucanos, embora tenha sido defendido justamente por Aécio em 2009 --sem sucesso, assim como acabou derrotada a candidatura Serra na eleição presidencial do ano seguinte.

"As prévias só dividem o partido", diz o ex-senador Expedito Júnior, presidente do diretório de Rondônia.

Outros três (Bahia, Pará e Paraíba) consideram a realização de prévias apenas na hipótese de Serra lançar formalmente sua postulação à condição de pré-candidato -- o que ainda não aconteceu.

Serra continua em tratativas com o PPS como plano B para o que seria sua terceira corrida presidencial --ele disputou o cargo em 2002 e 2010.

A interlocutores, Aécio descarta as prévias, embora as admita em público para não melindrar Serra, dando a ele expediente para deixar a legenda.

Diante do aceno, Serra cobrou "igualdade de condições", o que eventualmente implicaria a saída do senador da presidência do PSDB.

Sobre essa possibilidade, Marcus Pestana (MG) chegou a se irritar. "Isso é uma mistura de miopia política com autismo político", disse.

Antecessor de Aécio na presidência do partido, o deputado federal Sérgio Guerra, do diretório pernambucano, foi na mesma linha.

"Um (Aécio) já é candidato de todo o partido. O outro é candidato de nenhum. Como é que vai ter condições iguais?", afirma Guerra.

O que serristas desejam é uma ampliação do colégio eleitoral da disputa, com a hipótese de consulta a toda a base de filiados.

Ampulheta
A decisão de Serra sobre sua permanência no PSDB precisa ser tomada até outubro, prazo legal para que mude de partido a tempo de disputar as eleições.

Na consulta aos presidentes de diretórios tucanos, o que se ouviu foi uma valorização do papel já desempenhado por Serra, mas, ao mesmo tempo, um incômodo com o surgimento do debate.

"O Serra tem que entender que o partido precisa desse novo momento", diz o deputado Nilson Leitão, presidente do diretório de Mato Grosso. "O PSDB precisa ter candidato na rua ontem. Não podemos mais brincar com isso dentro do partido."

"Respeito muito o Serra, ele tem uma belíssima história, mas a fila anda", resumiu Artur Bisneto, presidente do PSDB do Amazonas.

"Falando no campo das hipóteses, e se houver uma prévia e o Serra sai arrasado, com 10% dos votos? Ninguém deseja isso, eu não desejo, o Aécio não deseja", diz o deputado federal Luiz Carlos, do Amapá.

Fonte: Folha de S. Paulo

Aécio descarta deixar cargo no PSDB em prévia

Senador afirma que não deixará presidência da sigla se houver disputa interna por candidatura

Pedro Venceslau, João Domingos

BARRETOS e BRASÍLIA - O senador Aécio Neves (MG) afirmou ontem que não vai deixar o comando nacional do PSDB se o partido promover prévias para definir o candidato tucano à Presidência da República em 2014, O mineiro é o nome com. maior apoio na cúpula da sigla para a corrida ao Planalto, mas o ex-governador José Serra (SP) disse cogitar a hipótese de disputar a indicação.

"Fui eleito. Não costumo renunciar aos cargos que ocupo", disse Aécio §0 Estado em Barretos (SP). Em março de 2010, o tucano deixou o governo de Minas para se candidatar ao Senado, Na quarta-feira, em Brasília, Serra disse aos jornalistas que aceitaria participar de prévias, desde que todos os pré-candidatos conheçam as regras e disputem em igualdade de condições.

A viagem de Aécio ao interior paulista - na sexta-feira, ele passou por Ribeirão Preto - foi a primeira etapa de um giro que o senador fara pelo Brasil para consolidar seu nome como candidato ao Planalto, Prefeitos tucanos, deputados estaduais e federais e integrantes do governo Geraldo Alckmin, como o secretário José Aníbal (Energia), acompanharam o mineiro.

A ausência mais sentida foi a do próprio Alckmin. O governador era esperado pela comitiva, mas decidiu não encontrar o senador para não "melindrar" Serra, segundo pessoas próximas. Aécio minimizou a ausência do governador, alegando que "não tinha previsão" sobre a companhia de Alckmin.

No périplo por Barretos, Aécio aproveitou para criticar o governo federal e disse ser "natural" a recuperação da avaliação da gestão Dilma mostrada ontem pela pesquisa Ihope/Estado. Ao visitar o Hospital Infantojuvenil Luiz Inácio Lula da Silva, vinculado ao Hospital do Câncer de Barretos, o senador disse que o programa Mais Médicos seria "tapar o sol com a peneira".

Massas. Enquanto Aécio roda o interior de São Paulo, Serra tenta neutralizar o apoio que o senador tem na cúpula do PSDB recorrendo à militância do partido. Escolhido candidato a presidente da República, a governador e a prefeito mais de uma vez em acordos realizados no primeiro escalão do tucanato, o ex-governador agora aposta no que seus aliados chamam de "massa" de filiados para eventuais prévias da sigla.

A estratégia que Serra tem explicado a seus apoiadores é mobilizar os filiados de Estados-chave, como São Paulo, para constranger a cúpula partidária mais próxima de Aécio na direção nacional e nos demais diretórios estaduais. Para o ex-governador, esse seria o caminho para reverter o favoritismo do senador, já lançado como nome do PSDB ao Planalto pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Esse caminho, porém, tem percalços, e não são poucos. Primeiro, a cúpula do PSDB não está disposta a resolver de forma emergencial a bagunça que é o cadastro de militantes. Embora sejam registrados mais de 1,3 milhão, não se sabe ao certo quantos são os filiados de fato.

Em segundo lugar, a direção do PSDB considera que a realização de prévias é um problema interno do partido, que não deve consumir energias no momento em que a legenda tenta conquistar novos filiados a tempo de tornar vários deles candidatos nas eleições de 2014.

Depois de ter dito na terça-feira que aceita as prévias pedidas por Serra, na condição de que só sejam feitas depois de outubro, Aécio orientou aos dirigentes estaduais a "tocar a vida".

Dobradinha
Ex-presidente do PSDB paulista, o deputado estadual Pedro Tobias acompanhou a comitiva tucana em Barretos usando uma camiseta com a inscrição "Sou Aécio, sou Geraldo".

Fonte: O Estado de S. Paulo

Marina escala políticos de 10 partidos para dirigir a Rede

Dos 34 coordenadores de diretórios estaduais, 21 vieram de outras siglas

Doze já passaram pelo PV, última legenda da ex-senadora; para líder nacional, diversidade faz bem a 'sonháticos'

Paulo Gama

SÃO PAULO - A Rede Sustentabilidade, partido que a ex-senadora Marina Silva trabalha para criar, será dirigida nos Estados por políticos egressos de ao menos dez partidos, que vão do PSDB ao PT, passando pelas chamadas "siglas nanicas", como PTN e PCB.

Entre os 34 coordenadores-gerais dos 17 diretórios estaduais já homologados pela Comissão Nacional Provisória, 21 têm pelo menos uma filiação partidária anterior. Doze deles já passaram pelo PV, última sigla a que Marina foi filiada. Ao menos quatro já trocaram de partido uma vez.

Parte dos dirigentes já esteve dentro da máquina pública, integrando governos municipais, estaduais e federal, em gestões de PSDB, PTB, PSB e PT. Foram, por exemplo, secretários do Meio Ambiente de Cuiabá e Manaus, chefe da Casa Civil do Pará e secretário do Ministério da Cultura no governo Lula.

O ambientalista Pedro Ivo Batista, que coordena nacionalmente a organização do novo partido e é, ele mesmo, ex-petista, diz que a Rede "vê muito bem essa diversidade".

Para ele, como "nenhum partido tinha a sustentabilidade como norte", as pessoas que "pautavam sua atuação nesse tema" estavam dispersas e, agora, se reuniram em torno da Rede. "Boa parte desse pessoal já não tinha participação ativa nos partidos. É um reencantamento com a política", afirma.

A multiplicidade de partidos também é valorizada por outros integrantes. "Imagine encontrar no mesmo ambiente Heloisa Helena [PSOL] e Walter Feldman [PSDB] falando a mesma língua. Só essa cena é impagável", resume o ex-petista Charles Alcântara, sobre os dois membros da Executiva Nacional.

Ele diz que a passagem de dirigentes pela "velha política" tem "um pouco de cada coisa": dá experiência ao partido, mas pode levar ao grupo práticas que contrariem o programa da Rede.

"Não somos acima do bem e do mal. Carregamos erros, não estou imune, exerci o governo. Para vir para a Rede não é preciso ser imaculado, mas estar empenhado com sinceridade em construir algo novo", afirma Alcântara.

O coordenador-geral em Mato Grosso, Archimedes Pereira Lima Neto --que foi secretário municipal do Meio Ambiente de Cuiabá, em gestões do PSDB e do PTB--, concorda. "Os dois modos de enxergar são válidos. Como estou no primeiro, pretendo trazer a experiência", afirma.

Lima Neto se prepara para ingressar em seu terceiro partido. Foi do PV até 2011, quando migrou para o PDT.

Apesar de a maior parte dos dirigentes vir de partidos políticos, Pedro Ivo ressalta que "na base, a grande maioria não vem de nada".

Na organização da Rede, cada diretório estadual tem dois coordenadores-gerais, chamados também de porta-vozes. Na maioria dos casos, foram escolhidos sem uma eleição propriamente dita.

Os dois postos são obrigatoriamente ocupados por um homem e por uma mulher.

A advogada Gisele Uequed, do Rio Grande do Sul, diz que os cargos são uma "formalidade". "Os nomes constam como dirigentes meramente porque a legislação eleitoral exige isso", afirma.

Dez dirigentes já foram testados nas urnas

Entre os 34 coordenadores-gerais dos diretórios estaduais homologados pela Rede, dez disputaram uma das três últimas eleições --todos eles sem sucesso.

Uma das candidatas foi a advogada Gisele Uequed, coordenadora-geral do diretório do Rio Grande do Sul, primeiro a ter o registro aprovado pela Justiça Eleitoral.

Ela já foi às urnas duas vezes. Na primeira, em 2010, concorreu a uma vaga na Assembleia gaúcha pelo PV, mas não foi eleita. Como Marina Silva, diz ter se desiludido com o partido por não ter conseguido "democratizar" sua estrutura interna.

Mudou para o PTN, sigla que, em 1999, recebeu o então prefeito paulistano Celso Pitta no auge dos escândalos que marcaram seu mandato.

"No Rio Grande do Sul o PTN é um partido que não existe direito, tem pouquíssimos diretórios, é diferente de São Paulo. Ele sempre soube que seria um instrumento para apresentação da plataforma que defendo", justifica.

Concorreu à Prefeitura de Canoas. Ficou em segundo lugar, com 15% --27.415 votos.

Ela foi a única candidata ao Executivo. Os outros nove concorreram ao Legislativo, quatro deles a Câmaras Municipais. Os resultados não foram expressivos: Kathiuse Coutinho, por exemplo, recebeu 5 votos na disputa por vaga de vereador em Macapá.

Insucesso nas urnas, contudo, não deve preocupar os dirigentes: o estatuto da Rede proíbe que qualquer filiado com cargo de coordenação exerça mandato eletivo.

Fonte: Folha de S. Paulo

Temporada de caça aos famosos bons de voto

O comprovado desgaste da classe política perante o eleitorado, potencializado após as manifestações que sacudiram o país em junho, levou os partidos a procurarem candidatos alternativos para as eleições de 2014. Apesar de não ser um fenômeno recente, a busca por nomes "mais arejados" visa a atrair a simpatia dos brasileiros. Vale convidar atletas, ex-jogadores, cantores e empresários de sucesso — esses últimos, bons para ajudar no financiamento das campanhas.

Em alguns casos, o movimento serve também para suprir a total incompetência dos partidos de criar candidatos competitivos. É o caso do PSDB do Rio de Janeiro, por exemplo. Sem um nome forte para disputar o governo estadual e dar um palanque para o presidenciável Aécio Neves (MG), o partido tentou, em um primeiro momento, filiar o apresentador de televisão Luciano Huck. Não deu certo. Ele agradeceu, mas respondeu que preferia seguir contribuindo para melhorar o país em seu programa semanal. A aposta mais recente é a filiação do treinador da Seleção Brasileira de vôlei masculino, Bernardinho.

O técnico já é famoso como palestrante motivacional, contratado por grandes empresas. Agora, pode ser a alternativa para os tucanos disputarem com um nome palatável o governo fluminense. O problema é que, até o momento, o treinador apenas filiou-se. Ele não deu qualquer garantia se será candidato, mesmo porque as Olimpíadas de 2016 serão disputadas no Rio de Janeiro.

Em Minas, os tucanos também sondaram o ex-jogador de vôlei Geovane Gávio. Técnico desempregado — ele dirigiu o time do Sesi nas últimas edições da Liga Nacional —, Geovane também poderia ser uma alternativa à Câmara ou, até, ao governo mineiro, já que o atual governador, Antonio Anastasia, não poderá concorrer, pois já foi reeleito para o cargo.

No Rio, o PR também está montando uma chapa que considera promissora. A primeira filiação foi a do eterno puxador de samba Neguinho da Beija-Flor. A aposta é que ele terá uma excelente votação em Nilópolis e em outras cidades da baixada fluminense. O partido também, na surdina, tirou Romário do PSB. O deputado fez 180 mil votos nas últimas eleições. A expectativa é que, após quatro anos na Câmara e com uma atuação de destaque na Comissão de Esportes da Casa, ele possa chegar aos 300 mil votos.

Os socialistas, que tiveram uma relação conturbada com o Baixinho — ele sempre ressaltou a ausência de diálogo com o presidente nacional da legenda, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos — ainda não decidiram se pedirão ou não o mandato de Romário por abandono de partido. Animado com a nova casa, Romário tem até pensado em voos mais altos para 2014. Uma liderança do PR confidenciou que a péssima fase do governador do Rio, Sérgio Cabral, tem feito o ex-centroavante da seleção cogitar a hipótese de candidatar-se ao Senado. A única certeza é a disposição para disputar a prefeitura do Rio em 2016.

O PR já havia adotado essa tática na eleição anterior, quando filiou o palhaço Tiririca em 2010 e este foi eleito com mais de 1 milhão de votos, ajudando a eleger outros parlamentares graças ao sistema de coligação. Com atuação discreta no Congresso, alternando momentos de depressão com os rumos da política e outros de elaboração de planos futuros, Tiririca foi blindado recentemente pela direção nacional do PR para alçar voos mais ambiciosos no ano que vem.

Ídolos do futebol
Esse movimento não é restrito apenas ao Rio de Janeiro. Em São Paulo, o ex-prefeito e presidente de honra do PSD, Gilberto Kassab, mergulhou no universo futebolístico no primeiro semestre. Antes mesmo das manifestações de junho, ele já havia sondado o ex-goleiro do Palmeiras Marcos — que se aposentou no início do ano passado — e até o goleiro do São Paulo, Rogério Ceni. Nenhuma das duas conversas evoluiu, embora sejam apostas de candidaturas com força suficiente para atrair votos de duas grandes torcidas. Nem sempre dá certo. Ídolo do Corinthians, o ex-jogador Marcelinho, por exemplo, jamais foi um fenômeno de votos.

O PMDB, partido que se gaba da capilaridade em todo o país, tem buscado privilegiar empresários de destaque ou presidentes de associações para atrair votos e, mais importante, dinheiro para financiar as campanhas. Em Goiás, o partido filiou José Batista Júnior, o Júnior da Friboi — maior empresa de carne bovina do mundo, mais conhecida pela propaganda da tevê com o ator Tony Ramos. Em São Paulo, o partido deve lançar o presidente da Federação das Indústrias do estado (Fiesp), Paulo Skaf, embora ainda não haja garantias de que ele tenha votos suficientes para se eleger.

O PTB ainda está procurando alternativas no mercado. O partido já filiou o cantor sertanejo Frank Aguiar, atual vice-prefeito de São Bernardo na chapa do petista Luiz Marinho. O Solidariedade, partido que está sendo organizado pelo deputado e sindicalista Paulo Pereira da Silva (PDT) — que pode começar a atuação política com pelo menos 18 deputados —, desdenha dessa estratégia dos adversários. "Política se faz com políticos", afirmou o presidente interino da Solidariedade, Marcílio Duarte.

Caça aos famosos
Quem são as celebridades na alça de mira dos partidos para puxar votos em 2014
PSDB
» Bernardinho no Rio de Janeiro
» Geovane Gávio em Minas Gerais
PR
» Romário no Rio de Janeiro
» Neguinho da Beija-Flor no Rio de Janeiro
» Tiririca em São Paulo
PSD
» Rogério Ceni em São Paulo
» Marcos em São Paulo
PMDB
» Júnior da Friboi em Goiás
» Paulo Skaff em São Paulo

A arriscada carona nos protestos

Buscam-se alternativas de candidatos mais simpáticos à população, os partidos também têm aproveitado a propaganda de rádio e televisão para tentar uma aproximação com as manifestações de junho. A tática é arriscada, já que as agremiações políticas foram rechaçadas durante os atos que sacudiram as ruas há dois meses. PDT, PV e outras legendas menores fizeram alusões às passeatas e garantiram "estar irmanados com os protestos".

O PMDB fez o caminho inverso. Acuado por manifestantes que mantêm há dias um acampamento em frente ao edifício em que mora o governador do Rio, Sérgio Cabral, o partido tirou o governante e o vice, Luiz Fernando Pezão, da propaganda partidária. A justificativa oficial é evitar a imagem de campanha antecipada — Pezão deve ser o candidato do partido ao governo fluminense em 2014. Mas a estratégia serve para blindar os dois peemedebistas — e o próprio partido — das críticas dos brasileiros.

Para o cientista político da Tendências Consultoria Rafael Cortez, é cedo para saber se a tática dos partidos surtirá ou não efeito. "Eles querem politizar um debate que não envolvia questões partidárias", lembra ele. Rafael acrescenta que não foi apenas a pressão pela ausência de bandeiras de partidos nas manifestações que ficou na memória dos brasileiros. A reação dos governos às passeatas também ajuda a diminuir a simpatia das pessoas com as instituições políticas. "No momento em que foram confrontados diretamente, os governos de PT, PSDB e PMDB agiram com violência. A cartilha adotada foi a mesma", ponderou Cortez. (PTL)

Fonte: Correio Braziliense

PMDB 'convoca' Paes para ajudar na sucessão de Cabral

Wilmn Tosta

RIO - Com o governador Sérgio Cabral desgastado por manifestações que chegaram a pedir seu impeachment, o comando do PMDB no Rio resolveu recorrer ao prefeito Eduardo Paes, também peemedebista, para promover a pré-candidatura do vice-governador Luiz Fernando Pezão à sucessão estadual.

Paes, segundo o presidente estadual do partido, Jorge Picciani, vai intensificar as agendas de rua ao lado de Pezão na capital, como já fez no fim da semana passada na zona oeste. Ao que tudo indica, Cabral adotará atitude mais discreta em eventos no Rio para não "contaminar" seu vice.

A participação do prefeito ao lado de Pezão não é novidade, mas, avisa Picciani, será intensificada. "A novidade é gastar umpouco mais de sola de sapato", declarou. "Como coordenador de campanha do PMDB, começo a colocar na rua a força política do partido", disse.

Com as manifestações do fim do primeiro semestre, a popularidade de Paes, como a de outros governantes, caiu. Porém, mesmo com o tombo de 20 pontos percentuais detectado pelo Ibope, sua situação é melhor que a de C abral, que, além de despencar nas pesquisas, virou alvo da campanha "Fora, Cabral".

Assim, o PMDB, que administra tanto o Estado quanto a prefeitura do Rio, aparentemente mudou de estratégia: Paes passa a ser o principal cabo eleitoral de Pezão na capital. O governador, no entanto, tem levado o vice a cidades da periferia e do interior, onde seu desgaste é menor do que na capital fluminense.

Desgaste. A popularidade de Paes, porém, começa a ser testada em maior profundidade. Um dos desafios é a greve dos professores municipais, categoria com tradição de organização de mais de 30 anos, que promove protestos quase diários contra Paes e Cabral.

Moradores de comunidades afetadas por obras da prefeitura também têm direcionado suas reclamações ao prefeito. No fim de semana passado, promoveram vigília de 17 horas na porta da sua residência oficial, na Gávea Pequena, protestando contra remoções.

Apesar de contar com apenas um membro da oposição, outra possível fonte de desgaste para Paes é a CPI dos Ônibus da Câmara Municipal, que teve início na semana passada. Curiosamente, mesmo os manifestantes que ocuparam o Legislativo municipal por 12 dias pediram a saída do governador do cargo.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Razões para um mundo fora do eixo - Luiz Werneck Vianna

Afinal a política nos voltou, em cima, por baixo, em toda parte, nas ruas e fora delas, no Congresso, no Judiciário, em todas as mídias, mas retoma, como se vê, fora do eixo, descentrada, horizontalizada e descrente do papel das instituições. Duas décadas de empenho das lideranças políticas e sociais, principalmente do partido hegemônico na esquerda brasileira, o Partido dos Trabalhadores (PT), em instituir os objetivos da modernização econômica e da expansão da renda como determinantes na política estatal toldaram a vista para a percepção do que mudava nas esferas da política e da sociedade civil.

O econômico tomou-se o foco privilegiado de todas as atenções, de que é exemplar o número de publicações especializadas a ele dedicadas e a expansão desse tema no noticiário de todas as mídias. O bordão de um publicitário americano - "é a economia, estúpido" - usado na campanha presidencial de Bill Clinton ganhou foro de verdade incontroversa também entre nós nas interpretações sobre as disputas eleitorais, pretendendo significar que um bom resultado em termos de indicadores econômico-financeiros bastaria para atestar a aprovação do eleitorado a uma candidatura ao governo.

O economicismo, antes malsinado como uma perspectiva reducionista e empobrecedora na analise dos fenômenos sociais, ganhou, no curso desses anos, galas acadêmicas e prestígio entre os analistas da cena pública, com os mais afoitos concebendo a irrupção de uma nova classe média a partir de critérios de renda e de consumo, mesmo que nesses cálculos incluíssem rendimentos auferidos em razão de programas sociais, como os do Bolsa Família, e fossem ignorados outros marcadores clássicos, como educação e acesso a bens culturais.

Sob a inspiração desastrada dessa sociologia, que, a bem da verdade, não nos veio de sociólogos, criou-se uma nova classe média de disneylândia, legião multitudinária na imaginação dos seus formuladores, incrustada em posição dominante no centro político, vindo a garantir ponto seguro de estabilização ao nosso sistema político. Ao operador político, legatário dessa presumida descoberta, cumpria garantir, quiçá ampliar, os programas assistenciais e promover de modo contínuo o consumo de massas, à custa de exonerações fiscais da indústria de determinados bens, e usufruir o retomo, a cada sucessão presidencial, dos votos desse centro político criado pela literatura.

As jornadas de junho e as que se seguem, prometendo encorpar nas festas de celebração do 7 de Setembro, jogaram por terra essas fabulações. E a esta altura vai procurar em vão quem quiser localizar, nesse mundo fora do eixo, o paradeiro do centro político brasileiro e a quantas anda o comportamento do que seriam as novas classes médias brasileiras, com a emergência de protestos especificamente populares com seus temas próprios, como habitação e mobilidade urbana, muitos deles - não se pode ignorar o fato, que se tem preferido esconder embaixo do tapete - sob a influência de partidos e grupos da ultraesquerda brasileira.

O deslocamento da razão política pelas artes calculadoras da economia, resultado a que chegamos quase sem sentir, embalados pelo pragmatismo sem princípios que se fez dominante, deixou em sua esteira uma conseqüência nefasta: a ruptura com a cultura política que medro unas lutas pela democratização do País e se encorpou no processo constituinte da Carta de 88. Aquele foi um tempo de reflexão e de tomada de decisões acerca de sob que instituições deveríamos viver, quando decidimos que nossa democracia política deveria combinar as formas de representação com as de participação, criando, a fim de efetivar esta última, um rico repertório, indo do controle de constitucionalidade das leis por provocação de entidades da sociedade civil aos conselhos, entre outros, os de saúde e os de educação, em que a vida social se deveria fazer presente.

Tais conselhos estão aí, embotados, entregues a um marasmo burocrático, sem luz própria, quase invisíveis, a maioria prisioneira das políticas do Poder Executivo, federal, estadual ou municipal, destituídos de autonomia. O próprio Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, uma criação do governo Lula a fim de envolver amplos setores da sociedade civil na esfera pública, caiu no vazio, convertido numa instituição de carimbo da política oficial, longe de ser uma arena de deliberação.
Tais resultados não podem ser atribuídos à fraqueza da sociedade civil, pois são decorrentes de uma política de governo que deliberadamente evitou esse caminho promissor. Por definição, a política de modernização pelo alto é decisionista e refratária à auto-organização da vida social.

Nada mais esclarecedor do que um fato produzido no mundo sindical, território de origem do PT, quando, em fevereiro de 2005, o ministro do Trabalho, o sindicalista e militante do PT Ricardo Berzoini, encaminhou à Presidência da República, após deliberações do Fórum Nacional do Trabalho, uma proposta de emenda constitucional de reforma sindical fundamentada na necessidade de tomar "a organização sindical livre e autônoma em relação ao Estado". Essa emenda, inspirada no sentido de animar a vida associativa dos trabalhadores, não só foi engavetada, como sucedida pela lei que destinou parte da contribuição compulsória às centrais sindicais, fortalecendo seus vértices diante de suas bases.

As jornadas de junho não se voltaram contra as instituições da nossa democracia, mas contra políticas públicas, em especial as de transportes, saúde e educação, problemas palpáveis que remetem ao anacronismo desse Estado que aí está, postado assimetricamente diante da sua sociedade, simulando encarnar em si seus anseios e expectativas, e que entregou sua alma a potências que não controla, na ilusão de que, quando quiser, pode retomá-la.

*Professor-pesquisador da PUC-Rio

Fonte: O Estado de S. Paulo

É preciso ser otimista, não se pode viver de outra maneira, não é? - Alberto Goldman

Estava terminando a leitura de um livro, “Irmãos”, de um autor americano, que procura desvendar a história dos Kennedy –John, o presidente assassinado, e Robert, seu irmão, que fora o procurador geral do governo dos EUA, depois senador e candidato nas primárias para a indicação para disputar a presidência quando foi também assassinado – e anotei, ao final, duas frases que Robert disse durante uma entrevista a um programa de TV.

A primeira foi ao responder por que ele ainda estava na arena política diante das circunstâncias tão terríveis de ter assistido ao assassinato do irmão sem que até então – e mesmo até agora – o mesmo tivesse sido solucionado e diante da podridão moral em que se encontrava o país que se envolvia em guerras absurdas que consumiam milhares de vidas. Robert disse que não era um sacrifício. “As pessoas mais infelizes do mundo são aquelas preocupadas apenas consigo mesmas”,disse.

A segunda quando o entrevistador perguntava se ele era um otimista. Anuiu com a cabeça e disse: “Apenas porque não se pode viver de outra maneira, não é?”

Foram duas frases de um homem de caráter, sério, preocupado com o ser humano e com o seu país.

Logo em seguida me dediquei à leitura dos jornais do dia e me deparei com uma declaração do nosso Lula, no Acre, em que ele falava de patriotismo dizendo que só ter visto as pessoas cantarem o hino estadual com fervor no Acre e no Rio Grande do Sul, e saiu-se com essa:“Pergunte ao governador de São Paulo se ele sabe cantar o hino de São Paulo que ele não sabe”. Uma provocação gratuita fazendo aquilo que ele sabe – e só isso – fazer.

Nada tem a ver uma coisa com outra mas algo me fez retornar à leitura daquelas declarações de Robert Kennedy em sua entrevista. Mas que diferença! A pequenez do intelecto de um Lula em confronto com o senador assassinado. Que tristeza. O que o Lula vai deixar na nossa história como valores a serem seguidos pelas novas gerações? Alguém ainda consegue vê-lo preocupado com algo que não seja ele mesmo?

Mas, é preciso ser otimista, não se pode viver de outra maneira, não é?

Alberto Goldman, vice- presidente nacional do PSDB

A flor de lótus - Gaudêncio Torquato

Bismarck, o maior estadista alemão do século 19, dizia que "nunca se mente tanto como antes das eleições, durante uma guerra e depois de uma pescada". O motivo é patente: o clima desses momentos favorece a glorificação dos interlocutores, sejam atores em contenda eleitoral, países em conflito com outro (quem não se lembra da versão argentina logo no início da Guerra das Malvinas?) ou pescadores falando dos peixes fisgados. Já na esfera política, como dizia José Maria Alkmin, a mais felpuda raposa do velho PSD mineiro, ministro da Fazenda de Kubitschek, aversão é mais importante que o fato. Pois é ao que estamos a assistir no desfile de hipóteses envolvendo eventuais candidatos presidenciais, algumas razoáveis,: umas tantas beirando os limites i do exagero e outras margeando j o terreno da obviedade.

O painel mostra, por exemplo, que a ex-senadora Marina Silva - a pré-candidata que mais se aproxima da primeira colocada na disputa, Dilma Rousseff - abre um leque de abordagens. De um lado, aparece como candidata das ruas, perfil identificado com a renovação da política; de outro, suscita dúvidas relacionadas à dificuldade de criar até outubro seu partido, o que tomaria a candidatura inviável; por último, a hipótese de que, mesmo vitoriosa, não teria condições de governar por falta de apoio político. Analisemos tais posições.

A ex-seringueira acriana é a pré-candidata mais asséptica na borrada estampa política. A imagem decorre de forte militância na frente da sustentabilidade. Firmou-se ao longo do tempo como baluarte em defesa do meio ambiente, a partir de grande identificação com a causa amazônica. À fragilidade de um pequeno corpo que já padeceu de graves doenças - hepatite, malária, metais pesados no organismo, cirrose e fígado destruído-se contrapõe um espírito aguerrido, determinado e iluminado por luzes éticas que se refletem na decisão de formar uma organização sem os vícios da vida partidária. Até a designação Rede Sustentabilidade soa como fonética que destoa da combinação de iniciais para nomear partidos e tendências. Some-se à semântica diferenciada uma estética que está mais para irmã Dulce ou madre Tereza de Calcutá do que para o conjunto feminino bem arrumado que habita o edifício da política, a começar da própria presidente da República. Cabelo preso em coque e vestidos quase sempre escuros deixam impressa a marca evangélica, que a eleva ao púlpito de combativa pregadora. A aura mística impõe respeito.

Por que tal imagem, mais parecendo um logotipo a destoar da fosforescência midiática, faz tanto sucesso? Exatamente pelo jogo dos contrários que sugere. Transparece como uma flor de lótus buscando luz no meio do pântano político, ainda mais quando este passa a ser revirado por vassouras éticas na faxina para passar o Brasil a limpo. Impregna-se do simbolismo que agrega elementos de perfeição, pureza e elevação espiritual. Com essa aura ganhou quase 20 milhões de votos, chegando em terceiro lugar na campanha presidencial de 2010. A hipótese de expandir o bomal de sufrágios em 2014 ganha consistência por se identificar com as ruas que clamam pela inovação dos costumes políticos. É o que se infere de pesquisas que mostram a ambientalista como a única que tem avançado firme de um mês para outro.

Se o caldeirão social continuar efervescente, com manifestações tomando cidades médias e grandes e chegando a margens eleitorais, não é improvável que Marina continue a subir no ranking de prestígio e intenção devoto. Ela, e não o candidato de oposição, se apresenta como contraponto ao status quo, identificado com a barbárie política. Seu trajeto será, porém, cheio de curvas, apontando-se logo a dificuldade de criar a Rede até outubro. Pediu registro do partido em mais de dez Estados, tendo apresentado 830 mil assinaturas aos cartórios eleitorais, mas apenas 250 mil foram certificadas. A ex-senadora queixa-se da lentidão dos cartórios.

Mais uma armadilha embaralha a Rede. O maior número de seus adeptos integra as faixas jovens, exatamente o eleitorado mais refratário às umas. Vale lembrar que há no País 40 milhões de eleitores de 18 a 30 anos de idade. Entre os jovens de 16 a 24 anos, Marina, segundo pesquisas, tem hoje 31% e Dilma, 27%. Já no caso dos eleitores com nível de ensino superior a diferença é bem maior: Marina soma 33% ante apenas 19% de Dilma. No instante em que mais precisa do apoio da juventude para se legitimar o partido se vê às voltas com o imbróglio: falta de registro dos mais jovens e de idosos, os primeiros por nunca terem votado, os segundos por não terem votado recentemente. Se ultrapassar essa barreira, a candidatura pode " se firmar, o que não significará menos percalços. O novo partido disporia de tempo exíguo para dar visibilidade à candidata, algo menos que dois minutos.

A lógica aponta para sua "canibalização" por atores das grandes coligações, que disporão de grande poder de fogo. Os marineiros argumentam que contam com o cacife da nova ordem instalada no País, animada pela banda de música das redes sociais. Imaginam que mídias alternativas quebrarão o monopólio de mídias massivas. Difícil apostar na hipótese. Mas o imponderável tem baixado por essas plagas.

Quem não tem bala perde a guerra. O chiste é também usado na política. E a grana para correr o Brasil, promover mobilizações, instalar palanques, arregimentar cabos eleitorais, arrumar parceiros e candidatos estaduais? A Rede já avisou que dispensa doações de empresas. Espera que seus simpatizantes sustentem a mais renhida campanha da atualidade? Huum...

Pé de página: digamos que Marina Silva se eleja. Chegaria, então, a hora de a onça amazônica beber água na fonte dos pragmáticos. Haveria o suficiente para não morrer de sede? Governaria sem o toma lá dá cá? Sonháticos acham que sim. Pragmáticos acham que não. Cada qual com seu bordão!

*Jornalista, professor titular da USP, é consultor político e de comunicação

Fonte: O Estado de S. Paulo

O Brasil imaginado – Merval Pereira

Talvez o Brasil precise de um pouco mais de mau humor e receio do futuro para realizar suas utopias, como comentou o historiador José Murilo de Carvalho, coordenador do ciclo de palestras "Futuros do presente: o Brasil imaginado", em que a Academia Brasileira de Letras vem debatendo os diversos aspectos do nosso projeto de país.

O ex-presidente e acadêmico Fernando Henrique Cardoso abriu a série, destacando a importância do soft power no mundo atual, seguido pelo ministro interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e presidente do Ipea, Marcelo Neri, que falou sobre o futuro social do país, e pelo professor da USP Jacques Marcovitch, que abordou o futuro internacional. O ciclo se fecha na terça-feira, com a palestra do escritor Silviano Santiago, prêmio Machado de Assis 2013 da ABL, sobre o futuro cultural.

O comentário de José Murilo se deveu a dois tópicos dessas palestras, pois Neri ressaltou que o Brasil é heptacampeão em felicidade futura, de acordo com pesquisas em 160 países, e Marcovitch, que os países que mais se destacaram nos últimos anos na capacidade de enfrentar a crise econômica e de se readaptar ao novo mundo multipolar têm, entre as características comuns, a consciência dos riscos que correm, "uma sensação de risco que leva a que pensem estrategicamente".

Neri separou os grandes avanços alcançados pelo país nos últimos 50 anos por décadas, ressaltando uma curiosidade: todas as grandes transformações ocorreram em anos terminados em 4: o golpe de 1964, inaugurando um período de crescimento econômico, com aumento da desigualdade e falta de liberdades; em 1974, depois do choque do petróleo no ano anterior, começa a abertura política; processo lento que atinge o ápice em 1984 com a campanha das "Diretas Já", iniciando a década da redemocratização, mas da instabilidade política e econômica.

As décadas seguintes foram a da estabilização, com o Plano Real em 1994, e a da redistribuição de renda e queda da desigualdade, a partir de 2004, com a eleição de Lula no ano anterior, e o surgimento do que ele chamou de "a nova classe média". "Agora, temos as manifestações e não sabemos o que esperar para 2014", ressaltou, salientando que as reivindicações das ruas refletem as prioridades brasileiras atuais: melhoria na saúde e educação, e combate à corrupção.

Dar mais acesso aos serviços do estado, este deve ser o objetivo do futuro: "Colocamos uma massa de brasileiros no mercado, e agora temos que dar mais mercado para essas pessoas". Neri chamou a atenção para novas pesquisas que mostram que, embora a felicidade e a renda tenham correlação muito próxima, no Brasil ela é menos forte.

"Somos felizes como fator cultural, o otimismo é nossa característica", disse, citando uma pesquisa sobre a satisfação com a vida nos próximos 5 anos, na qual o Brasil se sagrou o "heptacampeão mundial de felicidade futura".

Já Marcovitch salientou a necessidade de o país ter visão estratégica para alcançar seu lugar no futuro, que deve ser "nossa luta de todos os dias".

Marcovitch buscou países que "podem ajudar a pautar nossa agenda de construção do futuro" entre aqueles que têm conseguido melhorar sua situação no período de 2008 a 20012, apesar da crise. Países que do ponto de vista do bem-estar, de segurança, de inovação, de capacidade de integrar vários segmentos sociais, conseguem superar os problemas.

Entre eles, Austrália, Israel, Holanda, Hong Kong, Coreia, Singapura. Eles têm algumas das melhores universidades, "o que revela a preocupação com as próximas gerações, com a inovação, com as humanidades, a cultura".

Esses seriam "estados estratégicos", países com capacidade de inovação tecnológica. Alguns deles, apesar de permanentemente ameaçados, conseguem se manter no topo da lista por terem consciência dos riscos que correm - riscos ambientais, de segurança, econômicos.

São países que têm forte identidade cultural e se destacam pela qualificação de sua governança. Marcovitch destacou "a capacidade de perceber e de transmitir a seus cidadãos as perspectivas reais dos riscos que esses países correm. Essa consciência de risco passa a se constituir em uma agenda de prioridades".

O Brasil, pela sua dimensão continental, precisaria criar mais espaços de reflexão fora do centro-sul, e pensar seu futuro a partir das especificidades de suas regiões: "A construção do futuro depende da conexão entre academia e sociedade na construção de um sonho, de uma utopia".

Fonte: O Globo

Avião negreiro - Eliane Cantanhêde

Ninguém pode ser contra um programa que leva médicos, mesmo estrangeiros, até populações que não têm médicos. Mas o meio jurídico está em polvorosa com a vinda de 4.000 cubanos em condições esquisitas e sujeitas a uma enxurrada de processos na Justiça.

A terceirização no serviço público está na berlinda, e a vinda dos médicos cubanos é vista como terceirização estatal --e com triangulação. O governo brasileiro paga à Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), que repassa o dinheiro ao governo de Cuba, que distribui entre os médicos como bem lhe dá na veneta.

Os R$ 10 mil de brasileiros, portugueses e argentinos não valem para os que vierem da ilha de Fidel e Raúl Castro. Seguida a média dos médicos cubanos em outros países, eles só embolsarão de 25% a 40% a que teriam direito, ou de R$ 2.500 a R$ 4.000. O resto vai para os cofres de Havana.

Pode um médico ganhar R$ 10 mil, e um outro, só R$ 2.500, pelo mesmo trabalho, as mesmas horas e o mesmo contratante? Há controvérsias legais. E há gritante injustiça moral, com o agravante de que os demais podem trazer as famílias, mas os cubanos, não. Para mantê-los sob as rédeas do regime?

E se dez, cem ou mil médicos cubanos pedirem asilo? O Brasil vai devolvê-los rapidinho para Havana num avião venezuelano, como fez com os dois boxeadores? Olha o escândalo!

O Planalto e o Ministério da Saúde alegam que os cubanos só vão prestar serviço e que Cuba mantém esse programa com dezenas de países, mas e daí? É na base de "todo mundo faz"? Trocar gente por petróleo combina com a Venezuela, não com o Brasil. Seria classificado como exploração de mão de obra.

Tente você contratar alguém em troca de moradia, alimentação e, em alguns casos, transporte, mas sem pagar salário direto e nem ao menos saber quanto a pessoa vai receber no fim do mês. No mínimo, desabaria uma denúncia de trabalho escravo nas suas costas.

Fonte: Folha de S. Paulo

Alvo móvel - Denise Rothenburg

Todos os grandes partidos, sem exceção, estão mergulhados em pesquisas qualitativas para entender o que vai na alma do maior segmento social do país, a classe C. A ordem é descobrir o que eles pensam, como vivem, o que mais lhes importa na vida. O esforço faz sentido. A classe C é que decidirá a eleição no ano que vem. E, pelo que se descobriu até agora, essa parcela, que representa 54% da população brasileira, não é muito sintonizada nos partidos políticos. Só 5% têm simpatia por alguma das 30 agremiações registradas hoje no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O PSB, por exemplo, teve acesso a dados que políticos e publicitários vão começar a trabalhar. As famílias têm renda per capita que varia de R$ 300 a R$ 999. Os "cês" se relacionam com os vizinhos (coisa que não se repete nas classes A e B). Na maioria das casas dessas famílias, a comandante é a mulher, enquanto o marido é o provedor. Ele leva o dinheiro para dentro de casa, mas quem determina como gastar e onde é a "patroa", responsável pelo dia a dia da administração doméstica. Para se ter uma ideia, os estudos indicam que 95% dos maridos preferem, na maioria das vezes, mudar de opinião do que brigar com a mulher.

Um dos valores mais caros para esse grupo é a educação, o sonho de ver os filhos formados e com uma vida mais tranquila em termos financeiros. Os filhos são mais instruídos do que os pais, acessam a internet e, por conta desse grau de instrução melhor, acabam influenciando os demais familiares na hora de escolher candidatos. É aí que muitos estudiosos começam a explicar, por exemplo, parte do expressivo percentual de intenção de votos registrado em favor da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva. Marina tem votos entre os jovens e, pelo menos na classe C, esses jovens influenciam a escolha dos pais.

Mas não é apenas o sonho da juventude que embala os "cês". Eles são pragmáticos. E perdem o humor com o tempo perdido nos deslocamentos para o trabalho, ou seja, anseiam por projetos de mobilidade urbana. Na eleição municipal paulistana, os "cês" — em sua maioria cristãos, com prevalência dos evangélicos — ajudaram a sustentar os altos índices em favor de Celso Russomanno, do PRB, ao longo da campanha. Bastou Russomanno aparecer com a proposta da tarifa de ônibus proporcional para que os índices nesse segmento esfarinhassem. Ainda que o candidato insistisse que as pessoas pagariam menos, os "cês" entenderam que eles pagariam mais pelo deslocamento. Isso porque eles estão em bairros distantes do centro nervoso das cidades.

O pragmatismo da classe C não admite sequer a sopa de números que os candidatos costumam levar aos horários eleitorais. PIB, inflação, percentual de médicos por habitante, indicador em alta no momento por conta da chegada dos médicos cubanos. E descobriram o consumo. Só que, em vez das marcas mais famosas, optam pelas concorrentes delas. No caso das maquiagens, por exemplo, as mulheres consideram investimento na carreira profissional, especialmente as jovens.

Quanto à reforma política, tão em alta nas discussões congressuais, os "cês" não se mostram muito antenados. Tampouco perdem tempo com expressões do tipo pacto federativo, voto proporcional, distrital, ou coisa que o valha. O que desejam, sinceramente, é ver o eleito "agarrado no serviço", ou seja, projetos de educação, postos de saúde funcionando a contento, sistema de transporte eficiente e, para completar, sossego e segurança para curtir o fim de semana. Quem der a eles essas esperanças, terá meio caminho andado para ser feliz em outubro de 2014.

Por falar em esperanças...
O fato de o PSB estar tão aplicado nesses estudos é mais um sinal de que Eduardo Campos será candidato a presidente. E, por incrível que pareça, o PT pernambucano torce para que o governador concorra ao Planalto, porque considera que, assim, será mais fácil derrotá-lo na campanha estadual. Os petistas consideram que, se o PSB estivesse inclinado a apoiar Dilma, Eduardo exigiria o apoio do PT a um candidato de seu partido no estado. E, em nome da aliança nacional, restaria aos partidários da presidente aceitar a proposta do PSB. Para você ver, leitor, nem todas as construções de Lula, que trabalha em favor do apoio de Eduardo a Dilma, unem o PT.

E no PSDB...
Perguntei ao ex-presidente do partido João Pimenta da Veiga se ele havia se mudado com a família para Minas Gerais com o intuito de ser candidato a governador. Vejam o que ele respondeu: "É uma especulação que você está fazendo e não posso impedi-la de fazer". Para bons entendedores, Pimenta está na pista.

Fonte: Correio Braziliense

Sobressaltos - Dora Kramer

No dia seguinte ao mais vigoroso embate entre os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski durante o julgamento do mensalão, o mundo pareceu vir abaixo no Supremo Tribunal Federal e cercanias republicanas.

Uma semana depois, na última quinta-feira, o colegiado enfrentou várias divergências no exame dos embargos de declaração dos condenados em clima de cordialidade total.

Isso sem que nenhum dos dois contendores tenha retirado uma só palavra, recuado num só gesto ou revisto decisão alguma. Tudo voltou ao normal mediante a articulação de uma saída honrosa para todos: Barbosa baixou o tom, mas reafirmou seu papel de zelador do cumprimento de prazos razoáveis à conclusão dos trabalhos; Lewandowski agradeceu a solidariedade recebida e considerou o caso superado; Celso de Mello, o decano, registrou que a Corte viu gravidade institucional no caso.

E foi só. Vida que segue até a próxima crise. Se é que podemos chamar de crise esse e outros tantos episódios de contraditórios nos Poderes. Legislativo, Judiciário e Executivo se estranham com a mesma frequência com que essas escaramuças são traduzidas com um tom de exacerbada inquietação que não corresponde ao real nível de beligerância dos fatos. Ademais, rapidamente esquecidos.

Basta uma opinião divergente ou um posicionamento diferente do esperado por uma das partes para que se configure a leitura de "crise". Assim ocorre se um aliado resolve sair de debaixo das asas do govemo para tentar voo solo, se a base de sustentação no Legislativo resolve adotar algum grau de autonomia, se o Supremo cumpre seu papel de dar às leis a interpretação ordenada pela Constituição ou se a sociedade sai da apatia e reclama o que lhe é de direito.

Apenas alguns exemplos de uma lista robusta de atos vistos como extraordinários para, em seguida, se incorporarem ao cenário como o que realmente são: expressões da normalidade inerente ao exercício do contraditório.

Anormais, portanto, não são os embates. Fora do prumo é a perda de tempo com o sobressalto que de imediato superdimensiona a realidade, mas em geral cede à interferência do bom senso sem discutir a razão do alarme falso. Isso não é bom: banaliza a gravidade.

De fachada. Quem conhece as artes e as manhas do PMDB desenha duas rotas para o partido em 2014: ou aprova a renovação da aliança com o PT no piano federal e na prática cada Estado apoia quem quiser ou rompe, mas também não se coliga oficialmente com outro candidato à Presidência.

Uma terceira possibilidade está fora de cogitação: a unidade do PMDB em prol da parceria com o PT como ocorreu em 2010 em decorrência da "costura" feita logo após a reeleição de Lula em 2006, quando os pemedebistas recusaram aliança no âmbito federal.

No pleito anterior, em 2002, fecharam com o PSDB, concorreram com Rita Camata como vice na chapa de José Serra e cada seção regional apoiou quem bem entendeu.

Agora, com as relações cada vez mais desgastadas com o govemo, a única razão para a continuidade da parceria seria a vaga de vice-presidente que, aliás, já não é considerada no PMDB como uma vantagem tão vantajosa assim.

Convívio. Amanhã faz dois meses , que o STF mandou prender Natan Donadon, condenado por desvio de dinheiro público e formação de quadrilha. No presídio da Papuda, em Brasília, ele continua deputado.

No Congresso está suspensa a discussão da chamada PEC dos mensaleiros (toma automática a perda de mandato de parlamentares condenados) aprovada na Comissão de Constituição e Justiça - que na semana passada aprovou também a cassação de Donadon, mas remeteu a decisão final ao plenário. Enquanto isso, já refeito do susto de junho, o Parlamento convive bem com o fato de ter um "par" presidiário.

Fonte: O Estado de S. Paulo