sábado, 27 de julho de 2013

OPINIÃO DO DIA – Eduardo Campos: pensamento estratégico

É importante que o debate sobre o futuro do Brasil seja feito pela expressão de pensamentos estratégicos que nos guiem a uma mudança de patamar. Foi exatamente isso que não aconteceu nas eleições de 2010, onde o debate foi um dos mais pobres de que já tivemos notícia no Brasil. Muito do que estamos passando hoje foi a ausência desse debate político.

Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB. In, “Campos prega debate do futuro do Brasil na eleição presidencial”, O Globo, 27/7/2013

PT interrompe comemorações pelos dez anos no governo

Dos 10 eventos previstos, só seis ocorreram; no Rio, Lindbergh reduz caravanas

Cássio Bruno

A onda de protestos pelo país e a queda de popularidade do governo da presidente Dilma Rousseff, apontada pela última pesquisa CNI/Ibope, cancelaram eventos do PT. Dos dez encontros programados, com a presença de Dilma e do ex-presidente Lula, para comemorar dez anos do partido na Presidência, apenas seis foram realizados e não há mais nenhum previsto. Além disso, as caravanas do senador Lindbergh Farias, pré-candidato ao governo do Rio em 2014, sofreram um recuo estratégico e só deverão voltar ao ritmo normal em outubro, após análise dos efeitos causados pelas manifestações.

Principal entusiasta de um terceiro mandato do ex-presidente Lula, cuja proposta chegou a defender publicamente, o deputado federal Devanir Ribeiro (PT-SP) criticou a postura do partido.

- Nossa origem é a base, e nós nos distanciamos da base. O PT não deve apenas se preocupar com a conjuntura internacional, com o PIB (Produto Interno Bruto). Tem que se preocupar com a base eleitoral - afirmou o parlamentar, amigo do ex-presidente há pelo menos 40 anos.

Segundo Ribeiro, as manifestações pegaram de surpresa o PT e também os outros partidos:

- Estamos todos perplexos. É o momento de refletir e analisar os prejuízos. Mas isso não é apenas com o PT. É também com o PMDB do Rio, o PSDB de São Paulo e até com o PSB de Pernambuco, do governador Eduardo Campos.

O sexto e último evento comemorativo dos dez anos do PT no governo ocorreu na última quinta-feira, num hotel em Salvador. A previsão da legenda era que fossem realizados mais quatro encontros este ano. Nos discursos, Dilma e Lula insistiram na necessidade de promover mudanças o mais rápido possível. Eles destacaram a implantação do financiamento público de campanhas como forma de atender à voz das ruas e combater a corrupção.

O líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), afirmou que a prioridade da legenda no segundo semestre será fazer com que a presidente Dilma consiga cumprir os cinco pactos anunciados durante os protestos de junho. Os compromissos são: responsabilidade fiscal, reforma política e melhorias nas áreas de Saúde, Transporte e Educação.

- O segundo semestre, para nós da bancada, será fundamental. É o momento de consolidar as medidas que o governo está tomando para melhorar os serviços públicos - disse Guimarães.

No Rio, Lindbergh mudou o rumo da pré-campanha e interrompeu as caravanas que vinha fazendo para ouvir os moradores. A última foi em 6 de junho. Desde o início dos protestos, Lindbergh saiu de cena para evitar desgastes.

- Vamos esperar a poeira baixar. Queremos saber quais são os efeitos dos protestos. A avaliação do governo Dilma não é definitiva. Representa apenas o momento atual - afirmou o presidente do PT do Rio, Jorge Florêncio.

Lindbergh, por sua vez, diz que fará apenas uma caravana em agosto, em Volta Redonda e Barra Mansa, no Sul Fluminense.

- É hora das filiações partidárias e da montagem das nominatas para as eleições de 2014. É hora das conversas nos bastidores, de montar o nosso time - ressaltou o pré-candidato do PT.

Opinião: Fora da agenda

COM GRANDE senso de oportunidade, o PT aproveitou a onda de manifestações para tentar viabilizar o sonho da "Constituinte exclusiva". Considerada ilegal, partiu para o "plano b" do plebiscito, difícil de emplacar.

A IRA contra políticos, demonstrada nas ruas, pode levar à defesa da reforma. Mas o que já se sabia acaba de ser confirmado por pesquisa CNI-Ibope: apenas 8% dos entrevistados fizeram referência à defesa da reforma feita por PT e Dilma.

Fonte: O Globo

Campos diz que debate político de 2010 'foi pobre'

Angela Lacerda

O governador de Pernambuco e possível candidato a presidente Eduardo Campos (PSB) defendeu nesta sexta-feira que as eleições de 2014 tenham um debate sobre o País "que não seja feito pela expressão de nomes ou torcidas, mas pelo pensamento estratégico que nos guie a uma mudança de patamar". Na sua avaliação, "foi exatamente isso que não aconteceu nas eleições de 2010, aonde o debate foi um dos mais pobres debates políticos que já tivemos notícia numa nação do tamanho do Brasil".

Segundo ele, as dificuldades do Brasil, hoje, se devem, "em muito", à ausência de um debate, em 2010, que pudesse ter "uma visão não fragmentada, não pontual".

Campos fez a afirmação ao falar em um workshop do movimento Integra Brasil, organizado por empresários cearenses na Federação da Indústria de Pernambuco (Fiepe), no Recife. O tema do workshop, "O Brasil pode muito mais", é o mesmo do slogan do PSB e de Campos. Indagado sobre o fato, o governador afirmou, em meio a uma risada: "Veja que não é um desejo só nosso, é desejo de muita gente".

Criado no ano passado pelo Centro da Indústria do Ceará (CIC) e Federação de Agricultura do Ceará, o Integra Brasil pretende percorrer todo o Nordeste e elaborar uma proposta de política estratégica nacional que passe pelo desenvolvimento da região. O documento será apresentado ao Congresso Nacional e posteriormente entregue aos pré-candidatos à Presidência da República. O movimento também pretende "ver de perto as grandes obras fundamentais para o Nordeste que não andam", de acordo com a idealizadora do movimento, Nicolle Barbosa, do CIC, ao citar a Transnordestina e a Integração do Rio São Francisco.

Sem filiação partidária, Nicolle acredita que o PSB é o partido que vai desenvolver o Brasil. "É uma novidade", disse ela, convicta de que um projeto socialista irá contemplar a ideia defendida pelo Integra Brasil. "O Nordeste não é um problema, é solução".

Pesquisa

O secretário de Desenvolvimento Econômico do Ceará, Alexandre Pereira, também demonstrou simpatia por uma candidatura socialista. "O senhor vai longe, com o apoio de todos nós e do Nordeste", disse no final da sua fala. Ele representou o governador Cid Gomes (PSB), mas explicou ser presidente do PPS-CE e que não falava em nome do governador cearense - que se mostra contrário à pretensão de Campos.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Planalto preocupado com Aécio e Marina para 2014

Tucano e ex-senadora são tidos como principais ameaças; Campos e Serra são descartados

Júnia Gama

BRASÍLIA - A um ano do início da campanha presidencial, e com base nas últimas pesquisas de opinião, operadores políticos do governo vislumbram quem seriam os principais adversários da presidente Dilma Rousseff em 2014. A queda brusca na popularidade da presidente e a avaliação ruim de boa parte dos governadores seriam um sinal de que uma parte significativa da população quer algo exatamente oposto ao que está no poder - no caso do governo federal, o PSDB -, ou uma proposta diferente do que já está posto, personalizada por Marina Silva. Nesse sentido, o pré-candidato tucano à Presidência, Aécio Neves (MG), e Marina são os políticos que mais preocupam o Planalto no momento.

Fontes palacianas consideram que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), apesar de ter sido o mais bem avaliado na pesquisa Ibope/CNI, divulgada quinta-feira, estaria fora do radar de perspectiva para a Presidência porque, além de pouco conhecido fora do seu estado, representa uma espécie de continuísmo do atual governo, com alguns ajustes. No entorno do governo, já há quem aposte em um cenário de números divididos em 2014, com algo em torno de 30% de votos para Dilma, 20% para Aécio e 20% para Marina.

Ainda sobre Eduardo Campos, há uma constatação de que ele fez uma escolha equivocada ao submergir durante os protestos de rua. Deixou de aproveitar a oportunidade de ficar conhecido e marcar uma posição de embate. O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) contesta:

- O Planalto está subestimando ou dissimulando sua preocupação com o candidato que é o mais competitivo entre todos. A avaliação positiva fortalece muito a candidatura do Eduardo Campos. O eleitor vai avaliar quem tem a maior capacidade de entregar o que prometeu, e nisso ele sai na frente. O Planalto não quer passar recibo.

O governo também dá como certo que José Serra sairá candidato, mas a aposta é que ele não será competitivo, porque sua estrutura partidária estará confusa e desarticulada caso ele deixe o PSDB. Outro nome citado nas avaliações internas do governo é o do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ). Para a presidente Dilma, ele poderia dar trabalho, já que, a exemplo de Marina, representa uma posição mais crítica e menos tradicional no jeito de fazer política. O que acalma os palacianos é a perspectiva de que o PSOL não irá escolher o niteroiense como candidato, pois deverá optar por fazer uma bancada forte no Rio de Janeiro, com Freixo puxando votos.

Por fim, interlocutores do governo acreditam que poderá haver mais um nome na disputa: um evangélico do PSC, provavelmente o Pastor Everardo.

Fonte: O Globo

Campos prega debate do futuro do Brasil na eleição presidencial

Para pré-candidato do PSB, a pobreza da discussão em 2010 é responsável pela crise que país passa hoje

Maurício Lopes

RECIFE - O presidente nacional do PSB e governador do estado de Pernambuco, Eduardo Campos, criticou ontem a pobreza do debate político nas eleições de 2010, que levaram Dilma Rousseff à Presidência da República, e defendeu "uma mudança de patamar", com a discussão de questões determinantes para o futuro do país.

- É importante que o debate sobre o futuro do Brasil seja feito pela expressão de pensamentos estratégicos que nos guiem a uma mudança de patamar. Foi exatamente isso que não aconteceu nas eleições de 2010, onde o debate foi um dos mais pobres de que já tivemos notícia no Brasil. Muito do que estamos passando hoje foi a ausência desse debate político - disse Campos, durante palestra na sede da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco.

O governador de Pernambuco apoiou a eleição de Dilma em 2010, e seu partido é da base aliada do governo. Na recente pesquisa CNI/Ibope que confirmou a queda de popularidade de Dilma e da maioria dos governadores após os protestos de rua, em junho, Campos foi o único que manteve seus indicadores acima de 50% de aprovação. Após ter comemorado o resultado da pesquisa na quinta-feira, ontem ele afirmou que o levantamento encheu a sua equipe de responsabilidade:

- Só há uma forma de agradecer a tanta solidariedade, é trabalhando.

Pré-candidato do PSB à Presidência em 2014, Campos minimizou a troca de comando do partido em Minas Gerais, interpretada como um movimento para fortalecer sua candidatura e facilitar entendimentos com o PSDB de Aécio Neves para um palanque duplo no estado.

No início desta semana, o diretório nacional do PSB destituiu do comando da legenda em Minas o senador Walfrido dos Mares Guia, ligado ao PT, e nomeou o deputado Júlio Delgado, defensor da candidatura de Eduardo Campos e ligado ao grupo político de Aécio.

- Não existe nada disso, são mudanças feitas nas comissões provisórias naturalmente. Algumas delas estavam previstas há seis meses, como em Minas Gerais. Eu recebi Walfrido em março falando do pós-eleição, da necessidade de uma comissão provisória - justificou o governador.

Fonte: O Globo

Grupo do ‘Eleições Limpas’ quer Dilma distante do projeto de iniciativa popular

Reforma política. Para Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, projeto que propõe mudanças em regras já em 2014 será visto como chapa branca" se presidente declarar publicamente que apoia a ideia; petista cogitou a possibilidade ao ver o plebiscito naufragar

Na corrida contra o tempo para coletar 1,5 milhão de assinaturas* com o objetivo de tornar viável uma reforma política que valha para as eleições de 2014, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) teme que o respaldo do Palácio do Planalto carimbe a proposta como a chapa branca", antes mesmo de a oposição ser convencida sobre as virtudes da iniciativa. O objetivo dos organizadores é fazer com que o projeto popular siga autônomo e ganhe apoio da sociedade.

Ciente das dificuldades políticas para aprovar um plebiscito no Congresso e das resistência dos partidos, inclusive os da base aliada, para agilizar uma reforma política que tenha validade para a próxima eleição, a presidente Dilma Rousseff afirmou a auxiliares, conforme antecipou o Estado em sua edição do último dia 5, que poderá declarar apoio ao projeto de iniciativa popular.

Entre as principais mudanças defendidas pelo movimento intitulado "Eleições Limpas" estão o sistema de voto em dois turnos nas eleições proporcionais (com votação primeiro nos partidos e depois nos candidatos), proibição da doação de empresas a campanhas (cada eleitor poderá doar até R$ 700), criminalização do caixa dois (com pena de reclusão de dois a cinco anos) e a escolha dos candidatos de cada partido por meio de prévias fiscalizadas pelo Ministério Público e Justiça Eleitoral.

Caso o modelo já tivesse sido adotado nas últimas eleições municipais, estimam os organizadores, o número de candidatos despencaria 73,5%.

"Não queremos que a proposta seja vinculada ao governo ou à oposição, queremos deixar clara a qualidade da nossa proposta para a vida política brasileira", afirmou o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinícius Furtado, que aposta no trâmite do projeto no Congresso em agosto, antes mesmo da conclusão da coleta de assinaturas.

"Não interessa para o movimento que ele seja adotado pela presidente Dilma. Isso seria ruim porque queremos justamente evitar a partidarização. Não seria justo (que o projeto) recebesse qualquer tipo de vinculação. O que queremos e precisamos do apoio de todas as forças políticas na hora da aprovação (no Congresso). Uma aproximação partidária ou com o governo nesse momento poderia inviabilizar a proposta", admite o juiz Márlon Reis, do MCCE, e presidente da Associação Brasileira dos Magistrados e Promotores Eleitorais.

Encabeçado pela GAB, o MCCE é composto por 55 entidades dos mais diversos segmentos sociais, como Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal e União Nacional dos Estudantes (UNE), além de lideranças evangélicas e do movimento de gays e lésbicas (movimento LGBT),

Presidenciáveis* Dos presidenciáveis de 2014, a OAB já teve conversas com a presidente Dilma, o senador Aécio Neves (PSDB) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Todos teriam demonstrado interesse e simpatia à proposta-Campos chegou inclusive a pedir que o fim da reeleição fosse incorporado ao projeto. A ex-senadora Marina Silva, que tenta viabilizar a sua Rede Sustentabilidade,já está sendo procurada pelo grupo.

O projeto "Eleições Limpas", se aprovado, acabaria com a doação de empreiteiras, bancos e grandes empresas. Esses segmentos são os principais doadores em campanhas eleitorais no País, sobretudo presidenciais.

A presidente Dilma demonstrou simpatia ao projeto de iniciativa popular ao se encontrar com Furtado e outros integrantes do MCCE no Planalto no mês passado. Estaria até disposta a se manifestar publicamente favorável a ele, mas foi convencida a aguardar a coleta de assinaturas.

Declarações do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, de que o governo poderia adar força” à proposta, no entanto, preocuparam integrantes do MCCE.

Para Márlon Reis, a população de imediato rejeitaria uma proposta gestada por partidos. Ele conta que, ao coletar assinaturas, basta dizer que "o movimento que fez o Ficha Limpa quer fazer uma reforma política’ para que as pessoas se interessem pelo tema e colaborem.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Pesquisa detalha clamor das ruas

Ibope indica que, para os brasileiros, a saúde é o maior problema do país, seguida de educação, segurança, drogas e corrupção

Ao ouvir mais de 7,6 mil pessoas em todo o país após os protestos de junho, o Ibope conseguiu fazer um retrato do descontentamento dos brasileiros. No geral, as pessoas estão satisfeitas com a vida que levam, mas querem mais dos governantes – principalmente na saúde.

Questionados sobre os maiores problemas do país, sobre as áreas em que o governo federal tem pior desempenho e sobre quais devem ser as prioridades do Planalto, os eleitores convergem para os mesmos setores: além da saúde – campeã absoluta na lista de preocupações do cidadão –, aparecem repetidamente educação, segurança, drogas e corrupção. São os mesmos pedidos que apareciam nos cartazes dos manifestantes de junho. A sondagem foi realizada pelo Ibope entre os dias 9 e 12 de julho. Na quinta-feira, o instituto apresentou uma parte dos dados, relacionada à avaliação do governo Dilma Rousseff e dos governos estaduais. Ontem, divulgou o restante das informações, referentes a diversas áreas da vida nacional.

A maioria dos brasileiros (77%) está satisfeita ou muito satisfeita com a vida que leva. No Rio Grande do Sul, o cenário não é o mesmo: 70% dos entrevistados se disseram satisfeitos ou muito satisfeitos. Os gaúchos também destoam em relação ao governo Dilma Rousseff. Segundo o Ibope, Minas Gerais e Rio Grande do Sul são os locais com a população mais descontente com o apoio dado pela administração federal ao Estado. Esses são os Estados em que Dilma nasceu e fez carreira profissional.

Entre os 602 entrevistados no RS, 73% acreditam que o Estado precisa de ajuda federal para oferecer serviços públicos adequados – o maior percentual entre as 11 unidades da federação avaliadas pelo instituto. Os gaúchos se dizem insatisfeitos quanto ao apoio federal nas áreas de segurança (86%), educação (84%) e saúde (83%). As reclamações também atingem o Palácio Piratini: 78% acreditam que o governador Tarso Genro e seus secretários utilizam mal os recursos públicos.

A maioria dos brasileiros se diz favorável às manifestações que ocorreram pelo país: 50% disseram aprová-las e 39% disseram serem favoráveis desde que sem casos de violência e vandalismo. Porém, a maioria (58%) afirmou que não pretende participar de protestos caso eles voltem a se repetir. Questionados sobre os motivos que os levariam sair às ruas, os entrevistados voltaram os temas dos cartazes: saúde, educação, segurança e combate à corrupção – mais um indicativo das prioridades da população.

Fonte: Zero Hora (RS)

Os democratas e as minorias - Marco Aurélio Nogueira *

Os democratas brasileiros, que integram diferentes partidos, classes sociais e correntes (liberais, petistas, tucanos, socialistas, comunistas), deveriam estar mais articulados entre si. Quem sabe, até mesmo unidos. Por vários motivos, mas sobretudo porque a sociedade ganharia muito com isso.

Se assim fosse, seria mais fácil fazer a crítica política dos governos, dar a cada um deles a devida cota de responsabilidade e ajudá-los a sair do cerco em que se encontram. Daria para avançar na reforma política e no equacionamento dos problemas estruturais que rebaixam a qualidade de vida dos brasileiros. Seria possível caminhar firme para o saneamento da República e a instalação no País de uma democracia plena, aberta à participação popular e à sociedade civil.

O Brasil está num ponto de inflexão. Se os protestos de junho disseram alguma coisa, foi isto: tudo precisa ser diferente a partir de agora. Se será, não dá para saber. Mas seria bom se pudesse ser. O País não vai bem. O discurso positivo dos governos é desmentido cotidianamente pelos fatos. Há uma sensação de urgência instalada na sociedade, ainda que não se tenha uma tragédia à vista.

Se uma crítica deve ser feita à Presidência, é a de não ter tido a ousadia de chamar as forças políticas do País para uma negociação em alto nível. Ela falou em "pactos", mas não propôs nenhuma pactuação. Defendeu a necessidade da reforma política, mas não propôs nenhuma reforma concreta. Ficou sem condições de produzir consensos, pois os detalhes de uma proposta de reforma é que podem agregar. Travou o debate, em vez de facilitá-lo. Ocorreu algo parecido com as medidas destinadas a reformar a saúde: elas têm mérito e mais acertam do que erram, mas foram propostas de cima para baixo, sem mediações. O governo pode avançar no terreno, mas terá de reformular seu discurso.

A ideia de reforma política está posta faz tempo. É um erro banalizá-la ou combatê-la. O País necessita de outro sistema político, com outras regras, outros vetos e incentivos. Os democratas não deveriam gastar energia para fazer elogios fáceis ao governo Dilma ou para criticá-lo de modo acerbo. Seu papel é anunciar as mudanças de que o País necessita. Não podem ficar em silêncio, cada qual em seu canto, assistindo à desagregação do processo político e sem contribuir para que se aproveite de forma positiva o momento excepcional em que está a sociedade.

A eleitoralização do debate - sua redução à lengalenga primitiva de PT x PSDB - é inimiga dos democratas. Para eles o melhor é que o governo Dilma seja capaz de administrar a crise. Tal como a presidente, os democratas acreditam na inteligência dos brasileiros. Por isso não aceitam que o povo seja convocado a decidir o que quer que seja sem que possa discutir. Se a intenção é fazer uma consulta popular que forneça o espírito de uma reforma democrática, o debate público é essencial. Não ocorrendo, a decisão será por palmas ou vaias, ao sabor da força sedutora de lideranças e campanhas publicitárias. Por ter inteligência, o povo quer espaços de reflexão, diálogo e debate democrático.

Uma reforma política feita com debate público e participação popular é a joia da coroa. Não se deveria estragá-la.

A articulação política dos democratas seria decisiva, também, para que se enfrentasse o problema das minorias. As maiorias avançam, fazem ouvir sua voz e se democratizam. Mas o que fazer com as minorias, como assimilá-las, respeitá-las, atendê-las, e enfrentá-las se necessário for?

As minorias são, por princípio, merecedoras de toda a justiça social. Algumas lutam por identidade e reconhecimento. Outras querem mais espaço e mais oxigênio. São como o sal da terra: estão aí para que as maiorias lembrem que desigualdades, injustiças e diferenças existem e precisam ser enfrentadas.

Mas o que fazer com as minorias do mal? Com aqueles, por exemplo, que deformam a política do confronto de ideias para estigmatizar os que pensam diferente deles, valendo-se de discursos hiperbólicos para jogar grupos contra grupos, taxando uns de "elitistas" e outros de "amigos do povo"?

Uma categoria muito pior é a dos que se agrupam para pressionar e humilhar as maiorias, ou pessoas que integram as maiorias. Orgulham-se de si próprios porque acham que é assim, com violência, que "a História avança". Não querem confluir para nenhuma maioria porque acham que as maiorias são passivas e "dóceis". Infiltram-se no meio das multidões para desmoralizá-las. Usam máscaras porque precisam de identidade, o que é paradoxal. Mascarados que batem e quebram não são progressistas. Muito menos radicais da democracia. Porque democratas radicais não agem às escondidas, na calada da noite. Não humilham nem coagem trabalhadores. Não usam da violência, nem sequer da verbal. Não usam máscaras, pois não são clandestinos de si próprios.

As minorias do mal não serão vencidas com cassetetes, balas de borracha ou prisões. O único jeito de confrontá-las é com a inteligência e a firmeza do gestual dialógico. Hoje é tempo de assimilar os que se apresentam como exterminadores vindos do futuro, mas têm raízes nas terras ancestrais da humanidade primitiva. Só a democracia pode isolá-los.


Os democratas sempre querem defender, ampliar e revitalizar a democracia. É o que os une. No Brasil isso passa pelo reconhecimento de que o sistema existente atingiu um ponto de saturação e esgotamento. Os democratas não são da situação nem da oposição. Estão nas ruas e nos palácios. Não aceitam a indigência teórica das oposições, sua mesquinhez e seu alheamento em relação às exigências da hora presente. Também não aceitam a arrogância e a paralisia propositiva do PT e do governo, sua recusa a assumir a coordenação política do País.

Os democratas estão por aí e deveriam demarcar com clareza sua presença.

* Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política e Diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da UNESP.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Mudar o rumo - Cristovam Buarque

Nada indica mais a pobreza da política brasileira do que a proposta de pacto para mudar algumas regras no sistema eleitoral, quando precisamos de união para uma mudança de rumo.Anos atrás fui à Irlanda investigar por que um dos países mais atrasados em educação havia se transformado em exemplo mundial nesta área. Quis visitar a cidade de Kork, onde, nos anos 70, as lideranças políticas do país haviam decidido uma união para priorizar a educação nos anos seguintes. O embaixador do Brasil, Stelio Amarante, disse que não havia tempo porque as estradas eram ruins. Perguntei como um país tão bom em educação tinha suas estradas ruins. Ele respondeu: "Por isso mesmo! Gastaram o dinheiro em educação e não em estradas. Agora o país vai modernizá-las."

Os líderes irlandeses olharam o futuro e fizeram as contas para definir prioridades. Nós estamos acostumados a olhar para o imediato e a não fazer as contas. Esta é uma das razões da insatisfação que leva às manifestações do povo, especialmente da juventude que está querendo reorientar os recursos para mudar o rumo do país.

Há seis anos o Brasil se dedica à construção de estádios para a Copa do Mundo de 2014, sem olhar a educação e o ano 2030. O Distrito Federal não tem times que atraiam torcedores, mas fez estádio para 72 mil espectadores ao custo de R$ 1,6 bilhão.

Uma conta mostra que apenas com os recursos deste estádio seria possível financiar a formação de pelo menos 6.800 engenheiros de excelência, desde a primeira série do ensino fundamental, em superescolas com padrão internacional até a formatura em cursos similares ao do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), um número maior do que a soma de todos os engenheiros formados no Instituto em seus 64 anos.

Se considerarmos que cada um desses profissionais vai contribuir para o desenvolvimento do país e gerar uma renda igual ao salário deles, algo em torno de R$ 20 mil por mês, ao longo de 35 anos de trabalho o montante resultaria em cerca de R$ 63,6 bilhões, valor equivalente a 40 estádios similares ao novo Mané Garrincha.

Se considerarmos o custo dos 12 estádios da Copa, deixaremos de formar pelo menos cerca de 30.400 cientistas e tecnólogos da mais alta qualidade. Estes profissionais serviriam de base para o desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil, desde que os líderes brasileiros olhassem para o futuro e fizessem as contas.

Neste caso, talvez no futuro, alguém pergunte: "Como é possível que um país com a excelente qualidade na educação, uma das melhores do mundo, não tenha na sua capital um estádio para 72 mil pessoas?" E alguém diria: "Por isso mesmo, preferiram formar 6.800 engenheiros de máxima qualidade. Agora vão fazer o estádio."

O Brasil tem muitos problemas. Um dos mais graves é não fazer contas, nem olhar o futuro. Felizmente, o povo e especialmente os jovens começaram a fazer as contas e a irem às ruas usando a guerrilha cibernética para forçar uma unidade brasileira pela mudança de rumo nas nossas prioridades.

Senador (PDT-DF)

Fonte: O Globo

Uma jornada de encontros - Cacá Diegues

Tenho acompanhado a Jornada Mundial da Juventude ao longo desta semana e, pelo menos até o momento em que escrevo este texto, o faço com surpresa e admiração. Apesar das vicissitudes de transporte e circulação, há muito tempo não via as ruas da cidade tão alegremente movimentadas e coloridas. Mesmo por onde o Papa não é esperado passar, bandos de moças e rapazes carregam bandeiras de seus países e cantam hinos em diversas línguas, num carnaval de rua cosmopolita, sereno e empolgante. Confesso que até me emocionei ao ver casualmente, no calçadão da Avenida Atlântica, um inesperado encontro de confraternização entre um grupo de jovens iranianos com a bandeira de seu país e outro de americanos com a dos Estados Unidos.

Não é preciso ser católico, nem ter qualquer religião, para se encantar com o que está se passando no Rio de Janeiro. Estamos assistindo a uma experiência daquilo que o rabino Abraham Skorka, coautor de livro em parceria com o Papa Francisco, "Entre o céu e a terra", chamou de "cultura do encontro". Um encontro não é uma adesão ao outro, nem mesmo a abertura de um diálogo em busca de alguma verdade única e absoluta. Um encontro é apenas isso mesmo, a aproximação entre pessoas, mesmo que elas não tenham as mesmas ideias, nem estejam dispostas a pensar sobre o que pensam.

Um dos aspectos mais relevantes da Jornada tem sido o dos diversos eventos inter-religiosos, uma busca sem tensão por alguma coisa em comum entre crenças tão diversas. A busca do abraço universal, do humano em cada fé. Assisti a reuniões de peregrinos católicos de vários países com praticantes da umbanda e do candomblé cariocas, no Estácio e em Caxias. E a uma mesa de debates na PUC, na Gávea, da qual participavam bispos, rabinos e xeques, com uma plateia lotada de jovens católicos, judeus e muçulmanos. Nesses encontros, o que se punha em discussão não era a verdade teológica de cada um, mas a necessidade de paz, de entendimento e de amor num mundo tão conturbado, inclusive por guerras religiosas.

Nunca acompanhei as Jornadas anteriores, nem sei mesmo do que cada uma delas tratou no passado, em Roma, Colônia ou Madri. Mas imagino que as novidades comportamentais trazidas pelo novo Papa tenham influenciado a atmosfera do que está acontecendo no Rio. Num livrinho de extrema pertinência sobre suas ideias, "Fancisco de Assis e Francisco de Roma", Leonardo Boff, um dos principais pensadores da Teologia da Libertação, faz a pergunta que todos nós gostaríamos de poder responder afirmativamente: "Uma nova primavera na igreja?" No seu discurso em Aparecida, o Papa pode ter-nos respondido a pergunta, quando pediu aos jovens que se deixassem surpreender pela vida e que a vivessem em alegria. E ainda mais em sua fala militante na favela de Manguinhos, quando exortou a juventude a não perder a sensibilidade para as injustiças e para a corrupção. É como se tivéssemos atraído para cá e tornado universal a discussão do tema que hoje nos é mais caro.

A Igreja Católica, a primeira e mais antiga organização globalizada do planeta, precisa responder às ânsias de seu povo no século 21. Ela segue prisioneira de conceitos anacrônicos sobre política social, drogas, moral sexual, aborto, homossexualidade, celibato, pesquisas com células-tronco e até "a forma de poder absolutista dos papas", como diz Boff. Mas Francisco está certo quando diz que tudo começa com o encontro. E ele sabe promover esse encontro: que homem público brasileiro sairia ileso daquele engarrafamento que o Papa enfrentou em sua chegada ao Rio, com a janela do pequeno carro aberta e a disposição de cumprimentar a multidão que se aproximava dele?

É ridículo e mesquinho reclamar de gastos públicos com a Jornada e a vinda do Papa ao Brasil. Em primeiro lugar, porque o estado não está só cumprindo obrigação protocolar, mas também fazendo um investimento com retorno certo, produzido pelo que deixa no Rio a multidão vinda do exterior e de outras cidades do país. Além disso, o estado tem mesmo o dever de investir no ordenamento, segurança e atendimento médico das manifestações de massa realizadas na cidade, não importa de que natureza. Assim como nem todo brasileiro é católico, nem todo carioca é carnavalesco, e nem assim é justo contestar o que o estado gasta com o carnaval. Mas para alguns, Rei Momo pode; o Papa Chico, nem pensar.

Independentemente de qualquer profissão de fé, Francisco nos anuncia o projeto de um mundo mais simples e mais humano. Um mundo sem ostentação e sem pompa, sem a hegemonia irracional da riqueza e do consumismo delirante que destrói o planeta e a humanidade. Seu amor à esperança é comovente. "Não deixem que lhes roubem a esperança", disse ele no Rio, aos participantes da Jornada Mundial da Juventude, "sejam vocês mesmos os portadores da esperança." Não é pouco que um líder mundial de sua importância pense e fale desse jeito.

Cacá Diegues é cineasta

Fonte: O Globo

Despreparo escancarado - Hélio Schwartsman

Se há algo que ficou claro com os protestos de junho e seus mais modestos sucedâneos de julho é o despreparo, para não dizer leviandade, de nossos governantes.

É verdade que eles foram apanhados de surpresa e corretamente detectaram a necessidade de dar respostas. Admite-se ainda que sejam apenas humanos e não tenham muita ideia do que deve ser feito.

O problema é que, em vez de reconhecer que não contam com soluções definitivas e de tentar buscá-las em diálogo com a sociedade (tanto a produção de conhecimento como a construção de instituições sólidas são necessariamente esforços coletivos), nossos dirigentes se põem e baixar medidas provisórias e decretos, que produzem efeitos legais imediatos, como se possuíssem todas as respostas sem margem a dúvidas.

Como o que sustenta tais diplomas não é mais do que esboços de ideias não necessariamente felizes, eles não sobrevivem incólumes ao escrutínio público. Foi o que se deu com o programa Mais Médicos em suas diversas apresentações e com o decreto do governador Sérgio Cabral para inibir atos de vandalismo. Ambas as normas soçobraram diante de suas inconstitucionalidades, incoerências lógicas e irrealismo fático, em que pese algum germe de proposta interessante que pudessem conter.

Legislar é tarefa séria demais para ficar a cargo de uma pessoa ou grupo restrito. Não foi por outra razão que se inventaram as Assembleias. Nossas intuições, por mais confiança que nelas depositemos, são só intuições. Não dá para transformá-las em regras universais sem submetê-las a algum tipo de contraditório.

Vou um pouco mais longe e afirmo que, nos casos em que isso é possível, políticas públicas só deveriam ser implantadas após passar por testes empíricos, notadamente programas-piloto. Observar essas recomendações pouparia bastante dinheiro aos contribuintes e, de quebra, ainda salvaria a cara de vários políticos.

Fonte: Folha de S. Paulo

A máquina petista de Dilma - Merval Pereira

Uma pesquisa sobre a elite da administração pública, os ocupantes de cargos de Direção e Assessoramento Superiores níveis 5 e 6 e de Natureza Especial - 1.146 nomeações nos governos Fernando Henrique, 1.150 no primeiro governo Lula da Silva e 1.198 no segundo e 1.233 nomeações em 2011 e 2012 no governo Dilma Rousseff -, coloca luz sobre as relações partidárias, sindicais e políticas das nomeações e traz uma novidade intrigante, diante da crise de relacionamento entre ela e o PT: Dilma fez o mais partidário dos governos petistas.

O trabalho "Elites burocráticas, dirigentes públicos e política no Poder Executivo do Brasil, 1995-2012", da cientista política Maria Celina Soares D"Araujo, da PUC-Rio, compara o perfil dos altos dirigentes públicos no Brasil de 1995 a 2012, num total de 18 anos de gestão pública federal.

Nas nomeações dos três presidentes são detectados diferentes padrões de recrutamento que ajudam a entender compromissos políticos e perfil ideológico de cada um, mesmo quando pertencentes ao mesmo partido. A professora Maria Celina identifica no trabalho que profissionalização, educação formal e experiência pautaram as indicações, mas "o tom político-partidário e associativo não pode ser minimizado, especialmente quando se analisa o primeiro governo Lula da Silva".

Ao identificar haver qualificação e profissionalização entre esses dirigentes, o trabalho desmente "a mítica de que esse seja espaço para clientelismo deslavado". Há grandes variações em cada governo, mesmo quando o partido do presidente permanece o mesmo. A julgar por vínculos com sindicatos, Maria Celina diz que "Dilma está mais perto de Fernando Henrique do que de Lula da Silva, em especial, em seu primeiro governo".

O governo Lula, especialmente o primeiro, demonstrou maior compromisso com bases sindicais, não só entre filiados a sindicatos como em relação a dirigentes de centrais. Nada menos que 45,3% dos cargos foram ocupados por sindicalistas, e 10,9% por membros de centrais sindicais no primeiro governo Lula, caindo no segundo governo para 36,1% de membros de sindicatos e subindo para 10,9% de filiados a centrais. No governo Dilma há apenas 21% de sindicalistas, e 3,5% de membros de centrais sindicais.

Da mesma forma, o envolvimento desses dirigentes com movimentos sociais, associações comunitárias e profissionais são mais expressivos nos governos do PT, em especial no primeiro governo Lula, o que o torna "um caso único de forte envolvimento entre altos dirigentes, partidos, sindicatos e movimentos sociais".

Se os vínculos com os sindicatos vão num decrescente nos governos do PT, o mesmo não se pode dizer em relação ao partido, ressalta o trabalho. O perfil partidário dos dirigentes públicos mostra que a filiação partidária desse grupo ficou em torno de um quarto, nos governos do PT, e menor que isso no de Fernando Henrique. Ou seja, "a maioria dos dirigentes públicos não é filiada a partido".

Pelo levantamento, "percebe-se nitidamente que burocracia, política e dirigentes públicos não podem ser tratados de forma excludente", ressalta a cientista política. Os dados indicam concentração de petistas entre filiados a partido nos governos do PT. Nos governos Lula, a média de filiação foi de cerca de 25%, enquanto no de Dilma está em 23% e nos de Fernando Henrique ficou em 18%. Desses, 80% eram petistas no primeiro governo Lula, 70% no segundo, e 81,8% no governo Dilma. Nos governos de Fernando Henrique, cerca de 49% eram do PSDB. Segundo Maria Celina, "essas nomeações refletem, em algum grau, preferências políticas e, provavelmente, recursos adicionais de poder nas mãos do partido do/a presidente".

Se aferirmos o percentual de dirigentes filiados aos partidos da base, veremos que "claramente o governo Fernando Henrique foi o que mais distribuiu poder entre os partidos aliados". Nada menos que 32,6% dos assessores pertenciam aos partidos da base governista, como 18% eram de outros partidos. Os presidentes petistas não só privilegiaram crescentemente a base do governo como acabaram, no caso de Dilma, excluindo completamente a composição com outras forças. No governo Dilma, apenas 18% dos principais assessores são de partidos da base e nenhum de fora. Nos governos Lula, apenas 5% dos cargos foram ocupados por membros de partidos de fora da base.

Fonte: O Globo

Dilma não pode ser melhor que seu governo - Rolf Kuntz

Nenhum governante, diz o bom senso, pode ter desempenho melhor que o de seu governo. No caso do Brasil, trata-se de uma administração fracassada, com dois anos e meio de estagnação econômica, inflação alta, contas públicas em mau estado, contas externas em deterioração e resultados gerais muito inferiores aos de outros latino-americanos. Além disso, as possibilidades de melhora até o fim do mandato parecem muito escassas. Mas o senso comum dos brasileiros tem algumas peculiaridades notáveis. Parte substancial dos cidadãos considera a presidente Dilma Rousseff melhor que seu pífio governo. Enquanto só 31% avaliam o governo como ótimo ou bom, 45% aprovam o desempenho da presidente. Os dados são da última pesquisa CNI-Ibope e confirmam, de modo geral, as tendências indicadas em sondagens recentes.

Quanto à avaliação da presidente, é importante ressaltar o detalhe: a pergunta é sobre sua maneira de governar. Não se trata de sua pessoa. O entrevistado poderia considerá-la honesta, esforçada, gentilíssima, simpática e movida pelas melhores intenções, mas frustrada em seu empenho por divindades invejosas. O Olimpo é um ninho de maldades. Mas a história é outra, e aí está o dado intrigante. O modo de agir da chefe de governo é avaliado mais favoravelmente que a ação do próprio governo, embora ela seja responsável pela escolha dos ministros e, como todos sabem, centralizadora, mandona e habituada a distribuir broncas e a maltratar seus subordinados.

Essa notável dicotomia entre o presidente e a administração federal pode parecer misteriosa, mas é um velho componente da política nacional. Para milhões de brasileiros, houve sempre uma distância imensa entre a figura de Getúlio e as práticas de seus subordinados. O presidente João Figueiredo sempre foi mais popular que seu governo, embora seu período tenha sido marcado por uma recessão pavorosa, com muito desemprego, empobrecimento e fome. Nessa fase, muitas famílias só conseguiram consumir alguma proteína de origem animal, de vez em quando, porque supermercados passaram a vender separadamente asas de frango. Mas o presidente nunca foi tão mal avaliado quanto qualquer de seus ministros.

Apesar da estranha separação entre o Palácio do Planalto e os ministérios, ainda mais estranha no caso de uma presidente centralizadora, os brasileiros parecem ter noções claras de alguns dos principais defeitos da administração. A avaliação dos impostos e do uso do dinheiro público é inequívoca. Os entrevistados deveriam dizer se, em sua opinião, "o governo já arrecada muito e não precisa aumentar mais os impostos para melhorar os serviços públicos". Essa dupla afirmação foi classificada como total ou parcialmente verdadeira por 87% dos consultados. Para 82%, "a baixa qualidade dos serviços públicos deve-se mais à má utilização dos recursos públicos do que à falta deles". Para 91%, os impostos são elevados ou muito elevados.

A presidente discorda. Na quinta-feira, quando a CNI divulgou a nova pesquisa realizada pelo Ibope, o Diário Oficial registrou o veto ao projeto de extinção da multa adicional de 10% do FGTS nos casos de demissão sem justa causa. Segundo a mensagem presidencial, os parlamentares deixaram de indicar fontes para compensar a perda de cerca de R$ 3 bilhões e, além disso, a falta desse dinheiro forçaria o governo a reduzir investimentos em infraestrutura e no programa habitacional.

As duas alegações são furadas. A multa adicional, paga diretamente ao governo, foi criada para compensar o custo de esqueletos fiscais deixados pelos Planos Verão e Collor 1. Essa função, segundo informou há um ano e meio a Caixa Econômica, gestora do fundo, estaria concluída em julho do ano passado. Não tem sentido, portanto, cobrar dos congressistas a indicação de como compensar a "perda". Em segundo lugar, o governo jamais deveria ter tratado essa receita como recurso permanente.

Esse erro, uma velha tendência da administração brasileira, torna-se mais forte num governo propenso à confusão na área fiscal. A maior parte dos cidadãos acompanha muito de longe as aventuras da administração. Acaba sentindo, depois de algum tempo, os efeitos dos erros acumulados, como os problemas de saúde, segurança e educação. Nenhuma das grandes questões apontadas pelos entrevistados é nova na imprensa independente.

A comparação entre o governo atual e o do presidente Lula é outra aparente esquisitice revelada pela pesquisa. Para 46% dos entrevistados, o governo da presidente Dilma Rousseff é pior que o do antecessor. Em junho, 25% dos consultados haviam expressado essa opinião. Essa avaliação seria mantida, se as pessoas se dispusessem a pensar alguns minutos?

Afinal, o presidente Lula quase se limitou a aproveitar, durante a maior parte de seus oito anos, da herança de reformas deixada pela administração anterior e de um quadro internacional muito favorável até o fim de 2008. Elevou o salário mínimo, transferiu renda com recursos públicos e ampliou o mercado interno, sem nada ter feito para fortalecer a capacidade produtiva do País.

Sua melhor realização foi também a mais fácil. Ele jamais enfrentou para valer as tarefas mais complicadas. Além disso, rejeitou a proposta do ministro Antônio Palocci de iniciar um programa sério de equilíbrio das contas públicas. A presidente Dilma Rousseff apenas manteve o estilo de seu antecessor. Ao insistir nesse caminho, acelerou a desorganização das contas federais, alimentou a inflação e deixou a economia estagnar-se, porque as fontes internas e externas de dinamismo estavam esgotadas. "Dilma não é mais do que uma extensão da gente", disse Lula a companheiros, na terça-feira, num aparente impulso de veracidade. Não faz sentido, neste caso, avaliar a extensão sem levar em conta sua fidelidade à origem.

* Rolf Kuntz é jornalista

Fonte: O Estado de S. Paulo

Painel - Vera Magalhães

Injeção de ânimo
Dilma Rousseff vai abrir a carteira do governo federal para Fernando Haddad (PT), que em entrevistas disse que a Prefeitura de São Paulo é "insolvente". A presidente desembarca na capital paulista na terça-feira para anunciar a aplicação de recursos do PAC Mobilidade no município e investimentos na urbanização de favelas. O valor do repasse ainda não foi definido pelo governo, mas a estimativa é que Haddad receba um reforço de caixa entre R$ 6 bilhões e R$ 8 bilhões.

Tour Dilma anuncia os investimentos no fim da manhã, na prefeitura. Depois, há previsão de um almoço com o prefeito e de uma visita à favela de Paraisópolis.

Hermanas 1 Emissários de Cristina Kirchner avisaram o governo brasileiro que a presidente argentina quer aproveitar a visita ao papa Francisco, amanhã, para conversar a sós com Dilma.

Hermanas 2 A relação entre os dois países está estremecida desde que a Vale suspendeu um projeto milionário em território argentino.

Velha infância Na nota em que felicitou o Atlético Mineiro pelo título da Libertadores, Dilma, nascida em 1947, diz que costumava ir com o pai, ainda criança'', ao Mineirão ver o time do coração. Detalhe: o estádio foi inaugurado em 1965, quando a presidente tinha 17 anos.

Arraiá tardio Lula e Marisa Letícia receberão amigos próximos hoje para uma "festa julina" em Atibaia, no interior de São Paulo. A comemoração era organizada pela ex-primeira-dama todos os anos, em junho, na Granja do Torto, quando o petista ainda estava na Presidência.

Caravana O PSB de São Paulo vai convidar Eduardo Campos para o evento em que a seção paulista do partido vai anunciar o apoio à postulação presidencial do governador pernambucano. O palanque será montado em Campinas, em 9 de agosto.

Forcinha do... As baixas temperaturas registradas na semana em São Paulo ajudaram a polícia na redução dos índices de criminalidade. Foram registrados quatro homicídios na capital na quarta-feira e cinco anteontem.

... termômetro A média diária de homicídios em junho foi de 11, e a anual está em 12. Embora não sejam inéditos índices tão baixos como os da semana, especialistas em segurança pública atestam que frio e chuva são fatores que reduzem a violência.

Digital 1 Em carta enviada a assessores dos TREs e cartórios eleitorais, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) reconhece a culpa pelo congestionamento nos cartórios por conta da campanha de recadastramento biométrico.

Digital 2 Por não terem acesso à internet, muitos eleitores de cidades pequenas acabaram indo procurar informações sobre a biometria nos próprios cartórios.

Sem digital O TSE se diz surpreso também com o espaço que as emissoras de TV e rádio concederam à campanha do recadastramento e pergunta se o melhor caminho não seria suspender temporariamente a propaganda.

Carona Jandira Feghali (PC do B-RJ), escalada para a comissão especial que vai analisar a medida provisória do Mais Médicos, vai apresentar emenda tornando médico carreira de Estado.

Reedição A ideia era defendida pelo ex-ministro José Gomes Temporão, com quem a deputada se reuniu.

Visita à Folha José Castilho Marques Neto, secretário-executivo do Plano Nacional do Livro e da Leitura do Ministério da Educação, visitou ontem a Folha.

Com Andréia Sadi e Bruno Boghossian

Tiroteio

"A prefeitura não precisava ter olhar divino para saber que existia possibilidade de chuva e entender que água na terra faz lama."
DO DEPUTADO ESTADUAL MARCELO FREIXO (PSOL-RJ), sobre a alteração de última hora no local da missa do papa Francisco, devido ao mau tempo.

Contraponto

Nova realidade

Na votação do projeto que destinava a receita de royalties do petróleo do pré-sal para educação, o governo sofreu a quarta derrota na Câmara em três semanas, com a destinação de parte dos recursos para a saúde.

O líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e o tucano Marcus Pestana (MG) se encontraram na saída do plenário, já tarde da noite.

--Não te invejo, não! Você está no leme de uma nau sem rumo --comentou o oposicionista.

Desanimado, o petista concordou:

--É, agora eu virei líder da minoria...

Fonte: Folha de S. Paulo

Brasília-DF - Luiz Carlos Azedo

Não perde a pose
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), admite o colapso dos serviços que a cidade deveria prestar à população e aos peregrinos durante a Jornada Mundial da Juventude, mas não perde a pose: “Quando não é perfeito, fica mais perto de zero do que de 10. Não estou dando nota zero, mas temos a obrigação de ser perfeito. Esse é meu papel, eu trabalho para a perfeição”, disse ontem, ao fazer o diagnóstico de desastre que foi o planejamento do evento, cujo encerramento amanhã acabou transferido de Mangaratiba para Copacabana.
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Na quinta-feira, Paes minimizou os problemas e ironizou as dificuldades enfrentadas pelos fiéis para se locomover em direção aos locais dos eventos protagonizados pelo papa Francisco. Segundo ele, os peregrinos teriam mesmo que caminhar. Os eventos foram transferidos às pressas da Zona Oeste para a Zona Sul, em razão da chuva que provocou alagamento no Campo da Fé, em Santa Cruz, região de Mangaratiba. O local amanheceu na quinta-feira tomado pela lama.
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Paes não foi o único responsável pela escolha do local, região que ainda tem algumas características de zona rural, mas hoje é a fronteira da expansão urbana da cidade, mesmo sem a infraestrutura adequada, por causa da ampliação do metrô para a Barra da Tijuca. Mas desprezou aquela que seria a opção mais sensata, a Candelária, que garantiria não apenas acesso mais fácil por meio de ônibus, metrô e trem, como também facilitaria o trabalho da segurança. Como prefeito do Rio, diante da envergadura do evento, Paes deu a palavra final.

O algoz
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, está convencido de que o seu antecessor no governo Lula e ex-chefe da Casa Civil do atual governo Antônio Palocci (foto) é o principal responsável pelas articulações para substituí-lo. O candidato do ex-ministro seria o diretor do Banco Mundial Otaviano Canuto, que foi secretário de Relações Internacionais do Ministério da Fazenda em sua gestão. O economista está em férias com a família, em Toulouse, França, e se diz surpreendido pela informação.

Cassação
O presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, deputado Samuel Moreira (PSDB), apesar da liminar concedida pelo presidente em exercício do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, não desistiu de cassar o mandato do vice-governador Guilherme Afif Domingos (foto), do PSD, que acumula o cargo com o de ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa da Presidência da República. A Assembleia recorrerá ao plenário da Corte.

Pagar para ver// Apesar das pressões e dos conselhos para antecipar a reforma ministerial, inclusive do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma Rousseff não quer mexer no governo antes de dezembro. Argumenta que teria que fazer duas reformas até as eleições, e que isso seria uma rendição ao PMDB.

Mais Médicos
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, comemora a grande adesão dos prefeitos ao programa Mais Médicos. Apesar dos protestos de entidades médicas, 3.511 municípios (63%) se inscreveram na iniciativa, que se propõe a distribuir profissionais pelo país. A Região Norte teve a maior participação de seus municípios (73%). O governo pretende investir, até 2014, R$ 15 bilhões na expansão e na melhoria da rede pública de saúde. Espanha, Argentina e Portugal são os países que mais aderiram ao polêmico programa.

Diplomas
Das 18.450 inscrições no programa Mais Médicos do Ministério da Saúde, 8.307 apresentaram números inválidos de registros em conselhos regionais de medicina, o equivalente a 45%

Para menos
O esforço fiscal do Governo Central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central), no primeiro semestre deste ano, somou R$ 34,372 bilhões. O resultado é 28,3% inferior ao do mesmo período de 2012 e representa o menor superavit primário desde 2010, quando a economia de recursos atingiu R$ 24,897 bilhões nos seis primeiros meses do ano.

Polícia/ O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) quer retomar o debate sobre a desmilitarização da polícia em Brasília na volta do recesso. O deputado é autor do Projeto de Lei n° 4.471/12, que propõe um controle maior do uso do auto de resistência, utilizado para registrar as mortes ocorridas durante o trabalho policial.

Na rede/ A Força Sindical pretende utilizar as redes sociais para dialogar e mobilizar os sindicatos e militantes. Na quinta-feira, realizou um encontro nacional para discutir a política de comunicação do movimento sindical, que sempre teve uma imprensa muito atuante. O Congresso da Força reuniu mais de 4 mil lideranças sindicais de todo o Brasil, em Praia Grande, Litoral Paulista.

Posse/ Tomou posse ontem a nova diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, o maior do país, com 260 mil trabalhadores na base. Miguel Torres, com mandato de quatro anos, é o novo líder dos metalúrgicos de São Paulo.

Fonte: Correio Braziliense

Panorama Político - Ilimar Franco

Fechado para balanço
Mergulhado na disputa pelo comando do partido, o PT assiste acéfalo ao esgarçamento da aliança política que sustentou os governos do partido. Num momento de incerteza, dizem aliados, o PT deixou a presidente Dilma ao sabor das ondas, enquanto seus dirigentes se entregam à disputa, para os filiados, entre os que defendem a pureza petista e os que venderam a alma aos aliados.

Ruminando a realidade
O Diretório Nacional do PT se reuniu dia 20 e, como não é de seu costume, não divulgou documento de análise sobre a situação do país. Foi nomeada uma comissão para fechar um texto e, depois, fez-se silêncio. Na segunda-feira, haverá outra reunião, mas a pauta deverá tratar unicamente das eleições internas do partido.

Vale o risco
A cúpula aecista diz que Marina Silva, a despeito de estar à frente na corrida para o 2° turno, representa o espírito crescente de mudança. E conclui: "É bom para captar o sentimento predominante e novo no seio da sociedade".

Como ela faria?
Quando o cerimonial do Palácio do Planalto precisa definir a participação da presidente Dilma em grandes eventos, como abertura de cerimônias esportivas, G20, visita do Papa Francisco, entre outros, recorre à atuação da chanceler alemã Angela Merkel. O cerimonial presidencial corre para pesquisar "como Merkel faria".

O que vem pela frente
Os ministros conselheiros políticos da presidente Dilma avaliam que, a despeito dos índices de regular e negativo serem altos comparados com o seu histórico, ela está em situação administrável para fins de recuperação de imagem.

Corrida de obstáculos
O governo Dilma está preocupado com o processo de concessões de rodovias, previsto para o segundo semestre. Ele integra o leque de ações previstas para estimular a economia. A avaliação no Planalto é que os empresários do setor estão retraídos, porque não estão vendo grandes perspectivas de ganho. Ocorre que o retorno financeiro das concessões se dará pela cobrança de pedágio, e os protestos de junho dificultaram a perspectiva de instalação das praças. Há um agravante: o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) acabou revogando um reajuste de pedágio após rodovias terem sido trancadas por manifestantes, irritados com a medida.

Perplexidade
Esta semana, o ministro do Trabalho, Manoel Dias, concedeu coletiva para explicar dados do emprego formal. Disse: "O total de vagas em junho (123.836) foi superior ao registrado no mesmo mês de 2012... As razões, não sei por quê".

No armário
O governo deixou de priorizar a obra do trem-bala. A avaliação é que ficou "injustificável" com os protestos, pelo tamanho do gasto. Pesou ainda o desinteresse de empresários na obra.

O presidente do Uruguai, José Mujica, não quis vir, mas seu vice, Danilo Astori, fez pedido para ver o Papa de perto na Praia de Copacabana amanhã.

Fonte: O Globo

Opinião: O Lula de sempre – O Estado de S. Paulo / Editorial

Enquanto o povo estava nas ruas cobrando gestão governamental competente e sem corrupção, Luiz Inácio Lula da Silva escondeu-se como se não tivesse nada a ver com o assunto. Bastou as manifestações populares refluírem - ao que tudo indica, momentaneamente - para ele voltar. E voltou para mostrar que continua exatamente o mesmo, que não aprendeu nada com o retumbante "chega!" que a voz das ruas bradou para os políticos que se julgam muito espertos e capazes de manipular eternamente os anseios populares.

Em dois eventos públicos em dias sucessivos, em Brasília e em Salvador, o ex-presidente lançou mão de todos os recursos de seu arsenal do mais demagógico populismo, na tentativa de reverter a queda livre do prestígio do governo petista em todos os segmentos da população brasileira e em todas as regiões do País. Na verdade, mais do que preservar a imagem do governo e de sua pupila Dilma Rousseff, Lula demonstra estar preocupado em salvar o ameaçado projeto de poder do partido que comanda. E para tanto usou, como de hábito, seu melhor argumento de defesa: o ataque.

Na arenga de mais de uma hora no Festival da Mulher Afro, Latino-Americana e Caribenha, na terça-feira em Brasília, os dotes palanqueiros de Lula revelaram, como única novidade, a admissão implícita do enorme desgaste de Dilma Rousseff com suas repetidas trapalhadas na tentativa de dar satisfação aos protestos populares.

O script não foi diferente no dia seguinte, na capital baiana, durante evento comemorativo dos 10 anos de poder do PT. Depois de um encontro reservado de três horas que certamente não foi dedicado a comemorações - tempo relativamente curto, aliás, levando em conta o tamanho do prejuízo a recuperar -, Lula e Dilma subiram ao palanque montado pelo governador Jaques Wagner para, como de hábito, lançar sobre os ombros das "elites" a responsabilidade de todos os males que afligem o País e gabar feitos sem precedentes na história deste país.

O tema principal dos discursos da dupla foi a inflação, que flerta com o descontrole e é uma das facetas mais visíveis da incompetência do governo aparelhado pelo PT. Para Dilma, "não é verdade" que a inflação seja um problema, porque "este será o décimo ano seguido em que a inflação está sob rigoroso controle". Não importa que o índice inflacionário se tenha mantido, nos últimos meses, no teto da meta, e não em seu centro, como ocorreria se estivesse efetivamente sob controle. E o argumento não estaria completo se, no melhor estilo lulopetista, algumas pedras não fossem lançadas sobre o passado: "E lembremos que nos últimos quatro anos anteriores ao governo Lula, em três a inflação ficou acima da meta".

Por sua vez, Lula deixou bem clara a relação paternalista que mantém com sua sucessora, ao dar-lhe conselhos em público, com uma frase cheia de significados nada misteriosos: "Você, Dilminha, pode começar a fazer oposição a você mesma. Porque a gente pode fazer muito mais". Manifestação típica da tática do morde-assopra que aparentemente o patrono do PT tem aplicado para "enquadrar" aquela cujas lambanças ameaçam comprometer seriamente a ambição da companheirada de se perpetuar no poder.

Lula anda tão obcecado com a ideia de corrigir os desacertos de Dilma que tem cometido gafes embaraçosas. No evento de Brasília declarou: "Dilma não é mais do que uma extensão da gente lá. Nós seremos responsáveis pelos acertos e pelos erros que ela cometer". Descartada a hipótese de ele ter usado um "nós" majestático, que transformaria a frase em pura afronta à dignidade presidencial, em nada colabora para melhorar a imagem de Dilma a tentativa de coletivizar a responsabilidade que a ela, e somente a ela, cabe como chefe de Estado e de governo. É o velho truque de socializar os erros e privatizar os acertos.

Falando aos jornalistas depois do evento em Salvador, Lula deixou no ar uma frase capciosa: "Hoje, eu descubro o quanto eu poderia ter feito mais".

Ressurge, assim, no proscênio político, para mostrar que o velho e ardiloso Lula continua sendo o que sempre foi.

Servidores têm divida de R$ 128 bi no consignado

Valor cresceu 18,1% nos últimos 12 meses e é 7,5 vezes maior que o de trabalhadores do setor privado

Divulgados pelo Banco Central, os débitos se referem a funcionários públicos de todas as esferas de governo - federais, estaduais e municipais. No caso dos aposentados, o volume de crédito com desconto direto na folha chegou a R$ 63,3 bilhões. E atingiu R$ 17,3 bilhões entre os assalariados de empresas privadas

Servidor deve R$ 128 bi

Débitos aumentaram 18,5% nos últimos 12 meses e são 7,5 vezes maiores que os empréstimos a trabalhadores privados

Simone Kafruni

Os servidores públicos não têm se intimidado em aumentar as dívidas. Dados do Banco Central mostram que os funcionários das três esferas de governo — União, estados e municípios — já devem R$ 128 bilhões aos bancos por meio do crédito consignado, com desconto em folha de pagamento. O volume é 7,5 maior do que o total dos débitos de trabalhadores da iniciativa privada (R$ 17 bilhões) e quase do dobro dos empréstimos concedidos aos aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (R$ 63,3 bilhões).

O apetite dos funcionários públicos pelo crédito consignado é enorme. Nos 12 meses terminados em junho, o saldo devedor aumentou 18,5%, quase três vezes mais o incremento de 7,9% computado em todas as operações destinadas às pessoas físicas. No ano, as dívidas com desconto em folha dos servidores avançaram 10,8% ante os 3,3% do total de empréstimos e financiamentos aos consumidores.

Segundo o Ministério do Planejamento, que controla as operações de consignado do funcionalismo federal, não se pode falar em superendividamento, pois o limite legal de comprometimento da remuneração do servidor é de, no máximo, 30%. As dívidas podem ser pagas em, no máximo, 60 parcelas.

Mesmo com regras bem estabelecidas, o crescimento desse tipo de crédito preocupa, na avaliação do professor de matemática financeira José Dutra Vieira Sobrinho, vice-presidente da Ordem dos Economistas do Brasil. “As pessoas que tomam esse empréstimo também têm financiamentos de carros ou imóveis, no cartão de crédito. Chega uma hora que começa a faltar dinheiro e aumenta a inadimplência. Não no consignado, porque ele é descontado diretamente no salário, mas em outras modalidades que têm juros maiores”, alertou.

Segundo o professor, o aumento no saldo do crédito consignado também é justificado pelo assédio de bancos e financeiras aos clientes, sobretudo em relação aos servidores, que têm altos salários e estabilidade. No caso dos pensionistas do INSS, pesa a garantia do contracheque. “Eu mesmo, que sou aposentado, já recebi três ligações num mesmo dia de três bancos diferentes para me oferecer o serviço. E eles já sabiam o valor do meu benefício e quanto eu podia contratar”, afirmou Dutra.

Educação
Para o educador financeiro Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro, é normal que as estatísticas apontem um maior endividamento dos funcionários públicos no crédito consignado. “Essa linha oferece juros muito baixos, porque o servidor tem estabilidade no emprego e capacidade maior de pagamento. Tulio Maciel, chefe do Departamento Econômico do Banco Central, afirmou que os funcionários públicos estão saindo do cheque especial e cartão de crédito para o consignado, “a migração do crédito mais caro para mais barato é positiva”, avaliou.

De acordo com Calil, não raro gerentes de instituições sugerem que o cliente deixe o dinheiro aplicado na poupança e contrate um crédito consignado para, por exemplo, trocar de carro. “Isso é comum e também um erro enorme. A poupança não vai render o que custa um empréstimo”, disse.

A servidora no Ministério da Saúde Valdiléia Carvalho, 28 anos, pensa em usar o crédito consignado pela primeira vez para a compra de um apartamento à vista, de R$ 100 mil. “Vou pegar R$ 60 mil com o banco para juntar com uma reserva que tenho”, contou. Para que as parcelas caibam no bolso, ela optou por financiar o débito por cinco anos.

O servidor no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) Aírton Xavier, 36, pegou o mesmo tipo de crédito em abril deste ano para quitar outra dívida. “No ano passado, peguei R$ 36 mil emprestados para quitar meu veículo. Mas resolvi fazer outro empréstimo, de R$ 48 mil, para zerar o débito do carro e outros financiamentos, mais caros”, ressaltou. “Os juros do são mais acessíveis”, disse.

Fonte: Correio Braziliense

Os erros da semana - Míriam Leitão

Foi uma semana de frio inusitado no Brasil todo, até em cidades pouco acostumadas com isso, como o Rio. De presença intensa do Papa Francisco, com palavras e gestos aos quais é difícil ficar indiferente, concordando ou discordando. De confirmação da queda da popularidade da presidente e de governadores. De indicadores econômicos com a fraqueza da economia.

A viagem do Papa mostrou que o Rio exibiu falhas flagrantes de planejamento e logística. A pior delas foi o alagamento do Campo de Guaratiba. A chuva previsível afundou na lama um espaço onde havia riscos enormes de tal fato acontecer. O trânsito frustrou os visitantes e atormentou a vida dos moradores. Os governantes estavam achando que bastavam alguns dias de feriado que tudo se resolveria; só que a vida segue seu curso, muitas atividades não podem, nem querem parar. Houve momentos em que os cariocas se sentiram sem direito de ir e vir.

A estrutura de TI mostrou sua falha. Para atender ao crescimento da demanda, a qualidade da conexão piorou muito; a telefonia celular, que sempre foi péssima, virou uma calamidade. A cidade é hoje uma coleção de pontos cegos das várias operadoras.

Tudo isso tem um custo de imagem difícil de mensurar. Cada um desses visitantes de outros países será propagador do que não funcionou, a imprensa estrangeira vai usar todo o seu poder de propagação para falar das dificuldades que enfrentou para realizar seu trabalho.

Na chegada do Papa Francisco, a presidente submeteu o líder da Igreja Católica a um discurso cansativo e despropositado. Quando ela apresentou os avanços do país, fazendo o corte político - ao falar apenas "nos dez últimos anos" -, excluiu parte do Brasil. Um estadista, em momentos assim, fala em nome de todo o país, e quem não professa a fé petista sabe que os avanços sociais brasileiros foram conquistas do período democrático; com marcos importantes na Constituição de 1988 e na estabilização de 1994. Ela poderia enaltecer os avanços conduzidos pelo seu grupo político, dentro de um contexto mais amplo, mas o melhor seria fazer um discurso não eleitoreiro. Há momento para tudo debaixo do céu, e aquele não era de campanha política.

A pesquisa da CNI-Ibope confirmou o movimento, ainda não encerrado, de perda de apoio da presidente Dilma. Parte dessa perda se deve à enorme distância entre a maneira como sua campanha eleitoral a apresentou e o que ela demonstrou ser: a gerente que tudo administraria com competência e a estadista em movimento constante num país de trens modernos e ágil mobilidade não têm relação com a realidade dos últimos anos. Os obstáculos ficaram mais fortes, a crise de mobilidade urbana e interurbana se agravou, e o governo de 39 ministérios tem se mostrado cada vez menos administrável. Outra desdita foi jogada sobre ela por seus próprios companheiros com a campanha para que volte o ex-presidente Lula.

A economia está dando sinais cada vez mais eloquentes de dificuldade. Esta semana foi a de ficar de frente com o crescimento de 70% do déficit em transações correntes; e com mais uma encenação de corte de gastos. Depois de espremido, nada ficou da redução das despesas anunciada pelo ministro Guido Mantega e pela ministra Miriam Belchior. Até o Banco Central tinha pedido que o governo anunciasse de forma clara as metas fiscais e como se chegou a esse número. Dizer que vai cortar em gastos de viagens, em material de limpeza, em contas de luz, e na decisão de enviar menos recursos para o deficitário INSS é não informar com clareza a situação fiscal do país.

Fonte: O Globo

Novas brincadeiras e antigos clássicos de Ferreira Gullar

Poeta lança livro ilustrado com colagens ‘descontroladas’, enquanto obras marcantes de sua carreira, como ‘Poema sujo’, ganham nova roupagem

Pedro Sprejer

Nos últimos anos, Ferreira Gullar resolveu aceitar a desordem como parceira em sua criação. É assim que o poeta maranhense elucida o processo de composição de seus últimos livros. Ilustrado com desenhos e colagens feitas pelo próprio Gullar, o singelo “A menina Cláudia e o rinoceronte” (Editora José Olympio, 50 páginas, R$ 38) é o mais recente produto dessa parceria. Uma obra que é, antes de mais nada, o resultado de um dos passatempos preferidos do autor de 82 anos.

— Para mim fazer essas colagens é uma brincadeira, como eu não tenho compromisso, eu faço me divertindo. É diferente de fazer poema. Poema é um negócio esquisito — diz o poeta.

Gullar também enxerga vestígios da desordem em sua mais recente obra poética, “Em alguma parte alguma”. Vencedor do Prêmio Jabuti de 2011, o livro está sendo relançado pela José Olympio, com novo projeto gráfico, ao lado de “Muitas vozes” e “Poema sujo”. As edições trazem textos de apresentação de Marco Lucchesi, Marcos Pasche e Antonio Carlos Secchin. Até o final do ano outros quatro títulos chegarão renovados às livrarias, entre eles “A luta corporal”.

— Desde “A luta corporal”, meu primeiro livro, eu escrevia poemas a partir do início. Já no último, “Em alguma parte alguma”, passei a começar do meio, do fim, de qualquer ponto. Eu escrevia um verso e sabia que aquilo não podia ser o início. As coisas agora acontecem de uma forma mais imprevisível do que antes — conta Gullar, que lançará “A menina Cláudia e o rinoceronte” e as novas edições na próxima quinta-feira, às 19h30m, na Livraria da Travessa do Leblon.

No caso das ilustrações, o que o poeta define como “uma chance ao acaso” tem uma origem curiosa. Um dia, Gullar fazia uma de suas colagens com recortes em forma de bules, garrafas e cálices quando se levantou para atender o telefone. Ao voltar, alguns minutos depois, encontrou os recortes fora de ordem, espalhados aleatoriamente e, ao lado, o indiferente autor da obra: seu gato — que atendia pelo nome “Gatinho”.

— Ele deve ter dado um tapa no papel e desarrumou os recortes todos. O resultado foi um desenho principal por cima e uma grande desordem por baixo. Achei bonito e colei daquela maneira. E desde então passei a incluir o acaso, o incontrolável, nas colagens.

Em 2000, Gullar homenageou e narrou em versos algumas histórias do já falecido bichano-artista em “Um gato chamado Gatinho” (Salamandra). Embora não tenha sido concebido exatamente como um livro para o público infantojuvenil, a obra acabou abrindo para Gullar as portas do gênero. Em seguida viriam “O rei que mora no mar” (Global) — adaptação de um poema inédito escrito nos anos 60 —; “Dr. Urubu e outras fábulas” (José Olympio); “Zoologia bizarra” (Casa da Palavra) — contemplado com o prêmio infantojuvenil da Academia Brasileira de Letras, em 2011 — e “Bichos do lixo” (Casa da Palavra), também de colagens e lançado neste ano.

A inspiração para o novo livro, que narra a história de uma menina que “de tanto brincar com papéis coloridos que recortava, inventou um rinoceronte”, nasceu de um relato de Cláudia Ahimsa, companheira do poeta. Em uma viagem pela África, ela se deparou, cara a cara, com um exemplar do imponente mamífero, ficando assustada e maravilhada:

— A ideia não era fazer um livro para crianças. A inspiração nasceu do fascínio da Cláudia por esse animal realmente incrível que é o rinoceronte e sua forma singular.

A espera tranquila pelo poema

Desde que terminou “Em alguma parte alguma”, publicado em 2010, Gullar não escreveu um poema sequer. Não se trata de bloqueio criativo. A espera tranquila pelo verso faz parte da rotina, que tem no poema um momento de exceção desencadeado misteriosamente. Como uma espécie de longa latência da qual, após um dia ou cinco anos, desabrocha a poesia:

— Costumo dizer que só faço poesia se me espanto. Não tomo a decisão de escrever um livro de poemas, não sou capaz. Eu não decido, vem aquele estalo. Aí, então, começo a trabalhar e assumo o controle do poema. Mas não forço a barra: se não vier, eu não escrevo.

Publicado em 1976 e tido como um dos grandes acontecimentos da poesia brasileira, “Poema sujo” foi uma exceção dentro do processo criativo de Gullar. Exilado em Buenos Aires, onde conseguiu uma vaga de professor universitário, o poeta sentia sua vida em risco, com a iminência de um golpe de Estado no país. Sem passaporte, vencido e cancelado pela embaixada brasileira, ele decidiu escrever “aqueles que podiam ser os meus últimos versos”. Logo no início, redigiu uma carta para o amigo Leandro Konder, em que dava tons de certeza a uma intuição: “comecei um poema que vai ter de 70 a 100 páginas”.

— Não sei como, mas eu já sabia. Pretendia dizer tudo o que me restava dizer — lembra Gullar, que enxerga uma identidade entre os sentimentos evocados pelo poema e a onda de protestos que tomou o país em junho. — Como o poema envolve questões muito amplas, políticas, existenciais, poéticas e estéticas, é uma coisa que pode, quem sabe, motivar a pessoa a levar adiante essa luta. Não tenho certeza disso, mas afinidade com esse momento atual que o país vive, é evidente que tem.

“Poema sujo” resgata uma série de lembranças da infância do autor em São Luís do Maranhão, tema que retorna muitas vezes em sua obra. Criado em “uma casa sem livros”, o poeta cresceu lendo histórias em quadrinhos do Tarzan e outros heróis e contos policiais da revista “Detetive”, leitura preferida do pai. Monteiro Lobato, La Fontaine (de quem traduziu parte da obra) e outros clássicos infantojuvenis só apareceriam em sua vida a partir da adolescência:

— No fundo, o que faz a gente ser poeta e ser artista é a criança que sobra, que sobrevive. Um lado de fantasia, de busca da maravilha, do sonho, que vai se perdendo no adulto. No caso, eu, com as minhas colagens, brinco mais ainda. É uma coisa fora do controle.

Fonte: Prosa / O Globo