sexta-feira, 12 de julho de 2013

OPINIÃO DO DIA – Eduardo Campos: fazer mais

"Sempre devemos ter o desejo de fazer mais. E esse desejo eu tenho, tanto é que tenho feito mais, sem ter nenhuma conotação política.

Desejo que o prefeito possa fazer muito mais, como desejo que a presidente Dilma possa fazer muito mais. Não adianta mandar os outros fazer mais e fazer menos. Quem tem a coragem de achar que o outro deve fazer mais, que consiga fazer mais. O danado do Brasil é que quem está sempre cobrando fazer mais, não faz!"

Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB. In “Resposta à provocação petista”, Jornal do Commercio (PE), 12/7/2013

A volta dos sindicatos: Novos protestos fecham estradas e ruas pelo país

Atos de Centrais mobilizaram menos que manifestações de jovens no mês passado.

No Rio, passeata convocada por sindicalistas reúne cerca de cinco mil pessoas e termina em confronto entre PMs e radicais mascarados no Centro, onde bancos não abriram, e nas imediações do Palácio Guanabara.

A mobilização das centrais sindicais causou a interdição de trechos de rodovias federais em 18 estados, mas levou às ruas muito menos gente que as manifestações organizadas pelas redes sociais, em junho. Houve atos em 22 estados e no Distrito Federal. Em São Paulo, a marcha reuniu dez mil pessoas na Avenida Paulista. Em junho, 100 mil saíram às ruas apenas em um dia na capital paulista. No Rio, foram cerca de cinco mil pessoas, contra 300 mil em 20 de junho. A passeata, pacífica no Centro, acabou em confronto entre PMs e um grupo de mascarados. Também houve confronto em frente ao Palácio Guanabara, sede do governo do estado. O principal alvo dos protestos foi a equipe econômica de Dilma, criticada até pela CUT, ligada ao PT.

Força tímida das centrais

Sindicalistas bloqueiam estradas em 18 estados; protestos sem o vigor das redes sociais

SÃO PAULO, BRASÍLIA, PORTO ALEGRE, RECIFE, BELÉM e RIO - Numa mobilização que não atingiu as projeções das próprias centrais, milhares de sindicalistas fizeram paralisações, bloquearam estradas e foram ontem às ruas em todo o país para levar a agenda trabalhista em pelo menos 150 cidades de 22 estados e no Distrito Federal. Houve passeastas e marchas nas rodovias. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), foram registradas interdições em 66 trechos de rodovias federais de 18 estados. No Rio, apesar do número reduzido de manifestantes — cerca de cinco mil pessoas, contra 300 mil registrados em dia 20 de junho — o ato acabou em confronto. Em São Paulo, a marcha de dez mil pessoas — contra mais de 100 mil dos protestos de junho — seguiu pacífica na Avenida Paulista e no Centro da capital.

Além do número menor de pessoas, o ato convocado pelas oito centrais sindicais, entre elas a CUT e a Força Sindical, também se diferenciou da histórica marcha das ruas por conta da lista de reivindicações. Em junho, a população, convocada pelas redes sociais, pedia redução da tarifa do transporte coletivo, combate à corrupção e à impunidade e melhores serviços públicos. Ontem, o principal alvo foi a equipe econômica do governo Dilma Rousseff, criticada até mesmo pela CUT, ligada ao PT. A voz dos sindicatos exigia ainda a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais; o fim do fator previdenciário; e o reajuste para aposentadores, pontos históricos da mesa de negociação com o governo há anos.

Para centrais que reúnem milhões de filiados — 2,6 milhões na CUT e mais de 1 milhão na Força —, as lideranças tiveram, diante da fraca mobilização, que admitir a frustração:

— Tínhamos a confiança de que os trabalhadores de metrô e ônibus parassem (em São Paulo), mas eles ficaram devendo desta vez. O que queríamos era fazer a mobilização, chamar a atenção, e isso conseguimos — disse o secretário-gerai da Força Sindical, João Carlos Gonçalves.

Pauta imposta prejudica movimento

Numa análise sobre o desempenho abaixo da expectativa das próprias centrais, há quem sentencie: um cardápio de reivindicações definido de cima para baixo só tende a afastar a base trabalhadora das lideranças sindicais.

— São manifestações de estruturas verticais, onde as pessoas são apenas convocadas a participar, não a opinar ou levar cartazes com suas próprias rei-vindicações. As centrais tratam as pessoas como massa, não como protagonistas — dispara Marco Antônio Teixeira, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). — A grande maioria do sindicalismo é governista e a atual conjuntura impõe novos desafios às forças que fazem parte do condomínio petista — emenda Ruy gomes Braga Neto, do Departamento de Sociologia da USP.

O próprio Movimento Passe Livre (MPL), responsável por desencadear as manifestações da chamada Jornada de Junho, ironizou o ato de ontem.

"Só mudamos a vida quando sabemos pelo que lutamos. Há tantas reivindicações diferentes sendo levantadas nesse dia 11 que elas tendem a ficar diluídas. E não sabemos a quem interessa essa diluição, mas certamente não é aos trabalhadores" disse o grupo, por meio de uma rede social, principal instrumento usado para mobilizar a sociedade nas últimas semanas.

Em meio ao esvaziamento, o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, logo deixou de lado a pauta de reivindicações, e partiu para um discurso de viés político:

A equipe econômica perdeu as condições de dirigir o Brasil. É necessário a demissão da equipe econômica. O ministro (Guido) Mantega fala e ninguém mais presta atenção — afirmou o sindicalista; que pretende realizar um novo ato em agosto, novamente junto às principais centrais.

Os trabalhadores do setor de transporte público, embora tenham decepcionado os líderes, pararam em Porto Alegre, Belo Horizonte e Salvador. No fim da tarde, motoristas de ônibus também encamparam, mas em operação padrão. Para evitar mais problemas aos usuários, a Justiça de São Paulo determinou o funcionamento integral das linhas do metrô no horário de pico, o que se verificou ao longo do dia.

Em Porto Alegre, o transporte público parou, apesar de uma decisão judiciai que exigia a manutenção de 50% da frota rodando, em meio a protestos que reuniram cerca de duas mil pessoas no Centro. Sem ônibus, o funcionamento do comércio e das indústrias foi afetado.

No Paraná, houve prostestos em pedágios. Integrantes do MST tomaram uma praça de pedágio na região metropolitana de Curitiba, e abriram todas as cancelas. Em São Luiz do Purunã, seis pessoas foram presas, de acordo com o site Gl.

Nos serviços de Saúde, o maior impacto ocorreu no Paraná, onde também houve protestos e bloqueios nas vias de acesso ao Porto de Paranaguá. Sindicalistas conseguiram parar o Hospital de Clínicas de Curitiba. Cerca de 1,2 mil consultas foram canceladas, e mais de 700 pedidos de exames tiveram de ser remarcados.

Em Belo Horizonte, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) informou que todas as estações do metrô foram fechadas. Cerca de 500 metroviários ainda bloquearam o trânsito na Praça Sete, no Centro.

Três portos foram atingidos pelos protestos. Itaguaí (RJ), Suape (PE) e Santos (SP). Dos 31 navios atracados no terminal santista, dez não conseguiram operar devido à manifestação dos estivadores. Os outros 21 não tiveram problemas para fazer a carga e descarga porque são mecanizados. Já em Belém, diversos grupos acompanharam osos protestos dos sindicalistas.

Fonte: O Globo

PT, de dono das ruas a coadjuvante

Sem as camisas e bandeiras vermelhas do partido, petistas participaram discretamente dos atos convocados pelas centrais. No mês passado, o PT foi hostilizado nos protestos.

Desta vez, PT tem participação discreta em atos

Partido orientou militantes a não fazer ação ostensiva

Silvia AmoriM; Gustavo Uribe e Letícia Lins

SÃO PAULO e RECIFE- Depois de terem sido hostilizados no mês passado, durante as manifestações organizadas em redes sociais, os petistas decidiram ontem participar de forma discreta do ato organizado em São Paulo pelas centrais sindicais. Militantes chegaram à Avenida Paulista sem as tradicionais bandeiras e camisetas vermelhas com a estrela no peito. Por orientação da direção petista em São Paulo, muitos filiados usaram camisetas da Central Única dos Trabalhadores (CUT), entidade afinada com o governo.

Na semana passada, a Executiva Nacional do PT fez um chamamento a seus militantes para que participassem das manifestações de ontem.

Em Recife, diferentemente de São Paulo, o ato nas ruas do Centro foi marcado pela presença de bandeiras de partidos políticos que, dessa vez, não foram hostilizados. Só três legendas, no entanto, marcaram presença na manifestação: PSTU, PC do B e PT.

O PT paulistano marcou ato do partido em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, para apoiar os trabalhadores, mas também fazer reivindicações do partido, como um plebiscito para a reforma política e a aprovação de um marco regulatório da mídia.

O presidente estadual do PT em São Paulo, Edinho Silva, tentou explicar a presença dis-
creta de petistas no evento:

— Nós demos uma orientação para que não tivesse nenhuma ação ostensiva do partido para que não tivesse mais visibilidade do que as centrais sindicais. Esse não é um ato liderado pelo PT.

O secretário de mobilização do PT da capital paulista, Álvaro Abreu, negou que a participação discreta tenha tido o intuito de evitar hostilidades.

Na última vez em que o PT participou de um ato na Avenida Paulista, no dia 20 de junho, o lado de um grupo da CUT, para comemorar a redução da tarifa do transporte público, militantes foram hostilizados e agredidos. A legenda teve bandeiras quebradas e queimadas.

Manifestantes questionaram, na ocasião, a presença de partidos na passeata, uma vez que a redução do preço da passagem de ônibus e metrô na cidade havia sido conquista de movimento organizado de forma espontânea nas redes sociais, sem a ajuda de legendas.

Fonte: O Globo

Nas redes sociais, opiniões divididas sobre manifestações

Jovens demonstraram desconfiança de atos organizados por centrais

Bernardo Moura e Nívia Carvalho

Este ato não vai ser como aquele que passou. Nas redes sociais, esta foi a percepção dominante no Dia Nacional de Lutas. Usuários que, em junho, engajaram-se nos protestos que se espalharam pelo país agora reservam boas doses de crítica, desconfiança e ironia para as passeatas que reúnem centrais sindicais, partidos de esquerda e movimentos sociais.

Militantes, políticos, sindicalistas e ONGs fizeram o contraponto postando elogios e apoio às manifestações de ontem, apesar de disputas internas estarem ao alcance de um tweet.

A presença de bandeiras de partidos, balões infláveis, bonés, uniformes e carros de som nos protestos foram motivos de desconfiança, como escreveu o estudante paraibano Fernando Eucli-des no Facebook: "Eu, sair de casa para o protesto em João Pessoa, onde tem mais bandeiras de partido do que pessoas? Jamais! Para você ter uma ideia, os protestos são, quase diretamente, contra os partidos, e eles levantam bandeiras lá no meio. Moral da história: o Brasil é o único país em que os partidos políticos vão às ruas contra eles mesmos"."

No Twitter, a CUT, ligada ao PT, chegou à lista de assuntos mais comentados à tarde, entre elogios de simpatizantes e críticas quanto a uma falta de legitimidade da manifestação.
Tarcisio Moura estranhou o fato de a greve "não querer atacar a presidente, que é a causa da crise"," enquanto Guilherme Macalossi acusava CUT e Força Sindical de defenderem "o encampamento estatal dos protestos"."

A central comandada por Paulinho da Força chegou a ganhar um apelido nada elogioso na rede: "A Farsa Sindical precisou se ausentar porque tinha que bater cartão" tuitou o ativista e escritor Pedro Sanches.

Políticos também se manifestaram nas redes. O ex-ministro José Dirceu, no Twitter, disse ser fato político relevante a "presença da classe trabalhadora nas ruas" Luciana Genro (PSOL) acusou centrais de "surfar na onda do levante de junho" mesmo apoiando o govemo.

Fonte: O Globo

Protestos têm baixa adesão e centrais poupam Dilma

Ato com pauta trabalhista foi mais expressivo em capitais onde transporte parou; no Rio, houve confronto

Organizado por nove centrais sindicais em todo o País, o Dia Nacional de Lutas levou manifestantes novamente às ruas ontem em 26 capitais e no Distrito Federal, mas em proporções bem menores que os protestos iniciados no dia 6 de junho. Os presidentes das centrais cumpriram acordo e evitaram ataques diretos ao governo Dilma Rousseff. Eles fugiram de temas polêmicos, como plebiscito e reforma política. Nas entrevistas, porém, não escondiam suas diferenças. Com o foco em pautas trabalhistas - fim do fator previdenciário, redução de jornada de trabalho e contra a terceirização de profissionais -, as manifestações tiveram maior visibilidade nas cidades em que houve paralisação dos serviços de transporte, como em Porto Alegre (RS), Belo Horizonte (MG) e Vitória (ES). A cidade de São Paulo saiu da rotina e a quinta-feira pareceu domingo. Ao longo do dia, atos fecharam grandes vias da capital, mas quase não houve congestionamentos.

Bloqueios afetam venda e produção

As manifestações organizadas ontem petas centrais sindicais afetaram a produção industrial e as vendas do varejo. Trabalhadores não conseguiram se deslocar. A produção foi paralisada em pelo menos quatro refinarias brasileiras e em oito unidades de montadoras.

Protestos em todos os Estados param capitais e bloqueiam 48 rodovias

Paralisado foi maior em MG, ES e RS, onde faltou transporte público; houve registro de incidentes e pelo menos 9 feridos nos atos

Apesar de motivar protestos em todos os Estados, a paralisação convocada pelas centrais sindicais foi mais forte nas cidades em que funcionários do transporte aderiram, suspendendo as atividades, e onde as manifestações conseguiram bloquear rodovias. Ocorreram atos em todas as 26 capitais e no Distrito Federal e 48 estradas, em 18 Estados, foram bloqueadas» Essas interdições também levaram a confrontos, com feridos.

As Polícias Civil e Militar foram informadas pelas centrais dos atos em todo o País, acompanharam a maioria e registraram poucos incidentes. Um estudante de 21 anos ficou ferido durante manifestação em Varginha (MG), ao tentar bloquear uma via - um motorista avançou sobre o grupo. Outras quatro pessoas ficaram feridas no Rodoanel, em Embu das Artes, em situação semelhante (mais informações na página AS). Nas capitais, o confronto mais grave aconteceu no Rio, com pelo menos quatro feridos (mais informações nesta página).

Impulsionado pela falta de transporte público, o movimento teve mais força em Belo Horizonte, Vitória e Porto Alegre. Em Salvador e no Recife, a maior adesão foi pela manhã. Na capital mineira, o metrô não funcionou - apesar de uma decisão judicial determinar escala mínima - e rodoviários impediram que ônibus deixassem as estações de bairros. Parte do comércio ficou fechada, assim como as agências bancárias.

O Dia Nacional de Lutas das centrais sindicais também paralisou .O transporte coletivo de Porto Alegre e, consequentemente, quase todo o comércio e os serviços. Tanto o Sindicato dos Rodoviários quanto a Empresa Pública de Transporte e Circulação admitiram que to dos os 1,7 mil ônibus deixaram de circular e 1,2 milhão de pessoas foram prejudicadas. Outros serviços, como o trem metropolitano e os ônibus intermunicipais, não funcionaram.

Em Vitória, o clima era de feriado, mas sem ônibus nas ruas. Manifestantes fecharam os principais acessos à ilha às 5h30 e interromperam até itinerários interestaduais.

Ainda se viu clima de feriado em Manaus, com 60% do transporte parado pela manhã e comércio fechado pelo medo de manifestações. A capital teve cite um ato público envolvendo cinco comunidades indígenas.

Já em Salvador, onde os trabalhadores das empresas de transporte paralisaram as atividades entre as 4 e as 8 horas, bancos, escolas e universidades públicas, o comércio popular do centro e empresas do Polo Industrial de Camaçari não funcionaram. Delegacias e hospitais só recebiam urgências.

Estradas. Nas rodovias, a maior parte dos bloqueios também ocorreu pela manhã - embora às 20 horas ainda fossem registradas interdições em pelo menos cinco Estados. O maior alvo das manifestações foram rodovias federais - 32 tiveram bloqueios, que atingiram até áreas essenciais, como acessos a capitais, portos e refinarias.

Uma liminar da Justiça Federal de São Paulo proibiu o bloqueio de tráfego nas rodovias federais do Estado pela Força Sindical e pela União Geral dos Trabalhadores (UGT). O pedido foi ajuizado pela Advocacia-Geral da União (AGU). No caso, o descumprimento prevê multa de R$ 100 mil por hora. Apesar disso, as estradas paulistas também tiveram manifestações.

Apesar de o governo admitir até o uso da força pela Polícia Rodoviária Federal nas estradas, houve a opção pelo diálogo para a liberação das rodovias. Na maior parte dos casos, a desmobilização à tarde foi iniciada pelos manifestantes.

Os protestos atingiram algumas das principais estradas do País, como a BR-101, que cruza do Sul ao Nordeste. Houve problemas na Bahia, na Paraíba, em Sergipe e Santa Catarina, com formação de filas nos dois sentidos. No maior protesto, que reuniu 12 entidades sindicais às 15h30, cerca de 1.500 manifestantes de Joinville, Brusque, Blumenau e de outras cidades do litoral, bloquearam a rodovia no km 117, em Itajaí. /Ângela Lacerda, Ayr Aliski, Elder Ogliari, Marcelo Portela, Tiago Décimo, Júlio Castro, Nayanne Nóbrega, Renata Magnenti, Rene Moreira e Rodolpho Paixão, Especial para O Estado.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Turbulência no Congresso e nas ruas

BRASÍLIA - Atordoado diante de uma rebelião em curso no Congresso Nacional e com um racha na base aliada que começou com o PMDB e contaminou partidos menores, o governo da presidente Dilma Rousseff viu a zona de turbulência ser ampliada ontem após manifestações por todo o país comandadas pelas centrais sindicais. O PT, que prometeu ir às ruas em grande número na semana passada, apareceu de forma tímida. Na prática, o país viveu mais um dia de caos. O preço, novamente, foi debitado na conta da presidente. Rodovias interditadas em 10 estados, portos bloqueados, falta de ônibus nas ruas e ameaça de greve geral. Em várias cidades, o comércio fechou as portas por temer atos de violência.

Longe das ruas, no Congresso, um dia depois de o governo manobrar e impedir a votação do projeto que destina royalties do petróleo às áreas de educação e saúde para não ser derrotado, o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), tentou um freio de arrumação. Chegou a reconhecer que a "viola estava desafinada" e que "algumas cordas haviam quebrado". Um dia antes, o parlamentar complicou ainda mais o meio-campo ao cobrar fidelidade dos partidos da base durante as votações e, sem cerimônia, escancarou a prática do toma lá, dá cá. "Quero discutir quem é da base e quem não é. Quero discutir quem tem cargo no governo e quem não tem cargo no governo", discursou.

Na tarde de ontem, Guimarães insistiu no tema e expôs ainda mais a crise, acentuada durante o processo de votação do projeto dos royalties do petróleo no dia anterior. "Nós temos que nos entender. A base tem que se entender. Quando falei que a viola estava desafinada, é porque estava mesmo. E, agora, algumas cordas quebraram. Temos que trocar as cordas, recompor com outras, para ver se a gente acerta o passo", afirmou.

Não conseguiu abafar a crise na relação entre Dilma, que viajou ontem à noite para o Uruguai, e o Congresso. O líder do PDT na Câmara, André Figueiredo (CE), engrossou o caldo de independência em relação ao governo federal. "Creio que o deputado José Guimarães estava com os nervos aflorados. Nós ocupamos um ministério, mas votamos de acordo com as nossas bandeiras. O governo sabe disso. A relação estremecida entre o Planalto e o Congresso é resultado de um processo de afastamento e pouca capacidade política de diálogo. Vários parlamentares que votaram contra a gente ontem (quarta-feira), a exemplo de deputados do próprio PT e PCdoB, estavam constrangidos", afirmou.

Os líderes partidários da base aliada passaram o dia em reuniões avaliando o que ocorreu na votação dos royalties do petróleo. Em conversas reservadas, muitos deles avaliaram que, além da falta de diálogo e dos cortes nas emendas, o Congresso ainda não engoliu a tentativa do governo federal de jogar as reivindicações das ruas no colo do parlamento.

A situação da presidente é tão complicada que a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) ficou comprometida, e a disposição majoritária é articular um recesso branco. A ideia é nem votar a LDO e nem oficializar o recesso. Na prática, ninguém trabalharia a partir do dia 17. Um líder partidário comentou, em reserva, que votações polêmicas estão totalmente suspensas por "não existir clima".

No Palácio do Planalto, o vice-presidente, Michel Temer, continuou a receber mais uma romaria de peemedebistas insatisfeitos com a presidente Dilma Rousseff, principalmente pela sinalização de corte nas emendas que será anunciado oficialmente na próxima semana pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. A relação está tão desgastada que outro grupo de parlamentares, que se reuniu com o vice-presidente na quarta-feira, respondeu a um formulário para apontar qual rumo o partido deve tomar. Um dos pontos questionava se os peemedebistas são a favor ou contra da manutenção da aliança com o PT.

Novo embate

Em agosto, a relação entre o Congresso e o Planalto deve ficar ainda mais tensa. O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, promete colocar em votação o orçamento impositivo, projeto que desagrada o governo e foi uma das suas principais bandeiras de campanha. Diante da ameaça de rebelião, na quarta-feira, o governo conseguiu desarmar, pelo menos temporariamente, uma pauta explosiva, que parte da base aliada ameaçava detonar em reação à sinalização de cortes nas emendas, ao engavetar a apreciação de mais de 1,7 mil vetos presidenciais acumulados na gaveta do Congresso há mais de uma década. O Planalto temia a revisão do chamado fator previdenciário e de um crédito tributário que poderia custar até R$ 280 bilhões ao governo federal.

Colaborou Adriana Caitano

Fonte: Estado de Minas

Meio greve, meio feriado

Dia Nacional de Lutas, convocado por centrais sindicais, teve protestos, bloqueios de estradas e cidade vazia.

Estrada interrompida - Em pelo menos 19 pontos do RS (na foto, a BR-290), sindicalistas, sem-terra, agricultores e caminhoneiros fecharam rodovias.

Capital descaracterizada - Numa quinta-feira de julho, sem circulação de ônibus e com interrupção da maioria dos serviços, cidade com cara de feriado.

Marchas, gritos e ruas vazias

Não fossem o rufar de tambores e o grito dos manifestantes em pontos cruciais das cidades, a quinta-feira pareceria início de feriadão no Rio Grande do Sul. Mas não. Era Dia Nacional de Lutas. E, como é costumeiro em manifestações trabalhistas, teve piquete em frente a empresas, passeatas, bloqueios de vias e muita confusão para quem tentava se locomover. Mesmo cercado de tensão, o dia terminou sem incidentes graves no Estado.

Porto Alegre ficou praticamente isolada ainda antes do amanhecer, quando a Travessia Getúlio Vargas (ponte sobre o Guaíba) foi interrompida por manifestantes, às 5h. O bloqueio do vão móvel causou dois quilômetros de congestionamento em cada sentido da via, sob muita neblina. Num efeito cascata, a Avenida Castelo Branco e a Estação Rodoviária ficaram sem tráfego.

A rodoviária permaneceu vazia ao longo do dia, por dois motivos: porque as vias estavam bloqueadas e também porque as empresas, temerosas por atos de vandalismo, mantiveram os ônibus nas garagens. Em consequência, apenas um punhado de táxis se arriscou a rodar nas imediações e eram poucos a circular.

Não apenas as linhas interestaduais pararam. Os ônibus urbanos de Porto Alegre, Viamão, Cachoeirinha, Gravataí, Alvorada e outras cidades deixaram de circular pela manhã, com frotas recolhidas por pressão dos servidores das empresas. Rodoviários da Vicasa e Sogal chegaram a preparar churrasco em frente à garagem dos coletivos.

As lotações circularam com 50% da frota, e o trensurb também parou, às 7h30min. Motivo: vandalismo. Ataques desferidos contra composições do trem próximas às estações Mathias Velho, em Canoas, e São Leopoldo provocaram a paralisação do serviço entre Porto Alegre e Novo Hamburgo. Pelo menos um usuário ficou ferido. Após negociação, os servidores do trensurb aceitaram retomar o trabalho por algumas horas no final da tarde. Foram 10 horas de interrupção.

A Capital também teve problemas de circulação, já que diversas vias foram bloqueadas por ativistas. Foi o caso da Farrapos, próximo ao aeroporto, pela manhã. E das avenidas Loureiro da Silva, Erico Verissimo, João Pessoa e Borges, congestionadas por passeatas à tarde, que culminaram em grandes manifestações no Centro. O resultado é que a grande massa trabalhadora não conseguiu se deslocar na Região Metropolitana, e os corredores de ônibus foram usados por famílias para passear e até para conversar em rodas de chimarrão.

Houve protesto de todo tipo. Cerca de 300 manifestantes ligados ao MST bloquearam o acesso ao prédio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na esquina das ruas Quintino Bocaiúva e Coronel Bordini. No miolo central da cidade, em frente ao Palácio Piratini, 20 partidos e entidades sindicais, como PSTU, PSOL e Sindicaixa realizaram manifestação. Com apoio de um carro de som e bandeiras e faixas em punho, pediram mais recursos para a saúde e a educação, além de criticarem os governos Tarso e Dilma. Em frente à sede da RBS, outros ativistas pediram democratização dos meios de comunicação. Na Câmara de Vereadores, manifestantes mantiveram a ocupação que ocorre desde a noite de quarta-feira.

As passeatas convergiram todas para o Largo Glênio Peres, onde uma grande manifestação foi organizada no meio da tarde. Entre 1,5 mil e 2 mil pessoas se concentraram nas imediações da prefeitura, sem relatos de incidentes, como os registrados em protestos anteriores. Sindicalistas se revezaram ao microfone de um caminhão de som, exigindo jornada de trabalho de 40 horas semanais sem redução de salário e expressando apoio aos jovens que ocuparam a Câmara de Vereadores na quarta-feira.

A movimentação foi tranquila, com grupos fazendo lanche sentados no chão, entre vendedores de churrasquinho, cachorro-quente e bebidas. Uma banda animou o público até pouco depois das 17h.

Fonte: Zero Hora (RS)

Pouca gente nas ruas e protestos variados

Dia Nacional de Lutas foi marcado pela baixa adesão no Recife, mas com vários grupos envolvidos, reivindicações foram amplas. De "Fora, Dilma" e "Fora, Eduardo" à reforma política, 10% do PIB para a educação e fim do fator previdenciário.

Suape
Pela manhã, a PE-60, que dá acesso ao porto, foi fechada. Houve engarrafamento, mas os manifestantes se retiraram logo às 10h, sem violência.

Reunião
Membros do governo receberam sindicalistas na Assembleia, discutiram propostas mas não foram firmados compromissos.

Eduardo
Em viagem ao Sertão, governador não escapou das manifestações. Em Salgueiro e Serrita ele foi alvo de cobranças populares.

Mobilização
Ocorreram manifestações em todas as 26 capitais e no Distrito Federal, além do bloqueio de 48 rodovias em 18 Estados

Pouca gente, muito protesto

Ato das centrais sindicais no Recife teve adesão bem menor do que o esperado e alvos diferenciados nos cartazes

Carolina Albuquerque, Juliane Menezes

Sob forte chuva, integrantes de movimentos sindicais e outras organizações da sociedade civil marcharam na tarde de ontem pelas principais ruas do Centro do Recife para marcar o Dia Nacional de Lutas, em Pernambuco. Com o comércio esvaziado e lojas fechadas, a passeata aconteceu de forma pacífica e sem provocar grandes problemas no trânsito.

As centrais sindicais, organizadoras do movimento, e a Polícia Militar, estimaram em cerca de 10 mil o número de participantes. A Secretaria de Defesa Social (SDS), porém, calculou que apenas mil manifestantes participaram do ato. No dia anterior, a expectativa das centrais era bem maior. Elas pretendiam reunir 60 mil pessoas.

Os protestos começaram pela manhã, com um bloqueio na PE-60, rodovia de acesso ao Porto de Suape. Houve congestionamento, mas a situação começou a se normalizar às 10h, devido às fortes chuvas. Os poucos trabalhadores presentes começaram a se dispersar. Guiada por um trio elétrico, providenciado pela Força Sindical, e outros carros de som, a passeata atraiu bandeiras diversas, de partidos políticos e outras entidades. Diferentemente dos protestos que tomaram o País nas última semanas, o de ontem foi organizado pelas principais centrais sindicais - Central Única de Trabalhadores (CUT), União Geral dos Trabalhadores (UGT), Força Sindical, Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB) e Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST).

Algumas lideranças políticas participaram do evento, como o petista e vereador Luiz Eustáquio e o ex-vereador Múcio Magalhães, além de Edilson Silva (PSOL) e os deputados estaduais Daniel Coelho (PSDB) e Severino Ramos (PTN).

Na passeata, havia cartazes e bandeiras com frases como "Fora Dilma", "Fora Eduardo" e "Renão!" - um trocadilho com o nome do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Havia também referências a reivindicações antigas, como a reforma política, melhor qualidade no transporte público, 10% do PIB para a educação, e o fim do fator previdenciário.

Alguns ônibus também chegaram do Interior. Caso do que trouxe membros da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado (Fetape), que fizeram críticas ao governo Eduardo Campos (PSB). "É preciso mais políticas públicas para atender o campo e avançar na liberação de áreas de assentamentos do Estado, que está parado", disse Cleibson Neves, representante da Fetape. Um momento de tensão ocorreu quando manifestantes mascarados se posicionaram à frente da passeata. Segundo o major da PM Amaral Neto, a Força Sindical pediu aos policiais para que pessoas mascaradas não participassem do protesto. O grupo vestido de preto gritava pelo passe-livre. Os manifestantes se identificaram como estudantes e prosseguiram, acompanhados por PMs. O protesto terminou na Assembleia Legislativa.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

PPS diz que Dia de Luta dos Trabalhadores serve de alerta para PT e governo

Freire lembra que ex-presidente Lula vetou fim do fator previdenciário

Por: Assessoria PPS

O Partido Popular Socialista (PPS) divulgou nota, nesta quinta-feira (11/07), em que manifesta apoio ao Dia Nacional de Luta dos Trabalhadores e reafirma seu compromisso pela aprovação da jornada de 40 horas e pelo fim do fator previdenciário. No texto, assinado pelo presidente do partido, deputado federal Roberto Freire (SP), a legenda ressalta ainda que o movimento serve de alerta para o PT e o governo Dilma, que viraram as costas para os trabalhadores. Leia abaixo a íntegra da nota.

Pelo Direito dos Trabalhadores

O Partido Popular Socialista (PPS) manifesta publicamente seu apoio ao Dia Nacional de Luta dos Trabalhadores que mobiliza a sociedade brasileira nesta quinta-feira (11/07) em todo o país. A retomada das ruas e da agenda de reivindicações deve ser saudada por todos como uma demonstração de que o trabalhador acordou para os desmandos dos governos Lula/Dilma, que viraram as costas para as reais necessidades da Nação.

O PPS, compromissado com a causa operária e dos trabalhares desde a fundação do PCB, em 1922, reafirma seu apoio as principais bandeiras do movimento liderado pelas centrais sindicais: a jornada de 40 horas de trabalho e o fim do fator previdenciário.

Em respeito e compromisso com a história, cabe lembrar também que foi do PPS a iniciativa que resultou na aprovação, pelo Congresso Nacional, de emenda que acabava com o fator previdenciário. No entanto, em mais uma demonstração de desprezo com os trabalhadores deste país, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou a medida.

As marchas de hoje devem servir de alerta para o PT e para a CUT, que tenta desvirtuar o movimento e defender a presidente Dilma, cujo governo começa a ser desaprovado pela maior parte da sociedade.

Nós, do PPS, seguiremos sempre ao lado dessa luta por melhores condições de trabalho para os brasileiros.

Que se ouçam as vozes da rua!

Brasília, 11 de julho de 2013

Roberto Freire
Presidente Nacional do PPS

Após vaias, Dilma recebe prefeitos e tenta reaproximação

Um dia após anunciar R$ 3 bilhões para municípios e, mesmo assim, ser vaiada durante o evento em Brasília, a presidente Dilma Rousseff se reuniu ontem com prefeitos para tentar uma reaproximação. O presidente da Confederação Nacional de Municípios, Paulo Ziulkoski, foi recebido pela primeira vez no Planalto.

"Essa relação que se estabelece agora vai distensionar, vai flexibilizar, e isso vai permitir que os próprios prefeitos e municípios tenham uma concepção e encaminhamento melhor. Não vamos ter ilusão de que vamos resolver tudo em um ano ou dois, vamos tentar encaminhar questões objetivas", disse Ziulkoski. A audiência durou cerca de uma hora e meia.

A presidente busca apoio e melhora na articulação política do seu governo em um momento em que é confrontada com perda de popularidade, baixo crescimento econômico e protestos nas ruas do País.

De acordo com Ziulkoski, a presidente prometeu fazer reuniões esporádicas com prefeitos, de três a quatro vezes por ano. Anteontem, Dilma anunciou um pacote que incluiu o pagamento de R$ 3 bilhões em duas parcelas para aliviar as dificuldades dos municípios em despesas de custeio.

O encontro com prefeitos faz parte de um esforço do Planalto de melhorar a interlocução com setores da sociedade, como movimentos sociais c lideranças juvenis. Pelo projeto de reeleição em 2014, a presidente sabe que a parceria firmada com os municípios é essencial para a execução de programas como o Minha Casa, Minha Vida, a construção de creches e a inauguração de novas unidades de pronto-atendimento.

Ziulkoski aproveitou a reunião para agradecer os vetos da presidente ao projeto de lei do Ato Médico, que regulamenta o exercício da medicina.

Necessidades. Para a ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, a reunião serviu para reafirmar o compromisso da presidente Dilma em "ir ao encontro das necessidades da população brasileira".

"As necessidades da população brasileira são, na maioria, atendidas através dos municípios, das prefeituras. (Queremos) Dar continuidade, estreitando essa relação entre governo federal e governos municipais, manter uma relação e uma negociação permanente, até porque é impossível resolver tudo ao mesmo tempo", disse a ministra

Fonte: O Estado de S. Paulo

PT quer assinaturas para o plebiscito antes do recesso

A bancada do PT na Câmara começará a recolher na próxima terça-feira, último dia de atividades antes do recesso parlamentar, as 171 assinaturas necessárias para levar ao plenário a proposta de plebiscito para a reforma política.

Ao mesmo tempo em que faz a coleta de assinaturas para aprovação do decreto parlamentar convocando a consulta popular, o PT pretende discutir com a bancada, já na segunda-feira, qual será o seu representante no grupo de trabalho criado pelo presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e destinado a estudar e apresentar à Casa uma proposta de reforma política.

A instalação do grupo foi adiada para a próxima semana depois de um "curto-circuito" justamente entre dois deputados petistas – Henrique Fontana, do Rio Grande do Sul, e Cândido Vaccarezza, de São Paulo. Os dois estão empenhados em conseguir a coordenação do grupo – Fontana indicado pelo partido e Vaccarezza convidado por Henrique Alves.

"Uma comissão que quer resolver não pode começar não resolvendo ela própria", criticou ontem o presidente da Câmara. Alves disse esperar que o partido se decida e entre num acordo e seja pacificado até o final da semana para que o grupo inicie os trabalhos e apresente uma proposta de reforma no prazo já definido de 90 dias.

O líder do PT, José Guimarães (CE), evitou polemizar o incidente entre os dois petistas e disse que o impasse só será resolvido na segunda-feira. "É uma questão interna do PT", limitou-se a declarar.

Artigo. Ontem, a assessoria da bancada do PT divulgou um artigo em que Guimarães defende o plebiscito enterrado pela Câmara e diz que os partidos não podem "ter medo de ouvir o povo".

"É preciso ficar claro que ouvir a população é o meio mais legítimo para chegar à reforma política. Não é um caminho meia sola como defende a oposição PSDB/DEM e PPS, que a limita a um referendo", argumenta o parlamentar.

Guimarães recorda que o tema está em discussão há 15 anos no Congresso e não avança por falta de consenso sobre os pontos polêmicos. "O plebiscito é a saída, é o diferencial da reforma que tantas vezes já foi discutida no Congresso Nacional. É a melhor forma de destravar o debate e instituir uma reforma política duradoura e que oxigene nossa democracia", prossegue o deputado em seu artigo.

Para ele, o Parlamento não pode "ficar surdo às vozes das ruas" e a proposta da presidente Dilma Rousseff retrata o sentimento da população insatisfeita. "O plebiscito vai ao encontro dessas expectativas. A sociedade deve ser ouvida sempre, pois é dela que emana o poder que exercem os seus representantes", conclui.

Fonte: O Estado de S. Paulo

O tombo de Eike Batista, símbolo da era petista - Roberto Freire

Apontado como o oitavo homem mais rico do mundo até meados do ano passado, com uma fortuna pessoal avaliada em US$ 34,5 bilhões, e incensado pelos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff como exemplo a ser seguido por outros investidores brasileiros, o empresário Eike Batista perdeu nada menos que US$ 30 bilhões em apenas 16 meses e se transformou em sinônimo de risco e prejuízo para os que compraram ações de suas empresas.

As nebulosas relações entre o governo federal e o empresário podem se configurar em um escândalo de corrupção e favorecimento ilícito ainda mais grave que o mensalão. Um relatório apresentado pela agência de classificação de risco Moody’s indica que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal (CEF) têm, juntos, 55% dos empréstimos do grupo EBX, de Eike.

Uma análise feita pelo Bank of America/Merryl Linch mostra que a exposição das empresas de Eike no mercado financeiro está concentrada em cinco bancos brasileiros: além de BNDES (R$ 4,888 bilhões) e Caixa (R$ 1,392 bilhão), aparecem os privados Bradesco (R$ 1,252 bilhão), Itaú Unibanco (R$ 1,235 bilhão) e BTG Pactual (R$ 649 milhões). Ao todo, essas instituições somam uma exposição de mais de R$ 9,4 bilhões ao grupo do empresário. A EBX não possui capital aberto e, por isso, não divulga seus balanços, mas há estimativas deque o endividamento do grupo com os bancos atinja o montante de R$ 13 bilhões.

O descalabro não para por aí. Desde 2007, primeiro ano do segundo governo de Lula, o BNDES disponibilizou a Eike Batista a quantia de R$ 10,4 bilhões, e o empresário teria utilizado sua fortuna pessoal como garantia para R$2,3 bilhões em empréstimos. Como se trata de um banco público, com recursos que pertencem à sociedade brasileira, é fundamental que o BNDES esclareça quais foram os critérios utilizados para a aprovação de um aporte tão elevado de dinheiro destinado a empresas que apresentavam alto risco.

Afinal, ao menos desde junho de 2012, quando a petroleira OGX informou que a capacidade de produção de seus poços seria bem menor do que havia sido divulgado aos investidores, todos os projetos de Eike foram colocados em dúvida, culminando no comunicado divulgado pela própria empresa na semana passada dando conta de que pode ter de interromper as atividades em 2014.

Não se pode esquecer, ainda, da influência de Lula em prol dos negócios de Eike. Segundo uma reportagem publicada pela "Veja" em março deste ano, o ex-presidente teria atuado para que o estaleiro Jurong Shipyard, de Cingapura, transferisse o projeto realizado no Porto de Ara-cruz, no Espírito Santo, para se associar ao empreendimento de Eike no Porto de Açu, no Rio de Janeiro.

Curiosamente, o derretimento da credibilidade de Eike se dá concomitantemente à expressiva queda na avaliação positiva do governo Dilma, em um momento em que milhões de brasileiros vão às ruas para cobrar os resultados que não lhes foram entregues nos últimos dez anos de fantasia petista. Não se trata de mera coincidência: os governos do PT tentaram fazer do dono do grupo EBX o perfeito exemplar do que seria um capitalista para chamar de seu. O fracasso de um, portanto, está intrinsecamente ligado ao de outro. Eike Batista é o símbolo de uma era marcada pela fraude.

Roberto Freire, deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Fonte: Brasil Econômico

Os sem-gesto - Marina Silva

Numa reunião simbólica, representantes dos povos indígenas foram, finalmente, após mais de dois anos de espera, recebidos pela presidente Dilma. Como nas pinturas que retratam momentos históricos (a primeira missa, o grito do Ipiranga e outras que ilustram os livros escolares), as imagens que o governo apressa-se em produzir são arrumadas, e seus personagens, distribuídos nos lugares que lhes cabe.

"Só que não", como dizem os mais jovens nas redes sociais. Sabendo que, naquele exato momento, seus direitos estavam sendo ameaçados em manobras no Congresso, os índios não se deixaram enganar e expuseram sua insatisfação na carta que divulgaram em seguida. Não podem esquecer o genocídio que sofrem no chão que um dia foi seu.

De todo modo, permanece o simbolismo: a civilização "Matrix" está tão descolada do mundo real que não consegue passar da gesticulação ao gesto, da representação à presença. Ainda assim, esforça-se para produzir ao menos a impressão de que está respondendo às demandas da população.

Afinal, é disso que se trata, da presença desse novo personagem que tem forma de multidão e é polifônico, multicêntrico, imprevisível. Tudo se faz para ele: audiências, reuniões, aceleração de processos e votações, decisões sobre assuntos encalhados há vários anos.

O povo nas ruas destravou o Brasil. Além das conquistas imediatas, como no preço das passagens, o novo e indefinível personagem forneceu uma "licença política" até para antigas organizações voltarem às ruas com suas cores, símbolos e pauta de reivindicações.

Como em todos os momentos em que novos "espectros" rondam o mundo conhecido, há nele muitas reações: segurar as rédeas com mais força, nostalgia de quem passou de protagonista a figurante, histeria de quem se sente ameaçado, esperança de quem ainda crê na renovação das estruturas, oportunismos variados.

Mas há uma diferença: hoje, são poucos os entes políticos capazes de metabolizar a força tornada presente, pois a estagnação já atinge muitos grupos e em grau avançado.

Tenho a esperança de que, no Brasil, consigamos viver a transição civilizatória --que já se iniciou-- com alternativas menos conflituosas que levem mais à renovação do que à ruptura, embora saiba que uma combinação de ambas é inevitável e necessária.

Quando vejo os caciques políticos chamando os índios para aparecer na foto, lamento, pois vejo a repetição neurótica sob a gesticulação nervosa que oculta a ausência do gesto. Quando vejo a altivez indígena recusando a manipulação, alegro-me com a força moral e ética de sua causa traduzida em ato.

O movimento oceânico que nos ronda pode parecer inconsciente para alguns, mas é consciente para si mesmo.

Marina Silva, ex-senadora, foi ministra do meio ambiente

Fonte: Folha de S. Paulo

O novo e o velho - Merval Pereira

Pode-se dizer que no confronto entre o velho e o novo, entre o moderno e o arcaico, as mobilizações dos movimentos sociais perderam a hegemonia das ruas para as convocadas pelas redes sociais. De acordo com parâmetros anteriores às manifestações do mês passado, o Dia Nacional de Lutas convocado por entidades como as centrais sindicais, a UNE e o MST, com pauta centrada em questões trabalhistas — contra o fator previdenciário, a terceirização, pela redução da jornada de trabalho de 40 horas —, até que poderia ser considerado exitoso.
 
Afinal, manifestantes interditaram diversas rodovias e bloquearam acessos aos portos de Santos, em São Paulo, Itaguaí, no Rio, e Suape, em Pernambuco. Avenidas foram fechadas pelos protestos, e a Via Dutra, interditada nos dois sentidos. Em capitais como Belo Horizonte, Salvador, Vitória, Manaus e Porto Alegre, houve falta de ônibus nas ruas, e no Rio, embora o sistema de transporte tenha funcionado quase normalmente, bancos e lojas do Centro da cidade fecharam as portas e a violência foi das maiores entre as capitais.

Diante das manifestações de junho, no entanto, o que houve ontem no país não teve peso político relevante, e essa diferença se acentuava mais quando se via claramente a tentativa de pegar carona nas manifestações espontâneas que — essas, sim — mudaram a fàce do país.

Pedir uma vaga "democratização da mídia" por exemplo, é simplesmente tentar levar para as ruas a reivindicação de pequenos grupos de pressão, apoiados por blogs e revistas chapas-brancas, como se fosse uma aspiração da nacionalidade.

A capacidade de mobilização das redes sociais se mostrou muito maior do que a das centrais sindicais, e os que se queixavam da desorganização das manifestações anteriores, que não tinham carro de som para guiar os reivindicantes, devem ter visto ontem que não basta ter os equipamentos para mobilizar os cidadãos, que foram às ruas em muito maior número para defender os interesses da sociedade e não a agenda deste ou daquele partido político.

Melhores serviços públicos, mais Educação e mais Saúde, são temas universais que unem os que querem aumentar o grau de cidadania no país. As questões trabalhistas que motivaram o Dia Nacional de Lutas são de interesse restrito a corporações de trabalhadores que legitimamente usam seus representantes sindicais para defender suas causas, mas não representam os interesses da maioria da população.


Somem-se a isso as divergências políticas entre as centrais sindicais, e teremos razões de sobra para entender o relativo fracasso das manifestações de ontem pelo país. A Força Sindical queria colocar a presidente Dilma na roda das manifestações, mas a CUT não queria.
 
Houve manifestações isoladas da central comandada pelo deputado federal Paulo Pereira, o Paulinho da Força, contra a presidente, e o pedido de demissão do ministro da Fazenda, Guido Man-tega, e ficou no ar a ameaça de convocação de uma greve geral. Mas ele está na oposição ao governo, depois de ter sido um fiel aliado, e suas movimentações têm objetivos eleitorais claros, o que retira delas a credibilidade.
 
Os partidos políticos ficaram mais uma vez fora das manifestações, desta porque as centrais sindicais não quiseram misturar as estações com entidades tão rejeitadas péla opinião pública. Mas não dá para esconder de uma hora para outra que as centrais sindicais são aliadas de partidos, como a CUT é do PT, a Força Sindical tem ligações com o PDT e está querendo criar seu próprio partido.

Quem tentou tirar partido da fragilidade do Congresso foi o ministro Aloizio Mercadante, promovido a principal interlocutor político do Palácio do Planai-to. A entrevista à "Folha" em que ele ameaça o Congresso com uma vingança dos eleitores nas urnas em 2014 se não ouvir as vozes das ruas, como se as manifestações nada tivessem a ver com a presidente Dilma e o governo do qual se tornou porta-voz, certamente dificultará ainda mais a relação entre a base aliada e o governo.

Os pontos-chave

1 Diante das manifestações de junho,oque houve ontem no país não teve peso político relevante.

2 A capacidade de mobilização das redes sociais se mostrou muito maior do que a das centrais sindicais, e os que se queixavam da desorganização das manifestações anteriores, que não tinham carro de som para guiar os reivindicantes, devem ter visto ontem que não basta ter os equipamentos para mobilizar os cidadãos.

3 Os partidos políticos ficaram mais uma vez fora das manifestações, desta porque as centrais sindicais não quiseram misturar as estações com entidades tão rejeitadas pela opinião pública.

Fonte: O Globo

Atrás do fio elétrico - Dora Kramer

Não houve greve geral nem comoção nacional. Na comparação, o "Dia Nacional de Lutas" ficou a léguas de distância do impacto provocado pelas três semanas de protestos que deixaram o País em transe e o poder público em pânico.

Contou a ausência do fator surpresa, é verdade, mas evidenciou-se também uma mudança de paradigma: a sociedade prefere conduzir a ser conduzida e dá conta do recado com muito mais competência.

Fala-se de falta de foco nos protestos de junho, na ausência de lideranças, na desorganização e no caráter apolítico o visto com receio de que signifique repúdio à atividade inerente ao sistema democrático.

Mas, ao que se viu nos embates das centrais sindicais durante os preparativos para as manifestações de ontem, a garotada mobilizada pela internet tinha mais apelo, se fazia entender muito melhor com sua variedade de bandeiras que os sindicalistas organizados em suas centrais bem estruturadas, sustentadas com verbas públicas e ligadas a esse ou àquele partido.

A massa junina saiu de casa para dizer que queria ser mais bem atendida pelo Estado, respeitada por integrantes dos Poderes constituídos e representada pelos eleitos. Já as centrais, a partir da pauta de reivindicações tradicionais, digladiaram entre dois objetivos: de um lado marcar posição contra o governo, de outro abrir espaço para a defesa de interesses do governo, entre eles a ressurreição do plebiscito da reforma política.

Todo mundo entendeu o sentido do movimento iniciado pela juventude: "Não é só pelos R$ 0,20"; era e continua sendo pelo conjunto da obra. Causou espanto a forma, mas o conteúdo estava explícito.

No caso dos sindicatos a forma é familiar, os instrumentos, tradicionais, mas o conteúdo é subentendido: uma tentativa de recuperar um território perdido - ou melhor, abandonado -desde que os chamados movimentos sociais organizados resolveram trocar as demandas daqueles que representavam por uma parceria (mais das vezes remunerada) com o governo que supostamente detinha o monopólio de todos os anseios.

Sendo um "governo popular", para todos os efeitos os movimentos sentiram-se desobrigados de cumprir cada um o seu papel de acordo com as demandas dos respectivos segmentos. O governo cm si daria conta da tarefa. De fato, o mundo oficial ocupou todos os espaços, tirou de cena a intermediação, cortaram-se as cordas vocais da população.

Aconteceu com os estudantes, com os acadêmicos, com os sindicalistas e com todos os grupos que agora são recebidos em Palácio pela presidente Dilma Rousseff a fim de se construir um ambiente de diálogo onde antes havia o monólogo. Consentido, diga-se.

Ficou todo mundo muito bem comportado, a sociedade submergiu. A opinião do público se expressou por intermédio das pesquisas, sempre registrando altos e crescentes índices de popularidade aos inquilinos do poder central. Dilma, um sucesso de bilheteria ainda maior do que Lula.

Quando a população emergiu na fagulha acesa pelo Movimento Passe Livre na fogueira da insatisfação acumulada, viu-se o quanto de fantasia havia no cenário paradisíaco.

Desfeita a miragem, lá se foram centrais, UNE, sem-terra e companhia tentar recuperar o território perdido, disputar as ruas como instrumento de pressão da opinião pública junto às instituições.

Destreinadas, afônicas, atordoadas, ficaram a reboque do abrupto grito anterior e, se prestaram bem atenção no descompasso, são alvos de desconfiança, fazem parte do balaio genericamente chamado de crise de representação.

Vão precisar se reinventar. Por ora tentaram sem grande êxito imitar o inimitável, igualar-se ao inigualável.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Bom, para Dilma, não é - Eliane Cantanhêde

Todos se perguntam o que o "Dia Nacional de Lutas", ontem, teve a ver com as manifestações do vinagre, ou do tomate. Uma coisa foi uma coisa e outra coisa foi outra coisa? Talvez.

As manifestações começaram pela internet e ganharam voo pelo país afora, atraindo jovens, velhos, gente de diferentes profissões e de todas as faixas sociais. Sem líderes, sem partidos, sem bandeiras unificadas.

Já as lutas de ontem começaram nas centrais sindicais, animaram o MST e congestionaram algumas das principais vias do país com reivindicações setoriais. E tiveram não apenas um, mas dois líderes: as centrais pró-Dilma e pró-PT, capitaneadas pela CUT, e as contrárias, insufladas pela Força Sindical.

Assim como houve enorme perplexidade quando a classe média foi às ruas por, digamos, geração espontânea, há novamente uma interrogação sobre o que está por trás --e pela frente-- da revolta do sindicalismo. Mais uma vez, governos, políticos, academia e imprensa ainda não conseguiram definir exatamente o movimento de ontem e seus interesses.

Consta que foi Lula quem deu a ordem de comando para as centrais saírem da toca, mas botar gente na rua num momento de muita fragilidade do governo e com a presidente em queda livre nas pesquisas? Taí uma estratégia difícil de entender.

Sindicatos protestam por emprego, renda e condições de trabalho, e a jabuticaba da estação é que a economia chacoalha, mas justamente emprego e renda resistem. Ou seja: tecnicamente, não há motivos para protestos sindicais. Se não há tecnicamente, só podem ser políticos.

Está aí o pulo do gato. As centrais pegaram carona na insatisfação geral, mas são tão atreladas ao capital que podem ter ido às ruas com o patronato por trás. Moral da história: Lula tentou manipular a CUT, mas a manifestação é muito mais de empresários do que de empregados.

E, se não é explicitamente contra Dilma, a favor certamente é que não é.

Fonte: Folha de S. Paulo

Perigosas gambiarras - Denise Rothenburg

Um amigo muito antenado em política sugere substituir medidas provisórias, as MPs, por MZ ou MB, de "muita zona" ou "muita bagunça". A sugestão vem a calhar. Não é de hoje que cresce o número de assuntos variados dentro de uma mesma medida. E, agora, os líderes do governo vêm com um dispositivo pior: colocar dentro de uma MP que ainda "respira" temas daquelas que estão sob risco de perder a validade. Ou seja, a zorra legal está instalada.

Esta semana, por exemplo, o relator da Medida Provisória 612, deputado Alfredo Kaefer (PSDB-PR), comentava que sua MP estava "ferida de morte" e que o governo já havia lhe informado que a parte relativa a desonerações de folha de pagamentos de vários setores seria "transferida" para a Medida Provisória 610, que tratava inicialmente do auxílio emergencial a famílias afetadas pela seca.

A MP 610 chegou ao Congresso enxuta, com 11 artigos. Trazia a "garantia-safra" para agricultores familiares de municípios situados na região da Sudene que porventura tivessem perdido em média 50% da produção por causa da estiagem. Ela terminou aprovada ontem com um texto de fazer inveja a verdadeiros tratados. São 39 páginas e quase 50 artigos, contendo uma parafernália de incisos e parágrafos.

O volume maior está relacionado em parte com a transferência dos artigos de outras MPs, com a 601, que perdeu a validade. No caso da 612, o problema é que a transferência para a 610 não "carregou" as emendas apresentadas ao texto que Kaefer está relatando. Assim, os enxertos de uma MP em outra dificilmente podem ter o mérito modificado em plenário, porque não há emendas capazes de modificar essas partes novas apresentadas diretamente à MP receptora.

Vale-tudo

Esses enxertos e a vontade dos políticos de agradar a tudo e a todos nessa temporada de manifestações transformam muitos projetos de lei de conversão — nome pomposo que os congressistas dão aos textos das medidas provisórias modificadas — num "feirão". O da 610 é apenas mais um exemplo. Ali, entraram artigos que torna hereditária a permissão de táxis e subsídio de R$ 0,40 para empresas de etanol da região norte fluminense, por litro desse bem produzido e comercializado nas safras de 2011 e 2012.

É tanta gambiarra que será cada vez mais difícil para qualquer juiz brasileiro conseguir decifrar a legislação brasileira sobre determinado tema, uma vez que as medidas provisórias e os chamados projetos de lei de conversão modificam, a cada dia, grande parte do arcabouço legal do país. Localizar um artigo sobre determinado tema numa saraivada de projetos torna-se loucura. É o caso, por exemplo, desse subsídio do etanol a empresas do Rio de Janeiro incluído num projeto que trata de seca do Nordeste, desonera a folha de pagamento de empresas de vários setores e, para completar, ainda torna hereditária a permissão de táxis.

Conforme comentava há dois dias uma jornalista experiente dentro do comitê de imprensa do Senado, "se eu continuar lendo o projeto de conversão dessa MP 610 tenho certeza que vou encontrar um artigo dizendo que fica instituída a vacinação gratuita do meu cachorro". Se brincar, era só mesmo o que faltava.

Enquanto isso, no Planalto...

O governo, a partir de hoje, terá que mudar a estratégia de usar os vetos como recurso para salvar projetos cujas negociações naufragam, ou seja, a maioria. Agora, com 30 dias de prazo para apreciação, sob pena de trancar a pauta, é chegada a hora de negociar tudo à exaustão e, quando razoável, ceder — coisa que o governo Dilma Rousseff raramente faz quando se trata de projetos de lei em tramitação na Casa. Diante disso, cresce, a cada dia, os rumores de mudança geral na área política do governo, em especial, para lidar com a Câmara, onde a confusão hoje está maior do que no Senado. Não será surpresa se, no próximo semestre, o atual ministro do Esporte, Aldo Rebelo, voltar para o posto que já ocupou no governo Lula.

E no gabinete presidencial...

Dilma, entretanto, parece não ter pressa. Nem se apresenta tão desesperada quanto querem fazer crer os congressistas. Ontem, por exemplo, muito bem humorada e ainda brincando com assessores, ela gravou com exclusividade para a Rede Vida, emissora oficial da Jornada Mundial da Juventude, uma mensagem de acolhida ao papa Francisco e aos jovens que, na semana que vem, estarão no Rio de Janeiro para o evento. Talvez estejam chegando os tempos de "Dilminha paz e amor". Resta saber se a base aliada permitirá que a presidente mantenha esse humor em alta. Até aqui, tudo indica que o clima das excelências é outro.

Fonte: Correio Braziliense

Quem obtém o quê, como e quando – Marta Arretche

Sejamos francos! As revoltas de junho não trouxeram nada de essencialmente novo à agenda de problemas postos para o Estado brasileiro. Demandas por cidades mais habitáveis, melhor saúde e educação bem como combate à corrupção estão aí há muito tempo. Saúde e educação estão no centro da agenda governamental desde a redemocratização e já foram objeto de diversas políticas. Já havia um programa federal destinando R$ 50 bilhões para programas de mobilidade urbana nas grandes cidades. A questão do transporte coletivo esteve no centro de campanhas eleitorais para as prefeituras municipais.

Dizer que as políticas adotadas até aqui foram totalmente ineficientes requer desafiar os fatos. Entre 1980 e 2010, a taxa de mortalidade infantil no Brasil caiu de 69 para 16 por 1.000 nascidos vivos e a esperança de vida passou de 62 para 73 anos. A população de mais de 18 anos que chegou ao ensino médio pulou de 6,2 para 39,7 milhões; a que chegou ao ensino superior passou de 3,4 para 21,5 milhões. Ambas aumentaram em mais de 6 vezes no período.

Entretanto, ainda que rios de tinta estejam sendo gastos para interpretar o que afinal revelaram as revoltas de junho, há razoável consenso de que reina grande insatisfação com a qualidade dos serviços públicos e da representação política. A disposição para manifestar esta insatisfação é, por sua vez, parcialmente explicada pelos avanços no sistema educacional. Sólida tradição de estudos revela as estreitas relações entre participação política, renda e escolaridade. Indivíduos mais escolarizados são mais exigentes e contam com mais recursos para fazer política.

Perigosa confusão, contudo, deriva do fato que representação política e qualidade dos serviços públicos estejam no centro das insatisfações. Ainda que sua presença nas manifestações seja simultânea, é um equívoco estabelecer que a primeira é causa da segunda. Deste equívoco decorre a ilusão de que uma reforma política seria condição necessária e suficiente para melhorar a eficiência do Estado brasileiro. Melhores serviços públicos emergiriam de uma nova categoria de representantes políticos. A operação de purificação seria operada por novas leis eleitorais, cuja superioridade seria revelada pela vontade popular a ser manifesta através de um plebiscito. Na verdade, este é um caminho repleto de incertezas. A relação de causa e efeito entre novas leis eleitorais e um país diferente só parece aceitável porque o argumento tornou-se familiar, de resto repetido inúmeras vezes a propósito de outros eventos de comoção nacional anteriores. Seu apelo é razão direta da simplificação, de jogar para baixo do tapete os reais desafios a serem enfrentados.

Concentradas nas cidades e estados mais ricos do país, as revoltas de junho revelaram que tornar nossas cidades mais habitáveis e seguras deve ir para o topo da agenda dos governos, obtendo centralidade comparável a das políticas de saúde e educação. Revelaram ainda - mais uma vez - que todos os caminhos levam a Brasília. Ainda que, na origem, prefeitos e governadores fossem o alvo dos protestos, estes rapidamente foram convertidos em problema cuja solução deveria vir da União. O pacto ao qual a presidenta chamou prefeitos e governadores faz sentido. Ainda que as políticas de transporte, educação e saúde sejam executadas pelos governos estaduais e municipais, seu financiamento e regras de operação dependem em grande medida da União. Nestas políticas, a avaliação dos presidentes depende do desempenho dos governos subnacionais assim como este último depende de políticas lideradas pela União.

Por esta razão, é curioso que o programa de mobilidade urbana proposto pela presidenta tenha recebido tão escassa atenção da opinião publicada. Seria de esperar que, para além dos valores, o tipo de políticas a ser adotadas fosse discutido à minúcia, com rigor semelhante ao dispensado às perguntas a ser feitas no (sabiamente adiado) plebiscito da (arriscada) reforma eleitoral.

O fato inescapável é que atender as demandas de um eleitorado mais exigente e disposto à mobilização implica inserir novos itens de gasto nos orçamentos públicos. Entretanto, o recurso à inflação ou ao endividamento fácil não está mais disponível como estratégia de financiamento público. Eventos anteriores revelaram que os governos no Brasil se deparam com um limite, que é essencialmente político, para aumentar a carga tributária. As revoltas de junho revelaram que este limite também está sendo atingindo com relação aos preços dos serviços públicos. Ainda que os royalties do petróleo sejam a única importante fonte de receita a ser obtida no futuro próximo sem elevados custos políticos, estão em franco processo de tornar-se recurso cativo da educação e saúde, sob o impacto das manifestações. Logo, para inserir novos itens de gasto será necessário remover placas tectônicas dos orçamentos atuais, o que manterá elevada a temperatura da disputa por recursos públicos, como já vimos assistindo há algum tempo.

Não menos relevantes politicamente são as pressões pela redução do gasto público, identificado como gerador de pressões inflacionárias, bem como de ampliação do investimento público, decisões estas das quais dependeria o crescimento econômico de longo prazo. As avaliações acerca das taxas de investimento na economia têm efeito semelhante às pesquisas de opinião na avaliação do desempenho dos governos.

A política, escreveu Harold Lasswell, em livro clássico publicado em 1936, é essencialmente uma disputa em torno de "quem obtém o quê, como e quando". Nas revoltas de junho, os manifestantes usaram as armas que têm para obter ou aumentar sua parte na distribuição da riqueza nacional que é operada por meio de políticas públicas.

Marta Arretche, professora de ciência política da USP

Fonte: Valor Econômico

Dilma sem fronteiras - Mônica Baumgarten de Bolle

Passadas duas semanas da grande mobilização do dia 20 de junho, ainda que não tenhamos um diagnóstico único e preciso sobre o que levou mais de um milhão de pessoas às ruas na simbólica quinta-feira, é possível afirmar com contundência: Dilma não tem fronteiras. Em resposta às demandas da sociedade, exerce o direito de ingerência que acredita que seu status de chefe da Nação lhe confere. Depois da atabalhoada proposta de convocar uma Assembleia Constituinte de caráter exclusivo,transmutada na proposta de um plebiscito para a reforma política, deu uma trégua à ingerência sobre o poder legislativo para influenciar diretamente a formação dos médicos brasileiros. Em resposta aos clamores da população por melhorias na saúde, lançou o controvertido programa Mais Médicos, que obriga a todos os estudantes de medicina, de universidades públicas ou privadas, a passar dois anos trabalhando para o SUS como precondição para receber o diploma.

A ideia poderia até ser interessante, não fosse por dois, digamos, detalhes. Primeiramente, uma mudança de regras no processo de formação de profissionais de uma área tão importante quanto a da saúde não pode simplesmente ser imposta. Tem de ser discutida com a sociedade, os profissionais e as entidades do setor. A imposição sem debate induz a toda sorte de incentivos perversos, até mesmo o de que menos pessoas procurem cursos de medicina daqui para a frente. Nesse caso, Mais Médicos rapidamente se transformaria em "Menos Médicos". Em segundo lugar, se é aceitável que estudantes de medicina de universidades públicas retribuam o investimento feito pelo Estado em sua educação servindo ao público, isso não é verdade para aqueles que ingressam na profissão oriundos de faculdades privadas. Nesse caso, o sujeito pagou de seu próprio bolso para se formar e o Estado não pode ter o poder de interferir na escolha de como empregar seu conhecimento.

Imaginem se o Estado tivesse o direito de ingerência para "fins humanitários", emulando toscamente os Médicos Sem Fronteiras, em todas as profissões. Economistas só poderiam obter seus diplomas depois de passar dois anos trabalhando na Caixa, no Banco do Brasil ou no BNDES. Advogados só poderiam exercer a profissão depois de servir, por dois anos, à polícia ou aos Ministérios Públicos das diversas esferas de governo, afinal, o povo pediu mais segurança, mais agilidade nos processos judiciais, exigiu o combate à corrupção. Qualquer indivíduo com formação universitária seria forçado a passar dois anos lecionando alguma disciplina - de preferência português, matemática e ciências - no ensino fundamental das redes públicas, pois o povo quer melhorias na educação.

Não é preciso pensar muito para chegar à conclusão de que esse tipo de "solução pragmática" resvalaria na distopia dos regimes centralizadores que faliram mundo afora. É apenas uma questão de incentivos incorretamente desenhados. Simples assim. No limite, teríamos cada vez menos alunos com formação universitária para que pudessem reconquistar sua liberdade de escolha.

Não há mágica. Se a economia estiver funcionando bem, se o Estado limitar seu escopo de atuação sobre decisões privadas e se preocupar em gerir bem os recursos do governo, proporcionando um ambiente de estabilidade macroeconômica, ele irá gerar mais receitas. Com mais.receitas, mais racionalidade econômica e melhorias na alocação de recursos, o Estado pode remunerar adequadamente e contratar mais professores, advogados e, quiçá, melhores economistas. Pode até atrair Unais médicos".

Cara presidente Dilma, não queremos lhe dar o direito de ingerência, não pretendemos lhe conceder o privilégio de interferir nas decisões privadas. A prerrogativa do direito de ingerência pertence aos Médicos Sem Fronteiras, a maior organização global sem fins lucrativos para a área de saúde,que se vale da ação legítima de violar soberanias para promover a ajuda humanitária. Que tipo de "ajuda humanitária" as reações mal formuladas proporcionam ao País?

Economista, professora da PUC-Rio e diretora do IEPE/Casa das Garças


Fonte: O Estado de S. Paulo

Economia brasileira tem maior retração desde dezembro de 2008, aponta Banco Central

Fraco desempenho do comércio e queda na produção industrial encolheram a economia brasileira em 1,4% no mês de maio, revelam cálculos do BC

Gabriela Valente

BRASÍLIA - Com o fraco desempenho do comércio e a queda na produção industrial, a economia brasileira encolheu 1,4% em maio, segundo os cálculos do Banco Central. É o maior recuo do Índice de Atividade Econômica do Banco Central – Brasil (IBC-Br) já visto desde dezembro de 2008, quando o mundo estava mergulhado no momento mais grave da crise financeira mundial. O recuo em maio é pior do que os analistas esperavam. As contas feitas pela autoridade monetária e divulgadas nesta sexta-feira já descontam todos os efeitos sazonais de um mês para o outro.

Nos últimos 12 meses, o chamado “PIB do BC” mostra que o Brasil acumula um crescimento de 1,89%. Mesmo com o resultado adverso em maio, o número aumentou em relação ao dado do período até abril, quando a expansão da atividade econômica crescia a uma taxa de 1,63%, conta revisada pela autarquia.

A expectativa do governo é crescer algo em torno de 3% neste ano. No entanto, o Banco Central espera uma taxa de 2,7%. Está mais próxima às estimativas feitas pelos analistas do mercado financeiro, que apostam em crescimento de 2,34%.

Em abril, o crescimento de 0,84% - que surpreendeu os analistas positivamente – foi recalculado e chegou a 0,96%. No entanto, os economistas já avisavam que o mês deveria encerrar um período melhor da atividade econômica. De lá até agora, as previsões pioraram. A perspectiva é que as manifestações em junho deverão ter impacto no crescimento do país porque vários comércios foram fechados nos protestos.

Resultado pior que o esperado

Analistas consultados pela Reuters esperavam queda mensal de 0,90% em maio, de acordo com a mediana de 17 projeções. As estimativas variaram de quedas de 1,60% a 0,30%. Para balizar a condução da política de juros no Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) criou o indicador que não é tão complexo quanto o Produto Interno Bruto calculado pelo IBGE. Por isso, não pode ser considerado uma prévia, mas apenas uma indicação do dado do instituto que é muito mais sofisticado. Por isso, foi apelidado de “PIB do BC”.

O número leva em consideração o desempenho da agropecuária, a indústria de transformação, extrativa, da construção civil e produção e distribuição de eletricidade, gás e água, esgoto e limpeza urbana. Quando começou a ser divulgado, o índice dava resultados muito próximos ao dado oficial. Desde o ano passado, houve um descolamento encarado com naturalidade dentro do Banco Central pelas diferenças metodológicas.

Para 2013, o governo trabalha com a hipótese do crescimento da economia brasileira ficar abaixo de 3%. A projeção da equipe econômica é considerada otimista demais pelos economistas do mercado financeiro. Segundo a pesquisa que o Banco Central faz com os analistas das principais instituições financeiras do país, a previsão para a expansão da economia brasileira despenca há um mês. Os sucessivos rebaixamentos da expectativa são reflexo de expectativas piores: mais juros e inflação alta.

(Com Agências Internacionais)

Fonte: O Globo

O liberal Sergio Buarque

A “Revista Estudos Políticos” acaba de publicar a entrevista de FH concedida a Pedro Luiz Lima, que faz tese de doutorado sobre a obra intelectual do ex-presidente.

Lá pelas tantas, FH diz que, num certo sentido, o pensador Sergio Buarque de Holanda (1902-1982) era um liberal.

Fla-Flu ideológico

O ex-presidente lembra que os anos 1930 foram a década fascista ou comunista. E que, neste cenário, Sergio Buarque era o único que apostava na democracia:

- Confesso que acho importante esse lado dele; ele foi o único, numa época de obscurantismo autoritário-totalitário, a não apostar nisso. E era difícil nos anos 30, com Getúlio, no Brasil, e Mussolini, Hitler e Stalin.

Fonte: Coluna de Ancelmo Gois / O Globo