quarta-feira, 19 de junho de 2013

OPINIÃO DO DIA - Maria Alice Rezende: descrença dos jovens em relação à política

Os partidos viraram máquinas sem vida, interessados apenas na reprodução do poder. Os jovens não acreditam mais neles. Esse movimento é resultado de um abafamento da juventude, que não aguentou mais. Acho que muitas pessoas ainda serão atraídas para as ruas. As manifestações falam de uma nova aventura.

As autoridades precisam encontrar formas de dialogar com esse movimento. Não é tão simples, já que as lideranças não são claras. Mas é preciso cuidado para não afastar esses jovens da política.

Maria Alice Rezende, socióloga da PUC-RJ. In “Especialistas veem descrença dos jovens em relação à política”, O Globo, 18/6/2013.

Manchetes de alguns dos principais jornais

O GLOBO
O Brasil nas ruas: Capitais já baixam tarifas de ônibus; protestos continuam
Comissão da Verdade: Após divergências, Fonteles deixa posto
As mensagens das ruas

FOLHA DE S. PAULO
Ato em SP tem ataque à prefeitura,
saque e vandalismo; PM tarda a agir
Descrença de paulistano na política cresce, diz Datafolha
'Estão entrando', dizia assessora de Haddad no ataque
Teleban aceita iniciar diálogo com EUA e governo afegão

O ESTADO DE S PAULO
Manifestantes tentam invadir Prefeitura; SP tem noite de caos
Alckmin desiste de festa
Dilma e Lula se reúnem para 'salvar' Haddad
Grupo de Feliciano na Câmara aprova projeto da 'cura gay'

VALOR ECONÔMICO
Mau humor atinge mercado e megaoferta é cancelada
Dilma definirá os royalties de mineração
Haddad sofre pressão em SP em dia de saques e incêndios

BRASIL ECONÔMICO
Protesto sem líder único e diversas bandeiras
Inflação é apontada por enquete do iG
Políticos veem crise de representação
Mineração: Pressa para as novas regras

ESTADO DE MINAS
Noite de vandalismo depois de protesto pacífico em BH
Marco eleva arrecadação para Minas
Congresso: Proposta de "cura gay" é aprovada

O TEMPO (MG)
Após protestos pacíficos, grupo destrói agências e lojas no centro da capital
Presidente do Banco Central nega uso do câmbio para estabilizar inflação
Após 5 anos, governo propõe novo código da mineração
Estados pedem auxílio da Força Nacional durante Copa das Confederações
Brasileiros se reúnem em Londres, Barcelona e Copenhague para apoiar protestos
Noticiário internacional destaca protestos e insatisfação da população brasileira

CORREIO BRAZILIENSE
Manifestações desnorteiam a velha política
Crise põe Brasil nas manchetes na imprensa mundial
O vinagre se espalhou pela internet

GAZETA DO POVO (PR)
País rediscute o custo do transporte após protestos
“Não para, não para, não para...”
Comissão de Feliciano aprova a “cura gay”
Corte Suprema derruba a reforma do Judiciário na Argentina

ZERO HORA (RS)
Por dentro do protesto
Com Feliciano: Comissão da Câmara aprova “cura gay”

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Saques e violência em meio a apelos de paz
Cura gay passa na comissão de Feliciano

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

O Brasil nas ruas: Capitais já baixam tarifas de ônibus; protestos continuam

Em SP, radicais e pacifistas medem forças em tentativa de invasão da prefeitura.

Cerca de 15 mil pessoas participaram de ato na capital paulista, mas ação de grupos isolados resultou em saques. Para especialistas, manifestações revelam insatisfação de jovens com corrupção e políticos.

Um dia depois da mobilização que levou 240 mil pessoas às ruas, prefeitos de nove capitais anunciaram redução de tarifas de ônibus ou cancelamento de reajustes. Em São Paulo, o prefeito Fernando Haddad (PT) mudou o tom e admitiu que pode derrubar o aumento da tarifa, que este mês passou de R$ 3 para R$ 3,20. Enquanto cerca de 15 mil pessoas caminharam pacificamente da Praça da Sé à Avenida Paulista, um grupo isolado tentou invadir a prefeitura, sendo contido pelos próprios organizadores da marcha. Lojas foram saqueadas. No Rio, onde a manifestação pacífica de anteontem também terminou em depredação, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) fala em negociar. A presidente Dilma Rousseff disse que a voz das ruas é um alerta a todos os governos e que o Brasil tem orgulho dos manifestantes. Novo ato está previsto para amanhã em vários estados.

Em mais um dia de protesto, São Paulo se divide entre paz e atos de vandalismo

Manifestantes agiram para conter grupo que atacou prefeitura e provocou destruição, incêndios e saques na cidade

SÃO PAULO - No dia seguinte à manifestação que registrou como único incidente a tentativa de invasão à sede do governo paulista, São Paulo ficou dividida. De um lado, milhares de pessoas protestaram pacificamente na Praça da Sé, seguindo tranquilamente por avenidas do Centro até chegar à Paulista. Do outro, um grupo de jovens foi às ruas para transformar a cidade em praça de guerra. Sem o aval da liderança do movimento, parte dos manifestantes que estava na Sé seguiu até a prefeitura. Lá, eles quebraram vidraças, picharam o prédio com palavras de ordem, viraram e tocaram fogo em um veículo da TV Rercord e, com rostos tapados, ainda queimaram uma cabine de polícia naquela área. Do outro lado da rua, o grupo destruiu portas e caixas automáticos de um banco privado.

Manifestantes entram em choque

Pelas ruas quase sem a presença de policiais, o grupo seguiu saqueando o comércio local, levando roupas e televisores. Trens foram depredados em uma das linhas da CPTM, fazendo com que o governo suspendesse a operação. Durante a noite, milhares de pessoas ainda se concentravam, pacificamente, na Avenida Paulista e os saques e incêndios prosseguiam na região da prefeitura. Oito pessoas foram presas até o fechamento desta edição.

A confusão começou quando alguns manifestantes romperam o cordão de isolamento do prédio da prefeitura. A fachada foi apedrejada e pichada. Grades que cercavam o local foram atiradas contra a prefeitura e vidraças e holofotes, destruídos. Diante da situação, os próprios manifestantes tentaram conter a ação do grupo mais violento.

Alguns recolocaram as grades de proteção em frente à prefeitura, mas o clima foi tenso durante a noite. Os guardas municipais recuaram e se protegeram dentro do saguão do prédio, enquanto manifestantes jogavam pedras e grades contra o prédio.

Coordenadora de um dos grupos organizados para o protesto, Karen Maria disse que estava na prefeitura durante o quebra-quebra.

- A gente não estava com liderança suficiente para segurar todo mundo. A primeira vez que pegaram uma grade eu tentei impedir. Mas o número de pessoas que queriam quebrar tudo era muito maior - afirmou.

Muitos manifestantes que estavam na prefeitura seguiram para a Paulista.

- Vim pra manifestação pela segunda vez porque gostei do clima pacífico de ontem (anteontem). Saí da prefeitura porque o clima pesou e fui para a Paulista. Não queremos vandalismo queremos mudar o Brasil - contou o estudante de medicina Carlos Bonasso.

Entre os manifestantes houve briga. Um rojão explodiu, e um mendigo que estava no meio do grupo desmaiou, sendo socorrido por estudantes. Algumas pessoas tentavam expulsar do protesto o rapaz que estava com a bomba. Um carro de uma emissora de TV que estava estacionado em frente à prefeitura foi incendiado por manifestantes, por volta das 20h. Mais cedo, uma repórter da TV Bandeirantes foi agredida.

O prefeito Fernando Haddad (PT) não estava na prefeitura durante os protestos. Enquanto o prédio era alvo de vandalismo, Haddad estava reunido com a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula no saguão reservado às autoridades no aeroporto de Congonhas. Ninguém divulgou a pauta do encontro. Funcionários públicos ficaram presos dentro do prédio por horas.

Guarda não solicitou apoio da PM

A assessoria do governador Geraldo Alckmin (PSDB) informou ontem que o apoio da PM não foi solicitado pela Guarda Civil Municipal para conter os vândalos. A PM somente chegou ao local quando os manifestantes começaram a depredar o comércio da região. Depois de mais de duas horas de quebra-quebra, a Tropa de Choque foi acionada e, com bombas de gás, os policiais começaram a dispersar os manifestantes.

No outro ponto da cidade, na Avenida Paulista, a multidão tomou conta das pistas. Sem qualquer registro de violência, caminharam pela via fechando os dois sentidos. Algumas pessoas circulavam pela região em clima de festa, dançando e cantando. Por volta das 22h, a Avenida Paulista ainda estava tomada pelo protesto.

Centenas de manifestantes também interditaram a Rodovia Raposo Tavares para protestar, sem tumultos.

Palco do comício da Diretas Já, em 1984, a Praça da Sé começou a ser ocupada pelos manifestantes por volta das 16h. Durante a espera cantaram palavras de ordem e empunharam bandeiras e faixas com reivindicações diversas.

Em nota, o grupo diz que a prefeitura e o governo estadual "continuam a fechar os olhos e os ouvidos para a vontade da população". E ainda: "Mais um dia se passou e o aumento não foi revogado. Mais de 100 mil pessoas foram para as ruas e mesmo assim a Prefeitura e o governo do Estado continuam a fechar os olhos e os ouvidos para a vontade da população. Hoje estaremos novamente ocupando as ruas para barrar o aumento", diz o texto.

Anteontem, a passeata organizada pelo Movimento Passe Livre (MPL) reuniu cerca de 65 mil pessoas, segundo o Instituto Datafolha, e transcorreu de forma pacífica por vias importantes da cidade. O único episódio de violência foi registrado em frente à sede do Palácio dos Bandeirantes, à noite, quando um grupo tentou invadir a sede do governo e foi reprimido pela polícia.

Temendo problemas, o governo de São Paulo, em nota oficial, já havia convocado as lideranças para que mantivessem "contato contínuo" com oficiais da PM que acompanhariam. O secretário de Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, foi quem pediu para que o grupo mantenha o acordo firmado com o governo para evitar problema.

Fonte: O Globo

Ataque à prefeitura e saques a lojas marcam novo protesto em São Paulo

* PM DEMORA 3 HORAS PARA AGIR E DIZ QUE TENTOU EVITAR FERIDOS * GRUPO PACÍFICO TENTA CONTER VIOLÊNCIA E MOSTRA DIVISÃO ENTRE ATIVISTAS * PELA PRIMEIRA VEZ, HADDAD ADMITE REVER REAJUSTE

São Paulo voltou a viver ontem uma noite de caos e protestos violentos. Manifestantes atacaram a sede da prefeitura, saquearam lojas, depredaram prédios públicos e privados e o relógio que faz a contagem regressiva para a Copa, na avenida Paulista.

A confusão começou após milhares de participantes cercarem a prefeitura, no centro. Um grupo tentou invadir o prédio com chutes e pedras e derrubar a porta principal com grades usadas para cercar o local.

Integrantes do Movimento Passe Livre e outros manifestantes tentaram conter o grupo, demonstrando uma divisão entre os participantes dos atos. Servidores que estavam do lado de dentro do prédio acompanhavam apavorados a tentativa de invasão.

No momento do ataque, às 18h50, Haddad estava fora da prefeitura. Ele fora ao encontro da presidente Dilma e do ex-presidente Lula em busca de uma solução para a crise.

Sem conseguir entrar, os manifestantes incendiaram uma van da TV Record e passaram a depredar bancos e a saquear dezenas de lojas de roupas, joias e eletrodomésticos. O Theatro Municipal, onde acontecia um espetáculo, foi cercado e pichado.

A PM demorou cerca de três horas para agir. Segundo a Secretaria da Segurança, isso aconteceu para evitar que pessoas sem relação com os atos de vandalismo fossem feridas. Após a intervenção da polícia, com uso da Tropa de Choque, 30 foram detidos.

O ato seguiu para a avenida Paulista, onde começou pacífico. No fim da noite, porém, houve mais depredação. Na rua Augusta, policiais reagiram com bombas; na Paulista, ficaram imóveis diante de provocações.

De manhã, Haddad admitiu a possibilidade de suspender o aumento da tarifa de R$ 3 para R$ 3,20, mas disse que, para isso, poderia aumentar impostos. Segundo o Datafolha, a descrença dos paulistanos nos Três Poderes é a maior em uma década. O apoio aos protestos cresceu.

Fonte: Folha de S. Paulo

Manifestantes tentam invadir Prefeitura; SP tem noite de caos

Houve confronto com guardas-civis metropolitanos e saques de lojas. Pela manhã, prefeito Fernando Haddad admitia rever aumento da tarifa de ônibus, após reunião do conselho de notáveis. Seis capitais anunciaram redução do preço das passagens.

No sexto dia de protestos organizados pelo Movimento Passe Livre, em SP, um grupo de manifestantes tentou invadir no início da noite a sede da Prefeitura. Com uso de cassetetes e gás de pimenta, guardas-civis metropolitanos impediram a invasão. Dois deles ficaram feridos. Os manifestantes queimaram uma cabine da PM e um furgão da TV Record. Também saquearam lojas. Ao contrário das cenas de vandalismo registradas no centro, a manifestação na Avenida Paulista foi marcada pelo tom pacífico. Segundo a PM, cerca de 20 mil pessoas ocuparam a via. Pela manhã, o prefeito Fernando Haddad (PT) admitiu a possibilidade de rever o aumento da tarifa de ônibus. Seis capitais - Porto Alegre, Cuiabá, João Pessoa, Recife, Natal e Manaus - anunciaram redução do preço das passagens.

Grupo de manifestantes ataca sede da prefeitura de SP e fere 2 guardas-civis

Em mais um dia de protestos contra a tarifa em Sáo Paulo, o prefeito Fernando Haddad (PT) esteve no foco das atenções. Pressionado até pelo seu conselho de notáveis, ele admitiu pela primeira vez a possibilidade de rever o aumento da passagem de ônibus. À tarde, no sexto ato organizado pelo Movimento Passe Livre, os manifestantes cercaram o Edifício Matarazzo, sede do governo municipal, e acuaram os guardas-civis no interior do prédio; dois deles ficaram feridos.

Em dois grupos, os manifestantes se dividiram entre ações pacíficas e violentas. Na Avenida Paulista, novamente interditada, o clima era de tranqüilidade. Já no Viaduto do Chá, a tensão era total: houve tentativa de arrombamento do Edifício Matarazzo, vidraças foram quebradas e a fachada, pichada, sob gritos de "quebrar, quebrar é melhor pra se manifestar". Na seqüência, o grupo colocou fogo em uma cabine da PM e em um furgão da Rede Rccord, por volta das 20h. Tudo isso aconteceu a cerca de 150 metros da sede da Secretaria da Segurança Pública do Estado. Só após o vandalismo, os bombeiros seguiram para a região, Não havia PMs na área. Alvo das ações anteontem, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) não se pronunciou ontem nem teve agenda oficial.

Por volta das 18 horas, enquanto 0 grupo de manifestantes atacava a sede de governo - com secretários municipais fechados em uma sala de situação o prefeito estava reunido em um hotel da" zona sul com a presidente Dilma Rousseff e com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como revelou o Broadcast Político, primeiro serviço em tempo real dedicado exclusivamente à cobertura política. A ideia era buscar uma saída política. No entanto, para analistas sociais como o professor de História Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP) Lincoln Secco, os efeitos políticos só serão notados a longo prazo.

Durante o dia, quatro capitais anunciaram redução no valor das tarifas, graças à medida provisória assinada no dia 31, que desonerou o setor. A ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, destacou que agora caberá a cada município "saber o quanto ele pode reduzir e o quanto pode se aproveitar da desoneração que o governo federal está fazendo". Haddad deve ir hoje a Brasília, em busca-de apoio no Congresso para novas medidas.

Ontem, voltaram a ocorrer atos em solidariedade aos protestos paulistanos. Apesar de o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), ter recebido manifestantes, o Estado não ficou sem novas mobilizações, com destaque para São Gonçalo. Houve também concentrações no exterior, em .Londres, Barcelona, Copenhague, Sidney, Hamburgo, Berlim, Nova York e Londres. Preocupada com "detenções-arbitrárias", a ONU pediu uma investigação independente.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Noite de vandalismo depois de protesto pacífico em BH

Com os rostos cobertos, baderneiros infiltrados entre manifestantes levam medo às ruas.

No segundo dia de manifestações em BH, cerca de 10 mil pessoas se concentraram à tarde na Avenida Antônio Carlos, em frente à entrada principal da UFMG. De lá, seguiram para a Praça Sete e depois até a Praça da Liberdade, onde os protestos se repetiram, sempre de forma ordeira. Até o início da noite não houve nenhum registro de violência nem de confrontos com a polícia em nenhum ponto da capital. No entanto, depois das 21h, grupos de vândalos, mesmo repreendidos pelos próprios manifestantes, passaram a promover o terror, sem repressão da PM. Eles atacaram a sede da prefeitura, depredando-a e ateando fogo na entrada do edifício. Na Praça da Liberdade, outro bando quebrou o relógio da Copa. Em esquinas próximas e no Centro, ônibus e outros veículos eram apedrejados.

Paz e Guerra

Após protesto pacífico de 10 mil pessoas, vândalos atacam prédios e veículos no Centro de BH e na Praça da Liberdade

manifestação pacífica de cerca de 10 mil pessoas que se reuniram ontem à tarde perto da UFMG, na Pampulha, e seguiram para a Praça Sete, foi manchada por grupos isolados de vândalos à noite, que depredaram a sede da prefeitura, na Avenida Afonso Pena, agência bancária e lojas na Rua Tamoios, no Centro, o relógio de contagem regressiva para a Copa do Mundo, na Praça da Liberdade, e atacaram ônibus e carros particulares nos dois locais. A maioria dos manifestantes tentou impedir os ataques, mas acabou recuando diante da agressividade. Desde o início da tarde, o clima foi de paz entre as cerca de 10 mil pessoas que se concentraram na Avenida Antônio Carlos, na Pampulha e seguiram em passeata pacífica até a Praça Sete, no início da noite, diferentemente do cenário de confronto com policiais e depredação na segunda-feira. Diante da expectativa de novas manifestações hoje e nos próximos dias, a PM informou que poderá triplicar o efetivo para 9 mil agentes nas ruas no sábado, quando México e Japão se enfrentarão no Mineirão. Enquanto isso, 150 homens da Força Nacional de Segurança apoiarão a PM, conforme o governador Antonio Anastasia acertou ontem com a presidente Dilma Rousseff.

A marcha de estudantes da UFMG e outros manifestantes começou no acesso à Antônio Carlos, com cerca de 200 jovens no fim da tarde, mas ganhou força ao sair do câmpus rumo à Praça 7, chegando a juntar quase 10 mil pessoas, segundo o Batalhão de Trânsito (BPTran) da PM, que não levantou bloqueios e acompanhou a distância, enquanto fazia desvios na região. Mesmo assim o trânsito ficou caótico no Anel Rodoviário e no entorno. A fila de veículos na faixa de sentido Pampulha se estendeu por cerca de quatro quilômetros.
Manifestantes que seguiam à frente bloquearam acessos do Anel e da Avenida Bernardo Vasconcelos e motociclistas que tentaram furar o bloqueio foram hostilizados. Os cânticos Em alguns momentos, punks quiseram depredar propagandas, o que gerou atrito com os demais manifestantes. Entre lemas como "Você aí parado, também é explorado" e "ô motorista, ô trocador, me diz aí se o seu salário aumentou", havia gente que levou até os filhos para as ruas. Como a auxiliar de dentista Jussara Nogueira, de 29 anos, que carregava o filho de 4 anos, Felipe Nogueira. Enquanto o menino cantava e dançava, ela protestava contra o salário dos professores. "É por isso que viemos aqui, para ele aprender a lutar pelo que acredita", disse. No caminho mais e mais pessoas desceram de suas casas e até dos ônibus para seguirem com a manifestação.

Quando chegaram ao complexo da Lagoinha, os manifestantes tentaram entrar numa faixa do viaduto que leva para a Contorno. Um ônibus metropolitano acelerou e furou o bloqueio, mas teve os vidros quebrados por pedras. Os manifestantes seguiram para a Praça Sete, que já estava tomada por outras pessoas à noite. Foi então que a partir de atos de grupos isolados, o movimento pacífico de jovens estudantes gritando palavras de ordem ganhou contorno de vandalismo. Por volta das 21h30, um grupo saiu em direção à Praça da Liberdade, mas em frente ao prédio da prefeitura ficaram cerca de 300 pessoas. Em pouco tempo, as palavras exaltadas deram lugar ao vandalismo de cerca de 20 pessoas.
Uma rampa de madeira na escadaria do prédio foi destruída. A explosão de bombas de pequeno potencial começou a dispersar as pessoas que buscavam manifestar de forma pacífica. Um rapaz de 18 anos ficou ferido e foi socorrido por uma equipe do Corpo de Bombeiros. Em pouco tempo, os vândalos jogavam pedras no prédio e, além de quebrar vidraças, investiram contra a guarita de vigilância.

Tentar pôr fogo no prédio várias vezes. A tentativa de outros manifestante em interromper a violência gerou enfrentamentos com agressões físicas entre os envolvidos. Não satisfeitos, os vândalos seguiram até a esquina das ruas Espírito Santo e Tamoios, onde fecharam o trânsito, chegando a fazer barricadas com cavaletes e cones. Alguns subiram no veículo e quebraram vidros. Um motorista chegou abandonar o coletivo. Outros três coletivos também foram alvo dos vândalos, que cobriam o rosto com máscaras e camisas e ainda atacaram uma agência do Banco do Brasil .

A estudante de marketing Rafaella Magalhães, de 23, lamentou:. "É triste ver uma minoria de vândalos está destruindo muito mais do que prédios ou ônibus. Estão destruindo um sonho de sermos ouvidos pelos governantes".

Entre o outro grupo que seguiu para Praça da Liberdade, havia pessoas com rosto parcialmente coberto por camisas e armadas com pedras que atacou o relógio de contagem regressiva para a Copa, apesar de outros manifestantes tentarem evitar a ação. Parte do objeto foi quebrado, inclusive um monitor digital, e pedaços de vidro se espalharam pelo chão. Nas grades do portão do Palácio da Liberdade, foi fixada uma faixa em que se lia: "Não vai ter Copa! O povo decidiu jogar". Também foram colados cartazes, com dizeres como "Brasil, mostra a tua cara! vem pra rua" e "Não queremos mais ser roubados por estes ratos da política".

Na esquina das avenidas Cristóvão Colombo e Brasil, cerca de 200 manifestantes interditaram o cruzamento até por volta das 22h30 e causaram congestionamento. Encapuzados e segurando pedaços de pau, alguns jovens ameaçaram jornalistas e motoristas, além de dar chutes e murros em carros. A equipe mais próxima da PM estava do outro lado, no encontro das avenidas Brasil e Bias Fortes, orientando o trânsito.

Fonte: Estado de Minas

Após protestos pacíficos, grupo destrói agências e lojas no centro da capital

Bruna Carmona e Gustavo Lameira

As manifestações de ontem e da madrugada de hoje em Belo Horizonte foram marcadas por momentos distintos, terminando em um grande quebra-quebra no centro da capital mineira. No início da noite de terça-feira (18), os protestos foram pacíficos na região da Pampulha e também na região central, onde houve inclusive a elaboração de uma pauta de reivindicações por parte dos manifestantes. Cerca de 4.000 pessoas participaram desses dois atos, com início no campus da UFMG e concentração debaixo do viaduto de Santa Tereza.

Por volta de 21h, um outro grupo antes concentrado na praça Sete caminhou pela avenida Afonso Pena em direção à sede da prefeitura. Sem a presença da Polícia Militar, foram atiradas pedras e bombas contra a fachada do prédio. Graciano Ribeiro da Silva, de 18 anos, ficou ferido e foi levado para o Hospital João XXIII. Alguns vidros foram quebrados e a situação só foi contornada com a chegada de homens do Corpo de Bombeiros. Em seguida, uma pequena multidão marchou para a praça da Liberdade. O relógio com a contagem regressiva para a Copa do Mundo foi danificado.

No entanto, o momento de maior tensão ocorreu depois das 22h. Agências bancárias na praça Sete foram depredadas e uma loja da Vivo, perto da igreja São José, foi destruída. Ainda na praça Sete, os manifestantes cercaram um ônibus da linha 4103, e parte dos passageiros, assustada, desceu do coletivo. Três repórteres fotográficos, um deles de O Tempo, ficaram encurralados em uma loja da rede de fast food Habib's, na esquina da avenida Afonso Pena com rua Espírito Santo. Os profissionais subiram até o segundo andar para fazer fotos do protesto, quando foram avistados pelos manifestantes. Eles tentaram invadir a loja, mas a gerência conseguiu fechar as portas. Ainda segundo os fotógrafos, a PM não foi vista no local.

À tarde

Milhares de pessoas saíram da avenida Antônio Carlos no fim da tarde, em direção ao centro da capital, em mais uma manifestação contra o aumento do preço das passagens de ônibus, a corrupção e os gastos com a Copa.

Por volta das 17h45, os manifestantes estavam concentrados em frente à UFMG e bloqueavam os dois sentidos da avenida Antônio Carlos, causando retenção na barragem da Pampulha e reflexos no trânsito da avenida Pedro I e da MG-010.

Gritando palavras de ordem e segurando uma faixa com a mensagem "Não vai ter copa. O povo decidiu jogar", os manifestantes seguem o trajeto em direção ao centro, convocando pessoas que estão nos ônibus e nas ruas para se juntarem ao protesto.

Devido à manifestação, muitos comerciantes fecharam as portas nas proximidades da avenida Antônio Carlos. Pouquíssimos policiais acompanharam o protesto e não foi feito cordão de isolamento. O trânsito no sentido Venda Nova/centro foi desviado para a avenida Abraão Caram, até que a avenida Antônio Carlos fosse completamente liberada, por volta das 21h.

O deslocamento dos manifestantes em direção ao centro da cidade também fechou os dois sentidos do Anel Rodoviário na altura do bairro São Francisco por cerca de meia hora, causando uma retenção de 4 km no sentido Vitória.

Viaduto Santa Tereza

Embaixo do viaduto de Santa Tereza, na região central da capital, cerca de 400 pessoas também se reuniram e, com o apoio de um carro de som, discutiram os temas que irão nortear as próximas manifestações em Belo Horizonte.


O protesto foi promovido por meio do Facebook, e não houve uma liderança direta, por se tratar de um movimento horizontal. O estopim para o início dos protestos foi o aumento das passagens de ônibus e os gastos com as copas das Confederações e do Mundo.


No local, houve presença de pessoas ligadas a partidos políticos, representantes do Movimento dos Sem Terra e Sindicato dos Guardas Municipais de Minas Gerais. A Polícia Militar acompanhou de perto a reunião, que seguiu pacífica.

Os manifestantes seguiram para a avenida Afonso Pena, onde se juntaram aos demais grupos que protestam na cidade.

Fonte: O Tempo (MG)

Manifestações desnorteiam a velha política

A explosão de sucessivos protestos nas cidades brasileiras deixa prefeitos, governadores e autoridades federais perplexos diante de um Brasil até então desconhecido e com o qual ainda não se sabe como lidar. Depois de declarar que o governo está ouvindo as vozes da rua, a presidente Dilma foi se encontrar com Lula e com o prefeito Fernando Haddad, em São Paulo, para avaliar o prejuízo eleitoral dos acontecimentos. Temendo a reação popular, seis outros prefeitos se apressaram em anunciar a redução das tarifas. As passeatas se estenderam a cidades do interior e a oito países.

Protesto na capital paulista reúne mais de 50 mil.

Pela primeira vez, Haddad admite redução da tarifa.

Saiba quais são as principais reivindicações das ruas.

São Paulo

A manifestação nas avenidas da cidade começou pacífica, mas um grupo tentou invadir a prefeitura e deu início à violência: carros foram queimados e lojas, saqueadas.

Rio de Janeiro

O centro de São Gonçalo, perto da capital, foi tomado por 5 mil pessoas.

Houve atos em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, no Ceará e no Acre.

Pressionados, prefeitos cedem

Chefes do Executivo municipal que passaram os últimos dias agindo de maneira isolada para responder aos protestos nas ruas decidiram se unir. Eles vêm hoje a Brasília para discutir com senadores um projeto para desonerar o diesel, o que pode ajudar na redução do preço das tarifas de ônibus. O presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), José Fortunati (PDT), de Porto Alegre, e o vice-presidente do grupo, Fernando Haddad (PT), de São Paulo, participarão de audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

O governo federal afirmou ontem que apoia outras duas propostas em tramitação no Congresso. Uma delas reduz a incidência de PIS/Cofins no transporte coletivo (leia ao lado), e a outra desonera a folha de pagamento do metrô de São Paulo. De maneira isolada, seis cidades resolveram se antecipar e anunciaram reduções das passagens: Recife, João Pessoa, Cuiabá, Porto Alegre, Pelotas (RS) e Blumenau (SC). Em Brasília, o secretário de Transportes, José Valter, assegurou que as tarifas não serão reajustas até 2014 (leia mais na página 25).

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, provável candidato do PSB à Presidência no ano que vem, declarou que a decisão de diminuir a tarifa de ônibus não tem relação com os protestos ocorridos na noite de segunda-feira na capital pernambucana. "Foi uma decisão unilateral do governo e das prefeituras reunidas aqui hoje (ontem)," disse.

O prefeito de Porto Alegre, o pedetista José Fortunati, também aproveitou a brecha de desonerações em diversos projetos que tramitam nos planos federais e municipais para anunciar a redução das passagens em R$ 0,05. "Assim que o Tribunal de Justiça se pronunciar sobre as nossas propostas, prometo que repassarei os descontos para as tarifas."

Em São Paulo, Haddad se reuniu ontem pela primeira vez com representantes do Movimento Passe Livre, que organiza as passeatas nas ruas da capital paulista. O encontro ocorreu durante reunião extraordinária do Conselho da Cidade. Diante dos manifestantes, ele se comprometeu a examinar a planilha de custos de transporte do município para "refletir no que eu poderia cortar de serviços para viabilizar a redução da tarifa". Ele, no entanto, não revogou o aumento que elevou a tarifa para R$ 3,20.

Ante os protestos, no entanto, o prefeito petista está disposto a negociar. "Temos caminho (para a redução), mas isso passa pela desoneração dos tributos federais e estaduais que incidem sobre o transporte público, como por exemplo o ICMS sobre o diesel, que já seria responsável por R$ 0,07 dos R$ 0,20 do aumento", disse.

Confusão

Os valores, no entanto, são motivo de discórdia, e tanto o governo federal quanto os estaduais têm se desencontrado. Segundo a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, com as desonerações federais, São Paulo poderia reduzir a tarifa em R$ 0,23.

A informação, no entanto, foi contestada pelo prefeito. Haddad disse que o desconto já havia sido aplicado, caso contrário a tarifa seria de R$ 3,47. Logo depois, Gleisi retificou o dado e afirmou que "não é possível calcular em quanto as prefeituras podem reduzir o preço das passagens a partir das medidas federais".

"Temos caminho (para a redução), mas isso passa pela desoneração dos tributos federais e estaduais que incidem sobre o transporte público" Fernando Haddad (PT), prefeito de São Paulo
Recuo dos governantes

Ao menos seis cidades anunciaram a redução do valor das passagens cobradas no transporte público:

Município Redução tarifária

Recife R$ 0,10
João Pessoa R$ 0,10
Cuiabá R$ 0,10
Porto Alegre R$ 0,05*
Pelotas (RS) R$ 0,15
Blumenau (SC) R$ 0,12

*O valor oficial da tarifa é R$ 3,05, mas uma liminar judicial fixou a tarifa em R$ 2,85. A ideia inicial é reduzir para R$ 2,80

As redes nos protestos

O uso das redes sociais na orquestração de protestos, Brasil afora, não se explica apenas pela facilidade de comunicação e de compartilhamentos. Assim como a ausência de lideranças claramente instituídas, o recurso também tem raiz em uma crise de representatividade e na tentativa de se estabelecer canais de comunicação, divulgação e articulação menos hierarquizados e mais horizontais.

"Movimentos de 2011, 2012 e, agora, de 2013 tiveram como característica o protagonismo da internet. Assim, consegue-se abalar o papel dos meios de comunicação, que deixa de ser de um para milhões, para ser de milhões para milhões", disse o pesquisador do núcleo de estudos em políticas sociais, do Departamento de Ciências Sociais, da Universidade de Brasília (UnB), Marcello Barra.

Pelas redes sociais, os ativistas coordenam ações, divulgam datas das manifestações, compartilham fotos e vídeos feitos por quem participou das reivindicações, e estimulam outras pessoas a saírem às ruas. A estratégia, usada nos últimos anos, ganhou, com os atuais protestos, proporção nunca antes vista no Brasil. Um modelo que vem conquistando força e projeção a partir, principalmente, de 2011, com o protesto dos indignados, na Espanha, e com o movimento Occupy Wall Street, nos Estados Unidos.

"É uma ferramenta de comunicação, principalmente, do público jovem. Em um primeiro momento, é usada para a exposição de ideias. Em um segundo momento, de mobilização do digital para o real", disse o especialista em direito digital, Leandro Bissoli.
"Esse é um movimento sem precedentes na história do Brasil. Algo, até agora, muito pouco institucionalizado, que recorre às redes sociais como nunca no país. Há aspectos muito originais nisso, que fazem dele uma novidade muito grande", disse o professor de ciência política da PUC de São Paulo, Lúcio Flávio de Almeida.

Preocupação eleitoral em meio à crise

O governo federal ainda tenta acordar para o tamanho da nova cara do Brasil, que se espalha pelas ruas do país desde a semana passada. Mas, por enquanto, a maior preocupação é meramente eleitoral. Tão logo fez o primeiro pronunciamento oficial sobre o assunto, em cerimônia no Palácio do Planalto ontem, para a apresentação do Código de Mineração, a presidente Dilma Rousseff voou para São Paulo para se encontrar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT). Além deles, participaram do encontro o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, o presidente nacional do PT, Rui Falcão e o publicitário João Santana.

Esse grupo em nada se parece com uma força-tarefa formada para discutir crises. Em vez de encontros com os ministros de Estado de setores ligados à Justiça, à Segurança Pública e aos serviços de inteligência, a reunião contou apenas com caciques petistas e o principal marqueteiro do partido atualmente. Lula já tinha reclamado a interlocutores que Haddad estava titubeante diante dos recentes confrontos ocorridos nas ruas de São Paulo. Em seu blog, o ex-ministro José Dirceu afirmou que cabia ao prefeito petista chamar os estudantes para abrir uma mesa de debate sobre a qualidade no transporte público e a militarização das polícias.

A gestão de Haddad se transformou em uma vitrine para o PT e para a reeleição da presidente Dilma. A sensação de que o pupilo de Lula fraquejou na primeira crise passa uma imagem muito ruim para o eleitorado, que escolherá, no ano que vem, o governador do estado — outro objetivo do PT — e decidirá se a presidente terá ou não direito a mais quatro anos de mandato no Planalto.

A percepção de que a situação havia passado totalmente do controle ocorreu na noite de segunda-feira, quando uma perplexa presidente assistia às imagens dos protestos que levaram quase 250 mil pessoas às ruas de 12 capitais. Ela decidiu, então, ligar para os governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB); do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB); e do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT). Os dois últimos, ao lado do governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), enfrentaram os protestos mais violentos de segunda. Anastasia, inclusive, pediu ontem que o governo federal envie a Força Nacional de Segurança ao estado.

Discurso

As conversas telefônicas que Dilma teve serviram para nortear o discurso da manhã de ontem. Até então, mesmo com a presidente tendo sido alvo de vaias durante a abertura da Copa das Confederações, no sábado, em Brasília, governo e petistas tentavam minimizar as manifestações. Ainda na segunda-feira, Dilma se limitou a declarar, por meio da ministra da Secretaria de Comunicação Social, Helena Chagas, que as "manifestações são próprias da democracia", e que "é próprio dos jovens se manifestarem". Ontem, Dilma foi mais contundente.

A presidente disse que "as vozes da rua precisam ser ouvidas", e evidenciou a nova natureza dos manifestos das últimas semanas. "Elas ultrapassam, e ficou visível isso, os mecanismos tradicionais das instituições, dos partidos políticos, das entidades de classe e da própria mídia", afirmou. "Os que foram ontem (segunda) às ruas deram uma mensagem direta ao conjunto da sociedade, sobretudo aos governantes de todas as instâncias. Essa mensagem direta das ruas é por mais cidadania, por melhores escolas, melhores hospitais, postos de saúde e direito à participação."

Dilma ainda elogiou os movimentos e afirmou que eles fortalecem o país. "O Brasil, hoje, acordou mais forte. A grandeza das manifestações comprovam a energia da nossa democracia, a força da voz da rua e o civismo da nossa população." Ela também condenou o uso da violência. "O caráter pacífico dos atos públicos evidenciou também o correto tratamento dado pela segurança pública à livre manifestação popular. Conviveram pacificamente", ponderou. Dilma ainda disse que atos isolados de violência não retiram a legitimidade dos movimentos. "Sabemos, governo e sociedade, que toda violência é destrutiva, lamentável e só gera mais violência."

Reforço para a Copa

Quatro estados que sediam os jogos da Copa das Confederações receberão o reforço da Força Nacional de Segurança (FNS) para evitar tumultos durante as partidas de futebol. Ceará, Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro receberão o efetivo da corporação. O DF também terá o reforço de homens da FNS, embora a capital federal só tenha recebido a partida inaugural do torneio. Em nota, o Ministério da Justiça afirmou que o envio das tropas está previsto dentro do plano de segurança para grandes eventos.

Fonte: Correio Braziliense

Por dentro do protesto

Não uma, mas muitas razões levam milhares às ruas do país.

* Os personagens da noite que marcou Porto Alegre.
* Copa e transporte público como alvos preferenciais.
* discurso da presidente: "Ouvir a voz das ruas".
* Manifestação e violência em SP, Rio e outras cidades.

Vozes e cartazes

Um protesto, mil razões

As reivindicações dos manifestantes que tomaram as ruas da Capital não se resumem a uma ou duas. São muitas e podem ser percebidas em palavras de ordem e cartazes. É o que conta o repórter de Zero Hora que acompanhou de perto a passeata de segunda-feira.

Sentados no calçamento do Paço Municipal, às 17h de segunda-feira, os primeiros a chegar para a manifestação estendem no piso as folhas de cartolina e hesitam, pensativos. É o momento de explicitar, com tinta ou pincel atômico, por que estão ali e o que querem.

Aos poucos, as palavras vão ganhando contornos no papel, e cada novo cartaz erguido alarga a pauta de reivindicações e revela os motivos para o descontentamento. A tarifa de ônibus é só um, entre tantos: "Não são só R$ 0,20", esclarece, em uma simples folha de ofício, um ativista de flor na boca. Os manifestantes são quase todos muito jovens. Quando o país tomou as ruas pela última vez, para derrubar Fernando Collor, não eram nascidos ou ainda ensaiavam os primeiros passos. Mas alguns pegam emprestadas as palavras popularizadas em outra era, quando o país sofria sob a ditadura militar. Che Guevara ("Hasta la victoria siempre"), Chico Buarque ("Afasta de mim esse cálice") e Geraldo Vandré ("Quem sabe faz a hora, não espera acontecer") se transformam de novo em porta-vozes de uma geração.

Em muitos outros cartazes, a insatisfação expressa à tinta é a de quem não se sente representado, seja por governos, tribunais, partidos, sindicatos ou meios de comunicação. O conteúdo dessas folhas de cartolina e papelão erguidas para o alto – e usado para intercalar os textos deste relato sobre o que foi visto e ouvido no protesto em Porto Alegre – oferece esse testemunho.

SAÚDE (X), EDUCAÇÃO (X), TRANSPORTE (X)

Às 17h15min, um ciclista de barba e cabelos compridos aparece, bandeira do Brasil atada ao pescoço.

– Todos deveriam usar a bandeira, para o mundo ver. Tem uns que são anarquistas, que não a respeitam – critica.

Perto dele, desfila de um lado a outro um rapaz vestido de preto dos pés à cabeça, com capacete e máscara sobre o rosto. Um dos 14 guardas municipais que fazem a segurança da prefeitura saca o celular e passa a captar imagens do manifestante. Ele responde na mesma moeda: desembolsa uma câmera e filma o agente.

É aplaudido.

SENHOR GOVERNADOR, CADÊ O RESPEITO?

O rapaz usando máscara e capacete se aproxima de um pequeno grupo com aparência hippie.

– Ô, cara, tu estás muito armado – comenta uma adolescente com a cara pintada de verde e amarelo.

– Pensa que está em São Paulo? – questiona outra.

Quando ele remove a máscara, revela-se o rosto nada assustador de um jovem de bochechas coradas e barba clara bem aparada.

BRIGADIANO TAMBÉMÉ EXPLORADO

O Paço Municipal começa a encher de manifestantes quando uma garota comenta com um rapaz:

– As pessoas roubam, matam, e não aparece polícia. A polícia só vem contra os manifestantes.

– Tem de entender que a polícia é um instrumento de repressão do povo. Mas agora não tem jeito, porque a internet bombou de uma forma... O problema é que na quinta-feira dispersou demais.

– Essa dispersão é que não pode acontecer hoje – defende a garota.

– Eu faço Ciências Sociais. Tive de dizer: "Professora, lamento, mas hoje não vai dar. Está acontecendo uma coisa que talvez não vá acontecer nunca mais".

O universitário se interrompe para conferir o celular e fazer um anúncio de forma entusiasmada:

– Meu Deus! Um amigo está vindo com mais 10 pessoas!

FAÇA AQUI OSEU CARTAZ. GRÁTIS

– São Paulo inteira na rua, não é, velho? – comemora um jovem, encontrando o amigo.

Então, exibe os dizeres em seus cartaz:

– O que tu achas?

– Massa! – avalia o outro.

Do lado, já espremida pela multidão, uma manifestante desabafa ao namorado:

– Se eu tivesse cartolina, também escrevia. Acho muito legal o que está acontecendo. Os jovens estavam muito acomodados. Agora, não. Espero que todo mundo que veio aqui esteja pensando em um futuro melhor. Porque tem gente que aparece só para se promover.

O diálogo termina em beijo.

NENHUM PARTIDO ME REPRESENTA

Pouco antes das 18h, horário marcado para o protesto, chegam dois agrupamentos partidários, com suas bandeiras, tentando se inserir no movimento: integrantes do PSTU e do PSOL. Durante toda a noite, terão de suportar o mesmo slogan, entoado pelas milhares de vozes que os cercam:

– Sem partido! Sem partido! Sem partido!

CONSTITUIÇÃO FEDERAL FIFA

Ao lado da Fonte Talavera, uma roda reúne três rapazes e uma garota.

– Não sou contra Copa. Não sou contra nada. Mas do jeito que fizeram... – diz um dos jovens.

– ... é, esse monte de estádios – completa um amigo.

– O problema aqui é que tem muito protesto junto, muita coisa.

– Mas é válido. É um momento histórico. Tem de participar.

– Pois é. Mas a mídia não divulga nada.

– Divulga, sim – contesta a garota.

– Mas o histórico é esse acompanhamento vivo, não-tendencioso, feito pela internet – devolve um manifestante.

– É, a internet – concordam todos.

NÃO FALTAM MOTIVOS PARA PROTESTAR

Pouco depois das 18h, os manifestantes começam a gritar suas palavras de ordem, de frente para o prédio da prefeitura. O coro vem alternadamente de diferentes lados da praça e manifesta os variados pontos de vista ali reunidos:

– Um, dois, três, quatro, cinco mil! Abaixa a passagem ou paramos o Brasil!

– Da Copa eu abro mão! Queremos é dinheiro para saúde e educação!

– Prefeito, elite, o povo te demite!

– O povo, unido, governa sem partido!

QUANDO SEU FILHOFICAR DOENTE...

Por entre os grupos, um rapaz circula, propagandeando com panfletos uma das múltiplas causas da noite. Seu folheto divulga uma caminhada em defesa da queda do presidente da CBF, José Maria Marin, de um novo modelo de campeonato gaúcho e de ingressos mais baratos no Gauchão.

– O presidente da CBF é o cara que está fazendo a Copa. É uma roubalheira. Por isso, estamos convidando para um movimento contra ele – explica, para um trio de garotas adolescentes.

– Minha mãe nem queria que eu estivesse aqui – desculpa-se uma das meninas.

– Bom, estou divulgando para vocês.

– Parabéns – elogia a garota.

Vendo que o diálogo é observado e registrado, o manifestante faz um apelo:

– Só peço que você fale bem da manifestação no jornal. Tem uns caras que exageram, mas a maioria é da paz.

DILMA, PARA QUE TANTO IMPOSTO?

Uma jovem chega, abraça o amigo, e avisa:

– Não vou poder ficar muito. Só vim dar uma passadinha.

O clima geral é de orgulho. Há um sentimento de entusiasmo, de estar em massa na rua para exigir alguma coisa. Muitos pedem para ser fotografados pelos amigos na condição de manifestantes. O rapaz diz à amiga:

– Estava olhando a internet e tinha 240 mil confirmações de presença. E a Dilma não se pronuncia.

– Se ela não se pronunciar, a situação só vai piorar.

– Legal é que aconteceu bem na Copa das Confederações.

– Demais, não é? Dá visibilidade.

NÃO À PEC 37

Às 19h, a massa começa a se mover Borges de Medeiros acima. Uma mulher arrisca sua interpretação:

– Sarney, mensalão. Acho que foi tudo se acumulando.

– É. E esse monte de estádios. Tem de ir para a rua – diz uma amiga.

Ao longa da Borges e da Salgado Filho, a multidão recebe o apoio de quem está nos prédios. Quando atingem um ponto mais alto da Borges ou mais baixo da Salgado Filho e conseguem ver a massa a espraiar-se por centenas de metros, os participantes se emocionam, se abraçam, parecem a ponto de chorar.

– Meus Deus! Tem muita gente.

DE UM LADO ESTE CARNAVAL, DO OUTRO...

Um novo tipo de manifestante começa a ganhar protagonismo quando a marcha ingressa na Avenida João Pessoa. Eles escondem o rosto debaixo de máscara e panos, empunham pedras e pedaços de paus e tomam a dianteira da caminhada. Picham, quebram, incendeiam e explodem, para revolta dos que vêm logo atrás e tentam impedi-los.

As depredações culminam no cruzamento das avenidas Azenha e Ipiranga, onde o punhado de arruaceiros depreda uma revenda de motos, dando origem a uma violenta reação da Brigada Militar, que transformou Porto Alegre em campo de batalha.

– Vandalismo é anti-imperialismo – bradam.

É um momento de desilusão para muitos dos que foram às ruas:

– Aqui o protesto perdeu a razão – diz uma garota.

– Vocês estragaram tudo, seus ignorantes.

As duas têm lágrimas nos olhos.

Fonte: Zero Hora (RS)

Saques e violência em meio a apelos de paz

Passeata que começou pacífica, em São Paulo, descambou. Apesar dos apelos de parte dos manifestantes, grupo tentou invadir a prefeitura, houve incêndios, invasão de lojas, prisões e muita confusão. Protestos se repetiram em outras cidades.

* Passagem mais barata

Governo se antecipou ao protesto de amanhã, no Recife, reduziu tarifas de ônibus em R$ 0,10, mas ato foi mantido. Motoristas prometem paralisação.

* Dilma se diz atenta

Presidente falou sobre os protestos e disse estar ouvindo as vozes das ruas, que querem mudanças. Imprensa internacional destaca a crise brasileira.

* Internet mobiliza

Redes sociais têm servido como instrumento de canalização da insatisfação e ferramenta para organizar mobilizações pelo País e até no exterior.

Clima de paz sofre ataque de vândalos

Protestos. Grupos se infiltraram entre manifestantes e protagonizaram cenas de barbárie. Em SP, saquearam lojas e tentaram invadir a prefeitura

SÃO PAULO - Em mais um dia de protestos por todo o País contra o aumento dos preços das passagens, os gastos astronômicos com a Copa do Mundo de 2014, entre outras reivindicações, as manifestações acabaram manchadas por pequenos grupos que fizeram uso da violência para serem ouvidos. São Paulo foi um belo exemplo disso. Ao menos 50 mil pessoas ocuparam ontem o Centro da cidade de forma pacífica, enquanto a presidente Dilma Rousseff prometia ouvir os milhares de brasileiros que saem às ruas clamando por melhorias na qualidade de vida. À noite, o ambiente mudou. Um grupo tentou invadir a sede da Prefeitura de São Paulo, o que levou à reação da Guarda Metropolitana. As grades de proteção diante da prefeitura foram retiradas pelos manifestantes. Vândalos atiraram objetos contra os guardas municipais, que reagiram com gás de pimenta e bombas de efeito moral.Diante do avanço do pequeno grupo de manifestantes, os guardas municipais recuaram para dentro da prefeitura, enquanto integrantes do protestos se dividiam entre invadir ou não o prédio. Após alguns incidentes, os próprios manifestantes recolocaram as grades de proteção diante da prefeitura e evitaram a invasão.

Ainda diante da prefeitura de São Paulo, no viaduto do Chá, manifestantes incendiaram uma van de retransmissão da TV Record e sacudiram uma caminhonete da Rede Globo. A tropa de choque da PM chegou a entrar em confronto com alguns manifestantes. Em outra parte da cidade, na Avenida Paulista, milhares de pessoas se manifestavam pacificamente durante a noite. "Estou aqui porque quero reclamar de todo este dinheiro usado nos estádios. Quero educação, hospitais, e ao menos ter uma cidade mais limpa", disse a estudante Alina Castro, 18 anos, na Praça da Sé.

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores, aceitou rever o preço das passagens de ônibus na capital paulista, após uma reunião com integrantes do Movimento Passe Livre, que prometem manter a mobilização até a anulação efetiva do aumento, de R$ 3 para R$ 3,20.

Em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, outra manifestação reuniu milhares de pessoas que caminharam até a prefeitura da cidade, em protesto contra o aumento das tarifas do transporte público. Não houve incidentes durante o trajeto, acompanhado por 200 policiais militares.

Na capital carioca, o dia amanheceu tranquilo após uma noite bastante violenta. O ataque ao prédio da Assembleia Legislativa (Alerj), causou um prejuízo, avaliado pela Casa, entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões. Pelo menos 30% dos vidros do segundo andar do Palácio Tiradentes, além de vitrais franceses, foram destruídos pelos manifestantes. Os mármores do imóvel ? tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ? acabaram pichados. A ação dos vândalos danificou ainda afrescos das fachadas, peças de mármore, mobiliário e parte do Salão Nobre.

Após edifícios e monumentos do Centro Histórico terem sido pichados e depredados, um grupo, que se mobilizou pela internet, procurou fazer a diferença: organizou um mutirão de limpeza em prédios importantes, como o Paço Imperial, na Praça Quinze. Pela manhã, mais de 2,6 mil pessoas já haviam demonstrado interesse em participar na página que trazia a mensagem: "O importante aqui é deixar claro: queremos construir, e não destruir", dizia o movimento batizado de "Declaração de amor ao Paço Imperial".

Estes estão os maiores protestos no Brasil desde as manifestações contra a corrupção do governo de Fernando Collor de Mello em 1992, que renunciou durante seu julgamento político no Senado. Novas manifestações estão convocadas para quinta-feira em várias cidades do país, incluindo Recife, Salvador e Rio de Janeiro, três das seis cidades-sede da Copa das Confederações. Os protestos poderão afetar a competição amanhã, quando, no Rio, será disputada no Maracanã a partida Espanha x Taiti, e, em Salvador, Nigéria x Uruguai. "O governo está preocupado", afirmou Gilberto Carvalho, chefe do gabinete de Dilma. "Que ninguém se precipite para tirar proveito político de um lado ou de outro", pediu.

Monitoramento

Os Estados Unidos estão monitorando os protestos dos últimos dias no Brasil, afirmou ontem a porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Jen Psaki. "É claro que estamos monitorando os eventos no Brasil, como era de se esperar", declarou ao ser questionada sobre o assunto no encerramento de uma entrevista coletiva regular concedida na sede da chancelaria americana.

"Manifestações pacíficas, como as que estão acontecendo lá no Brasil, fazem parte da própria democracia", disse Psaki, segundo transcrição da coletiva publicada na página do Departamento de Estado dos EUA na internet. "O que está acontecendo é que cidadãos estão manifestando suas opiniões e cobrando seus líderes sobre as questões que importam para eles", concluiu.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Dilma e Lula se reúnem para 'salvar' Haddad

A presidente Dilma e o ex-presidente Lula criaram uma "operação para salvar´ Haddad, revelou com exclusividade o Broadcast Político, lançado ontem pela Agência Estado.

Dilma e Lula tentam salvar Haddad

A presidente Dilma Rousseff e seu padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva, montaram uma "operação de salvamento" do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, alvo de nova onda de protestos, na noite de ontem. O prefeito encontrou-se ontem com Dilma e Lula, na Base Aérea de Congonhas, depois de uma reunião com representantes do Movimento Passe Livre, na qual se comprometeu a estudar a revisão da tarifa.

A informação sobre a operação de resgate de Haddad foi divulgada com exclusividade ontem no fim da tarde pelo Broad-cast Político - o primeiro serviço em tempo real do País na cobertura dos assuntos políticos, lançado oficialmente também ontem em Brasília.

Antes dessa conversa, Dilma tinha se reunido com Lula, com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, com o presidente do PT, Rui Falcão, e com o marqueteiro João Santana, em um hotel da capital paulista. O ex-presidente disse que o PT e suas administrações erraram ao se distanciar da juventude e agora pagam o preço do afastamento.

O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, deverá assumir a tarefa de interlocução com a juventude, e o governo estuda novos programas para beneficiar essa camada da população, que tem força eleitoral. Lula disse a Dilma e a Haddad que era preciso agir rápido para impedir mais desgaste aos governos do PT.

No diagnóstico do ex-presidente, a oposição começa a agir para "faturar" politicamente e, se o PT não abrir diálogo com a juventude, ninguém sabe como a onda de protestos terminará.

Diante dessa avaliação, Dilma acertou com João Santana, ainda na noite de segunda-feira, o tom do discurso lido ontem, durante a cerimônia de lançamento do Código de Mineração (mais informações nesta página).

Ajuste de discurso. No pronunciamento, elogiado por Lula, Dilma desviou do cerco político e se solidarizou com as manifestações pacíficas. "As vozes das ruas querem mais. O meu governo também quer mais", insistiu a presidente.

O discurso foi feito sob medida para tentar aproximar Dilma da juventude e, mesmo sem citar diretamente o escândalo do mensalão, protagonizado por petistas, ela disse entender a mensagem das ruas, de repúdio à corrupção e ao uso indevido do dinheiro público.

No Palácio do Planalto, a avaliação é a de que o PT perdeu o controle não só da juventude, como também dos movimentos sociais.

Pesquisas qualitativas em poder de dirigentes do partido indicam agora que a insatisfação generalizada atinge tanto a imagem de Dilma, candidata à reeleição, como a de Haddad.

"É uma insatisfação contra o status quo”, resumiu o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. “Isso pode até mesmo nos ajudar a apressar as mudanças que queremos para o País." A estratégia do PT é a de se solidarizar com os manifestantes, na tentativa de neutralizar o movimento, que começou com protestos contra o aumento da tarifa de transporte coletivo e fugiu ao controle do monitoramento do Planalto.

“Eu penso que temos de fazer uma autocrítica porque há um distanciamento do PT em relacão à agenda da juventude no período pos-Lula”, afirmou o deputado estadual Edinbo Silva, presidente do PT paulista. "Existe um ideário em disputa no País e, se não tivermos a capacidade de dialogar, esse movimento poderá ser facilmente cooptado por setores mais conservadores."

Governadores. A presidente Dilma também telefonou ontem para os governadores do São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), e do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), para falar sobre as manifestações ocorridas ontem nas capitais.

Na conversa com Alckmin, elogiou especificamente a ação da polícia, que, diferentemente da semana passada, não agiu com violência nem tentou conter a ação dos manifestantes na capital paulista. Também destacou o caráter pacífico da manifestação de segunda-feira.

Setores do partido entendem que a estratégia da comunica-cão com foco no social e a bandeira da retirada de milhões de pessoas da miséria precisa ser modificada porque já não dá conta de englobar os anseios da população que agora começam a aparecer.

O encontro de Dilma e Lula ocorreu no Hotel Shcraton, um dos mais luxuosos da capital paulista,e durou três horas. Como de costume, nem a Presidência e nem o Instituto Lula divulgaram o local do encontro. 

Ontem, especificamente, temiam que a publicidade da reunião pudesse juntar manifestantes contrários a ambos. Após conversar com Dilma e Lula em Congonhas, Haddad aparentemente abandonou a disposição, que se mantinha firme desde a véspera, de não rever aumento da tarifa de R$ 3,20

Fonte: O Estado de S. Paulo

Inflação deixa o povo inquieto, diz FHC

Debora Bergamasco, Daiene Cardoso

BRASÍLIA - Durante evento na Câmara dos Deputados sobre os 25 anos do PSDB e 19 anos do Plano Real? o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou seu discurso paia criticar a política econômica, do governo Dilma Rousseff. Segundo ele, não se assegura a crença na democracia e não se conseguem avanços concretos se não houver "uma direção econômica bem estabelecida". E o termômetro, advertiu, "é a inflação"

Quando a inflação começa a inquietar, prosseguiu o ex-presidente, "o povo se inquieta". "Ele sente que o que está montado começa a desmoronar." A advertência foi dada um dia após manifestantes ocuparem a cúpula do Congresso, na onda de protestos que tomou o País.

O ex-presidente deu um conselho à sua adversária política: "A presidente tem que abrir os olhos." Para ele, o País vive hoje um momento de insatisfação motivado pela inflação, "pela carestia que está aí". Indagado se Dilma vive hoje um mau momento, ele respondeu: "Veja a cara dela, pela cara ela está um pouco aflita, né?".

O tucano ofereceu outra dica, do alto dos seus 82 anos, comemorados ontem: "Não se aflija, as coisas podem melhorar. Como? Trabalhando, trabalhando e corrigindo os erros" Ele afirmou ainda que "uma nova geração ganha as ruas" e que é preciso prestar atenção neste movimento que faz o País "vibrar".

Enfatizando que hoje o dinheiro não chega "tão bem" ao bolso do brasileiro, FHC disse que o Brasil está "se transformando para melhor", mas "nós queremos mais", ainda é preciso "melhorar a vida do povo" nas áreas de saúde e educação e dar uma perspectiva de futuro à população. E conclamou: "Está na hora de, quem sabe, uma virada no Brasil para melhor?".

Reconhecimento. No evento, Fernando Henrique disse que seu partido fez muito pelo País e que a exposição serve para reconhecer esse papel. "Nós só queremos que a nossa parte seja reconhecida", ressaltou. De acordo com ele, se o PSDB conseguiu fazer "muitas coisas", não as fez sozinho.

O presidente nacional do PSDB, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), afinou sua fala com a de Fernando Henrique. Para ele, foi seu partido que deu início a mudanças estruturais no Brasil, com o advento "da estabilidade econômica, com início dos programas de transferência de renda, com as privatizações essenciais à modernização da economia brasileira e a Lei de Responsabilidade Fiscal". Já os avanços da gestão do ex-presidente petista Lula, segundo o senador mineiro, aconteceram, "mas no leito dessas mudanças ocorridas no governo do Fernando Henrique".

Aécio acrescentou: "Nós, diferentemente do PT, não temos dificuldade de reconhecer méritos nos nossos adversários e o presidente Lula teve dois grandes méritos: manter a política macroeconômica herdada do governo anterior e o segundo adensando os programas de transferência de renda. Hoje há um sentimento claro de que o Brasil precisa de um novo rumo, de um novo direcionamento", completou o provável candidato tucano à Presidência no ano que vem.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Eduardo Campos se antecipa a uma agenda negativa

Redução da tarifa de ônibus feita pelo governador ocorre dois dias antes de protesto no Recife. Socialista busca demarcar território ao se diferenciar dos adversários

Bruna Serra

O governador e pré-candidato a presidente da República Eduardo Campos (PSB) usou seu "timing" político para se antecipar a uma eventual agenda negativa que pudesse ser gerada com o protesto marcado para amanhã, no Recife. Quando os manifestantes tomarem seus ônibus para chegar à Praça do Derby - local da mobilização - pagarão R$ 0,10 a menos pelo transporte. A decisão, anunciada ontem, teve um componente político. Eduardo buscou demarcar diferenças entre o "modus operandi" de seu governo e com as demais administrações Brasil afora, a exemplo da gestão do PT na capital paulista e do PSDB, no Estado de São Paulo.

A redução é o repasse da desoneração do PIS/Cofins incidentes sobre o transporte público, medida anunciada pelo Ministério da Fazenda no último dia 22. Questionado, Campos negou que a medida tenha objetivo de esvaziar o protesto de amanhã, ainda que a nova tarifa tenha sido programada para entrar em vigor justamente no dia da manifestação. "As pessoas estão querendo encontrar um caminho para melhorar a qualidade de vida. Os ganhos trouxeram também uma série de contradições entre a melhoria de vida e o processo de expansão econômica", afirmou.

O governador vem adotando posturas semelhantes a da redução de passagem para demarcar diferenças em relação aos demais candidatos a presidente. Foi o que ocorreu com o projeto estadual que dedica 100% dos royalties do petróleo à Educação, com a criação da Comissão estadual da Verdade e com a criação do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Municipal (FEM), entre outros exemplos.

Sobre a hostilidade demonstrada por manifestantes à presença de partidos e políticos nos atos pelo Brasil, o governador saiu em defesa da classe da qual faz parte. "Claro que nesse processo aparece, em primeiro momento, como uma negação às lideranças dos movimentos sociais e da política. Mas não são todos do movimento social e da política que estão desconectados com este sentimento. Alguns estão. Outros, não. Tem até algum contato com esse ambiente que está nas ruas", reafirmou.

Eduardo Campos lembrou dos tempos em que participava de passeatas e assegurou que, caso não ocupasse o cargo de governador, estaria nas ruas. "Se eu tivesse a idade deles e não estivesse nessa função, iria, como fui a outras. A essa altura, porque estou aqui como governador, eu vou dizer que não participaria? Participaria! Só que minha posição hoje é outra. Mas por estar nessa posição e já ter passado por tudo isso, eu já vejo diferente a política tradicional", romantizou.

Diferenciação

Consultor de imagem em gestão de crises governamentais e em empresas, o jornalista Mário Rosa opina que, com o anúncio de ontem, o governador adota uma medida ousada na tentativa de se diferenciar dos adversários. "Ele está na base, então precisa buscar se diferenciar de forma sutil", pondera. O especialista afirma que Eduardo está buscando encurtar os caminhos para chegar à cadeira da presidente Dilma Rousseff sem se posicionar contra ela. "Dentre todas essas medidas já tomadas, essa (de reduzir tarifas) é a mais dramática. É ousada", analisa.

Mário Rosa lembra que as ações de antecipação de Campos visam consolidar a imagem de bom gestor, que possivelmente será a sua mensagem em 2014. "Ele representa, caso se apresente, o retorno do patrimônio político às campanhas. Ele quer ter como garantia sua capacidade de gestão para se aproximar dos eleitores".

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

FH diz que Dilma deve ‘abrir os olhos’ sobre manifestações e cuidar da inflação

Aécio diz que PT tenta mostrar um Brasil ‘róseo’ que não existe

Tucanos avaliam que movimento deu um recado de que está falido discurso do PT sobre governar para os mais pobres

Maria Lima

BRASÍLIA — Sem a aguardada presença do ex-ministro José Serra em encontro de tucanos nesta terça-feira, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso almoçaram com outros convidados no gabinete do senador, antes de inaugurarem a exposição dos 25 anos de criação do partido, 19 anos do Plano Real e 82 anos de Fernando Henrique. Os dois criticaram as declarações da presidente Dilma Rousseff sobre as manifestações por todo o país. Aécio disse que sairá perdendo quem tentar “se apropriar” desse momento, e o ex-presidente disse que Dilma precisa “abrir o olho” e cuidar da inflação.

— Neste momento é preciso ter muita cautela. Quem tentar se apropriar desse movimento vai quebrar a cara. Esse Brasil róseo que o PT tenta mostrar não existe — disse Aécio Neves.

Já o ex-presidente Fernando Henrique comentou a ida de Dilma a São Paulo nesta terça-feira, para se reunir com o ex-presidente Lula. Para FH, a presidente deve atacar a inflação, que seria, segundo ele, a causa desses protestos.

— O Lula entende de movimento de massa. Nessa hora, a presidente tem de ouvir outras pessoas. Agora, se ela disse que apoia o movimento, a primeira mudança que ela tem de fazer é acabar com a inflação, que continua alta e está por trás de tudo isso. Por trás de tudo isso, está a carestia — disse Fernando Henrique.

Durante o evento, Fernando Henrique disse que Dilma não vive um bom momento e precisa abrir os olhos:

— Pela cara dela, a presidente parece um pouco aflita. Se eu pudesse lhe dar um conselho, eu diria que não se aflija. As coisas podem melhorar. É só corrigir os erros — comentou Fernando Henrique. — Por que mexer na passagem do ônibus? Não foi nem um aumento tão grande assim, mas mexeu, porque a carestia está aí, a inflação. A presidente tem que abrir os olhos — completou.

Aécio afirmou que a queda de Dilma nas pesquisas, somada à vaia no Estádio Nacional de Brasília, e agora aos protestos nas ruas, vão fazer com que a presidente perca um pouco da arrogância.

— Humildade e caldo de galinha, como dizem lá em Minas, não fazem mal a ninguém. Acho que é um bom conselho para a presidente.

A avaliação dos tucanos também é de que o movimento, além da insatisfação generalizada com a situação do país, deu um recado de que está falido o discurso de que o governo Dilma é para os pobres, e que é preciso olhar também para outros setores.

— Esse não é um movimento da classe C. É a classe média, descontente, se manifestando. A presidente Dilma certamente fará sua reflexão. Mas está claro que não dá para governar o Brasil só com o marketing, segmentando a sociedade entre “nós” e “eles” — disse Aécio. 

Sobre a trajetória do PSDB, Fernando Henrique reclamou o reconhecimento das conquistas de sua gestão, apesar de admitir avanços no governo Lula.

— Só queremos uma coisa: que a nossa parte também seja reconhecida. Ninguém faz nada sozinho. E ainda podemos fazer muita coisa. E faremos. Já demos nossa contribuição e estamos dispostos a dar muito mais — disse Fernando Henrique.

Com direito a bolo e parabéns pelos 82 anos, Fernando Henrique disse estar pronto para voltar ao poder, no Planalto.

— Gás e energia eu tenho. Vamos ver se teremos a oportunidade — brincou.

Os tucanos ironizaram o fato de que, na exposição de 10 anos do PT no poder, realizada no início do ano no mesmo espaço, foi suprimido o ano de 2005, o ano do mensalão.

Serra havia confirmado presença no encontro dos tucanos hoje, para mostrar união no PSDB e disposição de não atrapalhar a possível candidatura de Aécio e de fortalecer o projeto das oposições de derrotar o PT no ano que vem. Ele ligou pela manhã e disse que um problema de última hora tinha impedido sua ida a Brasília para a festa.

— Ele deve estar em alguma manifestação lá em São Paulo — brincou o presidente do Instituto Teotônio Vilela, deputado Sérgio Guerra (PE).

O levantamento de imagens da exposição de 25 anos do PSDB está sendo coordenado pelo fotógrafo Orlando Brito, e, além da trajetória de figuras históricas que participaram da fundação do PSDB, como Mário Covas e Fernando Henrique, será mostrada também a criação do Plano Real e seu impacto na estabilização econômica nos governos seguintes.

Fonte: O Globo

Para Aécio, siglas não devem se apropriar dos protestos

Por Raymundo Costa

BRASÍLIA - Na festa de comemoração dos 25 anos de criação do PSDB, o pré-candidato do partido à sucessão de 2014 assegurou que não pretende fazer das manifestações ocorridas nos últimos dias "um embate político", mas na emenda não poupou o governo federal: "Temos que reconhecer que esse sentimento de insatisfação é derivado da alta do custo de vida, da péssima qualidade dos serviços públicos e de outras demandas específicas que vamos identificar ao longo do tempo".

Pouco antes, Aécio havia dito que as manifestações deixaram "claro que o Brasil cor-de-rosa, pintado e cantado em verso e prosa da propaganda oficial não encontra correspondência na vida real das pessoas"

O pré-candidato do PSDB fez essas afirmações na inauguração de uma exposição em comemoração dos 25 anos de criação do PSDB, 19 anos do Plano Real e ao aniversário do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ontem na Câmara dos Deputados. Há tempos um evento do PSDB não registrava demanda igual da imprensa e de políticos, à exceção das convenções partidárias.

FHC deu o tom do discurso tucano. "É importante que as pessoas mais jovens, e não só os jovens, expressem suas vontades, mesmo que não saibam muito bem para que lado vão e que sejam muito díspares as suas vontades", disse. "É claro que a partir daí, os que são responsáveis, que estão no governo, têm que perceber: as coisas não estão tão bem quanto eles pensam".

Segundo o ex-presidente há um "crescente mal-estar que deriva de muitos problemas estruturais" na origem das manifestações. "Há uma certa descrença nos caminhos políticos, então, os partidos políticos que quiserem se recompor com o povo têm que chegar mais perto e sentir qual é a demanda", afirmou.

Apenas Aécio e FHC falaram na abertura da exposição. Um tradicional aliado do PSDB, o Democratas, se fez representar na pessoa de seu presidente José Agripino Maia (RN). O objetivo do DEM, nas eleições de 2014, é eleger o maior número de deputados e senadores possível, o que pressupõe ter candidatos aos governos em maior número de Estados, o que pode dificultar as articulações para provável reedição da aliança entre os dois partidos.

O ex-governador José Serra era esperado mas não compareceu. Serra telefonou para Aécio e disse que motivos particulares o impediram de viajar. Mas aliados do ex-governador de São Paulo, como um dos seis vice-presidentes do PSDB, Alberto Goldman, e o senador Aloysio Nunes Ferreira compareceram ao evento.

De acordo com Aécio Neves, as manifestações ocorridas em todo o país, nos últimos dias, não mudam os planos do PSDB para a eleição de 2014. Na realidade, ontem mesmo o pré-candidato fazia reflexões sobre o movimento. "As redes sociais são um fenômeno do nosso tempo", disse. "Essa capacidade de mobilização é algo com que nós vamos ter que nos acostumar daqui por diante", seja na dimensão verificada na atual onda de protestos ou em outras", afirmou.

Segundo Aécio, os políticos devem "tomar um cuidado muito grande, porque ninguém deve se apropriar ou tentar se apropriar desse movimento e quem tentar fazer isso vai ter uma resposta muito dura da sociedade". O senador mineiro também considerou um equívoco, na mesma dimensão, a transferência de responsabilidades políticas. " Nós não fazemos isso. Mas quem está em qualquer nível de governo logicamente é cobrado por dar respostas mais imediatas", disse. Não citou o nome, mas referia-se evidentemente à presidente da República, Dilma Rousseff.

Fernando Henrique também insistiu que o PSDB deve ser intransigente na defesa da estabilidade econômica. "Não se assegura a crença na democracia, e nem se consegue avanços concretos para o povo, se não houver uma direção econômica bem estabelecida, bem feita", disse. "O termômetro disso é a inflação: quando a inflação começa a inquietar, o povo se inquieta, porque sente que o que está montado começa a desmoronar".

Fonte: Valor Econômico