segunda-feira, 25 de março de 2013

OPINIÃO DO DIA- Luiz Werneck Vianna: a circunstância e novos personagens.

"A transição de Lula para Dilma apenas na aparência transcorre em termos de continuidade: os estilos diferem, passa-se do reino do carisma ao da gestão, que é de difícil compreensão para ouvidos treinados na retórica política da ética de convicção, a qual reclama um ator com espírito de missão, reconhecido publicamente como tal.

Sobretudo a circunstância é outra, e a sociedade não é mais a de dez anos atrás. Há novos personagens, que, no curso da última década, adquiriram musculatura, como os pentecostais, e outros que, ao contrário, perdem forças, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), enquanto assistem à ocupação de lugares estratégicos na política e na economia por parte do agronegócio, cujos dirigentes têm desfrutado acesso privilegiado ao vértice do poder.

O sindicalismo, a joia da coroa do governo Lula, trazido juntamente com as elites empresariais para o centro de decisões no interior da máquina governamental, não somente perde o seu lugar de antes, como é confrontado - reparam com azedume alguns dos seus próceres - com a desenvoltura do papel exercido pelas principais lideranças empresariais, boa parte delas assíduas nas antessalas do Estado, alçadas à posição proeminente de partícipes de um projeto de expansão do poder da Nação, em que seus interesses particulares são interpretados como de todos."

Luiz Wernecek Vianna, professor-pesquisador da PUC-Rio. ‘O mundo gira e a Lusitana roda’, O Estado de S. Paulo, 24/3/2013

Manchetes de alguns dos principais jornais do País

O GLOBO
Benefício fiscal - Deputados incluem armas em pacote de desonerações
Lindbergh reage a denúncia e ataca Cabral e o PMDB
Educação: Um mar de boas notas no sertão

FOLHA DE S. PAULO
Cota não atrai aluno da rede pública a vestibular
Acionistas da Petrobras perdem 21% em um ano
Chipre liquida banco para obter resgate de R$ 26 bi
Em SP, Aécio busca apoio de deputados do PSDB para 2014

O ESTADO DE S. PAULO
Mesmo com safra recorde, inflação de alimentos resiste
Governo investiga cirurgias de prótese
Com Serra fora do País, Aécio pede apoio a SP
Desonerações evitaram 0,4 ponto de aumento

VALOR ECONÔMICO
Empresas divergem sobre a desoneração de salários
Brasil atrai mais 19 bancos estrangeiros
Imigrantes e espanhóis saem da Espanha
Moeda da China avança no comércio internacional

BRASIL ECONÔMICO
China derruba os preços do aço e já prejudica a indústria brasileira
“Eduardo Campos é a força viável que podemos ter”
Caixa também vai bancar concessão de infraestrutura

ESTADO DE MINAS
Empregado em casa será artigo de luxo
Papa chama jovens para o Brasil

O TEMPO (MG)
Turista do futebol ainda não `descobriu´ Belo Horizonte
Oposição provoca Dilma com série de ataques orquestrados
‘Verei vocês no Brasil’, diz papa em Domingo de Ramos

CORREIO BRAZILIENSE
De olho na reeleição, Dilma acelera as alianças locais
Inadimplência no Pró-DF chega a 68%
Caso Encol

GAZETA DO POVO (PR)
De olho em 2040, Curitiba vai rever planejamento urbano
Papa confirma vinda ao Brasil e manda recado aos jovens
Câmara define até terça o futuro de Feliciano

ZERO HORA (RS)
Lei da transparência a passos lentos no RS
Santa Maria, 27/01/2013: Os caminhos do inquérito até a Justiça
Efeito rápido: Gaúchos se beneficiam de pacote de R$ 8,4 bi
Desafio da supersafra: Colheita de soja começa com temor de gargalos

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Serra Talhada é só afago para Dilma
Papa convida jovens para estarem no Rio
Petróleo, energia e muito mais pesquisas

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais do País

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Entrevista - Fernando Henrique Cardoso: "Há um sentimento mudancista"

O ex-presidente afirma que é bom para o país o florescimento de alternativas ao PT nas pré-candidaturas de Aécio Neves, Marina Silva e Eduardo Campos

“O Desenvolvimentismo de Dilma é a volta do capitalismo selvagem”, diz FHC

Guilherme Evelin, João Gabriel de Lima e Helio Gurovitz

Aos 81 anos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é uma das cabeças mais privilegiadas do país. As características que o tornaram um dos principais intérpretes do Brasil contemporâneo continuam intactas: arsenal teórico de cientista social, experiência de político e governante, invejável rede de contatos mundo afora e inesgotável curiosidade para perscrutar o que pode vir por aí. FHC foi o escolhido para estrear a série de entrevistas que ÉPOCA começa a fazer, a partir desta semana, com líderes brasileiros. Antenado nos movimentos da política, da economia e da sociedade, no Brasil e no mundo, FHC, ao falar da eleição presidencial, diz que"um sentimento mudancista" começa a ganhar corpo no país, a despeito dos índices de aprovação recordes da presidente Dilma Rousseff. Em meio a críticas à gestão econômica do governo - por tentar reviver o modelo nacional-desenvolvimentista do passado -, FHC afirma que o desafio da oposição nas eleições será dar a esse sentimento um conteúdo e uma mensagem capaz de atingir os eleitores.

ÉPOCA - Como o senhor vê o cenário atual, com Eduardo Campos, Marina Silva e Aécio Neves praticamente já colocados como candidatos, além da presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição?

Fernando Henrique Cardoso - Estão se desenhando aí quatro candidatos. Provavelmente, segundo turno. Sempre houve segundo turno depois que saí. É provável que haja de novo. Como vai ser, sabe Deus! Falta muito tempo. Porque isso foi precipitado, não entendo. Nunca vi o governo precipitar a eleição.

ÉPOCA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou Dilma para abafar, no PT, as expectativas de que ele pudesse ser candidato?

FHC - Ele não precisaria. Fez porque gosta de campanha.

ÉPOCA - Por que ninguém tem um projeto alternativo?

FHC - Projeto é uma ideia complicada. O que está aí está se esgotando. Começam a despontar críticas. Há um sentimento mudancista, mas ainda sem dar conteúdo à mudança. Não sei se no povo. Mas entre as pessoas que leem jornal, sim. Inclusive empresários. Para vencer a eleição, tem de chegar embaixo.

ÉPOCA - O povo sente que o desemprego está em baixa e a renda aumentou. Não há sensação de crise.

FHC - Nem sei se é necessário crise. De vez em quando, as pessoas querem aerar. Querem mudar. Meio irracionalmente. Quando tem uma basezinha que não é irracional, o problema se agudiza. Como você vence a eleição? Numa situação em que o eleitorado é fluido e os partidos não seguram nada, depende do desempenho. Depende da mensagem. Na política, não adianta só ter ideia. Tem de fulanizar. Não adianta sentar aqui três meses com um clube de sábios e escrever um projeto. Tem de tocar nas pessoas. E a pessoa tem de ser capaz, ela mesma, de inspirar isso. Precisa ter alguém que expresse esse sentimento e diga: "Vou fazer isso, me sigam".

ÉPOCA - Como foi Fernando Henrique num momento e Lula noutro?

FHC - Exatamente. Dilma não precisou. Agora precisa. Não só porque começa a haver cansaço. É porque o mundo está indo muito depressa.

ÉPOCA - O senhor acha que Aécio pode cumprir esse papel?

FHC - Se não achasse, não o teria apoiado.

ÉPOCA - E o Eduardo Campos?

FHC - A pior coisa que pode acontecer no país é não haver alternativa. Ainda que seja contra minha escolha, é preciso haver a possibilidade de mudar. Quanto mais pessoas digam alguma coisa, melhor. Independentemente de ser bom ou mau para meu partido, é melhor para o Brasil. Não sei o que Eduardo fará. Está pintando que será candidato. Se for, acho bom para o país. Porque ele e a Marina dizem coisas. Quem será capaz de galvanizar, veremos. No ponto de partida, Aécio tem uma base maior. Tem apoio em Minas e tem uma estrutura partidária mais ampla que o Eduardo. Veremos o que acontece.

ÉPOCA- O PSDB paulista ficará com Aécio? E José Serra?

FHC- De tudo que ouço do Serra, ele diz que não tem essa pretensão. Nem mesmo de ser presidente do partido. Tenho de acreditar no que ele me diz. O candidato do PSDB será apoiado pelo PSDB de São Paulo. Não tem muita alternativa.

ÉPOCA- O senhor não teme que Serra saia do partido?

FHC - E especulação. Ele nunca me disse isso.

ÉPOCA- Qual será a mensagem de Aécio?

FHC - Não posso falar por ele. Ele é que dará a mensagem. Aécio transmite uma coisa importante, a contemporaneidade. É jovem. Isso você não fala. Você é.

ÉPOCA- O que há de errado na economia do país?

FHC - Todo mundo reiterou que, no governo Lula, houve continuidade na política econômica. Até a crise de 2008, sim. Com a crise, a política anticíclica adotada foi correta. Aí o governo pressentiu que havia uma espécie de licença para fazer o que quisesse. E isso se agravou nos anos Dilma, com a volta da ideia de que você pode fechar mais a economia, apoiar certas empresas, promover uma política industrial apoiando certas áreas. Voltamos a uma visão nacional-estatista. A política fiscal foi abandonada, como se fosse uma persistência do que eles chamavam de neo-liberalismo. Essa incompreensão do que acontecia no mundo já ocorrera antes. Nos anos 1990, quando se tratava de ajustar a economia para lidar com a globalização, eles entendiam que era uma questão de ideologia, o tal neoliberalismo. Não foi só o PT, mas quase todo mundo, por uma posição mais antiquada que propriamente ideológica. Confundiram uma mudança do sistema produtivo, com novas tecnologias e novos métodos de transporte, com ideologia. Meu governo ajustou a economia brasileira à situação do globo. Agora, também está havendo um equívoco de percepção. Quando houve a crise de 2008, eles disseram: "Então vamos voltar. A crise nos dá o direito de fazer o que nós queríamos ter feito antes".

ÉPOCA - Que mensagem hoje seria inspira-dora neste momento mudancista?

FHC - Perguntaram-me uma vez qual seria um bom slogan para o PSDB. Não dá para falar como o Obama: "Yes, we can". Tem de ser: "Yes, we care". Nós prestamos atenção a você. Não é que farei mais hospitais. Meu hospital terá cuidado com você. E preciso insistir que o governo olhará para toda essa gente que está melhorando de vida. Isso não é palavra. Tem de ter também imagem e gesto.

ÉPOCA - O governo Lula expandiu os programas sociais de seu governo. Por que o senhor não fez essa expansão?

FHC- Não tínhamos recursos. E atacamos tudo: reforma agrária, educação, saúde. As grandes mudanças estruturais estavam lá.

ÉPOCA- Mas o Bolsa Família virou marca do governo seguinte.

FHC- Sim. Mas aí tem o jogo político. E talvez um pouco de timidez de usar a política social como base da política eleitoral.

ÉPOCA- O senhor se arrepende dessa timidez?

FHC - Não posso dizer que me arrependo. É meu jeito. Dizem que sou vaidoso, arrogante e não sei o quê. Tudo conversa... Na verdade, sempre tive muito acentuado o sentido do que é público, do que é privado, do que é partido.

ÉPOCA- O senhor não reconhece que, além de uma questão eleitoral, havia também um impulso para responder ao anseio social?

FHC - Lula simboliza isso. Ele vem de baixo, é um líder operário. Sem dúvida. Não estou tirando o mérito dele. A César o que é de César. Desde que eu também tenha meu cesarzinho (risos).

ÉPOCA- Voltar para onde?

FHC - Para um Brasil anterior a 1990. Estamos agora na realidade do Ernesto Geisel (presidente brasileiro entre 1974 e 1979). No momento em que o mundo vai sair da crise, o Brasil está voltando nas suas concepções quanto ao desenvolvimento da economia. Isso me preocupa. Novamente, os Estados Unidos sairão na frente, sobretudo com a revolução energética que estão fazendo.

ÉPOCA - Neste momento, Dilma está voltando atrás em algumas políticas e começou com algumas privatizações.

FHC - Pela força das circunstâncias. Ela é capaz de entender o erro. Vê o número e se assusta. Mas aí, quando vai consertar, tem de fazer coisas que não são da alma dela. Então, tem uma inconsistência. Ela não fala que é privatização, nem fala que é concessão. Fala que é PPP (Parceria Público-Privada). Ela até recuperou uma ideia da Idade Média, o lucro justo. Entendo essa reação, o capitalismo é irritante. Qualquer pessoa sente raiva disso aí. Mas essa é a lógica do sistema - tem de acumular mais, senão não cresce. O capitalismo não é justo. Quem tem de ser justo não é o mercado, é o Estado. Se você é neoliberal, deixa por conta do mercado e comete injustiças. Se você não é, usa o Estado para tentar evitar que o capitalista arrase tudo.

ÉPOCA- Por que o brasileiro é tão relutante em reformar o Estado?

FHC- O livro do Raymundo Faoro Os donos do poder diz que isso vem de longe. Claro que Faoro exagera. Fala que tudo é o Estado, a corporação, o privilégio, desde Portugal. Não é bem assim. Há uma luta permanente entre mais e menos Estado. E ganha sempre o lado do mais Estado. De certa maneira, meu período foi quase um ponto fora da curva. A gente estava modernizando o Estado e aceitando algumas regras do mercado. Agora, o Estado ficou mais resistente. Quanto mais você vai para lugares de menor desenvolvimento no Brasil, mais tem Estado. Mas as pessoas não percebem algo também verdadeiro: quando o Estado intervém demais, aumenta a concentração. A concentração de renda, provavelmente, cresceu muito recentemente.

ÉPOCA - Mas há duas maneiras de o Estado intervir. No desenvolvimentismo, ele subsidia empresas e cria estatais. A partir dos anos 1990, o Estado passou a tratar mais de saúde, educação e políticas sociais. Essa mudança é inexorável ou voltaremos ao passado?

FHC- Acho que não. Sabe por quê? No meio dessa mudança, está a democracia. Com a Constituição de 1988, foi desenhado um futuro social-democrata. Nenhum governo pode olhar apenas para a economia. O que tentou resolver só a economia foi o Fernando Collor - e não deu certo. Os governos têm de olhar para os dois lados. Tem de olhar para educação, saúde, reforma agrária. Há uma massa demandante, que tem voto. No fundo, qual a base ideológica do governo Dilma? É o desenvolvimentismo. É crescer o PIB. O meio ambiente atrapalha. A regulação atrapalha. É um pouco a volta do capitalismo selvagem. Ela parece não perceber que o crescimento do PIB não depende só do governo, mas tem ciclos. Infelizmente, tocou a ela um ciclo mau. Como tocou a mim também. Ao Lula, tocou um ciclo bom.

ÉPOCA - Como será esse embate entre essas forças contraditórias?

FHC - A linha de força aponta na direção de que esses elementos de corporativismo perderão força. Levaremos mais tempo para fazer o que poderíamos fazer mais depressa. Mas temos caminhos. Temos uma sociedade forte. Somos mais ricos em termos relativos e mais fortes que nossos irmãos aqui da região. Temos um sistema empresarial vigoroso. A ideologia não prevalece sobre a realidade. Ela atrapalha.

ÉPOCA- O governo Dilma elegeu como prioridade, até para efeito de propaganda, a erradicação da miséria. Mas não é uma vergonha um país como o Brasil ainda ter tantos analfabetos?

FHC - O Brasil vem numa conquista progressiva da redução da miséria. Segundo o (economista) Ricardo Paes de Barros, a virada começou em 1999. Foi resultado da estabilização, em alguma medida da melhoria da educação e de outras políticas. Claro que um pouco disso também é jogo de palavras. Tem muita miséria ainda. Sobretudo, o emprego oferecido é de baixa qualidade. Com a ascensão da China, não houve o cuidado necessário com o desenvolvimento tecnológico e a indústria. Ela passou de 28% do PIB, nos anos 1980, para 20% no meu governo. Agora caiu para 12%. Isso é uma coisa preocupante, pela qualidade do emprego que a manufatura gera, apesar de extração de petróleo, da produção de soja também dependerem de saber.

ÉPOCA - Por que nossa classe política resiste a entender que o valor da economia moderna não está, necessariamente, no produto em si, mas no conhecimento que o gera? Parece que tudo se resolve com mais dinheiro, mais emprego, mais fábrica, mais máquina...

FHC - Tem razão. Pega a indústria do petróleo. Do jeito que estava indo, não ia mal não. Estava criando, também, base tecnológica. A Petrobras tem geólogos, cria gente preparada, exporta tecnologia. A grande revolução agrícola brasileira dependeu de quatro fatores: Embrapa, tecnologia, empresários e mudanças no sistema de financiamento. Estas últimas fui eu que fiz. Foi uma luta danada, para separar a agricultura da dívida do Banco do Brasil. A base foi a capacidade tecnológica da Embrapa para aproveitar solos antes não usados, desenvolver sementes e técnicas de plantio. A ideia de economia primária ou secundária é antiga. Em lugar de se preocupar com os 12% da indústria no PIB, devíamos nos preocupar com o resto. Qual o coeficiente tecnológico da indústria? Essa é a chave da questão. E isso leva à educação de novo. O governo percebeu isso. Criou o programa Ciência sem Fronteiras. Mas, entre perceber e fazer, há uma distância. Há a mania de grandiosidade. Tínhamos nos Estados Unidos, no ano passado, 8.500 bolsistas. O governo disse que vamos passar para 100 mil em quatro anos. Claro que não conseguiremos. Isso é mania de grandeza.

ÉPOCA- Estamos perdendo a oportunidade do pré-sal?

FHC - Para que mudar a lei? Estava funcionando. Para obter mais recursos? Por que o pré-sal é mais fácil de obter? Era só mudar o que a lei permitia quanto à participação. Foi mudada a legislação com o propósito de aumentar o controle do governo sobre tudo. Mudaram para se apropriar politicamente. O Bolsa Escola virou Bolsa Família. Dizem que o PSDB não tem programa. Mas não é isso. O programa do PSDB foi apropriado. Quem não tem programa mais é o PT, porque o programa que eles tinham, de socialismo no século XXI, ética na política, acabou. É de espantar que o Congresso jamais tenha discutido o pré-sal. Quando fiz a quebra do monopólio, houve um debate imenso. Agora, tudo foi feito a frio.

ÉPOCA - Por quê?

FHC - Primeiro, porque a expansão da economia e das políticas sociais anestesiou muita coisa. Segundo, porque o governo Lula tomou, implicitamente, a decisão de não mexer com o Congresso. Ele não precisava do Congresso para praticamente nada. Não fez nenhuma mudança constitucional. Nunca entendi uma coisa: para que uma base de sustentação tão grande? Para não fazer nada? Eu precisava da base porque precisava de três quintos do Congresso para as reformas. O governo Lula só precisava de 51%. Não precisava de mensalão. Foi um erro de cálculo. E, claro, também havia vontade de domínio, de hegemonia.

ÉPOCA - Mas, politicamente, os petistas foram espertos.

FHC - Fazendo o advogado do diabo, respondo que não sei se foram espertos apenas politicamente.

ÉPOCA- Há alguns anos, o Brasil tinha condições de assumir algum tipo de protagonismo na economia verde. Por que não aproveitamos a oportunidade?

FHC- Não entendemos o que significava essa questão do aquecimento global e da ecologia. O Lula inventou o diesel de etanol. Quando veio o pré-sal, esqueceram tudo. O Lula fingiu que o país tinha conquistado autonomia, botou a mão no petróleo, imitou o Getúlio. Não existe autossuficiência até hoje. Preocupa-me essa facilidade de ver um futuro grandioso e abandonar tudo. Não é assim. Tem de ter método, mais constância.

ÉPOCA- Falta uma estratégia para nós?

FHC - Não temos nenhuma. Apostamos, mesmo na política externa, em alvos que não eram os principais. O governo disse: "Vamos ter uma cadeira no Conselho de Segurança". Só que não haveria mudança. Vamos fazer diplomacia Sul-Sul? Tudo bem. Mas e o resto? E a América Latina? Perdemos espaço no mundo. A gente tem de pensar como será o mundo daqui a 20 anos. Os americanos fazem isso a toda hora, e os chineses devem fazer igual. Levam a sério e fazem escolhas.

ÉPOCA - Qual deveria ser a estratégia do Brasil?

FHC - É difícil imaginar, assim, de repente. Num mundo globalizado, dificilmente você poderá ter a posição de autarquia, de fazer tudo, como nosso passado. Nossa economia ainda é fechada. Vamos abrir mais? E o que vamos preservar? Será que não dava para repensar nossa estratégia pelo menos na América do Sul? Vamos abrir e não ter medo da competição?

ÉPOCA- O Mercosul foi uma roubada?

FHC - Tornou-se isso, mas não era inicialmente. Não avançou. Também não ousamos. Quando veio a Alca, ficamos todos com medo. Eu inclusive, porque o Brasil não sabia o que queria. Quando os americanos desistiram, fingimos que não queríamos. Mas eles é que não queriam mais. Fizeram acordos bilaterais com todo mundo, menos com a gente. Hoje, não temos nada.

ÉPOCA - É uma questão de definir claramente: teremos menos indústria e mais agronegócio?

FHC - Nosso problema, não só na indústria, é passar da quantidade para a qualidade. O grande X da questão é a educação. É o "software". Porque o "software" é mais difícil que o "hardware". Dominamos o "hardware", mas não o "software". O X da questão é como ser mais competitivo, ter mais qualidade. É preciso melhorar a produção. Tem de investir mais na educação, na ciência, na tecnologia. O mundo moderno é do conhecimento e da inovação. Nunca entendi por que nós nunca discutimos, a sério, o que se ensina no Brasil. E quanto tempo se leva para ensinar. Ou para aprender. Uma aula antes levava 50 minutos. A criança agora se concentra em sete. Quando vai para a aula, ela não aguenta. Está errada a criança ou está errado o modo de ensinar?

ÉPOCA - A equação americana mistura um ambiente favorável a negócios, conhecimento e capital. Nosso problema já foi o capital. Agora está em criar o ambiente favorável a negócios e conhecimento...

FHC - E entender que esse ambiente precisa de regras. Agora estão mudando a regra dos portos. Mudam do dia para a noite com medida provisória. Não deve ser esse o processo de mudança. O Estado tem de regular. Mas não pode mudar a regra do jogo a toda hora. Isso gera instabilidade. Não temos uma cultura de longo prazo. Tem um aperto qualquer, o governo fica nervoso, a presidente fica aflita e muda as regras.

ÉPOCA - O senhor disse que o segredo da prosperidade americana está nas universidades. Quão distantes estamos desse modelo?

FHC - Muito. Aqui, você tem ilhas não corporativas. E instituições como a Fapesp e, até certo ponto, o CNPq. Mas é uma confusão. O tempo todo, a universidade brigava comigo porque não tenho mentalidade corporativa. Vetei a criação de universidades onde não era necessário, apenas para dar emprego. Dei mais atenção ao ensino fundamental. Não adianta criar mais do mesmo. Tem de melhorar. Em várias partes, houve mudanças boas no sistema educacional primário e secundário. Mas os sindicatos são contra. Aqui em São Paulo, foi criado um modelo em que, dependendo do desempenho dos alunos, a escola, no conjunto, ganha mais. O sindicato é contra, porque não quer distinguir pelo mérito.

ÉPOCA - Como implantara meritocracia?

FHC - Só brigando muito. É até curioso: o PT nasceu contra o corporativismo. Lula dizia que a verdadeira anistia do trabalhador era acabar com a CLT. Mas criou uma tremenda burocracia sustentada pelo governo. É fascinante ver como, em vez de mudar a cultura dominante, ele foi absorvido por ela. No clientelismo, no corporativismo, no jogo da política.

ÉPOCA- O senhor disse que o PT se apropriou do discurso e das políticas do PSDB. Como o PSDB deve se colocar daqui para diante?

FHC - Vamos fazer melhor. É da quantidade para a qualidade. Tem de assegurar, para essa gente que está subindo, mais.

ÉPOCA- Como se faz para essa mensagem chegar ao eleitor?

FHC - Pergunte aos políticos. Estou aposentado.

ÉPOCA - Que diferenças o senhor vê entre seu modo de lidar com a política quando presidente e o do PT?

FHC- Eu tinha um propósito: fazer reformas. Meu objetivo era esse. Você tem de fazer escolhas. Fiz a escolha, fiquei com o PFL. Não era suficiente. Forcei o PMDB a entrar. Mas escolhi quem do PMDB eu iria nomear. No segundo mandato, quando você perde força, tem de entrar mais nas negociações com os partidos.

ÉPOCA- O senhor questionou por que o PT queria uma base tão grande. Não havia uma paranóia de que o governo fosse derrubado?

FHC- A paranóia vem com o desejo de hegemonia. Para eles, as elites vão derrubar, a imprensa vai derrubar. O tempo todo eles estão tomando o Palácio de Inverno. É patético.

Fonte: Revista Época nº 774, 25/3/2013

Entrevista – Cristovam Buarque: “Eduardo Campos é a força viável que podemos ter”

Rebelde em seu próprio partido, o senador e ex-ministro Cristovam Buarque (DF) defende que o PDT deixe a base de apoio da presidente Dilma Rousseff e prega aproximação com o governador de Pernambuco.

“Eduardo Campos é a força mais viável e de esquerda que a gente pode ter”

Ex-ministro da Educação de Lula, parlamentar prega que seu partido deixe o governo da presidente Dilma Rousseff, nega aproximação com sigla de Marina Silva e diz que Aécio Neves está "do outro lado"

O senador Cristovam Buarque é considerado um "rebelde" dentro de seu partido, o PDT. Mas, apesar de não se envolver nas disputas internas da legenda trabalhista criada por Leonel Brizola, ele é de longe o maior puxador de votos da sigla. Em 2006, quando disputou a presidência da República pelo PDT, ficou em quarto lugar depois de receber 2.538.834 votos. Fez campanha o tempo to¬do batendo em apenas uma tecla: a educação. Com isso, atraiu para seu palanque dezenas de artistas e intelectuais. Reeleito senador em 2010 pelo Distrito Federal com 833.480 votos, Cristovam manteve a postura de parlamentar independente na Casa e foi um dos mais veementes opositores da eleição de Renan Calheiros pa¬ra presidir o Senado.

Quando a presidente Dilma decidiu demitir o presidente do PDT, Carlos Lupi, do Ministério do Trabalho, e colocar em seu lugar o jovem deputado Brizola Neto, Cristovam não se envolveu. Menos de um ano depois, porém, o PDT deflagrou um processo de fritura pública contra o neto do líder trabalhista justamente no momento em que se preparava para eleger uma nova direção partidária. Ao ceder às pressões de seu ex-ministro Carlos Lupi e colocar à frente da pasta um indicado dele, a presidente acabou por favorecer Lupi na convenção do PDT que aconteceu no último fim de semana. Isso tirou Cristovam do sério. "Eu não votaria no "Brizolinha", mas era preciso que o partido tivesse uma opção ao Lupi. O que Dilma fez foi uma intervenção direta. Isso é um absurdo", bradou o senador.

Ele vai além e diz considerar um erro que o PDT mantenha uma vaga na Esplanada dos Ministérios. "Com isso, o partido se atrela e fica impossibilitado de formular alternativas." Nessa entrevista exclusiva ao Brasil Econômico, Buarque diz que seu partido não vai se alinhar automaticamente ao projeto de reeleição da presidente. E mais: ele prega a aproximação dos trabalhistas com o governador socialista de Pernambuco, Eduardo Campos. "Não tenho dúvida que devemos ter um diálogo e até construir um projeto junto com ele. O Campos é a força mais viável e de esquerda que a gente pode ter."

Já sobre o tucano Aécio Neves, outro presidenciável que já se apresentou no tabuleiro, Cristovam tem outro discurso. "Com o Aécio é diferente. Os partidos são todos iguais, mas existe o lado de lá e o lado de cá. Aprendi isso com o ex-ministro Fernando Lyra (Justiça). Tenho respeito pelo PSDB, mas o ideário deles não é o mesmo do nosso lado." O senador aproveitou a entrevista para acabar com os rumores de que estaria se aproximando da Rede - sigla que está sendo criada pela ex-ministra Marina Silva. "A Marina tinha de ser o Betinho do século 21. Ele não criou partido, mas um movimento. A Marina tinha que ser Martin Luther King ou Gandhi. Ou seja: a líder de um grande movimento." Sobre o futuro político, Buarque deixa no ar a possibilidade de concorrer a um novo mandato co¬mo governador do Distrito Federal em 2014. Esse cenário, segundo ele, torna-se um caminho cada vez mais inevitável devido à falta de alternativas no cenário local em razão da péssima gestão do petista Agnelo Queiroz.

Pedro Venceslau

É verdade que o senhor está se aproximando da Rede, o partido político que está sendo criado pela ex-ministra Marina Silva?

A Marina tinha de ser o Betinho do século 21. Ele não criou partido, mas um movimento. A Marina tinha de ser Martin Luther King ou Gandhi. Ou seja: a líder de um grande movimento. Mas ao criar um partido, ela se iguala pois tem que se submeter a regras e a pessoas que não são exatamente o que ela quer. Não existe a menor possibilidade de eu fazer parte do partido da Marina. Apesar disso, eu gostaria de ser do movimento.

Pensa em sair do PDT?

Não. Eu já saí de um partido (o PT). Isso é algo muito dolorido para quem não é oportunista ou fisiológico. Sofri muito. Já estou com quase 70 anos. Esgotei minha cota e minha idade.

Espera concorrer a um cargo majoritário, como governador?

Meu maior problema hoje é não ser candidato a governador do Distrito Federal. Há um vazio muito grande. Agnelo Queiroz, do PT, é um não governador. No outro lado, do (Joaquim) Roriz, sumiu todo mundo: Arruda, Paulo Octávio... Eu teria que dispensar o Brasil e meus 20 anos de luta pela educação para me dedicar ao Distrito Federal.

Falta uma bancada dedicada à educação no Congresso?

As bancadas da educação que existem são corporativas. Tem a dos professores, do ensino superior privado e das universidades federais. A bancada da revolução da educação eu não tive competência para montar. Na semana passada, o Enem voltou a ser notícia negativa devido ao critério de avaliação das redações. Um aluno escreveu uma receita de miojo, mas não foi desclassificado. Outros cometeram erros crassos de português, mas não foram penalizados.

Por que o exame está sempre no olho do furacão?

Tem uma coisa que não vi em nenhum jornal. Os alunos do Enem que fizeram isso representam os melhores alunos do Brasil, que são aqueles 30% ou 40% que terminaram o ensino médio. Os que fizeram o Enem dessa maneira são a elite educacional do Brasil. O país não deu um salto concreto na educação. Basta ampliar o número das escolas públicas federais do Brasil. Não vejo outra alternativa. Os professores precisam ter uma estabilidade responsável e não uma estabilidade plena.

Como avalia a gestão do ministro Aloizio Mercadante na educação?

Não se avalia ministro, o que se avalia é o presidente. Ministros não têm o menor poder para fazer nada, nem para mandar projeto de lei para o Congresso Nacional. Portanto não avalio o Mercadante, mas a presidente Dilma. Nem ela, nem FHC, nem Lula quiseram dar o grande salto educacional. Eles fizeram apenas pequenos avanços.

O que acha do regime de aprovação automática dos alunos?

É a mesma coisa que dar alta ao doente só porque passou o tem¬po dele de ficar no hospital. É um absurdo.

O PDT é hoje um partido de caciques regionais?

O PDT não é um partido de caciques regionais. Ele tem um só cacique no Brasil inteiro e ele se chama Carlos Lupi. Ao redor dele, existem algumas pessoas com muita força. Uma delas é o deputado Paulinho da Força.

Qual é a dimensão do poder dele na sigla?

O PDT quase não tem sindica¬tos, enquanto ele tem a Força (Sindical) inteira. Se o Paulinho sair, o partido fica sem trabalha¬dor. Mas essa força política dele não casa com o que (Leonel) Brizola defendia.

Por quê?

Porque o PDT entrou em um processo de fazer apenas peque¬nos acordos conjunturais sem olhar o longo prazo. Todos os partidos do Brasil perderam o vigor transformador da sociedade. Todos nós políticos somos acomodados. Cada um puxa para o seu lado em vez de empurrar o Brasil para a frente.

O Paulinho está articulando a criação de um partido, o Partido da Solidariedade. Seria um duro golpe para o PDT?

Ele não assume que está fazendo isso. Se estiver mesmo, seria uma imensa perda da nossa força imediata. Ele é forte e tem uma central. Mas, por outro la¬do, a saída dele daria a oportunidade do partido se reencontrar com as suas origens.

Na sua opinião, a Força Sindical está muito distante dos valores pregados por Brizola?

Não só a Força, mas todas as centrais. Os sindicatos hoje apenas reivindicam. Eles não propõem mais transformações oficiais. Defendo que a gente vá além das reivindicações.

Como explica a ascensão e a fritura pública de Brizola Neto no Trabalho?

A escolha dele foi motivada por razões pessoais da presidente Dilma. Dizem que ela tem relações pessoais com a esposa do Brizola e com o neto dele. Não acho que a escolha tenha sido uma forma de minar o poder do Carlos Lupi no PDT. Ela quis prestigiar o Brizola.

O Brizola Neto foi alvo de fogo amigo do PDT na curta passagem dele pela Esplanada dos Ministérios?

A queda se deve ao fato de que o PDT não o apoiou e não foi o responsável pela indicação. Ele não representava o partido. E não digo isso como crítica porque eu também não represento o PDT — portanto jamais seria apoiado. Então o Brizola Neto ficou isola¬do. Sofreu muito desgaste. Ficou sendo o ministro que ninguém via e ninguém sabia. A demissão foi uma tentativa da presidente de levar o PDT para seu lado antes que a gente fosse para o lado do Eduardo Campos ou lançasse um candidato de forma irreversível, como fizemos em 2006.

O PDT deveria dialogar mais e eventualmente até apoiar o Eduardo Campos na eleição do ano que vem?

Primeiro precisamos saber qual é o projeto do Eduardo Campos. Isso ainda está claro. Mas não tenho dúvida que devemos ter um diálogo e até construir um projeto junto com ele. O Campos é a força mais viável e de esquerda que a gente pode ter.

E com o senador Aécio Neves (PSDB-MG)?

Com o Aécio é diferente. Os partidos são todos iguais, mas existe o lado de lá e o lado de cá. Aprendi isso com o ex-ministro Fernando Lyra. Tenho respeito pelo PSDB, mas o ideário deles não o mesmo do nosso lado.

A Convenção do PDT no fim de semana foi esvaziada pela decisão de Dilma de demitir Brizola Neto?

Não foi esvaziada, mas já estava tudo pré-definido. Todos já sabiam que o Lupi seria o escolhido.

O PDT estará unido no palanque de Dilma em 2014?

Não estará. O próprio Carlos Lupi tem dito e repetido dentro do partido que não acertou nada para 2014. O convite ao Manuel Dias (para assumir o Ministério do Trabalho) não envolveu negociação para as eleições. Muitos de nós achamos que a melhor posição do PDT é estar fora do governo. Isso não significa ir para a oposição, pois isso é papel das forças mais conservadoras. É possível estar ao lado das forças de esquerda sem necessariamente estar dentro do governo. Com a entrada do Lupi no governo o PDT perdeu personalidade, deixou de debater alternativas e se acomodou. O Brasil precisa de alternativas porque as coisas não estão bem. Eu distribuí na convenção um documento, assinado por mim, pelo senador Pedro Taques e pelo deputado Paulo Rubens, com uma lista de 25 grandes preocupações.

Quais são as principais?

A inflação está quase fora do controle. Isso só não aparece mais porque o governo está usando de artifícios de controle de preços. Isso não dura muito. Outro ponto é perda da produtividade. E tem os apagões: da energia elétrica, da mão de obra, do transporte. São diversos. Temos o problema da educação. O governo não está dando resposta para isso.

Como explica, então, o fato de a presidente Dilma ter mais popularidade hoje do que seus antecessores?

A pesquisa de opinião mede apenas o hoje. A pessoa que responde não leva em conta que a produtividade está caindo, não vê lá na frente. O fato é que o partido tem que olhar pelo menos 10 anos na frente. O PDT poderia oferecer uma alternativa. Mudou a cara do presidente, mas há 20 anos, desde Itamar (Franco), o Brasil tem o mesmo governo. Isso foi bom, mas os pilares estão se esgotando. A democracia não pode mais continuar dessa maneira.

Qual maneira?

Sem partidos, com fisiologismo para todos os lados, com financiamento de campanha que compra voto. A democracia pre¬cisa de uma reforma radical.

Que tipo de democracia o senhor defende?

Uma democracia na qual o político não possa ser reeleito muitas vezes, que não permita alianças partidárias no primeiro turno para evitar legendas de aluguel, que reduza o custo das campanhas, que são caríssimas. Defendo, ainda, que um parla¬mentar que seja convidado para ser ministro tenha que renunciar ao cargo. A democracia está se esgotando. Ninguém aguenta mais. Existe um clima de muita insatisfação no Congresso.

Quais outras preocupações o senhor apresentou no documento na convenção do PDT?

Uma boa coisa do Brasil é que estabilidade monetária foi comprada por quatro presidentes: Itamar, FHC, Lula — que era contra, mas ficou à favor — e Dilma. Apesar disso, hoje qualquer analista sabe que a inflação está muito perto de sair do controle. A inflação dos bens dos pobres está em 12%. Isso inviabiliza os programas sociais, que deixam de ter efeito. A transferência de renda, que foi uma das grandes conquistas do Brasil, é um mecanismo de atender aos pobres que está se esgotando. É preciso criar um mecanismo que reduza o número de pessoas que precisam da Bolsa Família e não comemorar o crescimento dos beneficiados. O governo fala muito que a miséria acabou, mas o número de usuários do "Bolsa Família" só aumenta. Ou seja: não houve redução da miséria. Estamos entrando na segunda geração de dependentes do programa. Isso é um desastre.

Por que o senhor quer chamar o Luciano Coutinho, presidente do BNDES, para falar no Senado?

Para explicar qual é a política do BNDES. O banco está financiando, por exemplo, a construção do estádio do Itaquerão. Mas o Banco do Brasil está recusando as garantias que o Corinthians está dando. Outra preocupação: por que concentrar os investimentos em tão poucas empresas?

Como avalia as acusações contra o deputado Gabriel Chalita, que é acusado de receber propina quando era secretário da Educação de São Paulo?

Não consigo ainda ficar do lado dos acusadores dele. Não tenho nenhuma relação pessoal ou de amizade com o Chalita, mas ele ainda tem um crédito comigo. Não o vejo como corrupto. Se isso fosse verdade, seria uma surpresa. Vou esperar as investigações.

Como é a vida de senador independente? Sente-se isolado?

Nós independentes estamos absolutamente isolados no Senado. Vivemos sob ameaça.

Que tipo de ameaça?

Recentemente circulou pelo Senado um cara que prometeu matar o senador Pedro Taques (PDT-MT). Esse cara aparece no blog dele com um fuzil dizendo que vai matar o Taques.

O que o sr. achou da eleição de Renan Calheiros para a presidência do Senado?

Foi um grande retrocesso, mas vamos dar um crédito de confiança e ver o que ele vai fazer nos próximos dois anos. Vamos ficar na expectativa. Ele pode fazer uma boa gestão para se legitimar depois das críticas. Já briguei muito contra ele.

Qual é a sua opinião sobre as nomeações polêmicas para as comissões da Câmara, como a do pastor Marco Feliciano?

Isso faz parte do esgotamento da democracia no Brasil . As comissões do Congresso Nacional são presididas pelos indicados dos partidos, sendo que a ordem de prioridade é para os maiores. Ou seja: o maior escolhe a comissão que quer. Depois dos grandes, distribuem o que sobra para os pequenos. Isso precisa acabar. É errado o presidente da comissão refletir apenas o tamanho do partido. O presidente da comissão deve ser aquele que está mais preparado. O deputado pastor Marco Feliciano (do PSC) vai cuidar dos direitos humanos de todo o Brasil, e não apenas dos filiados do partido dele.

Demitido por telefone em 2004

Em 2004,no segundo ano de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o então ministro da Educação, Cristovam Buarque, foi demitido do cargo por telefone quando estava de férias em Portugal. Cristovam se juntaria à comitiva de Lula que viajaria à Índia, mas foi desconvidado. O episódio marcou o começo do fim da história dele com o PT. Magoado, ele avaliou como "desconsideração" ser demitido do governo por telefone. E voltou para cumprir o mandato de senador pelo Distrito Federal. 

Na ocasião, Lula disse que precisaria do cargo porque pretendia fazer uma reforma universitária e queria à frente da pasta uma pessoa que estivesse fora do mundo acadêmico. Dois anos depois, já no PDT, Cristovam candidatou-se à presidência da República e ficou em quarto lugar. Ex-reitor da Universidade de Brasília, Buarque elegeu-se governador do Distrito Federal, em 2004, pelo PT. Sua gestão foi premiada no Brasil e no exterior, mas ele não conseguiu se reeleger em 2008 apesar dos ótimos índices de aprovação obtidos nas pesquisas - chegou a 58% no Datafolha. Ele foi o quarto governador de estado mais popular na época, mas perdeu a campanha de reeleição para Joaquim Roriz (PMDB) por pequena margem de votos.

Fonte: Brasil Econômico

Eduardo Campos: "Novo pacto é convocação a todos"

Um dia depois de propor um "novo pacto político e de posturas" para o País, governador afirma que, na verdade, o que fez foi um chamado "a todos os brasileiros"

Ayrton Maciel

O governador e provável candidato à Presidência da República, em 2014, Eduardo Campos (PSB), minimizou ontem declarações que fez no sábado - em almoço de apoio e lançamento da candidatura oferecido pelo senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) -, quando propôs ao País para "uma nova agenda e um novo pacto político e de posturas", esclarecendo que o chamado foi "a todos os brasileiros, governistas e oposicionistas". Indagado se "a nova agenda" seria com ou sem a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, Eduardo evitou uma resposta direta à pergunta: "Não coloco nesses termos (sim ou não). Essa agenda tem que ter o olhar de todos".

A resposta enigmática foi dada ontem à tarde, ao chegar com o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), ao Marco Zero para a abertura do projeto Recife Antigo no Coração. Preocupado em não alimentar conclusões de que será candidato, o governador repetiu - quando perguntado se a convocação feita por Jarbas para que dispute era um caminho sem volta - que "só fala de 2014 em 2014, porque é preciso ganhar 2013", a frase mais escutada nos últimos meses. "Nos prazos (certos), a gente discute", completou. As colocações comedidas, sem o entusiasmo do sábado, predominaram ontem.

Na chegada ao Marco Zero, Eduardo e Geraldo Julio acabaram passando por uma saia-justa, quando um grupo de 40 jovens skatistas - proibidos de praticar o esporte na área - ensaiaram uma vaia e gritos de protesto pela proibição. O prefeito acalmou os manifestantes prometendo encontrar espaços para a volta da prática. Pela manhã, Eduardo e Geraldo Julio estiveram, com os filhos, no Parque da Jaqueira, onde lançaram a Ciclofaixa de Turismo e Lazer. Eduardo chegou a ser cumprimentado por um padre.

Com o crescimento do nome do governador nos espaços da mídia nacional, suas críticas à economia e ao desempenho do governo, as declarações "dúbias" sobre suas pretensões e a postergação da decisão para 2014, Eduardo e Dilma - que inauguram, hoje, a Adutora do Pajeú, em Serra Talhada, a 420 quilômetros - revelam indícios de distanciamento político, que pode caminhar para uma ruptura. Também indagado sobre o que quis dizer com a frase "o novo não nasce sem dor", Eduardo afirmou: "Tem a ver com a história, onde os (novos) processos nascem com dor, uma dor necessária. A nova agenda Brasil precisa do olhar e comprometimento de todos. A redemocratização foi assim. A chegada de Lula ao governo teve uma agenda, mas antes dele houve outras agendas", explicou.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Raul Henry (PMDB) vê governador como pós-PT

"Eduardo será o pós-PT." A aposta é do deputado federal do PMDB de Pernambuco, Raul Henry, que anuncia o apoio não só do PMDB de Pernambuco, mas ainda o da Bahia, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul à candidatura de Eduardo Campos (PSB) à Presidência da República, convocação feita no último sábado, no almoço oferecido pelo senador peemedebista Jarbas Vasconcelos ao governador. O encontro selou o reatamento e o apoio político de Jarbas, que lançou o socialista para a disputa presidencial."Outra situações vão aflorar ao longo da campanha. Vamos defender junto ao PMDB nacional o apoio a Eduardo", afirma Henry, um dos mediadores da reaproximação, entusiasmado com os indícios de Eduardo de que aceita o chamado. "Eu espero que a candidatura seja irreversível", complementou.

A frase dita por Raul Henry revela a confiança dos socialistas e peemedebistas, alguns históricos militantes, nas possibilidades de viabilização nacional do "projeto Eduardo", que acreditam poder derrotar a presidente Dilma e o PT no segundo turno das eleições de 2014. Com o PMDB na vice-presidência do País e Michel Temer novamente na vice de Dilma, apoiado pela maioria da legenda, Raul recorre à história do partido para rejeitar a possibilidade de uma intervenção da direção nacional nos Estados dissidentes. "O PMDB é uma federação de partidos regionais, plural e heterogêneo. Ele não coliga com o PT em todos os Estados", ponderou.

Henry considera o nome de Eduardo como o diferencial no momento político brasileiro e afirma que será "saudável" para o Brasil ter três candidaturas à Presidência, além da presidente Dilma, o que assegurará - segundo entende - um segundo turno eleitoral. "O grande fato político, hoje, no Brasil, é a antecipação da campanha de 2014, gerando a entrada de Educado Campos", disse.

Os discursos da campanha de Eduardo, inclusive, segundo o deputado, já estão alinhados. O peemedebista identifica como um ponto em favor de Eduardo a condição de integrante dos dois governos Lula e do governo Dilma, com boas avaliações, o que lhe permitirá se apresentar ao eleitorado como "o pós-PT", ao contrário de Aécio, que sempre foi da oposição. "Eduardo não vai precisar ficar explicando à população sua saída do governo e o não apoio a Dilma. Ele vai adotar o discurso de que o Brasil precisa de um debate novo, de uma agenda de reformas institucionais e de uma agenda nova de infraestrutura. A atual é lenta. O PT não cuidou da infraestrutura e negligenciou a educação". (A.M.)

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

No sertão, Dilma divide palanque com Campos

A presidente Dilma Rousseff e o governador Eduardo Campos (PSB) estarão juntos hoje num palanque.pela primeira vez desde que o pernambucano intensificou suas movimentações para fortalecer sua possível candidatura presidencial em 2014.

Pela manhã, os dois vão inaugurar um trecho de um sistema de abastecimento de água em Serra Talhada, no sertão pernambucano. O trecho que será inaugurado custou R$ 118 milhões. Dilma também entregará 22 retro escavadeiras para municípios pernambucanos e deve apresentar um pacote de medidas do governo federal contra a seca.

A presidente e o governador tinham um almoço marcado para o início da tarde no Recife, além de outra cerimônia oficial na capital pernambucana. Os eventos foram desmarcados, pois Dilma agendou presença em uma missa em homenagem às vítimas das chuvas em Petrópolis (RJ).

Ontem, na véspera do encontro com Dilma, Campos não quis comentar a afirmação feita pelo seu novo aliado, senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), que o considerou "dissidente" da base aliada ao governo. Esta será a quarta visita da presidente a Pernambuco. A última foi em fevereiro de 2012.

Em ritmo de campanha, o governador participou pela manhã de passeio ciclístico com a família, inaugurando ciclofaixas móveis no Recife. À tarde, prestigiou evento no bairro do Recife Antigo. (B.B. e Angela Lacerda)

Fonte: O Estado de S. Paulo

Com Serra fora do País, Aécio pede apoio a SP

O senador mineiro Aécio Neves fará hoje uma palestra na sede do PSDB paulista visando a se aproximar do partido em São Paulo e consolidar seu projeto de se tomar candidato a presidente da República em 2014. José Serra, seu adversário no partido, viajou para os EUA alegando ter sido convidado em cima da hora. Aliados do ex-governador chegaram a pleitear a presidência da legenda para ele - Aécio, porém, deve ser eleito para o cargo em maio. Hoje, em Recife, a presidente Dilma Rousseff vai inaugurar obra ao lado do governador Eduardo Campos (PSB)

Sem Serra, Aécio pedirá apoio paulista

Senador mineiro fará discurso hoje em São Paulo, no momento em que busca anuência do PSDB-SP ao seu projeto presidencial em 2014

Sem a presença do ex-governador José Serra, o senador e presidenciável do PSDB, Aécio Neves (MG), participa hoje de encontro partidário em São Paulo, durante o qual discursará a favor da unidade tucana e fará críticas ao governo da presidente Dilma Rousseff.

Aécio fará uma palestra na sede do PSDB paulista num movimento político de aproximação com o partido em São Paulo, etapa necessária para consolidar seu projeto de se tornar o candidato a presidente em 2014.

A presença do senador na capital paulista ocorre no momento em que Serra ameaça deixar o PSDB. Aliados do ex-governador reclamam da falta de espaço para o tucano no partido e chegaram a pleitear a presidência da legenda para ele - Aécio, porém, deve ser eleito o novo presidente nacional do PSDB em maio. Convidado para participar do encontro, o ex-governador foi para os Estados Unidos neste final de semana, alegando ter sido chamado "em cima da hora", segundo tucanos.

No discurso de hoje, o senador seguirá o tom das críticas ao governo petista, principalmente na área econômica. Também aproveitará o público interno para fazer uma sinalização em direção à unidade partidária. Falará da importância de São Paulo para o partido e tecerá elogios ao governador Geraldo Alckmin e a Serra.

Para mostrar força, Aécio deve chegar ao encontro acompanha do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, principal avalista de sua candidatura a presidente no partido, de Alckmin e do presidente da legenda, deputado Sérgio Guerra (PE).

"Aécio atribui a São Paulo e ao PSDB paulista uma grande importância. Não tem PSDB viável sem o firme apoio de São Paulo", afirmou Guerra. Questionado sobre a ausência de Serra no encontro, ele disse: "Seria melhor que ele estivesse, mas ele deve ter razões para ter ido viajar".

Encontro. Alckmin cogitou desmarcar o evento ao ponderar a conveniência de Aécio vir a São Paulo num momento em que há divergência com Serra sobre a formação da nova direção do PSDB. Aécio e o ex-governador conversaram na semana passada, mas o encontro não teve resultado. Não houve sinalização concreta por parte de Aécio sobre participação do ex-governador no partido. Também não houve nenhum pedido por parte de Serra. A situação ficou como está: Aécio com domínio da estrutura partidária, e aliados de Serra falando em "rolo compressor".

O paulista tinha viagem para participar de um evento na Universidade Princeton, nos Estados Unidos, mas disse a aliados que cogitaria suspender ou adiar sua ida ao exterior, caso Aécio fizesse uma sinalização formal para que ocupasse um espaço na direção nacional do PSDB, o que não aconteceu. O ex-governador de São Paulo reclama que foi atropelado pelo senador mineiro, que trabalha para assumir o comando do partido. Sua ausência na palestra de hoje deve ser interpretada como um contra-ataque claro, segundo seus aliados.

Alckmin. A maior preocupação dos entusiastas da candidatura de Aécio é com Alckmin. Avaliam que Serra não entrará no projeto presidencial do senador. Mas, como precisam de São Paulo, querem o apoio do governador paulista e esperam uma declaração dele hoje. Alckmin, no entanto, diz ser contra a antecipação da disputa e deve ser genérico no apoio a Aécio. Candidato à reeleição em 2014, ele teme o impacto da saída de Serra do PSDB no seu projeto eleitoral.

Para criar um contraponto aos conflitos nos bastidores, Aécio pediu à direção do PSDB mineiro que participasse do encontro. Uma comitiva liderada pelo presidente da legenda em Minas Gerais, Marcus Pestana, e pelo secretário-geral, Carlos Mosconi, estará presente.
Julia Duailibi e Bruno Boghossian

O Estado de S. Paulo

Em SP, Aécio busca apoio de deputados do PSDB para 2014

Deputados tucanos de SP resistem em apoiar Aécio

Só 8 de 35 parlamentares paulistas cravam apoio à candidatura do mineiro

Senador encontrará militância do PSDB no Estado para diminuir resistência de bancada ligada a Serra e Alckmin

Luiza Bandeira

SÃO PAULO - O senador Aécio Neves (MG) enfrenta resistência dos deputados federais e estaduais paulistas do PSDB no momento em que terá seu primeiro encontro com a militância tucana de São Paulo na condição de principal nome do partido para a disputa à Presidência em 2014.

Enquete realizada pela Folha nos últimos dias mostra que, dos 35 deputados tucanos, só oito cravam apoio à candidatura do mineiro nas eleições do ano que vem.

Doze dos parlamentares do PSDB no Estado dizem que Aécio é um bom nome, mas não fecham questão sobre a candidatura. Outros 15 não dizem quem apoiam.

Hoje, o mineiro realizará uma palestra no congresso do PSDB paulista, ato que faz parte de sua agenda para tentar vencer resistências entre tucanos de São Paulo.

Ele está desde sexta-feira no Estado. Conversou com parlamentares da sigla e reuniu-se com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, seu principal cabo eleitoral no Estado, encarregado de aparar arestas locais.

A conquista do apoio dos deputados é importante para que eles mobilizem as máquinas partidárias em seus redutos eleitorais a favor do presidenciável durante a campanha do ano que vem.

A bancada paulista, no entanto, sofre influência da indefinição dos principais líderes do partido no Estado.

O ex-governador José Serra ainda não anunciou apoio ao correligionário mineiro, que é seu desafeto antigo.

Na última semana, Serra chegou a declarar que a candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), seria "boa para o Brasil e boa para a política".

O senador também enfrentou resistência do governador Geraldo Alckmin, que disse que Aécio não precisaria presidir a sigla, como ele postula, para ser presidenciável.

Os dois, no entanto, devem chegar juntos ao evento de hoje, o que foi visto por aliados do mineiro como um sinal de trégua de Alckmin.

Consenso

Um dos motivos mais citados entre os deputados que estão "em cima do muro" é a necessidade de construir consenso no partido antes de definir a candidatura.

"Aécio é um bom nome e está no caminho certo, demonstrando muita disposição para ser candidato. Mas poderíamos pensar antes em construir essa unidade", diz Samuel Moreira, presidente da Assembleia Legislativa.

Outra corrente apoia Aécio com o pé no freio, uma vez que que não há outros postulantes à Presidência. "Ele é o primeiro pleiteando. Vamos seguir nesse caminho enquanto não tiver outro", diz Carlos Roberto, deputado federal.

O grupo pró-Aécio se concentra na Assembleia de SP. Puxados pelo presidente estadual da sigla, Pedro Tobias, seis deputados defendem que o partido lance logo a pré-candidatura do senador.

"O PSDB está demorando até demais para lançar o Aécio", afirma João Caramez.

Entre os federais, Aécio tem a preferência do líder da bancada: "Ele é o candidato natural", diz Carlos Sampaio.

Os deputados se dividem sobre a presidência do PSDB: alguns apoiam Aécio ao cargo para que ele ganhe força; outros pensam como Alckmin e dizem que ele não precisa acumular as funções.

Há ainda o grupo que defende a negociação de cargos na direção do partido como forma de obter unidade. "Seria bom compor: a presidência do partido com São Paulo, e a da República com Aécio", afirma Fernando Capez.

Fonte: Folha de S. Paulo

O instigante marxismo político de Armênio Guedes - Paulo Freire Mello

O livro O marxismo político de Armênio Guedes, recém lançado pela Editora Contraponto e a Fundação Astrogildo Pereira, traz à luz as ideias de Armênio Guedes, um influente quadro político do PCB, o “Partidão”.

De que nos seria útil revisitar textos de um pecebista, escritos entre as décadas de 1950 e 1980 a esta quadra da história?

Neste comentário, não tenho a intenção de resumir a complexidade e diversidade de temas que organizaram a seleção dos textos de Guedes, e sim, instigado por alguns dos insights que retive em minha leitura do volume, fazer umas poucas referências ao momento político-partidário que vivemos.

Sempre alicerçado na realidade brasileira (evitando, com isso, as amarras de uma possível metateoria marxista), na década de 1950, Guedes propunha a ideia de uma frente única enquanto forma de luta de médio prazo por um tipo de governo democrático-reformista, de coalizão e anti-imperialista.

A realpolitik de Guedes avançou aos textos da década de 1970 na denúncia da fascitização do Brasil e na exploração das possibilidades de retomada da democracia com base numa análise detalhada dos conflitos internos e das fissuras do regime de 1964. Diante da ditadura, a estratégia de resistência que ele defendia, naquele tempo difícil de grande repressão, diferenciava-se da visão de outras vertentes da oposição, que davam como consumado o fechamento do sistema político. Guedes propunha o combate à ditadura por meio da política, inclusive pela participação nas eleições, um caminho assemelhável ao da tese gramsciana da “guerra de posições”, como diria ele próprio, depois da anistia, em 1979.

O livro O marxismo político de Armênio Guedes é um bom texto ao permitir várias reflexões e analogias. A minha vai no seguinte sentido: estamos há mais de década sob um governo que se autointitula de esquerda. Ocorreram alguns avanços, sem dúvida. Mas, não foi muito pouco? O que aconteceu com todas aquelas ideias radicais (no bom sentido)? Ao que consta, o Estado brasileiro ainda é (mesmo que nos tempos de Guedes isto não se apresentasse como uma questão central) um monumento ao clientelismo, ao patrimonialismo e à corrupção (aliás, aqui está um bom motivo para aliar à teoria marxista o aporte de Weber) e, consequentemente, à ineficiência.

Discursos à parte, isto pouco parece importar diante das infindáveis articulações eleitoreiras, incluindo a viabilização de importantes (mas, limitadas) políticas sociais, demonstrando cabalmente a sucumbência do PT ao pragmatismo. De outro lado, temos pequenos partidos ideológicos (o que é salutar), porém, também alheios à complexidade que o Brasil representa no mundo atual, com o agravante do apego a metateorias sem raiz na realidade, ou mesmo a nenhuma teoria, quer dizer, submersos ao ativismo, gerando posturas do tipo “a luta por um Estado eficiente é neoliberal”.

Devo registrar que esta situação gerou em muitos militantes de esquerda, dentre os quais me incluo, certo sentimento de desencanto político. Sei que este sentimento não nos leva adiante, espero que seja passageiro e que o quadro partidário das esquerdas mude em breve.

O livro que comento é um “puxão de orelha”, pois quando o lemos, vemos a persistência e o otimismo (realista) de um autor situado no período dos anos de chumbo da ditadura.

O volume alimenta a esperança de que surja algum partido ou campo de esquerda que, apoiado em uma boa teoria fundada no conhecimento do país (como no seu tempo o fez Guedes, mesmo utilizando os paradigmas marxistas-leninistas da época), consiga propor, sem sectarismo e sem fisiologismo, uma “revolução democrática” adequada aos dias atuais. Um movimento de transformações que passa (mas não se limita a) pela busca de referenciais republicanos (no bom sentido...), assentados firmemente nos princípios e processos democráticos.

Paulo Freire Mello é Eng. Agrônomo e Dr. em desenvolvimento rural.

Sobre o livro: O marxismo político de Armênio Guedes, seleção de textos de Raimundo Santos. editora Contraponta e Fundação Astrogildo Pereira, Rio de Janeiro/Brasília, dezembro de 2012, 207p.


Lula, o lobista - Ricardo Noblat

A princípio, ilegal não é. Não é mesmo. Tampouco é antiético. Na condição de ex-presidente da República, Lula pode fazer conferências onde quiser e cobrar por elas o quanto quiser. Se quem paga é pessoa, empresa ou entidade idônea... Respeitadas tal condição, Lula também pode viajar à custa de quem quiser. E prestar serviço remunerado a quem quiser. Pode fazer lobby no exterior? Sim. E aqui? Não.

LULA VISITOU 30 países desde 2011, segundo a Folha de S.Paulo. Vinte deles ficam na África e na América Latina. Na última terça-feira, sob o patrocínio da empreiteira Odebrecht, começou pela Nigéria um novo giro africano. Enquanto presidente, estimulou investimentos na África e na América Latina. O Instituto Lula foi criado para ajudar "o desenvolvimento" dos dois continentes.

QUASE METADE das viagens feitas por Lula foi financiada por empreiteiras que tinham interesses econômicos nos países visitados por ele. Elas negam que usem Lula para facilitar negócios. A assessoria de Lu¬la afirma que ele trabalha para promover "os interesses" do Brasil e não os das empresas que o carregam para lá e para cá. Quando os interesses do Brasil coincidem com os das empresas... Fazer o quê?

SE EMPRESAS brasileiras se dão bem em outros países, se Lula pode ajudá-las, se assim forra os bolsos com dólares, estupendo! Ganham o Brasil, as em¬presas e Lula. Em novembro de 2012, ele foi a quatro países — dois deles a serviço da empreiteira Camargo Corrêa. Contribuiu "para reduzir resistências enfrentadas por empresas brasileiras em Moçambique" segundo a embaixadora Lígia Scherer.

UM ANO E POUCO antes, a bordo de um avião da OAS, outra empreiteira, Lula fora à Bolívia reunir-se com o presidente Evo Morales. Pressões locais impediam a OAS de tocar uma rodovia de US$ 415 milhões. Morales concordou em indenizar a OAS em US$ 9,8 milhões. De lá, Lula voou Para a Costa Rica, onde a OAS disputava uma obra de US$ 57 milhões. Ela perdeu a disputa. Mas ganhou outra de US$ 500 milhões.

OS IMPLICANTES dizem que um ex-presidente não deveria exercer a função de lobista, valendo-se do prestígio do cargo que exerceu para costurar negócios. De resto, na condição de presidente, lidou com assuntos pertinentes aos interesses dos seus atuais patrões. E se acaba ganhando vulto a suspeita de que está sendo remunerado igualmente por decisões passadas que beneficiaram empresas que hoje o beneficiam?

PRESIDENTES NORTE-AMERICANOS, no exercício ,do mandato, facilitam a penetração de empresas do seu país em outros países. Alguns procedem da mesma forma na condição de ex-presidentes. Lula copiou o modelo deles, ao que tudo indica. Só não pode esquecer que há limites para tudo. Como cidadão, uma vez que aja dentro da lei, não deve satisfações a ninguém. Como ex-presidente, deve.

HÁ UM CÓDIGO de conduta não escrito para casos como o de Lula. Por óbvio, ele não deve negociar interesses de empresas junto a governos com os quais se relacionou como presidente. Nem fazer lobby com a ajuda de diplomatas do seu país e gastando dinheiro público. O Itamaraty assessora Lula em viagens de negócios. E já pagou despesas dele. Dilma ouviu Lula pedir por empresas. Muito feio.

NO FIM DO seu segundo governo, Lula prometeu que ensinaria a Fernando Henrique Cardoso como um ex-presidente deveria se comportar. Fernando Henrique está esperando até hoje. A não ser que a aula esteja em curso, e ele não tenha se dado conta.

Fonte: O Globo

Restos a pagar - Wilson Figueiredo

Depois que o ex-presidente Lula, politicamente insepulto, fez constar que era carta fora do baralho na sucessão presidencial que se precipitou no espaço político nacional (houve quem acreditasse), o nome de candidato com jeito de pegar de muda é o do governador Eduardo Campos. É a única hipótese com jeito e estímulos para se candidatar, com um ano meio de antecedência. Não é demais lembrar o custo político de eleição no país em que Osvaldo Aranha localizou um “deserto de homens e de idéias”. Sempre fica resto a pagar.

É por aí que se arma a tempestade de premissas falsas e conclusões imprevisíveis. O pecado original da República foi a reeleição, e veio com atraso secular. A advertência dos seus fundadores se diluiu com o tempo. Foi de caso pensado que Luiz Inácio empurrou sua discípula Dilma Rousseff na sucessão que o deixou na mão, mas evitou o pior (a seu ver), que seria deixar ao PT a indicação do candidato. A sombra de José Dirceu acompanha, desde sempre, os passos de Lula. E, com o terceiro mandato fora de alcance, fez reserva de mercado: a candidatura Dilma para apenas um mandato. Seria dele, aos próprios olhos, a oportunidade seguinte. E se reservou a privilegiada posição de primeiro ministro sem pasta, e sem parlamentarismo, para se ocupar do mandato de Dilma Rolusseff. Não era outro Lula, mas o mesmo. Mesmíssimo.

Além de compartilhar , com espalhafato e falta de pudor, o mandato alheio, Lula exerceu censura política sobre os passos e palavras da sucessora. Deixou claro quem orientaria o exercício do mandato emprestado: fez questão de ser titular oculto, e que não houvesse dúvida. Se houve, foi silenciosa. E, por controle remoto, cuidou antecipada e displicentemente da sucessão a seu favor. Funcionou. Não houve protesto nem denúncia. A oposição boca-de-sirí não opinou.

A social-democracia está em baixa nas bolsas. É universal. O prazo alongado pareceu a Lula suficiente para semear problemas de solução complexa. Coalizão foi a receita que o diabo deixou ao seu alcance, entre uma sucessão e outra. Baixou a quase zero o teor oposicionista fora do governo. Dentro, não. Ficou implícita a dualidade de candidaturas no mesmo espaço. Lula dançou com Dilma o Pas de deux. A oposição propriamente dita se desarticulou. (E, se não evaporou, foi porque o próprio Lula a prestigiou algumas vezes, pelo inigualável prazer de ser desagradável).

A primeira curva, também chamada de conseqüência, veio a ser a derrapagem da presidente Dilma, que as pesquisas de opinião haviam aplaudido depois da primeira vassourada que lhe abriu a porta ao sucesso e deixou mal o antecessor. Lula sentiu que o segundo mandato de Dilma atropelaria fatalmente seu terceiro. A classe média é seduzida pela moralidade pública e se farta de indignação com escândalos sem fim. Não deu outra. Lula comprovou que um mandato não é suficiente para dois candidatos. Começou então a tecer a mortalha para um enterro de primeira reservado à concorrente que arrastava a tiracolo.

Antes que a reeleição de Dilma se impusesse por força das circunstâncias, e com peso específico da classe média, considerando que o segundo mandato passou a ser direito adquirido pelo primeiro, Lula a empurrou para a campanha. Não pediu licença. Nunca se viu igual. Dilma ficou elétrica, entrou em ação e passou a cuidar do futuro. Lula, ao purgatório. Foi um golpe de surpresa. Nenhuma outra tendência política enganchada no poder avançou o sinal. Ela e Lula abriram a temporada.

Um ano e tanto, quase dois, como candidata exposta ao sol e à chuva, mas fazendo tricô burocrático, deixou a presidente Dilma Roussseff exposta aos desgastes e insucessos administrativos que batem à sua porta todos os dias. As más notícias povoam o dia-a-dia da presidente. De um lado, o moralismo em expansão na classe média e, de outro, a coalizão por baixo da retórica, num quadro ambicioso de 40 partidos à frente (sem falar dos interesses) sedentos e famintos de poder.

Desde então a presidente se esfalfa entre o protocolo de governar e a reeleição, com o cuidado de deixar em banho maria o terceiro mandato de Lula, que não vai, não haja dúvida, esperar para servi-la de mais uma rodada de poder. Espichou a turnê à espera de que as candidaturas se ofereçam e a sucessão ocupe o espaço preenchido pelas preocupações oficiais crescentes com o desempenho econômico. O tempo é farto.

Na certeza de que, ao fim de tudo, nada teria para entregar – obras já foram inauguradas antes de estarem prontas _ a presidente Dilma já não quis surfar na moralidade publica, que é o esporte cívico da classe média. Lula cortou-lhe as asas e, em nome da coalizão, um compromisso de honra (salvo seja) a obrigou a baixar o nível de exigência moral num país desigual até nesse aspecto secundário ( claro, para quem detém o poder). Recompensou com a volta ao governo os suspeitos por ela mesma demitidos. Gentileza pré-eleitoral.

A presidente esfalfa-se em viagens, o ex presidente faz a volta por fora e os demais pretendentes à mão da República aproveitam para aparecer na tela. As conseqüências também se sentem em casa. A quem poderia (senão ao próprio ex presidente) interessar a antecipação de disputas que, mesmo dentro dos prazos legais, geram turbulências ocultas e balançam o coreto?

A hipótese de derrota nas urnas faria do PT um formigueiro e a candidatura Luiz Inácio Lula da Silva enfunaria as velas. É a sombra dele, Lula, que retém as candidaturas concorrentes em seus respectivos nichos. Na hora certa – e o relógio de Lula é de uma exatidão adequada ao atraso político proporcionado pela coalizão – ele entrará em cena. Sem surpresa nem grandes emoções porque o terceiro mandato passará a primeiro de mais dois ao seu dispor.

Fonte: Jornal do Brasil

Comprometendo o futuro: o caso da Petrobras - Marcus Pestana

A pior gestão de toda a história da empresa

Às vezes, as aparências enganam. O que vemos a olho nu não revela toda a realidade. Dados presentes obscurecem as tendências de médio e longo prazo. A retórica ufanista esconde a necessária mudança de rumos.

Após quase 20 anos de avanços importantes, graves interrogações se apresentam. Surfamos nas sólidas bases da estabilização e na fantástica expansão da economia capitalista mundial no início do século XXI.

É verdade que a renda, o consumo, o crédito e o emprego ainda em expansão garantem a percepção de bem-estar. Mas há sinais preocupantes no ar. Inflação em alta, carga tributária recorde apesar das constantes desonerações, mudança da percepção internacional sobre o Brasil, graves gargalos na infraestrutura, forte desindustrialização, queda de produtividade da economia, capacidade inovadora insuficiente, má gestão em setores estratégicos.

A eficiência e a qualidade na ação governamental têm um duplo papel. Melhorar os resultados na órbita pública e criar um clima de confiança e empreendedorismo na sociedade e no empresariado.

O governo Dilma e o PT têm estado na contramão. Não há país no mundo que possa ter uma gestão eficiente com 39 ministérios. A desmoralização das agências regulatórias tem afastado investidores. O aparelhamento, a partidarização, o clientelismo, a corrupção, o patrimonialismo, o baixo compromisso com a meritocracia têm corroído a eficiência das ações estatais.

O PSDB realizou importante evento no Congresso Nacional, jogando luzes sobre o exemplo maior de comprometimento do futuro a partir da baixa qualidade da gestão: a Petrobras, a ANP e o setor petróleo.

O governo do PT conseguiu produzir a pior gestão de toda a história da empresa. Depois de soltarmos fogos para uma suposta autossuficiência, em 2012 o Brasil importou U$ 7,2 bilhões em derivados de petróleo. Nos últimos dois anos, o valor da Petrobras caiu 47,7% (menos R$ 179,3 bilhões), saindo da segunda posição no mundo para o oitavo lugar, atrás até da colombiana Ecopetrol.

Os trabalhadores brasileiros que confiaram na empresa e aplicaram seu FGTS na Petrobras perderam parte significativa de sua poupança. O investidor a olha hoje com desconfiança. A mudança do regime de exploração para o pré-sal só produziu a paralisação dos leilões e a confusa briga pela distribuição dos royalties. A produção de petróleo, que cresceu 10% ao ano no governo FHC, viu esse índice despencar para 2,4% na era petista. O endividamento da empresa explodiu, a empresa inchou, os custos ficaram fora de controle. Transações tenebrosas tiveram lugar como a estranha compra da refinaria de Pasadena, no Texas, provocando enorme prejuízo.

Em favor do Brasil, em favor da Petrobras, é preciso mudar radicalmente o rumo. E Graça Foster sabe disso.

Marcus Pestana, deputado federal (PSDB-MG)

Fonte: O Tempo (MG)

Desarmamento - Aécio Neves

Nosso Estatuto do Desarmamento completa dez anos neste 2013. Não há dúvida de que trouxe mais controle e rigor para a posse, o porte e a comercialização de armas.

Dados oficiais mostram que, entre 2004 e o começo de 2013, mais de 600 mil armas foram entregues voluntariamente pela população. É um resultado que, à primeira vista, pode impressionar, mas ainda muito distante dos 15 milhões de armas de fogo nas mãos de civis.

Na forma como foi proposto, mediante entrega voluntária, o estatuto tem se mostrado ineficaz para fazer frente à magnitude dos problemas graves na área de segurança, assim como ocorreu em outros países que experimentaram este modelo.

Para justificar a acomodação de Brasília nessa área, utiliza-se como argumento a vastidão das fronteiras nacionais e a dificuldade de conter o contrabando. Sem entrar no mérito da absurda fuga de responsabilidade em fiscalizar nossas fronteiras, caminho livre para as drogas e armamento de todo tipo, a questão é que, neste caso, as pesquisas atestam que grande parte das armas é de produção nacional. O problema é de natureza doméstica, portanto.

A paralisia na esfera federal se converte em leniência do governo, ao tentar se livrar da questão da segurança como se fosse um "abacaxi" a ser resolvido pelos governos estaduais, já que a atribuição do papel de polícia Civil e Militar está nesse âmbito por definição constitucional.

O governo federal precisa assumir seu papel coordenador no combate à criminalidade, agindo de maneira sistêmica em pelo menos duas frentes.

Apoiando com firmeza a integração das ações entre as forças de segurança, inclusive as estaduais -um trabalho que já tem resultados muito positivos, a partir do compartilhamento de inteligência e de recursos. E também na expansão e melhoria do sistema prisional, um esforço decisivo para golpear o crime organizado, que comanda o banditismo de dentro para fora.

A outra forma de contribuir é eliminando o crônico contingenciamento das receitas existentes, já insuficientes. Inacreditavelmente, cerca de 80% de tudo o que se investe no setor vêm dos cofres municipais e estaduais e, ainda assim, a União vem reduzindo os seus investimentos em segurança.

Nessa área, infelizmente, o Brasil nunca teve uma política consistente e integrada.

Nos últimos anos, tem-se preferido adotar estratégias midiáticas em vez de ações estruturantes. Essas devem ser construídas no dia a dia das organizações policiais em integração com o governo federal -são menos visíveis, mas muito mais eficazes.

As 39 mil mortes causadas por armas de fogo por ano no país não podem continuar encobertas pela omissão e um silêncio inaceitáveis.

Aécio Neves, senador (PSDB-MG)

Fonte: Folha de S. Paulo