domingo, 17 de março de 2013

OPINIÃO DI DIA – Eduardo Campos: queremos mais!

"Esse é o momento para que o Brasil aprenda a viver com diversidade. Fazer crítica não é ser contra, não é ser inimigo. O estado que está aí, as políticas, as normas como são feitas, precisam evoluir.

Dá para ser melhor. E não é uma ofensa para quem está aí você dizer que dá para ser melhor. Nós queremos mais. E que bom que queremos mais, né? Isso deveria desafiar as pessoas a fazer, a quebrar o velho costume e afirmar novos valores.

Dá pra fazer muito mais. E isso não vai ser feito se a gente não renovar a política. O pacto político que hoje está no centro do governo que eu defendo, que ajudei a eleger, a meu ver, não terá a condição de fazer esse passo adiante. Não vai fazer.

Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB

Manchetes de alguns dos principais jornais do país

O GLOBO
Novo Papa muda jogo do poder na América do Sul
Royalties em risco: Cidades do Rio ameaçadas
Apenas 22% dos presos trabalham
Com dinheiro público: Nos EUA, a ver navios...

FOLHA DE S. PAULO
Auditoria mostra que governo paga preços 'distorcidos'
Papa deseja uma igreja 'pobre e para os pobres'
É preciso dar valor a 'parceiros de luta', diz Dilma em posse
Iraque está melhor do que era, mas pior do que poderia ser
Brasileiros ajudaram a desenvolver olho biônico, revela inventor do aparelho

O ESTADO DE S. PAULO
Papa diz que natureza da Igreja é espiritual, não política
Dilma defende coalização de partidos e cobra lealdade
Sem estrutura, portos viram gargalos para escoar safra

CORREIO BRAZILIENSE
O anjo brasileiro do Papa Francisco
A fome por cargos já bate à porta das agências

ESTADO DE MINAS
A dor de todos nós
Danos à saúde derrubam tese de partilha

O TEMPO (MG)
49 anos do golpe militar - De operário a deputado cassado e torturado
Passado ainda pesa sobre padre francês
Brasileiro inspirou nome papal
Serra nega pedido de cargo para continuar no PSDB

GAZETA DO POVO (PR)
Os bairros preferidos pelos ladrões de carros
O que tornava a UTI do Evangélico diferente das outras
Eles colocaram Campo Mourão no mapa do atletismo
Brasileiro ajuda papa a adotar o nome Francisco
Petições on-line já incomodam os políticos
Lei de Inovação é esperança para tecnologia do PR
Richa diz que não faz “perseguição” a Gustavo Fruet

ZERO HORA (RS)
Cassino futebol clube
Estagiário, fraudador, ricaço e, por fim, preso
“Gostaria de uma Igreja pobre, para os pobres”
Garimpo no tempo
No coração da Copa

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Inflação de volta à mesa
Cardeal paulista infulenciou o papa Francisco

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais do país

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Novo Papa muda jogo do poder na América do Sul

Analistas avaliam que o Papa sul-americano terá considerável impacto político na região ao se voltar à população mais pobre, que vem migrando para igrejas neopentecostais, revelam Mariana Timóteo da Costa e Janaina Lagè. Na Argentina, Francisco sempre criticou os Kirchner e seu fracasso no combate à miséria. Não à toa, sua ascensão inquieta também líderes populistas que se fiam em políticas assistencialistas, informa José Casado. "Essa Igreja que cumpre o papel dos jesuítas pode fortalecer a consciência crítica da população" diz Marlos Lima, do Centro Latino-Americano de Políticas Públicas da FGV

Nova peça forte no xadrez regional

Ênfase de Francisco na atenção aos pobres sul-americanos deve invadir terreno de líderes populistas e igrejas neopentecostais

Mariana Timóteo da Costa, Janaina Lage

SÃO PAULO e RIO - A chegada de um Papa latino-americano pode, na avaliação de especialistas ouvidos pelo GLOBO, ocupar um espaço entre os pobres que, na região, foi preenchido ao longo dos últimos anos pelas igrejas neopentecostais e por governos considerados populistas. Essas lideranças optaram por plataformas que muitas vezes iam contra o pensamento católico - fosse por políticas unicamente assistencialistas fosse com brigas e críticas a arcebispos locais. Ou ainda com o fomento de ideias marxistas, ou com a aproximação crescente com a China, país do qual muitos desses governos latino-americanos começaram a depender, e onde religiosos e outros dissidentes até hoje são perseguidos. A escolha do argentino Jorge Mario Bergoglio terá impacto não somente no papel da região, que abriga 42% da população de católicos, e no futuro da Igreja, como também na geopolítica local. Segundo especialistas, as mudanças tendem a acontecer no médio e longo prazo, seguindo o ritmo da própria instituição, mas seu alcance pode incluir um destaque maior para políticas regionais, educação e a disseminação da fé na América Latina.

- Apesar de o pensamento do Papa Francisco ser conservador em seu lado doutrinário, ele é um pastor na parte social e já falou muito, deu sinais muito claros, sobre a necessidade de se combater a desigualdade na América Latina. Neste aspecto, ele se aproxima muito à Teologia da Libertação. Seu papado pode representar uma volta àquela ideia de que é com justiça social, e não apenas com assistencialismo, que se ajuda aos pobres. E que é essa justiça social a única capaz de gerar uma democracia de verdade, uma democracia participativa - avaliou Leonardo Boff, um dos ideólogos do movimento surgido dentro da Igreja Católica latina nos anos 1960.

Para Francisco Borba, coordenador do Núcleo de Fé e Cultura da PUC de São Paulo, Francisco poderia revisar a Teologia da Libertação e corrigir algumas de suas falhas para atingir seu principal objetivo: uma Igreja mais voltada para os pobres. Segundo ele, não foi somente a repreensão do Vaticano que fez com que a Teologia da Libertação não encontrasse eco frente aos fiéis latinos. Ao dar muita ênfase à política, a doutrina teria deixado o caráter mais espiritual do catolicismo de lado. Isso teria ajudado o surgimento e o avanço das igrejas neo-pentecostais, especialmente entre os menos favorecidos. Ao contrário da Igreja Católica, avalia, os evangélicos se conectaram facilmente aos fiéis ao dizer que "Deus é quem salva, Deus é maior do que os seres humanos, tirando o peso sobre o homem de realizar atos heroicos", e ao criarem uma mensagem muito direta, de que "eu sou bom, o mundo é que é mau", entre outros aspectos.

- Francisco, no entanto, pode unir esses dois pensamentos. Seria interessante, e muito bom para aumentar a qualidade dos fiéis católicos, uma união entre o amor pela doutrina católica e o pensamento social - diz Borba, dando como exemplo um homem que, na história da Igreja latina, teria atingido isso: o arcebispo salvadorenho Óscar Romero. - Ele era muito conservador, muito místico, tinha uma religiosidade profunda, mas era defensor dos pobres, denunciava os abusos econômicos e dos direitos humanos em seu país.

Romero foi assassinado em 1980 pelo governo de direita de El Salvador, enquanto ele celebrava a missa. O país mergulharia logo depois numa sangrenta guerra civil. Seu processo de canonização está em andamento no Vaticano. Um dos defensores mais árduos de que Romero seja beatificado é o arcebispo de Honduras Oscar Andrés Rodriguez Maradiaga - que teria sido um dos maiores costuradores da eleição de Francisco. Maradiaga trabalha muito com o Centro LatinoAmericano para o Desenvolvimento, a Integração e a Cooperação (Celadic), uma entidade multidisciplinar com sede entre o Panamá e a Venezuela, mas que tem muitos religiosos pensando "soluções para a região", conta Borba, que representa a organização no Brasil.

- Existe uma visão comum de que a democracia não consegue se construir sobre valores 100% laicos - afirma.

Há dúvidas sobre até que ponto Francisco influenciará políticas internas. Alguns especialistas acham que, no caso argentino, ele pode se tornar o grande nome antikirchnerismo - dados os comentários ácidos trocados com a presidente Cristina Kirchner, que, no entanto, já ensaiou uma aproximação ao anunciar que comparecerá à missa inaugural do novo Papa.

- Cristina é uma política astuta, vai saber engolir os atritos para se aproveitar dos trunfos de ter um Papa argentino. E ela certamente não tem muitos outros trunfos para tirar no final de seu segundo mandato - afirma Leandro Karnal, professor de História das Américas da Unicamp. - Todos os políticos têm essa capacidade de passar por cima dos ressentimentos.

Nas últimas décadas, houve um avanço na região de governos marcados por traços de forte personalismo, com um discurso intensamente voltado para as camadas populares. Uma das expectativas é que a escolha de um jesuíta como Pontífice possa ampliar a presença da religião entre os mais pobres.

- Ter um Papa jesuíta tem um significado prático. Ele pode demandar dos governos ações sociais mais significativas. Essa Igreja que cumpre o papel dos jesuítas pode fortalecer a consciência crítica da população. Estes governos foram eleitos, são reflexo da sociedade. À medida que a própria sociedade muda, isso também traz consequências - afirma Marlos Lima, economista e chefe do Centro Latino-Americano de Políticas Públicas da FGV.

Para Vera Jurkevics, professora de História da Universidade Tuiuti do Paraná, os primeiros seis meses serão cruciais para definir as diretrizes do pontificado e o grau de envolvimento com temas locais, como a crítica a governos que recorrem à criação de líderes como figuras míticas, no caso de Chávez.

- Mesmo com toda essa euforia diante de atitudes simples e de um comportamento mais humilde, não podemos esquecer que essa instituição prima pelo conservadorismo. E isso vai estar expresso nos nomes que indicar para o cardinalato -disse.

Ela avalia que a educação será o principal fator de mudança, onde a Igreja deve investir para reconquistar o rebanho. Um dos caminhos poderia ser o fortalecimento dos colégios jesuítas.

Fonte: O Globo

Papa diz que natureza da Igreja é espiritual, não política

A jornalistas, Francisco pregou a "Igreja pobre para os pobres" e revelou que d. Cláudio inspirou escolha do nome.

O papa Francisco afirmou ontem, em pronunciamento a jornalistas, que a Igreja "não tem natureza política, e sim essencialmente espiritual" e pregou "Igreja pobre e pura os pobres", informam os enviados especiais Andrei Netto e José Maria Mayrink. O papa disse que a inspiração para o nome Francisco partiu do arcebispo emérito de SP, d. Cláudio Hummes. "Ele me abraçou e disse; "Não se esqueça dos pobres". Pensei em Francisco de Assis". Ontem o Vaticano informou que a cúpula da Cúria será mantida por enquanto.

Papa afirma que natureza da Igreja é essencialmente espiritual, não política

Em mais um sinal de que deseja reorientar o discurso católico, o papa Francisco pregou ontem, no Vaticano, uma "Igreja pobre e para os pobres", mas com menos ênfase política e mais espiritual.

O recado foi enviado em um pronunciamento a jornalistas do mundo inteiro, convidados a encontrar-se com o novo pontífice. Ao final da solenidade, foi ovacionado por uma platéia de cerca de 4 mil pessoas, boa parte indiferente às acusações que pairam sobre suas relações com a ditadura na Argentina dos anos 1970 e 1980.

O encontro com os jornalistas foi sua quarta aparição pública em quatro dias de pontificado, desde sua eleição no conclave de quarta-feira. Alternando a leitura de um discurso escrito e trechos de improviso mais intimis-tas, Francisco falou por 15 minutos, voltando a abordar as relações entre a espiritualidade e a política na religião, tema sobre o qual havia feito uma homilia aos cardeais em missa na quinta-feira, na Capela Sistina.

"A Igreja, ainda que seja uma instituição humana, histórica, com tudo o que comporta, não tem natureza política, e sim essencialmente espiritual: é o povo de Deus que caminha para o encontro com Jesus. Só com essa perspectivaé possível entender a obra da Igreja Católica", disse o papa.

Outro ponto importante de seu pronunciamento girou em tomo de um tema que se repete como foco de seus discursos: o voto de pobreza. Evocando o assunto de improviso, o papa defendeu uma evangelização voltada "ao último", referindo-se aos excluídos. "Como eu gostaria de uma Igreja pobre, para os pobres!", afirmou, sendo interrompido por aplausos.

Também de improviso, Jorge Mario Bergoglio explicou as razões pelas quais adotou o nome de Francisco em referência a São Francisco de Assis. "É um homem da pobreza, um homem da paz, que ama e protege a criatura, em um momento em que não temos uma relação tão boa", disse o pontífice.

Bem-humorado, ele recordou os instantes finais do conclave, quando percebeu que seria o escolhido, e mais tarde as brincadeiras que ouviu sobre outros nomes que poderia ter adotado.

Uma das denominações sugeridas, lembrou, foi Clemente. "Então você seria o Clemente XV, para se vingar de Clemente XIV, que suprimiu a Companhia de Jesus", disse, relatando um diálogo que fazia referência à sua condição de jesuíta.

Imprensa. A seguir, o papa se dirigiu aos jornalistas, agradecendo-lhes pela cobertura da transição no Vaticano, aberta pelo anúncio da renúncia feito por Bento XVI em fevereiro. "Quero renovar meu agradecimento pelos esforços desses dias tão trabalhosos e quero fazer um convite para que vocês tentem conhecer cada vez mais a natureza da Igreja, com seus pecados e virtudes, e conhecer suas motivações espirituais", afirmou, assegurando ver identidade entre os interesses da religião e da mídia.

"Seu trabalho exige atenção para com a verdade, o que nos deixa muito próximos."

Ao final de seu discurso, Francisco foi aplaudido de pé — até mesmo por muitos jornalistas -e ouviu seu nome em gritos de saudação, antes de passar a receber alguns religiosos, jornalistas e trabalhadores do Vaticano.

Em nenhum momento de seu discurso, Francisco evocou ou fez alusão indireta à controvérsia em torno de suas supostas relações com a ditadura militar na Argentina entre 1976 e 1983.

Na sexta-feira, o Vaticano lançou-se a uma ofensiva na mídia para responder às críticas vindas da Argentina.

Até aqui, o pontífice segue sem ter se manifestado ele mesmo sobre o assunto.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Mobilização de Campos gera reação na base

A mobilização do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), por apoio político e as críticas dirigidas ao governo Dilma foram minimizadas ontem por lidere s de partidos da base aliada.

"É legítima a posição do Eduardo Campos", disse o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE). "Ele tem capacidade, tamanho e história para disputar a Presidência da República. Mas sempre é possível fazer mais. A Dilma mesmo vai fazer mais do que já fez", acrescentou.

O comentário foi uma referência à afirmação de Campos, feita em encontro com empresários, de que "dá para fazer muito mais" no País.

O novo ministro da Agricultura, Antônio Andrade (PMDB), disse não acreditar que o discurso de Campos possa atrair peemedebistas, pois o partido já acertou a aliança na reeleição de; Dilma, assegurando a vice presidência.

Manoel Dias, novo titular do Trabalho, avisou que o PDT não está discutindo 2014 agora e que o momento é de fortalecer os quadros do partido. "Não adianta brincar de eleição agora", afirmou, sem querer assegurar agora seu apoio à reeleição de Dil-ma. Parte do PDT defende candidatura própria ao Planalto, em 2014, como forma de fazer a legenda crescer.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Campos já avalia cenário eleitoral e prioriza Sudeste

Meta do governador de Pernambuco é crescer em MG, SP e RJ

Maria Lima

Irreversível. Após passagem por Brasília, onde esteve em encontro de governadores, Campos demonstrou surpresa a aliados com apoios recebidos

BRASÍLIA - "Estou ficando apavorado!". Essa foi a reação do presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ao comentar com os aliados, durante a passagem por Brasília essa semana, sobre a quantidade de adesões e os rumos que tem tomado a já irreversível candidatura a presidente em 2014. Mas estar apavorado não quer dizer que pode desistir. Pelo contrário. Esta semana mesmo, Campos avaliou com seu grupo os cenários em todas as regiões do país onde o PSB e os adversários - PT e PSDB -enfrentam dificuldades, os ataques que começam a sofrer dentro e fora do governo, o discurso que terá que adotar, e a posição dúbia do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff em relação a sua eventual candidatura.

A primeira conclusão de Eduardo Campos, nessas conversas, é que ele teria uma posição confortável no Nordeste, onde ajudou Dilma a ter uma dianteira de 10 milhões de votos na última eleição. Mas precisa construir caminhos para entrar em Minas, São Paulo e Rio. A divisão do PSDB em São Paulo e a fragilidade do partido no Rio, acredita, são pontos favoráveis e podem abrir esses caminhos.

A tomada de posição sobre um acordo para reabrir a discussão sobre distribuição de royalties foi um primeiro passo para Eduardo Campos botar os pés no Rio. A aposta é, principalmente, nas crises do PSDB e PT nesses dois estados.

Mapa mostrado por ele aos interlocutores desta semana evidencia o seguinte cenário, revela um de seus aliados:

- O Nordeste tem 28% do eleitorado. No Norte tem espaço para todo canto. No Sul nunca ganhamos com Lula e Dilma, tem que construir. Tem 10 estados hoje onde o PT tem muitas dificuldades. O jogo fratricida do PMDB de Pezão (Luiz Fernando) e do PT de Lindbergh, no Rio, vai abrir um caminho. E o jogo complicado de São Paulo e Minas, no PSDB, pode abrir outra porta.

Sobre sua relação com Lula, o governador pernambucano ainda tem dúvidas sobre em que momento ter uma conversa franca. Segundo relato de um dos seus interlocutores, um grupo considera que essa conversa com Lula tem que acontecer já. Outro, que é melhor deixar para mais perto das eleições. Mas todos ainda acreditam na boa vontade do ex-presidente.

- Lula está entre os (do PT) que acham que tem que conquistar o Eduardo. Muita gente conversa com Lula e faz a fofoca do bem, diz que ele não quer briga.

O governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), é um dos que fazem a "fofoca do bem". Ele tem conversado muito com Campos, com Dilma e Lula sobre essa outra candidatura do campo governista:

- Lula não desistiu de Eduardo e na hora certa vai conversar com ele. Acho que não será uma conversa tensa. Amigo a gente não reprime, seduz. E se a sedução não funcionar, não vamos dramatizar a disputa. A eleição tem dois turnos e, depois de tudo, haverá um Brasil para governar.

O secretário nacional de Organização do PT, Paulo Frateschi (SP), comunga da mesma opinião de Déda:

- O PT não pode abrir mão de continuar na busca do apoio do PSB para a reeleição da Dilma, não é hora de brigar com o Eduardo Campos. Os movimentos que ele está fazendo são do jogo político, não é errado ter ambição política.

Eduardo Campos terminou a semana de muita conversa otimista e certo de que ainda precisa encontrar um discurso, um mote para sua candidatura:

- Não vamos abandonar nossas origens progressistas e inovadoras. É preciso encontrar uma nova roupa para mostrar nosso valor do ponto de vista histórico nesse momento. Os avanços que tem a ver conosco desse governo, não vamos renegar. É um novo ciclo - avaliou Campos nas conversas com os aliados.

O grupo do governador avaliou também as eventuais dificuldades que Dilma enfrentará, na política ou na economia.

- Dilma pode estar muito bem nas pesquisas, na opinião pública, e não ter voto. A identidade dela com o eleitor e a vinculação com miséria, é nulo. A campanha dela e João Santana (o marqueteiro dela e do PT) é para buscar o voto dos grotões. Será de novo a campanha do pobre contra o rico. Isso mostra desespero.

Fonte: O Globo

Economia é ‘cartão de visita’ de Campos

O "milagre econômico" de Pernambuco, Estado administrado pelo governador e presidenciável Eduardo Campos (PSB), baseia-se em uma receita heterodoxa, que misturou investimentos públicos e privados, concessão de incentivos fiscais, endividamento e aumento de gastos com pessoais. Como resultado, o Produto Interno Bruto (PIB) local cresceu a taxas maiores que as do Brasil e as do Nordeste.

Entre 2007, primeiro ano do governo Campos, e 2012, o Estado cresceu a uma média anual de 4,6%, enquanto o PIB do País aumentou 3,6%. No ano passado, mesmo com a perda de fôlego da economia brasileira, o crescimento foi de 2,3% do nacional de apenas 0,9%. "O Nordeste se beneficiou do modelo de crescimento atual. Nos últimos anos, tivemos um crescimento puxado pelo consumo. Mas o crescimento em Pernambuco decorre também dos investimentos feitos pelo Estado e pelo setor privado", afirmou o economista Alexandre Rands, da Universidade Federal de Pernambuco.

A economia do Estado é hoje o principal cartão de visitas de Campos em seminários e conversas com empresários, nas quais passou a fazer críticas à política econômica de Dilma Rousseff. Na semana passada, ele reuniu-se com representantes do empresariado paulista e exibiu "êxitos" de sua gestão.

Nos últimos anos, Pemambuco se beneficiou da valorização do salário mínimo e dos programas federais de transferência de renda. Entre 2006 e 2012, a arrecadação cresceu acima do PIB: passou de R$ 9,3 bilhões, no último ano de gestão Jarbas Vasconcelos (PMDB), para R$ 25 bilhões.

As decisões políticas sobre investimentos públicos, como as obras de transposição do São Francisco e da Transnordestina e a construção de refinaria da Petrobrás, foram fundamentais para aquecer a economia local. O ex-presidente Lula, que é pernambucano, viu o desenvolvimento do Estado como estratégico e quis criar na região uma vitrine para os investimentos em infraestrutura e em combate à pobreza do seu mandato. Hoje, Campos é uma ameaça ao projeto de hegemonia política dos petistas.

"Estamos em meio a uma mu: dança estrutural, determinada não só por decisões políticas, mas por favoráveis condições econômicas, tanto já existentes quanto moldadas pelo setor público", afirmou o presidente do Conselho Regional de Economia de Pernambuco, Fernando de Aquino Fonseca Neto.

Os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) também cresceram, alcançando R$.2,2 bilhões em 2012.

Nos últimos doís anos, a Petrobrás investiu R$ 24,8 bilhões no Estado.

Os investimentos públicos estaduais também cresceram: passaram de 1,3% para 2,3% do PIB ; entre 2006 e 2011. "A atuação do setor público também vem sendo fundamental, tanto com investimentos diretos em infraes-trutura e financiamentos dos bancos que controla, como com uma eficiente política de incentivos fiscais", completou Fonseca.

Campos se aproximou do empresariado, sinalizando com políticas de interesse do setor. Manteve programa de concessão de incentivos dos anos 90, deu espaço para renúncia fiscal e concedeu terrenos para atrair empresas. Levou fábrica da Fiat, com investimento de cerca de R$ 6 bilhões.

Nos últimos meses, quando intensificou a agenda de presidenciável, ele recebeu empresários e banqueiros do eixo Rio-São Paulo e economistas que trabalharam com FHC e que agora estão no centro de estudos de política econômica Casa das Garças, no Rio.

Dívida. Para bancar projetos, contratou dívida. O porcentual da dívida em relação à Receita Corrente Líquida (RCL), parâmetro de solidez fiscal, passou de 42,4596, em 2008, para 45,7596, em 2012. A perspectiva é que chegue a 2014 em 4796 em 2006, era de 66,5996. Apesar do crescimento, o porcentual está abaixo dos 2oo96 colocados pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

De acordo com a Secretaria da Fazenda do Estado, a partir de 2014, com a finalização de projetos em andamento, "o crescimento das receitas possibilitará que o nível de endividamento alcance patamares menores".

Pernambuco também aumentou as contratações -25 mil servidores, entre professores, médicos e policiais - e concedeu aumento real dos salários. Em 2007, o gasto com pessoal era de R$3,4 bilhões. Em 2012, atingiu R$ 7 bilhões. O porcentual da despesa com pessoal em relação à RCL cresceu de 41,6296 para 45,18% - abaixo do limite de 4996 da LRF. A Fazenda destaca que em 2012 houve retração da receita em R$ 1 bilhão, o que resultou no aumento do porcentual.

Fonseca discorda de que a trajetória de aumento das contratações e da dívida coloque em risco a solidez fiscal. "Eu diria até que essa conduta fiscal relativamente expansionista do governo de Pernambuco tem contribuído significativamente para o Estado se manter crescendo acima da média nacional e regional."

O boom econômico se refletiu na área social, mas ainda de maneira tímida. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, por exemplo, em 2006, 38,19% dos domicílios de Pemambuco tinham acesso à rede de esgoto. Em 2011, eram 50,696, abaixo da média brasileira, de 54,996.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Eduardo sobe o tom na crítica a Dilma

Em jantar com empresários em SP, governador diz que "dá para fazer mais" ao avaliar o governo, censura a "falta de diálogo" e a aliança PT-PMDB, mas não fala em candidatura
O governador Eduardo Campos (PSB) soltou, na última quinta-feira (14) à noite, em São Paulo, sua crítica mais incisiva à presidente Dilma Rousseff desde o início dos rumores de que pretende disputar a Presidência da República em 2014. "Dá para fazer muito mais", disse Eduardo, em um jantar com 60 empresários paulistas, censurando a gestão petista. Os detalhes do encontro, que serviu para o governador circular entre o empresariado paulista, foram publicados ontem na coluna da jornalista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo.

Eduardo fez várias críticas à gestão da Petrobras, bateu de frente com o PT ao afirmar que "o Brasil não começou ontem", reconhecendo méritos das gestões do PSDB, e afirmou que as medidas tomadas pelo governo para conter a crise econômica não tem surtido o efeito esperado. "Dá para ser melhor. E não é uma ofensa para quem está aí você dizer que dá para ser melhor. Nós queremos mais. E que bom que queremos mais, né? Isso deveria desafiar as pessoas a fazer, a quebrar o velho costume e afirmar novos valores", advertiu o governador, que não admitiu sua pré-candidatura durante o jantar.

Ele também reclamou de falta de diálogo da gestão Dilma, afirmando que usa a imprensa para emitir opiniões sobre temas relevantes.

Eduardo falou na construção de um novo pacto político para dar "o passo adiante". Segundo ele, o pacto político que apoia Dilma não teria condições de fazer o País avançar, numa crítica velada ao PMDB. "O pacto político que está no centro do governo que eu defendo, que ajudei a eleger, a meu ver, não terá a condição de fazer esse passo adiante", vaticinou.

As declarações do governador foram minimizadas por aliados e Dilma não as comentou diretamente durante a posse dos novos ministros, ontem, mas mandou recados velados (lei matéria abaixo). "É legítima a posição do Eduardo Campos. Ele tem capacidade, tamanho e história para disputar a Presidência. Mas sempre é possível fazer mais. Dilma mesmo vai fazer mais do que já fez", disse o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE). O novo ministro da Aviação Civil, Moreira Franco (PMDB-RJ), acredita que Campos está falando como candidato e que prefere responder quando a campanha começar.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Entrevista - Eduardo Campos: “Governo tem que governar”

Kelly Matos e Klécio Santos 

BRASÍLIA - Eduardo Campos é cauteloso quando o assunto é candidatura à Presidência da República. O figurino, porém, lhe cai bem. Tanto no discurso como fisicamente. Aos 47 anos, o socialista de olhos verdes está menos calvo e mais magro – porte que mantém percorrendo trilhas com os quatro filhos. Já a retórica de postulante ao Planalto é pontuada por cutucadas no governo.

Campos critica das questões mais simples, como a falta de diálogo, às mais complexas, como a paralisia da equipe econômica. Enquanto seduz eventuais apoiadores pelo país, Campos age sobretudo nos bastidores. A parte mais visível de seu projeto é encampada por lideranças do PSB como o gaúcho Beto Albuquerque.

– O Beto é meu precipício – brinca o governador, se referindo à candidatura que vem entusiasmando o PSB.

Neto e herdeiro político de Miguel Arraes, uma grife da esquerda no país, Campos não se constrange em dialogar com aliados do governo Dilma e setores conservadores como o DEM. Quer ser uma alternativa à polarização entre PT-PSDB, mas sabe que sua candidatura depende muito mais dos rumos da economia em 2013. É por isso que bate na tecla de que não adianta antecipar o debate eleitoral. Se os indicadores econômicos melhorarem, avalia que será difícil vencer o favoritismo de Dilma.

Até lá, vai angariando simpatias. Sua administração é tão bem avaliada que foi responsável por uma das mais duras derrotas do PT na última eleição, quando alçou à prefeitura de Recife um anônimo contra a vontade do ex-presidente Lula. Desde então, a relação com Lula não foi mais a mesma.

Aos poucos, o pernambucano vai dando sinais de inconformismo com decisões do governo – mais recentemente com a edição da medida provisória dos Portos –, e faz críticas à aliança com o PMDB.

É com a fama de gestor eficiente e empreendedor que Campos desembarca em Porto Alegre em abril, quando palestra em dois dos tradicionais eventos capitaneados pela iniciativa privada no Estado, o Tá na Mesa e o Fórum da Liberdade. A vitrine empresarial vem sendo interpretada como a arrancada de sua candidatura ao Planalto, algo que Campos insiste em negar. Nesta semana, ele esteve em Brasília e conversou com ZH. A entrevista:

ZH – Qual é seu timing do processo eleitoral? 2014 é a hora para se candidatar a presidente?

Campos – Vai depender muito do que ocorrer em 2013, um ano estratégico para o futuro do Brasil. Desde o final do ano passado há um consenso no PSB, na nossa forma de ver essa conjuntura, de que era necessário dedicar 2013 para as convergências, e não para as disputas. O Brasil está concluindo só agora tarefas de 2012.

ZH – Como assim?

Campos – Apenas nesta semana votou-se o orçamento, não se votou sequer o FPE (Fundo de Participação do Estados), tem uma série de marcos regulatórios sobre setores estratégicos, entre os quais o petróleo, que a qualquer momento pode judicializar essa questão, impactando num setor que dialoga com o maior conjunto de investimentos que a gente pode ter nos anos futuros do Brasil, que é todo o setor de petróleo, gás, offshore, naval. Entendemos que é preciso um grande cuidado para a gente não jogar fora muitas das conquistas que construímos nos últimos 20 anos.

ZH – Significa que se a economia estiver bem, o voo será junto com o governo? Se não estiver, será solo?

Campos – Não, porque já houve tempos muitos difíceis em que o PSB não fez o voo solo e esteve solidário.

ZH – O senhor é conhecido apenas no Nordeste. Como vai fazer para ser conhecido nos grandes centros?

Campos – Essa não é uma questão que está posta para este ano. O PSB está crescendo, se consolidando como um partido que tem sabido governar ouvindo a sociedade. É claro que o PSB tem o desejo de seguir crescendo, de ter responsabilidades maiores com o país. Mas ainda não reunimos o partido para tomar essa decisão.

ZH – O crescimento do PSB nas últimas eleições entusiasma?

Campos – Claro que o crescimento anima muito os nossos companheiros para que o PSB esteja (com candidatura própria) em 2014. É natural. O PT teve candidato próprio à Presidência da República quando era muito menor do que o PSB é hoje. Mas não é essa discussão que queremos fazer. Queremos fazer a discussão de conteúdo.

ZH – De que forma?

Campos – A sociedade não quer disputa, não quer a briga entre partidos. É o emprego das pessoas que está em risco. É hora de espelhar na política brasileira um novo pacto social. As pessoas só estão vendo que milhões de pessoas ascenderam à classe C e estão tendo acesso ao crédito. Mas as pessoas não querem ter só acesso ao crédito.

ZH – O senhor não tem receio de ficar com o mesmo discurso da oposição?

Campos – De forma nenhuma. Estivemos ajudando na construção desse projeto, quando foi fácil e quando foi difícil. A nossa bancada do Congresso é uma das mais solidárias nas votações importantes da presidente Dilma. E a nossa forma de contribuir com o governo não é dizer só o que agrada ao governo.

ZH – O debate eleitoral está antecipado mesmo contra a vontade?

Campos – De uma hora pra outra, o debate sucessório entrou na pauta. Eu nunca vi governo antecipar debate eleitoral. A vida inteira eu vi governo retardar, porque governo tem que se preocupar em governar. Quem antecipa debate eleitoral é oposição. É natural que eu, na condição de presidente de um partido, que foi o partido que mais cresceu, seja procurado por muita gente. Mas só é notícia quando eu sou procurado por aqueles que estão distantes do governo. Quando eu sou procurado por Marcelo Deda, por Jaques Wagner, pelo PT, não é notícia. É notícia quando é alguém insatisfeito com o governo. Quando o Aécio tira uma foto comigo é notícia.

ZH – O senhor tem feito críticas aos rumos da economia, mas o governo tem tomado algumas medidas, como desonerações, concessões. Na sua avaliação, onde está o erro?

Campos – Tivemos um freio, a meu ver, em 2011 que foi maior que a conta. Entrou 2012 com esse freio segurando o crescimento. Em determinado momento, todo o receituário utilizado pelo governo Lula, pelo governo FH, em momentos de crise – desoneração para setores expressivo da nossa indústria, estímulo ao crédito, uma série de coisas –, não surtiram efeitos que em outros momentos nós vimos surtir. Desta vez, houve a perda da receita e não houve o ganho do crescimento econômico. Então, se criou dois ambientes de crise. Ou seja, não tem o crescimento da economia e tem restrição das finanças públicas.

ZH – O senhor avalia que falta diálogo por parte do governo?

Campos – Sim. Falta diálogo com os setores econômicos, com o próprio pacto federativo. Se você vai mudar o marco dos portos, por exemplo. Somos a favor de melhorar e modernizar os portos. E nós vimos mudar essa norma numa medida provisória, em que nenhum governador que tem porto, e que tem ajudado a melhorar os portos, foi ouvido.

ZH – Mas o ministro dos Portos, Leônidas Cristino, é do seu partido, o PSB.

Campos – Exatamente. Mas ele disse a mim que não foi permitido a ele que se discutisse a medida provisória. Falei com ele. Não fomos nem comunicados. Não fomos chamados para fazer esse debate. Ninguém nos chamou.

ZH – O que o senhor acha da candidatura de Aécio Neves?

Campos – É legítimo que o PSDB, um partido que já governou o país, que governa Estados importantes, que tem uma grande bancada, discuta a candidatura de um político que tem experiência e tradição como o Aécio Neves.

ZH – O senhor tem conversado com o presidente Lula?

Campos – A última vez foi por telefone, no final do ano passado.

ZH – Como o senhor vê a aliança PT-PMDB?

Campos – Eu acho, sinceramente, que essa aliança é mais do que estratégica. Mas não guarda sinergia com o pacto social. Outras forças políticas ficaram na periferia do governo. Hoje, o centro do governo é ocupado pelo PT e pelo PMDB. Todos os outros partidos, que estiveram historicamente nessa aliança (com o PT), não estão no centro do governo. Essa é uma observação que os partidos têm feito. Eu já disse isso à presidente. Mas não é de hoje. Isso já vinha desde o governo Lula. O PT faz as escolhas que acha certas. E vai ser julgado por isso. E o PSB, sinceramente, observa tudo isso.

ZH – Muita gente está atribuindo à sua participação no Fórum da Liberdade a largada para candidatura.

Campos – Eu vou participar do debate sobre conjuntura econômica, desafios da economia brasileira. Não vou ter preocupação de limitar a minha participação no debate político, com o dever que eu tenho como militante, como presidente do partido.

ZH – O PSB terá candidato próprio no RS?

Campos – O PSB gosta de ter candidato e gosta quando o partido cresce, através das nossas lideranças. Mas nós também sabemos apoiar. Temos alegria em apoiar também candidaturas que não sejam do PSB. Nós não somos daqueles que achamos que só é bom se for do PSB.

ZH – Com essa alfinetada, o senhor está dizendo que o PT não sabe apoiar?

Campos – Eu não disse isso. Se eu achasse isso, eu diria.

ZH – E esse périplo que a presidente Dilma está fazendo pelo Nordeste? Ela vem aparecendo sempre ao lado de governadores do PSB.

Campos – É completamente natural que a presidente visite uma região onde ela teve 10 milhões de votos a mais. Onde ela teve uma vitória. Eu acho que talvez chame mais a atenção quando ela faz uma atividade com um governador do PSB pela conjuntura.

ZH – É essa sua visibilidade que está fazendo a presidente se mexer?

Campos – Ah, aí você tem que perguntar isso para ela.

ZH – O senhor se sente preparado para ser candidato ao Planalto?

Campos – Me sinto completamente tranquilo de fazer esse debate. Tenho uma vida pública, tenho experiência, já vivi momentos semelhantes a esse, e em outros, cumprindo um determinado papel, distinto do que ocupo hoje. Já fui secretário de Estado várias vezes, deputado estadual, dirigente estadual do PSB, deputado federal, ministro, líder de bancada na oposição, líder de bancada na situação, governador duas vezes, já vi muitas eleições. E sei quando é o tempo de decidir. Já sei exatamente que a criança só nasce bem, na maioria das vezes, quando nasce no tempo certo, maduro, tem aqueles nove meses. E acho que nós não estamos no tempo.

ZH – O que o senhor acha que está mal? E o que está bem no governo?

Campos – Acho que uma coisa importante tem sido a opção de encarar o desafio social, de consolidar políticas públicas que resgatem a pobreza no país. O que preocupa é a economia. Temos que fazer um grande esforço de manter o que construímos: a inflação sob controle e o Brasil crescendo, distribuindo renda. É esse o desafio.

ZH – Se o senhor for candidato, a economia vai pautar seu discurso?

Campos – Todo partido precisa ter debate profundo sobre a questão econômica. Mas não é só o debate sobre a economia que deve presidir o debate sobre o futuro do país. Temos um debate estratégico. Como nós vamos aumentar o número de anos de estudo do brasileiro? Como é que a gente vai melhorar a educação? Como é que a gente vai melhorar e consolidar o SUS, que vive uma grande crise de financiamento? Como é que nos vamos encarar a questão da segurança pública, que ainda não foi encarada, a meu ver, como deve ser pelo governo. E que é um desafio porque hoje todos os mapas indicam violência crescente. Semana passada, por exemplo, saiu levantamento mostrando que há interiorização do homicídio, uma ida da violência para cidades de porte médio. Há uma epidemia do crack. No Nordeste todos os Estados cresceram os homicídios, exceto Pernambuco, onde houve redução. Esse debate não vai ser feito?

ZH – O senhor acha que tem espaço para uma candidatura fora da polarização PT-PSDB?

Campos – Nas últimas três eleições, tivemos a eleição indo para o segundo turno. E por que ela foi para o segundo turno? Porque alguém fora dos dois primeiros lugares teve uma expressão de votos que levou a eleição para o segundo turno. Ou seja, quem vai dizer isso são as circunstâncias políticas de 2014. E elas não estão dadas ainda.

ZH – O senhor vem conversando com DEM, alguns ruralistas? O senhor não teme ficar com a pecha de uma candidatura conservadora e não de terceira via?

Campos – Vocês sabem muito bem qual é a visão do PSB. Os compromissos que o nosso partido tem com mudança, com transformação. E a tradição que me trouxe até aqui, do ponto de vista político. Uma tradição de quem tem compromisso com o povo, com mudança, com organização dos trabalhadores. Agora, nós aprendemos sempre a dialogar. Essa é uma marca do meu partido e da minha formação política. Eu no parlamento sempre fiz o exercício do bom debate.

Fonte: Zero Hora (RS)

Marina Silva ataca: 'Não adianta trocar ministros'

Ex-ministra critica "lógica" do governo em evento da Rede

Cristina Tardáguila

A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que iniciou ontem no Rio a coleta de assinaturas para formalizar seu novo partido, a Rede Sustentabilidade, criticou a mudança ministerial realizada pela presidente Dilma Rousseff:

- Não adianta trocar os ministros, se a lógica continua a mesma. Para manter a base de governo, os partidos ocupam os espaços públicos como se privados fossem.

Na crítica, Marina foi seguida pelo deputado federal Alfredo Sirkis (PV-RJ), que atua na formação da Rede:

- Alguns ministros insignificantes saíram, e outros ministros insignificantes entraram. O cenário é esse. Infelizmente.

Evitando se assumir como candidata presidencial, Marina afirmou que a Rede "não vai seguir a lógica de juntar o poder pelo poder, algo que, nos últimos tempos, ganhou o nome sofisticado de coalizão ou governabilidade". Disse que o novo partido fará "discussões programáticas com aqueles que têm identidade".

Do evento realizado no Circo Voador, participaram ainda os vereadores do PSOL Heloísa Helena, de Maceió, e Jefferson Moura, do Rio, além do antropólogo Luiz Eduardo Soares.

Em discurso inflamado e interrompido diversas vezes por salvas de palmas, Heloísa disse que a Rede não terá "racistas, homofóbicos, machistas nem vigaristas" e que será um partido feito por "quem quer construir um Brasil soberano".

Perguntada sobre a possibilidade de ser vice numa possível chapa de Marina, Heloísa hesitou, mas disse:

- Sinceramente acho que não acrescento nada à chapa numa disputa nacional. Estou na Rede agora é para estruturar a coleta de assinaturas.

Para ser aceita como partido, a Rede precisa colher 560 mil assinaturas em dois meses. Seus articuladores, que ainda não dizem quantas já foram processadas, esperam 150 mil assinaturas só no Rio.

Fonte: O Globo

Potenciais rivais de Dilma buscam apoio no meio empresarial

Aécio Neves e Eduardo Campos têm, pessoalmente ou por interlocutores, reforçado contatos com executivos

Mesmo sob queixas de 'intervencionismo' na economia, PT deve atrair a maior fatia das doações de campanha

Natuza Nery

BRASÍLIA - Desde que Dilma Rousseff foi lançada à reeleição pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seus adversários mais prováveis em 2014 intensificaram o flerte com aqueles que, além do eleitor, são fundamentais para embalar suas pretensões: os donos do PIB.

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), não tem passado uma semana sem falar com um grande executivo. Não nega pedidos de audiências em cima da hora e propagandeia seu Estado como laboratório de atração de negócios.

O assédio a ele se avolumou após as eleições municipais, quando o bom desempenho de seu PSB o credenciou a encarnar uma "terceira via" em 2014 -contra os tucanos e os seus hoje aliados do PT.

Vez ou outra, ele brinca: "Querem me transformar num capitalista". Em seguida, reacomoda-se no pragmatismo: "O capital está procurando um lugar para investir, e temos de atraí-lo".

Já o senador Aécio Neves (PSDB-MG) tem se concentrado em buscar unidade interna de seu partido. Mas, para não ficar atrás na corrida pelo PIB, usa o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como avalista junto ao setor produtivo, bancário e da construção civil. O ex-senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) atua da mesma forma.

Dono da caneta presidencial, o PT tende a ficar com a maior fatia dos futuros financiamentos, apesar das queixas contra o que chamam de intervencionismo na economia.

Atentos a essas queixas, Aécio e Campos se esforçam em ouvir, e replicar, a lógica dos interlocutores.

Naturalmente, ninguém revela seus contatos para não os expor a retaliações. Entretanto, a Folha apurou as recentes conexões de ambos.

Campos teve uma conversa com a cúpula do banco Santander, e mantém contato regular com Jorge Gerdau, que preside a Câmara de Gestão da Presidência, e Sérgio Andrade, da Andrade Gutierrez.

Na quinta passada, o empresário Flávio Rocha, dono da rede de lojas Riachuelo, ofereceu-lhe um jantar em São Paulo para apresentá-lo aos líderes varejistas. É na capital paulista que o "socialista" mais tem desembarcado para reuniões dessa natureza.

Aécio, que governou Minas por dois mandatos, tem boa relação com Gerdau, Andrade e Luiz Nascimento, da Camargo Corrêa, e é próximo de Robson Andrade, da Confederação Nacional da Indústria.

Via caciques tucanos, tem pontes com Roberto Setubal, do Itaú, e com a cúpula do Bradesco. Setubal foi um dos banqueiros que procuraram Campos após as eleições de 2012.

"Minha velocidade não é a de quem está numa corrida de cem metros. A largada é importante, mas estou focado na chegada. Minha largada tem de ser consistente", disse Aécio a um interlocutor que observou o ritmo de Campos.

A exemplo de Gerdau e outros, Marcelo Odebrecht, da empreiteira que leva seu sobrenome, tem laços com todos os lados. Próximo a Aécio, o empresário tem se aproximado também de Campos, e celebrado diversos contratos para obras no Estado.

Fonte: Folha de S. Paulo

Alckmin não quer Aécio chefe do PSDB

Para o governador paulista, senador não precisa controlar o partido para viabilizar sua candidatura à Presidência

A escolha de Aécio para presidir a sigla é considerada essencial por seus aliados; FHC tenta apaziguar tensões

Daniela Lima

SÃO PAULO - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse ao senador mineiro Aécio Neves que discorda do seu projeto de assumir o controle do PSDB neste ano para preparar o lançamento de sua candidatura presidencial em 2014.

Na terça passada, Alckmin manifestou sua discordância num jantar no apartamento de Aécio em Brasília, na frente de outros cinco governadores tucanos e dos principais dirigentes da sigla.

Alckmin afirmou que Aécio "não precisaria" presidir o PSDB para se viabilizar e sugeriu que a projeção que ele ganharia no cargo seria prejudicial para suas aspirações, ao colocá-lo em atrito permanente com o governo.

Nenhum outro governador concordou com Alckmin durante o jantar, mas o episódio serviu para expor aos as dificuldades que Aécio encontra para unir o partido em torno de seu projeto político.

A escolha de Aécio como presidente do PSDB é considerada por seus aliados uma etapa essencial desse projeto, e nos próximos dias eles farão uma nova ofensiva para tentar vencer as resistências dos tucanos paulistas.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o mais entusiasmado cabo eleitoral de Aécio dentro do partido, marcou um encontro com Alckmin neste fim de semana.

Aliados do governador estão incomodados com a centralização das decisões no PSDB por aliados de Aécio e dizem que Alckmin gostaria de ser consultado antes que a sigla definisse sua estratégia.

Fator Serra

Fernando Henrique quer ouvir os argumentos de Alckmin e vai pedir sua ajuda para apaziguar as relações de Aécio com o ex-governador José Serra, um antigo desafeto do senador mineiro.

Aécio tem procurado ampliar os contatos com o PSDB paulista e ligou para Serra na quarta. Ele esperava encontrar Serra num evento partidário no dia 25 na capital paulista, mas Serra mandou avisar que estará fora do país. Combinaram um encontro em São Paulo nesta semana. A convenção nacional do PSDB será dia 19 de maio.

Embora tenha sido derrotado nas duas eleições presidenciais que disputou e tenha sofrido outro revés na corrida à Prefeitura de São Paulo no ano passado, Serra preocupa os aliados de Aécio pelo estrago que pode causar.

Aliados de Serra dizem que ele não apoiará a candidatura de Aécio e poderá até sair do PSDB se seu grupo não ganhar cargos no partido. O isolamento poderia levar Serra a trocar o PSDB pelo PPS, sigla que o apoiou em eleições anteriores e agora aponta para a possibilidade de embarcar na caravana do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

Na semana passada, Serra disse a interlocutores que não pretende negociar cargos em troca de apoio a Aécio e que é "pequena" a chance de deixar o PSDB. Reservadamente, diz estar impressionado com a articulação de Campos.

Em nota ontem, ele negou que tenha feito "comentários desairosos" a Aécio e exigido a presidência do partido. Disse que não faz "escambo político" e afirmou que "inexistem 'serristas' para interpretar meus anseios".

Fonte: Folha de S. Paulo

Serra nega que tenha exigido cargo para permanecer no PSDB

Ex-governador afirma que não há mal-estar com Aécio e que não pediu presidência do partido

Bruno Boghossian e Julia Duailibi

O ex-governador José Serra (SP) negou que exista um mal-estar entre ele e o senador Aécio Neves (MG), provável candidato do PSDB à Presidência da República, e afirmou que jamais exigiu cargos na direção do partido para que apoiasse a candidatura do mineiro.

Reportagem publicada na edição do Estado deste sábado informa que Serra ameaçou deixar o PSDB caso não tivesse direito a espaço na direção partidária. Três parlamentares tucanos foram ao Congresso ao longo da semana e pediram o cargo de presidente nacional da legenda para o ex-governador, em seu nome.

Em nota, Serra afirmou que trata-se de "especulações descoladas da realidade" e que qualquer tucano que tenha confirmado a informação "não atua, certamente, em favor do PSDB".

"Não faço escambo político e, na verdade, condeno essa prática. Portanto, não impus precondição nenhuma a ninguém. Jamais atuei ou atuaria num partido que funcionasse na base da imposição", escreveu o ex-governador.

O tucano também declarou que não teceu comentários críticos a Aécio. "Quando e se tenho algo a dizer a alguém, faço-o diretamente, sem mandar recados", anotou.

"Não tenho porta-vozes; ninguém fala em meu nome. Quando um jornalista quiser saber o que penso, só poderá estar seguro de informar o que realmente penso se falar comigo", completou Serra.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Os trunfos do PSDB - Merval Pereira

O senador Aécio Neves também vem se movimentando nos bastidores para pavimentar possíveis acordos partidários quando sua candidatura à Presidência da República for confirmada oficialmente pelo PSDB. Joga com os mesmos descontentamentos que seu provável adversário Eduardo Campos vem tentando explorar na aliança governista, e ambos dependem também da economia para viabilizar suas candidaturas.

Campos mais que Aécio, pois terá que romper com o governo para lançar-se candidato, enquanto o senador mineiro é a escolha natural dos tucanos em 2014. Além disso, o PSDB tem sido o repositório da votação oposicionista nas últimas três eleições, por pior que seja sua situação interna ou a fraqueza de sua atuação no Congresso. Na hora decisiva, ainda é a sigla que une os que não querem um governo petista, tendo tido uma média de 40% dos votos nacionais no segundo turno, fosse qual fosse o candidato. Na eleição de 2010, o PSDB chegou a ter 45% dos votos, devido mais à fragilidade da candidata Dilma do que por seus próprios méritos. Passar desse nível para desbancar o PT do governo depende, sobretudo, da situação do país e da campanha que fizer.

As circunstâncias das últimas campanhas levaram o PSDB para uma posição mais conservadora do que seria necessário para ampliar essa votação no segundo turno, a tal ponto que o hoje governador Geraldo Alckmin teve menos votos no segundo turno de 2006 do que no primeiro.

É ponto pacífico entre os políticos que um acordo formal entre os candidatos no segundo turno não é tão importante quanto o candidato classificado encarnar uma proposta capaz de ser aceita pelos eleitores que, no primeiro turno, votaram contra a candidatura oficial. No caso de 2014, a se confirmarem as candidaturas de Marina Silva, Eduardo Campos e Aécio Neves, não é provável que todos estejam juntos no segundo turno.

No momento, o PSB não admite apoiar Marina Silva, por exemplo, considerando-a uma fundamentalista que prejudicaria o país com suas ideias. É provável até mesmo que já no primeiro turno os dois divirjam mais do que concordem. Tanto Campos quanto Aécio têm mais possibilidades de receber apoio mútuo, mas o PSDB não tem tantas divergências assim com Marina e poderia receber o apoio dela e de Campos num segundo turno, sendo claro que Aécio tem um perfil conciliador que facilita os acordos.

Aécio pretende dar à sua campanha um ar mais progressista, evitando a armadilha petista de pôr os tucanos como reacionários na política e entreguistas na economia. O que Aécio teria a mais que seus companheiros oposicionistas é a estrutura partidária do PSDB espalhada pelo país. Devido a isso, o PSDB considera que, no momento decisivo, parceiros tradicionais como PPS e DEM permanecerão coligados.

Aécio vem conversando nas mesmas áreas em que o governador de Pernambuco está testando suas possibilidades, como o PDT, mas também com o PTB e o PP, presidido pelo senador Francisco Dornelles. Mas só aceitará concorrer se estiver convencido de que o PSDB-SP ficará ao seu lado.

Assim como Campos, também Aécio trabalha com a hipótese de o PMDB-RJ romper com o governo devido não só à questão dos royalties do petróleo como também à candidatura Lindbergh Farias, pelo PT, ao governo do Rio. Nesse caso, Aécio tem a vantagem do relacionamento estreito que mantém não apenas com o governador Sérgio Cabral, mas com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, ambos vindos dos quadros do PSDB. Além disso, Aécio pretende explorar sua ligação pessoal com o Rio e também trabalha para conseguir um acordo sobre os royalties. Ele sabe, porém, que o partido terá pela frente, provavelmente no ano da eleição, que encarar o julgamento do chamado "mensalão mineiro", que envolve o hoje deputado federal Eduardo Azeredo, à época presidente nacional do partido.

A partir da decisão do STF, no julgamento do mensalão do PT, de que não há caixa dois com desvio de dinheiro público, as chances de Azeredo escapar de uma condenação são mínimas. Ele já foi avisado de que, ao contrário do PT, o PSDB não pretende assumir sua defesa e, se não se desligar do partido, será expulso se condenado.

Fonte: O Globo

Mãos livres - Dora Kramer

A recusa do PSD a assumir um ministério deixa o partido livre para fazer o jogo político que lhe for mais conveniente. Sem assento na Esplanada, Gilberto Kassab tem um problema a menos: não precisará passar pela etapa da cobrança pelo "abandono dos cargos" nem construir um discurso para, se for o caso, contrariar a promessa de ficar com Dilma Rousseff em 2014.

Oficialmente ele diz que é "cedo" para discutir a próxima eleição, mas em verdade o gesto tem tudo a ver com a próxima eleição. Uma decisão cautelosa e, sobretudo, calculada.

O ex-prefeito de São Paulo anunciou o recuo (que obviamente não classifica assim) ressalvando que ainda apoia a presidente na disputa pela reeleição.

Palavras que não necessariamente se escrevem. Até outro dia mesmo o governador Eduardo Campos também dizia isso, mas parou de dizer na proporção direta em que o PSB e simpatizantes falam cada vez mais frequente e abertamente na candidatura dele para presidente.

O governo abriu a temporada eleitoral antes do tempo a fim de mudar a agenda que estava cheia de assuntos desagradáveis (mensalão, possibilidade de investigação sobre atos de Lula, críticas à condução da economia, caso Rosemary etc.) e agora precisa administrar a antecipação que teve seu efeito bumerangue ao animar outros blocos a saírem a campo.

De onde um esperto como Gilberto Kassab não ia imobilizar suas fichas numa aposta só. Embora por enquanto nada indique que poderia apoiar Aécio Neves, também não interessa a ele brigar com o PSDB que ainda está no controle político do Estado mais forte da federação e seu reduto.

Os tucanos já vinham avisando: era só o PSD assumir um ministério para o partido oficializar o rompimento com ele.

Fora isso, de Kassab pode-se dizer que foi um dos primeiros a farejar as possibilidades de Eduardo Campos.

Há pouco mais de dois anos o então prefeito tentou articular a fusão do DEM com o PSB. Não deu certo, mas o governador de Pernambuco ajudou a criar o PSD e pode ser uma opção para Kassab em 2014.

À medida que aparecem alternativas, menos sólida vai parecendo a fortaleza governista, mais movimentado fica o ambiente e com maior vigor as mariposas voam em busca de outros focos de luz.

O governo quis assim, liberou geral, mas não levou em conta o dito que aconselha a ter cuidado para que os desejos não se transformem em armadilhas.

Só tem tamanho. De reformadora a chamada reforma do ministério não tem nada. Na sexta-feira, a Folha de S. Paulo publicou uma entrevista com o empresário Jorge Gerdau, presidente da Câmara de Políticas de Gestão da Presidência da República, em que pela segunda vez (a primeira foi ao Valor Econômico) ele faz severas críticas à quantidade de ministérios.

Antes Gerdau havia dito que era impossível administrar quatro dezenas (39, para ser precisa) de pastas. Agora foi mais incisivo: acha que o Brasil chega ao limite da "burrice, da loucura ou da irresponsabilidade" ao se render à lógica do gigantismo.

Segundo ele, a presidente trabalha com "meia dúzia" de ministérios realmente importantes. "O resto anda com delegações de menos peso."

Nessa perspectiva é que se enquadram as mudanças que equivocadamente são chamadas de reforma. Não mudam coisa alguma, não visam à melhoria de desempenho, não atendem a um projeto delineado de País e a maioria das pastas não tem importância. Quando fala em "delegações de menos peso",
Gerdau é elegante. Evita dar à coisa a vulgar, porém real, definição de "penduricalhos".

Todo mundo sabe disso: a presidente, os ministros e os partidos participantes da partilha, que fingem dar duro na administração e ela faz de conta que compartilha de fato o poder.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Voltas que o mundo político dá - Eliane Cantanhêde

Dilma fechou, nestes dois anos, um círculo nada virtuoso no Ministério do Trabalho. Rodou, rodou e voltou para o mesmo lugar.

Ao assumir o governo, nomeou para o Trabalho o chefão do PDT, Carlos Lupi. Quando umas histórias do ministro com ONGs vieram à tona, ela já surfava na onda da "faxina" e despachou Lupi de volta para a praia.

Depois de meses de interinidade, quando ninguém dava mais bola para o ministério, Dilma decidiu conter preventivamente protestos de sindicalistas contra a falta de ministro e anunciou o sucessor, Brizola Neto, na véspera do Dia do Trabalho de 2012.

Agora, menos de um ano depois, lá se vai Brizola Neto e Dilma volta à estaca zero, nomeando mi-nistro o secretário-geral do PDT, Manoel Dias, que é ligado a... Carlos Lupi, o "faxinado".

Há duas questões aí. A mais evidente é que Dilma quer o apoio do PDT -aliás, seu velho partido- em 2014. E quem manda no PDT é Lupi, não Brizola. Outra é que, cá pra nós, Brizola Neto não foi nenhuma maravilha como ministro.

Seria uma indelicadeza dizer que já vai tarde, mas não é exagero reconhecer que chegou cedo demais.

Ao ser nomeado, era o mais novo dos então 38 ministros, não tinha uma formação excepcional, não unia o próprio PDT e enfrentava resistências nas centrais sindicais.

Então, por que foi escolhido? E eu é que sei? Só sei que as duas credenciais do moço eram o sobrenome famoso, identificado com o trabalhismo muito antes do surgimento do Partido dos Trabalhadores, e um blog apropriadamente chamado de "Tijolaço", pelo qual ele xingava tudo, todos e todas que ousassem criticar o governo -sobretudo o de Lula.

Sai Brizola Neto, chega Manoel Dias (ou volta Lupi), mas nada, de fato, muda. O Ministério do Trabalho, coitado, anda tão ou quase tão desprestigiado quanto a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. Qualquer um serve.

Fonte: Folha de S. Paulo

Dilma e o Papa - Tereza Cruvinel

Há uma notável diferença de tom entre a mensagem da presidente do Brasil ao cardeal Ratzinger, por ocasião de sua renúnica como papa Bento XVI, e a que ela enviou ao sucessor Francisco, logo que foi escolhido. A primeira é protocolar, quase seca; a segunda visivelmente mais calorosa. Dilma Rousseff estará na missa de sagração, na terça-feira, e terá encontro reservado com o novo pontífice. Ela busca uma nova relação com o Vaticano. Não espera ganhar votos de católicos em 2014 com esta aproximação mas, pelo menos, evitar a hostilidade sutil esboçada pela Igreja à sua candidatura em 2010.

Recordando a mensagem a Ratzinger: “Ao findar o seu Papado, manifesto o meu respeito pela decisão de Vossa Santidade de renunciar à Cátedra de S. Pedro”. Ela cita alguns marcos do pontificado em relação ao Brasil, como a realização da CELAM em Aparecida, a canonização de Frei Galvão e a próxima Jornada Mundial da Juventude, no Rio. Termina com um protocolar “desejo que essa nova fase de recolhimento o encontre com saúde e paz”. Já para o novo papa Dilma escreveu: “Em nome do povo brasileiro, congratulo o novo papa Francisco I e cumprimento a Igreja Católica e o povo argentino. Maior país em número de católicos, o Brasil acompanhou com atenção o conclave e a escolha do primeiro papa latino-americano. É com expectativa que os fiéis aguardam a vinda do papa Francisco I ao Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude, em julho. Esta visita, em um período tão curto após a escolha do novo pontífice, fortalece as tradições religiosas brasileiras e reforça os laços que ligam o Brasil ao Vaticano”. Faltou dizer que fez a primeira comunhão quando estudava no Colégio Nossa Senhora de Sion de Belo Horizonte.

No círculo presidencial, a estratégia é confirmada. Ela foi dos primeiros governantes do mundo a confirmar presença em Roma e para isso cancelou uma viagem interna e antecipou parcialmente a mudança ministerial, deixando as pendências com o PR e o PSD para resolver depois que voltar ao Brasil. O Governo pretende oferecer todo o apoio logístico e material de que a Igreja precisar para a realização do grande evento que será a Jornada Mundial da Juventude, em julho, no Rio.

Dilma, confirma um colaborador, quer deixar para trás as fricções mal dissimuladas que teve com a Igreja na eleição de 2010, que chegaram a contar com uma manifestaçao do próprio Papa Bento XVI, recebida como restrição à sua candidatura, que ao longo do ano havia dividido os bispos brasileiros. Se ela tinha o apoio de progressistas como Dom Tomás Balduino e Dom Demétrio, conservadores liderados pelo paulista Nelson Westrupp chegaram a lançar um manifesto enumerando atos do PT a favor do aborto e condenando sua candidatura. Alguns padres pregaram contra ela nas missas, por conta de antigas declarações relacionadas ao aborto. A três dias do segundo turno, Bento XVI recebeu a visita de bispos do Maranhão, dentro de um calendário de prestação de contas. Fez-lhes um discurso focado na condenação ao aborto, em que disse: “Quando os projetos políticos contemplam, aberta ou veladamente, a descriminalização do aborto ou da eutanásia, o ideal democrático é atraiçoado nas suas bases”. Acrescentou que, nestes casos, “os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas”. Não citou Dilma, mas autorizou a ação dos dogmáticos. A campanha dela, na reta final, redobrou os esforços para neutralizar a imagem de candidata pró-aborto.

Reconstruindo sua relação com a Igreja, ela já de fato ganhará se conseguir, pelo menos, evitar a repetição daquele clima hostil, que certamente favoreceu Marina Silva, evangélica e antiaborto.

Cristina e Bergoglio

Se Dilma foi efusiva com Francisco, a presidente argentina Cristina Kirchner enviou mensagem tida na Argentina como fria, quase gélida. Novamente, para recordar: saudou-o em seu próprio nome, em nome do governo e em representação do povo argentino, desejando “uma frutífera tarefa pastoral” ao assumir “tão grandes responsabilidades em prol da justiça, da igualdade e da fraternidade”. O cardeal Bergoglio teve atritos com o casal Kirchner por causa do aborto e da união entre pessoas do mesmo sexo, regulamentada na Argentina.

A escolha, em verdade dividiu o kirchnerismo. Alguns ajudaram a alimentar as notícias de que Bergoglio foi omisso durante a ditadura, tendo até contribuído para a queda de dois padres jesuítas, contestadas por nota oficial do Vaticano na sexta-feira. Outros o defenderam, atestando que ele ajudou como pode, inclusive apelando ao ditador Videla em favor de presos e perseguidos. Gabriel Mariotto, vice-governador de Buenos Aires, muito próximo de Cristina, exagerou: “É um papa peronista, com grande militância em favor dos mais pobres e do Terceiro Mundo”.

Mas Cristina também estará na sagração em Roma, em lugar destacado, chefiando comitiva que incluiu deputados da oposição.

A omelete

Os “ajustes” no ministério serão concluídos quando Dilma voltar de Roma, mas o essencial já foi feito. A prioridade dela, no início do ano, era derrotar o “queremismo” de parte do PT, que pedia a volta de Lula, fincando a bandeira de sua candidatura. Isso antecipou a campanha, o que tem custos, mas foi feito. O segundo ponto era consolidar a aliança com o PMDB, retificando a proeminência do vice Michel Temer como interlocutor. Foi feito na convenção do dia 2. Por fim, os ajustes no governo para melhorar a representação do PMDB e assegurar o apoio do que o Planalto chama de “partidos complementares da coalizão”. Os pequenos. Dilma contemplou o PMDB mineiro escolhendo Antonio Andrade para o Ministério da Agricultura. Ele tem perfil para o cargo e força política no partido em Minas. Prestigiou Michel deslocando Moreira, ligado a ele, para a Secretaria de Aviação Civil, cargo com maior poder executivo. E trocou Brizola Neto por Manoel Dias, do grupo majoritário do PDT. Na volta de Roma, tratará do PSD e do PR. Por ora, uma pequena omelete.

Fonte: Correio Braziliense

História sem fim - Denise Rothenburg

A nova temporada da série de partidos em busca de cargos governamentais teve seu primeiro capítulo ontem e, pelas conversas dos atores e produtores, trará muitas emoções nos próximos dias. Isso porque, diante da certeza do PMDB e de outros partidos de que Dilma Rousseff não tem alternativa a não ser implementar a coalizão de fato, haverá um aumento da pressão sobre o Planalto por uma maior distribuição do poder.

Um dos capítulos que vem por aí envolverá o PMDB do Senado. A avaliação geral feita entre quatro paredes dentro do partido é a de que mudou a correlação de forças entre os senadores do PMDB. Não há mais aquela história de o ex-presidente do Senado José Sarney, o atual, Renan Calheiros e o ex-líder do governo Romero Jucá no papel de principais protagonistas do partido na Casa.

Hoje, embora Renan esteja fortalecido por seus próprios colegas e com todo o respaldo não só do partido como fora dele, houve uma ascensão política de senadores como o novo líder da bancada, Eunício Oliveira (CE); o presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Vital do Rego (PB); o comandante da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) Valdemir Moka (MS) e Ricardo Ferraço (ES), das Relações Exteriores. Para completar, Eduardo Braga (AM) é líder do governo.

E esses senadores, embora estejam em alta na Casa, consideram que não têm hoje um ministro para chamar de seu. O de Minas e Energia, Edison Lobão, reza pela cartilha de Sarney. O da Previdência, Garibaldi Alves Filho, é considerado uma “jointventure” entre o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), Sarney, Renan e Jucá. Os cargos de segundo escalão nas empresas públicas, os poucos que o PMDB conseguiu segurar, também estão ligados aos três.

O exemplo mais emblemático da força desse trio é a permanência do presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Volta e meia alguém do PT e/ou da ala mais técnica da Petrobras chefiada por Graça Forster tenta tirar o ex-senador dali. Mas, graças ao poder de Sarney e Renan, todas as ofensivas fracassaram. Agora, diante da nova correlação de forças no Senado, não será surpresa se houver uma nova investida, só que, desta vez, quem vai acionar esse botão é a parte do PMDB que não se sente representada no governo.

No caso dos peemedebistas, nem mesmo a bancada mineira contemplada ontem com o Ministério da Agricultura está contente, porque considera que falta a presidente lhes devolver a diretoria da Petrobras tirada nesse governo. Ou seja, a luta continuará a pleno vapor.

Há hoje nos partidos a certeza de que, se Dilma aceitou recolocar o grupo de Carlos Lupi no Ministério do Trabalho depois de ter “faxinado” o próprio Lupi, o mesmo poderá ser feito com outros cargos, como, por exemplo, o Ministério dos Transportes, em vias de ser devolvido ao PR. Sem dúvida, a vida dela não será fácil daqui para frente. E, se Dilma não atender os partidos, eles vão atuar no ritmo daquela música, “porque senão, ela chora e diz que vai embora”, no caso, quem vai embora são eles.

Enquanto isso, na classe média…

Essa volta do grupo de Lupi ao Ministério do Trabalho e a iminente entrega dos cargos aos partidos trazem um grande risco para a imagem da presidente: a de que aquela Dilma, que não tolera malfeitos e é intransigente com a má gestão e o toma lá dá cá da política comece a perder força. A classe média já está meio insatisfeita com a quantidade de impostos que paga e a subida dos preços nos supermercados. Se, para completar o quadro, vier aquela sensação de que Dilma cedeu aos “jeitinhos” da política, isso pode terminar comprometendo aquele plus que ela obteve como comandante do país, ao ponto de ficar com uma aprovação maior do que a do próprio Lula.

Talvez por isso a presidente esteja hesitante em aceitar alguns nomes para compor o Ministério. Ou tenha dificuldades em abrir, por exemplo, as agências reguladoras aos partidos. Mas, entre os deputados e senadores, há a certeza de que mais cedo ou mais tarde é bem capaz que ela abra a guarda. Afinal, se a economia não der todos os resultados que ela e o PT esperam, será na política que Dilma terá que se firmar. Vejamos os próximos capítulos dessa série, que promete ser longa e cheia de altos e baixos.

Essa volta do grupo de Lupi ao Ministério do Trabalho e a iminente entrega dos cargos aos partidos podem passar a ideia de que começa a perder força a imagem daquela Dilma que não tolera malfeitos e é intransigente com a má gestão e o toma lá dá cá da política

Fonte: Correio Braziliense

Reforma tributária: o que é isso? – Michel Zaidan Filho

Há palavras e expressões que, de tanto serem ditas e pronunciadas, perderam o sentido. Na boca desse novo tipo de sofista moderno que são os nossos parlamentares, vocábulos como "sustentabilidade", "justiça social", "educação pública de qualidade", "reforma tributária" e outros similares, tornaram-se moedas gastas que não valem mais nem pela liga de metal de que são feitas. Quando Everardo Maciel foi Secretário da Receita Federal, perguntaram-lhe o que era a reforma tributária. Ele respondeu que era um mito. Ou seja: não havia nenhuma reforma tributária. Na verdade era um jogo onde um diminuia a sua parte e o outro aumentava a sua. Como ninguém queria perder receita e todos queriam aumentar a sua receita, não havia, pois nenhuma reforma plausível. Claro que se esqueceram de lembrar ao Secretário que a receita da União era proveniente de confisco salarial, não da mera arrecadação d os impostos.

Num dos últimos cálculos do IBET, a nossa carga tributária beirava a casa dos 36 ou 37% do PIB. O que representava quatro meses e meio de trabalho de cada contribuinte brasileiro. Sendo que a União abocanha perto de 60% do bolo tributário, cabendo aos municípios a menor fatia. Ultimamente, houve uma pequena movimentação dos governadores em Brasília em busca de uma reforma na distribuição das receitas fiscais pela União, sobretudo das contribuições parafiscais e extrafiscais, pois estas não são compartilhadas com as unidades subnacionais.

O que não se discute é a magnitude da renúncia fiscal, praticada por estados e municípios, e suas consequências para a atividade financeira dos entes públicos. E aí tem destaque a longa redução do IPI, a redução do ICMS e a cessão unilateral de receitas municipais e estaduais como forma de atração de investimentos privados. Este é a meu ver o ponto crítico que permite gestores posarem de "paladinos da justiça tributária e fiscal" e ao mesmo tempo se comportarem como os "Hobin Hoods" invertidos (os que tiram dos mais pobres para dar aos mais ricos). Quem quiser que defenda este modelo como forma de desenvolvimento social e econômico. Não compartilho com essa forma de pensar. Nunca imaginei que se oferecesse renúncia fiscal a empresas de transportes urbanos como meio de melhorar a qualidade do transporte público e atrair mais passageiros para essa modalidade de locomoção.

Achava qual e mais eficaz era taxar o uso e a aquisição de carros particulares, que abarrotam as nossas vias, em detrimento do bom transporte público. Mais aí vem o governante - em plena pré-campanha política - e diz na TV que é reduzindo o imposto (como?) do transporte público e concedendo favores fiscais a motandoras internacionais de veículos, que vamos resolver o problema da mobilidade em nossas cidades!

O que é mais grave disso tudo é que a discussão da reforma tributária e de um novo pacto federativo estão, sim, na ordem do dia. O atual modelo de arrecadação (impostos indiretos), que incidem sobre alimentos ou a retenção na fonte de impostos nos contracheques dos servidores públicos, não respeita o princípio da capacidade contributiva, não observa o principio da equidade e grava mais pesadamente quem trabalha e consomem alimentos, deixando de fora os bancos, o latifúndio improdutivo, a especulação financeira, as grandes fortunas etc.

Quando os governantes estaduais praticam a chamada "guerra fiscal" fazem aquilo que se chama "jogo de soma zero", ninguém ganha. Todos perdem. Um jogo em que todos "possam ganhar" tem outro nome e outra lógica bem diferentes. Mas enquanto os jogadores utilizarem a "reforma tributária" e o novo "pacto federativo" como mera retórica política em pré-campanha eleitoral, continuaremos perder - todos nós - inclusive os pretensos candidatos a paladinos a justiça social.

Michel Zaidan Filho, sociólogo e professor da UFPE.