sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Giuseppe Vacca: Gramsci, um clássico do século XX

O texto, que não escondia a emoção, visava mais uma vez a dar uma indicação de trabalho: a de considerar Gramsci um clássico do século XX. A edição dos Cadernos organizada por Gerratana disso forneceu um primeiro documento incontestável; o sucessivo trabalho filológico e crítico sobre os escritos de Gramsci confirmou definitivamente o caráter clássico de seu pensamento.

Clássico é um autor que vive além do próprio tempo e também fala aos pósteros, mas a contemporaneidade das interrogações e das motivações pelas quais nos voltamos para o seu pensamento permite leituras tão mais fecundas quanto mais sua vida e seus escritos sejam situados em seu tempo. Portanto, viver sua temporalidade é a premissa necessária para verificar sua capacidade de falar também a nós. Historicizar não é relativizar nem muito menos neutralizar. Quanto mais se historiciza , tanto mais se multiplicam e se enriquecem as perspectivas de leitura dos textos.

In. Giuseppe Vacca. Vida e pensamento de Antonio Gramsci 1926-1937. p. 38. Contraponto/ Fundação Astrojildo Pereira/ Fondazione Instituto Gramsci, Rio de Janeiro, dezembro, 2012.

Manchetes de alguns dos principais jornais do país

O GLOBO
Rio começa a fechar hoje teatros sem segurança
Mercado de trabalho: Desemprego é o menor em dez anos
IPI maior de eletrodoméstico

FOLHA DE S. PAULO
Desemprego é o menor em 10 anos; renda sobe
Polícia diz que espuma causou tragédia na Kiss
Justiça apreende telas de Volpi com netas do pintor
Com apoio de Dirceu, Renan promete agenda ética no Senado
Preço da gasolina varia 48% em SP, e litro chega a custar R$ 3,39
Após quatro mortes, França proíbe a pílula Diane 35

O ESTADO DE S. PAULO
Alvo de 3 inquéritos, Renan deve ser eleito hoje
Dilma resiste a pressão do PT e evita regular mídia
Desemprego é o menor desde março de 2002
Aluno carente que faltar no Enem pode pagar taxa
Embraer vende Super Tucanos para Angola

VALOR ECONÔMICO
Petrobras vence licitação e volta a investir na Bolívia
Choveu menos em janeiro do que o previsto
Dilma quer ministros para mais seis anos
De volta

BRASIL ECONÔMICO
Mercado livre de energia cria bolsa contra calote de até 21%
UBS recebe sinal verde do BC e volta ao Brasil
Desemprego tem a menor taxa dos últimos dez anos
Renan Calheiros volta ao comando do Senado hoje

CORREIO BRAZILIENSE
Tragédia Santa Maria - 235 razões para não esquecer
Congresso: Renan deve ser eleito presidente com 60 votos
Seu bolso: Gasolina sobe sem controle nas bombas
Concursos: Mais posses antes da nova previdência

ESTADO DE MINAS
Vai sair hoje à noite? Cuidado
Gasolina: Preço do combustível passa de R$ 3 nos postos da capital
Grande BH tem menor desemprego em 10 anos

O TEMPO (PE)
Prefeitura e bombeiros farão varredura em casas noturnas
Gasolina com 25% de etanol vai pesar no bolso
Pedro Taques contra Calheiros
PT faz festa para José Dirceu

GAZETA DO POVO (PR)
Bombeiros endurecem normas e fecham 14 boates no Paraná
A cada dia, oito assassinatos
Sob denúncias e pressão, PMDB lança Renan
Supremo avançará na discussão sobre a guerra fiscal, diz Richa
Com greve de vigilantes, bancos fecham hoje

ZERO HORA (RS)
Polícia Civil investiga empresa de bombeiro
Aumento livre: Consumidor sem defesa para gasolina mais cara
Raio X do trabalho: Mais empregados acima dos 50 anos no Brasil

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
PCR fecha casas noturnas
Telefone fixo terá reajuste de 0,554%

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais do país

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Vida e pensamento de Antonio Gramsci–1926-1937 - Maria Alice Rezende de Carvalho

Prefácio à edição brasileira

Estudos sobre o pensamento de Antonio Gramsci costumam mobilizar grande número de historiadores especializados nas relações mantidas entre o Partido Comunista Italiano e a política do Komintern (Internacional Comunista) no entreguerras. Desde 1975, ano em que se publicou na Itália a edição crítica dos Cadernos do cárcere, e mesmo agora, quando começou a se publicar uma exaustiva Edição Nacional dos Escritos de Gramsci, é crescente o investimento na recuperação de fontes associadas à história do PCI, tendência consolidada com a chegada de Giuseppe Vacca à direção da Fundação Instituto Gramsci, em 1988. Com Vacca, um dos mais influentes intelectuais pós-comunistas da atualidade, o Instituto passou a abrigar novos corpi documentais, recrutou pesquisadores experientes, formou outros tantos e ampliou a circulação da revista Studi Storici, em visível esforço de reorganização do campo de estudos gramscianos, projetando-o para os embates que viriam nos anos de 1990 e depois. De fato, a criação do Partido Democrático da Esquerda (PDS) e sua metamorfose na mesma década{1} , a proliferação de perspectivas pós-comunistas, de “melhoristas” a radicais, avivaram reivindicações quanto ao legado teórico e político de Antonio Gramsci e emprestaram maior relevância à certificação histórica dos argumentos mobilizados. A pesquisa se tornou, então, um dos fronts da luta política e instrumento de organização daquelas frações.

Foi, portanto, sob o signo do combate que Giuseppe Vacca escreveu este Vida e pensamento de Antonio Gramsci – 1926-1937, fruto de um trabalho coletivo de investigação que, ao longo de vinte anos, reuniu e examinou determinado segmento do epistolário gramsciano: as cartas trocadas com a cunhada Tania Schucht e a correspondência que ela manteve, paralelamente, com familiares e com Piero Sraffa, o economista italiano, amigo de Gramsci, que começava a se projetar no ambiente keynesiano da Cambridge University. Baseando-se nesse conjunto de cartas, Vacca produziu uma narrativa plausível e emocionante acerca dos afetos e da política que moveram Gramsci durante o período em que permaneceu preso, até sua morte. Ao fazê-lo, o autor propõe um mergulho, um corte vertical na trajetória de Gramsci, distanciando-se das biografias convencionais.

O tempo contemplado pela narrativa de Giuseppe Vacca é curto. Sua abordagem não leva em conta a vida e a obra de Antonio Gramsci anteriormente ao seu encarceramento, desconsiderando, portanto, os escritos gramscianos do período em que integrou a redação turinense do Avanti!, órgão do Partido Socialista, ou os textos que publicou no semanário L’Ordine Nuovo, que fundou em 1919 e se tornará referência central do movimento do conselhos no biênio vermelho, em 1919 e em 1920. O menino pobre e enfermiço, que cresceu com uma corcova às costas e teve os movimentos limitados por aquela circunstância, desaparece completamente do campo de visão de Vacca, assim como a sensibilidade extremada, o sentimento de humilhação, o ressentimento pela condenação do pai por peculato, a debilidade nervosa – sua revolta, enfim. Desaparece o enorme esforço que despendeu este menino sardo até se destacar bem cedo como combativo jornalista no ambiente socialista turinense, assim como desaparecem o voluntarismo do jovem Gramsci e seu “conselhismo”, isto é, a convicção de que os conselhos de fábrica seriam a forma ideal-típica dos sovietes na Itália. Como o próprio Gramsci reconhecerá, sua sensibilidade juvenil estará marcada pelo idealismo e pela exacerbação de cometimentos éticos – traços que chamou de “tendencialmente crocianos” e que de algum modo estarão presentes no período de inicial adesão ao bolchevismo e mesmo, já assimilados e transformados, no seu pensamento maduro.

Em 1921, fundado o Partido Comunista, Gramsci não fará parte da Direção Executiva, cuja composição é majoritariamente revolucionarista no plano político e absenteísta no plano eleitoral. Gramsci almejava, em contraste, um partido enraizado organizativamente nas fábricas e disposto a participar das eleições, pois acreditava que a campanha de “candidatos revolucionários” serviria à organização das massas. Sua percepção do Parlamento naquele momento era, pois, meramente instrumental.

Durante o ano de 1921 e nos primeiros meses de 1922, Gramsci se manteve empenhado em produzir uma caraterização teórica e política do fascismo, definindo-o, afinal, como um movimento reacionário com forte enraizamento nos segmentos subalternos da sociedade italiana. Como se lê em um de seus artigos do L’Ordine Nuovo, de abril de 1921, o fascismo era um movimento político aderido aos costumes e identificado “com a psicologia bárbara e antissocial de alguns estratos do povo italiano ainda não modificados por uma nova tradição, pela escola [...]; basta recordar que a Itália tinha o primado em homicídios e assassinatos; que as mães educavam os filhos pequenos dando-lhes tamancadas na cabeça; [...] que em algumas regiões da Itália parecia natural [...] colocar uma focinheira nos vindimadores para que não comessem as uvas; que os proprietários trancavam seus empregados à chave para impedi-los de se reunirem ou de estudarem à noite”. A eficácia do fascismo derivava, pois, dessa aderência à ética social predominante na Itália, arrastando demagogicamente até setores populares na sua voragem. E, numa evidente objetivação daquela dolorosíssima experiência, Gramsci denuncia a incapacidade de os dirigentes socialistas, mesmo os “revolucionários”, se ligarem organicamente às massas e estancarem o avanço reacionário.

Em meio a conflitos dramáticos, nos quais o “espírito de cisão” do novo partido fazia-o afastar-se dos socialistas e muitas vezes isolar-se numa posição extremada, Gramsci chegará ao II Congresso do PCI, no início do ano de 1922. Ali, porém, terá demonstrado sua habilidade como construtor institucional, ao estabelecer um compromisso entre os diferentes grupos do PCI e destes com a Internacional Comunista, que aprovara em Moscou a diretiva de uma frente política com os socialistas – uma diretiva que os comunistas italianos, em polêmica com a própria IC, ou não aprovavam, ou circunscreviam apenas ao plano sindical, como era o caso do próprio Gramsci. Este foi, então, indicado como representante italiano na Executiva da Internacional Comunista. Aos 31 anos de idade, era impossível não se sentir politicamente prestigiado e um tanto eufórico por constituir o núcleo do governo revolucionário mundial.

No entanto, os anos de agitação revolucionária e o subsequente trabalho em Moscou o consumiram. Foi tão grave o esgotamento que Zinoviev, presidente da Internacional Comunista, recomendou seu internamento em um sanatório na periferia da cidade. Lá conheceu Eugenia Schucht, de um família de nobres russos convertidos à ideia revolucionária e com larga passagem pelo exílio, inclusive na Itália, durante o czarismo; Eugenia, internada também por esgotamento psicofísico, passou a lhe devotar um sentimento intenso, sendo, contudo, preterida pelo amor de Gramsci por sua irmã, Giulia, a quem conheceu em setembro de 1922, visitando Eugenia. A conturbada relação de Antonio e Giulia estará fadada a se tornar ainda mais dramática com a prisão do marido, em 1926, e a doença da mulher, na longínqua Moscou stalinista, a adiar indefinidamente o momento de ir à Itália. Tiveram, no entanto, um filho em agosto de 1924, quando Gramsci já voltara a Roma, na condição de deputado e principal expoente do PCI. E, na segunda metade de 1925, Giulia reunir-se-á por breve tempo ao marido em Roma, sempre acompanhada de Eugenia e de Tania, a irmã que não havia voltado à Rússia e que permanecerá na Itália durante todo o período carcerário de Antonio. Em agosto de 1926, Giulia, novamente grávida, retorna definitivamente a Moscou. Gramsci não conhecerá o segundo filho, intensamente presente nas suas Cartas do cárcere.

Gramsci foi preso poucos meses depois e transferido para a ilha de Ustica. O confinamento nesta ilha dura pouco e, no início de 1927, será enviado ao presídio de San Vittore, em Milão, até o julgamento em Roma, entre maio e junho de 1928. Será então enviado à Penitenciária Especial de Turi, em virtude de uricemia crônica. É nesse ponto que tem início a análise de Vacca, tendo na correspondência de Gramsci com as irmãs Schucht – Giulia e, principalmente, Tania, de quem se aproximou a partir de 1925 – um sumário da sua atividade intelectual, transposta, em grande parte, para os Cadernos.

Vacca oferece ao leitor, com admirável competência, três planos de leitura. O primeiro deles é o plano analítico, cujo cerne consiste na integração entre pensamento e vida de Antonio Gramsci. De fato, o livro se propõe a superar a cisão, presente em trabalhos congêneres, entre a obra de Gramsci e a sua biografia, ou seja, entre dimensões da experiência humana – o interior e o exterior, o subjetivo e o objetivo, o indivíduo e a sociedade – que não são separáveis. Vacca concebe os textos de Gramsci como ele próprio os concebia, a saber, como práticas materiais, atualizações da estrutura social e de sua dinâmica, e não como o desenrolar de uma história das ideias sobre si mesma. Nesse sentido, os capítulos dedicados à psicanálise e à questão hebraica na Europa são absolutamente ilustrativos do procedimento que vige em todo o livro. Em tais capítulos, Vacca apresenta o modo pelo qual a síndrome depressiva de Giulia e sua terapia freudiana forneceram a Gramsci a oportunidade de refletir sobre o “emaranhado” afetivo e mental dos Schucht – a mãe de ascendência judia, o pai de ascendência alemã – que experimentavam uma posição um tanto desequilibrada entre a tradição, expressa no patriarcalismo de Apollon, e a modernização acelerada da URSS. Foi naquele contexto, segundo Vacca, que Gramsci terá formulado o nexo entre a difusão da chamada “literatura freudiana” – Proust-Svevo-Joyce – e a intensificação dos processos de racionalização da indústria fordista. Ou seja, o nexo entre uma forma de organização psíquica e o novo industrialismo de molde norte-americano, tal como se observa no tratamento que Gramsci concedeu à questão sexual sob o americanismo.

Outro plano de leitura é o temático. Como se terá constituído a agenda intelectual de Gramsci no período em que esteve preso? De acordo com Vacca, os temas sobre os quais Gramsci se debruça estão em óbvio diálogo com suas vicissitudes políticas, tanto no que se refere ao PCI, quanto à Internacional Comunista, sobretudo a partir de 1929-1930, quando a IC passou a pregar a radicalização da luta de classes. Gramsci, que, em 1926, já apresentava uma divergência insanável com a forma econômico-corporativa do Estado soviético – problema que esboçou em carta dirigida ao Comitê Central do Partido Comunista Russo –, quando foi preso, e a partir do momento em que lhe permitiram redigir os “cadernos” (1929), se dedicou a elaborar a questão da ampliação dos recursos hegemônicos da classe no poder – “solução” antípoda à da imediata revolução operária que a IC propugnava. Desde então, e durante todo o período da prisão, o tema da hegemonia se tornou central, redefinindo a própria concepção de política no universo do marxismo. A ele se superpunham, contudo, algumas questões “cifradas”, que tinham o objetivo de esclarecer a sua situação e eventuais ações que pudessem libertá-lo. Os exemplos são muitos e se distribuem ao longo do livro. Mas talvez seja interessante apontar que, no auge de seu isolamento político, quando Stalin impõe aos partidos comunistas uma orientação uniforme e esquemática, atropelando processos histórico-nacionais de construção de hegemonia, Gramsci escreve a Giulia algo que, segundo Vacca, somente Togliatti poderia decifrar. Trata-se de uma mensagem cifrada acerca da tensão entre internacionalismo abstrato e política nacional concreta, mensagem na qual Gramsci indaga, de modo irônico, se é melhor classificar a linguagem do povo Niam Niam segundo critérios geográficos extensivos, ou segundo o processo histórico de filiação linguística, pois em um caso, dizia Gramsci, os Niam Niam pertenceriam ao Sudão Oriental, em outro, ao Ocidental...

Por fim, há um terceiro plano de leitura – o político – que encerra a proposição mais importante, talvez, deste livro de Giuseppe Vacca: o revisionismo de Gramsci nos anos de 1930 e sua recepção da ideia de Constituinte. Se, em 1920-1921, Gramsci entendia o Parlamento como uma instituição burguesa, de que os revolucionários não deveriam esperar coisa alguma; e se, em 1926, Vacca divisa, contra o notável historiador comunista Paolo Spriano, o início de uma mudança ideológica em Gramsci, que passa a conferir relevância à necessidade da “catarse” política e da superação do momento econômico-corporativo na construção do socialismo; em 1930, quando a Internacional Comunista formulou o diagnóstico de uma crise geral do capitalismo, exortando os partidos comunistas à tática da “classe contra classe”, Gramsci sublinhará a necessidade de reconstruir conceitos fundamentais da política entendida como hegemonia civil, aberta à necessidade de uma longa guerra de posições em cenários adversos e marcados pela iniciativa histórica dos adversários, ainda que sob a forma da revolução passiva.

A partir de 1930, portanto, Gramsci retornará ao tema da frente única, desenhado por Lenin nos anos posteriores ao entusiasmo revolucionário de 1917, mas entendendo ser preciso reelaborá-lo profundamente – o que o leva, como dissemos, a articular inovadoramente os conceitos de “guerra de posição” e de “revolução passiva” no âmbito de uma teoria da hegemonia. Dessa nova perspectiva, em que a noção restrita de hegemonia do proletariado cede à de hegemonia política, Gramsci considera que a ação dos comunistas não poderia ser orientada pela formação de uma vontade popular autônoma, de notação jacobina, que ignorasse o terreno caracterizado pela revolução passiva, historicamente determinado, e privilegiasse doutrinariamente a forma da “guerra de movimento”, que fora típica dos bolcheviques. Ao contrário, a proposta da Constituinte traduz o afastamento de Gramsci de uma concepção de democracia como “fase intermediária” da luta pelo socialismo, identificando-a, antes, como caminho progressivo e ininterrupto de universalização do mundo dos direitos e das liberdades. Nesse sentido, o capítulo em que Vacca discorre sobre a Constituinte é estratégico para o entendimento da posição de Gramsci naquele momento. E embora Vacca se resguarde de afirmações mais contundentes e elabore uma visada bastante sutil do problema, é possível identificar a sugestão de que Gramsci terá descartado o momento “Maquiavel”, isto é, a organização de uma revolução operária contra o fascismo, ou, em outros contextos, de uma revolução nacional-popular, que conduzissem diretamente ao socialismo ou ao comunismo, sem qualquer diálogo com o tema da democracia política.

Com este extraordinário livro, Giuseppe Vacca não apenas confere expressiva contribuição ao campo historiográfico marxista, como também intervém no debate contemporâneo sobre o legado político de Antônio Gramsci – trata-se de refletida e generosa reafirmação do valor da democracia como sinônimo de liberdade e justiça universais.

{1}A experiência do pós-comunismo italiano é singular: entre 1989 e 1991, dissolve-se o antigo PCI, cujas forças majoritárias deram origem ao Partido Democrático da Esquerda (PDS) e, a partir de 1998, aos DS (Democráticos de Esquerda). Este último grupo, recolhendo outros setores do reformismo católico e socialista liberal italiano, transformou-se, em 2007, no atual Partido Democrático (PD).

Renan deve voltar hoje a comandar Senado

PMDB oficializa candidatura de senador, que, investigado por usar notas frias, promete transparência

Fernanda Krakovics, Maria Lima

BRASÍLIA - O senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que deve ser eleito hoje novo presidente do Senado com o apoio do PT e do Palácio do Planalto, só teve sua candidatura formalizada ontem à tarde, a menos de 24 horas da eleição. Renan, que sequer apareceu em público para se apresentar como candidato, está há dois anos trabalhando nos bastidores para vencer a disputa.

O anúncio de sua candidatura foi feito pelo presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (PMDB-RO), que negou constrangimento por Renan correr o risco de virar réu em inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele afirmou que Renan é um "líder nato".

Enquanto Renan se mantinha em silêncio, o dia foi de intensa movimentação no Senado, com dois pré-candidatos à Presidência da República em 2014 - o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador Eduardo Campos (PSB-PE) - articulando alternativas ao candidato do PMDB.

O PSB chegou a lançar o senador Antonio Carlos Valadares (SE), mas, no final do dia, restou apenas a candidatura do senador Pedro Taques (PDT-MT), com apoio oficial de PSDB, PSB e PSOL. A votação é secreta; será eleito quem obtiver maioria simples (metade mais um dos presentes). Como 78 senadores devem votar, a expectativa do grupo de Renan é conseguir até 60 votos.

O PSB queria que Taques retirasse seu nome, o que não ocorreu. Isolado, o partido desistiu de lançar candidato.

- O que discutimos foi quem poderia somar mais. Lamentamos que o senador Renan mantenha sua posição, uma candidatura subterrânea. Ele tem sobre si uma série de dificuldades que preocupa a todos. Não queremos mais enfrentar a crise que enfrentamos em 2007 - disse a líder do PSB, senador Lídice da Mata (BA).

O nome de Renan foi aclamado ontem pelos 17 senadores do PMDB presentes na reunião da bancada. Estavam ausentes o senador Luiz Henrique (SC), por motivo de saúde, e os senadores Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon (RS), seus opositores. O único que, na reunião, protestou contra a forma como Renan comandou a sua candidatura, sem debate, foi Roberto Requião (PR), que cobrou propostas. Em resposta, Renan disse que sua plataforma de administração da Casa nos próximos dois anos se baseava em quatro pontos: criação de uma secretaria de transparência, aprovação de um novo pacto federativo, reforma administrativa e rejeição de qualquer proposta de regulação de mídia, defendida pelo ex-presidente Lula e o PT

Apesar do favoritismo de Renan na votação secreta, o clima no Senado é de constrangimento, porque a Procuradoria Geral da República denunciou o peemedebista, na semana passada, por supostamente ter apresentado notas frias para justificar seu patrimônio. Renan deixou o cargo de presidente do Senado em 2007, em um acordo político para evitar sua cassação. Ele era acusado de receber ajuda financeira de um lobista da empreiteira Mendes Júnior para pagar a pensão de R$ 12 mil de sua ex-amante, com quem teve uma filha.

Fonte: O Globo

Apoiado por Dirceu, Renan diz que fará uma gestão ética

Andreza Matais, Gabriela Guerreiro e Daniel Roncaglia

BRASÍLIA, SÃO PAULO - O peemedebista Renan Calheiros (AL), que deve voltar hoje à presidência do Senado cinco anos após deixar o cargo por suspeitas de corrupção, disse ontem à Folha que, se eleito, irá priorizar uma agenda ética: corte de gastos e "transparência absoluta" na Casa.

Em entrevista, Renan afirmou que "não haverá espaço para a dúvida" durante a sua gestão, que vai trabalhar para "robustecer o Congresso" e que criará "barreira jurídica contra qualquer iniciativa com pretensões de restringir a liberdade de informação".

Em 2007, o senador renunciou à presidência do Senado após ser acusado de ter despesas pessoais pagas por lobista de uma construtora.

O senador disse que não se sente desconfortável em presidir a Casa mesmo tendo sido denunciado na semana passada por ter apresentado notas fiscais frias para justificar seu patrimônio no escândalo de 2007.

Ele acusou o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, de agir politicamente para beneficiar seu adversário na disputa, o senador Pedro Taques (PDT-MT), que é procurador da República.

"A iniciativa, sabe-se agora, foi para beneficiar um candidato à presidente do Senado da própria corporação." Gurgel nega ação política.

O senador disse que irá tratar o Executivo com independência. E prometeu colocar em votação os vetos presidenciais a projetos aprovados pelo Congresso, demanda que não interessa ao Executivo.

"O fato de integrar um partido da base de apoio não autoriza o raciocínio da submissão", disse, em respostas enviadas por escrito.

A Folha apurou que Renan irá anunciar uma nova sistemática de análise aos vetos, que há anos não são colocados na pauta.

O retorno à presidência do Senado pela "porta da frente", como peemedebistas gostam de dizer, virou meta para Renan desde 2007.

A volta de Renan deve marcar também a continuidade no poder do mesmo grupo político que comanda a Casa desde 2001 -o PMDB que orbita em torno do atual presidente, José Sarney (AP).

A eleição de hoje começa às 10h e é por votação secreta. Além de controlar um orçamento bilionário, o presidente decide o que entra na pauta de votações.
apoio

Ontem o ex-ministro José Dirceu (PT) saiu em defesa do Renan afirmando que ele tem sido vítima de "falso moralismo" patrocinado por imprensa e Ministério Público.

"O que estamos assistindo em relação ao senador Renan é, de novo, uma ofensiva midiática dando cobertura a denúncias contra ele concertadas com ações do Ministério Público Federal", afirmou o petista, condenado no julgamento do mensalão a 10 anos e 10 meses de prisão.

Para ele, que neste mês já havia escrito outros três textos em defesa de Renan, há uma estratégia para dividir a base de Dilma Rousseff.

Fonte: Folha de S. Paulo

Sob constrangimento, Renan disputará com Taques a presidência do Senado

Somente nessa quinta a bancada do PMDB assumiu a candidatura, depois de o senador passar semanas em silêncio e sem comentar sobre as denúncias contra ele

Eugênia Lopes, Débora Bergamasco e Ricardo Brito

BRASÍLIA - Alvo de três inquéritos que tramitam sob sigilo no Supremo Tribunal Federal (STF), o senador Renan Calheiros (AL) foi oficialmente lançado nessa quinta-feira, 31, pelo PMDB candidato à presidência do Senado. O peemedebista deverá ser eleito nesta sexta-feira, 1º, com um placar folgado de votos, mas, alvo de denúncias, deve enfrentar críticas constrangedoras dos colegas na tribuna. Ele disputará com o senador Pedro Taques (PDT-MT), que nessa quinta-feira, 31, obteve o apoio do PSDB e do PSB.

A menos de 24 horas da eleição e debaixo de uma saraivada de críticas, Renan manteve o suspense e uma candidatura furtiva: ele simplesmente se recusou a falar sobre sua pretensão de suceder José Sarney (PMDB-AP) no comando do Senado, pelos próximos dois anos. Um dos inquéritos do Supremo é sobre o caso de 2007, que levou o peemedebista a renunciar a presidência da Casa sob pena de ser cassado. Ele foi acusado de pagar despesas pessoais (a pensão de uma filha fora do casamento) com recursos de um lobista. Para comprovar o dinheiro recebido, Renan apresentou notas frias referentes a compra de gado.

Recentemente, reportagem do Estado mostrou a influência política de Renan em Alagoas para turbinar contratos de empreiteira de amigos com a Caixa Econômica Federal para o programa Minha Casa, Minha Vida.

Questionado se a bancada está desconfortável e constrangida com a candidatura de Renan, o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp foi incisivo: "Em absoluto. O Renan não teve nenhum julgamento, nenhuma condenação. É um líder nato".

Pedro Taques (PDT-MT) foi lançado como candidato único de um grupo de parlamentares apontados como independentes. "Ganhar ou perder é uma consequência da disputa", avaliou Taques, depois de receber o apoio do PSDB, que conta com 11 senadores. Por contrariar o PMDB, o PSDB agora corre o risco de perder a 1.ª Secretaria, uma espécie de prefeitura da Casa. "O político que entra numa eleição pensando só em ganhar não pode ser candidato. Construímos esta candidatura por motivo de honra", disse o pedetista.

A expectativa de aliados de Renan, porém, é que ele receba votos de tucanos, já que a votação é secreta. O senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) cogitou se lançar na disputa, mas desistiu depois que Taques se recusou a abrir mão de sua candidatura. O PSB resolveu, então, apoiar também candidatura de Taques.

A candidatura de Renan para suceder Sarney foi aprovada por 17 do total de 20 integrantes do PMDB. Os senadores Pedro Simon (RS), Jarbas Vasconcellos (PE) e Luiz Henrique (SC) não estavam presentes.

Ao fim do encontro, Renan foi abordado por jornalista que indagou se ele se sentia confortável para presidir o Senado novamente. Levemente irritado, ele respondeu: "Imagine você", e partiu em disparada.

Enquanto o PMDB oficializava a candidatura de Renan, os tucanos decidiam sobre o apoio à candidatura de Taques. Durante a reunião, houve resistência de alguns deles. Apesar da decisão da bancada favorável ao pedetista, a expectativa é que haja dissidências de ao menos quatro parlamentares, especialmente a de Flexa Ribeiro (PSDB-PA), candidato à 1.ª Secretaria.

Preço. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse que a legenda está disposta a sacrificar o cargo na Mesa. "Vamos reivindicar os espaços aos quais temos direito, indicando nomes que possam atender aos interesses da Casa, mas se esse for o preço a pagar, para mim é absolutamente irrelevante." Aécio reconheceu que será difícil reverter o favoritismo de Renan. "Não tomamos uma decisão por razões pessoais, mas para preservar a instituição."

O PMDB decidiu que uma eventual retaliação ao PSDB dependerá do placar. Será diante do número de votos obtidos por Renan que o PMDB saberá o tamanho da dissidência entre os tucanos. Só então os aliados vão resolver se lançam ou não candidato para disputar a 1.ª Secretaria.

À bancada, Renan anunciou a criação de secretaria para dar transparência aos atos do Senado e defendeu a votação de projeto com as novas regras de partilha dos recursos do Fundo de Participação dos Estados (FPE).

Colaborou Débora Álvares

Fonte: O Estado de S. Paulo

Nos bastidores, Eduardo Campos articulou candidatura do PSB

Nome de Antonio Carlos Valadares foi cogitado para concorrer com Renan, mas partido optou por apoiar Pedro Taques

João Domingos

BRASÍLIA - O governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, decidiu aproveitar a eleição do presidente do Senado para mostrar poder de fogo e dar início à primeira de uma série de enfrentamentos com o PMDB que pretende ter daqui para a frente. Campos orientou ontem todos seus aliados a rejeitar a candidatura de Renan Calheiros (AL), do PMDB, favorito na disputa.

De acordo com um interlocutor de Campos, com essa atitude de enfrentamento, o PSB pretende medir forças com o PMDB, demarcar terreno na disputa política nacional e mostrar que almeja ter posição de destaque na base de apoio à presidente Dilma Rousseff.

Apesar da interferência do governador nos bastidores, a bancada do PSB já havia anunciado na quarta-feira que não votaria em Renan. Tratava-se de uma rebelião da sigla pelo fato de terem sido escanteados na formação da Mesa Diretora. O PSB não deve ocupar nenhum cargo de comando no Senado.

Como resultado da disputa com o PMDB pela demarcação de terreno político no País e na base do governo, Eduardo Campos deu ainda um tranco no senador Aécio Neves (MG), cotado para assumir a presidência do PSDB e ser o candidato tucano à sucessão da presidente Dilma Rousseff no ano que vem.

Na semana passada, Eduardo Campos conversou com o senador Antônio Carlos Valares (PSB-SE). Disse que atuaria na eleição do Senado. Propôs que Valadares se candidatasse. E se dispôs a tentar unir os descontentes. O primeiro passo foi orientar o senador Armando Monteiro (PTB-PE) a criticar a candidatura de Renan, o que foi feito. Em seguida, tentou unir os chamados independentes em torno de Valadares.

Mas, após reuniões seguidas, eles preferiram ficar com Pedro Taques (PDT-MT).

Essa decisão representou um pequeno revés para o governador de Pernambuco, porque mostrou também a reação do PSDB à movimentação de Eduardo Campos. Se os tucanos decidissem apoiar Valadares - mesmo que o vitorioso fosse Renan, como é provável que aconteça, eles estariam ajudando nas investidas políticas do PSB e, por consequência, prejudicando Aécio.

Durante encontro com Dilma, há cerca de 15 dias, Campos prometeu fidelidade ao governo neste ano. E, mesmo chamado pela presidente a se manter na base governista, porque ela quer se candidatar à reeleição em 2014, Campos respondeu que ainda era cedo para falar sobre o tema.

Embora tenha revelado o desejo de se reeleger, Dilma não conseguiu arrancar dele a garantia de que não será candidato. Campos deixou claro que seu projeto é fazer o PSB crescer, tanto no País quanto na base do governo. E que, nessa missão, entende que terá pela frente o PMDB.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Eduardo, Dilma e o "flerte" com Marina

Nos bastidores, socialistas pernambucanos descartam a possibilidade de Eduardo ocupar a vice de Dilma em 2014. Governador esteve com Sirkis, aliado de Marina

Débora Duque

A versão de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estaria liderando uma articulação para colocar o governador Eduardo Campos (PSB) na vice da presidente Dilma Rousseff (PT), na eleição presidencial de 2014, não empolga socialistas pernambucanos. A informação, publicada ontem no jornal Folha de S.Paulo, aponta ainda que a negociação envolve a concessão da cabeça de chapa ao PMDB na disputa pelo governo de São Paulo. Considerada improvável, a tese não é descartada pelo PSB estadual, mas tampouco existe a intenção de alimentá-la faltando quase dois anos para a disputa.

Por enquanto, será sustentado, nos bastidores, o argumento de que Eduardo Campos não se enquadra no perfil de vice, cabendo-lhe apenas o papel de "protagonista". A estratégia é turbinar ao máximo o nome do governador até a reta final da definição sobre o jogo de 2014. Há cinco dias, o deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS), por exemplo, deu declarações dizendo que a possibilidade de o partido lançar uma candidatura própria à Presidência era "concreta" e que, inclusive, já estão em curso negociações para atrair o apoio de outras legendas.

A ideia é atuar em várias frentes. De um lado, o governador continuará reforçando, publicamente, o discurso de apoio a Dilma e, ao mesmo tempo, seguirá incentivando, de modo velado, os questionamentos sobre o espaço concedido ao PMDB em nível federal. Encontrou nas eleições da Câmara os Deputados e do Senado Federal - que têm peemedebistas como favoritos - o mote perfeito para deflagrar essa briga silenciosa. Embora tenha deixado "escapulir", no início da semana, uma crítica direta ao poderio do PMDB, em entrevista a um jornal de Sergipe, Eduardo tem dito a interlocutores que não pretende ser porta-voz de uma causa que, na sua avaliação, deveria ser assumida pelo PT e por Dilma. Seu trabalho será majoritariamente de bastidor, sem desgastes diretos.

Marina

Em outra via, existe a expectativa de que Eduardo intensifique o diálogo com o grupo liderado por Marina Silva, ex-PV. Ontem, ele teve um encontro, na sede provisória do governo, no Centro de Convenções, com o deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ), um dos articuladores da criação do novo partido de Marina. Embora seja considerada uma potencial concorrente do governador, em 2014, ela também é vista como uma possível aliada, já que sua candidatura ainda não é dada como certa. Marina enfrenta dificuldades para construir sua nova sigla e não se sabe se terá fôlego para encarar uma nova corrida presidencial. Seu eventual apoio, no entanto, agregaria valor a Eduardo, tendo em vista que, na última eleição, obteve 20 milhões de votos. Além de levantar a bandeira "verde", prega, assim como ele passou a fazer nos últimos dias, o discurso de "renovação política".

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Oposição reage às declarações de Falcão

Juliana Braga

Os líderes dos partidos de oposição reagiram, ontem, às declarações do presidente do PT, Rui Falcão. Na primeira reunião da bancada petista na Câmara, na quarta-feira, Falcão chamou a mídia de “oposição extrapartidária” e defendeu sua regulamentação. Também apoiou as críticas à atuação do Ministério Público e, em especial, ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Para a oposição, as declarações de Rui Falcão foram motivadas pelo resultado do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF).

“As declarações têm o autoritarismo intrínseco a quem se julga no Olimpo. O PT se julga acima do bem e do mal, achando que pode contestar quem quer que seja porque a opinião pública está com ele, mas não está”, rebateu o presidente do DEM, Agripino Maia. “Ele está querendo, de forma grosseira, desqualificar a oposição, não sei com qual propósito, talvez para aparecer”, alfinetou.

Maia criticou ainda o posicionamento de Falcão, para quem “setores da mídia e do Ministério Público têm agido para tentar desqualificar a política”. “A mídia tem colaborado com o interesse nacional. A oposição tem cumprido a sua parte, e o Ministério Público também”, sustentou.

Para o líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), o PT insiste em atacar a mídia e o MP ainda motivado pelo julgamento do mensalão no Supremo, que condenou petistas históricos como o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu e ex-presidente da sigla José Genoino. “Como presidente do PT, ele fala pelas pressões internas daqueles que defendem o mensalão e os mensaleiros”, pontuou. “É o tipo de argumento que vai contra a democracia, onde há liberdade de expressão e instituições fortes.”

Campanha antecipada

Já o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias, criticou as declarações sobre a antecipação da campanha de 2014. Falcão acusou a oposição de antecipar o pleito e que o PT não cairá nesse jogo, que encurtaria o mandato da presidente Dilma Rousseff. “Quem antecipa é o governo. Esse encontro de prefeitos foi uma campanha eleitoral antecipada, o pronunciamento sobre a redução da tarifa de energia, esse anúncio de que o (ex-presidente) Lula fará marcha pelo país, isso tudo é antecipação da campanha eleitoral”, rebateu. “Eles querem antecipar, mas não querem concorrência”, criticou o senador tucano.

Fonte: Correio Braziliense

Dilma resiste a pressão do PT e evita regular mídia

Ex-ministro Franklin Martins, que tratou de tema sob Lula, reuniu-se com presidente; Planalto deixa proposta na gaveta

João Domingos

BRASÍLIA - Mesmo pressionada por setores do PT e pelo ex-ministro da Comunicação Social do governo Lula Franklin Martins, a presidente Dilma Rousseff pretende manter na gaveta a proposta que cria mecanismos para o controle dos meios de comunicação, informaram auxiliares do governo.

Segundo eles, Dilma não está sensibilizada com o esforço feito pelo presidente do PT, Rui Falcão, e por uma ala do partido comandada pelo ex-ministro José Dirceu, que insiste na regulação da mídia. Na quarta-feira, durante reunião com deputados do PT, em Brasília, Falcão atacou a mídia e acusou setores do Ministério Público Federal de atuação política, dizendo que eles fazem a “real oposição” ao governo. O PT promete insistir no tema da regulação ao longo do ano.

As palavras do presidente do PT foram ditas um dia depois de a Procuradoria-Geral da República confirmar que encaminhará à primeira instância as acusações do publicitário Marcos Valério contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No depoimento ao procurador-geral Roberto Gurgel, em setembro, Valério chegou a dizer que o esquema do mensalão pagou despesas pessoais de Lula.

Visita. A decisão da presidente de não mexer no projeto de controle da mídia ocorre também um dia depois de receber a visita do ex-ministro Franklin Martins, autor da proposta, entregue durante o final do governo de Lula. Franklin não quis dar detalhes da conversa com a presidente.

“O assunto de uma audiência é exclusivo da presidente Dilma, de quem sou amigo e com quem converso sempre, quase todos os meses”, disse ele ao Estado.

Prioridades do PT. No final do ano, logo depois de ter sido condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção e formação de quadrilha no processo do mensalão, José Dirceu disse que neste ano o PT tem três prioridades: regular os meios de comunicação, fazer a reforma política e provar que o mensalão foi uma farsa. Dirceu e Rui Falcão acusaram os meios de comunicação de terem “pressionado” o Supremo a condenar os réus do mensalão.

O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), afirmou que Falcão age como “pau mandado” de Dirceu quando ataca a imprensa. “Se não existisse a imprensa para dar a conhecer à sociedade as malfeitorias do governo lulopetista, eles (os petistas) já teriam implantado um regime antidemocrático no qual só valeriam suas opiniões e ideias.”

O documento do 4.º Congresso do PT, realizado em 2011, “convoca o partido e a sociedade a lutar pela democratização da comunicação no Brasil, enfatizando a importância de um novo marco regulatório para as comunicações, que, assegurando de modo intransigente a liberdade de expressão e de imprensa, enfrente questões como o controle de meios por monopólios, a propriedade cruzada, a inexistência de uma Lei de Imprensa, a dificuldade para o direito de resposta, a regulamentação dos artigos da Constituição que tratam do assunto, a importância de um setor público de comunicação e das rádios e TVs comunitárias”.

Em 2004 Lula enviou ao Congresso projeto que criava o Conselho Federal de Jornalismo (CFJ). O conselho teria poderes, segundo a proposta, para “orientar, disciplinar e fiscalizar” o exercício da profissão e a atividade de jornalismo.

Diante da repercussão negativa, o governo retirou o projeto de pauta.

Fonte: O Estado de S. Paulo

O delírio totalitário de Rui Falcão – Gazeta do Povo (PR) / Editorial

Ao dizer que a imprensa e o MP abrem espaço para práticas que se assemelham ao nazismo, o presidente do PT ignora que é justamente o seu projeto para a mídia que se assemelha ao programa hitlerista

O deputado estadual paulista Rui Falcão, presidente estadual do PT, já tem um extenso repertório de declarações de cunho totalitário em seu currículo, várias delas inclusive comentadas neste espaço. Mas, anteontem, ele superou-se ao comparar a imprensa e o Ministério Público aos regimes fascistas da primeira metade do século passado. “São esses [imprensa e setores do MP] a quem nominei que tentam interditar a política no Brasil e fazem com que ao mesmo tempo desqualifiquem a política. Quando desqualificamos a política, a gente abre campo para as aventuras golpistas, para experiências que no passado levaram ao nazismo e ao fascismo, que devemos definitivamente afastar do nosso país”, afirmou em reunião da bancada petista na Câmara dos Deputados, em Brasília.

Para justificar a afirmação de que o PT precisa combater imprensa e MP, Falcão usou uma declaração de Judith Brito, hoje diretora da Associação Nacional de Jornais (ANJ). “Sejamos francos: quem é a oposição no Brasil? Há oposição dos partidos políticos, mas há oposição mais forte, mas que não mostra a cara, quando poderia fazê-lo. É o que chamo de oposição extrapartidária, que se materializa numa declaração que a imprensa veiculou de Judith Brito, que disse com todas as letras: ‘como a oposição não cumpre seu papel, nós temos de fazer’. E vem fazendo”, disse o presidente do PT, distorcendo as palavras ditas em 2010 pela então presidente da ANJ. A declaração completa de Judith era a seguinte: “A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A esse direito geral, o contraponto é sempre a questão da responsabilidade dos meios de comunicação. E, obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo”.

É fato que a oposição partidária no Brasil está enfraquecida, não só pelo rolo compressor petista, mas também por escolhas próprias feitas ao longo destes dez anos. Mas está claro que o “papel da oposição” a que Judith Brito se refere é o de fiscalização, não o de política partidária. Mesmo assim, compreende-se a indignação de Falcão com a imprensa e o MP; afinal, sem eles, a legenda que criou o mensalão, o escândalo dos aloprados, o Rosegate e vários outros escândalos menores teria sinal verde para seguir colocando o Estado a serviço do partido.

A data que Rui Falcão escolheu para comparar a imprensa e o MP ao nazismo é emblemática. Exatos 80 anos antes, em 30 de janeiro de 1933, Adolf Hitler se tornava chanceler da Alemanha, levando o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães ao poder – e nem seria preciso lembrar que dali surgiu um dos piores totalitarismos da história. Não se sabe se o presidente do PT estava consciente da coincidência, que aliás não para por aí. Afinal, o ódio de Rui Falcão e de boa parte dos petistas de alto coturno pela imprensa livre encontra paralelo justamente no programa do Partido Nazista, proclamado por Hitler já em 1920. O 23.º dos 25 pontos do programa menciona explicitamente o controle da imprensa, com frases como “Exigimos que se lute pela lei contra a mentira política deliberada e a sua divulgação através da imprensa” e “Os jornais que colidirem com o interesse geral devem ser interditados”. Obviamente, por “interesse geral” se entendiam os interesses do próprio partido, e “mentira política deliberada” era o eufemismo para designar qualquer informação prejudicial ao partido. Daí se conclui que Falcão, ao imputar sobre a imprensa brasileira e o MP a acusação de “abrir campo” para “experiências que no passado levaram ao nazismo”, está apenas adotando a velha estratégia do “acuse-os do que você é”.

Em diversas ocasiões, comentando não apenas afirmações de Rui Falcão, mas também os sucessivos escândalos em que o PT está envolvido, esta Gazeta do Povo lembrou que há muitos petistas comprometidos com a ética e a moralidade no trato com a coisa pública, e ressaltou a importância de essas pessoas se manifestarem. O presidente do PT dá, agora, outro pretexto para que os petistas que valorizam uma imprensa e um Ministério Público livres e independentes se façam ouvir e deixem claro que discordam do chefe da legenda. É justamente a omissão dos bons militantes que permite que o partido seja dominado pelas maçãs podres, aquelas que acabam contaminando todo o cesto.

Disputa acirrada no PT - O Estado de S. Paulo / Editorial

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro José Dirceu e o presidente do PT, Rui Falcão, para seguir a efetiva ordem de importância de cada um na hierarquia da agremiação, parecem ter tirado o dia, anteontem, para disputar entre si um acirrado torneio de primarismo, descaramento e mistificação. Em Cuba, participando de um daqueles convescotes ideológicos cheios de ar quente e vazios de ideias - no caso, uma "Conferência pelo Equilíbrio Mundial", no Palácio de Convenções de Havana -, Lula demonstrou surpreendente sintonia com o espírito já um tanto fanado da new age, ao pedir ao público que mandasse "energia positiva" para o caudilho venezuelano Hugo Chávez. Se ele porventura superar as sequelas da operação a que se submeteu na ilha em meados de dezembro para extirpar o câncer de que padece, Lula bem poderá se gabar de haver contribuído para a sua miraculosa recuperação. Pelo menos seria coerente com a sua propensão a tratar de proezas alheias como se delas fosse o autor.

Mas o apelo ao despacho de energia cósmica para revigorar o autocrata de Caracas até que passa, com um pouco de caridade. O que fica é o exemplo confeccionado por Lula para a ocasião, a fim de ilustrar a sua enésima diatribe contra as "elites" em geral e a imprensa em particular por seu suposto "ódio" contra Chávez, a argentina Cristina Kirchner, o uruguaio Pepe Mujica e o boliviano Evo Morales pelo bem que fariam aos pobres. (Ele omitiu o equatoriano Rafael Correa.) "No Brasil", afirmou, voando baixo, "a imprensa não suporta que os pobres viajem de avião." O que os viajantes, ricos, remediados ou pobres, não suportam - e o que a imprensa denuncia - é a situação dos obsoletos aeroportos brasileiros, que o lulismo no poder não cuidou de apetrechar para o aumento do número de voos e passageiros. A mídia, a mesma que o ajudou a decolar do sindicalismo para a grande política - como certa vez, em um momento de franqueza, ele admitiu -, é o bode expiatório de há muito escolhido para livrar o PT do acerto de contas com seus próprios malfeitos.

Desde o julgamento do mensalão, ela tem a companhia da Justiça. O Supremo Tribunal Federal (STF), que impôs aos mensaleiros penas compatíveis com o crime de lesa-República que se esbaldaram em cometer, e o titular do Ministério Público Federal, Roberto Gurgel, por ter encaminhado à instância adequada as acusações do publicitário Marcos Valério contra Lula, em vez de lançá-las ao lixo, capitaneiam a "ofensiva da direita contra o nosso projeto político", nas palavras de Dirceu (10 anos e 10 meses de prisão, além de multa de R$ 676 mil). Em um ato da CUT, no Rio, "pela anulação do julgamento do mensalão", o mensaleiro-chefe acusou o STF de violar os direitos individuais e a democracia. No seu vale-tudo mental, atribuiu o noticiário da imprensa sobre as mazelas dos políticos ora à intenção de "amanhã dar um golpe", ora à intenção de inibir o Congresso de regular a mídia. Às vezes, nessas horas, a verdade assoma em meio à fabulação. No caso, a pouca vontade do próprio PT em mobilizar as massas para a defesa dos mensaleiros.

"Aonde (sic) estão os nossos?", perguntou retoricamente Dirceu para se queixar de que ninguém "foi para a tribuna denunciar" a decisão de Gurgel de dar curso às denúncias de Marcos Valério. Por sua vez, Andréa Haas, mulher do condenado ex-dirigente do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato (14 anos, 8 meses, R$ 1,3 milhão), pediu aos companheiros "que não sejamos esquecidos, como até hoje fomos". Não será o desalento petista que motiva as exortações de Dirceu e a campanha que promete encetar contra o STF? Não será também o que leva o deputado Rui Falcão a abrir ao máximo a sua "torneira de asneiras", como fazia a boneca Emília das histórias de Monteiro Lobato? São tantas que não é fácil escolher a que merece ir ao pódio. Entre a imputação ao Ministério Público de ter "atuação partidária" e o imperativo de combater a oposição "sem cara, mas com voz" que "tenta interditar a política no Brasil", o Oscar vai para esta obra de arte: "Quando desqualificamos a política (…), a gente abre campo para experiências que, no passado, levaram ao nazismo e ao fascismo" (apud, Rui Falcão).

Os 21 anos de existência do PPS - Roberto Freire

Herdeiro do Partido Comunista Brasileiro (PCB), o Partido Popular Socialista (PPS) nasceu em 26 de janeiro de 1992, no Teatro Záccaro, em São Paulo, por decisão majoritária de 2/3 dos delegados em um congresso que reuniu não apenas dirigentes e militantes comunistas, mas também simpatizantes com concepções políticas afins, filiados ou não a agremiações partidárias.

Por ser produto de uma visão diferenciada que a esquerda brasileira tinha sobre a melhor forma de atuação, o PPS surgiu com a perspectiva de construir uma nova formação política dentro de uma outra realidade do mundo, já que a experiência do socialismo real havia chegado ao fim.

Logo fomos convidados a participar da construção do curto, mas exemplar, governo do presidente Itamar Franco, pelo qual atuei, com muita honra, como líder na Câmara dos Deputados.

Foi uma rica experiência de um governo de centro-esquerda que deixou uma marca histórica no país, ao criar as bases de uma gestão democrática, republicana e reformista. Foi na gestão de Itamar que se forjou o Plano Real, colocando fim à inflação galopante que atormentava os brasileiros.

Nas eleições presidenciais seguintes, em 1994, apoiamos a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva e, a partir de 1995, fizemos oposição construtiva ao presidente Fernando Henrique Cardoso, reivindicando a realização de reformas estruturais e defendendo uma composição menos conservadora na sustentação de seu governo.

Em 1998, lançamos candidatura própria, com Ciro Gomes, e apresentamos aos brasileiros uma proposta de um projeto para um Novo Brasil, obtendo mais de 10% dos votos, o que se repetiu na eleição de 2002.

No 2º turno daquele pleito, apoiamos Lula. Mesmo fazendo parte do primeiro escalão do governo Lula inicialmente, o apoiávamos de forma crítica e exigente.

Tanto que, após dois anos, rompemos com o governo por entender que o PT e Lula não tinham o projeto de mudar o Brasil e queriam apenas a manutenção do poder a qualquer preço.

O escândalo do mensalão, recentemente julgado de forma exemplar pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mostrou que nossa opção foi correta.

Partido que se inspira na herança humanista, libertária e solidária dos movimentos sociais e das lutas dos trabalhadores no Brasil e em todo o mundo, e que não usa o povo, mas se propõe a funcionar como instrumento para que cada cidadão seja sujeito de sua própria história, o PPS procura ser plural e aberto à participação dos que acreditam que é possível a todos os seres humanos viverem livremente e em igualdade.

Às vésperas de mais uma eleição presidencial, que acontecerá em 2014, o PPS renova seu compromisso histórico com o legado da ética na política e se apresenta à sociedade brasileira como real alternativa da esquerda democrática, em oposição ao desgastado, ineficiente e corrupto modelo lulo-petista.

Com firmeza de princípios, decência e coerência inegociáveis, além de uma inequívoca vocação para profundas transformações, nosso partido acredita na construção de um novo caminho para que o Brasil se torne um país mais digno e justo. Este é nosso desafio e nossa missão.

Roberto Freire é Deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Fonte: Brasil Econômico

300 picaretas e uma pá de cal - Fernando Gabeira *

Num dos meus primeiro mandatos de deputado federal defendi na tribuna da Câmara Os Paralamas do Sucesso, acusados de caluniar o Congresso Nacional com a música Luís Inácio (300 picaretas). 

Os primeiros versos diziam: "Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou/ são trezentos picaretas com anel de doutor".

Defendi-os em nome da liberdade de expressão. Não concordava inteiramente com Lula. Talvez fossem 312 ou 417. Reconheço que 300 é um número redondo, mais fácil de inserir nos versos de uma canção popular. Além do mais, nem todos têm anel de doutor. Mas isso são detalhes. O mais importante é registrar que estávamos na véspera da chegada do PT ao governo federal, início da era do "nunca antes neste país". E aonde chegamos, agora, uma década depois?

Renan Calheiros deve assumir a presidência do Senado, Henrique Eduardo Alves, a da Câmara e o deputado Eduardo Cunha, a liderança do PMDB. Caso se concretizem, esses eventos representam um marco na História do Congresso. Significa que, para muitas pessoas informadas, o Congresso deixa de existir. É o fim da picada...

Conheço os passos dessa estrada porque transitei nela 16 anos. O mensalão significa o ato inaugural, a escolha do tipo e da natureza de alianças políticas do novo governo. O mensalão significa a compra de votos dos partidos, uma forma de reduzir o Congresso a um balcão de negócios. Em seguida vieram as medidas provisórias (MPs). Governar com elas é roubar do Congresso tempo e energia para seus projetos. A liberação das emendas parlamentares era a principal compensação pelo espaço perdido.

Mas deputados e senadores não cedem o espaço porque são bonzinhos ou temem o governo. As MPs são uma forma simplificada de o governo realizar seu objetivo. Os parlamentares tomaram carona nesse veículo autoritário. E inserem as propostas mais estapafúrdias no texto das MPs. Com isso querem aprovar suas ideias sem o caminho democrático que passa por debates em comissão, audiências públicas, etc.

Na Câmara essas inserções oportunistas são chamadas de jabuti. O nome vem da frase "jabuti não sobe em árvore, alguém o coloca lá". O nome jabuti pressupõe que há interesses econômicos diretos por trás de cada uma dessas emendas.

A perda de espaço para o governo não é o problema, desde que todos os negócios continuem fluindo, das MPs às emendas ao Orçamento. O espaço não interessa, o que interessa é o dinheiro. Espaço por espaço, o Congresso já abriu uma grande avenida para o Supremo Tribunal Federal julgar casos polêmicos, como aborto e união gay.

Os negócios, como sempre, são o centro de tudo. Negócios, trambiques, maracutaias e, como diziam Os Paralamas em 2003, "é lobby, é conchavo, é propina e jeton". Uma década depois, vendo o Congresso idêntico à sua caricatura, pergunto quando é que nos vamos dar conta dessa perda, desse membro amputado de nossa anatomia democrática.

A saída da minoria - chamada, com uma ponta de razão, de Exército Brancaleone - foi pressionar por dentro e estabelecer uma tensão entre ala e a opinião pública. Na definição do voto aberto para cassar deputados, vencemos o primeiro turno porque a imprensa e eleitores estavam de olho. 

Vitória esmagadora, contra apenas três abstenções. Agora até esse caminho está bloqueado. Todos os dispositivos internos foram reforçados e passaram a impedir tais votações. Com a cumplicidade do PT, os piores elementos foram ascendendo aos postos estratégicos e agora o esquema chega ao auge, com a escolha de Calheiros e Alves.

De um lado, interessa-me avaliar como será o futuro do País sem um Congresso que possa realmente ser chamado por esse nome. De outro lado, um olho na saída. Não sei se repetiria hoje a campanha contra Renan, os cartazes com chapéu de cangaceiro e a frase: "Se entrega, Corisco". Nem se gostaria de ver de novo aqueles bois se deslocando pelos campos alagoanos para as terras de Renan, para comprovar que era dono de muitas cabeças de gado. O ideal, hoje, seria poupar os bois dessa nova viagem inútil. Passar o vídeo, criar uma animação, substituir toneladas de carne de boi por milhões de pixels.

Henrique Alves destinou dinheiro a uma empresa fantasma de um assessor dele. No lugar deserto onde a empresa funcionava havia apenas um bode, chamado Galeguinho. O bode foi dispensado depois de sua estreia. Os bois mereciam o mesmo. "Parabéns, coronéis, vocês venceram", diz a letra de Luís Inácio. Deixaram-nos monitorando bois de helicóptero e pedindo ao bode que nos levasse ao gerente da empresa.

Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou. Mas foi o primeiro a passar para o lado deles e a contribuir com algumas novas espécies para a fauna já diversa que encontramos em 2003.

A vitória dos cavaleiros do apocalipse recoloca a urgência de salvar o Congresso dele mesmo. A maneira de potencializar o trabalho da minúscula oposição é a maior transparência possível e uma ajuda da opinião pública. A partir dessa vitória, Calheiros, Alves e seus eleitores no Parlamento dizem apenas à sociedade: somos assim, e daí? Depois do descanso merecido, o bode que é o porteiro da empresa favorecida por Alves deveria ser colocado na porta do Congresso.

É impensável que 300, 312 ou 417 - não importa o número exato - picaretas enfrentem o Brasil sem uma represália dura. O espírito do "eles lá, nós aqui", de distância enojada, no fundo, é bom para eles, que querem total autonomia para seus negócios. Será preciso mostrar que toda essa farsa é patrocinada pelo dinheiro público. E que sua performance será amplamente divulgada agora e no período eleitoral. O instinto de sobrevivência da instituição não existe. Mas o do político é muito grande. É preciso que ele sinta o desgaste pessoal produzido por suas escolhas.

Muitas pessoas vão trabalhar nisso, cada uma no seu posto, às vezes em manifestações. A eleição direta para presidente foi uma conquista. A perda do Congresso para o ramo dos secos e molhados é uma dolorosa ferida em nossa jovem democracia.

Nós demos um boi para não entrar nessa luta. Daremos um bode para não sair dela.

* Fernando Gabeira é jornalista.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Sem argumentos - Merval Pereira

O melhor argumento do senador Renan Calheiros para o retorno à presidência do Senado, sete anos depois do escândalo que o apeou do mesmo cargo, era que já havia sido absolvido pelo Conselho de Ética e que nenhuma denúncia da época havia prosperado, por falta de base. Era inocente, portanto, e tinha o caminho livre para reassumir o cargo que lhe fora tirado indevidamente.

Essa conversa ainda poderia prosperar se o procurador-geral da República não o denunciasse criminalmente, poucos dias atrás, justamente pelas provas que apresentou para justificar a capacidade de pagamento de uma pensão alimentícia de um filho fora do casamento. Com notas de vendas de gado, que estão sendo apontadas como frias, Calheiros queria provar que não precisava pedir a um lobista amigo ligado à empreiteira Mendes Júnior para pagar a pensão de seu filho, conforme a acusação original. Estamos, portanto, de volta à estaca zero. As mesmas denúncias que levaram o senador alagoano a renunciar à presidência do Senado poderão transformá-lo em réu de ação criminal, o que virtualmente o impediria de continuar presidindo a Casa. Ao menos nunca houve caso desses para se contar.

Até ser denunciado pelo procurador-geral da República, Renan Calheiros tinha um discurso bem montado, que previa superar as desconfianças generalizadas fazendo uma administração "transparente" no Senado. No entanto, com as acusações contra ele retornando ao centro do cenário político, o mais difícil para ele será ser "transparente".

Tanto que até hoje, dia da votação, não anunciou oficialmente que é candidato, embora tenha negociado com os partidos, por baixo dos panos, a composição da Mesa Diretora. E teve que recorrer a um expediente restritivo para impedir que seus pares se pronunciassem na hora da votação. Apenas os candidatos poderão fazer discursos, e os senadores dissidentes pretendem se anunciar candidatos para ter possibilidade de registrar seus protestos. Na internet, no entanto, já são quase 300 mil assinaturas contra sua indicação. Mesmo que aleguem que o regimento interno determina que a eleição ocorra assim, não é tradição do Senado impedir que qualquer de seus membros se pronuncie, o que prenuncia uma gestão que começa tendo de se utilizar de métodos autoritários para poder se impor.

Dificilmente Renan Calheiros terminará seu mandato novamente, pois no decorrer das investigações - se o STF aceitar a denúncia - surgirão fatos novos que o colocarão permanentemente em primeiro plano, e não por motivos nobres. Ao mesmo tempo, sua candidatura deu à oposição oportunidade de exercer sua função, mesmo que aparentemente a contragosto. O PSDB viu-se acuado pela opinião pública a se mover em direção oposta à candidatura oficial, apoiando a dissidente de Pedro Taques (PDT). Mas o fez principalmente para se igualar ao PSB, que saiu da candidatura oficial da base como mais um passo para criar um espaço próprio de atuação.

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, passou a fazer críticas diretas à preponderância do PMDB na coligação oficial, dando a impressão de que disputa com ele essa posição, realçada pela vice-presidência da República. Mas o governador deixa claro com quem conversa que não está em busca de um cargo, mas de uma posição política mais independente. Da mesma maneira trata a candidatura dissidente na Câmara do socialista Júlio Delgado, que não tem chance de vencer, mas serve para marcar uma posição também naquela Casa. Os primeiros movimentos para a sucessão presidencial foram feitos pela presidente Dilma Rousseff, que se adiantou não só para controlar os que, dentro do PT, querem a volta de Lula como para constranger seus aliados, especialmente o PSB.

Mas o efeito foi contrário, e Campos sentiu-se desimpedido para colocar-se em campo, sem ainda ter oficializado sua candidatura, mas cada vez construindo-a com mais afinco. Atribui-se ao ex-presidente Lula manobra que poria Campos na vice da chapa de Dilma e daria ao PMDB a chance de concorrer ao governo de São Paulo com o PT na vice. É uma armação política engenhosa, que testará a real intenção do governador de Pernambuco.

Fonte: O Globo

Bicho criado em casa - Dora Kramer

O PT faz acordo para levar um denunciado e um investigado pelo Ministério Público às presidências do Senado e da Câmara, financia partidos para atraí-los à base governista, correligionários de altas patentes são condenados à prisão e, segundo o presidente do partido, a "oposição apartidária" é que desmoraliza a política. Que tal?

Isso para falar do presente, sem contar o passado de uma vida dedicada a desancar Deus, o mundo e seu Raimundo. Os correligionários de hoje eram os "picaretas", "ladrões" e "bandidos"de ontem, contra os quais o PT prometia combate ferrenho quando, e se, chegasse ao poder.

Pois há dez anos chegou e é o que se vê: não bastasse se aliar, festeja os piores tipos, elevando o que antigamente formava o baixo clero à condição de cardinalato do Congresso.

E com a tranquilidade dos puros, mas a sagacidade dos astutos, Rui Falcão, o presidente do PT, acusa Ministério Público e meios de comunicação independentes de tramarem contra a atividade política.

Oferece lições que dariam ensejo a preocupações quanto à sanidade do professor, não flertassem firmemente com o ridículo. Diz Falcão: "São esses a quem nomeei que tentam interditar a política no Brasil. Quando desqualificamos a política a gente abre espaço para aventuras golpistas. A gente abre espaço para experiências que no passado levaram ao nazismo e ao fascismo".

Faltou acrescentar um fator essencial na desconstrução do valor democrático numa sociedade: o populismo (ovo da serpente do autoritarismo), ao qual o PT se dedica com afinco no estímulo ao culto da personalidade e à desmoralização da massa crítica.

A ofensiva é clara: o petista ataca a "oposição apartidária" porque sabe que a partidária está dominada, nas cordas, sem força para preservar o indispensável exercício do contraditório sem o qual restam o silêncio, a concordância, a eliminação do debate, a alternância.

E o objetivo é esse mesmo: exercer o poder sem ser contraditado em nada e por coisa alguma, a fim de que apenas a voz do poder da vez prevaleça.

O PT, contudo, deve tomar cuidado com seus impulsos de eliminação porque, quando não há oposição de lado algum, as posições antagônicas tendem a nascer e a crescer dentro da situação. E aí, alertam os que já viveram essa situação em passado não muito distante - mais especificamente no governo Fernando Henrique, personificada na figura de Antonio Carlos Magalhães - instala-se um verdadeiro inferno.

É hoje o dia. O Senado, que é um pálido retrato do que já foi e agora caminha rumo ao lixo da História, perde autonomia, autoridade moral e também legitimidade na representação dos Estados.

Há 21 suplentes entre os 81 parlamentares da Casa. É isso: um quarto do Senado exerce mandato sem ter recebido um voto.

A suplência ali é composta por dois nomes indicados pelo titular da chapa e escolhidos entre amigos, parentes e financiadores de campanha que não passam pelo crivo das urnas.

Na maioria dos casos assumem a cadeira devido a licenças pedidas para garantir ao substituto biônico uma temporada no paraíso.

Compressor. O líder do governo no Senado, Eduardo Braga, lá por meados do segundo semestre de 2012 chegou a pensar seriamente em concorrer à presidência da Casa.

Chegou a fazer algumas consultas informais sobre sua chance contra o desejo de Renan Calheiros de voltar. Hipótese, na ocasião, que aos de bom senso parecia absurda.

Braga é ovelha desgarrada do grupo de senadores independentes do PMDB que resiste a se entregar ao Palácio do Planalto e à dupla Calheiros-Sarney.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Saudade do dr. Ulysses - Eliane Cantanhêde

O PMDB mantém hoje o terceiro cargo na linha sucessória (presidência do Senado) e ganha o segundo (a da Câmara) na próxima segunda-feira, mas pode começar a perder o primeiro (a Vice-Presidência da República) a partir da terça.

Reportagem de Natuza Nery, ontem na Folha, dá contornos ao mapa que Lula desenha para as eleições de 2014 e aponta uma linha cruzada: Michel Temer sai da Vice-Presidência e Gabriel Chalita entra na cabeça de chapa para destronar os tucanos do governo de São Paulo. O PMDB trocaria a vice pelo Bandeirantes.

Tudo para pôr Eduardo Campos (PE) na vice e explodir sua pretensão de sair da base aliada para se lançar candidato contra Dilma. Ele é o eixo sobre o qual todos os demais atores de 2014 se movem.

A construção não parece nada fácil, com resistências de todos os lados, a começar dos principais interessados: PT, PMDB, Temer e Campos. Mas as histórias das candidaturas de Dilma Rousseff ao Planalto e de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo desautorizam o descrédito de analistas e o desdém dos que sonham com o Bandeirantes. Quando Lula quer, Lula pode.

Ele sabe que Campos, a favor, quebra o maior galho, mas, contra, vira um problemão. Tanto que é disputado a tapa por Dilma, a favorita, e por Aécio Neves, virtual nome do PSDB. Com uma diferença: os petistas têm muito mais cacife para segurar Campos do que os tucanos para atraí-lo.

Mas, ao admitir trocar Temer (e o PMDB) por Campos (e o PSB), Lula eleva o passe do pernambucano à estratosfera. Com chance de ser vice da chapa mais forte, por que ele aceitaria ser na mais fraca? A ideia de ser vice de Dilma pode até lhe dar a chance de tentar inverter a chapa de oposição para Campos-Aécio.

Dê o que dê a roleta de Lula, o PMDB é vencedor. Deve ter o Senado com Renan, a Câmara com Henrique Alves e -dúvida atroz- disputar a Vice-Presidência ou o governo de São Paulo. E seja o que Deus quiser.

Fonte: Folha de S. Paulo

Produção industrial tem queda de 2,7% em 2012, a primeira desde a crise

O resultado do ano passado é o primeiro negativo desde 2009; na comparação entre os meses de dezembro e novembro, a atividade da indústria ficou estável

Daniela Amorim e Fernanda Nunes

RIO - Em 2012, a produção da indústria acumulou queda de 2,7% divulgou nesta sexta-feira, 1, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este é o primeiro resultado negativo desde a queda de 7,4% em 2009, ano em que a indústria ainda sofria com os efeitos mais intensos da crise internacional.

Nos dois últimos anos, o resultado da atividade industrial foi positivo: acréscimo de 0,4% em 2011 e avanço de 10,5% em 2010.

Setores

O instituto informou que, em 2012, a queda da produção industrial foi generalizada. Todas as categorias de uso, 17 dos 27 ramos, 50 dos 76 subsetores e 59,5% dos 755 produtos investigados registraram resultados negativos. A maior influência negativa partiu dos veículos automotores (-13,5%), com destaque para a redução na fabricação de caminhões, caminhão-trator para reboques e semi-reboques, chassis com motor para caminhões e ônibus, motores diesel para caminhões e ônibus, autopeças e veículos para transporte de mercadorias.

Já entre as dez atividades que avançaram no ano, a principal influência sobre o total da indústria ficou com refino de petróleo e produção de álcool (4,1%), outros produtos químicos (3,4%) e outros equipamentos de transporte (8,5%), impulsionados principalmente pela maior fabricação de gasolina automotiva, óleo diesel e outros óleos combustíveis no primeiro ramo, herbicidas para uso na agricultura no segundo e aviões no último.

Entre as categorias de uso, o IBGE ressaltou que o ano passado foi marcado por um dinamismo menor de bens de capital (-11,8%) e dos bens de consumo duráveis (-3,4%), por causa da retração na produção de bens de capital para transporte, bens de capital de uso misto e bens de capital para construção, no primeiro segmento. No caso de duráveis, os destaques negativos foram telefones celulares, motocicletas, fornos de micro-ondas, relógios, televisores, ventiladores, aparelhos de ar-condicionado e automóveis.

A produção de bens intermediários recuou 1,7%, demonstrando uma queda menos intensa do que a média da indústria, enquanto a de bens de consumo semi e não duráveis (-0,3%) obteve resultado negativo mais moderado, assinalou o IBGE.

Dezembro

No mês de dezembro a produção industrial ficou estável com relação a novembro (0%), na série com ajuste sazonal. Na comparação com dezembro de 2011, a produção industrial caiu 3,6%. Nesta comparação, as estimativas foram de queda de 1,80% a 6,20%, com mediana negativa de 4,70%.

Na passagem de novembro para dezembro, 14 dos 27 ramos investigados apontaram queda na produção. As principais perdas foram verificadas em máquinas e equipamentos (-4,5%) e máquinas para escritório e equipamentos de informática (-13,1%).

Outras contribuições negativas foram de veículos automotores (-1,0%), metalurgia básica (-1,9%), bebidas (-2,5%), equipamentos de instrumentação médico-hospitalar, ópticos e outros (-8,0%), celulose, papel e produtos de papel (-1,2%) e calçados e artigos de couro (-4,3%).

Na direção contrária, entre as 12 atividades que ampliaram a produção, os destaques foram as indústrias extrativas (2,8%), farmacêutica (3,7%), outros equipamentos de transporte (4,2%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (4,6%), vestuário e acessórios (10,0%), edição, impressão e reprodução de gravações (2,5%) e minerais não metálicos (2,2%).

Semestres

A produção industrial foi melhor no segundo semestre de 2012 do que no primeiro. A queda da produção no período de janeiro a junho foi de 3,8%. No segundo semestre, a produção caiu de 1,6%. Ambos os resultados referem-se a iguais períodos do ano anterior.

AE Projeções

As projeções para 2012 foram de recuo entre 2,70% a 2,90%, com mediana negativa de 2,80%. O resultado de dezembro veio acima da mediana das expectativas dos analistas ouvidos pelo AE Projeções, de uma taxa negativa em 0,40%. Ainda assim, o resultado está dentro do intervalo projetado, que ia de uma queda de 1,50% a uma alta de 0,40%.

Revisão

O IBGE revisou a produção industrial de novembro ante outubro, que passou de uma queda de 0,6% para um recuo de 1,3%. A taxa de outubro ante setembro também foi revisada, de +0,1% para +0,6%. A taxa de setembro ante agosto saiu de -0,7% para -0,8%, enquanto a de agosto ante julho passou de +1,5% para +1,6%.
A produção de bens de capital também sofreu revisão, saindo de uma taxa de -1,1% para -0,6% em novembro ante outubro. A taxa de setembro ante agosto passou de -0,9% para -1,0%.

Fonte: O Estado de S. Paulo

A política econômica da reeleição - Rogério Furquim Werneck

A política econômica de 2013 estará pautada pela corrida contra o tempo em que agora está empenhada a presidente, tendo em conta que, em 15 meses, se verá na cabeceira da pista da reeleição. Dilma Rousseff sabe que, como o desempenho da economia na primeira metade do mandato foi altamente decepcionante, seu grande desafio é conseguir mostrar, em tempo hábil, melhora substancial desse desempenho. Para poder visualizar o fio condutor da política econômica em 2013, é preciso entender com clareza o cálculo político envolvido nesse desafio.

Dilma Rousseff sabe que a reeleição depende de avaliações favoráveis de sua performance em dois foros distintos. A avaliação mais óbvia, claro, é a que deverá ser feita pelo eleitorado em outubro de 2014. Mas, bem antes disso, a presidente terá de obter avaliação favorável dentro do próprio PT e junto à base aliada. O desempenho da economia nos últimos dois anos disseminou desalento com o projeto da reeleição. Certos segmentos do PT, e da própria base aliada, já não escondem sua preocupação com os riscos que poderiam estar envolvidos na tentativa de reeleger a presidente.

Sobram evidências de que boa parte do senso de urgência que se observa no governo, quanto à melhora de desempenho da economia, decorre da necessidade de convencer o PT de que a reeleição é um projeto menos arriscado do que agora pode parecer. Analistas políticos sugeriram que o tom de comício que marcou o pronunciamento oficial da presidente, para anunciar a redução de tarifas de energia elétrica, teria sido mais voltado para o público interno do PT do que para o País como um todo. Chegou até a ser noticiado ("Valor", 24/1), que a presidente se viu obrigada a esclarecer a um interlocutor no Planalto: "Meu mandato é de oito anos."

No pronunciamento oficial, Dilma Rousseff afirmou em tom de desafio que é "a presidente que corta juros, reduz tarifa e protege as pessoas". O que ainda lhe falta é poder alardear também que é a presidente que faz o País crescer. Sem isso, vai ser difícil convencer o PT de que a reeleição é a solução natural. Perceber que esse é o grande desafio que a presidente tem pela frente é a chave para entender o que deverá nortear a condução da política econômica de 2013.

De acordo com a Pesquisa Focus, do Banco Central, a expectativa hoje dominante é a de que a taxa de crescimento do PIB em 2013 seja de 3,1%, que, à primeira vista, parece bastante razoável. Mas o que talvez não esteja sendo devidamente percebido é que uma expansão da economia da ordem de 3% neste ano parece muito aquém do que Dilma Rousseff precisa mostrar para convencer o PT de que não vai precisar de um plano B para 2014. E mais aquém ainda do que seria necessário para dissuadir a fragmentação da base aliada e permitir à presidente disputar a reeleição com tranquilidade. É improvável que uma expansão de 3% possa vir a ser apresentada como evidência convincente de quebra do regime de crescimento entravado de 2011-12. Com esse desempenho em 2013, a taxa anual média de crescimento do PIB no primeiro triênio do mandato será de apenas 2,2%.

Essa constatação leva a uma conclusão inescapável. Tudo indica que o Planalto terá grande resistência a trabalhar com uma meta de crescimento do PIB da ordem de 3% em 2013. Tendo em conta o cálculo político que deverá pautar a condução da política econômica nos próximos meses, o governo estará fortemente tentado a apostar todas as suas fichas na tentativa de assegurar uma taxa de crescimento do PIB bem mais alta em 2013.

Não obstante todas as advertências - agora, até mesmo do Banco Central - de que, dadas as restrições do lado da oferta, tal aposta poderá ter consequências funestas, tudo indica que o governo está pronto para partir para o tudo ou nada, numa grande escalada de estímulo à demanda. No balanço dos riscos envolvidos, a presidente, na situação difícil em que se encontra, tem razões para se deixar convencer de que os benefícios esperados da aposta superam os custos por larga margem.

Rogério Furquim Werneck é economista e professor da PUC-Rio.

Fonte: O Globo