sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Luiz Sérgio Henriques - Gramsci

Poder-se-ia explicar a difusão brasileira de Gramsci como um mero capítulo da enorme difusão dos seus trabalhos em todo o mundo, o que não estaria longe da verdade, embora não esgote a questão. De todo modo, seria uma explicação mais plausível do que a fornecida por uma extrema-direita ideológica que ainda luta a guerra fria e vê em Gramsci a fonte de uma estratégia insidiosa e solerte, a solapar os valores tradicionais, mudando-os sem que ninguém perceba. Nada a fazer, a democracia admite opiniões de todo tipo, mesmo as que parecem desajuizadas (à direita e à esquerda, diga-se passagem).

Mais sensato seria ver que a presença moderna de Gramsci entre nós remonta aos anos 1960 e 1970, quando passou a ser sistematicamente veiculado por intelectuais majoritariamente ligados ao velho partidão. A Editora Civilização Brasileira, de Ênio Silveira, e personalidades como Carlos Nelson Coutinho, Leandro Konder e Luiz Mário Gazzaneo, fizeram circular na esquerda o pensamento de um marxista que tentava compreender - e valorizar - as estruturas "ocidentais" da política e da sociedade. Um marxista que, lido dessa forma, parecia desautorizar as ilusões da esquerda armada, que se batia contra o regime - bravura pessoal à parte - segundo uma estratégia que só tinha como consequência reforçar o aparelho repressivo.

Luiz Sérgio Henriques. Vice-presidente da Fundação Astrojildo Pereira, é um dos organizadores das Obras de Gramsci no Brasil. Gramsci, aqui e agora. Monitor Mercantil, 24/1/2013

Manchetes de alguns dos principais jornais do país

O GLOBO
O dia seguinte: BC diz que luz cairá 11% em média no ano
Para PSDB, já é campanha
Saúde da Família: Projeto no Rio não deslancha
Museu do índio: Ministra pede tombamento
Importação de mão de obra

FOLHA DE S. PAULO
Dívida de Itaipu vai pagar desconto na luz, diz governo
FMI diz estar inseguro sobre retomada do PIB brasileiro
Hospitais limitam a participação de ajudante no parto
Viciado pede internação, não consegue e volta a fumar crack
10 razões para amar e odiar São Paulo

O ESTADO DE S. PAULO
Tesouro arcará com R$ 8,5 bi para garantir corte na conta de luz
Oposição ataca uso político de anúncio
Dilma muda Caixa para abrigar aliados de Kassab
Gasolina subirá 5%, prevê BC
Sem-terra deixam sede do Instituto Lula
Embraer faz negócio de US$ 4 bi nos EUA

VALOR ECONÔMICO
Déficit ameaça o caixa de distribuidoras de energia
BC vê limite na expansão da oferta
Menos gastos com seguro-desemprego
Novos ares
Previsão de lucro menor nos bancos
A cada mês sem reajuste, Petrobras perde R$ 1,8 bi

BRASIL ECONÔMICO
Para mercado, BC pode aumentar taxa básica de juros ainda este ano
Dilma afirma que pior fase da crise mundial já passou
Seminário Brasil Econômico

CORREIO BRAZILIENSE
Oposição acusa Dilma de antecipar campanha
Para o BC, luz cai menos e gasolina sobe
Cúpula debate acordo entre Mercosul e UE

ESTADO DE MINAS
Confira como ficará a sua conta de luz, mas torça para São Pedro ajudar
Oposição acusa Dilma de fazer campanha em pronunciamento

O TEMPO (MG)
Tarifa da Cemig terá uma das menores reduções do país
PSDB acusa presidente de usar máquina para reeleição
Sinal aberto para alta na bomba

GAZETA DO POVO (PR)
Um terço das residências de Curitiba não tem calçamento
Corte na conta de luz custará R$ 8,5 bilhões
Secretariado de Richa fica mais político
Dilma estuda aliviar dívidas de municípios

ZERO HORA (RS)
R$ 20 milhões para nada
Mais barata: Veja quanto vai baixar a conta de luz na sua região
Pedágios: Estatal terá dificuldade para manter as rodovias
Controle de pessoal: “A procuradoria não quer ponto”, diz Postal

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Gasolina deve subir 5%
Professor reage contra ação da PCR
Pernambuco vai procurar petróleo
Aracaju

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais do país

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

O dia seguinte - BC diz que luz cairá 11% em média no ano

Custo do Tesouro para reduzir a tarifa chegará a R$ 8,46 bilhões

Queda imediata da conta da Ampla e da Light é de 18%. Ação da Eletrobras cai 7,5%

Um dia após a presidente Dilma anunciar a redução imediata de 18% na tarifa de energia dos brasileiros, o Banco Central estimou que a conta de luz residencial cairá, até o final do ano, em média, 11%. O BC calculou a diminuição considerando, além da queda de 18%, os reajustes e as revisões tarifárias das concessionárias ao longo de 2013. Para garantir a tarifa menor, o Tesouro fará aporte de R$ 8,46 bi, que deverá ser viabilizado por manobra fiscal envolvendo operação de triangulação com o BNDES.

Redução menor na conta de luz

Após Dilma anunciar queda imediata de 18%, BC prevê que, com reajustes, corte será de 11% no ano

Gabriela Valente

BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO - Um dia depois de a presidente Dilma Rousseff anunciar uma diminuição imediata de 18% na tarifa de energia dos brasileiros, o Banco Central (BC) estimou que a redução das tarifas residenciais, no fim das contas, será em média de 11% este ano. A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, divulgada ontem, calculou esta redução já levando em conta a queda de 18% prometida por Dilma e, também, os reajustes e revisões tarifárias que as concessionárias do setor farão ao longo de 2013. O corte de 18% virá a partir de uma série de medidas tomadas pelo governo federal, como redução de encargos e a renegociação das concessões com as empresas do setor, e já está valendo. Entretanto, após esta redução de 18%, serão aplicados às tarifas, ao longo de 2013, os reajustes anuais feitos pelas distribuidoras. No Rio, a Ampla tem reajuste em março e a Light, em novembro.

Analistas de mercado estimam que a redução das tarifas, em média, ficará entre 9% e 14% este ano, após os reajustes das distribuidoras. Além de aliviar, no bolso dos brasileiros, a conta de luz, isso poderá levar a redução de preços de outros produtos, afirmam os especialistas.

- A grande questão é se as empresas vão repassar isso ao consumidor ou se vão preferir aumentar a margem de lucro. Considerando o aumento que houve na mão de obra no ano passado, é alta a probabilidade de que as empresas tendam a recompor margem - diz o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal.

BC prevê alta de 5% na gasolina

Elson Teles, do Itaú Unibanco, prevê que a redução da conta de luz ficará em torno de 10%. Mas ressalta que o tamanho da redução dependerá do quanto será usado de energia térmica. Com a queda no nível dos reservatórios das hidrelétricas, o governo tem acionado as termelétricas, mais caras. Esta visão é compartilhada por Alessandra Ribeiro, da Tendências.

- A redução dos preços vai incentivar o consumo de energia e obrigar o uso de mais térmicas, o que deve encarecer a eletricidade novamente. Por isso, esperamos que no fim de 2013, a redução na conta de luz fique em 9% - diz.

Na ata do Copom, o BC informou ainda que trabalha com possibilidade de alta de 5% na gasolina para o consumidor este ano. Na avaliação do BC, pode haver aumento de preços ao consumidor decorrente da reversão de corte de impostos, pressões nos alimentos, bebidas e no segmento de transportes. Para o BC, por falta de investimentos, o Brasil deve ver altas de preços em segmentos específicos.

Analistas descartam queda de juros este ano

O alerta do BC sobre a forte pressão atual da inflação fez os economistas descartarem nova queda dos juros em 2013. Segundo a ata, deixar a taxa básica (Selic) em 7,25% ao ano, como foi decidido na semana passada justifica-se, porque as incertezas da economia global são "elevadas". E as economias desenvolvidas, afirma o BC, não têm tantas armas para dar fim à crise.

Além disso, o colegiado alega que o crescimento está mais lento do que se imaginava. Nesse ponto, o Copom acrescentou algo novo: disse que a lentidão na atividade econômica deve-se essencialmente a "limitações no campo da oferta", ou seja, falta de produtos por causa de investimentos que não foram feitos.

No cenário central do Copom, a ideia é que a atividade se acelerará e se intensificará o descompasso, em segmentos específicos, entre as taxas de crescimento da oferta e da demanda. Na teoria, isso se transforma rapidamente em inflação. Nas contas do BC, se a Selic fosse mantida estável, a inflação superaria a meta de 4,5% este ano. "Em resumo, o Copom destaca que o balanço de riscos para a inflação apresentou piora no curto prazo e que a recuperação da atividade doméstica foi menos intensa do que o esperado, bem como que certa complexidade ainda envolve o ambiente internacional."

- Com essa ata, o BC falou que tem de voltar ao seu ofício original que é o controle de inflação - afirmou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostin. - Trabalhávamos com uma pequena possibilidade de queda dos juros no segundo semestre, mas descartamos isso depois da ata. Prevemos, ao contrário, que os juros cheguem a 8,75% ao ano ainda em 2013.

Fonte: O Globo

'Dizer que o sistema elétrico é seguro é uma falácia'

Ildo Sauer, professor e Diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP vê dificuldades na implementação, e problemas estruturais na medida

Henrique Gomes Batista

Como o senhor avalia o pacote energético anunciado pelo governo?

O governo não disse que o país tem um modelo energético ruim, que é caro apesar da qualidade dos ativos naturais, humanos e tecnológicos que possuímos. Dizer que o sistema elétrico é seguro é uma falácia, tivemos seis apagões e "apaguinhos" nos últimos dois meses. E anunciar que não há risco de desabastecimento é algo absurdo, sempre há esse risco. Ou é uma inverdade técnica ou a presidente Dilma anunciou as medidas da sala de São Pedro.

As medidas surtirão efeito no preço da energia?

Quero ver como será a operacionalização disso. Temos que refazer contratos, tabelas, planilhas, assinaturas com 63 distribuidoras diferentes. Não imagino isso em um dia. A redução da tarifa em um dia só seria possível com um milagre de gestão, o que não é a marca deste governo e da agência reguladora do setor.

Mas o que o senhor achou das medidas?

Tenho um amigo dono de uma mansão que paga R$ 4,5 mil de luz por mês e que pode ter uma redução de R$ 900 mensais. Seu empregado, que ganha pouco mais de um salário mínimo, gasta hoje R$ 60 por mês com luz e terá um desconto de R$ 12. Discordo deste desconto linear, feito com o dinheiro público. Esse recurso do Tesouro deveria ir para políticas industriais, para ampliar nossa competitividade.

E como o senhor avalia o setor?

O governo não admite, mas o modelo está errado. Não é normal usar termelétricas de forma regular, constante. Elas devem estar lá, mas como um seguro. O planejamento, feito por Dilma enquanto era ministra, foi falho.

Fonte: O Globo

Tesouro vai arcar com R$ 8,5 bilhões para garantir redução da conta de luz

Anne Warth, Eduardo Rodrigues

BRASÍLIA - O Tesouro Nacional vai ter de arcar com uma despesa de R$ 8,5 bilhões apenas em 2013 para garantir a redução da conta de luz anunciada pela presidente Dilma Rousseff. Esse gasto será necessário porque três das mais importantes empresas do setor elétrico - Cesp, Cemig e Copel - não aceitaram a proposta de renovação antecipada das concessões com redução no preço da energia produzida.

O governo contava com a energia mais barata desses empreendimentos para baixar o custo da eletricidade em uma média de 20% para todos os consumidores. Se essas três concessionárias tivessem aderido ao pacote, a União teria de aportar apenas R$ 3,3 bilhões à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) - encargo que incide sobre as contas e subsidia programas como o Luz para Todos.

Sem a adesão de todas as concessionárias, o governo teve de ampliar o número de encargos e subsídios que passarão a ser cobertos pela CDE - cuja cobrança foi reduzida em 75% em setembro. Uma série de gastos para fomentar programas, que iam desde iluminação pública à irrigação de lavouras, eram cobrados nas contas de luz. A partir de agora, caberá ao Tesouro financiar esses programas. Apenas neste ano, o gasto adicional será de R$ 4,5 bilhões.

Itaipu. Para fazer frente a essas despesas, o Tesouro vai antecipar receitas que receberia da usina de Itaipu, vender esses créditos e aplicar os recursos na CDE. Todos os anos, a usina paga R$ 4 bilhões ao governo pela dívida contraída para sua construção.

Em 2014, o gasto do Tesouro com esses programas deve ser ainda maior, mas o valor não foi informado pelo Ministério de Minas e Energia, nem pelo Ministério da Fazenda. O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Mauricio Tolmasquim, afirmou que a transferência desse gasto da conta de luz para o Tesouro corrige uma distorção e devolve competitividade à indústria.

"O Brasil subsidiava esses programas sociais por meio da tarifa, algo que não acontece em outros países", afirmou Tolmasquim:"São políticas relevantes, mas que não devem sair da tarifa e, sim, do Orçamento. Neste momento, fazemos essa correção."

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou que o sistema elétrico brasileiro é robusto, forte e regulado e, por isso, foi possível reduzir o valor da energia. "É uma das mais importantes e arrojadas iniciativas do governo para impulsionar o crescimento, um fato histórico pelo ineditismo e amplo alcance."

A energia faturada desde ontem já está pelo menos 18% menor para consumidores residenciais e até 32% inferior para a indústria. A tarifa de energia dos paulistanos, que recebem energia da AES Eletropaulo, por exemplo, cairá 18,25%.

Fonte: O Estado de S. Paulo

"Eu sou candidata à reeleição e uma candidata energética", diz Dilma

Raymundo Costa

BRASÍLIA - A 17 meses da escolha dos candidatos, nas convenções partidárias de junho de 2014, e a 20 da eleição presidencial de 2014, governo e oposição já estão em campanha eleitoral. No momento, o governo está na ofensiva e a oposição, dividida e pega de surpresa, na defensiva.

No discurso feito na noite de anteontem para anunciar a redução da tarifa da energia elétrica para consumidores domésticos e empresas, Dilma aproveitou para mandar um recado claro e direto à base do governo e ao governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, que namora eventual candidatura presidencial em 2014: "Eu sou candidata à reeleição e uma candidata energética", contou um auxiliar da presidente. O "energético" é um trocadilho que serve tanto para Campos como para DEM e PSDB, segundo fontes credenciadas.

Nos cálculos de Campos, como se sabe, está uma eventual candidatura presidencial em 2014. E a oposição, especialmente o PSDB, estimula a ideia de que pode ocorrer um racionamento de energia elétrica, por causa da má administração do governo no setor. Dilma considera "terrorista" e "irresponsável" o discurso do PSDB e do DEM. Por isso decidiu "passar a peixeira no chão", ou seja, fazer um risco que, sempre que for ultrapassado, terá uma resposta à altura da presidente.

No pronunciamento de oito minutos, Dilma esboçou um discurso de campanha: "Eu sou a presidente que corta juros, reduz tarifas e protege as pessoas". O Palácio do Planalto alega que não só ela está viajando pelo país, como também os governadores aos municípios, inclusive os tucanos, candidatos à reeleição.

O Palácio do Planalto também informa que a presidente tem sido comedida no uso de rede nacional de rádio e televisão. Ano passado, a rede teria sido acionada no Dia das Mães, no 7 de Setembro e no Natal. No Dia da Independência, Dilma prometeu reduzir a tarifa da energia elétrica. No Natal, prestou contas: a promessa já era lei.

Foram três datas em que tradicionalmente o presidente costuma se manifestar. Não foi bem o contexto de anteontem, quando a presidente anunciou que a redução se daria já a partir do dia seguinte. Dilma falou durante oito minutos e não teve a menor preocupação em amenizar nas tintas eleitorais do discurso.

A presidente fez questão de levar os tucanos, que vinham num crescente de críticas aos miniapagões recentes, para o canto do ringue, ao prenunciar que eles acabariam concordando com os termos da renovação das concessões das usinas de energia elétrica. "Espero que venham a concordar com o que eu estou dizendo", afirmou.

Na realidade, a presidente renovou as concessões e decidiu sobre a redução de tarifas sem ouvir grande parte dos atingidos pelas mudanças, como governadores de Estado, da situação e da oposição, e entidades do setor como Furnas Centrais Elétricas.

Ao voltar das férias, Dilma Rousseff imprimiu um ritmo frenético a ações de governo com forte apelo midiático. Não foi uma ofensiva gratuita, mas de muito cálculo político. Ela ainda estava descansando em uma praia da Bahia, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a cúpula do PT definiam a estratégia para 2013.

Lula, especialmente, defendeu que Dilma deveria sair mais de Brasília e procurar o contato popular. Outros setores do PT defendiam que ela deveria se dedicar mais aos assuntos de governo, especialmente à questão do crescimento e à perspectiva de aumento da inflação. Dilma entrou com os dois pés - um na política e o outro na economia.

De saída, chamou ao Palácio do Planalto uma dezena dos maiores empresários do país para tratar da retomada do investimento. Desta vez, teve encontros individuais, de maior apelo midiático e de satisfação da vaidade dos empresários, apesar da representantes significativos do PIB nacional.

No fim de semana viajou a Teresina para a entrega de casas populares. Hoje cumpre agenda com o governador Geraldo Alckmin, em São Paulo. Na próxima semana vai a Sergipe. Depois, à Paraíba.

Fonte: Valor Econômico

Oposição acusa Dilma de usar TV como palanque

Reação foi após fala em cadeia nacional sobre contas de luz; para PSDB, presidente rompeu 'limite perigoso' da democracia

Eugênia Lopes , Ricardo Brito

BRASÍLIA - Os partidos de oposição acusaram ontem a presidente Dilma Rousseff de usar o pronunciamento em rede nacional em que anunciou a redução do valor das tarifas de energia como palanque de sua campanha eleitoral à reeleição. A reação mais forte partiu do PSDB que, em nota, afirmou que o governo do PT "acaba de ultrapassar um limite perigoso para a sobrevivência da jovem democracia brasileira".

O PPS e o DEM também criticaram, lembrando que o anúncio da medida já tinha sido feito durante a campanha eleitoral do ano passado. O PT contra-atacou e, também em nota, afirmou que os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso deixaram como legado "a façanha de quebrar o País três vezes e provocar um apagão de mais de um ano, levando o Brasil de volta à era das lamparinas".

Na nota tucana, o presidente nacional da sigla, deputado Sérgio Guerra (PE), afirmou que no governo do PT "tudo é propaganda", "partidarizado". "Nada aponta para o equacionamento verdadeiro dos problemas do País", disse Guerra.

"O que se vê é o lançamento prematuro de uma campanha à reeleição, às custas do uso da máquina federal e das prerrogativas do cargo presidencial", acrescentou.

O tucano disse que o País "assistiu à mais agressiva utilização do poder público em favor de uma candidatura e de um partido político (...) sob o pretexto de anunciar, mais uma vez, a redução do valor das contas de luz, já prometida em rede nacional há quatro meses e alardeada em milionária campanha televisiva paga pelos contribuintes".

Provável candidato do PSDB à Presidência em 2014, o senador Aécio Neves (MG) afirmou que "o Brasil assistiu ontem a mais um exemplo inaceitável de como o PT usa, sem constrangimentos, estruturas de Estado para alcançar seus objetivos políticos."

"Falou à Nação não a presidente, mas um partido político, evidenciando, como nunca antes neste País, a mistura entre o público e o particular".

Chamando de "inadmissível" o fato de Dilma ter ido à TV fazer o discurso no qual criticou os "do contra", o vice-líder do DEM na Câmara dos Deputados, Ronaldo Caiado (GO), pediu à assessoria jurídica do partido que analise a viabilidade de a presidente ser obrigada a pagar pelos oito minutos de cadeia em rádio e TV. O líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR), também denunciou o uso do pronunciamento com fins eleitorais.

Reação. Em reação a esses ataques, o líder do PT, José Guimarães (CE), acusou os governos estaduais do PSDB: "Rejeitaram as condições do acordo proposto pelo governo para redução da tarifa as companhias energéticas Cesp (SP), Cemig (MG), Copel (PR). Os tucanos mais uma vez entraram num beco sem saída. Resolveram assumir uma posição dura talvez supondo que conseguiriam derrotar a proposta do governo".

Fonte: O Estado de S. Paulo

Aécio: Dilma utilizou estruturas de Estado para fins políticos

BRASÍLIA – O senador Aécio Neves (PSDB-MG) falou a respeito do pronunciamento executado pela presidente Dilma Rousseff na quarta-feira (23) quando, com o propósito de expor um plano para a redução do custo da energia elétrica, a petista atacou a oposição e os críticos a seu governo.

“O Brasil assistiu ontem a mais um exemplo inaceitável de como o PT usa, sem constrangimentos, estruturas de Estado para alcançar seus objetivos políticos. Sem razão que justificasse a formação de uma rede nacional obrigatória, vimos a apropriação de um instrumento de Estado para fins político-partidários. Falou à Nação não a presidente da República, mas um partido político, evidenciando, como nunca antes neste país, a mistura entre o público e o particular; o institucional e o partidário”, afirmou.

O parlamentar acrescentou: “O PSDB manifestou-se em nota reiterando seu compromisso e responsabilidade com o país. Como senador da República, registro meu pesar por este triste marco de quebra do princípio da impessoalidade no exercício da Presidência da República”.

Oposição acusa Dilma de antecipar campanha

PSDB e DEM afirmam que a presidente, ao anunciar em rede nacional a redução na tarifa de energia, fez uso eleitoreiro da estrutura de Estado e dividiu a nação em "do contra" e "a favor".

Protesto da oposição

Lideranças do DEM e do PSDB criticam o viés político e eleitoral do pronunciamento de Dilma para anunciar a redução da conta de luz

Paulo de Tarso Lyra, Leonardo Azevedo e Adriana Caitano

A presença de Dilma Rousseff no pronunciamento em rede nacional na noite da última quarta-feira — vestida de vermelho e com um tom nítido de campanha eleitoral antecipada ao criticar os "pessimistas que falam em racionamento de energia" — irritou a oposição. Tucanos e demistas protestaram pela presidente utilizar, em apenas seis meses, o espaço considerado de utilidade pública para falar, pela terceira vez, do mesmo assunto: a redução da conta de energia elétrica. Provável candidato do PSDB a presidente, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi enfático. "O Brasil assistiu mais um exemplo inaceitável de como o PT usa, sem constrangimentos, estruturas de Estado para alcançar seus objetivos políticos", afirmou Aécio.

Para o senador mineiro, não havia razões para a formação de uma rede nacional obrigatória para anunciar novamente a redução da conta de energia. "Falou à Nação não a presidente da República, mas um partido político, evidenciando, como nunca antes neste país, a mistura entre o público e o particular, o institucional e o partidário. Registro meu pesar por este triste marco de quebra do princípio da impessoalidade no exercício da Presidência da República", completou Aécio.

O presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra (PE), que deixará o comando do partido em maio para ser sucedido, provavelmente, pelo próprio Aécio, divulgou uma nota oficial. E foi também duro, ao declarar que o PT pôs em risco os princípios democráticos na noite de quarta-feira. "O país assistiu à mais agressiva utilização do poder público em favor de uma candidatura e de um partido político: o caráter político-partidário do pronunciamento oficial da presidente pode ser constatado inclusive pela substituição do brasão da República pela marca publicitária do atual governo na vinheta de abertura da "peça publicitária" veiculada em cadeia nacional", acusa a nota oficial do PSDB.

De acordo com Guerra, ao longo dos oito minutos de pronunciamento, a presidente "faltou com a verdade, fez ataques aos adversários, criticou a imprensa e desqualificou os brasileiros que ousam discordar de seu governo". Retomou o embate ideológico adotado nas últimas campanhas, nas quais os tucanos afirmavam que o ex-presidente Lula dividia o país em dois grupos. "A chefe da Nação, que deveria ser a primeira a se reconhecer como presidente de todos os brasileiros, agora os divide em dois grupos: o "nós" e o "eles". O dos vencedores e o dos derrotados. Os do contra e os a favor. É como se estivesse fazendo um discurso numa reunião interna do PT, em meio ao agitar das bandeiras e ao som da charanga do partido", prosseguiu.

Liturgia esquecida

A nota oficial do DEM também é crítica, mas um pouco mais amena. O presidente nacional do Democratas, José Agripino Maia (RN), lembra que não adianta o governo anunciar uma ação se não tiver a certeza de que a manterá com o passar do tempo. "A medida (a redução da tarifa de energia elétrica) tem por base o esforço de muitos brasileiros que terão de subsidiar o governo, e de investidores que podem cortar parte dos recursos para a proteção do sistema", alertou Agripino.

Por isso, na visão do senador potiguar, o governo deveria ser mais cauteloso para não ter que se arrepender depois. O líder do partido na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), afirmou que o governo e a presidente Dilma abandonaram toda a liturgia que o cargo exige para, em cadeia de rádio e televisão, antecipar a campanha pela reeleição em 2014. "E ainda quer jogar nas costas das oposição as responsabilidades pela própria incompetência", afirmou Caiado, em uma referência aos recentes apagões registrados no país.

Caiado lembrou vários problemas e "jeitinhos" adotados pelo governo Dilma nos últimos meses para mostrar que existe, sim, um problema gerencial na máquina pública federal. "A inflação está voltando, a saúde vive uma situação de caos, eles foram obrigados a "maquiar" os dados para conseguir fechar a meta de superavit primário." E também considerou absurda a retomada do debate em torno do racionamento de energia. "Estamos na oposição há exatos 10 anos. É estranho eles falarem em herança maldita até hoje", completou.

Para o presidente estadual do PSDB mineiro, Marcus Pestana, ao mesmo tempo em que anuncia a redução na conta de luz, o governo federal terá que reajustar o preço da gasolina. "Dá com uma mão: a energia vai baixar. Tira com outra: gasolina vai aumentar", comparou. Em debate pelo Twitter com o petista Ricardo Berzoini (SP), Pestana lançou o desafio. "Nos deem uma cadeia nacional a cada uma da presidente. Aí sim, será verdadeira discussão. O resto é monólogo".

Petistas rebatem

O PT demostrou que não está disposto ao monólogo e respondeu aos ataques feitos por DEM e PSDB. Em nota oficial divulgada no início da noite de ontem, o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), lembrou que a "conquista histórica (redução da conta de luz) foi aprovada no fim do ano passado pelo Congresso, a despeito da oposição do PSDB/DEM". E reforçou que os estados de São Paulo, de Minas Gerais e do Paraná — todos administrados pelo PSDB — rejeitaram as condições do acordo proposto pelo governo federal para a redução das tarifas de energia.

A nota do PT deixa claro que o embate eleitoral começou. "Antidemocrático é censurar a palavra da presidente sobre as conquistas de seu governo e querer estabelecer inclusive o cenário e quando ela deve falar à Nação. A nota do PSDB mostra claramente que faltam à oposição propostas para o país e sobra a surrada opção de distorcer e manipular os fatos", completou Guimarães.

Para o petista, o PSDB "nos oito anos em que esteve à frente do governo federal deixou como legado a façanha de quebrar o país três vezes e provocar um apagão de mais de um ano, levando o Brasil de volta à era das lamparinas", acrescentou.

Fonte: Correio Braziliense

PSDB acusa presidente de usar máquina para reeleição

Para o partido, a chefe do Executivo "passou dos limites" com críticas

Sérgio Guerra acusou Dilma de "faltar com a verdade" no pronunciamento em rede nacional

SÃO PAULO - O PSDB criticou duramente, em nota oficial distribuída ontem, o pronunciamento oficial da presidente Dilma Rousseff, em cadeia nacional de rádio e TV na noite de anteontem, no qual ela anunciou a redução nas tarifas de energia elétrica e acusou os que fazem "previsões alarmistas".

Assinada pelo presidente nacional da legenda, Sérgio Guerra, a nota acusa o governo do PT de "ultrapassar o limite perigoso para a sobrevivência da jovem democracia brasileira". "Durante os oito minutos de divulgação obrigatório por parte das emissoras de rádio e TV brasileiras, a presidente Dilma faltou com a verdade, fez ataques a seus adversários, criticou a imprensa e desqualificou os brasileiros que ousam discordar de seu governo", analisou.

No comunicado, o PSDB faz um alerta aos brasileiros para o fato de se utilizar a cadeia nacional de rádio e TV "para promoção pessoal e política da presidente", destacando que isso "fere frontalmente os fundamentos do Estado democrático."

Provável adversário de Dilma em 2014, o senador Aécio Neves (MG) também criticou a petista. "Sem razão que justificasse a formação de uma rede nacional obrigatória, vimos a apropriação de um instrumento de Estado para fins político-partidários. Falou à nação não a presidente da República, mas um partido político, evidenciando, como nunca antes neste país, a mistura entre o público e o particular; o institucional e o partidário", disse o senador.

Fonte: O Tempo (MG)

O país é de todos - Míriam Leitão

A mensagem da parte final da fala da presidente Dilma Rousseff lembrou o princípio usado na propaganda oficial do governo Médici. Confundiu crítica, ou análise que contrarie o discurso oficial, com falta de amor à pátria. Misturou governo e nação. Como sabem os que combateram o regime, entre eles a própria presidente, governos são sempre temporários e não são a encarnação da país.

Discordar de uma decisão governamental, apontar riscos, não é torcer contra. Só governos de índole autoritária fazem esse tipo de interpretação. Se esse for o tom da campanha da presidente por mais um mandato será lamentável.

Convocar rede nacional de TV e rádio para o início extemporâneo de campanha eleitoral é irregular. A rede está à disposição do governante para assuntos de interesse coletivo e para informações úteis para a população. Convocá-la para anunciar a queda do preço da energia faz sentido, o que transformou a natureza do pronunciamento foi o tom escolhido pelo marqueteiro da presidente, na segunda metade do texto lido por ela, de ataque a todos os que não cultuam o governo. Seria, segundo diz a peça publicitária, coisa de gente sem fé no Brasil.

A primeira parte foi apresentação entusiasmada da sua visão da conjuntura, o que é normal. Depois, virou palanque fora de época. Mas, por uma questão de método, nenhum gestor, público ou privado, deve acreditar na inexistência de risco de curto, médio e longo prazos em qualquer projeto.

A queda do preço da energia tem o benéfico efeito de reduzir o custo das empresas, aumentando a competitividade do país, e de diminuir o peso da luz no orçamento das famílias. Ótimo. O problema é que a medida teria que vir com uma campanha de redução do consumo, porque neste exato momento o baixo nível dos reservatórios está exigindo o uso das térmicas que encarecem a energia. Portanto, quanto maior for a demanda, mais alta fica a conta a ser paga mais tarde. Se a redução do preço for entendido como um estímulo ao consumo, num momento de escassez, o resultado será o oposto do que busca o programa.

Parte da redução do preço será coberta por recursos do Tesouro, o que, no final das contas, é dinheiro de todos nós. Parte é resultado da antecipação do fim dos contratos com as empresas. A elas foi dado um prazo exíguo e duas opções: permanecer com o mesmo contrato até a sua expiração ou renová-lo por 30 anos com uma indenização pelo investimento ainda não amortizado. Os cálculos do que seria pago às empresas foram abaixo do que se esperava.

Algumas recusaram e isso não as faz inimigas do país, integrantes do pessoal "do contra". Foi uma decisão gerencial. Se o próprio governo ofereceu dois caminhos é porque ambos eram possíveis e tinham perdas e ganhos. A maioria das que aceitaram a fórmula do governo é de estatais federais.

Há vários fios desencapados no setor de energia e seria bom se o governo tivesse uma atitude mais sóbria em relação ao tema. O atraso nas linhas de transmissão, principalmente as que estão sob a responsabilidade da Chesf, é uma das inúmeras frentes de trabalho. O setor de transmissão precisa de muito mais investimento para renovação das linhas e modernização de sistemas obsoletos. As empresas têm que investir mais, e a maneira como foi conduzido esse programa as descapitalizou. A queda das ações torna difícil buscar recursos no mercado de capitais e limita o endividamento. As hidrelétricas construídas muito longe dos centros de consumo exigirão um enorme esforço para não se reproduzir, em grande escala, o que está acontecendo com os parques eólicos: começarem a gerar antes de estarem prontas as linhas de transmissão. O custo total para o país de não usar os parques eólicos pode chegar a R$ 1 bilhão.

Há dentro do governo relatórios alertando para vários desses riscos. De vez em quando a imprensa consegue capturar um. Ou há gente "do contra" infiltrada ou o governo deveria avaliar esses alertas internos com mais atenção. Há fatos intrigando especialistas ouvidos pelo governo que podem indicar que há sistemas de previsão internos que precisam ser aperfeiçoados. Tudo isso deveria estar sendo analisado com cuidado. Mas o governo preferiu transformar a energia em bandeira política e entregou o tema ao maniqueísmo próprio dos marqueteiros das campanhas eleitorais.

Fonte: O Globo

Dilma, Lula, a carapuça - Eliane Cantanhêde

Dilma é criticada no macro e se defende no micro.

No macro, seu governo fechou 2012 com o pibinho de 1% e abriu 2013 maquiando números, correndo atrás dos baixos níveis dos reservatórios e segurando o reajuste da gasolina e das tarifas de transportes. Afinal, há três anos consecutivos a inflação está fora do centro da meta.

No micro, como enfatizou Dilma no pronunciamento de quarta, o governo cumpriu a promessa de reduzir a tarifa de energia elétrica, chegou a índices ainda mais camaradas do que os anunciados e ainda antecipou a vigência. Além disso, baixou juros, reduziu IPI, desonerou a folha de pagamentos, ampliou o crédito da casa própria. E "não faltou comida na mesa, nem trabalho".

O contraste é principalmente político. Quem critica o macro são economistas, analistas e jornalistas que não identificam uma política econômica, e sim um amontoado de medidas pontuais sem rumo. E quem se beneficia do micro são os cidadãos ou, em última instância, os eleitores. Se é crucial para a Petrobras e para as empresas estaduais de ônibus praticar preços justos, para os consumidores o que importa é pagar menos. Entre a Petrobras e a boa vontade do eleitor, dane-se a Petrobras.

Na maior parte do pronunciamento, a presidente falou como ex-ministra de Minas e Energia ferida em seus brios com as brincadeiras de mau gosto de são Pedro. No resto, a presidente e ex-ministra falou mesmo foi como candidata à reeleição.

Dilma saiu da defesa e partiu para o ataque. Vangloriando-se de ser do "time vencedor", disse que "aqueles que são sempre do contra estão ficando para trás", desdenhou os que trabalham para "desunir ou destruir" e conclamou os brasileiros a colocar "nossa fé no Brasil acima dos interesses políticos ou pessoais".

O pronunciamento foi na quarta e hoje ela estará com Lula. O recado para a oposição, para a imprensa e para parte da indústria não terá sido também para Lula e lulistas?

Fonte: Folha de S. Paulo

Não é mais comigo - Celso Ming

A inflação subiu e está cada vez mais generalizada, mas o Banco Central adverte que pouco pode fazer para controlá-la. O problema não está no excesso de consumo, onde poderia atuar. Está, sim, na falta de oferta - ou seja, na paradeira do setor produtivo, que cabe ao governo reativar.

Essa é uma das mais importantes Atas do Copom editadas pelo Banco Central. Diverge do governo federal em importantes avaliações sobre os atuais problemas da economia.

Na linguagem sutil do Banco Central, a primeira discordância está no diagnóstico acima citado: os esforços para elevar a atividade econômica (avanço do PIB) não devem se concentrar no aumento do consumo, há meses suficientemente robusto; mas em criar condições na economia e em recuperar a confiança do investidor (do empresário), para que o País ganhe capacidade de produção. Está dito no parágrafo 26.

Outro desencontro de pontos de vista, também tricotado com sutileza na ata, está na cobrança que o Banco Central fez às autoridades da Fazenda. Aí é preciso mais explicação. O secretário do Tesouro, Arno Augustin, tem recomendado que o governo gaste mais, para auxiliar na transformação do pibinho em pibão. Argumenta que a queda dos juros é, por si só, fator de redução da dívida pública e que, assim, pode dispensar o cumprimento de ao menos parte do superávit primário.

E, no entanto, o Banco Central passa o recado de que o cumprimento da meta do superávit primário de 3,1%, "além de contribuir para arrefecer o descompasso entre as taxas de crescimento da demanda e da oferta, solidificará a tendência de redução da razão dívida pública sobre produto" (parágrafo 27). Ou seja, ao contrário do que diz o secretário Augustin, é importante cumprir as metas fiscais.

O Banco Central reitera ainda as críticas de que o governo contribui para o crescimento da inflação por gastar demais: "Iniciativas recentes apontam o balanço do setor público em posição expansionista" (parágrafo 34). Mas a autoridade monetária segue trabalhando no pressuposto de que o governo observe a meta de superávit primário de R$ 155,9 bilhões em 2013, "conforme os parâmetros da Lei de Diretrizes Orçamentárias".

Outra novidade antecipa o reajuste dos preços da gasolina "em cerca de 5%". É a primeira vez que um documento do governo admite o que somente "fontes que preferem o anonimato" já haviam vazado para a imprensa: os preços dos combustíveis serão recompostos.

É claro, esse reajuste contribuirá para certo avanço da inflação, mas será compensado, em parte, por redução de cerca de 11% nas tarifas de energia elétrica - menos do que o anunciado pelo governo. O Banco Central conta com que essa compensação provenha também de mais austeridade na administração pública.

Apesar de reconhecer o recrudescimento da inflação "no curto prazo", o Banco Central avisa que os juros básicos não cairão nem subirão: "A estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta" (parágrafo 35). Cabe ao governo, não ao Banco Central, ativar a oferta e garantir disciplina na condução das contas públicas.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Começou a campanha – O Estado de S. Paulo / Editorial

A presidente Dilma Rousseff acaba de fazer o seu primeiro comício para a reeleição. Ao anunciar em cadeia nacional de rádio e TV, na quarta-feira, a entrada em vigor, no dia seguinte (e não mais em 5 de fevereiro), da redução das tarifas de energia elétrica, maior do que a antecipada - 18%, em vez de 16,2%, para os consumidores residenciais e 32%, em vez de 28%, para a indústria -, discursou como se estivesse em um palanque. A sua fala até que foi breve (8 minutos), mas suficiente para cobrir de lantejoulas as supostas realizações de seu governo, que estariam deixando "para trás" os seus críticos, carimbados rombudamente como "aqueles que são sempre do contra". Lembrou, na ênfase, nas alegações e no descaso com a realidade, o seu patrono Luiz Inácio Lula da Silva: por pouco não se saiu literalmente com um "nunca antes na história deste nosso país". Ficou no "hoje podemos ver como erraram feio os que não acreditaram que era possível crescer e distribuir renda", e na apoteose de um Brasil "cada vez maior e imune a ser atingido por previsões alarmistas", tanto que "nos últimos anos o time vencedor tem sido dos que têm fé e apostam no País". O microfone, assim como o papel, aceita tudo.

Alheia ao pibinho de 2012 e à comparação desfavorável com as taxas de crescimento das economias emergentes, também torceu os fatos sem enrubescer, ao assegurar que "estamos ampliando investimentos na infraestrutura" - cujo montante caiu mais de 20% nos dois últimos anos. Fez de conta que a ampliação do sistema energético não padece de atrasos perigosos e deficiências cruciais, e minimizou o significado da decisão de recorrer intensivamente à eletricidade de origem térmica, mais cara e poluente, para reduzir o risco de "apagões". Não fosse a quase estagnação da economia, a oferta de energia dificilmente daria conta da demanda. Por outro lado, cumprir a promessa de não sangrar o Tesouro para compensar a redução das contas de luz equivalerá à proverbial quadratura do círculo. Sem falar nos prejuízos causados ao setor elétrico pela medida provisória, sancionada no último dia 14, que autorizou a renovação dos contratos de geração de energia em vias de se esgotar para as empresas que concordassem em baixar as suas tarifas. A Cemig e a Cesp não aceitaram, sobrando para o erário bancar a bondade para os consumidores de Minas Gerais e São Paulo.

Deixando patente o caráter eleitoral do seu show televisivo, Dilma se referiu à questão de forma a deixar mal os governos tucanos desses Estados. "Espero que, em breve, até mesmo aqueles que foram contrários à redução da tarifa venham a concordar com o que estou dizendo", fingiu exortar, com ar superior. Dilma, efetivamente, está cheia de si. Há pouco, segundo o repórter Raymundo Costa, do Valor, disse com todas as letras a um interlocutor: "Meu mandato é de oito anos". Ele teria ficado perplexo com a determinação da presidente. Com isso, Dilma deixou escancarado o seu confronto com o PT - recentemente vencido por ela - sobre a sucessão de 2014. À medida que foram se acumulando as suas não realizações, embora ainda não tenham afetado os seus índices de aprovação, que se sustêm no binômio emprego-renda, a eventualidade de uma nova candidatura Lula começou a ganhar corpo no partido. Nos últimos tempos, não foram só empresários os queixosos que procuraram o ex-presidente. Companheiros fizeram o mesmo, decerto na expectativa de animá-lo a substituir Dilma, que eles ainda mal consideram "uma de nós", na próxima disputa pelo Planalto.

Sem se tornar, ao que se sabe, um movimento estruturado, a versão contemporânea do "queremismo" pró-Vargas de 1945 ganhou espaço político a ponto de induzir o próprio Lula a se pronunciar a respeito. Fez isso, dias atrás, por intermédio de três colaboradores próximos, abençoando a reeleição de Dilma. A rigor, quando ela falou em oito anos, deveria acrescentar "com uma eleição no meio". Mas a mensagem que buscava transmitir era a da legitimidade de suas aspirações ao segundo mandato, reconhecidas ao que tudo indica.

O ano terá de ser de muitos fracassos para que ressurja entre os petistas o "Volta, Lula".

Dilma erra ao explorar energia como tema político – O Globo / Editorial

A redução do custo da energia elétrica, especialmente para o setor produtivo, é bem-vinda, pois a população como um todo se beneficiará à medida que as empresas ganhem mais competitividade. Não faz sentido que esse custo tenha permanecido entre os mais elevados do mundo, tendo o Brasil uma matriz de base hídrica, renovável, e com manutenção relativamente barata.

O consumidor brasileiro de energia elétrica financiou por décadas vários programas, sejam sociais ou relacionados a novos investimentos do setor. Estava mais que na hora de reduzir esses encargos.

O que não é correto é o governo ter transformado a questão da energia, tão séria e delicada para o país, em tema de exploração política. Desde as eleições gerais de 2002, ocorre esse tipo de exploração, pois o PT fez do racionamento um dos seus principais cavalos de batalha, atribuindo à administração Fernando Henrique Cardoso inteira responsabilidade pelo que tinha acontecido (embora a mobilização da sociedade para evitar consequências mais drásticas de uma eventual escassez de energia elétrica possa ser apontada como uma das inciativas mais positivas do governo FH ao fim de seu mandato).

Agora, o governo Dilma esteve próximo de provar o mesmo veneno. O lado negativo de ser uma matriz calcada em base hídrica é que, se das chuvas não veem nas quantidades, nos lugares certos e no tempo usualmente esperado, o sistema começa a entrar em risco. Para que se possa reduzir esse risco, mas sem anulá-lo completamente, o país deve ter também uma parte de sua matriz em base térmica, que pode ser acionada independentemente do regime de chuvas.

No entanto, o acionamento dessa base térmica aumenta o custo da geração de energia elétrica. Diante do nível ainda baixo dos reservatórios das hidrelétricas, é natural que hoje se trabalhe com projeções do custo de energia que incorporem a possibilidade de uso mais prolongado das usinas térmicas. Isso talvez possa frustrar, em parte, o anúncio da redução das tarifas de energia feito com toda a pompa antes de iniciado, meses atrás, o chamado período úmido. Como em janeiro as chuvas caíram em volume suficiente para elevar o nível dos reservatórios - porém não a ponto de afastar completamente a necessidade de uso prolongado das térmicas -, a presidente Dilma se sentiu encorajada a voltar à exploração política da questão da energia, antecipando a redução de tarifas prometida ao consumidor, e acusando de pessimistas e alarmistas - em um tom apelativo, beirando o sentimento de patriotismo a que governos autoritários militares recorriam com frequência - aqueles que revelam preocupação, não infundada, com o setor.

A redução dos custo da energia é mérito do governo Dilma. E é demérito continuar explorando politicamente a questão, que não se equaciona com bravatas nem com injeções sem fim de dinheiro do Tesouro.

Coisa de pele - Dora Kramer

O vice-presidente da República e presidente de honra (?) do PMDB, Michel Temer, nesta semana falou para todo mundo ouvir que processos, denúncias e suspeições não afetam a credibilidade de Renan Calheiros como candidato à presidência do Senado.

Candidatura esta, diga-se, até agora presumida por clandestina.

Temer disse mesmo acreditar que Calheiros fará uma gestão "belíssima", da qual sairá enaltecido, redimido de todos os pecados caso se conduza de maneira "correta, adequada".

Isso em público, situação em que não traduz o que entende por correção e adequação.

No particular, contudo, o vice-presidente tem sido mais claro sobre as razões pelas quais, na sua visão, o companheiro de partido vai se cobrir de glórias apesar de todos os pesares.

O êxito, segundo argumenta para desestimular candidaturas alternativas tanto no Senado quanto na Câmara onde o atual líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves, carrega passivo semelhante, decorrerá justamente dos pesares.

Na interpretação dele, exposta em conversas cujos interlocutores pedem reserva para não entrar em atrito com Temer, as denúncias não os prejudicam. Internamente, ao contrário, criam uma espécie de identificação com os que vivem ou poderiam vir a viver situações parecidas.

Ou seja, a maioria estaria disposta a eleger representantes que conhecem e sentem na pele "o problema". Assim, teriam mais chance de ser "compreendidos" quando, e se, a adversidade batesse à porta.

Os presidentes da Câmara e do Senado, como se sabe, têm um poder enorme. Podem influenciar na criação de CPIs, na abertura de processos por quebra de decoro, funcionar como advogados de defesa de seus pares junto à opinião pública e dar por encerrados assuntos inconvenientes.

Por essas e várias outras, o prestígio da presidente da República e do Supremo está nas alturas enquanto o Legislativo se afunda na má fama.

Primeira pedra. O colégio de líderes partidários para a sessão legislativa que se inicia em fevereiro não será composto, como na passada, de ilustres desconhecidos. Deve ter Anthony Garotinho no comando do PR, Eduardo Cunha à frente do PMDB e José Guimarães (ex-chefe do assessor flagrado em aeroporto com dólares escondidos na roupa de baixo) na liderança do PT. A notoriedade das excelências não decorre de imaculada reputação, é fato. Mas, moral para criticá-los quem há de ter?

Se a dita maior liderança política de todos os tempos apadrinha gente infratora (de Rose a ministros demitidos por envolvimento em denúncias), tenta induzir voto de ministro do STF, acha que os condenados do mensalão "não têm do que se envergonhar", a trinca acima citada está dentro do padrão e, portanto, apta para liderar.

União estável. As invasões dos sem terra já não alcançam a repercussão de antes nem causam grandes preocupações. Basta ver a reação à ocupação das dependências do Instituto Lula, em São Paulo, para reivindicar qualquer coisa em busca de um protagonismo há muito perdido.

Assessores mandaram dizer que o ex-presidente ficou "chateado", quando seria de se esperar algo mais por se tratar de flagrante atentado à lei.

Mas, aceitemos que tal indiferença seja proposital para evidenciar a perda de importância dos atos da turma de Stédile e companhia. O governo do PT, em seu descaso para com atos dessa natureza conseguiu esvaziar o movimento.

Consolidou, contudo, duas situações nefastas: os danos concretos aos donos de propriedades invadidas - cujos prejuízos vão mais além da mera "chateação" -_ e a legalização da ilegalidade.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Intervenção de Lula na prefeitura de São Paulo - Roberto Freire

Eleito para comandar a maior cidade do Brasil pelos próximos quatro anos, o petista Fernando Haddad sequer completou o primeiro mês no cargo e já deu uma péssima sinalização aos paulistanos. Na última semana, a poucos dias do aniversário de 459 anos de São Paulo, celebrado nesta sexta-feira (25), o prefeito recebeu em seu gabinete o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dele ouviu, assim como 11 de seus secretários municipais, nada menos que dez "diretrizes" sobre como governar a megalópole. O que se viu, na verdade, foi uma ingerência inadmissível de um ex-presidente da República na administração municipal, como se Lula tivesse autoridade para determinar o que deve ser feito em São Paulo por Haddad e sua equipe.

Entre as "instruções" dadas por Lula, segundo a imprensa, estão a necessidade de acertar parcerias com o governo do estado e priorizar áreas como habitação e transporte nos convênios firmados com o governo federal, além de monumentais obviedades como a preocupação em não deixar obras incompletas ou exigir o cumprimento de metas. Tudo didaticamente explicado a Haddad e aos secretários de Governo, dos Transportes, da Saúde, do Planejamento e das Finanças, entre outros.

Ao aceitar o lamentável papel de mero cumpridor das determinações do ex-presidente, o prefeito se esquece do lema inscrito no brasão da cidade que administra: "Non ducor, duco", em latim, que significa "Não sou conduzido, conduzo". Conduzir São Paulo de forma altiva e independente é tarefa que não permite hesitações. A vergonhosa reunião no gabinete do prefeito deixou claro que, nas atuais circunstâncias, Haddad é conduzido, não conduz.

Como se não bastasse exercer o papel interventor na prefeitura da maior cidade do país, Lula mostra que seu apego ao poder não tem limites e pretende tutelar também a presidente Dilma Rousseff. Segundo a imprensa, ele deve encontrá-la nesta sexta- feira para discutir a gestão do governo federal e a estratégia do PT para a eleição presidencial de 2014. Na última segunda-feira (21), Lula já havia sido a grande estrela de um encontro promovido por seu instituto que contou, inclusive, com a presença dos ministros Celso Amorim, da Defesa, e Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência. Nunca antes neste país, para usar expressão ao gosto lulista, um ex-presidente fez tanta questão de esbanjar poder e influência, intrometendo-se em administrações das quais se considera fiador.

Acuado por denúncias que vão do chamado "Rosegate" às acusações de Marcos Valério sobre o mensalão, Lula voltou aos holofotes justamente para tentar sair das cordas. Tutelando Haddad e Dilma, o ex-presidente ajuda a desviar o foco do noticiário, criando factoides e fugindo das explicações que deve à nação. Agindo assim, pode até beneficiar a si próprio momentaneamente, mas diminui a estatura política do prefeito de São Paulo e da presidente da República. Haddad e Dilma não deveriam aceitar essa intervenção tão escandalosa que envergonha a nação, constrange e mancha ainda mais o PT e deixa perplexos os brasileiros.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente do PPS

Fonte: Brasil Econômico

O futuro da Europa - Merval Pereira

O tema central nas preocupações do Fórum Econômico Mundial aqui em Davos é o futuro da Europa, e por isso mesmo a decisão do primeiro-ministro David Cameron de submeter a um referendo a permanência da Inglaterra na União Europeia dominou os debates de ontem. A primeira reação, no dia do anúncio, fora de desinteresse, e o primeiro-ministro italiano Mario Monti colocou um caco em seu pronunciamento para dizer que a União Europeia não precisava de membros que não quisessem permanecer.

Ontem, diante da repercussão da notícia, a presença de Cameron ganhou uma dimensão maior e ele explicou melhor seus planos. Como fizera no anúncio, prometeu lutar para manter a Inglaterra na União Europeia, mas colocou em seu discurso algumas mudanças que pretende ver na comunidade, como uma abertura ampla no comércio entre os países europeus, com o fim de alguns empecilhos protecionistas ainda existentes.

Ele disse que suas propostas para melhorar o relacionamento com a União Europeia são necessárias para ambas as partes para se obter uma Europa mas competitiva, flexível e aberta. Cameron rejeitou, no entanto, uma unidade política da União Europeia, dizendo que o que é preciso é uma "vontade política" consolidada.

A permanência da Inglaterra na União Europeia é desejada pela França, para compensar o poder que a Alemanha vem tendo, mas a Inglaterra quer mais poderes dentro da União Europeia e, assim como não entrou na zona do euro, quer permanecer fora de algumas medidas fiscais que estão sendo impostas pela crise.

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, também esteve ontem aqui em Davos e manteve sua postura rigorosa com relação às reformas. Segundo ela, os efeitos positivos das reformas já podem ser sentidos, mas ainda falta muita coisa a ser feita, como, por exemplo, um pacto para melhorar a produtividade das economias em cada país, buscando um dinamismo não a qualquer custo, mas capaz de prevenir choques. "Não estamos onde queremos estar, nem estamos fora de perigo, mas estamos na direção certa".

O objetivo de Angela Merkel certamente foi chamar à realidade políticos e empresários europeus que têm demonstrado aqui em Davos uma satisfação com os resultados alcançados que faz muitos temerem uma recaída da Europa devido à complacência que pode dominar as ações dos governantes.

Em um dos muitos painéis sobre a situação europeia, um participante chamou a atenção para o fato de que a palavra "crise" só apareceu depois de meia hora de debate. E mesmo assim foi usada de maneira positiva, quando se destacou que há um ano a questão era se o Euro resistiria à crise, e hoje ela é se a Europa vai crescer.

De qualquer maneira, há uma convicção generalizada de que as reformas devem levar a Europa a um novo patamar de competitividade, sem o que não será possível atuar no mundo que está sendo moldado pela crise. Uma preocupação entre vários representantes do mundo dos negócios é o custo da energia, que passará a ser mais barata nos Estados Unidos com as novas fontes que estão sendo exploradas, como o xisto betuminoso.

A questão da infraestrutura europeia é fundamental para aumentar a produtividade da região, e a sensação generalizada é a de que os governos nacionais não terão dinheiro para financiar as modernizações necessárias. O financiamento privado terá que suprir essa falta de dinheiro governamental, mas para isso será preciso também que a economia se recupere com solidez.

Também o desenvolvimento tecnológico está na pauta das lideranças políticas e empresariais europeias, cujo objetivo pode ser resumido na frase de um empresário: temos que mostrar que a Europa é não apenas o melhor lugar para viver, mas também para fazer negócios.

Fonte: O Globo

Saúde da Família: atendimento médico é falho em 80% das cidades

Profissionais não cumprem carga horária de 40h, revela auditoria do Tribunal de Contas

Fábio Vasconcellos

Bicicleta apoiada no muro, um salto, e pronto: Maria Edvirgem, de 56 anos, já está de pé. Bate no portão, chama por alguém, mas ninguém aparece. Decide então espiar por uma abertura na parede do posto de saúde. Só queria saber se estava com pressão alta, mas não encontra médico na unidade de Duque de Caxias, interditada anteontem porque o prédio está comprometido.

- Queria apenas medir a pressão. Agora não sei a quem recorrer - lamenta Maria.

Criado nacionalmente em 1994, o Programa Saúde da Família (PSF), financiado pelo governo federal e pelos municípios, vive uma drama no Rio. Uma auditoria feita pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) em 88 cidades descobriu que há inúmeros problemas relativos não só à estrutura física dos postos, mas também à de pessoal. Em 80% dos municípios (71), havia casos de médicos que não cumpriam a carga de 40 horas semanais. A situação era pior em 30% das cidades (26), onde sequer existiam esses profissionais. Já em 71% (62), os contratos eram temporários.

A auditoria do TCE foi realizada ao longo de 2011 e deixou de fora Niterói (que tem um modelo de atenção à saúde próprio), São Fidélis e Campos (que ainda estavam iniciando a implantação do programa naquele ano). No caso da capital, a fiscalização do PSF é de responsabilidade do Tribunal de Contas do Município.

Em 2012, o relatório dos técnicos foi aprovado pelo TCE, que recomendou aos municípios que fizessem as mudanças necessárias. Em março, as equipes voltarão às cidades.

- Fizemos a auditoria porque o Estado do Rio tem uma das mais baixas coberturas do PSF no país (44%, na 23ª posição). Vimos alguns postos com bom atendimento, mas outros estavam muito ruins - diz Carlos Leal, da Secretaria de Controle Externo do TCE.

O relatório do tribunal chega a outras conclusões. Em 73 dos municípios (83%), as secretarias de Saúde não tinham elaborado a lista de medicamentos mais usados pela população. Resultado: sem atendimento básico e preventivo, os doentes continuam lotando as emergências. É o caso Maura Nunes, de 47 anos, também moradora de Caxias. Hipertensa, ela já tentou várias vezes medir a pressão no posto do PSF Nelson Chaves de Araújo, mas não consegue atendimento. Ontem, ele foi à unidade saber o seu peso e foi atendida, mas não havia médico de plantão. No posto de Caxias, além da falta de insumos, os técnicos encontraram um compressor instalado dentro do banheiro dos funcionários.

- A única coisa que a equipe do posto entrega é camisinha. Já tentei várias vezes medir a pressão, mas não consigo, porque só fazem isso três vezes na semana - reclamou Maura.

A auditoria do TCE analisou 59 itens do PSF. As cidades de Natividade e Varre-Sai, no Noroeste do estado, tiveram a pior avaliação, seguidas de Tanguá, na Região Metropolitana, e Queimados, na Baixada.

Problemas em 14 estados

No relatório, constam fotos de armazenamento inadequado de medicamentos, problemas de manutenção das instalações elétricas e hidráulicas, além de infraestrutura precária para receber os doentes. Procurados, os responsáveis pelas secretarias de Saúde não se manifestaram. A prefeitura de Caxias, a única a responder às perguntas do GLOBO, alegou que está tomando providências para reabrir o posto do PSF fechado em outro prédio.

Num posto em São Gonçalo, um funcionário, pedindo anonimato, contou que os médicos continuam sem cumprir a carga horária. Segundo ele, muitos profissionais trabalham apenas duas vezes por semana e, mesmo assim, apenas quatro horas por dia:

- Não só isso. Há oito meses que a distribuição de medicamentos é quase zero. Não recebemos remédios para hipertensos e diabéticos, que são o foco do programa.

Em 2012, O GLOBO mostrou que a precariedade do PSF é comum em outras cidades do país. A reportagem apresentou um levantamento, coordenado pelo Conselho Federal de Medicina, em 43 municípios (de 14 estados) com baixo IDH. O estudo constatou a falta de médicos, de remédios e até mesmo de produtos básicos, como sabonetes e toalhas.

Fonte: O Globo

Representando 28% dos cariocas - Paulo Pinheiro

A Câmara Municipal do Rio encerrou suas atividades em 2012 com muitos vereadores saindo pela porta dos fundos; alguns chegaram a ser agredidos verbal e fisicamente por manifestantes. Afinal, não há como escapar da lei da Física de que toda ação provoca reação de igual intensidade, em sentido contrário.

A aprovação de emendas vergonhosas ao projeto de criação de campo de golfe na Área de Proteção de Marapendi e a obstrução das propostas de tombamento da Escola Municipal Friedenreich e da Aldeia Maracanã foram triste epílogo de uma legislatura que já avalizara outras iniciativas lastimáveis, como a criação das Organizações Sociais, a Taxa de Iluminação Pública e a Lei Orçamentária de 2013, que subtraiu milhões de reais da Educação carioca e confirmou a política de terceirização da Saúde.

Mas, para este novo quadriênio, o povo do Rio de Janeiro dobrou o número de vereadores do Psol e deu quase um milhão de votos a Marcelo Freixo em sua disputa com o atual prefeito — o que aumenta muito nossa responsabilidade. Nossa proposta foi aprovada por um terço dos eleitores cariocas.

Não faltam evidências do insucesso do atual governo nas áreas da Saúde, da Educação, na preservação do meio ambiente e na gestão dos transportes. Portanto, é nossa missão cobrar as correções necessárias para que a população carioca não continue a sofrer nas portas dos hospitais, nas filas da matrícula escolar, nas ciclovias intransitáveis, nos ônibus de péssima qualidade e nos engarrafamentos infindáveis.

Porém, para vencermos o desafio, o cidadão carioca não pode deixar de fiscalizar o trabalho de seus representantes: através da imprensa, nas redes sociais e comparecendo tanto quanto possível às galerias da Câmara, na Cinelândia, para saber quem está realmente ao seu lado. Nunca é tarde para a reação.

Vereador pelo Psol

Fonte: O Dia/RJ

Mensalão, o musical - Nelson Motta

Com grandes espetáculos, cenários luxuosos, elencos competentes e salas lotadas em longas temporadas, os musicais se tornaram o sucesso do momento no teatro brasileiro. Em tese, qualquer tema pode inspirar um musical, bastam boas músicas e letras e uma historinha para costurar tudo. Até o mensalão daria um musical.

A abertura seria a cena verídica, relatada por José Casado, do encontro de Lula e Zé Dirceu com Roberto Jefferson para celebrar o acordo do PT com o PTB. Com bons vinhos e largos sorrisos, eles chegam para o jantar festivo na casa de Jefferson. Depois do lauto repasto, dos risos e das garrafas vazias, passam à biblioteca para o café, conhaque e charutos.

Desabado no sofá vermelho, com o olhar já meio turvo, Lula é surpreendido por Jefferson, que começa a cantar acompanhado ao piano por sua professora de canto lírico:

"Eu sei que vou te amar/ por toda a minha vida eu vou te amar/ Em cada despedida eu vou te amar/ desesperadamente eu sei que vou te amar&"

Os convidados emudecem, a voz do barítono ressoa na sala, com gestos largos e interpretação grandiosa, olho no olho de Lula, Jefferson canta a música inteira com intensa emoção e termina com a voz embargada, enquanto uma lágrima furtiva rola pela face de Lula.

Trinta políticos de vários partidos, com ternos brilhantes, gravatas medonhas e cabelos acaju, invadem a cena cantando e dançando para Lula e Jefferson: "Ei você você aí/ me dá um dinheiro aí/ me dá um dinheiro aí."

Segue dueto de Jefferson e Zé Dirceu em "Vou festejar":

Jefferson: "Chora, não vou ligar/ chegou a hora/ vais me pagar/ pode chorar, pode chorar."

Dirceu: "É o teu castigo/ brigou comigo/ Sem ter por quê."

Jefferson: "Eu vou festejar/ vou festejar/ o teu sofrer/ o teu penar."

Os dois juntos: "Você pagou com traição/ a quem sempre lhe deu a mão." (bis)

Dirceu canta "Segredo", de Herivelto Martins, para Jefferson: "Teu mal é comentar o passado/ ninguém precisa saber do que houve entre nós dois/ o peixe é pro fundo das redes/ segredo é pra quatro paredes/ primeiro é preciso julgar pra depois condenar."

Joaquim Barbosa bate o martelo. Blackout.

Fonte: O Globo

São Paulo, feliz aniversário - (Sampa –Caetano Veloso)

Menina triste – Graziela Melo

Triste olhare uma dor
sem nome...

menina pobre
que não conhece
o amor

mas dia
após dia,
sente a dor
da fome!!!

Todos
os dias
a vejo
na esquina!

Volto
para casa
e não consigo
esquecer

o olhar
da menina!!!

            Graziela Melo