domingo, 4 de novembro de 2012

OPINIÃO DO DIA – Fernando Henrique Cardoso: progressismo

O progressismo nos costumes implica na defesa da igualdade de gênero, no apoio às medidas racionais de compensação social e racial, bem como em políticas modernas de controle da violência e das drogas que não joguem as populações pobres contra os governos. Sem esquecer que o crescimento do PIB só é satisfatório quando respeita o meio ambiente e beneficia a maioria da população.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, ex-presidente da República. Hora de balanço, O Globo, 4/11/2012.

Manchetes dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Retrato do Brasil: Mercadores da miséria
Mensalão: União está longe de reaver verbas

FOLHA DE S. PAULO
Governo teme falta de gasolina no fim do ano
Banqueiro diz que é hora de o governo cortar piores impostos
Ministro faz maratona pelo Estado de SP de olho em 2014
Bens de prefeito são o dobro da verba da cidade que o elegeu

O ESTADO DE S. PAULO
PT vai testar em São Paulo planos para nova classe média
'Arco do futuro' tem programas de Kassab
Temer diz que PMDB quer Presidência só em 2018
PCC dá abrigo a fugitivos do morro do Alemão

CORREIO BRAZILIENSE
Toda mudez na CPI vai ser castigada
Dossiê Anísio Teixeira
Enem elimina 37 por divulgar cartões de prova

O ESTADO DE MINAS
Tranquilidade no primeiro dia de provas na capital
CPI dos correios: Algozes do mensalão se dão bem nas urnas

ZERO HORA (RS)
Entrevista :: "Juro que Brasil vive veio para ficar"
Os EUA de Obama :: Quatro anos passados
No alvo das facções
O eleito de Pelotas

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Arco para desafogar a BR
Enem tranquilo, apesar dos boatos

O que pensa a mídia - Editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Hora de balanço - Fernando Henrique Cardoso

As avaliações sobre quem venceu as eleições podem ser discutidas a partir de vários critérios, há, entretanto, dificuldades para um juízo objetivo

As eleições municipais foram um prato cheio para análises, avaliações, distorções e apostas. Os resultados eleitorais foram muito dispersos. Dão margem para tudo: ganhou o PT, pois levou São Paulo; perderam Lula e o PT, pois, no Norte e no Nordeste, o PSDB e o DEM ganharam várias capitais e cidades importantes. Ou ainda: o PSDB foi "dizimado" no Sudeste. Ao que replicam os oposicionistas: quem perdeu foi Lula, derrotado em Salvador, Campinas, Manaus, Fortaleza etc. Se o PSDB era um partido "do Sudeste", expandiu-se no Norte e no Nordeste. O próprio DEM, candidato à extinção, segundo muitos, derrotou o lulo-petismo em Salvador, Aracaju e Mossoró. Juntos, PSDB e DEM levaram sete das 15 maiores cidades da região: no bunker petista das eleições presidenciais a oposição encontra agora fortes bases de apoio. O mesmo se diga sobre o Norte.

As avaliações sobre quem venceu podem ser discutidas a partir de vários critérios: número de prefeituras (o PMDB manteve a dianteira com cerca de mil, o PSDB tem 698, e o PT, 636), número de votos obtidos etc. Há, entretanto, dificuldades para uma avaliação objetiva. Por exemplo: em Belo Horizonte, ganhou o PSB aliado ao PSDB, mas os votos são dos socialistas ou do PSDB de Aécio? O mesmo se diga de Campinas. Bastaria mudar o cômputo dessas duas cidades para alterar a posição relativa dos partidos no rol dos vencedores. O PT se pode gabar de haver ganhado São Paulo. Mas deve reconhecer que seu avanço no país foi tímido para quem queria obter mil prefeituras e detém as rédeas do poder federal e as chaves do cofre. Manteve 16 prefeituras nas cidades com mais de 200 mil habitantes, contra 15 do PSDB (que antes tinha apenas dez). O PMDB, sem vitórias expressivas fora do Rio de Janeiro, guardou, contudo, uma rede importante de prefeituras: nas cidades com mais de cem mil habitantes, ganhou em 45, ficando o PSDB com 48, e o PT com 54. São esses os três partidos com maior capilaridade no eleitorado brasileiro. O PSDB manteve a posição sendo oposicionista e, portanto, com maior dificuldade para obter recursos financeiros e políticos.

O PSB teve dois êxitos significativos: derrotou o lulo-petismo em Recife e em Fortaleza. Isso abre margens à especulação sobre suas possibilidades para as eleições presidenciais, com uma cisão no bloco que até agora apoia o governo Dilma. A divisão entre os eleitores continua sendo entre governistas e oposicionistas. Daí a peculiaridade da situação do PSB, que, governista, derrotou o partido hegemônico no governo, o PT. Prosseguirá nesse rumo? Difícil responder. Para ocupar posições polares num sistema organizado entre governo e oposição, é preciso dispor de base social e rumo político. Se o PSB vier a disputar com chances de êxito as presidenciais, terá que ser identificado pelo eleitorado como diferente do lulo-petismo, ainda que não oposto a ele, e terá de obter apoio em amplos setores sociais em função dessas diferenças. Uma coisa é ganhar votos nas eleições municipais, outra, nas federais.

A consideração vale para o PSDB. Apesar das críticas de que o partido não faz oposição vigorosa, conseguiu manter-se como seu carro-chefe. Em São Paulo, ganhou 176 prefeituras, contra 67 do PT, e, mesmo na capital, arrastando o desgaste da administração local, obteve 40% dos votos. Elegeu candidatos de nova geração, como os prefeitos de Botucatu, João Cury, de Americana, Diego Natal, e de Votuporanga, Junior Marão, com votações muito expressivas. Em Maceió, Rui Palmeira venceu no primeiro turno. Em Blumenau, Napoleão Bernardes ganhou no segundo, assim como, em Pelotas, Eduardo Leite. Mariana Carvalho, em Porto Velho, sem se eleger, teve boa votação. O PSDB renovou os quadros, mas não fez o erro de dispensar os mais experientes: Arthur Virgílio, Firmino Filho ou, para mencionar um entre os veteranos paulistas, o prefeito de Sorocaba, Antonio Pannunzio, são exemplos disso.

Ser jovem não assegura ser portador de mensagem renovadora, e tê-la é a questão estratégica central. Carlos Melo em artigo publicado em "O Estado de S. Paulo" afirmou que o PSDB era originariamente "liberal na economia, social-democrata nas políticas públicas e progressista nos costumes". Essa poderia continuar a ser a mensagem do partido, desde que se acrescente ao liberalismo econômico o contrapeso de um Estado atuante nas agências reguladoras e capaz de preservar instituições-chave para o desenvolvimento, como Petrobras e os bancos públicos, sem chafurdar no clientelismo e na confusão entre público e privado. O progressismo nos costumes implica na defesa da igualdade de gênero, no apoio às medidas racionais de compensação social e racial, bem como em políticas modernas de controle da violência e das drogas que não joguem as populações pobres contra os governos. Sem esquecer que o crescimento do PIB só é satisfatório quando respeita o meio ambiente e beneficia a maioria da população.

Renovar implica se comunicar melhor, usando linguagem contemporânea nas mídias televisivas e eletrônicas. Mas não basta a pregação durante o período eleitoral. É preciso a reiteração cotidiana das crenças e dos valores partidários, para reagir à tentativa dos adversários de estigmatizar o PSDB como o partido "dos ricos", privatista a qualquer custo e arrogante. Perguntem aos pobres de Maceió, Teresina, Belém ou Manaus em que partido votaram e verão que a identificação com os partidos se dá mais pela mensagem e pelas características de quem as proclama e a quem se dirige do que por classificações abstratas de segmentos sociais. Sem deixar de ser um partido modernizador, o PSDB, como escrevi tantas vezes, deve se dirigir aos mais pobres, mas também às classes médias, tanto às antigas como às camadas que aumentaram a renda, mas ainda não têm identificação social própria. É esse o caminho para êxitos futuros.

Fonte: O Globo, O Estado de S. Paulo e Zero Hora (RS)

Debate sobre a delação de Valério

O julgamento do mensalão será retomado na próxima quarta-feira, em meio à polêmica sobre o novo depoimento que teria sido concedido pelo empresário Marcos Valério à Procuradoria Geral da República. Considerado operador do esquema, ele promete fazer novas denúncias, envolvendo, inclusive, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, caso seja beneficiado com a delação premiada. Marcos Valério foi o primeiro réu a ter penas calculadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A punição, fixada em mais de 40 anos de prisão, pode ser reavaliada. A Ação Penal 470 está na fase final, a da dosimetria.

Ainda pairam expectativas sobre a possibilidade de Marcos Valério conseguir algum tipo de benefício caso ele apresente provas inéditas ou alguma colaboração significativa para elucidação do caso. Ontem, a assessoria de imprensa do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou que a PGR não vai comentar as informações recentes. Magistrados da Suprema Corte e integrantes da Procuradoria asseguram, no entanto, que o julgamento do mensalão, previsto para terminar neste mês, não será influenciado por novas apurações. Ontem, o Correio publicou entrevista em que o ministro do STF Marco Aurélio Mello afirma que "novos fatos podem frutificar em outros processos, em outras áreas jurídicas, mas não na AP 470". O ministro já tinha afirmado que não vê como Marcos Valério não ser preso.

Reportagens do Correio também já mostraram que não é a primeira vez que o empresário tenta obter o benefício da delação premiada. Em agosto, a defesa do reú havia pedido que o Supremo considerasse as "colaborações" de Valério. Em setembro, ele enviou um fax ao STF pedindo para ser incluído no serviço de proteção à testemunha. No documento, ele afirmou, mais uma vez, que faria novas acusações, caso a solicitação fosse acatada.

Fonte: Correio Braziliense

Supremo retoma definição das penas na próxima quarta

Julgamento no STF foi interrompido para tratamento de saúde do relator Joaquim Barbosa há duas semanas

Tribunal só estabeleceu até agora penas para Marcos Valério, o operador do esquema, e um dos seus ex-sócios

SÃO PAULO - O STF (Supremo Tribunal Federal) retoma na próxima quarta-feira o julgamento do mensalão em meio às incertezas criadas pelas ameaças do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, que se diz disposto a fazer novas revelações sobre o esquema.

O julgamento chegou à fase final, em que os ministros do STF vão definir as penas de cada um dos 25 réus condenados. Ele foi interrompido há duas semanas porque o ministro Joaquim Barbosa, relator do caso, teve que viajar para tratamento de saúde.

Segundo reportagens publicadas nos últimos dias pelo jornal "O Estado de S. Paulo" e pela revista "Veja", Valério indicou aos ministros do Supremo e ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que irá incriminar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se for chamado para prestar novo depoimento.

Segundo a revista "Veja", Valério diz que os petistas lhe pediram ajuda em 2003 para silenciar um empresário de Santo André que estaria chantageando Lula e seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, que hoje chefia a Secretaria-Geral da República.

De acordo com o relato da revista, o então secretário-geral do PT, Silvio Pereira, pediu a Valério dinheiro para conter o empresário Ronan Maria Pinto, que teria ameaçado implicar Lula e seu auxiliar na morte do prefeito petista de Santo André, Celso Daniel, assassinado em 2002.

Valério diz que se recusou a colaborar e que um banco arranjou o dinheiro para os petistas, segundo a revista. Ontem, o jornal "O Estado de S. Paulo" afirmou que, em depoimento à Procuradoria-Geral da República em setembro, Valério disse que pagou o empresário de Santo André.
Contradição

Só um novo depoimento poderia esclarecer a contradição entre as declarações atribuídas a Valério. Ministros do STF e o procurador Gurgel deixaram claro que só examinarão a conveniência de abrir um novo inquérito sobre o caso depois que o julgamento em curso terminar.

Silvio Pereira disse à Folha que a versão atribuída a Valério é "puro delírio". Gilberto Carvalho afirmou que desconhece "completamente" o assunto e nunca teve contato com Valério. A assessoria de Ronan disse que a história é "absurda" e que ele não conhece e nunca se encontrou com o operador do mensalão.

O Supremo já definiu que Marcos Valério terá que cumprir mais de 40 anos de prisão pelos cinco crimes pelos quais foi condenado, corrupção ativa, formação de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

A pena definida para um dos ex-sócios do empresário, o publicitário Ramon Hollerbach, já soma mais de 14 anos de prisão, mas o julgamento foi interrompido antes que os ministros estabelecessem a punição para dois dos cinco crimes pelos quais Hollerbach foi condenado no tribunal.

O julgamento começou há três meses e é o mais complexo da história do STF. Depois que as penas dos condenados forem fixadas, os ministros terão de redigir o acórdão em que serão resumidas as conclusões do julgamento.

Só depois disso é que o tribunal poderá expedir as ordens de prisão dos condenados. O mais provável é que isso só ocorra no primeiro semestre do próximo ano.

Fonte: Folha de S. Paulo

STF concluiu que Banco do Brasil foi lesado

Caso do bônus de volume levou à condenação de ex-diretor da instituição

BRASÍLIA - O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) apontou a necessidade de devolução de dinheiro ao Banco do Brasil, no caso do bônus de volume apropriado indevidamente pela agência de Marcos Valério. Entre os responsáveis está o ex-diretor de Marketing do banco Henrique Pizzolato, condenado no STF por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato.

Os contratos determinavam que os bônus de volume obtidos pela agência de publicidade fossem repassados ao banco, o que não ocorreu. Um mês antes de iniciar o julgamento no STF, o TCU isentou os gestores de responsabilidade no caso. O próprio STF teve entendimento contrário quanto a Pizzolato. O MP junto ao TCU recorreu e o processo está em fase de recurso. Novas defesas foram anexadas aos autos, e o MP deve elaborar novo parecer sobre o caso. Só então o ministro relator vai proferir decisão e submeter suas considerações a votação em plenário.

A parceria entre o INSS e o Banco BMG para operação do crédito consignado gerou três procedimentos no TCU. O primeiro resultou em multas para gestores da Dataprev, responsável pelo suporte tecnológico ao INSS, e em pedido de apuração em dois processos sobre os gastos para emissão de 10,6 milhões de cartas a aposentados.

Nas cartas, o INSS oferecia os serviços de crédito consignado do BMG. O TCU cobrou, nos dois processos, esclarecimento sobre quem arcou com uma despesa de R$ 7,6 milhões para a emissão das cartas: INSS ou Correios. Nos procedimentos, não houve uma conclusão, e o dinheiro não foi devolvido.

Pelos mesmos fatos, o ex-presidente Lula e o ex-ministro da Previdência Social Amir Lando são réus em processo na Justiça Federal em Brasília. O Ministério Público Federal pediu, em ação de improbidade, que eles devolvam R$ 10 milhões aos cofres públicos, gastos com a emissão das cartas.

Um dos processos do TCU resultou em multa de R$ 15 mil ao ex-presidente do INSS Carlos Bezerra, investigado em inquérito sigiloso no STF, aberto como desdobramento da denúncia principal do mensalão.

- Não sei dizer se a multa está sendo paga. Sei que há um inquérito, há oito anos. Não houve favorecimento, mas uma pequena falha técnica - disse Bezerra, deputado federal pelo PMDB (MT).

No processo referente à Eletronorte, o TCU determinou que a estatal deixasse de repassar R$ 365,6 mil à DNA Propaganda, em razão da não prestação dos serviços e de superfaturamento. A estatal diz que a decisão foi "rigorosamente obedecida".

Fonte: O Globo

Poderes em desalinho - Tereza Cruvinel

Os poderes devem ser independentes e também equipotentes, gostava de dizer o ex-senador e ex-vice-presidente Marco Maciel, um estudioso das formulações de Norberto Bobbio sobre o funcionamento da democracia. Mais de 20 anos depois da restauração democrática, os poderes continuam sendo formalmente independentes, mas, com alguma honestidade política e intelectual, deve-se reconhecer que a equipotência vem sendo gradualmente dissipada. E que o poder que se enfraquece é o Legislativo. Ao mesmo tempo que perde apoio e credibilidade junto aos cidadãos, por conta dos desvios individuais ou coletivos que desacreditam a instituição, vai tendo suas atribuições expropriadas pelo Judiciário, pelo Ministério Público e outros contra-poderes. Mas, diga-se também, o próprio Congresso contribuiu para esta situação. Por anos, foi complacente com práticas que minaram seu prestígio e permitiu que o Judiciário avançasse sobre o papel de legislar através de interpretações da Constituição e das leis.

Na quinta-feira, o senador Fernando Collor fez um longo e contundente discurso sobre o tema, que comportou novos ataques ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ante a revelação de que ele colheu um novo depoimento de Marcos Valério, em segredo de Justiça, temporalmente coincidente com a divulgação de um material pela revista Veja, que parecia, mas não era uma entrevista. Foi atribuído a pessoa próxima de Valério, que teria apontado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como chefe do mensalão. A contenda de Collor com Gurgel vem da CPI do Cachoeira, quando representou contra o procurador junto ao STF por não ter formulado denúncia contra o ex-senador Demóstenes Torres e outros envolvidos na Operação Vegas, da Polícia Federal, só o fazendo quando estourou a Operação Monte Carlo. O STF arquivou a representação.

Mas, afora os ataques a Gurgel, que acusou de transformar a Procuradoria Geral da República numa cafua a serviço de interesses políticos, Collor apontou problemas que resultam na perda da equipotência, embora não tenha usado este termo. O esvaziamento do Legislativo é uma ameaça à democracia, disse, ele, apontando a absorção, por outras esferas de poder, das três funções precípuas do Legislativo: fiscalizar, legislar e aprovar o Orçamento.

Em relação ao Orçamento, o Congresso recobrou com a Constituinte o poder de emendá-lo (suprimido pela ditadura) mas, de fato, não tem qualquer controle sobre sua execução, na medida em que se trata de mera peça autorizativa. O governo executa o que bem entende, segundo seu pendor fiscal. As emendas parlamentares são as migalhas da mesa, e são liberadas segundo critérios de fidelidade. Com o já dito aqui, depois do julgamento do mensalão, o STF poderá entender que as emendas também são peculato ou vantagem indevida.

A atividade fiscalizatória, disse Collor, vem sendo monopolizada pelo Ministério Público, a Polícia Federal, a Controladoria-Geral da União (CGU), a mídia e o Tribunal de Contas da União (TCU) — que é auxiliar do Congresso, mas atua de forma independente. É mais um contra-poder. Na tarefa de legislar, o Congresso foi permitindo que se instaurasse uma situação em que o TSE legisla por instruções sobre eleições e o Supremo sobre tudo, ao interpretar a Constituição. No julgamento do mensalão, 10 juízes discursam como "pais da pátria" sobre como deve funcionar a democracia , que contou fundamentalmente com o Legislativo na construção de seus alicerces e pilares. Ulysses Guimarães tinha uma frase para a diferença entre o poder que emana do povo e o Judiciário: "O Supremo não tem rampa".

Enquanto isso, no outro vértice da Praça dos Três Poderes, um paradoxo marca o Executivo. Trata-se, por um lado, de um poder prisioneiro do presidencialismo de coalizão, obrigado a negociar a maioria com muitos e variados partidos. Mas faz isso de forma imperial, jogando com a pendência que os deputados têm dos favores federais para garantir suas eleições. E usurpa, também, o poder de legislar, sufocando o Congresso com medidas provisórias, não deixando espaço para a aprovação de leis de iniciativa parlamentar.

Por tudo, realmente estão a desejar tanto a independência quanto a equipotência.

Genoino terá tribuna

O ex-deputado José Genoíno, condenado pelo STF mas com penas ainda não definidas, não deixará por menos. A partir de 1º de janeiro assumirá o mandato de deputado federal como primeiro suplente, em função da eleição do deputado Carlinhos Almeida para a prefeitura de São José dos Campos. "Vou cumprir meu dever constitucional", diz ele. Ficará na Câmara alguns meses, até o trânsito em julgado das sentenças. Nesse período, naturalmente fará uso intenso da tribuna, segundo a linha já anunciada de acatar as decisões do STF, mas questionando o julgamento e proclamando inocência.

Depois, caberá à Câmara conduzir o processo de perda de mandato, prevista no artigo 55 para os deputados que sofram condenação judicial. É o que sustenta o atual presidente, Marco Maia.

Fonte: Correio Braziliense

Coerção social - Merval Pereira

A confirmação de que a presidente Dilma nunca levou em conta a sugestão de não comparecer à posse do relator do mensalão, ministro Joaquim Barbosa, na presidência do Supremo Tribunal Federal, dada por Jorge Bastos Moreno na sua coluna de ontem, é um alívio para quem se preocupa com os avanços de certas áreas petistas sobre a institucionalidade democrática.

Não comparecer à posse seria, ao ver desses setores, uma maneira de demonstrar a insatisfação do governo com as condenações do mensalão. Há indicações de que o próprio ex-presidente Lula estaria insistindo nessa atitude por parte da presidente, o que, se confirmado, demonstraria um total descontrole.

Na verdade, esse "protesto" seria transformar questão de Estado em partidária, prática comum entre setores petistas, mas já superada pelo menos em termos oficiais desde que Lula, em seu primeiro mandato, desistiu de andar com uma estrela do PT na lapela e trocou-a por um escudo da República.

A estrela vermelha do PT plantada nos jardins do Alvorada por dona Marisa Leticia foi outra afronta, aos princípios do republicanismo e ao trabalho de Burle Marx, que também foi superada.

Paralelamente, esses setores radicais do PT empenhados em confrontar a democracia estão sempre dando uma ajuda à imagem institucional da presidente, que sai desses embates com a figura engrandecida. Diante de tanta insensatez, uma atitude sensata passa a ser elogiável. Suspeito que tudo não passe de uma jogada bolada pelo João Santana.

Passado o primeiro choque, vai o PT retornando à normalidade democrática onde sua atuação está circunscrita às normas da lei, ficando ultrapassada a tentativa de emparedar o STF e a liberdade de imprensa.

A condenação de todo o alto comando partidário petista é ao mesmo tempo a condenação de uma forma de fazer política que a democracia abomina, como ressaltou o ministro Ayres Britto em uma das suas intervenções durante o julgamento do mensalão. A consequência é o estreitamento da margem de manobra do grupo petista que parece ainda insistir na prática agora condenada, como se o que está acontecendo não tenha nenhuma consequência no comportamento do eleitor médio brasileiro.

O PT alegar que a vitória nas eleições municipais, da qual emergiu como a sigla mais votada e com a prefeitura de São Paulo, seria uma absolvição das urnas, é não apenas admitir que necessita de uma absolvição para pagar seus pecados, como transformar cada derrota que teve em uma condenação.

Nada disso aconteceu, o PT não foi absolvido pelas urnas e precisa dar à sua vitória eleitoral a verdadeira dimensão: um passo adiante na organização partidária, sem dúvida nenhuma a estrutura mais azeitada entre todas as que estão na disputa do eleitorado.

Se o partido continuar atrelado a esse passado que já foi condenado e ainda não foi totalmente revelado, insistindo em se colocar acima da lei, afrontando os poderes da República, estará marcado pela imagem que ainda é predominante, a de um partido de tendência autoritária.

A renovação do partido, tese que o ex-presidente Lula defendeu com méritos na campanha paulistana, tem que corresponder a atitudes renovadas, o que não acontece na mesma São Paulo, onde um vergonhoso acordo pós-eleitoral une o prefeito Gilberto Kassab, caça preferencial da campanha, ao caçador, numa prática nefasta que permitiu a Paulo Maluf cantar o jingle lulista.

Do jeito que vai, com a defesa dos mensaleiros e a prática política de perverso pragmatismo, a tese de renovação não passa de uma tática marqueteira imediatista. Como também disso não passa a insistência com que esses setores, inconformados com o que classificam de distorções do STF, exigem que o mesmo tratamento seja dado ao mensalão tucano.

Ora, se veem nas condenações de agora injustiças, como desejam que o mesmo "julgamento de exceção" se repita? Seria uma contradição se não fosse uma mera tática de disputa política.

O adiamento de uma suposta nota de protesto contra a "mídia golpista" e o STF é uma demonstração de que, mesmo a contragosto, esses setores ainda têm juízo suficiente para saber suas limitações. Mesmo que o tenham feito com receio de exacerbar os ânimos antes da definição das penas, é uma demonstração de que a coerção social funciona.

Fonte: O Globo

Homem-bomba enjaulado - Eliane Cantanhêde

Mesmo depois de condenado e preso, Marcos Valério continuará sendo um homem-bomba, sem compromissos partidários com o PT e pronto a explodir as bases do governo Lula e a aura do próprio Lula. Será, aliás, ainda mais perigoso: um homem-bomba enjaulado. Resta apenas distinguir o quanto ele, de fato, sabe e o quanto ele só chuta.

Um dado fundamental de todo o processo do mensalão é que acaba o julgamento no STF, mas a possibilidade de delação premiada continua valendo. Pela lei, um dos réus, ressentido, infeliz da vida -e Valério é o exemplo mais estridente-, pode muito bem abrir a boca antes, depois e durante a execução da pena. Ou seja, diretamente da prisão.

Novembro chegou e nada de conclusão do julgamento. A dosimetria será retomada nesta semana e, até o fim do mês, Britto sai da presidência do STF, Joaquim Barbosa assume, Teori Zavascki chega e discute-se intensamente quem será o novo ministro na vaga de Britto.

As entradas em cena de Teori e do futuro ministro ganham enorme relevância, possivelmente coincidindo com a fase dos embargos declaratórios (basicamente de forma) e infringentes (que pedem revisão de votos).

O caso do deputado João Paulo Cunha é um bom exemplo. Há controvérsias internas quanto a uma de suas condenações -por lavagem de dinheiro- e os ministros se dividiram. Quase um empate. Vem aí votação de embargo infringente.

Com a viagem do relator e futuro presidente Joaquim, para tratamento de saúde, e dois feriados em novembro, o mês fica bem curto. Depois, vem o recesso do Judiciário e para tudo. O que empurra o processo para 2013 e as prisões para o segundo semestre do ano, sabe-se lá quando.

Depois, vem o julgamento do mensalão mineiro, que pega o PSDB. Apesar de ter sido antes do petista, só chegou ao STF dois anos após. Mas não perde por esperar. O principal ponto em comum entre os dois mensalões, aliás, é o explosivo Valério.

Fonte: Folha de S. Paulo

Longe dos olhos - Dora Kramer

Os votos das eleições municipais ainda estavam sendo apurados quando um político, que além de governista é ministro, em conversa reservada chamou atenção para o detalhe: "Vocês (jornalistas) não estão percebendo a jogada".

Ele se referia ao noticiário sobre a possível candidatura à Presidência da República do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, saudado como liderança emergente na política nacional.

O ministro falava mais especificamente da leitura que se faz do afastamento de Campos do ex-presidente Lula e seu provável alinhamento ao campo da oposição mais adiante, se a economia e os humores do eleitorado criarem dificuldades para a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Segundo ele, não é assim que o panorama é visto em algumas rodas de governo.

Nelas se conversa o seguinte: Lula estaria adorando e de alguma maneira até incentivando os festejos em torno de Eduardo Campos.

Quem conhece bem os anseios e o modo de agir do ex-presidente aposta que o plano dele é realmente tentar voltar ao Palácio do Planalto em 2014.

A primazia é a recandidatura de Dilma que Lula, no entanto, não teria dificuldade de afastar. Mas, ponderam os analistas palacianos, faria isso muito melhor se tivesse uma boa justificativa. É aí que entra em cena o fortalecimento da figura do governador. Quanto mais viável ele se apresentar como alternativa ao campo governista, mais argumentos Lula e o PT terão para alegar que só a volta do ex-presidente seria capaz de assegurar a vitória e a preservação do projeto de poder.

Nesse caso, consideram aqueles autores, ofereceria o lugar de vice para o pernambucano e reforçaria a presença do PMDB no Ministério como forma de compensação. É o que vai acontecer? Não necessariamente, mas é o que os observadores engajados no processo entendem que Lula engendra.

E também o que alguns espectadores da oposição acham provável partindo do princípio de que seria muito difícil Eduardo Campos, um situacionista, mudar radicalmente o discurso para buscar votos na condição de oposicionista.

Moto próprio. O PT tem autonomia para aplicar seu estatuto como bem entender. Nisso o presidente do partido, Rui Falcão, diz o óbvio ao justificar a decisão de não punir os condenados pelo Supremo: "Quem aplica o estatuto somos nós".

O PT só não pode insistir em dizer que o partido não se confunde com os crimes cometidos "por alguns" quando os protege alegando que a previsão de expulsão para condenados "por crime infamante ou práticas administrativas ilícitas" nesse caso "não se aplica". A interpretação é discricionária e casuística. Se de um lado evidencia uma unidade rara - senão inexistente - em outros partidos, de outro elimina a possibilidade de qualquer separação entre a ação de um grupo e o pensamento do coletivo, neste aspecto representado pelo presidente. Com a agravante de autorizar a conclusão de que para o PT as leis e regras não requerem obediência irrestrita. Dependem da conveniência.

Meia volta. Se arrependimento matasse não sobraria um deputado federal do PT para contar a história do acordo de rodízio na presidência da Câmara firmado com o PMDB.

É grande a inquietação na bancada, que não acha a menor graça em ficar de fora do comando do Congresso, ainda mais em ano de sucessão.

Na Câmara o acerto é em prol do líder pemedebista Henrique Eduardo Alves e no Senado vale o critério da escolha de um representante do maior partido. No caso, o PMDB.

Os deputados petistas alegam que não foram ouvidos sobre o acordo, cujos termos estão bem postos por escrito, assinados e devidamente guardados na gaveta do vice-presidente Michel Temer.

Fonte: O Estado de S. Paulo

A refundação tucana – Renato Lessa

Pela ótica triunfalista de José Aníbal, a derrota de Serra é algo tão distante quanto as primárias no Estado de Wyoming e o que há a fazer é refundar o PSDB a partir de Belém, Manaus e Teresina

Entre as muitas atividades do espírito humano tocadas pelo condão da fantasia e da imaginação a hermenêutica eleitoral ocupa lugar de destaque. Embora haja quem julgue ser possível uma ciência das eleições, capaz de estabelecer a grande explicação que pulveriza interpretações imperitas, a coisa segue sujeita a imparável jogo opiniático. Diga-se de passagem que são tantas as dimensões associadas ao processo e ao resultado eleitorais que, a depender do lugar no qual fincamos a ponta seca de nossos compassos, isto é das nossas crenças, apostas e hábitos cognitivos, a geometria que daí decorre é forçosamente variada.

A pluralidade das interpretações, contudo, não deve ser vista em chave negativa. Se, por um lado, ela é incapaz de asseverar com objetividade o sentido do que, de fato, se passou, por outro ajuda a elucidar algo a respeito da natureza dos intérpretes. Em outros termos, por mais estapafúrdia que seja uma interpretação, ela pode ser esclarecedora a respeito do seu sujeito, ainda que seus predicados sejam pífios.

Todo este arrazoado veio-me à mente ao ouvir e ver - e peço já desculpas pela abrupta passagem à vida como ela é - o ex-deputado José Aníbal, do PSDB, em programa hipernoturno, a debater com o deputado Cândido Vaccarezza, do PT, no domingo do segundo turno das eleições municipais. Vale a pena proceder a uma etnografia breve do evento. Vaccarezza mal cabia em si. Afetava um estado de graça tão pleno, que nele cabiam até mesmo manifestações de prudência e humildade e, o que é extraordinário, o reconhecimento da importância da oposição. Mas, se o caso é falar dos tucanos, observemos o ex-deputado José Aníbal e o que, na altura, trouxe aos telespectadores.

Nada menos que uma visão triunfal do desempenho tucano, foi o que José Aníbal proporcionou como exórdio de sua interpretação do ato eleitoral. Segundo sua peculiar hermenêutica, houve vitórias tucanas por todo o Brasil: Manaus, Belém, Teresina, Sorocaba e coisa e tal. Semblante de vencedor, José Aníbal estava rejuvenescido por seu júbilo. Um espectador desavisado o tomaria como o grande vencedor do dia. Em meio à estupefação generalizada entre os jornalistas, diante de tanta euforia, o condutor do debate lembrou a derrota em São Paulo. Derrota prontamente reconhecida, por certo, mas com ares que não era com ele.

A hermenêutica de Vaccarezza, sem surpresa, fixava-se no ato premonitório da escolha de Lula para a sucessão paulistana e no desempenho do candidato Fernando Haddad. José Aníbal proporcionou o melhor da noite, pois, instado a reconhecer que houve uma eleição na capital paulista e de que nela as coisas não se saíram exatamente bem para suas hostes, procedeu a uma anatomia da derrota. Ao fazê-lo, surpreendeu, pois admitiu o que todos sabiam. Curiosa circunstância, na qual um efeito surpresa decorre quando alguém diz o que todos já sabem.

José Aníbal foi preterido na sucessão paulista, em virtude da razia imposta ao tucanato paulista pela candidatura de José Serra. O "making of" geral da salsicha permanece desconhecido, mas o preço a pagar pelo atropelo parece evidente. Para José Aníbal, a derrota de Serra é algo tão distante quanto as primárias do Estado de Wyoming. Não só distante, mas marcado com as tintas do inevitável. É exatamente aqui que ocorre o efeito surpresa da admissão do que todos sabiam: como eleger um candidato apoiado pelo prefeito Kassab? Como eleger um candidato, cuja investidura desorganiza, pelo verticalismo da imposição do nome, uma das máquinas partidárias estaduais mais fortes do país? As palavras duras emitidas ao prefeito, em particular, não encontram paralelo na avaliação petista, pautada pela possibilidade futura de aproximação com o PSD.

José Aníbal, com clareza límpida, tocou em dois mistérios municipais da desrazão tucana. Ambos, por sua vez, associados à mãe de todos os mistérios: José Serra obteve, há pouco menos de dois anos, 40 milhões de votos contra a candidata de um dos presidentes mais populares da história do País. Em qualquer país razoavelmente democrático, isso o qualificaria para liderar a oposição, com imensa legitimidade. O que se passou é sabido: José Serra e seu partido jamais apresentaram ao País sua versão a respeito do que o Brasil poderia ser, como alternativa ao que vem sendo sob Dilma Rousseff.

É razoável supor que as dezenas de milhões de eleitores que sufragaram Serra possuíam a expectativa de dispor de uma versão distinta de país. Nesse sentido, pode-se afirmar que ocorreu uma variante curiosa da tradicional prática do estelionato eleitoral. Prática comum entre vitoriosos: lembremo-nos da eleição, pelo PMDB, de mais de metade da Câmara de Deputados, em 1986, graças ao prestígio do Plano Cruzado. Logo a seguir ao pleito, o plano foi desconstruído.
Tratou-se de um caso clássico de estelionato, já que fundado na premissa de que os efeitos imediatos do Plano Cruzado seriam seus efeitos permanentes. Vida que segue, outras formas de estelionato se apresentaram na política brasileira. Todas elas caracterizadas pela traição, por parte dos vitoriosos, de seus incautos eleitores. Mas o que dizer de derrotados que deserdam seus apoiantes?

O não impacto do julgamento da ação penal 470 nas últimas eleições mostra a desorientação tucana ao insistir que a agenda moral é suficiente para fixar uma agenda alternativa. Agora é, a seguir José Aníbal, refundar o partido a partir de Belém, Manaus e Teresina. José Serra, pelas artes de algum polimorfo perverso, periga ganhar a presidência nacional do PSDB. Dilma Rousseff tem razões para sorrir quando pensa em 2014.

Renato Lessa é professor de Teoria Política da UFF, pesquisador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e presidente do Instituto Ciência Hoje

Fonte: Aliás/O Estado de S. Paulo

Renovação toma pauta dos tucanos após eleição

Partido se divide sobre necessidade de investir em novos nomes na política

Julia Duailibi

O debate sobre renovação partidária no PSDB, que surgiu na esteira de sua derrota na disputa pela Prefeitura de São Paulo, está longe de ser ponto pacífico no partido e hoje se baseia, principalmente, na emancipação de novos representantes de antigas dinastias políticas.

Dividido desde a derrota presidencial de 2010, o PSDB esbarra em dificuldades para unificar o debate. Há quem defenda espaço para novas gerações. Há quem diga que não é uma questão geracional, mas de ideias. "Para mim, a questão da renovação está muito mais ligada às ideias do que à certidão de nascimento", disse o deputado Vaz de Lima, aliado do candidato derrotado do PSDB à Prefeitura, José Serra. "O que define o novo não é uma categoria. Nada mais velho que o novo do PT. É uma questão "a-histórica" e, portanto, apolítica", afirma o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP).

A discussão deixa evidente a divisão no PSDB entre os que querem o enfraquecimento do eixo paulista e o surgimento de uma nova hegemonia de poder, com maior participação do Norte e Nordeste, onde o presidenciável Aécio Neves (MG) costura parte do seu prestígio interno.

No último domingo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi o primeiro a defender renovação: "O momento é de mudança de gerações. Isso não quer dizer que os antigos líderes vão desaparecer. Eles têm apenas que empurrar os novos para a frente". Aécio também falou em espaço para a nova geração como forma de "fortalecer o PSDB".

Serra não gostou das declarações que relacionavam a derrota à questão geracional. Procurou tucanos para dizer que a tese da renovação era "pauta petista".

De olho no eleitor de classe média, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi um dos principais defensores da renovação ao lançar Haddad contra a veterana Marta Suplicy. O escândalo do mensalão também impulsionou a renovação no partido ao atingir uma geração do PT paulista, com José Dirceu e José Genoino.

"O partido é um órgão burocrático. E a tendência é que esses grupos que se consolidam no poder impeçam a mudança", disse o professor Thadeu Brandão, da Universidade Federal Rural do Semiárido, que fez um estudo sobre o enfraquecimento do PSDB no Rio Grande do Norte.

Para o líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE), "o caminho de renovação é sem volta". "Mas não é necessariamente etária. O partido se renova com a reinserção de Artur Virgílio em Manaus, que tem uma forma moderna de se comunicar", disse.

No PSDB, desde 1996 Serra e o governador Geraldo Alckmin se revezam como candidatos a prefeito paulistano. "O partido se tornou muito dependente de dois nomes. Não é culpa deles. Mas do partido", disse o vereador eleito Mario Covas Neto. "Partido tem que discutir o que quer. Talvez por meio de uma reforma do programa, de um congresso ou um seminário. O importante é ter discurso. E é isso que perdemos. Estamos sem rumo."

"Novos" líderes. Hoje, as lideranças citadas pela cúpula partidária são invariavelmente descendentes de políticos conhecidos. É o caso de Bruno Covas, citado como a nova geração de tucanos paulistas, neto do governador Mario Covas. Ou do prefeito eleito de Maceió, Rui Palmeira, filho de Guilherme Palmeira, ex-governador de Alagoas.

Na corrida pela novidade, integrantes do partido falam até no nome do apresentador Luciano Huck, amigo de Aécio e de FHC, que poderia disputar o Senado em 2018. O apresentador diz que, no momento, não tem interesse em ingressar na política.

"É preciso haver uma renovação. Isso é um processo permanente. Significa trazer gente que está defendendo novos pontos de vista, gente que está redefinindo quais são os problemas da sociedade", disse o doutor em ciência política Luis Aureliano Gama de Andrade, professor das faculdades Pedro Leopoldo (MG).

"A defesa da renovação é o discurso mais velho da política. É impossível renovar por decreto. Isso não se impõe. Se conquista. É um processo natural e espontâneo", declarou o líder do partido no Senado, Álvaro Dias (PR), que defende a prévia para escolha do candidato a presidente como forma de fortalecer a sigla.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Grupo de Serra tenta deter avanço de Aécio sobre cúpula do PSDB

Bruno Boghossian e Julia Duailibi

Aliados de José Serra (SP) iniciaram uma campanha para tentar emplacar na presidência do PSDB, no ano que vem, um nome "neutro", que evitaria o avanço do senador Aécio Neves (MG) sobre a cúpula do partido.

Cientes do enfraquecimento de Serra depois da derrota na disputa pela Prefeitura de São Paulo, esses aliados já admitem negociar a indicação de um tucano "independente". Por enquanto, o favorito é o senador Álvaro Dias (PR), que deveria abandonar suas pretensões de se candidatar à Presidência da República para assumir o comando do PSDB.

Uma alternativa é o governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho, que está em seu segundo mandato e não precisaria disputar uma reeleição em 2014.

Em maio de 2013, a presidência do PSDB terá de ser renovada. O atual presidente, Sérgio Guerra (PE), não pode mais ser reeleito. O novo ocupante do cargo terá como função preparar o partido para a eleição de 2014.

Alguns serristas chegaram a defender o nome do próprio ex-governador paulista ou de um aliado seu, como Aloysio Nunes Ferreira (SP). Sabem, porém, que é grande a resistência do grupo de Aécio, que defende um nome ligado ao mineiro para trabalhar alinhado a ele na corrida pela Presidência.

Aloysio conversou esta semana com líderes tucanos das regiões Norte e Nordeste para convencê-los a aderir ao projeto. Nos próximos meses, deve procurar também aliados de Aécio e o governador Geraldo Alckmin.

Caso o projeto dos serristas para a cúpula do PSDB seja derrotado, o grupo estuda emplacar Serra na presidência do Instituto Teotônio Vilela, núcleo de estudos do partido, que tem orçamento de cerca de R$ 10 milhões por ano.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Receita para o Planalto

Felipe Patury

O presidenciável tucano Aécio Neves, senador por Minas Gerais, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso analisam um texto sobre o que o partido deveria fazer para reconquistar o Palácio do Planalto em 2014. Elaborado pelo deputado Marcus Pestana (MG), um dos mais próximos colaboradores de Aécio, o texto propõe que o projeto presidencial seja dividido em quatro etapas. Na primeira, o PSDB realinha seu programa com a social-democracia europeia e lança um novo manifesto, no primeiro semestre. A segunda ocorre entre junho e agosto de 2013, quando é decidida a forma de escolha do candidato presidencial: por prévias ou por convenção. Na terceira fase, são entregues ao candidato todas as propagandas a que o partido tem direito no segundo semestre de 2013 e em 2014.0 segundo trimestre do ano da eleição seria dedicado à formação de alianças partidárias.

Fonte: Revista Época

Voo solo do PSB é principal preocupação de Dilma

Receio é que candidatura própria de Eduardo Campos atraia oposição ou outros partidos da base insatisfeitos

Maria Lima

BRASÍLIA - Nem bem as urnas foram apuradas, no último domingo, e já no dia seguinte os principais líderes dos partidos do arco de alianças do governo começaram a traçar cenários e a montar seus exércitos para a eleição de 2014. Criticada por aliados e até integrantes do PT, que reclamaram uma maior participação política em defesa de seus candidatos derrotados, a presidente Dilma Rousseff já percebeu a movimentação e resolveu sair na frente. Nos próximos dias corre atrás para manter no seu grupo o principal aliado, o PMDB, mas, principalmente, para tentar neutralizar ações isoladas do PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

Neste primeiro momento de avaliação dos resultados das eleições municipais, nem é tanto o PSDB, que cresceu no Norte e Nordeste, que preocupa as forças políticas do governo. O PT se sente mais ameaçado com a possibilidade de Eduardo Campos antecipar para 2014 seu projeto de poder, aliando-se aos tucanos ou a outros partidos insatisfeitos da base, como PTB e PSD.

Indicado informalmente pelo grupo do PSB que prega a independência do partido em relação ao PT, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) dá o tom:

- O PSB veio consistentemente confirmando o crescimento de sua musculatura e capilaridade. Nessas eleições deixou de ser um partido de reduto nordestino, para ser um partido com lideranças expressivas nas cinco regiões do País. Ganhou a musculatura necessária para deixar de ser vagão para ser locomotiva. Inegável que passa a sonhar com projeto de poder próprio.

Na terça-feira Dilma janta com o vice-presidente Michel Temer e os dirigentes e líderes das bancadas do PMDB e do PT na Câmara e no Senado. Na véspera do próximo feriado, dia 14, ela aproveita uma reunião de governadores do Nordeste, em Salvador, para tentar recompor as pontes com Campos em encontro reservado.

Principal força dessa eleição municipal, o PSB travou com o PT os mais duros embates, e se aproximou do PSDB do senador Aécio Neves.

Fonte: O Globo

PSD de Bornhausen ganha hegemonia em SC

Além de controlar o governo estadual, partido venceu em Florianópolis e vai governar 20% das prefeituras catarinenses

Cientista político afirma que PSD abordou temas de candidatos de esquerda e se afastou do perfil do antigo PFL

Felipe Bàchtold

PORTO ALEGRE - A eleição municipal deste ano consolidou o ressurgimento de uma corrente política que parecia extinta no Estado de Santa Catarina.

Com a vitória de Cesar Souza Júnior para a Prefeitura de Florianópolis, o grupo ligado ao ex-senador Jorge Bomhausen ganhou hegemonia na política local e transformou o Estado em uma espécie de "feudo" do PSD no país.

O partido, fundado no ano passado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, vai governar 20% das prefeituras catarinenses. Foi o segundo melhor resultado da sigla no país, atrás somente da Bahia. A vitória em Florianópolis foi a única da legenda em capital em sua primeira eleição.

Governador

O sucesso é conseqüência em parte da força do governador Raimundo Colombo, afilhado político do ex-senador, que trocou o DEM pelo PSD em 2011 e levou consigo inúmeros apoiadores.

Políticos que estavam insatisfeitos em outros partidos também embarcaram na nova legenda.

Após passar anos brigando com a direção nacional do DEM, Bornhausen deixou o partido no ano passado e aconselhou Kassab na fundação do PSD. Seu filho Paulo Bornhausen é secretário da gestão Colombo e um dos principais dirigentes do partido em Santa Catarina.

Políticos ligados à família Bornhausen já governaram o Estado de 1951 a 1956 (com Iri-neu Bornhausen), 1975 a 1979 (com Antonio Carlos Konder Reis) e 1979 a 1982 (com o próprio Jorge Bornhausen).

Agora, sem a estampa desgastada do antigo PFL, o grupo conseguiu avançar e lançou nomes jovens.

Hoje govema o Estado juntamente com PMDB e PSDB e fez alianças municipais com o PP, que dominou a política local até o início da década passada com o casal Esperidião Amin e Angela Amin.

Apesar disso, Souza Júnior, 33, diz que a atuação do ex-senador Bornhausen, 75, foi superestimada. "A única participação dele ria minha campanha foi torcer. Não existe aquela coisa antiga de comandar figuras novas."

Para o professor Julian Borba, do Departamento de Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina, o PSD no Estado abordou temas historicamente tratados por candidaturas de esquerda, como planejamento urbano, e se afastou do perfil do antigo PFL. "Reflete um partido que se propõe a não ter uma orientação ideológica definida", diz.

Fonte: Folha de S. Paulo

Temer diz que PMDB quer Presidência só em 2018

O vice-presidente Michel Temer afirma, em entrevista a Marcelo Moraes, que o PMDB só lançará candidato à Presidência em 2018. Em 2014, o projeto é repetir a chapa com Dilma Rousseff, preservando seu espaço como vice. Ele reconhece que a renovação foi a marca da campanha municipal, mas afirma que "a presidente Dilma é uma novidade na política brasileira".

"A Dilma ainda é uma novidade na política brasileira", diz Temer

Michel Temer defende manutenção da chapa presidencial em 2014 e diz que plano do PMDB de candidatura própria deve ser discutido apenas em 2018

Marcelo de Moraes

BRASÍLIA - Mesmo com a onda de renovação se espalhando em muitas disputas municipais, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) se sente confortável para defender a repetição da chapa com a presidente Dilma Rousseff em 2014, preservando seu espaço como vice e procurando espantar a sombra do fortalecido PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

Na opinião de Temer, o PMDB se mantém extremamente forte e credenciado pela eleição de mais de mil prefeitos. Reconhece que a renovação foi uma realidade na campanha, mas avalia que a dupla formada por Dilma e ele ainda representa uma novidade para os eleitores. "A presidente Dilma é uma coisa nova. Na política brasileira, ela ainda é uma novidade. Ela traz isso e a ideia de um governo muito produtivo", diz.

Apesar do tamanho de seu partido, Temer revela que o plano de candidatura própria só deve ser discutido em 2018. Até lá, o plano é manter a parceria com o PT. Essa aliança acabou sendo fechada no 2.º turno, em São Paulo, e contribuiu para a eleição do petista Fernando Haddad. Agora, pode assegurar um ministério para o deputado Gabriel Chalita, candidato do PMDB na cidade.

Como o sr. avalia o desempenho do PMDB no 1º turno?

Acho que foi muito positivo. Nossa meta era fazer mais de mil prefeitos. Acabamos fazendo 1.031 em todo o Brasil. Só em São Paulo tivemos um acréscimo substancial. Basta dizer que na Câmara dos Vereadores não tínhamos nenhum e passamos a ter quatro. Gabriel Chalita teve um desempenho extraordinário como candidato a prefeito. E o próprio lançamento de uma candidatura em São Paulo influencia também no interior. Aumentamos em 21 municípios. Saímos de 70 e fomos para 91. Estou dando o quadro de São Paulo porque retrata um pouco o quadro do Brasil. Muitas vezes vejo alguma afirmação dizendo que o PMDB caiu em relação à última eleição. Diminuiu o número, é verdade. Mas ainda é o maior partido. O segundo tem 700 e poucas prefeituras. Atingimos a meta de manter o maior número de prefeitos, quase 8 mil vereadores. O desempenho do PMDB foi muito grande.

Um dos recados dados pelo eleitor foi a renovação. O sr. acha que o eleitor disse aos políticos "quero coisa nova"?

Acho que houve esse recado. Principalmente quando o nome novo sensibilizou o eleitorado. Porque, às vezes, pode ter um nome novo, inexperiente que não sensibiliza o eleitorado. Acho que houve em todo o Brasil um pouco essa coisa da novidade. O que é uma coisa útil. Não acho que seja uma coisa a ser criticada. É algo a ser elogiável. Acho que a renovação não foi num partido só, mas de maneira geral.

Essa renovação pode servir como recado para uma eventual candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição?

A presidente Dilma é uma coisa nova. Na política brasileira, ela ainda é uma novidade. Ela traz isso e a ideia de um governo muito produtivo. Ela está fazendo um governo muito fértil para o povo brasileiro, que aplaude a presidente. Veja que ela tem um índice de aprovação de 70%. Não estou dizendo aqui que ela vai ou não para a reeleição. Isso é uma questão que ela decidirá, o partido dela decidirá. Mas que ela continua sendo uma novidade não tenho a menor dúvida disso.

O tema renovação não anima o PMDB a lançar um candidato à Presidência?

O que se discute muito é uma possibilidade de candidatura em 2018. No presente momento, a tendência natural, especialmente em face do entrosamento que houve entre PMDB e PT, é manter a aliança para 2014. Você vê que o PMDB fez o maior número de prefeituras e o PT ficou em terceiro lugar. Mas, somando os dois dá um total de quase 1.800 prefeituras. Incluindo duas cidades fundamentais como São Paulo e Rio de Janeiro. Muito naturalmente, houve uma integração entre os dois. Por isso acredito que no PMDB é mais ou menos unânime a ideia de que em 2014 devamos repetir a aliança.

O sr. fala em 2018, que está bem distante. Nas últimas eleições, o PMDB só teve candidatura própria em 1994, com Orestes Quércia. Pelo tamanho do partido, não é pouco? Pode haver alguma pressão interna para ter um candidato?

Acho pouco provável. Agora, reconheço que há sempre nos partidos uma tendência a dizer "puxa, um dia podemos ter candidato próprio". Mas tivemos candidaturas próprias para governo em vários Estados. Um dos objetivos em 2014 será fazer uma base parlamentar forte. Todas as vezes dizem: agora o PMDB vai diminuir. Agora o PMDB vai desaparecer. E o partido continua muito grande. Acho que essa parceria com o PT foi proveitosa.

O PSB cresceu expressivamente nesta eleição. E se fala muito que o partido tem um pé em cada canoa. Para neutralizar um eventual apoio à oposição, o sr. teme que o governo decida dar ao PSB a vaga de vice que hoje é do PMDB?

Não penso dessa maneira. O PSB teve um bom desempenho, mas os desempenhos são muito em função das pessoas e das localidades. Sempre disse que as divergências existentes nos municípios não podem contaminar a aliança nacional. E essa aliança hoje é do PT, PMDB, PSB, vários partidos. A eleição municipal já passou. Agora, vamos olhar 2014. E em 2014 penso que o PSB, liderado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pode vir com esta aliança que foi vitoriosa em 2010.

Em 2014, é mais fácil o PSB ser aliado do governo ou da oposição?

A tendência é a aliança com o governo.

É possível para o governo abrir mão do PMDB numa chapa presidencial?

Se perguntar para mim, que sou do PMDB, digo que não. Mas não sei dizer o que se passa na cabeça da presidente Dilma. Os indicativos levam a uma conclusão que haverá a repetição da aliança e, consequentemente, da chapa. Mas 2014 se decide em 2013.

Essa discussão sobre renovação passa também por uma nova agenda? O PT e o governo reduziram o discurso sobre temas de inclusão social e já priorizam a nova classe média. Essa é a estratégia para conquistar um novo mandato?

Houve um momento histórico em que o principal tema era a inclusão social, que foi feito com muito sucesso. E daí nasceu uma nova classe média. Esse setor é exigente de novas questões governamentais e empresariais. O governo está muito atento a isso. A redução dos juros e do custo da energia, o controle da telefonia celular são questões que dizem respeito a essa classe média e para atender a nova realidade social.

Isso inclui também as questões de melhora da infraestrutura do País?

Claro. Isso será atacado. A presidente me disse há dias: "Temer, o que precisamos é continuar a fazer um bom governo em 2013. Esta é a melhor política que nós temos que fazer". E continuar a fazer um bom governo significa atender essas demandas da infraestrutura. O governo está cuidando da questão de portos, aeroportos, rodovias.

Mas é possível ser otimista nesse sentido no momento em que o País tem visto uma sequência de casos de apagões, especialmente no Norte e Nordeste?

O governo já está atacando o problema. A presidente fez reuniões com todos os setores da área energética para cuidar desse assunto. E é bom que seja assim. Um governo que é muito bem avaliado sob o foco econômico, social, não pode falhar nesse setor da energia.

A infraestrutura é hoje o maior nó do governo? Especialmente sabendo que a Copa do Mundo e a Olimpíada acontecerão em breve?

Copa e Olimpíada farão justamente com que haja muito investimento nessa área. Mas os problemas desse setor derivam mais dessa ascensão social que se deu. Quando você coloca 35 milhões de pessoas que nada consumiam e passam a fazê-lo, a exigência de melhoria é muito maior. 35 milhões de pessoas é um país.

Outra questão central para o governo é garantir crescimento econômico, o que tem acontecido em números bastante tímidos...

O sinal que a presidente dá sobre esse assunto é muito positivo. Começou a haver já nesse trimestre uma pequena elevação do crescimento. E a tendência para 2013 é de uma elevação substancial.

Fernando Haddad, do PT, venceu em São Paulo com apoio do PMDB no 2º turno, através da aliança com o ex-candidato Gabriel Chalita. O sr. acha que ele deve virar ministro?

Se ele vier para o ministério, seria útil para o governo. Mas quem decide isso é a presidente Dilma. Chalita tem experiência e pode adequar-se bem em qualquer cargo do País.

O PSDB teve um mau resultado em São Paulo, com a derrota de José Serra. Como o sr. avalia o desempenho dos partidos de oposição na eleição?

Serra é uma figura preparada. Não há dúvida disso. Mas houve um cansaço. O eleitorado de São Paulo ficou cansado de certas figuras.

A oposição conseguirá fazer frente a uma nova candidatura de Dilma?

Não sei o que vai acontecer em 2013 e 2014. Mas se o governo continuar no ritmo em que está, a possibilidade da reeleição é muito palpável.

O diretório do PMDB no Rio ganhou muita força dentro do partido. Depois das eleições, o prefeito Eduardo Paes chegou a reivindicar seu espaço na vice para Sérgio Cabral. Depois, fez-se um evento para selar a paz. Ela foi realmente selada?

O PMDB teve uma vitória muito significativa lá. E isso se deve à liderança do Cabral, do Paes. Fizeram bons governos e a população soube reconhecer. Quando ocorreu o episódio do Eduardo Paes, logo em seguida Sérgio Cabral me telefonou, dizendo que se eu fosse candidato a vice, seria o candidato deles. E o Paes, que é um homem muito elegante, fez um almoço no Rio, onde me disse que só queria homenagear Sérgio Cabral e que eu era o candidato dele.

Se a presidente Dilma o convidar, o sr. deseja continuar como vice?

A ideia é de manter a aliança. A chapa é possível que se repita. Tem sido assim na história das reeleições.

Terminada a eleição, volta a se falar sobre reforma política. É possível fazer algo nesse sentido?

A reforma é necessária. Tenho sustentado que essa é uma tarefa do Congresso. Mas é preciso que todas as forças da Nação se unam. O governo tem de entrar nisso dizendo que é preciso fazer. As pessoas saem das eleições reclamando muito do que ocorre antes e durante do processo eleitoral.

O alto índice de abstenção já não foi um sinal dessa insatisfação?

Seguramente. Respeito muito a pluralidade partidária, mas evidentemente quando se pensa em 30 partidos, está se pensando num número exagerado. Acho que a cláusula de desempenho seria uma coisa útil.

Nas próximas semanas, será concluído o julgamento do mensalão. Em alguns meses, pode haver a prisão de antigos líderes políticos importantes, como José Dirceu, José Genoino. Essa conta política ainda pode ser paga pelo governo no futuro?

O julgamento eu não discuto. Porque no sistema de separação de poderes, a última palavra é do Judiciário. Quanto à repercussão política desse fato, acho que isso já foi testado nas eleições municipais. O eleitorado separou bem o julgamento no Supremo e a questão eleitoral.

Fonte: O Estado de S. Paulo