segunda-feira, 4 de junho de 2012

OPINIÃO DO DIA – Merval Pereira: desequilíbrio

A proximidade do julgamento do mensalão parece estar desestabilizando emocionalmente o ex-presidente Lula, que se tem esmerado nos últimos dias em explicitar uma truculência política que antes era dissimulada em público, ou maquiada.

Nessa fase em que trabalha em dois projetos que se cruzam e parecem vitais para seu futuro, tamanha a intensidade com que se dedica a eles, Lula não tem tido cuidados com as aparências, e arrisca-se além do que sua experiência recomendaria.

Merval Pereira, jornalista. A missão de Lula, O Globo, 3/6/2012

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Lojas burlam lei e vendem agrotóxicos sem receita
PF investiga novas rotas de tráfico de pessoas
Países perdem US$ 705 bi em crédito

FOLHA DE S. PAULO
Nordeste sofre com falta de água em área urbana
Fim do aluguel de programas de TV revolta os evangélicos
Ministros do STF barram propostas de Ayres Britto para apressar mensalão
PT decide tocar campanha sem ajuda de Marta

O ESTADO DE S. PAULO
Crédito nos bancos estatais cresce 2 vezes mais que nos privados
Promotores que investigam Delta se dizem espionados
Para PT de SP, Marta erra quando mais se precisa dela

VALOR ECONÔMICO
Erros impedem consertos em 30 mil km de rodovias
FGC pode assumir o Cruzeiro do Sul
Bertin reestrutura negócios de energia
Açougue tira clientes das grandes redes

CORREIO BRAZILIENSE
Preso há nove dias, Brunelli é indiciado por quatro crimes
Demóstenes: Maioria está a favor da cassação
Governo teme pela Rio+20

ESTADO DE MINAS
A mais longa das filas
Novo cenário

ZERO HORA (RS)
RS é o Estado que menos investe em educação no Brasil

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Compasso de espera no PT do Recife

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Ministros do STF barram propostas de Ayres Britto para apressar mensalão

STF resiste à pressa de Ayres no mensalão

Novo presidente da corte quer acelerar julgamento para ter tempo de decidir outras questões em seu curto mandato

Ministro tem recebido críticas de colegas por querer julgar um caso relevante por semana antes de se aposentar

Felipe Seligman 

BRASÍLIA - Pouco mais de um mês após assumir a presidência do STF (Supremo Tribunal Federal), Carlos Ayres Britto já precisou entrar em campo duas vezes para apaziguar os ânimos de colegas e enfrentou resistências de alguns deles, principalmente relativas ao julgamento do mensalão.

Os ministros reagiram, por exemplo, à proposta feita por ele de separar um mês na agenda da corte para julgar o caso e decidiram que o julgamento não ocorrerá em todos os dias da semana. Assim, a análise da ação deve levar dois meses para terminar.

Para Ayres, o ideal seria o tribunal fazer uma força-tarefa e resolver a questão do mensalão em três ou quatro semanas, liberando mais tempo de seu curto mandato de sete meses para outros assuntos. Ele deixará a corte em novembro, quando completará 70 anos.

A maioria de seus colegas, porém, foi contra. O relator da ação, Joaquim Barbosa, afirmou não ter condições físicas de participar de sessões diárias e que durem o dia inteiro por conta de seus problemas de coluna.

Ayres também queria usar o recesso de julho para analisar o caso. Da mesma forma, ouviu dos colegas que isso seria inviável. Alguns deles, como Marco Aurélio e Barbosa, já avisaram que têm compromissos e até viagens marcadas para o período de férias.

Para que o julgamento seja marcado, Ricardo Lewandowski precisa apresentar sua revisão do relatório da ação feito por Barbosa, o que deve ocorrer até o fim do mês.

Ayres chegou a oferecer a convocação de até três juízes penalistas para auxiliá-lo. Lewandowski, contudo, não gostou e avaliou a proposta como uma "indevida pressão" sobre sua autonomia.

Agenda intensa

Ministros ouvidos pela Folha também se queixam da vontade do novo presidente de julgar semanalmente um caso relevante. Um deles disse que não é prudente colocar na pauta "uma final de Copa por semana".

No primeiro mês de Ayres como presidente da corte, o STF julgou, por exemplo, a constitucionalidade das cotas raciais e resolveu conflito de décadas entre índios e fazendeiros no sul da Bahia.

Ayres, no entanto, tem enfrentado problemas de falta de quórum -é preciso ao menos oito ministros no plenário para julgamentos de questões constitucionais- e, em pelo menos três ocasiões, teve que interromper julgamentos já iniciados.

A principal razão para isso é o fato de a ministra Cármen Lúcia, nova presidente do TSE, ter decidido iniciar as sessões da corte eleitoral às 19h e, por isso, não tem ficado até o final dos julgamentos no Supremo. Saindo mais cedo, ela acaba obrigando outros dois ministros que também também são integrantes do TSE a acompanha-la.

Fora os problemas relacionados a julgamentos, Ayres também já teve de atuar como bombeiro em duas ocasiões. A primeira aconteceu no primeiro dia de sua presidência, quando os colegas Cezar Peluso e Joaquim Barbosa trocaram farpas públicas.

Na última semana, ele novamente teve de entrar em campo, desta vez pedindo que Gilmar Mendes baixasse o tom nas críticas ao ex-presidente Lula. Em um movimento de bastidor, combinou com os colegas que o tribunal não deveria entrar na polêmica, transformando o caso em um "entrevero pessoal".

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Promotores que investigam Delta se dizem espionados

Chefiada por Benedito Torres, irmão do senador Demóstenes Torres, a cúpula do Ministério Público de Goiás é suspeita de espionar computadores de seus promotores. Um suposto programa espião foi detectado em máquinas usadas por promotores que apuram atividades da Delta. Benedito teria relação com integrantes da organização de Carlinhos Cachoeira, indicam escutas policiais. A direção do MP negou qualquer irregularidade.

Promotores que investigam Delta suspeitam de espionagem no MP de GO

Alana Rizzo

BRASÍLIA - Promotores responsáveis pelo combate ao crime organizado em Goiás entraram com uma representação na Corregedoria do Ministério Público do Estado para investigar se um software "espião" instalado em computadores do órgão foi utilizado para quebrar o sigilo de operações. O programa foi detectado também em máquinas usadas por promotores que apuram as atividades da Delta Construções em Goiás.

A representação, a que o Estado teve acesso, afirma que os computadores do órgão eram monitorados por um programa que "fotograva" a cada 30 segundos a tela. Também era possível acessar qualquer máquina a partir da sede do Ministério Público, em Goiânia, que está sob o comando do procurador-geral Benedito Torres, irmão do senador Demóstenes Torres (ex-DEM, sem partido-GO).

A denúncia, encaminhada em 23 de maio passado, atesta que o programa é capaz de monitorar, sem autorização, o trabalho de promotores, assessores e servidores. O caso foi descoberto em Itumbiara, no interior de Goiás, e outros promotores, especialmente aqueles que atuavam na área de combate ao crime organizado, também identificaram recentemente o programa oculto. Na capital, cinco computadores e um notebook da 57.ª Promotoria de Justiça, que investiga casos envolvendo a empreiteira, também tinham o software.

Promotores possuem independência funcional e suas investigações não são compartilhadas obrigatoriamente com o chefe do MP. "Este fato, objeto da presente representação, é gravíssimo, porque alguns dos procedimentos em curso na 57.ª Promotoria são sigilosos, o que poderá caracterizar a prática de crime, por parte de quem tiver acessado nossos computadores e por parte de quem determinou o acesso, ilegal e clandestino", diz o texto da representação.

Espião. Peritos de informática mobilizados pelos promotores confirmaram a instalação do programa, que era autoexecutável e ficava oculto em todas as máquinas. "O que sabemos é que o programa tem um potencial muito grande de espionagem", disse um dos promotores ao Estado. O programa, segundo a representação, acessava arquivos internos da máquina, sem necessidade de autorização ou sem que fosse possível identificá-lo.

Enviada ao corregedor Aylton Flávio Vechi, a representação pede a imediata retirada do programa de todos os computadores, a oitiva do superintendente de informática do MP e auditagem das máquinas e o esclarecimento de quantas vezes o espião foi utilizado, por quem e a mando de quem. Além disso, quer saber se o procurador-geral de Justiça, irmão de Demóstenes, autorizou acessos durante sua gestão, iniciada em 2011, ou teve conhecimento do uso do programa, instalado seis meses antes de sua posse, mas até hoje operante.

O MP reconhece o uso de dois programas nos computadores do órgão para suporte remoto. Conforme o diretor-geral, Frederico Guedes Coelho, o serviço foi certificado conforme o ISO 9001 e todos os documentos referentes aos programas são públicos desde julho de 2010. Coelho nega uso para espionagem. "Não se observa a existência de atividade de suporte oculta ou sem autorização nos equipamentos que seguem as configurações, procedimentos e rotinas estabelecidas pela área técnica de Tecnologia da Informação do MP-GO", afirmou em nota técnica enviada ao Estado.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Ofensiva para intimar o ex-dono da Delta

Gabriel Mascarenhas, Paulo de Tarso Lyra

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira se reunirá amanhã e voltará as atenções para o empresário Fernando Cavendish, ex-proprietário da Delta Construções, que teria como sócio oculto o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O colegiado pretende votar a convocação e a quebra dos sigilos de Cavendish, conforme acertado entre o presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), e integrantes da CPI, na semana passada.

O movimento na direção de Cavendish interessa principalmente a oposição, que enxerga no depoimento do empresário a possibilidade de empurrar o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), para o centro das apurações. Cabral já afirmou publicamente ser amigo de longa data do ex-dono da Delta, que mantém contratos milionários com o governo fluminense.

Além de trazer Cabral para o foco da CPI do Cachoeira, a quebra de sigilos da Delta aparece como uma chance de a oposição escapar da blindagem da maioria governista na comissão.

"Nós vamos destacar nossos melhores assessores para analisar os sigilos da Delta", afirma o deputado Ônyx Lorenzoni (DEM-RS).

Outro assunto que deve ser destacado na reunião de amanhã é referente à atuação de Luiz Antônio Pagot, ex-superintendente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), órgão do governo federal com quem a Delta assinou contratos.

"A presença do Cavendish na CPI está nas mãos do presidente, que já se comprometeu em colocar o requerimento de convocação para ser votado. E vamos trabalhar para incluir o Pagot entre os convidados a comparecer, como testemunha.

Ele está entre a Delta e Cachoeira e diz ter sido demitido por pressão do bicheiro", argumentou o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR).

Outras empresas

A oposição também promete abrir ofensiva contra empresas ligadas à Delta. O senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP) defende que, antes de Cavendish ser ouvido, sejam quebrados os sigilos de companhias que receberam dinheiro da construtora. "Essas informações serão elementos preciosos, que poderão nos dar condições de fazermos uma oitiva mais contundente com o dono da Delta. Se a base aliada tentar blindar o Cavendish ou quem quer que seja, usaremos a mesma estratégia adotada até aqui: colocar as informações para a opinião pública, que exercerá pressão a favor do depoimentos do suspeito", adiantou Randolfe.

A sessão desta terça-feira será a única da CPI marcada para esta semana, devido ao feriado de Corpus Christi. Os trabalhos serão retomados a partir do próximo dia 12.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

CPI vai investigar empresas-laranjas usadas pela Delta

Empreiteira teria repassado R$ 115 milhões em operações atípicas; suspeita é que firmas intermediavam propinas

Relatório do Coaf aponta que transações foram feitas nos anos eleitorais de 2006, 2008 e 2010, diz revista

BRASÍLIA - O relator da CPI do Cachoeira, Odair Cunha (PT-MG), estuda pedir a quebra do sigilo fiscal de empresas abastecidas de forma atípica pela construtora Delta, além da convocação de seus responsáveis. A oposição também vai apresentar à CPI pedido semelhante.

Segundo reportagem da revista "Veja", relatório do Coaf (órgão de inteligência financeira do governo, vinculado à Fazenda) aponta que a Delta, em movimentação anormal, depositou R$ 115 milhões para essas empresas no período entre 2006 e 2011.

A suspeita é que a Delta usava empresas de fachada para intermediar o pagamento de propina e de doações não declaradas (caixa dois) a campanhas eleitorais.

Segundo a revista, o relatório do Coaf lista oito empresas e depósitos em contas de laranjas. A maior movimentação ocorreu nos anos eleitorais de 2006, 2008 e 2010.

"Pretendo quebrar o sigilo. Mas, antes, precisaria analisar os documentos do Coaf", afirmou Odair, lembrando que, nesta semana, não haverá reunião para votação de pedidos de quebra de sigilo e convocação na CPI.

Vice-presidente da CPI, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) diz que a investigação das empresas ocorrerá após análise do relatório de movimentação financeira da Delta.

A quebra de sigilo da empreiteira foi aprovada na terça-feira passada. "Quando chegarem os dados da quebra de sigilo da Delta, investigaremos isso."

O líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR), disse que vai pedir a convocação e a quebra dos sigilos bancário e fiscal dos envolvidos nas supostas laranjas da Delta.

"Temos que espremer todo o laranjal. Devemos e queremos a convocação de políticos, empresários e laranjas."

Para o líder do PSDB, senador Alvaro Dias (PR), a quebra do sigilo do ex-presidente da Delta, Fernando Cavendish, revelará desvios. "Vamos pedir preferência para essa votação."

Dias afirma que os detalhes sobre o sigilo de Cavendish são mais úteis à CPI do que novos pedidos envolvendo empresas ligadas à Delta.

Segundo a reportagem da "Veja", chamou a atenção do Coaf o fato de o dinheiro sair das contas em saques feitos na boca do caixa, em valores inferiores a R$ 100 mil, numa forma de despistar o controle oficial de movimentação.

Encarregado de fiscalizar transações financeiras, o Coaf detecta automaticamente qualquer movimentação superior a esse valor.

O advogado da construtora José Luis Oliveira Lima afirmou que "a auditoria determinada pela Delta ainda não foi concluída, o que impossibilita um posicionamento pontual da empresa".

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Movimentação de Lula enfraquece Dilma – Editorial: Valor Econômico

Em seus quase 18 meses de mandato, a presidente Dilma Rousseff tem se revelado uma presidente firme nos propósitos, rígida em relação a assuntos éticos e uma pessoa com a compreensão exata daquilo que o ex-presidente José Sarney (1985-1990) chamou de "liturgia do cargo". Nem mesmo a demissão de sete ministros, em período tão curto, deixou em algum momento a impressão de que o governo perdera a compostura.

Na comparação com os dois mandatos de Lula, os meses de Dilma mais parecem a superfície do Lago Paranoá em dias de calmaria. Até a semana passada, quando as maquinações alopradas do Partido dos Trabalhadores voltaram a criar marolas no ambiente político. E o que é pior: justamente no momento em que o país mostra que, a exemplo de seus parceiros do Brics (Rússia, China, Índia e África do Sul), também é vulnerável à crise econômica mundial.

O maior fator de perturbação nesse período nem foi o bate-boca do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o ministro do Supremo Gilmar Mendes ou o fato de Lula, mais uma vez, debochar abertamente da Justiça Eleitoral e fazer campanha, fora de época, de sua mais nova invenção eleitoral, o candidato a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, em entrevista ao apresentador Carlos Massa no "Programa do Ratinho", levado ao ar na quinta-feira pelo SBT. O pior foi o que Lula disse sobre a sucessão de Dilma.

Em vez de ficar calado, como recomendam os bons manuais de política, Lula admitiu, durante a entrevista, que pode ser candidato a presidente da República em 2014. Pelo menos teve o cuidado de fazer uma ressalva: "A única hipótese é se ela não quiser. Eu não vou permitir que um tucano volte à Presidência do Brasil", disse o ex-presidente.

Lula sabe muito bem que Brasília vive da expectativa do poder, e a cada gesto mais categórico - como enfrentar uma plateia com mais de mil prefeitos ou banqueiros pouco inclinados a reduzir os juros -, Dilma mais transmite a impressão de que é presidente de um mandato só. Do contrário, ela não desafiaria tantos interesses ao mesmo tempo. Dizem isso governadores, líderes e presidentes de partidos aliados.

Atualmente, Dilma trava batalhas em várias frentes, simultaneamente: ao fisiologismo escrachado do Congresso; contra banqueiros que se habituaram a lucros exorbitantes; militares contrários a que apareça - e a história registre - o que eles efetivamente fizeram nos anos de chumbo da ditadura; e ao corporativismo que engessa a administração pública (e o Orçamento Geral da União). O que a presidente precisa é de apoio às boas iniciativas, não de dúvidas sobre a autonomia que ela lentamente conquistou, tornando-se uma presidente popular, depois de ser tutelada e eleita por Lula em 2010.

É segredo de polichinelo, não só em Brasília, que o Instituto Lula, a nova sede de trabalho do ex-presidente da República, transformou-se em destino de peregrinos insatisfeitos com o jeito Dilma de governar. Sejam ministros ou outros que tiveram o interesse contrariado por alguma decisão da presidente da República. Ou seja, o instituto que um dia foi chamado de Instituto da Cidadania se transformou numa fonte de poder que se irradia sobre a maioria do PT e dos que não conseguem esconder as saudades dos tempos do ex-presidente da República.

A declaração de Lula, com todas as ressalvas feitas, enfraquece politicamente a presidente Dilma Rousseff, num momento crítico da vida nacional. Além disso, são mesmo arrogantes, como acusou a oposição, pois não será ele, e sua imensa popularidade, a "permitir" que um tucano volte ao poder. Essa é uma decisão a ser tomada por mais de 100 milhões de brasileiros que, assim como souberam escolher Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, um dia também acharam que o melhor para o país era o atual senador Fernando Collor de Mello, o "Caçador de Marajás".

Mais dia menos dia, parece inevitável o surgimento de algum tipo de movimento "queremista" no país, como aconteceu no passado com Getúlio Vargas, outro político de extração populista como Lula. O ex-presidente, no entanto, deve esperar que o povo vá chamá-lo de volta a São Bernardo do Campo, se este for o caso e a preferência nacional não for, por exemplo, a reeleição de Dilma. Até lá, ele ajuda muito mais ficando quieto. E sem cometer atos falhos.

PT não conta mais com Marta para eleger Haddad

Partido avalia que senadora só marcará presença durante horário eleitoral, para se beneficiar do tempo na televisão

Sérgio Roxo

SÃO PAULO. Depois da ausência na festa de lançamento da candidatura no sábado, o comando da campanha de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo já não conta com a senadora Marta Suplicy. A avaliação é que a ex-prefeita só deve marcar presença mesmo no horário eleitoral, porque é conveniente para ela se aproveitar da exposição na televisão junto aos eleitores.

A ideia é continuar convidando Marta formalmente para as atividades, mas sem gastar energia para convencê-la a participar, pois a conclusão é que o esforço será em vão. Os petistas entendem que dificilmente ela subirá ao palanque para ajudar a transferir a sua popularidade para Haddad, que até agora segue estacionado nas pesquisas de intenção de voto com apenas 3%.

Com medo de que a senadora cause ainda mais problema, a coordenação da campanha de Haddad não comentou ontem sua ausência na festa do partido. Até o final da tarde de ontem, ela não havia procurado o comando da candidatura para se justificar ou pedir desculpas pela ausência no evento de sábado. A assessoria de imprensa da senadora não foi localizada.

Apesar de ter perdido as duas últimas eleições para a prefeitura de São Paulo, em 2004 e 2008, a senadora teve 45% e 39% de votação no segundo turno das disputas, respectivamente. Em bairros da periferia da cidade, ela chegou a superar os adversários, José Serra, em 2004, e Gilberto Kassab, em 2008. É para impulsionar a candidatura de Haddad em regiões afastadas do centro que o PT contava com Marta.

A falta no encontro do partido no sábado foi o segundo constrangimento provocado pela senadora em 15 dias. No dia 21 de maio, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o título de cidadão paulistano na Câmara Municipal, Marta, ao discursar, disse que "não basta o novo nessa cidade". A campanha de Haddad tem o slogan "o homem novo para um tempo novo".

A ex-prefeita se mostra contrariada desde que aceitou, por pressão de Lula e da presidente Dilma Rousseff, desistir de disputar a prefeitura paulistana.

Convidada para participar do conselho político da campanha de Haddad, Marta jamais compareceu a uma reunião do grupo. Apesar da contrariedade escancarada da senadora até então, os petistas jamais imaginavam que deixaria de ir ao encontro de sábado. Ela deveria discursar e foi aguardada até o último momento. Com a ausência, Haddad mudou o discurso que havia preparado. O trecho em que se perguntava "o que significa ser apoiado por Marta Suplicy?" foi alterado para "o que significa ser apoiado por ausentes e presentes que participaram da administração da prefeita Marta Suplicy?".

Estrela da festa de sábado, Lula se irritou com a postura de Marta. Entre os petistas, o comentário é que a senadora deixou claro que não está mais preocupada com as suas relações partidárias e que faltou porque sabia que ganharia destaque nas notícias sobre o evento. Desde 2010, ela vem se isolando. Até ex-secretários importantes de sua gestão na prefeitura se afastaram. Há comentários de que pode deixar o PT.

FONTE: O GLOBO

Clima tenso nas mudanças do segundo escalão

Dilma reduz mudanças no segundo escalão

Após trocas de nomes políticos por técnicos, presidente deve esperar fim das eleições para não piorar relação com aliados

Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA. Após seis meses de intensas trocas no segundo escalão, a presidente Dilma Rousseff pretende a partir de agora reduzir o ritmo de mudanças. Interlocutores da presidente consideram que as alterações no comando do fundo de pensão Previ e no próprio Banco do Brasil encerram um ciclo que redundou na substituição de vários nomes políticos por técnicos. O objetivo é evitar que o clima com os partidos aliados piore mais. A presidente considera que ainda há substituições necessárias, mas deve deixar para o fim do ano, para depois das eleições.

O caso que provocou maior indignação entre governistas foi o da Petrobras. Assim que trocou José Sérgio Gabrielli pela técnica Maria das Graças Foster, Dilma deu liberdade para a nova presidente. Graça então trocou três vice-presidentes que há anos estavam na cúpula da estatal, apoiados por caciques políticos: Paulo Roberto Costa, da diretoria de Abastecimento, era apoiado pelo PP e considerado intocável até por petistas; Renato Duque, da de Serviços, que era do PT; e Jorge Zelada, da Área Internacional, que servia ao PMDB. O movimento revoltou os partidos.

- Ficamos sabendo da saída do Paulo Roberto no dia da demissão. A sorte do governo é que não tem votação importante pela frente, senão daríamos o troco - revolta-se um parlamentar do PP, que não quis se identificar.

As mudanças no segundo escalão, no entanto, são calculadas. A presidente sabe que não há no curto prazo questão relevante a ser votada e que sua popularidade ainda está em alta.

Mas nem o PT está satisfeito. Dilma promoveu trocas nos bancos públicos, área controlada por uma ala sindical do partido, e não aceitou sugestões de dirigentes e líderes da legenda. Há quase um mês, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi convidado para um encontro na residência oficial do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS). Participaram os líderes do PT, Jilmar Tatto (SP), e do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Na conversa, os três sugeriram a Mantega um substituto para a vaga que seria deixada por Ricardo Oliveira na vice-presidência de Governo do BB. Mantega declinou imediatamente. A reação veio de Marco Maia, que levantou-se da mesa de sua própria residência e disse que não tinha motivo para continuar ali.

O PMDB, por sua vez, já cansou de se lamentar. A saída de Zelada da Petrobras foi só a mais recente baixa. Desde que Dilma assumiu o governo, o partido foi apeado das presidências da Eletrobras, da Eletronorte, da Eletrosul, de Furnas, da Fundação Nacional de Saúde, e da Secretaria de Atenção Básica à Saúde. Hoje, a maior preocupação do partido é manter o que ainda tem. A preocupação principal é a presidência da Transpetro, ocupada por Sérgio Machado a pedido de Renan Calheiros (AL). Desde o ano passado, Machado e três diretores da estatal - indicados pelo ministro Marcelo Crivella, por Romero Jucá (PMDB-RR) e pelo PT - estão na berlinda.

O governo, no entanto, adiou novas mudanças não só para ganhar um fôlego e suspender as frequentes queixas, mas também para não minar o poder dos partidos aliados nas eleições municipais. É justamente na eleição de prefeitos que se estabelece a base política para as eleições presidenciais dois anos depois.

FONTE: O GLOBO

Haddad alfineta senadora e sugere que ela ignorou militância e Lula

Ricardo Chapola e Lauriberto Braga

Após admitir que ficou chateado com a ausência da senadora Marta Suplicy (PT-SP) na cerimônia que homologou sua candidatura à Prefeitura de São Paulo, o petista Fernando Haddad evitou o assunto durante visita, ontem, ao Parque Ecológico do Guarapiranga, na zona sul da capital.

Sem citar a ex-prefeita, não deixou de alfinetá-la, porém. Disse que quem não foi perdeu "uma grande oportunidade de estar com a militância do PT e, sobretudo, com o presidente Lula".

O pré-candidato voltou a se espelhar na administração federal para criticar a gestão do prefeito Gilberto Kassab (PSD). "Vamos procurar demonstrar que há uma assimetria entre o que o governo federal tem feito em benefício da população brasileira como um todo e o que a Prefeitura de São Paulo tem feito em benefício da vida comunitária da cidade. A vida urbana está muito sacrificada, as pessoas estão reclamando muito." O ex-ministro participou, pela manhã, do Abraço à Guarapiranga, ato em defesa da Represa do Guarapiranga.

Em Fortaleza. Ontem, a prévia do PT na capital cearense escolheu o secretário municipal de Educação, Elmano de Freitas, como candidato do partido. Elmano, com apoio da prefeita Luizianne Lins (PT), venceu a prévia disputada contra o deputado federal Artur Bruno.

A definição no PT ocorreu após dois adiamentos da consulta interna. A prévia, prevista inicialmente para abril e em seguida para maio, foi postergada novamente para manter o arco de alianças de 13 partidos que apoiaram a reeleição de Luizianne, em 2008. Mas, mesmo com a intermediação do ex-presidente Lula para que a aliança fosse mantida, o PSB e o PMDB vetaram o nome de Elmano de Freitas. O presidente nacional do PT, Rui Falcão, ainda tentará convencer os presidentes estaduais do PSB, governador Cid Gomes, e do PMDB, senador Eunício Oliveira, a apoiar Elmano. /

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Compasso de espera no PT do Recife

Reunião da executiva nacional amanhã decide entre João da Costa e Humberto.

PT na expectativa de novo “ Dia D”

Se em São Paulo e em Fortaleza o PT define seus pré-candidatos e já promove atos para fortalecê-los, os petistas do Recife ficaram o fim de semana em compasso de espera, que deve perdurar até amanhã, quando a Comissão Executiva nacional do partido se reúne, em São Paulo, para definir se homologa a candidatura à reeleição do prefeito João da Costa ou indica o senador Humberto Costa como o postulante petista.

Até lá, tanto o prefeito quanto o senador devem apenas intensificar as reuniões fechadas com aliados para avaliar a posição que o PT nacional pode tomar. Humberto permaneceu em Brasília cuidando, segundo sua assessoria, do seu relatório sobre o pedido de cassação do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). Não está confirmado se ele irá a São Paulo acompanhar a sessão da Executiva, amanhã. Já João da Costa terá apenas agenda administrativa hoje, mas deve ter reuniões com seus escudeiros para avaliar os últimos passos antes da sessão da Executiva.

Luizianne decide

Já em Fortaleza, o PT escolheu ontem, a exemplo do PT de São Paulo, um candidato a prefeito ligado à educação. Se em São Paulo o PT vai com o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, na capital do Ceará o candidato é o secretário municipal de Educação, Elmano de Freitas.

Logo após a escolha, que teve queda de braço com o deputado federal Artur Bruno, Elmano de Freitas prometeu melhorar a gestão dos últimos oito anos da prefeita Luizianne Lins, que apadrinhou sua candidatura, mesmo sob ameaças do PSB e do PMDB de não apoiar a indicação.

A decisão passou por dois adiamentos, um em abril e outro em maio, de modo a manter uma aliança de 13 partidos que apoiaram a reeleição de Luizianne em 2008. Mesmo com a intermediação do ex-presidente Lula para manter a base aliada, o PSB e o PMDB não aceitaram Elmano pois queriam a candidatura do secretário estadual de Cidades, o petista Camilo Santana, que acabou retirando a pré-candidatura no sábado à noite.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Recife: PSDB já cogita abandonar a candidatura própria para aliar-se a Mendonça Filho, do DEM

O PSDB ensaia uma reviravolta política em Pernambuco, terra do seu presidente nacional, Sérgio Guerra. Cogita abandonar o projeto de lançar um candidato próprio à prefeitura de Recife para apoiar o postulante do DEM, o deputado federal Mendonça Filho

O ajuste no plano de voo do tucanato não é trivial. Após trocar o PV pelo PSDB, o deputado estadual Daniel Coelho vinha sendo apresentado há meses como candidato tucano. A hipótese de apoio ao ‘demo’ Mendonça era enfaticamente descartada.

A novidade chega num instante em que o PT, principal força política da capital pernambucana, atravessa uma grave crise. Candidato à reeleição, o prefeito petista de Recife, João da Costa, mede forças com Lula e com a direção da legenda, que tramam escanteá-lo, impondo a candidatura do senador Humberto Costa.

Dá-se de barato que o PT colocará um candidato no segundo turno, seja ele quem for. Porém, num cenário em que o partido de Lula briga consigo mesmo, potencializa-se o sonho da oposição de quebrar a hegemonia petista em Recife.

Entre os nomes da oposição, Mendonça Filho é o que está mais bem posto nas pesquisas, próximo dos 30%. Sua taxa de rejeição é alta. Mas não são negligenciáveis as chances de passar para o segundo round.

Como não conseguiu seduzir outras legendas para o seu projeto, o PSDB enxerga na cessão do seu tempo de tevê a Mendonça uma alternativa ao vexame. De resto, a meia-volta do tucanato é atribuída ao vaivém de Eduardo Campos.

Governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo é o principal aliado do petismo em Recife. A divisão do PT levou-o a acionar um ‘Plano B’. Longe dos refletores, costura uma parceria informal com o candidato do PMDB à prefeitura de Recife, o deputado Raul Henry, afilhado político do senador Jarbas Vasconcelos.

Sérgio Guerra imaginara que o beneficiário do apoio velado de Eduardo seria o neotucano Daniel Coelho, não para o pupilo de Jarbas. O problema é que Eduardo, antes rompido com Jarbas, se recompôs com o senador. Foi contra esse pano de fundo que o PSDB passou a flertar com o apoio ao ‘demo’ Mendonça.

FONTE: BLOG DO JOSIAS

Em Pernambuco, Elias flerta com o PSB e abre crise com o PPS

JABOATÃO -  Pós-comunistas ameaçam abrir negociação com as oposições, depois que o prefeito, candidato à reeleição, ofereceu a vice aos socialistas. Atual vice-prefeito é do PPS

A direção estadual do PPS, partido aliado de primeira hora do prefeito Elias Gomes (PSDB) em Jaboatão dos Guararapes, ameaça romper com o tucano. Uma declaração de Elias, na semana passada, de que aceitaria um vice do PSB em sua chapa à reeleição, levou o diretório estadual dos pós-comunistas a informar a interrupção dos entendimentos políticos e eleitorais com o prefeito e ainda a orientar a “abertura de diálogo” com a oposição local. O vice-prefeito, Edir Perez (PPS), seria assim rifado da chapa. A assessoria do prefeito foi contactada, mas até o fechamento desta edição não deu retorno sobre o posicionamento da direção estadual do PPS. O JC também tentou um contato com Edir, mas não obteve sucesso.

A direção do PPS considerou um “grande constrangimento” a declaração de Elias cogitando rifar Edir, dada na semana passada em entrevista à Rádio Folha. “É um desrespeito do prefeito Elias Gomes para com o PPS. Nos causa grande desconforto este tipo de comportamento, após a boa reunião que tivemos. O vice-prefeito é do PPS e achamos um despropósito o prefeito vir a público oferecer essa vaga a quem quer que seja”, afirmou a presidente estadual do partido, Débora Albuquerque, por meio de nota.

Débora explicou que em nenhum momento Elias conversou com o PPS sobre mudança do vice na sua chapa à reeleição. “Entendemos que por ocuparmos a vaga de vice, temos o direito natural de mantê-la em caso de reeleição do prefeito”, afirmou a presidente. “Em última instância, caso o prefeito venha realmente a precisar promover uma mudança, deve, por questão de educação e respeito, conversar primeiramente conosco”, criticou ela.

A troca do vice selaria a aproximação do PSDB com o PSB no município e tiraria da disputa o deputado estadual João Fernando Coutinho, pré-candidato socialista prefeito. A direção do PSB, porém, nega a manobra e garante que Coutinho será candidato.

“Nossa prioridade é a aliança com o PSDB, mas as recentes declarações do prefeito sobre a questão da vaga de vice representam uma desconsideração ao nosso partido, levando, assim, os entendimentos à estaca zero e nos desobrigando de quaisquer compromissos assumidos anteriormente”, complementou Marcílio Domingues, secretário-geral do PPS.

No entanto, Débora Albuquerque garantiu que a crise na relação entre os dois partidos em Jaboatão não interfere no acordo que o PPS fechou no Cabo de Santo Agostinho, para apoiar a candidatura do deputado estadual Betinho Gomes (PSDB), filho de Elias.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Adriana Calcanhotto - Resistiré

Como perder:: Ricardo Noblat

"Eu não vou permitir que um tucano volte à Presidência do Brasil." (Lula)

Pegue um prefeito de capital candidato à reeleição, líder das pesquisas de intenção de voto, mas com popularidade modesta. Faça-o disputar uma prévia com um candidato apoiado por três dos quatro deputados federais do seu partido, quatro dos cinco estaduais, o único senador do partido, o governador do estado e um ex-presidente da República.

Uma vez que espantosamente ele ganhe a prévia, arranje uma desculpa para anulá-la. Então marque outra. E, na véspera da nova prévia, faça com que o adversário dele renuncie à disputa. Despache emissários para convencer o prefeito a abdicar da reeleição e a apoiar um terceiro nome. Ameace expulsá-lo do partido. Por fim, convoque-o para uma reunião em outro estado.

Qual será o desfecho dessa história? Não sei. Ela teve início no Recife há dois meses. Poderá amanhã em São Paulo ganhar um ponto final. O prefeito atende pelo nome de João da Costa. É do PT. Seu adversário na prévia anulada foi o deputado federal Maurício Rands. O destino de João está nas mãos da Executiva Nacional do PT. Menos...

O destino de João também está nas mãos dele mesmo. Pesquisas aplicadas nos últimos dez dias para consumo interno de vários partidos registram o crescimento de sua candidatura. Eleitores que nunca votaram no PT começam a admitir que possam fazê-lo. A cidade com fama de rebelde está inquieta. Detesta que decidam por ela. Se João bater o pé e resistir...

A memória política do Recife não registra episódio semelhante. Durante dois meses, o prefeito da cidade foi achincalhado pelos principais líderes do seu próprio partido. Os líderes dos outros partidos ouviram satisfeitos. Acusaram-no até de ser ladrão. Ao fim e ao cabo, nada do que se disse contra ele restou provado. O que explica então tamanha manifestação de fúria?

Ambição política, ora. Existe combustível mais poderoso? Ambição da parte de vários atores. A começar por outro João que mandou no Recife durante oito anos e indicou João da Costa para suceder a ele. João Paulo, deputado federal, patrocinou a candidatura de João da Costa contra a vontade de Lula e da tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária dentro do PT.

João da Costa havia sido Secretário de Planejamento do governo João Paulo. Era um técnico antes de tudo. Assim como Dilma, jamais enfrentara uma eleição. Ganhou com o slogan "João é João". Os dois Joões brigaram menos de um ano depois da vitória de Costa. A porta do inferno abriu-se para o atual prefeito quando João Paulo anunciou que desejava suceder a ele.

O governador Eduardo Campos (PSB) ambiciona escolher quem irá suceder a ele daqui a dois anos. João Paulo é o nome do PT com mais larga aceitação no estado. Caso voltasse a ser prefeito, nada mais natural que aspirasse à vaga de Eduardo. João Paulo acabou saindo de cena por obra e graça de Eduardo e de Lula, que se juntaram contra ele.

O lance seguinte dos dois foi torpedear a reeleição de João da Costa — Lula, porque nunca gostou dele; Eduardo, porque teme que alguns partidos que o apoiam concorram à prefeitura do Recife com candidatos próprios diante de uma eventual fragilidade da candidatura de João da Costa. Abusaram tanto do prefeito que ele resolveu encará-los.

"A maioria do Diretório Municipal me apoia. Se houver uma convenção, eu venço", garante João da Costa. "Assim como venci a prévia anulada. Assim como venceria a prévia cancelada". A direção nacional do PT sabe disso. O assunto será examinado pela Executiva do partido, formada por 22 membros — 11 da CNB, tendência que se opõe ao prefeito. E por que se opõe?

Por ambição. Lula quer o senador Humberto Costa como candidato a prefeito do Recife. Humberto é da CNB. Eduardo topa. Com apenas dois anos como prefeito, ele não abandonaria o cargo para tentar se eleger governador. João da Costa não tem cacife para se impor sozinho a toda essa gente. Mas, contra ele, toda essa gente perderá a eleição.

FONTE: O GLOBO

Pau pra toda obra:: Melchiades Filho

Há muito tempo incomodado com as minúcias técnicas e os mecanismos de fiscalização da Lei de Licitações, o governo federal prepara-se para enterrá-la de vez, sob a alegação de que medidas emergenciais precisam ser tomadas para combater a paralisia da indústria e a desaceleração da economia.

O Planalto chegou à conclusão de que praticamente se esgotaram os efeitos do "combo" da política monetária do início da gestão Dilma.

Ninguém mais aposta que a derrubada de juros vá bombar a demanda e despertar o "instinto animal" da iniciativa privada. O empresariado se recolheu. Faz caixa à espera do desfecho da crise europeia. Já são três trimestres de queda de investimentos. O vaticínio dos banqueiros estava certo: "Você pode levar o cavalo à beira do rio, mas não conseguirá obrigá-lo a beber água".

O governo vê-se, então, pressionado a tomar ele mesmo a iniciativa. Sobretudo porque é desastroso o desempenho de seus investimentos. Com a exceção do programa federal da casa própria, nada funciona. Os gastos com obras caíram em relação a 2011. No setor de transportes, eles tombaram à metade.

Para salvar o PAC, que roda em ritmo ainda menor que na era Lula, a Presidência não pensa só em entregá-lo a novos gestores. Cuida para tirá-lo do escopo da Lei 8.666 por meio de uma medida provisória.

O Planalto já havia aprovado outro regime de concorrência para os projetos da Copa/Olimpíada. Ele de fato permite imprimir rapidez às obras. Mas, em parte, porque dificulta (ou, no mínimo, adia) o controle de orçamentos e despesas.

Se confirmadas pelo Congresso, as novas regras abrirão de vez a porteira. Afinal, é o governo quem define o que é e o que não é PAC.

Lançada em 1993 como peça moralizadora, a Lei das Licitações perdeu apelo neste cenário de pressão, tão mais tolerante a meios obscuros com declarados fins virtuosos.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Não estava escrito:: Wilson Figueiredo

Não estava, nem precisava, estar escrito que a corda arrebentaria nas mãos de Lula quando lançou ao ar, como quem joga dado com divindades, a candidatura Dilma Rousseff. Dos cálculos dele não constava a reeleição da sucessora, mas seu terceiro mandato. Nem ela empenhou a palavra, nem o ex achou necessário de sua parte. Tudo parecia implícito. Ninguém poderia era imaginar que o pessoal do mensalão atravessasse a volta ao poder pelo caminho mais longo. E com ele no comando.

A coincidência , por conta do acaso, foi outra: o arremate feminino com que a presidente Dilma aliviou, sem alarde, o modo tosco dos governos Lula mediante polimento político de que a própria democracia andava carente.

Ninguém estava preparado para ler o futuro, adiantado por Lula em resultados anunciados antes mesmo de começar obras dadas como concluídas, mesmo sem sair do papel. Ou proclamar nova classe média no espaço reservado à crescente parcela social que teve precedência oficial (e ficou por aí) no acesso ao consumo. Um país com duas classes médias não podia se considerar preparando para situação com que não contava.

Ficou pior quando o ex-presidente Lula, com disponibilidade ociosa de tempo e impaciência primária, e a sucessora dele, em má hora, se deixaram fotografar com cocares em solenidade indígena estampada nos jornais e na televisão. A experiência republicana recomenda evitar o uso de peças dessa procedência, com poderes ocultos que não procedam das urnas.Sobre tais cerimônias paira a certeza de que, mesmo sem fundamento científico e sem recorrer a pesquisas de opinião, o sobrenatural sempre deve ser levado em conta.

Não faltaram observações pertinentes de que os dois portadores de cocar estavam expostos ao imponderável e, assim ou assado, nenhum benefício poderiam esperar da imprudência (JK foi um campeão de votos que não brincava em serviço: cocar, na cabeça dele, nem mesmo para uso fotográfico no carnaval. E se deu bem. O Itamarati mantinha de plantão uns três diplomatas para oferecer explicação palatável: fotografias faziam mal ao presidente, uma forma rara de alergia. Ficava por aí a escusa de Kubitschek).

Fechado o parêntese, voltamos a Lula e Dilma, com largos sorrisos e os imprudentes cocares à espera da oportunidade, que pode tardar mas não falha. Lula, porém, não parece ter admitido o elo entre a solenidade indígena e o chega-pra-lá com o ministro Gilmar Mendes, quando se confrontaram de longe, em meio a versões que entram e saem de circulação sem fazer cerimônia. Mas não iria acabar mal, por pior que tenha sido o começo de tantas versões que não tiram o sonho de ninguém. Não eram para valer, claro.

A circunstância política situa Lula entre gente de todo tipo, com ou sem mandato eletivo, empresários privados, grandes empresas, boas comissões por cima e por baixo, por dentro e por fora de grandes obras que ficam pelo caminho. A opinião pública, naquela faixa reservada à nova classe média, não se adianta aos fatos e não quer saber da terceira candidatura Lula, que já entrou em quarto minguante.

Embora cedo para falar de sucessão, com uma CPI (mista, ainda por cima) na gerência da questão inesgotável, ela se encaminha de maneira cada vez mais desfavorável a Lula e, obviamente, pende a favor da segunda candidatura Rousseff, pela elementar razão de que se evaporou a possibilidade com que o ex-presidente contava.

Ex-presidente tem peso equivalente a vice-presidente: é simbólico. Depois do que se passou e, principalmente, do que não se passou, Lula ficou para trás. Sua imagem está alcançada por um conjunto de circunstâncias que destoam da sua versão pessoal. A valentia dele em nome da fatalidade histórica se esgotou e a presidente Dilma aprendeu a não depender de terceiros. Mas com outros modos e palavras.

Alguém precisa dizer ao inconformado ex-presidente que não foi apenas o ritual do cocar que inviabilizou a candidatura dele, mas ele próprio, por perda da noção do momento certo. E que não peça indenização aos índios.

Não há nada que prejudique mais uma candidatura dependurada nas circunstâncias do que, na hora do confronto, refugiar-se no silêncio e dele emergir com gemidos como “há gente que não gosta de mim”, digno de uma faixa de saudade no esquife da candidatura. O cemitério da história está cheio de candidaturas nati-mortas.

FONTE: JORNAL DO BRASIL

Na boca do PMDB:: José Roberto de Toledo

O PMDB é, ao mesmo tempo, o segundo maior partido governista e a terceira maior força da oposição na Câmara dos Deputados. Morde uma vez para cada nove assopradas, mas nunca deixa de fazê-lo. É um lembrete à presidente Dilma Rousseff de que seu apoio depende de compensações. Uma mordida do PMDB dói mais do que as muitas dentadas da oposição. Sua mandíbula tem força para virar o jogo no Congresso.

Levantamento feito pelo Estadão Dados a partir do Basômetro mostra que o partido do vice-presidente da República foi responsável por 17% dos votos a favor do governo em 102 votações nominais na Câmara. Só ficou atrás dos petistas, que deram 22% dos votos governistas.

Nessas mesmas votações, todavia, 8% dos votos contra o governo vieram de peemedebistas. E não partiram de uns poucos rebeldes: na maioria das vezes que o fizeram, os deputados do PMDB votaram contra o governo orientados por seu líder. Só PSDB (30%) e DEM (20%) tiveram uma fatia maior no total de votos oposicionistas. Mas os 8% dos peemedebistas foram oportunamente desfechados, e resultaram em mais estrago aparente.

Três mordidas do PMDB levaram Dilma a três revezes no Código Florestal. A fatura foi emitida em nome da multipartidária frente agropecuária, mas seus integrantes não são nem mais nem menos oposicionistas do que a média da Câmara. Fora essas três ocasiões, nunca mostraram os dentes em plenário. Se atacaram durante a votação do Código Florestal é porque tiveram a ajuda indispensável da cúpula do PMDB, que orientou seus deputados a votarem contra o governo.

Aliados inusitados. Nem sempre, porém, as dentadas peemedebistas conseguem virar uma votação contra a maioria governista. Quando a regulamentação das tarifas aeroportuárias foi a voto, o PMDB tentou isentar empresas concessionárias de aeroportos. Perdeu, graças a uma associação inédita de petistas e tucanos, que se uniram contra a mudança. Se a mordida do PMDB não é suficiente para impor uma derrota a Dilma, ela é uma condição absolutamente necessária. Nenhuma das votações perdidas pela presidente, na Câmara ou no Senado, ocorreu sem que a maioria dos parlamentares peemedebistas votasse contra o governo.

O PMDB é o único partido capaz de mover o equilíbrio do Congresso em favor da oposição. Mas há outros ensaiando para esse papel.

Desde a "faxina" ministerial, o PR está em crise de identidade. É da base governista, mas ensaia bandear-se para a oposição. Às vezes ameaça, em outras vai às vias de fato. Dos que participam do governo, é o partido mais infiel: 1 voto contra para cada 4 votos a favor de Dilma. Mas está longe de ter o poder de coerção do PMDB.

Além de porte, falta ao PR senso de oportunidade. Seus deputados tentaram impor derrotas ao governo nas votações da Lei Geral da Copa e de subsídios para estocagem de etanol. Acabaram sempre do lado perdedor.

O PSD do prefeito paulistano Gilberto Kassab também almeja virar fiel da balança. Ora vota com Dilma, ora contra ela. Mas esse vaivém não desempatou nenhuma votação. Por enquanto, só o PMDB ladra, morde e tira pedaço.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

A polícia apura melhor:: Renato Janine Ribeiro

A CPI do Cachoeira tem uma notícia boa e uma ruim. A ruim é que as grandes CPIs políticas estão desaparecendo, porque os partidos investigam pior que a polícia. A boa é que a Polícia Federal investiga melhor que os partidos políticos. O mesmo fato é bom e mau. É mau, pois atesta que nossas agremiações partidárias não se empenham em apurar fatos comprometedores. Mas é bom, porque temos um órgão policial competente, no plano técnico, e independente, no campo ético, para levar criminosos de qualquer partido aos tribunais.

Em 1992-93, quando o Brasil parecia estar se livrando da pecha da corrupção, com o impeachment do presidente Collor e a cassação de deputados que manipulavam o orçamento, as CPIs políticas foram importantes. Depois, decaiu seu papel. Primeiro, por uma razão constitucional: o Supremo decidiu que nenhum suspeito é obrigado a testemunhar contra si próprio, sequer numa CPI. Elas assim perderam muito de seu teatro e de sua eficácia. Para provar algo contra o suspeito, a CPI tem realmente que apurar. Ora, isso ela dificilmente fará tão bem quanto o órgão especializado, que é a polícia. Segundo motivo: com o racha de 1994 entre PSDB e PT, acabou a união pela ética na política que entusiasmou o país na época do impeachment.

Sucedendo-se na presidência, tucanos e petistas se mostraram mais realistas, menos idealistas. Dei antes uma razão técnica para as CPIs não conseguirem apurar os malfeitos; agora, esta é uma razão política para elas não quererem apurá-los. Chegamos à ridícula situação de cada lado ter o ato criminoso de sua predileção. Ao PT, não interessa que seja julgado o mensalão. Já a oposição disfarça o caso Cachoeira como se fosse um assunto genérico contra todos os partidos - e não, antes de mais nada, um caso contra o senador Demóstenes, oposicionista, e seus companheiros de negócios. Tudo isso, como já comentei antes de surgir o tema Demóstenes-Cachoeira, é triste, porque indica o descaso dos partidos e de seus simpatizantes pela questão ética, que só serve quando é manipulada contra o inimigo.

As CPIs políticas parece que se esvaziaram

Usei de propósito o termo "inimigo", que é da guerra e não da política. No embate democrático, há adversários ou rivais, que eu quero vencer, mas não inimigos, que tento aniquilar. Matar a pessoa de quem se discorda é um absurdo, na democracia. É coisa de guerra. A democracia é o modo de aprofundar as divergências sem demonizar o outro e sem substituir a convivência com o diferente pelo empenho em matá-lo.

Em tudo isso, o Brasil se tem mostrado deficiente. Ou devo dizer: deficiente é sua elite política, nos partidos e na imprensa, quanto a seus deveres com o país. A educação política é demorada. Ela exige, basicamente, duas coisas. Antes de mais nada, é preciso delimitar o espaço de divergências legítimas e mesmo positivas. Ninguém, em sã consciência, considerará que a livre expressão do racismo, do fascismo ou a defesa da ditadura constitui direito inconteste. Ela até pode ser eventualmente tolerada, mas é perfeitamente compatível com a democracia proibi-la. Não é lícito falar em raça inferior. Tal discurso matou milhões de pessoas. Mas, com essa ressalva, deve haver a mais ampla tolerância democrática. Uns defenderão o neoliberalismo, outros a socialização dos meios de produção. Desde que ninguém queira impô-las pela força ou suprimindo as liberdades, é direito seu propugnar essas políticas.

Agora, a segunda necessidade, para a educação democrática, é que essas alternativas legítimas sejam discutidas. Mas, aqui, não há como obrigar alguém a fazer isso. A condição anterior - plena liberdade de expressão e organização para quem não contesta radicalmente a democracia - pode ser instituída por lei. Mas o debate não pode ser tornado obrigatório. Depende da vontade de quem toma a palavra, sejam políticos, sejam simplesmente pessoas com acesso a alguma tribuna.

Só que, se esse debate não existir, a política também não virá à luz do dia. Por exemplo, na política federal, responsável pelas opções econômicas do país, precisamos ter uma discussão aberta sobre o papel do Estado e da empresa privada na economia, o volume e natureza dos impostos, a abertura do país para a economia internacional, os setores estratégicos que ficam em mãos do Estado. E essa discussão exige que posições opostas sejam apresentadas, justificadas e, por que não?, dosadas. Por exemplo, posso entender que o BNDES deve financiar a empresa nacional; mas ainda assim cabe espaço para debater se ele deve dar juros subsidiados ou não, se deve beneficiar empresas estatais ou privadas, se deve exigir contrapartidas dessas últimas e quais... Não é só o debate entre o sim e o não, é também sobre quanto sim e quanto não.

O problema é que existe pouco disso entre nós. Daí que seja tão fácil a encenação nas CPIs. Ela nos dispensa de debater o conteúdo das políticas que o país deve ou não tomar. O custo disso, porém, é elevado. A democracia não existe sem uma constante educação política de todos nós. Mas, se nos limitarmos a esse jogo de acusações e denúncias, que aparentemente, graças a Deus, não está mais dando certo nas CPIs, não vamos avançar na democracia.

O que fazer? Uma singela sugestão: que as CPIs procurem esmiuçar assuntos da competência legislativa de cada esfera de governo. As CPIs sobre a exploração sexual das crianças e sobre a ciência e tecnologia foram positivas. Poderíamos elencar outros assuntos que requerem leis novas, e reunir legisladores de boa vontade em torno deles. A educação pode ser um desses temas, o transporte público outro. O resto, parece que a polícia faz melhor.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

FHC: ‘Dá preguiça passar o olhar pelas notícias’:: Josias de Souza

Como faz todo primeiro domingo do mês, Fernando Henrique Cardoso levou às páginas um novo artigo. Trata de “política e meios de comunicação”. No texto, o autor revela uma ponta de enfado com a mesmice do noticiário. Acha que a mídia, qual um parafuso espanado, gira ao redor dos mesmos temas.

De viagem marcada para o Japão e a China, FHC passará duas semanas no estrangeiro. Faz uma aposta: “O marasmo é tão grande que possivelmente ao voltar e reler os jornais encontrarei os mesmos temas” –CPI e corrupção, candidaturas e alianças, PIB miúdo e inadimplência, etc e tal.

FHC anota: “Dá até preguiça passar os olhos pelas colunas e notícias da mídia, sem falar das tevês que repetem tudo isso com sabor de press release, emitido seja pelo governo, seja por empresas.” Só não abandona o hábito porque “não há política sem comunicação”. Logo, “é melhor tomar coragem para ler e ouvir tudo que se diz, mesmo quando partindo de fontes suspeitas.”

Para FHC, as notícias reproduzem um “pensamento único”. Quando ocupava a presidência, seus antagonistas diziam a mesma coisa. PT e Cia. acusavam-no de render-se, sob aplausos da mídia, à cartilha neoliberal. Agora, ele dá o troco. Escreve que vigora o monopólio do pensamento “de esquerda desenvolvimentista-autoritária.”

Insinua que os “grupos dominantes” –econômicos e políticos— exercem um “controle ideológico da opinião”. Prevalecem nos meios de comunicação sem o inconveniente do contraponto. Tudo isso azeitado pelo abuso de “verbas publicitárias” governamentais. Tão fartas que convertem em notícia o que não passa de “propaganda disfarçada.” Curioso. O ex-PT dizia o mesmo de FHC.

Na opinião do ex-presidente tucano, o “efeito deletério” do fenômeno “não é tão sentido na grande mídia.” Acha que, submetidos à concorrência de mercado, os veículos maiores terminam por levar em conta “o interesse e mesmo a voz do consumidor e do cidadão eleitor.” É nas “mídias locais e regionais”, anota FHC, que “o pensamento único impera sem contraponto.”

Embora critique o “marasmo” das manchetes, FHC sustenta que não há senão a alternativa de “manter a liberdade de expressão.” Refuga, “por inaceitável”, a tese petista do “controle social da mídia.” O que não o impede de defender a “luta constante” contra o que chama de “distorções” das notícias. “Não para censurá-las”, ele esclarece, “mas para confrontá-las com outras versões.”

Reconhece que é “pela voz crítica dos setores da mídia independente” que as informações escapam “das deformações advindas da influência das forças estatais.” Vem daí, acredita FHC, a aversão do petismo e dos seus agregados à imprensa que imprensa. “Não por acaso, é contra estes que os donos do poder político e os partidos que os sustentam se movem: denunciam que é a imprensa quem faz o papel da oposição.”

Sintomaticamente, FHC reconhece: “Até certo ponto isso é verdade.” Na sua avaliação, repórteres e articulistas fazem as vezes de algozes dos governos “mais por deficiência dos partidos de oposição, cujas vozes se perdem nos corredores dos parlamentos, do que por desejo de protagonismo da mídia crítica.” Ele acrescenta:

“Obviamente, não basta haver uma mudança na oferta de espaço pela mídia, é preciso que haja vozes de oposição com peso suficiente para serem ouvidas e se fazerem respeitar. Sem esquecer que nas democracias a voz que pesa politicamente é a de quem busca o voto para se tornar poder.”

Quem consegue atravessar todo o artigo chega ao ponto final com a impressão de que há um quê de autocrítica na peça. No fim das contas, é a oposição quem rodopia feito parafuso. Sem rosca e sem assunto. No mais, FHC reembrulha as críticas que os rivais faziam à sua presidência. A tentativa de controle sobre a agenda, a derrama de verbas publicitárias…

Quanto à falta de contraponto, a própria presença do artigo nas páginas deste domingo constitui uma evidência de que, havendo o que dizer, espaço não vai faltar. A propósito, a íntegra do texto de FHC está disponível aqui.

FONTE: BLOG DO JOSIAS

Proposta indecente :: Paulo Brossard

Episódio ocorrido em abril, dia 26 para ser mais preciso, só agora divulgado pela Veja – edição de 30 de maio –, e depois publicado em toda a imprensa, marcou de forma indelével a sucessão de fatos discrepantes da ética pública e privada. Continua a repercutir em seus desdobramentos, dada a sua particularíssima singularidade, assim pelo já noticiado como pelo que deixou de sê-lo. A circunstância do encontro promovido por iniciativa do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, no escritório do ministro Nelson Jobim, com o ministro Gilmar Mendes, por si só justificaria a maior das repercussões; realmente as três personagens são indiscutivelmente fora de qualquer dúvida integrantes do alto estamento nacional.

Segundo a mesma fonte, o ex-presidente, que já tomara a iniciativa de promover a reunião, dirigindo-se ao ministro do STF, Gilmar Mendes, com uma finura de dar ciúmes ao Itamaraty, sustentou sem meias palavras a inconveniência de realizarem-se as eleições municipais antes do julgamento do processo criminal conhecido como mensalão. Não é preciso dizer que a liberdade que se autoconsentiu o ex-presidente chocaria um frade de pedra. Como é sabido, há coisas que podem ser pedidas a um juiz e há coisas que não podem, em caso algum, ser objeto de um pedido a um magistrado. Dir-se-á que o ex-presidente não tem formação jurídica, mas é um ex-presidente e isto bastaria para que ele, como qualquer pessoa sabe, que há coisa que um ex-presidente não pode fazer. O decoro inerente a quem exerceu o mais alto cargo da nação inibe certas liberdades que qualquer pessoa, mesmo a mais modesta, em sã consciên- cia sabe, que não pode praticar.

Mas o que aumenta de maneira formidável a indecência da proposição é que a indecorosidade foi ainda mais longe, na medida em que o mesmo ex-titular da Presidência da República se permitiu anunciar ao ministro Gilmar Mendes que tinha o "controle" sobre a CPI, recém criada pelo Congresso, e que teria condições de "blindar" a pessoa do ministro aludindo a viagem que fizera a Berlim com a participação suspeita do esquema contraventor que hoje ocupa a mídia nacional. O ministro que teria sido alvejado diretamente pelo ex-presidente, sempre pela mesma fonte, replicou que ia a Berlim como o seu generoso e solícito protetor ia a São Bernardo, e que fizera a viagem, custeada com recursos seus como poderia demonstrar e veio fazê-lo, até porque em Berlim reside uma filha.

Esse aspecto parece ser de todos o mais grave, porque no fundo deste estratagema ressaltam os elementos de um delito e não pode recomendar, como não recomenda, a sua utilização por quem, em certo momento foi portador das insígnias nacionais. O caso tem outros aspectos, igualmente graves e constrangedores, também aludidos na matéria, mas que me abstenho de aflorá-los pelas limitações que o espaço me impõe. Não posso deixar, porém, de observar que o ex-presidente da República e o dono do escritório não confirmaram os mencionados oferecimentos apontados pelo ministro Gilmar Mendes.

Mas o que me parece particularmente sugestivo é que ambas as personalidades não disseram uma palavra do que fora tratado na reunião de 26 de abril. Afinal de contas, dada a eminência de seus participantes, não é de admitir-se que houvessem se reunido para uma rodada de canastra, tratar da escalação da Seleção Brasileira ou dos desafios da Copa. Já que a proposta indecente, confirmada pelo ministro Gilmar Mendes, não mereceu a confirmação dos outros convivas do encontro, não estariam eles na contingência de levar ao conhecimento da nação a sua versão do que lá foi tratado?

Paulo Brossard, jurista, ministro aposentado do STF

FONTE: ZERO HORA (RS)

Capitalismo de amigos: BNDES tem quase R$ 60 bilhões na Vale, Petrobrás e JBS

Mineradora entrou este ano no grupo dos clientes para os quais há exceção nos limites de financiamento do banco

Vinicius Neder

RIO - A exceção nas regras do Banco Central em relação aos limites de crédito para um único cliente nas operações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), decidida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) no dia 24, chamou a atenção para a enorme participação acionária do banco de fomento em algumas empresas.

A norma incluiu a Vale no grupo integrado por Petrobrás e Eletrobrás, clientes para os quais a participação acionária não entra no cálculo do limite de exposição - regra para reduzir riscos de solvência. A Vale virou a exceção da exceção, por tratar-se de uma empresa privada com acesso a benefício antes disponível somente a companhias controladas pelo governo.

A participação de 15% do BNDES na Petrobrás, após a capitalização de 2010, equivale a quase R$ 37 bilhões, pelas cotações do último dia 30. No caso da Vale, a fatia é de cerca de R$ 17 bilhões. A terceira empresa na lista das participações bilionárias do BNDES é o frigorífico JBS, com participação de R$ 5,5 bilhões.

Com a Resolução 4.089, a participação na Vale pode ser excluída do cálculo do limite de exposição por cliente do BNDES. A regra vigente impõe, para todos os bancos, limite de 25% do patrimônio de referência (PR). No caso do banco de fomento, cujo PR estava em R$ 98 bilhões em março, o limite é R$ 24,5 bilhões.

Tal benefício estava disponível para a Petrobrás desde 2008 e para a Eletrobrás, desde 2011. Com a inclusão da Vale, a exceção foi estendida para todas as empresas dos setores petrolífero, elétrico e de mineração. Pela norma anterior, apenas "empresas atuantes nos setores petrolífero e elétrico controladas direta ou indiretamente pela União" tinham direito ao benefício.

Para o consultor Roberto Luís Troster, ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), as participações acionárias são incluídas nos cálculos desse limite, somadas aos empréstimos. "A participação acionária é um jeito de emprestar", diz Troster, lembrando que exceções normativas aos bancos públicos são comuns no Brasil.

Subsídio. A mudança abre espaço para o BNDES emprestar mais, sobretudo para Petrobrás e Vale, cujas operações totais estão acima ou muito próximas do limite de exposição por cliente. Contudo, no dia seguinte à edição da norma pelo BC, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, negou que haja novos empréstimos em vista para a mineradora.

Segundo a assessoria de comunicação do BNDES, a Vale tem um limite de crédito junto ao banco de R$ 7,3 bilhões, aprovado em 2008. Cerca de R$ 4 bilhões já foram contratados. Somado à participação acionária, o volume de operações chega a R$ 21 bilhões. Com o desembolso total do limite aprovado, o valor chega a R$ 24,3 bilhões, muito próximo dos 25% do PR.

O BNDES justifica a exceção aos setores de petróleo, energia e mineração alegando que são estratégicos para o País. Além disso, respondem por cerca de dois terços da carteira de ações do banco, que encerrou 2011 com participação em 154 empresas, no valor de R$ 86 bilhões.

Para Mansueto Almeida, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), as medidas de exceção ampliam a capacidade de oferecer subsídios para empresas que não precisam. Petrobrás e Vale, por exemplo, não têm dificuldade de se financiar no mercado, inclusive internacional. "É diferente de dar subsídio para a inovação. Eventualmente, um processo produtivo novo pode ser usado por várias outras empresas."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PIB fraco reacende debate sobre política fiscal

Por Ribamar Oliveira e Claudia Safatle

BRASÍLIA - O frustrante desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre deste ano - crescimento de apenas 0,2% sobre o último trimestre de 2011 - aquece o debate na área econômica do governo sobre a política fiscal em curso. A principal crítica é quanto ao seu caráter pró-cíclico. Ou seja, a contenção do crescimento do gasto público para produzir superávit primário estaria aprofundando a desaceleração da atividade.

Uma ala importante da equipe do Ministério da Fazenda, cujo principal expoente é o secretário-executivo, Nelson Barbosa, afirmava, no fim do ano passado, que o governo estava contribuindo para a desaceleração da economia ao perseguir um elevado superávit, sacrificando os investimentos.

Desde o terceiro trimestre de 2011, a política fiscal executada pelo Tesouro Nacional já era claramente pró-cíclica, segundo essa corrente. Nesse período a atividade econômica já dava sinais de forte desaquecimento e o empenho do governo para perseguir a meta de superávit primário teria acentuado a desaceleração. Na época, essa avaliação foi levada à presidente Dilma Rousseff que, no entanto, preferiu manter a trajetória fiscal definida pelo ministro Guido Mantega. Nesse debate, informam fontes do governo, a figura que predominou nas discussões foi a do secretário do Tesouro, Arno Augustin, com a defesa do cumprimento da meta fiscal.

Mesmo hoje a discussão não está madura. Há resistências tanto na Fazenda quanto da própria presidente Dilma, que teria preocupação com uma eventual perda de credibilidade da política econômica a partir da mudança da gestão fiscal de pró-cíclica para anticíclica. É importante lembrar que foi a firmeza no cumprimento das metas de superávit primário que deu sustentação ao Comitê de Política Monetária (Copom) para reduzir a taxa básica de juros (Selic), que caiu de 12,5% ao ano em julho para 8,5% ao ano na semana passada.

Augustin estaria, segundo fontes oficiais, fazendo uma gestão "na boca do caixa", postergando pagamentos dos investimentos realizados para cumprir a meta de superávit, o que seria um desestímulo para as empresas cumprirem seus cronogramas. Em 2011, os investimentos do governo federal caíram 0,2 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB) em relação ao ano anterior e uma quantidade considerável de restos a pagar foi jogada para 2012.

Para melhorar a performance dos investimentos, no entanto, o Tesouro alterou a metodologia de contabilização desses gastos pelo Tesouro Nacional, passando a incluir as despesas com o programa habitacional Minha Casa Minha Vida. No passado, esses gastos sempre foram considerados subsídios, pois não passam de equalização de taxas de juros, nos mesmos moldes daquela feita pelo Tesouro das taxas subsidiadas dos empréstimos do BNDES. De meados de 2010 para cá, passaram a ser tratadas como investimentos genuínos, mascarando a sua retração.

O coro dos que acham que a política fiscal precisa ser contracíclica - caberia ao governo gastar mais para ajudar na retomada do crescimento - vem ganhando adeptos entre técnicos da área econômica e entre economistas com influência junto à presidente Dilma. Essa corrente adverte que o uso de uma política fiscal pró-cíclica, como agora, é inclusive contrária à tese defendida pela presidente em seu debate com os líderes da União Europeia.

Dilma fez, em várias ocasiões, criticas à chanceler alemã, Angela Merkel, que advoga um ajuste fiscal que não deixa margem ao crescimentos dos países endividados da zona do euro. A manutenção da atual política fiscal brasileira, de perseguir a meta de superávit primário equivalente a 3,1% do PIB, mesmo em uma situação de virtual estagnação econômica, enfraqueceria seu discurso.

De janeiro a abril deste ano, a receita administrada pela Secretaria da Receita Federal (RFB) ficou R$ 10 bilhões abaixo da previsão que consta do primeiro decreto de contingenciamento. Há indicações de que o comportamento da arrecadação em maio também foi fraco, refletindo o baixo crescimento da economia. Essa desaceleração da receita já se refletiu nas contas. O superávit primário do setor público, acumulado em 12 meses até janeiro, foi de 3,3% do PIB. Em fevereiro subiu para 3,33% do PIB. Os dois resultados seguintes, porém, foram de queda. O saldo de 12 meses até março caiu para 3,22% do PIB e, em abril, para 3,1% do PIB.

Para encerrar o ano em 3,1% do PIB - meta da lei de diretrizes orçamentárias (LDO) - não pode ocorrer mais frustração de receita, em comparação ao que foi programado no Orçamento, o que parece difícil, devido ao fraco crescimento.

Há indicações de que os gastos começaram a ser flexibilizados. Mesmo com a redução da estimativa da receita administrada, o último decreto de programação orçamentária e financeira para este ano, editado na semana passada, ampliou as despesas públicas em R$ 4,9 bilhões. Uma hipótese é de o governo afrouxar um pouco o gasto, de forma gradual, sem anunciar qualquer mudança na meta.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Crescimento de 3% no ano fica difícil

Por Arícia Martins, Francine de Lorenzo e Tainara Machado

SÃO PAULO - A estagnação do Produto Interno Bruto (PIB) na passagem do último trimestre de 2011 para o primeiro deste ano, período em que a economia cresceu apenas 0,2%, feitos os ajustes sazonais, frustrou expectativas de que a atividade iria mostrar alguma recuperação, ainda que modesta, após os estímulos que vêm sendo concedidos pelo governo desde meados de 2011. Onze instituições consultadas pelo Valor Data esperavam, na média, alta de 0,55% para o PIB no período, com intervalo entre 0,50% e 0,80%.

Agora, dizem analistas, fica mais improvável garantir um crescimento econômico de 3% ao fim do ano, como ainda visa o governo - para muitos, 2,5% virou teto. O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, calcula que seria necessário um avanço médio de 1,6% por trimestre, na comparação com o trimestre anterior, para que a economia encerre 2012 com avanço de 3%.

Pelo lado da demanda, o investimento foi o principal aspecto negativo. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), medida que mostra quanto os setores público e privado investiram em máquinas, equipamentos e construção civil, recuou 1,8% no primeiro trimestre deste ano em relação aos três meses anteriores, terceira queda trimestral consecutiva. Essa retração, diz o IBGE, só não foi maior porque a construção civil teve desempenho positivo, com alta de 1,5%.

Para o economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, o mau desempenho do investimento reforça que a queda nos últimos três trimestres tem efeito duradouro. "Essa série limita o aumento do produto potencial [crescimento que, em tese, não acelera a inflação] e diminui a capacidade do Brasil de crescer 4% ao ano de forma sustentável", afirmou o economista. Para ele, um crescimento de 2,5% neste ano passou a ser o teto possível para 2012.

O consumo das famílias, que representa mais de 60% do PIB pelo ótica da demanda, também vem mostrando desempenho modesto na avaliação de economistas, apesar do crescimento de 1% na passagem do último trimestre de 2011 para o primeiro deste ano, feito o ajuste sazonal. Essa variação é a mesma registrada no quarto trimestre do ano passado e poderia ser maior caso a demanda por bens duráveis continuasse pujante, de acordo com Fabio Ramos, da Quest Investimentos, que reduziu para 2,4% sua previsão para o aumento do PIB em 2012.

A LCA Consultores calculou o desempenho do PIB excluindo o desempenho do investimento. Sem ele, calcula a consultoria, "o PIB brasileiro já cresceu num ritmo próximo de 3,5% ao ano no 1º trimestre de 2012, vindo de uma estagnação no 3º trimestre do ano passado." Com investimento, esse número cai para menos de 1%.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Mercado prevê maior retração do PIB em 2012, para 2,72%

Pesquisa Focus também mostra expectativa de menor inflação neste ano, de 5,17% para 5,15%

Eduardo Cucolo

BRASÍLIA - O mercado financeiro reduziu pela quarta semana consecutiva a previsão de crescimento da economia brasileira, desta vez de 2,99% para 2,72%, de acordo com a pesquisa Focus divulgada nesta segunda-feira pelo Banco Central. Há quatro semanas, a projeção era de 3,23%. Essa é a primeira pesquisa após a divulgação do PIB do primeiro trimestre de 2012, que veio abaixo das estimativas da maior parte do mercado.

Para 2013, porém, a aposta se manteve em 4,50%, acima dos 4,30% verificados há quatro semanas.

Apesar de os números do setor industrial no primeiro trimestre terem surpreendido positivamente os analistas, a projeção para o crescimento do setor em 2012 caiu de 1,58% para 1,15%.

Para 2013, economistas preveem ritmo maior, com avanço industrial de 4,25%, projeção que se manteve na passagem da semana passada para esta. Um mês antes, a pesquisa apontava estimativa de expansão de 1,92% neste ano e de 3,95% no próximo ano.

Analistas ainda elevaram a previsão para o indicador que mede a relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB em 2012, de 35,83% para 35,85%. Para 2013, a projeção caiu de 34,50% para 34,25%. Há quatro semanas, as projeções estavam em, respectivamente, 36,10% e 34,70% do PIB para cada um dos dois anos.

Inflação

A projeção de inflação medida pelo IPCA em 2012 foi reduzida de 5,17% para 5,15%. Há quatro semanas, estava em 5,12%. Para 2013, a projeção se manteve em 5,60% pela segunda semana. Há um mês, estava em 5,56%.

A projeção de alta da inflação para os próximos 12 meses caiu de 5,52% para 5,50%, conforme a projeção suavizada para o IPCA. Há quatro semanas, estava em 5,53%.

Nas estimativas do grupo dos analistas consultados que mais acertam as projeções, o chamado Top 5 da pesquisa Focus, a previsão para o IPCA em 2012 no cenário de médio prazo subiu de 5,18% para 5,24%. Para 2013, a previsão dos cinco analistas passou de 5,80% para 5,85%. Há um mês, o grupo apostava em alta de 5,03% e 5,40% para cada ano, respectivamente.

Entre todos os analistas ouvidos pelo BC, a mediana das estimativas para o IPCA em maio teve ligeira queda, de 0,47% para 0,46%, abaixo do 0,47% previsto há um mês. Para junho, a previsão seguiu em 0,25%, ante 0,28% há quatro semanas.

Selic

Na primeira pesquisa Focus divulgada após a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a mediana das estimativas para o patamar da taxa Selic no fim de 2012 seguiu em 8% ao ano pela terceira semana consecutiva, abaixo da taxa atual de 8,50% ao ano, mostrando que a expectativa dos analistas ouvidos na pesquisa é de que o corte na próxima reunião do Copom, em julho, seja feito um corte 0,50 ponto porcentual na taxa.

Segundo a Focus, a Selic voltaria a subir em abril de 2013, para 8,25%, com alta de mais 0,25 ponto nas reuniões de maio, junho e julho do próximo ano, até chegar a 9% ao ano. Para o fim de 2013, a previsão recuou de 9,50% para 9,38%. A pesquisa mostra ainda manutenção das expectativas para o juro médio neste ano em 8,72% pela segunda semana seguida. Para 2013, foi reduzida de 9,20% para 8,75% a previsão de Selic média. Nas quatro pesquisas anteriores analistas esperavam um juro médio de 8,97% em 2012 e de 9,50%, em 2013.

Câmbio

A taxa de câmbio para o fim de 2012 se mantém abaixo de R$ 2,00 nas estimativas dos analistas consultados na pesquisa Focus. Para o fim de junho, as expectativas são de um dólar pouco acima desse patamar.

A mediana das estimativas para o preço da moeda estrangeira no fim de 2012 se manteve em R$ 1,90, conforme a Focus divulgada nesta segunda-feira. Para o fim de 2013, subiu de R$ 1,85 para R$ 1,87. Há um mês, analistas previam dólar a R$ 1,81 no fim de 2012 e de 2013.

Na mesma pesquisa, o mercado financeiro elevou a previsão de taxa média de câmbio, de R$ 1,87 para R$ 1,90 em 2012 e de R$ 1,84 para R$ 1,85 em 2013. Há um mês, a pesquisa apontava que a expectativa de dólar médio estava em R$ 1,82 em 2012 e em R$ 1,80 no próximo ano.

Para o final de junho, a estimativa subiu de R$ 1,95 para R$ 2,00. A mediana das projeções dos analistas do Top 5 passou de R$ 1,98 para R$ 2,01.

Déficit

O mercado financeiro elevou a previsão de déficit em transações correntes. Pesquisa semanal Focus mostra que a mediana das expectativas de saldo negativo na conta corrente neste ano aumentou de US$ 66,95 bilhões para US$ 68 bilhões. Há um mês, estava em US$ 68,54 bilhões.

Para 2013, a previsão de déficit nas contas externas aumentou de US$ 71,5 bilhões para US$ 72 bilhões. Quatro semanas antes, os analistas esperavam déficit em transações correntes de US$ 75 bilhões no próximo ano.

Na mesma pesquisa, economistas mantiveram a estimativa de superávit comercial em 2012 e em 2013, respectivamente, em US$ 20 bilhões e US$ 15 bilhões, ambos pela segunda semana seguida.

A pesquisa mostrou ainda que as estimativas para o ingresso de Investimento Estrangeiro Direto (IED), aquele voltado ao setor produtivo, em 2012, aumentaram de US$ 55 bilhões para US$ 55,05 bilhões.

Para 2013, a expectativa de ingresso de IED passou de US$ 58,35 bilhões para US$ 59 bilhões. Há um mês, analistas esperavam entrada de US$ 56,7 bilhões em 2012 e US$ 56,4 bilhões 2013.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO