terça-feira, 29 de maio de 2012

OPINIÃO DO DIA – Luiz Sérgio Henriques: democracia e inclusão social

Não obstante a hegemonia petista neste último período, só os ideologicamente transtornados poderiam confundi-la com a antiga questão da "transição para o socialismo". Não seria necessariamente razão para desilusão: em diferentes conjunturas, partidos de origem operária conduziram processos de expansão capitalista, encarregando-se, em troca, de trazer para a arena pública, com todos os títulos de legitimidade, os setores subalternos. Em cada caso, o que definiu o caráter inovador ou frustrado de tais experiências foi a relação com as instituições democráticas: também entre nós, essa relação será capaz de determinar, por décadas, a qualidade da nossa democracia política, bem como as possibilidades de crescente e continuada inclusão social.

HENRIQUES, Luiz Sérgio, tradutor, ensaísta, é um dos organizadores das obras de Gramsci no Brasil. Democracia e hegemonia petista, O Estado de S. Paulo, 28/5/2012.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Guerra de versões entre Lula e Gilmar desafia CPI e Supremo
CPI decidirá hoje sobre governadores
'Notáveis' aprovam plantio de maconha
No mesmo dia, Dilma libera e proíbe eucalipto

FOLHA DE S. PAULO
Lula rebate Mendes, que reafirma pressão no STF
Comissão quer que plantio de droga deixe de ser crime
Risco-país da Espanha atinge recorde histórico

O ESTADO DE S. PAULO
Oposição pede investigação e Lula diz estar ‘indignado’
Comissão quer descriminalizar drogas para uso pessoal
Estoque cresce pelo 3º mês consecutivo
Novo código é retrocesso, dizem ambientalistas

VALOR ECONÔMICO
Fabricantes de caminhões cortam produção e jornada
Novo Cade vai analisar oferta de ação

CORREIO BRAZILIENSE
Governo divulga salários em junho e divide Esplanada
Usar drogas pode deixar de ser crime no Brasil
Cachoeira: CPI se decide sobre a Delta
Mensalão: Lula nega chantagem

ESTADO DE MINAS
Café com leite de Minas garantido
Descriminalização do porte para uso avança
Mercado prevê PIB abaixo de 3% pela primeira vez

ZERO HORA (RS)
Mendes confirma diálogo; Lula se declara indignado
Tarso tenta pôr fim a divergências

JORNAL DO COMMERCIO (RS)
Cinco mil empregos em risco no estaleiro
Oposição quer processo contra Lula
Comissão sugere descriminalização do uso de drogas

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Guerra de versões entre Lula e Gilmar desafia CPI e Supremo

Ex-presidente nega pressão por mensalão; oposição pede que PGR investigue

Às vésperas do julgamento do mensalão e diante de uma CPI que apura o envolvimento de políticos com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, uma guerra de versões entre o ex-presidente Lula e o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes acirrou ânimos entre governo e oposição. Pressionado pela OAB e por ministros do STF, Lula negou ter sugerido a Gilmar que adiasse o julgamento do mensalão: "Meu sentimento é de indignação." Já Gilmar repetiu que, num encontro presenciado pelo ex-ministro Nelson Jobim, Lula lhe sugeriu que não seria conveniente julgar o caso num ano eleitoral. E deu a entender que, por controlar a CPI, poderia facilitar a vida do ministro caso a investigação chegasse a ele. A oposição protocolou requerimento na Procuradoria Geral da República para apurar se Lula incorreu em crimes de corrupção ativa, coação e tráfico de influência.

Confronto aberto entre Lula e Gilmar

Ministro reafirma que foi pressionado para adiar julgamento do mensalão; ex-presidente nega

Gustavo Uribe, Natalia Lucas*

SÃO PAULO e MANAUS - Às vésperas do julgamento do mensalão e em plena investigação da CPI do Cachoeira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes entraram ontem numa guerra aberta de versões. Pressionado pela oposição e por outros ministros da Corte, Lula foi forçado a soltar nota negando ter pressionado Gilmar Mendes para adiar o julgamento do mensalão. Lula se disse indignado. Gilmar, em entrevista em Manaus, reafirmou detalhes da conversa que aconteceu no escritório do ex-ministro Nelson Jobim, no dia 26 de abril.

- Claro que houve a conversa sobre o mensalão e o ministro (Nelson) Jobim sabe disso - disse Gilmar.

Segundo a revista "Veja", Gilmar Mendes foi convidado para um encontro com Lula no qual o líder petista teria dito ao ministro que é inconveniente julgar o processo do mensalão antes das eleições municipais, que tem o controle político da CPI do Cachoeira e que poderia protegê-lo das investigações. Lula, segundo Gilmar, teria mencionado uma viagem do ministro a Berlim em que se encontrou com o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), supostamente paga pelo bicheiro Carlos Cachoeira - o que foi negado por Gilmar.

- O presidente disse da importância do julgamento do mensalão de que, se possível, não se julgasse este ano, que não haveria objetividade. Eu objetei então que não me parecia possível adiar esse julgamento, dada a repercussão, dada a possibilidade de dois colegas não mais participassem, colegas que participaram do recebimento da denúncia - afirmou, em referência aos ministros Cesar Peluzo e Ayres Britto, que devem se aposentar neste ano.

No confronto de versões, Lula lembrou, na nota que divulgou, que o ex-procurador-geral Antonio Fernando de Souza foi reconduzido ao cargo por ele após apresentar a denúncia do mensalão e que como presidente da República indicou oito ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) "e nenhum deles pode registrar qualquer pressão ou injunção minha em favor de quem quer que seja":

- Meu sentimento é de indignação. O procurador Antonio Fernando de Souza apresentou a denúncia do chamado mensalão ao Supremo Tribunal Federal (STF). E depois disso foi reconduzido ao cargo. Eu indiquei oito ministros do STF e nenhum deles pode registrar qualquer pressão ou injunção minha em favor de quem quer que seja - afirmou o ex-presidente, em nota distribuída pelo Instituto Cidadania, que preside.

Na nota, a assessoria de imprensa de Lula confirmou que o líder petista se encontrou com Gilmar, mas chamou de "inverídica" a versão da conversa divulgada. A assessoria ressaltou que o ex-presidente "jamais interferiu ou tentou interferir nas decisões do STF ou da Procuradoria Geral da República" em relação à ação penal do mensalão. No texto, é destacado que, durante os seus dois mandatos, o ex-presidente respeitou "rigorosamente" a autonomia e independência do Judiciário e do Ministério Público. "O comportamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o mesmo, agora que não ocupa nenhum cargo público", acrescentou a nota.

"Houve o encontro, houve a conversa"

Questionado se Lula teria lhe oferecido blindagem na CPI, o ministro Gilmar Mendes disse que "a questão não se coloca dessa forma", mas que o petista falou sobre o "domínio que governo tinha sobre a CPMI":

- O ex-presidente tocou várias vezes no tema da CPI, no domínio que o governo tinha sobre a CPI e aí depreendi desta conversa que ele estava inferindo que eu tinha algo a dever nesta matéria de CPI. Então, eu disse a ele, com toda a franqueza, que o senhor está com alguma informação confusa, que o senhor não está devidamente informado. Não tenho nenhuma relação, a não ser relação de conhecimento e trabalho funcional com o senador Demóstenes.

- Ao voltar-se para a cadeira, como num susto, ele falou da tal viagem de Berlim. Aí eu percebi que ele realmente estava mal informado e que estava se valendo daquele momento pra que eu tivesse algum tipo de constrangimento. Eu estranhei. Não era a relação que tínhamos durante tantos anos. Era algo realmente atípico. O Nelson Jobim ouviu a conversa e ainda interveio. Complementou dizendo que o que ele (Lula) estava querendo dizer é que o deputado Protógenes podia querer levá-lo a CPI. E eu ainda ironizei dizendo que a essa altura ele (Protógenes) é quem precisava de proteção na CPMI - ressaltou.

O ministro disse que se sentiu perplexo pela possibilidade de Lula usar a informação, que classificou de "falsa", sobre suposta ligação com Cachoeira:

- Eu me senti perplexo, porque a relação com o ex-presidente sempre foi muito franca, muito cordial.

O ministro não comentou a nota emitida pela assessoria de Lula:

- Não vou ficar discutindo nota a essa altura. Houve o encontro, houve a conversa, uma conversa de velhos conhecidos. Repassamos os diversos assuntos em comum ao nosso meio e o presidente insistia em falar sobre a CPMI. Falou várias vezes sobre isso - destacou Gilmar. (* Especial para O GLOBO)

FONTE: O GLOBO

Lula rebate Mendes, que reafirma pressão no STF

O ex-presidente Lula contestou a versão do ministro do Supremo Gilmar Mendes de que ele tentou pressionar pelo adiamento do julgamento do mensalão. O petista se disse indignado -Mendes, porém, reafirmou a tentativa de interferência. A assessoria de Lula admitiu ter havido a reunião no escritório de Nelson Jobim, mas disse que o relato de Mendes é inverídico

Lula contesta ministro e diz que não pressionou Supremo

Ex-presidente se diz indignado com relato de Gilmar Mendes sobre mensalão

Ministro reafirma que petista tentou interferir no caso e fala que atraso no julgamento abre espaço a "oportunistas"

SÃO PAULO, BRASÍLIA e MANAUS - O ex-presidente Lula negou ontem ter tentado pressionar o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), a adiar o julgamento do mensalão.

Em nota, ele se disse indignado com o ministro e afirmou que o seu relato sobre a conversa que os dois mantiveram em abril, no escritório do ex-ministro Nelson Jobim em Brasília, é "inverídico".

Segundo reportagem de sábado da revista "Veja", Lula teria dito a Mendes que seria "inconveniente" julgar o caso antes das eleições.

Em troca do apoio ao adiamento, ele teria oferecido proteção na CPI do Cachoeira, que poderia vir a investigar as relações de Mendes com o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO).

"A reunião existiu, mas a versão da "Veja" sobre o teor da conversa é inverídica", diz texto da assessoria de Lula.

A nota afirma que o ex-presidente "jamais interferiu ou tentou interferir nas decisões do Supremo ou da Procuradoria-Geral da República em relação à ação penal do chamado mensalão".

"Meu sentimento é de indignação", diz Lula no texto.

Lula quebrou o silêncio à noite, cerca de duas horas após o presidente do STF, Carlos Ayres Britto, fazer uma cobrança pública para que ele se manifestasse sobre o caso.

"O diálogo foi protagonizado por três pessoas. Dois já explicitaram sua interpretação dos fatos. Falta o terceiro", disse Ayres Britto.

À noite, o presidente do STF disse que irá conversar com os outros ministros "olho no olho" para "fazer um levantamento da situação." "Sigo observando".

Jobim, que já havia contestado o relato de Mendes no fim de semana, manteve a negativa em entrevista ao jornal "Zero Hora". "Foi uma conversa institucional, não teve nada nesses termos que a "Veja" está se referindo."

Blindagem

Também ao "Zero Hora", Mendes reafirmou seu relato, dizendo que Lula falou várias vezes sobre o tema mensalão, insinuando que poderia acionar congressistas aliados para blindá-lo. "Percebi que havia um tipo de insinuação."

À noite, em Manaus, o ministro disse que o próprio Lula pode estar sob pressão.

"Tive ao longo dos anos dezenas de conversas com o presidente, nunca tinha experimentado sensação igual a essa, me parece que ele próprio esteja sobre pressão."

Ele disse que o que o motivou a relatar o encontro com Lula foi quando recebeu informação "de pessoas confiáveis" de que notícias contra ele estavam "sendo plantadas e divulgadas, inclusive com participação do presidente". Aí me preocupou."

Mendes se recusou a comentar o comunicado de Lula, mas disse que o STF está "demorando muito" para julgar o processo do mensalão. "Como nós estamos demorando muito nessa definição, surgem essas infecções oportunistas. E aproveitadores de toda a sorte que vem conturbar o ambiente do tribunal."

Segundo ele, o tribunal passa por uma fase "muito delicada" por ter três ministros recém-nomeados (Rosa Weber, Luiz Fux e Dias Toffoli) e por outros dois estarem próximos da aposentadoria (Ayres Britto e Cezar Peluso).

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Oposição pede investigação e Lula diz estar ‘indignado’

A oposição pediu ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, providências para investigar o ex-presidente Lula, acusado de oferecer blindagem na CPI do Cachoeira ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, em troca de acordo para adiar o julgamento do mensalão. Em nota, Lula se disse "indignado" com as acusações de Gilmar Mendes. Em representação criminal, líderes de PSDB, DEM, PPS e PSOL sustentam haver indícios de que o petista praticou corrupção ativa, tráfico de influência e coação no curso de processo judicial, nacional

Oposição pede à PGR investigação contra Lula, que diz estar "indignado"

CPI do Cachoeira. Ciente de que não conseguiria convocar o ex-presidente para explicar conversa com Gilmar Mendes sobre suposta "blindagem" na comissão em troca do adiamento do julgamento do mensalão, oposição apela a Gurgel; petista confirma encontro, mas nega teor

Fábio Fabrini

BRASÍLIA - A oposição pediu ontem ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, providências para investigar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acusado de oferecer blindagem na CPI do Cachoeira ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em troca de um acordo para adiar o julgamento do mensalão. Em nota emitida no fim da tarde, Lula afirmou estar "indignado" com as acusações de Gilmar Mendes. Em representação criminal, líderes do PSDB, DEM, PPS e PSOL sustentam haver indícios de que o petista praticou corrupção ativa, tráfico de influência e coação no curso de processo judicial. Em sua nota, Lula confirmou que se encontrou com Gilmar no mês passado, em Brasília, no escritório do ex-ministro da Defesa Nelson Jobim. Mas alega que a versão do ministro sobre a oferta é "inverídica". "Meu sentimento é de indigna-ção", disse ele.

A investida da oposição foi acertada em reunião na qual os quatro partidos desistiram de tentar que Lula se explique na CPI. Sem votos para aprovar convocações ou acareações, os partidos devem apenas usar o episódio para constranger a maioria na sessão de hoje. "Seria uma palhaçada. Eles (o governo) derrubariam o requerimento na hora e ainda nos humilhariam, dando atestado de bom moço ao ex-presidente", justificou um senador oposicionista. A representação reproduz reportagem da revista Veja, que publicou a denúncia no fim de semana. Nos próximos dias, Gurgel deve encaminhá-la para análise de algum procurador da República, já que ex-presidentes não têm foro privilegiado. Segundo o texto, Lula exerceu tráfico de influência, pois teria tentado interferir no ato de um magistrado para favorecer seu partido.

Além disso, teria praticado corrupção por oferecer vantagem indevida para que Gilmar fizesse, retardasse ou omitisse um ato de ofício. A coação no curso do processo se basearia na suposta tentativa de ameaçar autoridade com poder de intervir na ação judicial em curso. Caberá ao Ministério Público Federal (MPF) decidir se pede ou não à Polícia Federal que investigue o caso e, a partir das provas colhidas no inquérito, oferecer denúncia contra o ex-presidente à Justiça. O líder do DEM no Senado, senador José Agripino (RN), que conversou com Gilmar, disse que é necessário apurar se a acusação tem procedência. "Os ministros do Supremo já manifestaram sua indignação. Agora, é necessário passar o caso a limpo. Está claro que o PT não quer que o mensalão seja esclarecido", afirmou ele. Para o líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE), o episódio desmoraliza os governistas na apuração do caso Cachoeira. "A CPI nascia contaminada e isso se confirma agora, com esse grau de ingerência. A maioria deve explicar se está disposta a seguir qualquer ordem de um ex- presidente", provocou.

Sem interferência. O ex-presidente sustenta que, em oito anos de mandato, jamais interferiu ou tentou interferir nas decisões do Supremo. "O procurador Antonio Fernando de Souza apresentou a denúncia do chamado mensalão ao STF e depois disso foi reconduzido ao cargo. Eu indiquei oito ministros do Supremo e nenhum deles pode registrar qualquer pressão ou injunção minha em favor de quem quer que seja", disse. Os governistas minimizaram o episódio, argumentando tratar- se da "palavra de dois contra um". Além de Lula, Jobim negou que o ex-presidente e Gilmar tenham falado sobre mensalão. "A situação é típica de quem não tem o que dizer ao País e precisa ficar produzindo escândalos. O presidente Lula não faria qualquer pressão sobre o Judiciário e os juízes do Supremo têm total independência", comentou o senador Humberto Costa (PT-PE). Na nota, Lula diz ter visitado Jobim em seu escritório, onde também se encontrava Gilmar.

Ex-presidente "plantava coisas falsas", diz Gilmar

O ministro do STF, Gilmar Mendes, disse na noite de ontem, em Manaus (AM), que decidiu revelar a conversa que teve com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva porque estava sendo alvo de informações "plantadas" envolvendo sua relação com o senador Demóstenes Torres (ex-DEM, sem partido-GO). "O que me fez crescer a convicção de que havia algo de errado foi a informação que me veio de pessoas confiáveis de que essas informações estavam sendo plantadas, inclusive com a participação do (ex) presidente. Aí me preocupou", disse Mendes, que participou de evento realizado pela Escola Superior de Magistratura do Amazonas. Ele repetiu, conforme sua versão, que se sentiu constrangido com o fato de Lula insistir no tema CPI do Cachoeira e fazer menção ao encontro com o senador em Berlim. "Eu estranhei. Não era a relação que nós tínhamos há tantos anos. E era algo atípico. O (Nelson) Jobim estava presente e neste momento complementou: "O que ele tá querendo dizer é que o deputado Protógenes (Queiroz) pode estar querendo levá-lo à CPI". E eu ainda ironizei: "A essa altura, com o que tem aparecido sobre o deputado Protógenes, ele está é precisando de proteção na CPI"".

O ministro garantiu que teve "relação estritamente profissional" com Demóstenes, "Quanto aos seus malfeitos, eu não tenho parte nisso." Ele disse que denunciou a conversa com Lula para evitar qualquer tipo de "abuso". "Não pode fonte oficial, um parlamentar, um ex-presidente da República, um ministro da Justiça, veicular coisas falsas, isso não pode ocorrer", afirmou.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Para ministros do STF,caso gera ‘perplexidade’

Para Celso de Mello, Lula sofreria impeachment se fosse presidente; Corte mantém julgamento do mensalão para agosto

Felipe Recondo e Mariângela Gallucci

BRASÍLIA - Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) reagiram à suposta pressão do ex-presidente Lula para tentar adiar o julgamento do mensalão, conforme versão do colega Gilmar Mendes. Os i ntegrantes da Corte, porém, asseguram que não há nenhuma possibilidade de adiamento do processo. O ministro Marco Aurélio Mello disse ontem que ficou perplexo com o episódio. “Nós, ministros, ouvimos muita coisa. Temos que dar um desconto”, afirmou. “O que ressoa muito mal é (Lula) ter articulado (a suposta pressão) com viagem a Berlim, (e com a) CPMI”, disse. De acordo com o relato feito por Gilmar Mendes à Veja , Lula teria insinuado que ele poderia ser investigado pela CPI do Cachoeira e o questionou sobre uma viagem que fez à Alemanha onde se encontrou com o De- móstenes Torres (sem partido- GO), investigado por envolvimento no esquema do contraventor Carlos Cachoeira.

Decano do STF, Celso de Mello classificou como “negativo e espantoso” o episódio. “Se ainda fosse presidente da República, esse comportamento seria passível de impeachment por configurar infração político-administrativa, em que um chefe de poder tenta interferir em outro”, destacou em entrevista ao site Consultor Jurídico. Ele classificou o episódio como “anômalo na história do STF”. “Tentar interferir dessa maneira em um julgamento do STF é inaceitável e indecoroso. Rompe todos os limites da ética. Seria assim para qualquer cidadão, mas mais grave quando se trata da figura de um (ex) presidente da República.”

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante, afirmou que Lula deve explicações sobre a suposta pressão, pois os ministros do STF têm de ficar imunes às tentativas de ingerência. “A ser confirmado o teor das conversas mantidas com um ministro titular do Supremo, configura-se de extrema gravidade.”

Calendário. Mas a suposta tentativa de Lula de alterar o calendário do mensalão não seria viável. Uma semana antes da reunião entre Gilmar e Lula, a data do julgamento estava praticamente certa. Na semana anterior, o ministro Ricardo Lewandowski, revisor do processo e dono do calendário do julgamento, afirmou ao Estado que liberaria seu voto até o fim de junho. O processo, portanto, teria início em agosto. Ontem, o presidente do STF, Carlos Ayres Britto, disse que quer julgar o quanto antes o processo. Ele afirmou que está preparado “para ultimar a logística e a formatação do julgamento”. “O processo está maduro para ser julgado. Chegou a hora de julgar.” A ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha, que também é presidente do TSE, já declarou publicamente que a ação pode ser julgada no período eleitoral. Citada na conversa, conforme a Veja , Cármen seria procurada pelo ex- ministro Sepúlveda Pertence pa- ra conversar sobre o assunto. Por meio de sua assessoria, ela disse ter s e e ncontrado com Lula quando ele estava internado, mas que não conversaram sobre mensalão. O ministro Dias Toffoli, que foi advogado-geral da União no governo Lula, afirmou ontem que ainda não sabe se vai partici- par do julgamento do mensalão. “Vou definir no momento em que o processo estiver em pauta”, disse.

Trabalho extra

O ministro Ayres Britto já trabalha na simulação do cronograma do julgamento. No STF, há uma disposição de realizar sessões às segundas, quartas e quintas-feiras para a análise da ação do mensalão.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PT inclui ministro do STF nas investigações da CPI

Por Caio Junqueira

Jilmar Tatto não descarta investigação: "Se o ministro viajou a Berlim com Demóstenes, alguém pagou a passagem"

O PT busca dados contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as relações do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com empresas e autoridades.

A informação de que Mendes se encontrou em Berlim, na Alemanha, com o senador Demóstenes Torres (GO), apontado pela Polícia Federal como o principal braço político de Cachoeira, foi a primeira mais relevante delas e partiu de integrantes do partido na comissão.

Ela integra a estratégia inicial do partido para a CPI, de "desvendar a farsa do mensalão". Com essa informação em mãos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva partiu para uma conversa com o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, no dia 26 de abril. Segundo a revista "Veja", no encontro, Lula pediu o adiamento do julgamento do mensalão. Ofereceu em troca a disposição da maioria governista da CPI de livrá-lo de uma investigação.

O ex-presidente nega ter conversado sobre o mensalão no encontro. A versão petista é que foi Mendes quem marcou o encontro pois soubera por um assessor que acompanha os trabalhos na CPI que alguns parlamentares obtiveram a informação de seu encontro com Demóstenes em Berlim. A razão de ele só falar sobre o assunto agora, mais de um mês após o encontro com Lula, seria uma espécie de "vacina" contra o aprofundamento da investigação contra ele pelo PT.

A razão é que há outras linhas de apuração contra Mendes, como uma eventual influência dele sobre o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, na decisão de não abrir uma ação penal contra Demóstenes no STF após receber os dados da Operação Vegas, em 2009.

Os petistas tentaram, mas não conseguiram aprovar na CPI um requerimento para convocar Gurgel para falar sobre isso. Na semana passada, porém, o procurador encaminhou à CPI sua justificativa: a de que detectou apenas desvios no "campo ético", insuficientes para a abertura de ação judicial.

Até mesmo o ex-diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, segundo um petista, tem auxiliado na operação. Ele foi visto há algumas semanas no Congresso em conversas com integrantes do partido. Sua motivação seria o afastamento do posto maior da PF após Mendes denunciar grampo, nunca comprovado em seu gabinete, que teria flagrado um diálogo dele com Demóstenes. Agora seria o momento de "dar o troco".

Tanto que uma terceira linha de atuação contra Mendes na CPI é ligar a Mendes o ex-policial Jairo Martins, ex-funcionário da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), preso na Operação Monte Carlo. A suspeita é de que foi Martins quem, a pedido de Mendes, detectou suposto grampo no gabinete do ministro. O episódio foi publicado pela revista "Veja" e resultou na demissão de Lacerda.

Mas de acordo com um interlocutor de Lacerda, sua presença no Congresso se deve ao fato de ele estar atuando em uma associação de segurança privada, que tem entre suas funções acompanhar a tramitação de projetos ligados ao setor.

Apesar dessas linhas de apuração estarem em andamento, o PT sempre avaliou que o encontro de Demóstenes e Mendes em Berlim era insuficiente, ao menos por ora, para ligar o ministro ao esquema de Cachoeira. Ontem, o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto, afirmou que Mendes não é alvo da CPI. Mas sugeriu, entretanto, que pode vir a ser.

"Se o ministro viajou a Berlim com Demóstenes, alguém pagou a passagem. Se o grampo [de Mendes com Demóstenes] não ocorreu, alguns dados estão sendo levantados e vamos verificar. Está sendo levantado tudo na CPI. Gilmar não está [diretamente] no foco da CPI. [Mas] Todos, indiretamente, estão no foco da CPI. Vamos verificar o conteúdo disso e verificar os limites de cada um. Não vamos partidarizar a CPI, o que não significa que seremos omissos."

A oposição também optou por não levar o possível pedido de Lula a Mendes para dentro da CPI. Ao menos formalmente. Hoje é provável que haja discursos na CPI contra o episódio, mas isso não será transformado em convocação do ex-presidente ou até mesmo de acareação, como foi inicialmente pensado. Ciente de que não teria votos suficientes para aprovar nenhum desses requerimentos, o PSDB optou por interpelação judicial contra Lula.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Em entrevista, Gilmar confirma pressão de Lula

O ministro Gilmar Mendes, do STF, confirmou nesta segunda (28), o teor da conversa que manteve com Lula, em 26 de abril, no escritório do ex-ministro Nelson Jobim. Segundo ele, Lula disse que não seria “adequado” julgar o processo do mensalão em 2012. E insinuou que poderia proteger o interlocutor na CPI do Cachoeira.

“Foi uma conversa repassando assuntos variados”, disse Gilmar. “Ele [Lula] manifestou preocupação com a história do mensalão e eu disse da dificuldade do tribunal de não julgar o mensalão […]. Mas ele [Lula] entrava várias vezes no assunto da CPI, falando do controle, como não me diz respeito, não estou preocupado com a CPI.”

Gilmar falou à repórter Adriana Irion. Revelou que o amigo Jobim, que vem negando a pressão exercida por Lula, não só testemunhou a conversa como interveio nos diálogos. A íntegra da entrevista, disponívelaqui, vai reproduzida abaixo:

— Quando o senhor foi ao encontro do ex-presidente Lula não imaginou que poderia sofrer pressão envolvendo o mensalão?

Não. Tratava-se de uma conversa normal e inicialmente foi, de repassar assuntos. E eu me sentia devedor porque há algum tempo tentara visitá-lo e não conseguia. Em relação a minha jurisprudência em matéria criminal, pode fazer levantamento. Ninguém precisa me pedir para ser cuidadoso. Eu sou um dos mais rigorosos com essa matéria no Supremo. Eu não admito populismo judicial.

— Sua viagem a Berlim tem motivado uma série de boatos. O senhor encontrou o senador Demóstenes Torres lá?

Nos encontramos em Praga, eu tinha compromisso acadêmico em Granada, está no site do Tribunal. No fundo, isto é uma rede de intrigas, de fofoca e as pessoas ficam se alimentando disso. É esse modelo de estado policial. Dá-se para a polícia um poder enorme, ficam vazando coisas que escutam e não fazem o dever elementar de casa.

— O senhor acredita que os vazamentos são por parte da polícia, de quem investigou?

Ou de quem tem domínio disso. E aí espíritos menos nobres ficam se aproveitando disso. Estamos vivendo no Supremo um momento delicado, nós estamos atrasados nesse julgamento do mensalão, podia já ter começado.

— Esse atraso não passa para a população uma ideia de que as pressões sobre o Supremo estão funcionando?

Pois é, tudo isso é delicado. Está acontecendo porque o processo ainda não foi colocado em pauta. E acontecendo num momento delicado pelo qual o tribunal está passando. Três dos componentes do tribunal são pessoas recém nomeadas. O presidente está com mandato para terminar em novembro. Dois ministros deixam o tribunal até o novembro. É momento de fragilidade da instituição.

— Quem pressiona o Supremo está se aproveitando dessa fragilidade?

Claro. E imaginou que pudesse misturar questões. Por outro lado não julgar isso agora significa passar para o ano que vem e trazer uma pressão enorme sobre os colegas que serão indicados. A questão é toda institucional. Como eu venho defendendo expressamente o julgamento o mais rápido possível é capaz que alguma mente tenha pensado: “vamos amedrontá-lo”. E é capaz que o próprio presidente esteja sob pressão dessas pessoas.

— O senhor não pensou em relatar o teor da conversa antes?

Fui contando a quem me procurava para contar alguma história. Eu só percebi que o fato era mais grave, porque além do episódio (do teor da conversa no encontro), depois, colegas de vocês [jornalistas], pessoas importantes em Brasília, vieram me falar que as notícias associavam meu nome a isso e que o próprio Lula estava fazendo isso.

— Jornalistas disseram ao senhor que o Lula estava associando seu nome ao esquema Cachoeira?

Isso. Alimentando isso.

— E o que o senhor fez? 

Quando me contaram isso eu contei a elas [jornalistas] a conversa que tinha tido com ele [Lula].

— Como foi essa conversa?

Foi uma conversa repassando assuntos variados. Ele manifestou preocupação com a história do mensalão e eu disse da dificuldade do Tribunal de não julgar o mensalão este ano, porque vão sair dois, vão ter vários problemas dessa índole. Mas ele (Lula) entrava várias vezes no assunto da CPI, falando do controle, como não me diz respeito, não estou preocupado com a CPI.

— Como ele demonstrou preocupação com o mensalão, o que falou?

Lula falou que não era adequado julgar este ano, que haveria politização. E eu disse a ele que não tinha como não julgar este ano.

— Ele disse que o José Dirceu está desesperado?

Acho que fez comentário desse tipo.

— Lula lhe ofereceu proteção na CPI?

Quando a gente estava para finalizar, ele voltou ao assunto da CPMI e disse “que qualquer coisa que acontecesse, qualquer coisa, você me avisa”, “qualquer coisa fala com a gente”. Eu percebi que havia um tipo de insinuação. Eu disse: “Vou lhe dizer uma coisa, se o senhor está pensando que tenho algo a temer, o senhor está enganado, eu não tenho nada, minha relação com o Demóstenes era meramente institucional, como era com você”. Aí ele levou um susto e disse: “e a viagem de Berlim.” Percebi que tinha outras intenções naquilo.

— O ex-ministro Nelson Jobim presenciou toda a conversa?

Tanto é que quando se falou da história de Berlim e eu disse que ele [Lula] estava desinformado porque era uma rotina eu ir a Berlim, pois tenho filha lá, que não tinha nada de irregular, e citei até que o embaixador nos tinha recebido e tudo, o Jobim tentou ajudar, disse assim: “Não, o que ele está querendo dizer é que o Protógenes está querendo envolvê-lo na CPI.” Eu disse: “O Protógenes está precisando é de proteção, ele está aparecendo como quem estivesse extorquindo o Cachoeira.” Então, o Jobim sabe de tudo.

— Jobim disse em entrevista a Zero Hora que Lula foi embora antes e o senhor ficou no escritório dele tratando de outros assuntos.

Não, saímos juntos.

— O senhor vê alternativa para tentar agilizar o julgamento do mensalão?

O tribunal tem que fazer todo o esforço. No núcleo dessa politização está essa questão, esse retardo. É esse o quadro que se desenha. E esse é um tipo de método de partido clandestino.

— Na conversa, Lula ele disse que falaria com outros ministros?

Citou outros contatos. O que me pareceu heterodoxo foi o tipo de ênfase que ele está dando na CPI e a pretensão de tentar me envolver nisso.

— O senhor acredita que possa existir gravação em que o senador Demóstenes e o Cachoeira conversam sobre o senhor, alguma coisa que esteja alimentando essa rede que tenta pressioná-lo?

Bom, eu não posso saber do que existe. Só posso dizer o que sei e o que faço.

FONTE: BLOG JOSIAS DE SOUZA

Para entidades, Lula pode ter cometido crime

Academia Brasileira de Direito Constitucional e Ordem dos Advogados do Brasil cobram explicações de ex-presidente

Carolina Brígido

BRASÍLIA. O presidente da Academia Brasileira de Direito Constitucional, Flávio Pansieri, disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cometeu um crime ao pedir para o ministro Gilmar Mendes adiar o julgamento do mensalão em troca da blindagem do magistrado na CPI do Cachoeira. A informação foi publicada na última edição da revista "Veja". Para o advogado, o Ministério Público Federal deveria entrar com uma ação contra Lula para evitar que fatos semelhantes voltem a ocorrer no STF.

"O tribunal deve agora pautar e concluir o julgamento do mensalão, demonstrando dessa forma a sua independência e autonomia absoluta de relações espúrias com o poder ou ex-autoridades da República", afirmou ao site "Direito Global", sem especificar qual crime Lula teria cometido.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, recomendou que o Supremo mantenha-se imune a qualquer tipo de pressão ou ingerência. Ele considerou a conversa de "extrema gravidade" e pediu que Lula se explicasse.

- A ser confirmado o teor das conversas mantidas com um ministro titular do Supremo, configura-se de extrema gravidade, devendo o ex-presidente, cuja autoridade e prestígio lhe confere responsabilidade pública, dar explicações - afirmou. Ao mesmo tempo, a Ordem dos Advogados do Brasil reafirma a sua confiança na independência dos ministros do STF para julgar, com isenção e no devido tempo, as demandas que constitucionalmente lhe são apresentadas.

FONTE: O GLOBO

Interferência é 'ilegítima', diz decano do Supremo

Celso de Mello afirma que pressão ao STF seria motivo de impeachment

Para ministro, ação de Lula, se confirmada, demonstra grave desconhecimento das instituições

BRASÍLIA - O ministro Celso de Mello, o magistrado mais antigo do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou ontem à Folha que a conduta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, caso seja confirmada, revelaria um "comportamento eticamente censurável, politicamente atrevido e juridicamente ilegítimo".

Segundo o ministro Gilmar Mendes, colega de Celso de Mello no STF, Lula teria sugerido a ele o adiamento do julgamento do mensalão no STF em troca de uma blindagem a Mendes na CPI que investiga atividades do empresário Carlinhos Cachoeira.

Celso de Mello disse ainda que uma iniciativa desse tipo por parte de Lula significaria "lamentável expressão de grave desconhecimento das instituições republicanas e de seu regular funcionamento no âmbito do Estado democrático de direito."

A conversa de Lula com Gilmar Mendes ocorreu em abril, em Brasília, na casa de Nelson Jobim, ex-ministro do governo Lula e do STF. Lula e Jobim, no entanto, negam o teor descrito por Mendes.

"Não houve essa conversa. Foi uma visita de cordialidade", disse Jobim, que garantiu ter ficado ao lado dos dois durante todo o período em que estiveram juntos.

Celso de Mello sempre foi conhecido como um dos mais discretos do Supremo. No domingo, porém, em entrevista ao site da revista "Consultor Jurídico", especializada em assuntos do judiciário, ele já havia manifestado sua contrariedade com o assunto.

"Se (Lula) ainda fosse presidente da República, esse comportamento seria passível de impeachment por configurar infração político-administrativa, em que um chefe de poder tenta interferir em outro", afirmou.

Em outro trecho da entrevista ao site da revista, Mello disse que "tentar interferir dessa maneira em um julgamento do STF é inaceitável e indecoroso. Rompe todos os limites da ética. Seria assim para qualquer cidadão, mas mais grave quando se trata da figura de um presidente da República".

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Ayres Britto garante julgar mensalão

Agência O Globo

BRASÍLIA – No Supremo Tribunal Federal (STF), os ministros estão céticos em relação à suposta pressão feita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Gilmar Mendes para adiar o julgamento do mensalão. Entre os integrantes da Corte, paira a dúvida de que o diálogo, narrado por Gilmar à última edição da revista Veja, tenha mesmo existido. A interrogação ficou ainda maior quando o ex-ministro do STF, Nelson Jobim, desmentiu o ministro em entrevista à imprensa. Para o ministro Marco Aurélio Mello, o episódio, verdadeiro ou não, “mancha a reputação do tribunal”: “Isso deixa a instituição numa posição ruim. O leigo acha que estamos sujeitos a pressões e sugestões, e não estamos”.

Mas o ministro ainda não tem certeza se a conversa ocorreu ou não: “Ficou no ar um descompasso, porque o ministro Nelson Jobim negou peremptoriamente o teor do encontro. Com quem está a razão? Quem sou eu para dizer com quem está a verdade? Outra coisa que não fechou foi por que só agora veio à tona (o encontro)”, disse, referindo-se à data do encontro, em 26 de abril.

Outros ministros manifestaram reservadamente desconfiança em relação à narrativa de Gilmar. O presidente do tribunal, Carlos Ayres Britto, deu pouca importância para as dúvidas levantadas pelos colegas. Para ele, pouco importa saber se o episódio é verdadeiro ou não. Ele confirmou que, na semana passada, Gilmar contou-lhe a mesma história publicada na revista.

“Nós ministros do STF somos maiores, vacinados e experimentados no enfrentamento de todo tipo de questão. Por isso, não perderemos o foco, o eixo da nossa obrigação de decidir com objetividade, imparcialidade, independência e tecnicalidade. Esse episódio não interfere no nosso dever de julgar a questão como determina a lei: com foco na prova dos autos”, disse o presidente ao Globo

O ministro Carlos Ayres Britto, está aguardando apenas o voto do ministro revisor, Ricardo Lewandowski, para incluir o processo do mensalão na pauta de julgamentos. A expectativa é de que o voto fique pronto em meados de junho e o processo seja julgado em agosto, devido ao recesso da Corte em julho. “Na minha opinião, o que a sociedade quer, é compreensível: o julgamento do processo, sem predisposição seja para condenar seja para absolver. O processo tá maduro para ser julgado”, afirmou no evento.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

CPI decidirá hoje sobre governadores

A CPI do Cachoeira deverá votar se convoca os governadores Marconi Perillo (PSDB-GO), Agnelo Queiroz (PT-DF) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ). A tendência é que Perillo tenha de explicar a venda de uma casa, e Cabral, liberado de falar sobre a amizade com Fernando Cavendish, da Delta. Será votada a quebra de sigilo da empreiteira. O senador Demóstenes Torres falará no Conselho de Ética.

CPI deve decidir hoje sobre governadores

Presidente da comissão quer pôr em análise convocação de Perillo, Agnello e Cabral, além de quebra de sigilo da Delta

Chico de Gois

BRASÍLIA. O presidente da CPMI do Cachoeira, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), disse que na sessão administrativa de hoje pretende colocar em votação mais de cem requerimentos, incluindo os que convocam governadores a prestar depoimento, além daquele que quebra o sigilo bancário da construtora Delta em nível nacional. De acordo com o presidente da CPI, as convocações dos governadores Marconi Perillo (PSDB-GO), Agnelo Queiroz (PT-DF) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ) devem ser votadas separadamente. Se essa estratégia se concretizar, a tendência é que Cabral não seja chamado a dar explicações sobre sua amizade com o ex-dono da Delta Fernando Cavendish.

- Temos dez requerimentos de precedência, apreciados obrigatoriamente antes dos demais. Pode ser que haja acordo entre os partidos para definir quais as prioridades - disse Vital do Rêgo. - Gostaria de votar todos os requerimentos amanhã (hoje). Depende do colegiado.

A convocação dos governadores é um tema que divide a CPMI. Ontem, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) declarou que, para ele, a comissão deveria chamar Perillo e Agnelo. Sampaio disse que não há, até o momento, nenhuma ligação de Cabral com Cachoeira.

- Não tem sentido votar o requerimento para chamar um só. Até agora, não vi referência de Cabral com o esquema de Cachoeira. Apesar da amizade com o dono da Delta, não dá para inseri-lo no contexto do grupo criminoso. Já em relação a Agnelo e Perillo, os dois foram citados nas gravações. Precisamos dar a eles o direito de resposta - afirmou.

O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), defendeu que a convocação dos governadores seja votada em bloco. E dá como certa a aprovação do requerimento sobre Perillo.

O presidente da CPI declarou que vai votar hoje a escolha de um vice-presidente. E não adianou quem pretende indicar. Vital não se envolveu na polêmica reunião entre o ex-presidente Lula e o ministro do STF Gilmar Mendes. Mas, pela declaração, mostrou estar ao lado de Lula - um cartaz em seu gabinete, dos tempos de campanha, deixa isso claro. Diz a propaganda eleitoral: "Vital, o senador de Lula".
- Em uma conversa de três em que dois negam, não posso me manifestar - disse ele, referindo-se ao ex-ministro Nelson Jobim, que contradisse Gilmar e negou que Lula tenha sugerido que o STF não julgasse o mensalão neste ano.

Para Vital do Rêgo, ninguém controla a CPMI.

- Ninguém controla a CPMI. Só eu. Na condição de presidente, tento ordenar os trabalhos. Todas as histórias que desviam o foco da CPMI, não nos furtamos a discuti-las. A mim me cabe colocá-la no foco - disse, rindo.

Álvaro Dias, que discursou criticando Lula, declarou o caso para a CPMI.

- Não é oportuno levar esse assunto para a CPMI porque isso desviaria o foco.

FONTE: O GLOBO

Marisa Monte e Argemiro - histórico da Portela

Fatos e versões:: Merval Pereira

Não são apenas as versões do encontro do ex-presidente Lula com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, no escritório do ex-ministro do Supremo e do governo Lula Nelson Jobim que estão desencontradas. O próprio encontro em si não poderia ter acontecido se vivêssemos em um país sério.

Se respeitassem a liturgia dos respectivos cargos, o advogado Jobim não poderia ter aceitado servir de intermediário de encontro de Lula com Gilmar Mendes; o ministro do STF deveria ter recusado o encontro em tais circunstâncias; e, sobretudo, o ex-presidente, se se desse ao respeito, não poderia nem pensar em pressionar um ministro do Supremo.

Pelos desmentidos desencontrados e por algumas coincidências do relato de Gilmar Mendes com fatos da vida real, está mais que claro que houve o encontro e que o tema central foi mesmo o julgamento do mensalão, uma atitude que poderia render a Lula um processo de impeachment se ainda fosse presidente da República, como bem lembrou outro ministro do Supremo, Celso de Mello.

Esta seria, por sinal, a segunda vez em que o mensalão levaria Lula à beira do impeachment. A primeira, pelo próprio fato em si, que o levou a pedir desculpas ao povo brasileiro e dizer-se traído, numa admissão pública da gravidade do que ocorrera. Agora, na tentativa desesperada de adiar o julgamento do Supremo.

O advogado Jobim não conseguiu sair-se bem da missão de desmentir o indesmentível. Primeiro disse pessoalmente a Jorge Bastos Moreno que a visita acontecera por coincidência, pois Lula fora visitá-lo e lá por acaso estava Gilmar Mendes, que de vez em quando aparece no escritório para tocar um trabalho jurídico com Jobim.

Como Moreno de bobo não tem nada, registrou o desmentido como sendo uma confirmação, pois não é possível que, sabendo três dias antes que Lula lá estaria, não tivesse desmarcado qualquer outra reunião em seu escritório.

E, mesmo que Gilmar Mendes aparecesse por lá sem avisar, caberia a Jobim evitar constrangimento aos dois.

A terceira versão de Jobim - antes dera outra à revista "Veja", alegando que não ouvira tudo o que foi conversado - foi, afinal, a de que realmente convidara Gilmar Mendes a se encontrar com o ex-presidente para uma conversa em seu escritório, por iniciativa de Lula, mas negando que a conversa tivesse girado sobre o mensalão, que teria entrado nela "de passagem" por seu intermédio.

O esforço de Jobim para proteger o ex-presidente Lula é tamanho que ele não se incomoda de se pôr em má situação.

Ora, se fosse mesmo verdadeira, esta versão colocaria Jobim não apenas como intermediário, mas também como participante ativo da pressão sobre um seu ex-colega de STF.

Ao levantar o assunto mensalão, Jobim estaria sendo no mínimo inconveniente, para não dizer temerário.

O próprio ex-presidente, aliás, na nota oficial do Instituto Lula em que se diz "indignado" e nega que tenha pressionado Gilmar Mendes, fala do encontro como tendo sido ocasional: "No dia 26 de abril, o ex-presidente Lula visitou o ex-ministro Nelson Jobim em seu escritório, onde também se encontrava o ministro Gilmar Mendes."

Lula, como se vê, mantém a versão do encontro ocasional quando Jobim já evoluíra para admitir que convidara Mendes para o encontro a pedido dele.

Gilmar Mendes teria de ter uma imaginação prodigiosa para inventar tantos diálogos e situações, e bastam duas ou três dessas situações relatadas por ele para confirmar que tudo se passou como diz.

O ex-presidente Lula teria dito a Gilmar Mendes que pediria ao jurista Celso Antonio Bandeira de Mello para conversar com o presidente do Supremo, Ayres Britto, de quem é uma espécie de guru, responsável por sua indicação ao STF por Lula. O presidente do STF, embora não creia na intenção maliciosa do ex-presidente da República, recordou que durante almoço no Palácio da Alvorada, a convite da presidente Dilma Rousseff, Lula perguntou-lhe sobre Bandeira de Mello, afirmando que, "qualquer dia desses", os três tomariam um vinho juntos.

Lula ainda se referiu a José Dias Toffoli, afirmando que lhe dissera que ele "tem que participar do julgamento". Ex-advogado do PT, e tendo uma namorada que atuou em defesa de mensaleiros, inclusive o ex-ministro José Dirceu, há expectativa de que Toffoli se considere impedido de participar do julgamento do mensalão.

O que Lula teria dito a ele fora antecipado pelo prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, um dos políticos mais próximos de Lula, que definiu recentemente em declaração pública sobre a possibilidade de Toffoli se sentir impedido: "Ele não tem esse direito." Recentemente, Toffoli foi criticado ao visitar Lula no Hospital Sírio e Libanês em São Paulo, com quem conversou longamente. Vê-se agora que as críticas tinham razão de ser.

Por fim, o advogado Nelson Jobim, em uma das várias entrevistas que tem concedido desde que o encontro foi revelado por "Veja", disse que se admirava muito de que só agora, passado um mês do encontro, Gilmar Mendes se revele revoltado com o teor da conversa.

Ou Jobim fez um comentário leviano, sem ter se inteirado das informações, ou está tentando apenas confundir o cenário. O fato foi revelado por Gilmar Mendes ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel; ao advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, e ao presidente do STF, Ayres Britto, antes de sair publicado na "Veja".

Portanto, o ministro Gilmar Mendes apenas confirmou o que a reportagem de "Veja" soube por outros caminhos em Brasília. Como dizia o ex-ministro Golbery do Couto e Silva, segredo só guarda quem não tem. O melhor amigo sempre tem um melhor amigo, e todas as histórias acabam circulando.

O próprio Lula relatou seu encontro a várias pessoas. Por fim, a nota oficial do Instituto Lula tem pelo menos uma inverdade, quando afirma que Lula nunca tentou interferir nas decisões dos ministros do Supremo indicados por ele.

Houve pelo menos uma ocasião em que ele procurou pessoalmente um ministro, e foi rechaçado com elegância. Essa história é conhecida por vários ministros do STF.

Só pode ter sido o fuso horário. Na coluna de domingo, escrevi que a Guerra do Ópio ocorreu "no século passado". Uma frase também ficou fora do texto, complicando mais ainda seu entendimento.

Corrigi no mesmo dia no blog. A frase correta é a seguinte: "(...) esse processo de globalização tem sido bem recebido pela população chinesa, e começou nos anos 40 do século XIX, depois da Guerra do Ópio, e se agudizou depois da guerra com o Japão, quando ocorreu um grande debate no país sobre como entrar na modernidade".

FONTE: O GLOBO

"STF não é sindicato":: Eliane Cantanhêde

Nem Lula, nem Nelson Jobim, nem Gilmar Mendes desmentem que houve um encontro entre eles, no dia citado pela "Veja" e no escritório de Jobim. Esses são os fatos, o resto são versões e especulações. A elas.

Jobim foi ministro de Lula e é (pelo menos era até sexta-feira passada) amigo pessoal de Gilmar. Logo, um mediador perfeito para uma conversa espinhosa entre os dois, dessas que jamais podem sair na imprensa, mas vivem saindo. Seria muita cara de pau dizer que o encontro foi mera coincidência.

Gilmar vive às turras com o PT de Lula, e Lula não gosta de ninguém que não o endeuse. Gilmar e Lula não marcariam de se encontrar no escritório de Jobim só para bater um papo, tomar uma cerveja e comer amendoim. Nem para falar de flores.

Já que tratamos aqui de especulações, vamos pensar: falaram, então, do clima seco de Brasília? Da Rio+20? Do Corinthians na Libertadores? Do sucesso de Dilma? Ou, ao contrário, do novo "pibinho" de menos de 3% que se anuncia para 2012?

Afora o Corinthians, não consta que Lula esteja dando muita bola para nenhuma dessas coisas. Dizem -não os adversários, mas os fiéis seguidores- que ele só age pensando naquilo: eleição de São Paulo, CPI do Cachoeira e... mensalão. Questões, aliás, bastante intrincadas entre elas.

Logo, "se non é vero, é bene trovato" que Lula ande à cata de ministros do Supremo para adiar o julgamento do mensalão em ano eleitoral e tente usar a CPI como moeda de troca. Como também soa quase natural, até pela personalidade, Gilmar botar a boca no trombone.

Tudo faz tanto sentido que os demais ministros compraram rapidamente a história e reagiram com firmeza. O decano Celso de Mello acusa ingerência entre Poderes e Marco Aurélio Mello dá um basta: "O Supremo não é sindicato!".

Pode não ser, mas há quem trate o país como um grande sindicato.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Criação coletiva:: Dora Kramer

Não, o ex-presidente Lula não perdeu o juízo como sugere em princípio o relato da pressão explícita sobre ministros do Supremo Tribunal Federal para influir no julgamento do mensalão, em particular da conversa com o ministro Gilmar Mendes eivada de impropriedades por parte de todas as partes.

Lula não está fora de si. Está, isto sim, cada vez mais senhor de si. Investido no figurino do personagem autorizado a desrespeitar tudo e todos no cumprimento de suas vontades.

E por que o faz? Porque sente que pode. E pode mesmo porque deixam que faça. A exacerbação desse rude atrevimento é fruto de criação coletiva e não surgiu da noite para o dia. A obra vem sendo construída gradativamente no terreno da permissividade geral onde se assentam fatores diversos e interesses múltiplos, cuja conjugação conferiu a Lula o diploma de inimputável no qual ele se encontra em pleno usufruto.

Nesse último e bastante assombroso caso, produto direto da condescendência institucional – para dizer de modo leve – de dois ex-presidentes da Corte guardiã da Constituição: o advogado Nelson Jobim, que convidou, e o ministro Gilmar Mendes, que aceitou ir ao encontro do ex-presidente.

Nenhum dos dois dispõe da prerrogativa da inocência. Podiam até não imaginar que Lula chegaria ao ponto da desfaçatez extrema de explicitar a intenção de influir no processo, aconselhando o tribunal a adiar o julgamento e ainda insinuar oferta de "proteção" ao ministro.
Inverossímil é que não desconfiassem da motivação do ex-presidente que anunciou disposição de se dedicar diuturnamente ao desmonte da "farsa do mensalão" e provou isso ao alimentar a criação de uma comissão parlamentar de inquérito no intuito de embaralhar as cartas e embananar o jogo.

Mas, apenas para raciocinar, aceitemos o pressuposto da ingenuidade. Compremos a versão do encontro entre amigos e consideremos natural tanto o convite quanto a anuência. À primeira questão posta – "é inconveniente julgar esse processo agora" –, à primeira pergunta feita pelo ex-presidente – "não tem como adiar o julgamento?" –, se o ministro Gilmar Mendes tivesse agradecido ao convite e polidamente se retirado, não teria ouvido o que viria a seguir, segundo o relato que fez depois ao presidente do STF, ao procurador-geral da República e ao advogado-geral da União.

Narrativa esta que se pressupõe verdadeira. Se aceitarmos a versão do desmentido apresentada por Nelson Jobim, teremos de aceitar a existência de um caluniador com assento no Supremo Tribunal Federal e de esperar contra ele algum tipo de interpelação.


Tivesse dado por encerrado o encontro logo de início, o ministro Gilmar Mendes não teria ficado "perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do presidente Lula". Não teria ouvido alusões ao seu possível envolvimento com o esquema Cachoeira – razão da oferta de proteção na CPMI –, não teria escutado o ex-presidente chamar o ministro Joaquim Barbosa de "complexado". Não teria testemunhado Lula desqualificar ao mesmo tempo o ex-ministro Sepúlveda Pertence e a ministra Cármen Lúcia ao sugerir a existência de uma cadeia de comando com a frase "vou falar para o Pertence cuidar dela".

É verdade que se tivesse ido embora o ministro Gilmar Mendes teria poupado a si um enorme constrangimento. Mas não daria ao país a oportunidade de saber que o ex-presidente tem acesso a informações de um inquérito na data da conversa (26 de abril) ainda protegido por sigilo de Justiça.

Não saberíamos que Lula diz orientar a conduta do ministro Dias Toffoli – "eu falei que ele tem que participar do julgamento"– e que afirma acompanhar de perto os passos do ministro revisor do processo do mensalão, Ricardo Lewandowski – "ele só iria apresentar o relatório no semestre que vem".

Em suma, ninguém fica bem nessa história, mas Lula fica pior ao deixar que a soberba e o ressentimento o façam porta-voz do pior combate: a desqualificação das instituições. Entre elas o papel de ex-presidente da República.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

A armadilha do mensalão:: Raymundo Costa

Lula deixou a Presidência da República bem avaliado como nenhum outro presidente antes dele, tanto que elegeu a sucessora até como certa facilidade. O sucesso eleitoral, aparentemente, teve um efeito perverso sobre o ex-presidente. Lula é popular, acertou nas medidas contra a crise de 2008 e praticamente nomeou seu sucessor no Palácio do Planalto. Mas nada disso assegura ao ex-presidente o dom da infalibilidade, como parecem acreditar parte do PT, de seus auxiliares no Instituto Lula e ele mesmo, a julgar por seus últimos atos.

Lula abusa de seu prestígio, segundo se avalia entre os amigos mais próximos, aqueles que não consideram dogma cada afirmativa do ex-presidente. Já há algum tempo Lula tem "exorbitado" e tomado decisões sem se importar com opiniões saídas do seu entorno. Pouca arbitragem, muito arbítrio. Como acertou antes e é popular, tem crédito junto à banca. Mas isso não quer dizer que esteja sempre certo, como demonstram as principais decisões tomadas por ele desde que deixou o Palácio do Planalto.

A última foi a iniciativa de conversar reservadamente com ministro Gilmar Mendes, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), no escritório do ex-ministro da Defesa Nelson Jobim. Especialmente se foi para tratar, de fato, do adiamento do julgamento processo do mensalão, previsto para começar em agosto e se estender durante parte do período eleitoral.

PT reclama que Lula "exorbitou" no caso Gilmar Mendes

Pouco importa se a iniciativa da conversa foi de Lula - como publicado - ou de Gilmar, como sugerem os petistas (a ideia de que o encontro foi casual ofende a inteligência alheia). O PT e o ministro do Supremo têm um longo contencioso que não recomendava nenhum tipo de conversa secreta neste momento, quando o picadeiro que se arma em Brasília é para abrigar o espetáculo do julgamento do mensalão - seja em casas alugadas por acusados, pelo trânsito frenético de advogados autorizados no processo ou pelas insinuações que jorram aos borbotões da CPI do Cachoeira e excitam a imaginação dos mais crédulos.

Gilmar nunca foi propriamente um entusiasta dos governos do PT, e chegou a ser acusado de pedir vistas a um processo, nas eleições de 2010, a pedido do candidato tucano José Serra. Em geral, diverge por convicção. É até difícil imaginar a razão que o teria levado a relatar a conversa com Lula ao presidente do Supremo, Ayres Brito, ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel e ao advogado-geral da União, Luiz Inácio Lucena Adams, se não fosse para se preservar.

Não há nada ilegal no fato de Lula e Mendes terem uma conversa reservada. Mesmo que nessa conversa tenha-se abordado o a conveniência de adiar o julgamento do processo do mensalão, já que é real a possibilidade de o ambiente de disputa eleitoral, no segundo semestre, de alguma maneira, contaminar a votação. O momento (da conversa) é que é inconveniente. O que de maneira nenhuma pode ser considerado admissível é tentativa de influenciar, mediante outros pretextos que não o bom argumento, a decisão de um juiz da suprema corte, como Gilmar declarou. O que falta em relação à conversa entre Lula e Mendes é clareza, transparência. Uma coisa é certa: os dois achavam que tinham algo a dizer ou ouvir do outro, ou simplesmente queriam saber o que o outro tinha a falar, tanto que resolveram se encontrar.

Na sexta-feira 25, havia uma expectativa favorável ao adiamento do julgamento, entre alguns dos 38 acusados remanescentes do mensalão (da "Quadrilha dos 40" denunciados pelo Ministério Público Federal, um morreu e outro fez acordo). Ontem, havia desolação. A revelação da conversa entre Lula e Gilmar Mendes provocou a reversão de sentimento dos mais esperançosos. Independentemente de Lula, advogados haviam registrado impressão de que havia, entre ministros do Supremo, inquietação quanto ao fato de o julgamento do processo do mensalão ocorrer às vésperas do período eleitoral. Agora, o STF parece sem outra saída a não ser julgar logo, como previsto.

Uma decisão perigosa, não só por misturar Justiça e política. José Dirceu, apontado pela Procuradoria Geral da República como sendo o "chefe da quadrilha" dos 40, tem repetido a quem quiser ouvir que não quer "um julgamento que seja político", quer "um julgamento técnico". Segundo Dirceu, um julgamento político vai "deslegitimizar" a decisão do STF. Por outro lado, é lamentável que o PT e dirigentes da CPI continuem insinuando que "surgirão fatos" na comissão de inquérito capaz de abalar o Judiciário. Ou a CPI abre o jogo, ou para de fazer sugestões sobre um inquérito cujo teor é desconhecido até dos acusados.

O envolvimento de Lula numa suposta tentativa de adiar o julgamento é mais uma das "exorbitâncias" apontadas no PT e, com mais loquacidade, entre os aliados. Outra é a forma como retirou a senadora Marta Suplicy da disputa a prefeito de São Paulo. A ex-prefeita, nome mais bem cotado no PT, segundo as pesquisas, foi avisada de que estava fora por meio de uma auxiliar do ex-presidente da República. Ela não gostou, fingiu que aceitou o "dedaço" de Lula e agora não perde oportunidade para boicotar a pré-campanha de Fernando Haddad, o nome escolhido pelo ex-presidente.

Haddad pode ganhar a eleição, o que certamente os áulicos do ex-presidente dirão que é mais uma prova de sua clarividência e genialidade político-eleitoral. O problema não é esse, para quem tem que carregar um candidato pesado e tentar jogá-lo no segundo turno. O problema é que Lula não ouviu ninguém para indicá-lo.

Lula também ajudou na criação da CPI do Cachoeira. Estimulou deputados que o procuraram, para saber o que fazer, a assinar o requerimento. A CPI então parecia conveniente ao PT, embaralhava o julgamento do mensalão, levava o senador Demóstenes Torres ao patíbulo e ainda criava dificuldades políticas para o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), desafeto do ex-presidente da República. Bom demais para ser verdade. Coisa de amador.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Movido a soberba e ira, Lula perde o faro político:: Josias de Souza

Sete anos se passaram desde que o “mensalão” foi introduzido no léxico da política nacional. E Lula ainda não conseguiu digeri-lo. Com o vocábulo atravessado na traquéia, o ex-presidente enxergou no Cachoeiragate uma oportunidade para regurgitá-lo. Idealizou uma CPI e passou a transitar entre dois dos sete vícios capitais: a soberba e a ira.

Com a alma em desalinho e o organismo sob efeitos de medicamentos, Lula perdeu momentaneamente sua principal habilidade: o faro político. Às vésperas do julgamento do escândalo, passou a atirar a esmo. No encontro com o ministro Gilmar Mendes, um de seus alvos, cometeu o erro supremo. Deu um tiro no pé.

Por formalidade regimental, o requerimento de convocação da CPI elegeu como objeto de investigação a ação da quadrilha de Carlinhos Cachoeira junto a agentes públicos e privados. Para Lula, o bicheiro é mera escada. Escalando-o, pretende chegar à jugular dos que, segundo crê, conspiraram contra sua presidência.

No papel, a CPI é do Cachoeira. Na cabeça de Lula, o nome da comissão é outro: CPI da Vingança. Numa fase em que o raciocínio brota-lhe do fígado, Lula vislumbrou na iniciativa um palco multiuso. Num mesmo patíbulo, faria sangrar o ex-algoz Demóstenes Torres, a revista Veja e o governador tucano Marconi Perillo.

Do sangue dos antagonistas, Lula pretendeu extrair o sumo que engrossaria seu objetivo primordial: a desmontagem do que chama de “farsa do mensalão.” Nesse contexto, dois personagens foram à alça de mira como alvos convenientes: o procurador-geral da República Roberto Gurgel e o ministro Gilmar Mendes. Um prepara-se para exercer o papel de acusador dos mensaleiros. Outro, de julgador.

Lula encontrou-se com Gilmar em 26 de abril. Dias antes, em conversas com amigos petistas, destilava os rancores que nutre pelo personagem. Em notícia veiculada aqui, em 27 de abril, informou-se sobre os pensamentos que embalavam a mente de Lula nos dias que antecederam a conversa no escritório do ex-ministro Nelson Jobim.

Nesse período, Lula cobrava do petismo que avançasse sobre a Veja. Dizia estar convencido de que a revista associara-se ao aparato de espionagem de Carlinhos Cachoeira para produzir reportagens contra o governo dele. E recordava uma passagem protagonizada por Gilmar Mendes.

Citava o célebre grampo que captara conversa de Gilmar com o senador Demóstenes Torres. Atribuída à Abin, a escuta clandestina levara Lula a afastar da direção da agência de inteligência o delegado federal Paulo Lacerda. Ironicamente, a cabeça de Lacerda descera à bandeja após reunião intermediada por Nelson Jobim.

Então ministro da Defesa, Jobim, amigo de Gilmar desde os tempos do governo FHC, levara-o ao Planalto. Recebido no gabinete presidencial, Gilmar referira-se à bisbilhotagem de seu telefonema com Demóstenes como evidência de que o aparato de segurança do governo fugira ao controle. Caminhava-se, segundo ele, para “um Estado policial”.

Pois bem. O Lula dos dias anteriores à nova reunião intermediada por Jobim recordava: embora Demóstenes e Gilmar tivessem confirmado o conteúdo do diálogo, o áudio do grampo jamais apareceu. Algo que o levou a difundir a suspeita de que a escuta fora parte de uma trama da “turma do Cachoeira”. Inconformava-se com o fato de ter sacrificado Lacerda.

Foi contra esse pano de fundo envenenado que Lula pediu a Jobim que agendasse o encontro do mês passado. Revelado o teor da conversa, Jobim tentou vender a reunião como coisa fortuita. Nessa versão, Lula fora ao escritório para matar as saudades do seu ex-ministro e, por uma dessas coincidências da vida, Gilmar encontrava-se no recinto. Uma lorota que, por falta de nexo, Jobim absteve-se de reiterar.

Em privado, Gilmar revela que manifestou o desejo de avistar-se com Lula. Para quê? Não deixa claro. Informado, Lula achou que o encontro lhe seria útil. Como? Sabe Deus. Ou o diabo. Na noite passada, em conversa com o blog, um amigo petista do ex-soberano classificou a iniciativa como “um erro grosseiro.” Por quê?

“O Lula estava armado contra o Gilmar. A chance de uma conversa como essa acabar bem era zero. Deu no que deu: uma guerra de versões. Gilmar diz que Lula quis adiar o julgamento do mensalão oferecendo em troca proteção na CPI. Jobim desmente, mas não é categórico. O Lula também desmente, mas ninguém acredita.”

De fato, o desmentido de Lula foi recebido como algo incompatível com o tamanho da encrenca. Demorou 48 horas. Veio por meio de nota, não de viva voz. Confirmou o encontro. Chamou de “inverídica” a versão de Veja. Mas não trouxe à luz uma versão substituta capaz de traduzir o alegado “sentimento de indignação.”

Em público, Gilmar deu entrevistas reafirmando, em essência, o que dissera à revista. Longe dos refletores, adicionou detalhes que levam os interlocutores a dar-lhe crédito. Contou, por exemplo, que Lula parecia sob o efeito de remédios. Fraco, tropeçou na saída.

O ministro alega que só veiculou o que se passou entre as quatro paredes do escritório de Jobim porque chegou-lhe aos ouvidos a informação de que Lula continuou a tratá-lo como matéria prima de CPI. Quer dizer: deu de ombros para o pedaço do diálogo em que Gilmar lhe disse que suas relações com Demóstenes não ultrapassaram o rubicão da ética. Abespinhado, o ministro levou os lábios ao trombone.

Gilmar não ficou bem posto no enredo. Às portas do julgamento do mensalão, a reunião com um personagem que chama o escândalo de “farsa” pareceu, no mínimo, inadequada. No máximo, um despautério. Lula saiu do episódio em posição ainda mais constrangedora. Ficou entendido que, para embaralhar o julgamento do Supremo, está disposto até a deslustrar sua biografia.

Nesta segunda (28), o advogado de um dos réus da ação penal que Lula gostaria de postergar disse que o lero-lero radioativo produziu o oposto do pretendido. Acha que o STF ganhou razões adicionais para pisar no acelerador. Pior: a hipótese de condenação foi potencializada.

Nesta terça (29), a CPI do Cachoeira –ou comissão da Vingança— realiza mais uma de suas sessões administrativas. Vão a voto, entre outros requerimentos, os que pedem a convocação dos governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB); do DF, Agnelo Queiroz (PT); e do Rio, Sérgio Cabral (PMDB).

Em reuniões que entraram pela madrugada, o PT articulava com as infantarias aliadas a aprovação do requerimento de Perillo e a rejeição dos de Agnelo e Cabral. São grandes as chances de Lula degustar o infortúnio do governador tucano. Um personagem que, em 2005, ecoou Roberto Jefferson. Numa fase em que Lula dizia ‘eu não sabia’, Perillo foi ao noticiário para informar que sabia, sim. Ele mesmo cuidara de avisar.

Ainda que PT e Cia. arrastem Perillo para o banco da CPI, como parece provável, a felicidade de Lula será fugaz. O depoimento constrangerá o governador e o PSDB, mas não terá o condão de influenciar os julgadores do STF. Ali, tende a prevalecer a verdade dos autos.

O Evangelho de São João ajuda a entender o que se passa com Lula. Diante de Jesus, Pôncio Pilatos indaga: “Tu és o reu dos judeus?” Jesus responde: “Meu reino não é desse mundo…” Pilatos insiste: “Então, tu és rei?” E Jesus: “Tu o dizes: eu sou rei. Por isso nasci e para isso vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Quem é da verdade escuta a minha voz.” Pilatos replica: “Que é a verdade?” (João, 18, 33-38).

Movido a soberba e tratado pela maioria do PT como um cristo da política, Lula esforça-se para reescrever a história do mensalão. Trombeteia que foi obra da quadrilha de Cachoeira o vídeo que expôs o pagamento de propina a um diretor dos Correios, levando Roberto Jefferson a dar com a língua nos dentes.

Com a visão obscurecida pela ira, Lula esquece de considerar que a propina dos Correios existiu, assim como as revelações que se sucederam a ela: a parceria Delúbio Soares-Marcos Valério, as arcas “não contabilizadas” do PT, os empréstimos de fancaria, os saques na boca do caixa e um infindável etcétera.

No instante em que tiverem de responder à pergunta de Pilatos –“Que é a verdade”— os ministros do Supremo, inclusive os indicados pelo pseudomessias, olharão não para a CPI, mas para os dados recolhidos pela Polícia Federal do ex-Lula e reunidos pela Procurador-Geral Antonio Fernando de Souza, nomeado e renomeado pelo mesmo ex-presidente. Ali está a verdade redentora, não no evangelho segundo Lula.

FONTE: BLOG DO JOSIAS

A escolha de Dilma:: Arnaldo Jabor

A presidente está dividida entre Lula e Sarney

É impossível que Dilma não esteja irritada com Lula. Assim que ele melhorou do tratamento, começou a falar e a criar difíceis factoides para ela resolver. Lula talvez esteja zonzo com a doença que tem de enfrentar, traumatizado com o choque de se descobrir "mortal", frágil como todos nós, depois da glória de ter governado sob beijos do povo. Essa doença poderia ter-lhe emprestado uma sobriedade "democrática" maior, mas parece que vivencia a saída do exílio no Sírio Libanês quase como uma ressurreição, querendo se meter em tudo, como se fosse o chefe de um governo paralelo ao de sua "protegida".

Lula nasceu de uma conjunção astral raríssima no ABC e foi muito "moderno" quando surgiu, criando um sensato sindicalismo de resultados, acreditando em pressão e negociação com patrões. É natural que se tenha deslumbrado com as multidões de operários a seus pés nos comícios, mas até hoje se considera "especial", um messias metalúrgico que deve comandar um país "sem rumo". Lula acredita mesmo em seu Ibope.

Depois da fundação do PT, um enxame de "soviéticos" desempregados o transformou em um líder operário a ser "aperfeiçoado" (e controlado) teoricamente para que eles chegassem um dia ao poder, numa estratégia "gramsciana" vulgar. E chegaram em 2002, até o vexame do mensalão que quase queimou o filme de Lula.

E, no entanto, ele devia agradecer ao Roberto Jefferson por tê-lo livrado dos comunas tutelares, pois aí ele pôde encetar sua jornada para as estrelas, sua viagem em direção ao show midiático que encenou nos quatro anos seguintes, pensando apenas em sua imagem, enquanto Dilma trabalhava como uma "boia-fria", varrendo o Planalto e apagando a luz ao fim do expediente. Lula nos deixou de herança a maldição de um PAC eleitoreiro que só realizou 17% das metas, criando a ideologia do "tudo pode desde que seja bom para eu governar", abrindo a porta para as alianças sujas que criaram a cachoeira de corrupção que jorra sobre nós. Os comentaristas ficam desorientados diante do nada que os petistas criaram com o apoio do povo analfabeto. Os conceitos críticos como "razão, democracia, respeito à lei, ética" ficaram ridículos, insuficientes raciocínios diante do cinismo impune e da paralisia política.

Agora, Lula só faz jogar batatas quentes no colo de Dilma, que tem de se virar ("Afinal, ela não é uma "bichinha" tinhosa?", como ele disse na campanha?). Assim, ele deu força à CPI oportunista para se vingar do PSDB, dos jornais e revistas, do Procurador Gurgel, para melar o julgamento do mensalão, arrasar o Serra em São Paulo, com o Haddad do Enem.

"Dane-se..." - ele deve ter pensado - "se for um tiro no pé, será no pé da Dilma! Azar dela; importante é eu recuperar meu poder, deixar a barba crescer e voltar em 2014..."

Dilma deve estar fula com o dilema que Lula lhe deixou - governar o país entre o PT e o Sarney. E isso justamente agora, quando o perigo econômico se agrava, com a produção industrial caindo a níveis de 20 anos atrás e o país dependente da exportação de matéria-prima, à beira de uma explosão da "bolha", como alertam economistas daqui e de fora em publicações como o "Foreign Affairs" e a revista "The Economist".

Lula nos legou uma presidente dividida entre o liberalismo e o Estado-pai, tendo de dar uma no cravo outra na ferradura. E, além disso, ficou irritado, porque sua afilhada tem vida própria, muito mais coragem que ele e reconhece a importância de fatos como o Plano Real que ele surripiou para si; ela sabe da infernal "faxina" que tem de fazer, para limpar os detritos que ele deixou.

Dilma tenta resolver esse impasse entre a modernização e o atraso, como foi no veto que fez ao Código Florestal, mesmo desagradando a aliados ruralistas. Dilma é obrigada a governar nas brechas do possível, como foi no caso dos juros dos bancos, pois não consegue fazer reformas mais abrangentes e isso faz aparecer seu lado autoritário, impaciente, impondo obrigações, aos capitalistas "canalhas". Mas ela sabe também que capitalismo é um modo de produção e não regime político das "elite"; ela sabe que, no caso brasileiro, é a única coisa que pode arrebentar o "bunker" patrimonialista secular. Assim dividido, o governo atual se contenta com o autoengano, com a ilusão de que o Brasil está pronto para "resistir" a uma crise mundial. Mantega diz que somos fortes, e Dilma nos garante que estamos preparados em cem ou 200%. Mas, só resistir? E os planos de reformas que não conseguem passar na estreita porta entre o PT e o PMDB?

Agora, Lula acaba de criar uma nova crise para Dilma. Vendo que o plano da CPI não rolou como ele queria e que até pode aporrinhar o Governo Central com respingos da Delta, Lula tentou mudar a opinião dos ministros do Supremo Tribunal Federal, como noticiou a última revista "Veja", em uma entrevista com o ministro Gilmar Mendes, que afirma que Lula cobrou dele e de outros ministros o adiamento do início do julgamento do mensalão, o que significaria a prescrição de muitos dos crimes. É um fato gravíssimo que vai dar pano para mangas. Será que, inconscientemente, ("não, não é possível!" - penso eu) Lula não é levado a prejudicar o governo de sua afilhada, que hesita, dividida entre fazer o que acha e desagradar o criador?

Dilma me parece ter uma escolha partida: de um lado ainda aflora uma desconfiança com a sociedade e um desejo de impor obrigações do "alto" e, de outro, tem consciência de que não é "reacionário" privatizar estradas podres e antros de corrupção em estatais inúteis. Mas, em seu palácio paralelo, no Planalto alternativo em que se encastela, Lula trabalha contra tudo que possa ser uma modernidade ágil, impessoal, mais anglo-saxônica, digamos. Isso é insuportável para populistas como ele, que só conseguem operar no velho sistema de um velho Brasil.

É por isso que o país está em suspense, sem nitidez ideológica ou programática, confiando na grana futura do pré-sal ou da vinda de capitais para engordar nossa "bolha". Falo isso, mas acho que a presidente tem um claro desejo de melhorar seu país, pelo qual ela lutou até na guerrilha e tortura.

FONTE: O GLOBO