quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Opinião do dia = Luiz Carlos Mendonça de Barros: Delfim, o poderoso

"[...] a medida do aumento diferenciado do IPI (sobre a importação de automóveis) mostra que o governo resolveu agir de acordo com suas convicções e caminhar firme na direção da restrição direta às importações. E elas se aproximam muito da política do regime militar, quando Delfim Netto era ministro todo poderoso do governo. Aliás, fala-se muito hoje de sua volta ao centro das decisões econômicas no governo Dilma."

Luiz Carlos Mendonça de Barros, economista. “A desindustrialização no Brasil” Valor Econômico, 19 de setembro de 2011.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Inflação dobra, dólar sobe mais e país crescerá menos
Dilma: mídia atua contra corrupção
Médicos de planos fazem greve hoje
Genro de ministro pede para sair

FOLHA DE S. PAULO
FMI reduz previsão de crescimento mundial
Com Obama, Dilma defende coordenação contra a crise
PF investiga envolvimento da Vale com grileiro em MG
Governo cede mais, mas acordo de royalty não sai
Prévia de setembro revela inflação acima do esperado

O ESTADO DE S. PAULO
Provas da PF contra Sarney foram anuladas em tempo recorde
Procuradora diz que assinaturas do PSD não são suficientes
Ato anticorrupção no Rio de Janeiro pede ‘mais faxina’ na política
Dilma diz que emergentes não podem ficar passivos na crise
Com dólar em alta, meta de inflação fica mais difícil em 2011
Médicos de 24 Estados suspendem hoje atendimento a planos de saúde

VALOR ECONÔMICO
PPA prevê novos grandes projetos de infraestrutura
Ásia reluta em pagar por algodão
Bancos estão preparados para crise
Comissão da Verdade nasce enfraquecida

CORREIO BRAZILIENSE
Voos, roupas, motel. Está tudo mais caro
O dia em que Dilma, dos EUA, atropelou Lula na Bahia
Ameaças de morte e estupradores identificados

ESTADO DE MINAS
Terra roubada
Com Obama, Dilma defende imprensa livre
Casos de coqueluche no país crescem 38% este ano

ZERO HORA (RS)
STF julga recálculo para aposentados que trabalham
Promessa de transparência

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Copa deixa Dilma e Fifa em lados opostos
Antigo Cefet desiste do Enem e terá vestibular
Caso de febre aftosa no Paraguai deixa produtores em alerta

Protesto pede que corrupção vire crime hediondo

Artistas, bombeiros e alguns políticos se juntaram à manifestação na Cinelândia, convocada pelas redes sociais

Cássio Bruno e Juliana Castro

Com palavras de ordem como "não basta demissão, tem que ter prisão" - numa referência às recentes demissões no governo Dilma Rousseff -, pelo menos 2,5 mil pessoas participaram ontem, segundo a Polícia Militar, do ato "Todos Juntos Contra a Corrupção", na Cinelãndia, no Rio. Os organizadores, no entanto, contabilizaram cerca de cinco mil manifestantes, embora a expectativa fossede que 30 mil comparecessem ao evento, divulgado nas redes sociais na internet. No feriado de Sete de Setembro, a marcha levou 25 mil às ruas de Brasília.

O ato começou por volta das 18h, em frente à Câmara dos Vereadores. Havia faixas pedindo o fim da corrupção e do nepotismo. Muitas pessoas que saíam do trabalho no Centro pararam para apoiar a causa. Os discursos ocorreram em cima de um carro de som, onde foi lido um manifesto. Entre as reinvidicações, estavam o fim do voto secreto no Congresso e do foro privilegiado para parlamentares. Artistas como Roberto Frejat, Fernanda Abreu e Tico Santa Cruz deram depoimentos indignados pedindo o fim da impunidade e foram aplaudidos.

- Não vim aqui para fazer discurso. Quero mostrar apenas a minha indgnação. Todo dia eu abro o jornal e leio essa sujeira toda. Não vamos engolir isso. Não podemos ser inertes - afirmou Frejat.

Luiz Carlos Lima, do Movimento 31 de Julho, cobrou maior participação dos jovens em atos como o de ontem. A União Nacional dos Estudantes (UNE) não apoiou oficialmente a manifestação.

- Garotada, cadê vocês? Vocês são a maior riqueza deste país. É preciso ter orgulho de ser jovem e não cruzar os braços - cobrou Lima.

Durante o protesto, foram recolhidas assinaturas para que o PL 204/11, em tramitação, seja votado com urgência pelo Congresso. O projeto de lei torna a corrupção crime hediondo.

- Acho fundamental essa manifestação convocada nas redes sociais. Os políticos ficam em Brasília naquele clima corporativista e vão ver que existe uma mobilização. O país vem crescendo, e o que se vê é o dinheiro do povo indo por água abaixo -- disse Fernanda Abreu.

Um dos manifestantes era André Luiz dos Santos, de 50 anos. De braços abertos diante de uma cruz posicionada bem em frente à Câmara, André veio de Monte Nova, em Minas Gerais, especialmente para protestar. Em 2010, ele fez uma greve de fome por três dias no Supremo Tribunal Federal por conta da aprovação da Lei da Ficha Limpa.

- Onde está a união do povo brasileiro? Basta de corrupção - disse o manifestante.

Sob alegação de que estavam no ato como cidadãos, políticos como o deputado Marcelo Freixo (PSOL), pré-candidato à Prefeitura do Rio nas eleições de 2012, e o ex-deputado federal Fernando Gabeira (PV), ficaram no meio do público. Aliado do deputado federal e ex-governador Anthony Garotinho (PR), o candidato derrotado ao governo do Rio em 2010, Fernando Peregrino, também compareceu à manifestação.

Embora o ato contra a corrupção fosse apartidário, partidos políticos, entre eles o PSTU e o PSOL, além de sindicatos, aproveitaram a ocasição para distribuir folhetos institucionais. Os bombeiros do Rio se juntaram ao protesto e criticaram o governador Sérgio Cabral (PMDB). Segundo a PM, o policiamento foi reforçado com o Batalhão de Choque, mas não houve registro de confusão no local.

A manifestação foi encerrada às 19h50m ao som do Hino Nacional. A próxima está marcado para 12 de outubro, em Copacabana, no mesmo dia em que serão realizadas marchas contra corrupção em Brasília e São Paulo.

- Foi perfeito, uma receptividade linda. Tudo feito na paz. Valeu o alerta contra esses políticos corruptos - disse Cristine Maza, uma das organizadoras do evento no Facebook.

FONTE: O GLOBO

Lula: ministros devem ter 'casco duro' para resistir às denúncias de corrupção

Para o ex-presidente, político não pode "tremer" e tem que enfrentar a briga

Biaggio Talento*

SALVADOR. "Casco duro". Esse é o atributo que os ministros da presidente Dilma Rousseff devem ter para resistir às denúncias de corrupção e não caírem tão rapidamente, aconselhou ontem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após receber em Salvador o título de doutor honoris causa da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

- O político tem que ter casco duro. Porque, se cada político tremer a cada vez que alguém disser uma coisa errada dele, ele não enfrentar a briga para provar que está certo, e as pessoas vão saindo mesmo.

Lula citou casos que levaram à queda de ministros, desde o início do atual governo:

- Pelo que vi pela imprensa, o ministro Alfredo (Nascimento, dos Transportes) não foi a presidenta Dilma que tirou. Mandou ele investigar. O ministro (Nelson) Jobim não saiu por corrupção, saiu por conta de (outro) problema. O ministro da Agricultura (Wagner Rossi), a presidenta Dilma defendeu ele publicamente e ele depois renunciou. O ministro do Turismo teve um problema quando era deputado - disse Lula, sem citar o ex-chefe da Casa Civil Antonio Palocci, que caiu após a divulgação de seu crescimento patrimonial.

Lula compara corrupção a uma doença ruim

Para Lula, Dilma tem agido corretamente no campo ético. Segundo o ex-presidente, "ninguém pense que ficará impune se fizer alguma coisa errada: se ela souber, eu conheço, ela vai passar a vassoura". Ele disse que não "se assusta" com as denúncias de corrupção:

- A direita no Brasil, quando não tem o que fazer, a corrupção é o único tema dela, foi assim no tempo de Juscelino (Kubitschek), quando a UDN cresceu por conta disso. De repente, você vê o PFL falando de honestidade. Aí, a gente não sabe se é piada. De qualquer forma Deus deu boca para todo mundo falar, e cada um fala o que quer.

Lula comparou a corrupção a uma "doença ruim" ou a um problema mecânico:

-- Fazer um check-up (médico) é que nem mandar carro para a concessionária: "ah, tem um barulhinho no escapamento". Quando vem, é a lista de problemas... No meu governo, dobramos o número de policiais federais, o investimento na inteligência e aumentamos o salário da Polícia Federal. Reforçamos a Controladoria (Geral da União) e, ao investigar os municípios, nos sorteios feitos na Caixa Econômica, nunca teve destaque na imprensa. Na medida que você começa a investigar e que não se empurra mais nada para baixo do tapete, a corrupção aparece.

Um grupo de alunos invadiu o auditório da reitoria, onde ele discursava, pedindo mais verbas. Houve gritaria e empurra-empurra. Muitos pediram autógrafos a Lula.

* da Agência A Tarde

FONTE: O GLOBO

De novo, as vozes::Fernando Gabeira

Alguma coisa começou no 7 de Setembro. E a manifestação na Cinelândia, com cerca de 3 mil pessoas, é a primeiro fruto do movimento que iniciado na data nacional.

Cheguei cedo para ver a multidão se formando e percorri a Cinelândia para constatar algumas coisas novas para mim. A ideia de que era um movimento com predominância de jovens foi um pouco abalada pois havia um equilibrio maior, com muita gente idosa participando.

A outra hipótese era de que o movimento, convocado pela internet, seria de uma classe média mais alta. Também havia equilibrio, entre diferentes camadas.

A suposição de que se trata de manifestação de direita desaba na leitura de alguns cartazes, protestando contra a privatização.

Havia um cartaz pedindo a pena de morte para os corruptos. Na verdade, esta é também uma característica das manifestações espontâneas. Cada um leva seu slogan.

Não era uma manifestação típica dos setores da classe média, tal como as que vi desde os anos 80. Parecia mais com o princípio do movimento pelas diretas. Pelo menos, essa também é a impressão de alguns que participaram do movimento pelas eleições diretas para Presidente.

Uma diferença: no palanque nenhum político. Havia as palavras de ordem clássicas, contra a corrupção, o nepotismo e o voto secreto. Mas os oradores se sucediam indignados e o ponto de convergência era afirmar que o dinheiro da corrupção vem do esforço de todos e que o Brasil não pertence a uma casta, como certos os politicos acreditam.

Em alguns dos oradores, havia uma rejeição pelos politicos de um modo geral, não só dos corruptos. Os bons, diziam, não estão resistindo como deveriam.

As vassouras verdes, semelhantes às 584, fincadas na praia de Copacabana, apareceram entre algumas pessoas fantasiadas. Um grupo da velha guarda usava uma camisa amarela com uma inscrição: tenho vergonha das autoridades constituidas do nosso país.

Escrevo algumas horas depois. A suposição mais forte para mim é de que, como em outros lugares do mundo, caso seja mantido um dia e um lugar de protesto, a tendência é de crescimento.

Nem todos os dias serão idênticos. Não é necessário fazer previsões númericas. Basta insistir, pois os manifestantes, embora espontâneos e apartidários, sabiam claramente o que querem.

Mantida a chama, ela pode ser uma novidade importante no ano eleitoral. Não necessariamente competindo ou apoiando candidatos. Mas aproveitando o momento para que a resistência ganhe volume e impulsione uma necessária reforma política

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Dilma: mídia atua contra corrupção

Em encontro na ONU sobre transparência governamental, organizado pelo presidente dos EUA, Barack Obama, a presidente Dilma Rousseff disse que a atuação livre e vigilante da imprensa no Brasil é um instrumento no combate à corrupção, ressaltando também os esforços da Procuradoria Geral da República e da Controladoria Geral da União. Dilma não citou recentes casos de irregularidades, que derrubaram quatro de seus ministros, mas reafirmou não compactuar com "erros e malfeitos". A defesa da liberdade de imprensa vai na contramão do PT, que prega controle da mídia. Ao receber homenagem na Bahia, o ex-presidente Lula afirmou que os políticos devem ter "casco duro" para resistir às denúncias de corrupção. Hoje, a presidente Dilma discursa na abertura da Assembleia Geral da ONU

Vigilância contra a corrupção

Na ONU, Dilma diz que imprensa livre ajuda no combate a malfeitos, mas não cita a faxina

Cristiane Jungblut* e Fernanda Godoy**

Num evento sobre a transparência dos governos, ontem, na ONU, a presidente Dilma Rousseff disse que a atuação da imprensa livre no Brasil, "sem constrangimento governamental", é um dos instrumentos no combate à corrupção. O discurso foi na contramão da postura do PT, que defende a regulação da mídia. Após demitir quatro ministros sob suspeitas de desvios éticos, Dilma não citou a faxina feita em sua equipe, mas afirmou que seu governo age de forma "firme e permanente" contra "erros e malfeitos".

Dilma ressaltou os esforços da Procuradoria Geral da República (PGR) e da Controladoria Geral da União (CGU) para fiscalizar casos de corrupção. Ela não citou as recentes crises que levaram a sucessivas quedas de ministros, mas reafirmou que não está disposta a tolerar mais problemas:

- Temos ainda a atuação autônoma da Procuradoria Geral da República e da inteligência da Polícia Federal. Conta-se também com a posição vigilante da imprensa brasileira, não submetida a qualquer constrangimento governamental. As ações do governo nessa matéria são firmes e permanentes - discursou Dilma no encontro "Parceria para o governo aberto", organizado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. - Fui muito clara desde o discurso de posse, em janeiro, quando afirmei que meu governo não terá compromisso com o erro, o desvio e o malfeito.

Dilma ainda citou a importância da internet na mobilização da sociedade:

- A internet e as redes sociais vêm desempenhando um papel cada vez mais importante para a mobilização cívica na vida política. Vimos o poder dessas ferramentas no despertar democrático dos países do Norte da África e do Oriente Médio sacudidos pela primavera árabe.

Dilma cita Portal da Transparência

Quando ia citar a CGU, Dilma cometeu um ato falho e falou Ministério Público. Também garantiu que o Portal da Transparência, da CGU, oferece todos os dados sobre gastos:

- O nosso Portal da Transparência é hoje o símbolo dos avanços brasileiros na relação do governo com a cidadania. Por seu intermédio, divulgamos na internet, diariamente, todos os gastos do governo. O próximo passo será disponibilizar essas informações como dados abertos, permitindo seu livre uso em diferentes análises e cruzamentos - prometeu Dilma.

Na verdade, os gastos da Presidência da República, por exemplo, são sigilosos. Também há dificuldades para obter as despesas do Itamaraty e das estatais.

Sobre o projeto de Lei de Acesso à Informação, que está parado por resistências do senador Fernando Collor (PR-AL), Dilma o citou como um avanço de seu governo:

- Encontra-se em discussão no Congresso Nacional um projeto de lei destinado a regulamentar o acesso às informações públicas, com regras transparentes e prazos menores para o sigilo de documentos.

Dilma passou pelo incômodo de ver o Brasil excluído da lista dos países que aprovaram leis que garantem aos cidadãos o direito à informação, citada no encontro por Obama. Em seguida, porém, o presidente americano, que chamou Dilma de amiga, disse que Brasil e África do Sul estão colocando mais informações na internet:

- (Estão) Ajudando as pessoas a controlar a maneira como os governantes gastam o dinheiro dos seus impostos - disse Obama.

* Enviada especial
** Correspondente

FONTE: O GLOBO

O dia em que Dilma, dos EUA, atropelou Lula na Bahia

Desconfortável ao ouvir Barack Obama elogiar na ONU o empenho de alguns países pela liberdade de informação e na luta contra a corrupção - sem incluir o Brasil entre eles -, a presidente Dilma não se fez de rogada. Ela deixou claro que não compactua com o malfeito nem com o constrangimento a jornalistas. E destacou o papel da imprensa no combate à corrupção. Um duro recado ao PT, que prega o controle da mídia, e a Lula, que pouco antes em Salvador havia saído em defesa de três ex-ministros, todos demitidos após denúncias de irregularidades.

Recado para o PT

Presidente defende uma imprensa livre, em contraponto ao partido, favorável a mecanismos de controle. Durante encontro com chefes de Estado, Dilma afirma que não aceita o malfeito dos subordinados

Denise Rothenburg

Nova York — A presidente Dilma Rousseff aproveitou sua participação na reunião sobre Parceria para Governos Abertos ontem para, nas entrelinhas, mandar um recado ao seu partido, o PT — que, no início do mês, aprovou um documento em defesa do controle da mídia. Ao citar os mecanismos de combate à corrupção do país, ela elencou a "positivação vigilante da imprensa brasileira não submetida a qualquer constrangimento governamental" como um desses instrumentos. Para os diplomatas brasileiros ficou claro que o governo não vai endossar, pelo menos em princípio, qualquer projeto de controle que venha a ser debatido no Congresso. Ao mesmo tempo em que deixou o PT sem lastro nessa proposta, Dilma passou pelo desconforto de ver o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anfitrião do evento que teve ela como copresidente, citar o México, a Turquia e a Libéria como países que aprovaram recentemente leis de garantia ao direito à informação.

Obama mencionou ainda o Chile, o Quênia e as Filipinas, que criaram mais ferramentas para que a sociedade civil fizesse denúncias de corrupção. Nos dois casos, não estava o Brasil, uma vez que o governo brasileiro não conseguiu levar sua ampla maioria no Congresso a aprovar a Lei de Acesso à Informação antes desse encontro. E, para completar, dos cinco ministros que caíram no governo Dilma, quatro tiveram em suas pegadas algum "malfeito" — expressão que a presidente usa para se referir à corrupção.

Na fala de Obama, a única referência aos avanços do Brasil rumo à transparência foi uma citação de um país que, ao lado da África do Sul, tem colocado mais informações "on-line". Mas ele não deixou de tratar Dilma como alguém que, pela sua liderança, o ajuda nesse esforço de governos abertos.

A presidente, entretanto, não passou recibo. Embora seu semblante não fosse dos mais felizes, ela mencionou a tramitação do projeto de lei de acesso à informação no Congresso, "com regras transparentes e prazos menores para o sigilo de documentos", mas não mencionou qualquer perspectiva de aprovação da proposta. Em entrevistas, Dilma tem dito que é preciso respeitar o tempo de maturação dos projetos no Congresso.

Fiscalização

Dilma definiu que a ideia de governo aberto no Brasil está associada à redemocratização do país, iniciada no fim dos anos 1970. Foi clara ao dizer que "não se trata apenas de permitir o acesso individual à execução do orçamento do Estado e acompanhamento da lisura e da racionalidade de ação dos agentes públicos". E foi enfática: "Trata-se de assegurar a prestação de contas, a fiscalização e a participação dos cidadãos, criando uma relação de mão dupla permanente entre governo e sociedade", comentou. "Governo aberto não é apenas transparência e combate à corrupção. É cidadania, participação popular e melhor prestação de serviços públicos", completou.

Com o ônus de quem já trocou cinco ministros ao longo de oito meses, quatro após denúncias de irregularidades, Dilma lembrou que as ações do governo no combate à corrupção são firmes e permanentes e repetiu a frase da posse: "Fui muito clara desde o discurso de posse, em janeiro, quando afirmei que meu governo não terá compromisso com o erro, o desvio e o malfeito", enfatizou, sem citar especificamente a crise que levou à faxina e à mudança de ministros.

O Grupo Parceria para o Governo Aberto (Open Government Partnership) foi criado no ano passado, por iniciativa do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. O Brasil é um dos fundadores. Hoje, o grupo congrega 40 países envolvidos no esforço de democratizar as instituições e, ao mesmo tempo, ampliar a participação popular. "Há um ano, disse que o fortalecimento do progresso humano envolve economias, sociedades e governos abertos. Hoje é o dia de responder o que fizemos", disse Obama, ao abrir o seu discurso. A próxima reunião dos ministros desse grupo será no Brasil, em março de 2012. A esperança do governo brasileiro é a de que, até lá, o país possa ter a lei de acesso à informação como uma realidade e não apenas um projeto que tramita no Congresso.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Inflação dobra, dólar sobe mais e país crescerá menos

A inflação não dá trégua. O custo de vida dos brasileiros medido pelo IPCA-15, que é uma espécie de prévia da taxa oficial, praticamente dobrou em setembro, passando de 0,27% para 0,53%. A maior pressão veio de alimentos, bebidas e passagens aéreas. Em 12 meses, o acumulado do Índice está em 7,33%, o maior em seis anos. Segundo economistas, a alta do dólar ontem, a moeda subiu 0,50%, fechando a R$ 1,789 - também deverá ter impacto nos preços, ajudando a por mais lenha na inflação. Apenas em setembro, o dólar acumula alta de 12,03%. Ontem, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu a previsão do crescimento do Brasil de 4,1% para 3,8% este ano. A expansão deve ser a segunda pior da América do Sul, atrás apenas da Venezuela (2,8%)

Inflação nas alturas

IPCA-15, prévia do índice oficial, dobra em setembro, e passagem aérea sobe 23,4%

Fabiana Ribeiro e Henrique Gomes Batista

A prévia da inflação oficial indica que a pressão sobre os preços segue forte. Pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15), o custo de vida dos brasileiros voltou a acelerar em setembro, com a taxa subindo para 0,53% - praticamente o dobro do que se viu em agosto (0,27%). Foi a maior expansão para esse mês desde 2003, o que, segundo analistas, levanta mais dúvidas sobre a decisão de o Banco Central reduzir os juros básicos, a Taxa Selic, de 12,5% para 12% ao ano. Para especialistas, o cenário para a inflação pode piorar ainda mais caso o dólar - que vinha em baixa e ajudando a conter os preços - continue a se valorizar. Por isso algumas revisões das projeções de inflação começam a surgir, depois da divulgação da taxa de setembro, que veio acima das expectativas. Apenas em setembro, o dólar acumula alta de 12,03%, tendo ontem chegado a ser vendido acima de R$1,80 pela manhã. No ano, a inflação está em 5,04% e, em 12 meses, subiu a 7,33%, a maior desde junho de 2005 quando o indicador ficou em 7,72%. Além dos alimentos, a alta de 23,4% nas passagens aéreas puxou o IPCA. Sozinha, esta subida respondeu por 17% da taxa de 0,53%.

A inflação alta, contudo, não mudou as previsões dos analistas em relação aos juros: o BC deve, para eles, manter o ritmo de reduções e, portanto, o mercado espera dois cortes de 0,50 ponto percentual na Selic.

- O presidente (do BC, Alexandre) Tombini foi categórico ao dizer que o BC agora olha inflação e crescimento. Assim, teremos inflação um pouco mais alta e um crescimento que não vai cair tanto - disse o professor da PUC Luiz Roberto Cunha, avaliando a decisão do BC de cortar a Selic como "arriscada e arrojada".

Comida ficou 0,72% mais cara

A alimentação ainda é o grande vilão da inflação - o que também provoca críticas ao BC, já que o cenário de commodities em queda com a crise internacional, trazendo preços menores aos brasileiros, ainda não se confirmou. Segundo o IBGE, os alimentos ficaram 0,72% mais caros em setembro, subindo mais do que em agosto (0,21%). Os brasileiros pagaram mais por açúcar cristal (4,72%) e refinado (4,59%), leite (2,64%), frango (2,51%), carnes (1,79%) e arroz (1,74%), levando o grupo a registrar alta de 4,29% neste ano. Entretanto, foi a inflação das passagens aéreas que, individualmente, exerceu a maior pressão na alta do IPCA-15. A subida de 23,4% veio depois de uma queda nos preços de 5,91% em agosto.

- Com o aumento de custo das empresas do setor aéreo e com a forte demanda, companhias precisaram reajustar os preços. Em algum momento, isso ia acontecer. Mas é um reajuste pontual - disse Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, acrescentando que, a despeito da inflação elevada, o BC deve continuar a cortar a Selic. - O resultado do IPCA-15 deve ter surpreendido o BC. Porém, deve continuar a baixar os juros da economia, até para poder atender a pressões do governo.

O dólar dará mais fôlego à inflação, calcula Velho. Para ele, se a taxa média do câmbio ficar em R$1,70 num período de seis a dez meses, o impacto na inflação de 2012 pode ser de 0,15 ponto percentual. Se a taxa ficar em R$1,75, o impacto pode ser de 0,28 ponto percentual. Ou seja, só com a alta do dólar, a inflação já subiria 0,28% no ano.

- O câmbio influencia bastante os preços no Brasil, como o dos alimentos. Até os serviços sentem os efeitos das oscilações da moeda americana, como serviços médicos, de dentista e estéticos - disse Velho, acrescentando que a inflação dos serviços, em 12 meses, está em 8,90%. - Os aumentos nos preços de serviços e combustível vieram acima do esperado. Além disso, ainda tem o impacto do IPI no carro novo.

Na avaliação de Luis Otavio de Souza, economista-chefe do ABC Brasil, a taxa anualizada (considerando que o número de setembro se repetirá nos meses seguintes) dos serviços é de 5,7%, o que poderia suscitar a ideia de que poderia haver uma inversão na trajetória desses preços para níveis mais baixos. Contudo, com os reajustes salariais de várias categorias importantes este mês e com o aumento do salário mínimo em 2012, os preços podem voltar a subir mais.

Cunha, da PUC-Rio, diz que o IPCA-15 veio um pouco acima das estimativas do mercado - que previa 0,50% - mas lembrou que os alimentos vieram menores que o esperado. Segundo ele, as surpresas foram vestuário e passagens aéreas. Houve outros pontos de pressão no índice, como os combustíveis. A alta do etanol passou de 1,54% para 1,95%, enquanto a gasolina variou 0,65% em setembro.

- Foi um resultado inesperado, mas isso é a maldição dos índices, sempre vai ter um chuchu para atrapalhar - disse, referindo-se aos frequentes "pontos fora da curva" que elevam os preços.

Ele acredita que a inflação continuará pressionada e que o câmbio, com dólar em elevação, será mais uma pressão sobre os preços.

Meta em 2011 cada vez mais distante

A inflação se traduz numa conta mais alta no supermercado, comenta o eletromecânico Floriano da Silva. Há alguns meses, seu custo com alimentos era de R$600; agora, está perto de R$900. Ficaram mais caros leite, carne, frango e feijão.

- Faço substituições ali, outra aqui, para não ter de cortar no supermercado. Reduzo as idas a restaurantes, churrascarias e pizzarias, mas não mudo as marcas de preferência.

O professor Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios, disse que, com o resultado, é praticamente impossível que a inflação do ano fique dentro do teto da meta (IPCA de 6,50% em 2011), mesmo levando em conta que o acumulado em 12 meses tende a cair até o fim deste ano, com a substituição de índices muito elevados dos últimos meses de 2010 por valores menores este ano. Para a economista-chefe do BNY Mellon ARX, Solange Srour, a curto prazo a subida do dólar leva as pessoas a acreditarem em mais inflação.

- O BC aposta que uma desaceleração global vai puxar as cotações de commodities para baixo, reduzindo a inflação. Mas se as commodities não caírem tanto e o câmbio continuar em alta, o efeito pode ser o oposto.

Colaboraram Daniel Haidar e Vinicius Neder

FONTE: O GLOBO

FMI reduz previsão de crescimento mundial

O FMI reduziu a projeção de crescimento global para este ano e para o próximo e alertou que a crise da dívida europeia e a apatia econômica dos EUA ameaçam a estabilidade mundial. Para o órgão, a economia crescerá 4% em 2011 e 2012. As previsões anteriores eram de 4,3% e 4,5%. Nos países desenvolvidos, o crescimento mal chegará a 2%; nos emergentes, a 6%

FMI diminui projeções de crescimento

Fundo reduz suas expectativas em relação à economia global para 2011 e 2012; Brasil deve crescer 3,8% neste ano

Economia global deve crescer 4% neste ano e no próximo; é menos do que os 4,3% previstos inicialmente para 2011

WASHINGTON - O Fundo Monetário Internacional reduziu sua projeção de crescimento da economia global neste ano e no próximo, alertou que persistem vulnerabilidades "anormais" e apontou a crise da dívida europeia e a apatia econômica dos EUA como ameaças à estabilidade.

A economia global deve crescer 4% por dois anos, abaixo dos 4,3% e 4,5% inicialmente previstos, afirma o fundo em seu Panorama da Economia Mundial, que foi lançado ontem.

É menos do que os 5,1% de avanço de 2010.

E o crescimento continua desigual: os países desenvolvidos devem avançar 1,6% neste ano e 1,9% em 2012.

Já o avanço dos emergentes e países em desenvolvimento deve ficar em 6,4% e 6,1%.

Mesmo nessa segunda categoria, o crescimento não será homogêneo. Enquanto a China deve avançar 9,5%, o Brasil deve crescer 3,8%.

"A volatilidade financeira aumentou drasticamente com as preocupações ante os desdobramentos na zona do euro e a força da atividade econômica global, sobretudo nos EUA" , alerta o relatório do FMI.

"A indecisão política exacerbou as incertezas, aumentando a pressão sobre as finanças que, por sua vez, atingiu a economia real."

Embora o Fundo não veja uma recessão no horizonte ainda, cresceu o risco de estagnação ou de um avanço insuficiente para sanar os atuais problemas, como o desemprego nos países ricos.

A revisão da projeção de crescimento para os EUA foi a mais drástica entre os países estudados: um ponto percentual neste ano e 0,9 no próximo.

AJUSTES

E se a violenta volatilidade vista recentemente no mercado financeiro americano persistir, diz o relatório, a chance de os EUA recaírem na recessão pode aumentar para até 38%, de acordo com um modelo econométrico baseado no preço das ações.
O FMI ressalva, porém, que o modelo não pode ser levado em conta isoladamente, e sim somado a fatores econômicos e políticos.

Ao mesmo tempo que elogiou as políticas de ajuste fiscal recentemente adotadas nos EUA e na Europa, o Fundo alertou para os impactos negativos no curto prazo -especialmente com o fim da política de estímulos fiscais.

O consumo nas economias desenvolvidas, diz, deve ratear, sobretudo devido a um índice de desemprego alto persistente e salários que devem continuar baixos.

Já na ponta dos países emergentes, o risco de um superaquecimento persiste, com uma enxurrada de dólares vinda de ricos em crise.

O Fundo recomendou, porém, que políticas monetárias para evitar esse superaquecimento (como a redução de juros no Brasil) sejam adotadas com parcimônia.

"Algumas economias emergentes tinham claramente que evitar o risco de superaquecimento", disse o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard.

"Mas, olhando para frente, pode ser que a convergência econômica global seja muito pior, e eles devem estar prontos para mudar de regime rapidamente."

América Latina

Brasil: economia cresce 3,8%

Washington — O Brasil terá em 2011 a segunda menor taxa de crescimento da América Latina, de acordo com previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI). A instituição reduziu de 4,1% para 3,8% a expectativa de expansão para o Produto Interno Bruto (PIB) do país, que ficará à frente somente da Venezuela, onde a evolução será de apenas 2,8%.

A apesar de mostrar desempenho melhor do que os Estados Unidos e a Europa, que enfrentam forte desaquecimento e ameaça de recessão, a economia brasileira terá comportamento inferior à média do crescimento mundial, estimada em 4%. A situação do Brasil ainda deve se enfraquecer ligeiramente em 2012, quando a taxa de elevação do PIB cairá para 3,6%, segundo o World Economic Outlook (Perspectivas da Economia Mundial), divulgado ontem pelo FMI.

A performance do Brasil destoa, para pior, do conjunto da América Latina e do Caribe, que crescerá 4,5% em 2011 e 4% em 2012, com boa parte dos países mostrando resistência à turbulência global. Para o economista-chefe do Banco Mundial para a região, Augusto de la Torre, a América Latina "não pode controlar o que acontece no mundo, mas tem aprendido a se descolar do risco das economias mundiais". Segundo ele, "os mais preparados são os países que possuem metas de inflação, como o Brasil e o México".

De acordo com o estudo, boa parte do fôlego das economias do continente se deve às cotações ainda elevadas das commodities, tanto que os países exportadores de matérias-primas do Cone Sul têm as melhores previsões de crescimento para este ano: Argentina (8%), Chile (6,5%), Paraguai (6,4%), Peru (6,2%) e Uruguai (6%).
"Em outras regiões, incluindo a América Central e o Caribe, a atividade econômica ainda é tênue por causa dos vínculos mais estreitos com os Estados Unidos e outras economias avançadas e, em alguns casos, pelos altos níveis da dívida pública", adverte o documento do FMI.

Depois de amargar dois anos de contração, a Venezuela registrará uma cifra positiva, de 2,8% em 2011. A Colômbia crescerá 4,9%, o Equador 5,8% e a América Central, em seu conjunto, 3,9%. O México, segunda mais importante economia da região, vem se enfraquecendo por causa da dependência do mercado norte-americano e terá alta de 3,8%, a mesma taxa do Brasil.

Pé no freio (Em %)

Com exceção da Venezuela, países da América Latina crescerão menos que o previsto inicialmente

Países - 2011 - 2012
Brasil - 3,8 - 3,6
México - 3,8 - 3,6
Argentina - 8,0 - 4,6
Colômbia - 4,9 - 4,5
Venezuela - 2,8 - 3,6
Peru - 6,2 - 5,6
Chile - 6,5 - 4,7
Equador - 5,8 - 3,8
Uruguai - 6,0 - 4,2
Bolívia - 5,0 - 4,5
Paraguai - 6,4 - 5,0

Fonte: FMI

FOLHA DE S. PAULO E CORREIO BRAZILIENSE

Médicos de planos fazem greve hoje

Os médicos que atendem planos de saúde vão suspender hoje, por 24 horas, atendimento aos usuários de 23 operadoras. O objetivo é forçar o aumento do valor pago pela consulta. Os Correios continuam em greve, pelo 6º dia

Médicos suspendem atendimento a usuários de planos de saúde hoje

Profissionais querem reajustar consultas. No Rio, movimento atinge todas as operadoras

Geralda Doca e Wagner Gomes

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Os médicos que atendem pelos planos de saúde vão suspender hoje, por 24 horas, o atendimento aos usuários de 23 operadoras. O principal objetivo da categoria é forçar as empresas a reajustarem o preço por consultas e procedimentos (cirurgias). Segundo estimativa do movimento, cerca de 20 milhões de um total de 46 milhões credenciados poderão ficar sem atendimento em todo o país. No Rio, os médicos vão fazer hoje, às 11h, uma manifestação em frente à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), na Glória. Os médicos reclamam que, nos últimos 12 anos, a inflação acumulada atingiu 120%. Nesse período, os planos foram reajustados em 150%, segundo a categoria, e os honorários médicos, em 50%.

Os serviços de urgência e emergência serão realizados normalmente. A paralisação vai ocorrer em quase todos os estados (com exceção de Amazonas, Rio Grande do Norte e Roraima). Em nove deles, incluindo o Rio, o movimento atinge todas as operadoras. No restante, serão alguns planos selecionados pela categoria.

- Há duas semanas estamos pedindo aos pacientes que agendem consultas e cirurgias para outro dia. Não queremos prejudicar a população, mas a situação dos médicos está muito difícil - disse Márcia Araujo, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio.

Segundo o coordenador da Comissão Nacional de Saúde Suplementar (Comsu), Aloisio Tibiriçá, a categoria decidiu suspender as atividades porque o resultado das negociações entre a categoria e as operadoras, iniciadas em 7 de abril, foi insuficiente. Eles querem que o preço médio da consulta suba dos atuais R$40 para R$60, no mínimo. Defendem também reajustes nos valores das cirurgias.

Comissão pede mediação do Ministério da Saúde

Além disso, querem fazer valer norma da ANS que determina a assinatura de contratos entre as operadoras e seus prestadores, com duração do serviço e critério de reajuste. O comando do movimento tem uma audiência com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, hoje, para entregar suas reivindicações e queixas.

- Queremos que o Ministério da Saúde entre como mediador na situação porque a ANS não cumpre seu papel - disse Tibiriçá, acrescentando que novas paralisações não estão descartadas caso não haja avanço nas negociações.

A ANS informou, em nota, que considera legítimo o movimento dos médicos por melhor remuneração, mas ressaltou que as operadoras de planos de saúde têm que garantir o atendimento do que foi contratado pelos beneficiários, sem taxas adicionais.

A Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), que representa os 15 maiores grupos de empresas de saúde privada do país, disse, em nota, que, conforme acordo com a categoria, vai definir um novo parâmetro para o trabalho dos médicos, com base na complexidade dos procedimentos.

FONTE: O GLOBO

O caminho do PSDB:: Merval Pereira

O PSDB precisa revalorizar sua trajetória, fixar seus valores diante da sociedade e apresentar propostas que abram espaço para esta mobilidade social que está sendo registrada nos últimos anos, que o eleitorado já identifica com as primeiras iniciativas do partido, com o Plano Real.

Essa é a conclusão principal de uma pesquisa que o cientista social Antonio Lavareda apresentou ontem aos senadores do partido em Brasília para basear uma reorganização partidária.

Há um longo caminho a percorrer, mas alguns sinais positivos estão à frente. Embora venha em segundo lugar, na frente do PMDB, na preferência do eleitor, tem uma distância muito grande do PT, que é o preferido.

A corrupção chegou mais perto do PT, mas a percepção do eleitor é que ambos os partidos estão ligados a problemas de corrupção.

Embora a igualdade de posições possa indicar que a questão moral fica neutralizada como arma política, uma visão otimista, do ponto de vista eleitoral, seria a de que o PT perdeu a fama de ser um partido puro e está fragilizado nessa área.

O aparelhamento político da máquina como gerador da incompetência da gestão pública está ficando claro para o eleitor, enquanto o diferencial favorável aos tucanos seria a qualificação dos seus quadros e as gestões estaduais.
Em relação à presidente Dilma, metade dos entrevistados acha que ela realmente está querendo fazer uma grande limpeza, mas outra metade desconfia que ela seja seletiva nessa limpeza, por interesse partidário.

Houve resgate parcial da imagem de Fernando Henrique, e o PSDB tem possibilidade de resgatar seu passado, mas perdeu bandeiras históricas para o PT.

Até a Lei de Responsabilidade Fiscal: há quem pense que foi feita pelo PT, que na verdade votou contra ela.

A memória do Plano Real voltou fortemente na opinião pública devido ao aniversário de sua implementação e também às homenagens prestadas pelos 80 anos do ex-presidente FH.

A associação do partido com o processo que pôs fim à inflação, estabilizou a economia e preparou o país para o crescimento é muito clara.

Um ponto importante do levantamento, ressalta Lavareda, é a coincidência da percepção do PSDB como oposição com o que a maioria do povo considera sobre como deve agir um partido de oposição: oposição moderada, criticando o que está errado e colaborando com o que acha certo.

Essa posição moderada, fiscalizadora, sem radicalismos está bem sintonizada com a expectativa da opinião pública.

O PSDB está, porém, muito aquém do PT nas atividades da internet, longe das novas redes sociais. A grande largada do resgate do legado do partido será um seminário no Rio em outubro, organizado pelo instituto coordenado pelo ex-senador Tasso Jereissatti.

Na avaliação do senador Aécio Neves, a agenda que está em curso no Brasil é a proposta do PSDB de 20 anos atrás, que começa com a estabilidade econômica, passa pela modernização da economia e pelos programas sociais, e vem sendo conduzida pelo atual governo com avanços em algumas áreas, como a distribuição de renda, e retrocessos em outras, como a questão ética na política e a não formalização das grandes reformas estruturais que são necessárias para que o país realmente se desenvolva.

Nesse seminário, além do resgate do legado para mostrar que, se o Brasil hoje vai bem, é porque "tivemos a ousadia de fazer o que fizemos", Aécio diz que vão focar para o futuro basicamente na educação básica e na saúde.

Antonio Lavareda fez uma "auditoria de marketing" para o PSDB que não é apenas uma pesquisa, mas um diagnóstico pós-eleitoral.

O objetivo do trabalho é fornecer subsídios para a reestruturação do organograma partidário de um modo geral e em especial da parte de marketing e comunicação.

O balanço da análise mostra que do ponto de vista da principal eleição do país, que é a presidencial, o PSDB desde que deixou o poder, em 2002, nas três últimas eleições seguintes, em que pesem as derrotas, tem tido uma votação ascensional.

Levando-se em conta os resultados dos segundos turnos, há crescimento linear do desempenho do partido, mostra Lavareda. Mas, ainda assim, na última eleição o partido chegou apenas a 84% da votação que teve em 1998, quando ganhou no primeiro turno com FH.

Em algumas regiões, como no Sul, já chegou na última eleição a 94% do que atingiu em 98; no Sudeste, a 87%, no Centro-Oeste, a 80%; no Norte, a 74%. No Nordeste onde o problema é maior, o desempenho de 2010 já foi substancialmente melhor do que em 2006, alcançando 72% da votação de 1998.

Foram eleições difíceis e perdidas, mas a pergunta, para Lavareda, tem de ser: perdeu indo para baixo ou indo para cima?

No Sudeste e no Centro-Oeste, por exemplo, o partido está próximo de atingir os 50% dos votos.

Nos governos estaduais há claro perfil ascensional, mas para deputados estadual e federal tem havido um declínio, assim como nas eleições para vereadores e prefeitos, o que se constitui na grande preocupação do partido, sendo necessário, para Lavareda, grande esforço para reverter isso já nas eleições 2012.

Essa queda tem exceções, como no Sudeste, onde o perfil de eleição de prefeitos é de crescimento, e no Sul, onde é estacionário. Nas demais regiões, o declínio é importante.

O estudo demonstra que há grande relação entre nossas eleições intermediárias para prefeitos e vereadores e a das bancadas de deputados estaduais e federais subsequentes.

Do ponto de vista de "emoções negativas", há uma grande proximidade das médias, PT e PSDB se igualam na rejeição. A distância maior se dá no campo das emoções positivas, o que mostra, para Lavareda, que o caminho importante para o PSDB trilhar é cultivar os laços positivos com a sociedade, em vez de demonizar o PT.

Este novo Brasil que está surgindo, com a classe C emergente, quer isso. Setenta por cento dos brasileiros concordam que os governos FH e Lula juntos representaram nova fase na nossa História, e 45% concordam que esse novo país começou com a criação do real.

De lá para cá, nos governos de FH e Lula e agora no de Dilma, apesar dos problemas que surgem, o país vem melhorando a cada ano, na opinião da maioria dos entrevistados.

FONTE: O GLOBO

Infeliz coincidência:: Rosângela Bittar

O deputado Flávio Dino, PCdoB do Maranhão, presidente da Embratur, acabou transformando-se em um involuntário símbolo da luta do jovem político brasileiro contra as ainda poderosas oligarquias nordestinas, uma saga de cordel que começou há 10 anos e que não para de produzir novos versos. Embora em aparente declínio, essa, como todas as sobreviventes, tem um poder ainda extraordinário e suficiente para sufocar qualquer movimento de oxigenação da prática política.

Vindo de uma vida profissional como juiz, Flávio Dino foi eleito deputado federal em 2006 e despontou como fenômeno na eleição municipal de 2008, concorrendo à Prefeitura de São Luís, em segundo turno, com João Castelo, um dos ícones da política maranhense. Aliado à esquerda, o deputado passou a desafiar o clã Sarney, liderando os que abraçaram a causa da resistência à forma como o grupo do ex-presidente da República, integrado basicamente por sua família, conduzia os negócios do Estado.

Saindo bem maior daquele segundo turno de disputa da prefeitura, Flávio Dino estourou em 2010. Ao disputar o governo do Estado com Roseana Sarney, que vinha de uma retomada judicial do gabinete que perdera antes em mais um soluço de desgaste do esquema político do grupo, Flávio Dino foi derrotado. Mas passou por aquela experiência do "perder ganhando": por apenas oito centésimos, cerca de 2,5 mil votos, perdeu a eleição para governador do Maranhão. Até o ex-presidente Lula foi apoiar Roseana Sarney e impedir que o PT ficasse contra os Sarney.

Parte do PT queria apoiar Flávio Dino oficialmente, em coligação, ou não apoiar oficialmente os Sarney, mas o partido se dividiu e a metade do petismo sarneysista, com apoio de Lula e do PT nacional, ganhou a disputa e aliou-se à candidata depois eleita. Ainda hoje os petistas no Maranhão estão rachados ao meio: O único deputado federal eleito, Domingos Dutra, que na campanha chegou a fazer greve de fome no Congresso Nacional para que houve liberdade de coligação no Maranhão, é do grupo de Dino; um dos três deputados estaduais do PT eleitos naquela campanha ficou também fora do sarneysismo. O líder do PT que ficou contra Dino é Washington Oliveira, hoje vice-governador de Roseana. Metade do partido majoritário no poder federal segue com os Sarney, a outra metade com Flávio Dino e PSB, PDT, PPS.

Para esse grupo, passada a refrega em que Lula e a cúpula partidária renegaram seus aliados históricos em favor dos Sarney, foi ministrado um pouco de oxigênio, e o governo deu a eles a Embratur, hoje presidida por Flávio Dino.

A autarquia foi criada em 1966, faz agora 45 anos, e concentrava toda a ação governamental na área do turismo até 2003, quando Lula criou o Ministério do Turismo, mais um na expansão desordenada do Estado, como fez em várias outras áreas. Nesses últimos oito anos, ministério e autarquia dividiram suas tarefas. Enquanto o ministro do Turismo comandou a política interna, a Embratur ficou com a ação internacional. As famosas emendas parlamentares ao orçamento da área do turismo, espaço de cultura da corrupção na pasta, ficam todas com o Ministério, nada com a Embratur.

Assim, mesmo com um adversário pemedebista do Maranhão no comando, o ex-ministro Pedro Novais, Dino ficou no cargo e conseguiu levar adiante sua administração. Sob intensa artilharia e denúncias sucessivas de corrupção, Novais foi um ministro do Turismo recolhido a seu canto, nem sequer tomou iniciativas relacionadas à Copa do Mundo, cereja de vários ministérios, principalmente desse.

Eis porém que, caído Novais, a presidente Dilma nomeia um ministro do Turismo mais sarneysista ainda, o deputado Gastão Vieira, e volta a ficar instável a vida política do grupo de Dino.

A presidência da Embratur é uma nomeação do ministro chefe da Casa Civil, por delegação da presidente da República, mas o titular do cargo deve satisfações ao ministro do Turismo, em cuja órbita se situa a autarquia. Dino despachava pelo menos uma vez por semana com Novais. Não foi avisado por ninguém da Presidência, a não ser pelo próprio Gastão, em telefonema à meia noite, após sair do Palácio da Alvorada quando recebeu o convite, que passaria a dever vassalagem a um possível algoz político mais característico que o anterior.

Nem Flávio Dino nem Gastão Vieira dão sinais, no momento, de que o desenlace está próximo. O ministro o avisou que fora nomeado, o que não deixa de ser uma deferência, e tem despachado com ele rotineiramente. O presidente da empresa, que tem orçamento, administração e pessoal próprios, não viu problemas até o momento nessa convivência e acha que o trabalho está fluindo.

Mas fora dessa cena oficial, começam a surgir pressões para que o deputado do PCdoB desista finalmente do cargo que ocupa. Inclusive têm sido difundidas informações, originadas no PMDB, de que, sendo impossível, por definição e erro de origem, a convivência entre o ministro do Turismo e o presidente da Embratur, este teria que ceder o posto. Até porque, de certa forma, a Embratur lhe dá um palanque mínimo para uma candidatura em futuro próximo.

As pesquisas no Maranhão dão a Flávio Dino, no pior cenário, 44%, e no melhor 52% das intenções de voto para prefeito de São Luís, em 2012. Há, nesses índices, muito de recall da campanha de 2010. Mas esta é uma definição adiada pelo grupo de Dino, por duas razões: primeiro porque no seu campo político há vários outros pré-candidatos a prefeito. E segundo porque seu interesse está todo concentrado na disputa pelo governo do Estado, em 2014. Prepara-se para buscar os oito centésimos de votos que lhe faltaram em 2010.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

PT "baby face" :: Fernando de Barros e Silva

A eleição em São Paulo representa uma espécie de teste derradeiro para a ascendência de Lula sobre o PT.

Em âmbito nacional, o ex-presidente deitou e rolou. Elegeu Dilma, ampliou a bancada petista no Senado, mandou para casa líderes da oposição (como Tasso Jereissati, Arthur Virgílio e Cesar Maia), dobrou o PT onde foi preciso em favor do apoio a oligarquias locais, caso do Maranhão.

Em São Paulo não é exatamente assim. A tentativa de patrocinar a aventura de Ciro Gomes ao governo resultou em fiasco. Lançado de afogadilho, Mercadante já nasceu como candidato de segunda mão.

O cara agora é Fernando Haddad. Não é uma opção recauchutada nem, muito menos, um aventureiro. O calo do professor universitário (economista e filósofo) que trabalhou na gestão de Marta e virou ministro da Educação de Lula está no fato de ser político de menos. Nunca disputou um voto nem tem vivência partidária -e nisso se assemelha a Dilma.

Lula aposta que é justamente o efeito novidade que dá gás a seu pupilo. Numa campanha que pode contar com Gabriel Chalita (PMDB) e Bruno Covas (PSDB), teremos, quem sabe, uma invasão de "baby faces" no horário nobre da TV. Lula quer vender o seu como o ministro que colocou os pobres na universidade.

Anteontem, Haddad obteve o apoio da principal corrente interna do PT, majoritária no diretório nacional, mas não em São Paulo.

O ex-presidente trabalha agora para evitar a realização de prévia contra Marta. Na ponta do lápis, mesmo desgastada, a senadora ainda derrotaria Haddad na consulta interna se tivesse o apoio dos deputados Jilmar Tatto e Carlos Zarattini, pré-candidatos.

Mas nada hoje indica que Marta arriscaria ir à luta sem a bênção que Lula já lhe negou. Ganharia a prévia para ficar na chuva. Mesmo com as resistências do partido, será uma enorme surpresa -e um trauma- se Lula não emplacar o seu professor.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Executivo e Judiciário se dobram a Sarney:: João Bosco Rabello

Os juízes do Superior Tribunal de Justiça devem ter feito a relação custo/benefício antes de tomar a decisão que devolve à estaca zero as investigações da Polícia Federal no caso do empresário Fernando Sarney.

Mas, se a fizeram, foi em caráter individual e político. A instituição só perdeu – e muito- com o desmerecimento das instâncias judiciárias que autorizaram as escutas e da Polícia Federal, ambas postas sob suspeita, no mínimo, de incompetência.

Contribui o STJ para piorar ainda mais a imagem do Poder Judiciário, visto como ineficiente, porque lento; injusto porque discricionário; corporativo, porque recusa controles.

Essa a imagem hoje do Poder Judiciário. Que pune pobres, mas livra os ricos, que cerceia a ação do seu órgão de controle, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e que só vê a própria barriga quando exige aumento de 56% aos servidores dos tribunais superiores.

É nesse contexto que o STJ, ainda na vigência de uma censura vergonhosa e humilhante para o país, imposta pelo Judiciário ao Estadão para atender a Fernando Sarney, simplesmente invalida tudo sobre o que ele se investigou, ainda que sob respaldo do próprio judiciário maranhense.

Se já não havia dúvida de que o Poder Executivo está submetido ao poder político do senador José Sarney (PMDB-AP), agora não há mais dúvida de que o Judiciário também e, por extensão, o País.

A insensibilidade é tal que tira a percepção de que tudo o já revelado pela investigação está consolidado como verdade. Assim, a decisão só é vista como uma forma de atender ao clã familiar. Nada mais.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

A impostura do impostaço:: Vinicius Torres Freire

Imposto extra sobre carros importados é medida tão ruim que nem dá para chamá-la de protecionista

O importaço sobre os carros importados parece, a cada dia, mais uma impostura muito mal ajambrada. Uma enganação mesmo. Dizer que se trata de "medida protecionista" já é sofisticar demais a discussão, além de uma reação estereotipada a qualquer medida de política industrial. Mas nem precisamos nos perder em debates sobre "desenvolvimentismos" ou "liberalismos". O buraco é mais embaixo.

Primeiro, de que "proteção" se trata? Para escapar do IPI maior, os carros deverão ter conteúdo mínimo nacional ou regional (do Mercosul/México). Mais da metade dos importados neste ano veio do Mercosul e do México, com os quais o Brasil tem acordo especial de comércio de carros. Lembre-se de que os acordos automotivos "hermanos" são uma série de concessões arrancadas basicamente pela Argentina, acordos e tratados organizados com influência além da conta das montadoras instaladas lá e cá.

O que vem ao caso, no que diz respeito à "proteção", é que as montadoras já instaladas aqui acabam de ganhar reserva extra de mercado de importação. Caso o imposto vingue, podem ficar com 50% do mercado de importados mais um adicional resultante do aleijamento dos importadores chineses e coreanos (28% do mercado, neste ano).

Segundo, ainda a proteção, agora no caso de peças e partes importadas. Os carros deverão ter um conteúdo nacional mínimo de 65%. Como vai se medir o teor "brazuka" ou "hermano" do carro? Pelo preço.

Como no preço final dos bens entra qualquer coisa, do cafezinho da fábrica à publicidade, pode-se imaginar quanta gambiarra pode ser feita a fim de burlar a norma dos 65%. Ou de cumpri-la de modo não muito interessante para a indústria de peças locais, fabricando aqui o esqueleto mais vulgar do carro, importando "peças com mais conteúdo tecnológico" ou "valor agregado", seja lá qual for o clichê, coisas que em tese o governo gostaria de ver fabricadas por aqui.

Terceiro, o que significa "nacionalização"? O carro pode ser "nacionalizado" com peças e tecnologias inferiores? Mais caras?

Quarto, ainda não está explicado por que o governo desistiu do projeto original do "Brasil Maior" ("política industrial" lançada em agosto), em que previa reduzir impostos para as montadoras caso elas incrementassem seus produtos, inclusive com mais "conteúdo nacional".

Quinto, o que sabemos da rentabilidade do setor automobilístico? É crítica? É ótima? O favor que receberam vai redundar em benefícios para quem? Não saberemos. As contas das montadoras são fechadas.

Sexto, nos últimos 12 meses, o preço médio dos carros novos caiu uns 3%, ante inflação média de mais de 7%. Depois do impostaço os preços vão subir? E daí?

Sim, sim, é verdade que as empresas brasileiras estão apanhando com a brutal desvalorização do dólar, com as moedas asiáticas desvalorizadas, com os dumpings etc. etc. Com a piora do câmbio real (inflação em alta). Com a falta de mão de obra qualificada. Com os custos indecentes de capital (juros altos), de energia etc. etc. Mas qual o projeto de médio e longo prazos para lidar com esses problemas? Quase nada além de uma linha de montagem de esparadrapos, dos juros camaradas do BNDES a impostaços como esse dos carros, por exemplo.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

O câmbio muda na moita:: Celso Ming

Depois de dezembro de 2004, a política cambial mudou várias vezes. Mas, de lá para cá, o governo já não anuncia mais seus objetivos.

A partir de seu piso, obtido em 26 de julho, a cotação do dólar já aumentou 16,8%. Apenas em setembro (até esta terça-feira), a alta foi de 12,5%. E não há nenhuma indicação de que a atual maré altista esteja próxima de ser revertida.



Em 2004, o Banco Central anunciou que passaria a comprar dólares no câmbio interno para cumprir dois objetivos: amontoar reservas e impedir a excessiva volatilidade do câmbio.

Depois de 2009, o Banco Central continuou suas compras quase diárias de dólares não mais para fazer reservas, porque os US$ 210 bilhões haviam se mostrado suficientes para transformar o impacto da maior crise desde os anos 30 numa “marolinha”. O Banco Central não atuou tampouco para neutralizar a excessiva volatilidade das cotações. Sua meta óbvia passou a ser impedir uma valorização maior do real ante outras moedas estrangeiras (queda da cotação do dólar). Só que essa mudança de política não foi anunciada nem antes nem depois. Os objetivos simplesmente mudaram na moita, sem que o Banco Central tivesse deixado claro o que passou a pretender.

Neste ano, o governo Dilma deu várias indicações de desconforto com a forte tendência a novas valorizações do real e tomou providências destinadas a reduzir a entrada de dólares, que culminaram, em julho, com a taxação de um IOF de até 25% sobre negócios com derivativos cambiais. O Banco Central, por sua vez, seguiu comprando moeda estrangeira, mas não se dignou a avisar que já não pretendia nem acumular reservas nem acabar com a grande volatilidade. Desde o final de julho, quando o governo completou uma série de intervenções e as cotações reverteram sua tendência anterior, a volatilidade tem sido enorme. No entanto, o Banco Central não teve interesse em atuar para estancar a volatilidade. E há duas semanas já não compra mais moeda estrangeira. Poderia, por exemplo, ter vendido dólares de suas reservas para estabilizar as cotações, mas não agiu nessa direção.

Depois de demonstrar suficientemente que não queria a cotação do dólar abaixo de R$ 1,50, o governo Dilma não indicou se trabalha com um teto das cotações. O momento parece inteiramente atípico, porque a tendência de longo prazo continua sendo de valorização do real. Nenhum dos fatores que derrubaram a cotação para a casa de R$ 1,55 foi removido. As reservas, hoje de US$ 352 bilhões, continuam passando segurança na economia brasileira para o investidor; o déficit em Conta Corrente neste ano dificilmente passará dos US$ 60 bilhões ou 3% do PIB; o Investimento Estrangeiro Direto deverá alcançar US$ 70 bilhões (superior ao próprio déficit em Conta Corrente); os juros básicos estão em queda e ajudam a reduzir o afluxo de moeda estrangeira destinada a tirar proveito da alta remuneração do setor financeiro interno. E, mais do que isso, se o Banco Central concluir que a alta do dólar atrapalha a briga contra a inflação, poderá vender uma pequena parte de suas reservas no câmbio interno e, assim, desencorajar eventuais apostas na forte desvalorização do real.

Mas, decisivamente, as autoridades não anunciam mais o que pretendem.

CONFIRA

Ser ou não ser capitalizado. Na semana passada, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, desmentiu que os bancos europeus precisassem de reforço de capital de mais de 200 bilhões de euros, como o relatório interno do próprio FMI anunciara. E, nesta terça, o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchar, avisou, em entrevista à rede de TV France 24, que é essencial aumentar o capital dos bancos europeus.

Mantega reforça. Também nesta terça-feira, o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, afirmou à agência Dow Jones que os bancos europeus necessitam, sim, ser capitalizados.

Neymar y la deuda. O principal jornal da Espanha, El País, em artigo assinado por Joaquín Estefanía, afirmou em sua última edição que a disputa por Neymar pelas principais equipes de futebol da Espanha e, ao mesmo tempo, a disposição dos Brics de ajudar os países do euro a pagar suas dívidas são “uma contradição” e “um sinal do nosso tempo”.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Fase perigosa:: Míriam Leitão

O economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, resumiu numa frase o dilema do momento: "O ajuste fiscal dos países não pode ser tão rápido que mate o crescimento, nem tão devagar que mate a credibilidade." O FMI não sabe mais o que sugerir. O relatório divulgado ontem conta que tudo piorou muito na economia mundial e revê para baixo o crescimento de todos os países.

O Fundo não sabe se quer que os governos reduzam os déficits ou se prefere que mantenham o crescimento, mesmo que isso signifique gastos maiores. Confuso, fez essa proposta em cima do muro. Quando as crises aconteciam na América Latina, como nos anos 1980; na Ásia, como nos anos 1990; ou quando aconteciam em um país específico, como na Argentina em 2002; o Fundo parecia mais seguro. Agora, quando a crise atinge o coração do que eles chamam de "economias avançadas", o FMI parece confuso no diagnóstico e nas receitas que oferece.

Sempre em setembro a instituição divulga a revisão das suas perspectivas econômicas para o ano corrente e o seguinte. No "World Economic Outlook" divulgado ontem ficou claro que a previsão de crescimento caiu em todos os países, para 2011 e 2012. O Brasil vai crescer apenas 3,8% este ano e 3,6% no ano que vem, este é o segundo pior desempenho na América Latina. O Brasil vai crescer menos do que a média de 4,9% para a região e menos que a média mundial nos dois anos.

A Itália é o país que teve a queda mais pronunciada para o ano que vem: menos um ponto percentual. Vai crescer apenas 0,3% em 2012. Noves fora: nada. O crescimento da Alemanha no ano que vem ficará 0,7 ponto percentual menor do que o previsto. Vai ser de apenas 1,3%. Isso preocupa porque a Alemanha é que estava mantendo o crescimento da Europa. Blanchard explicou que apesar de tudo isso não espera recessão para os Estados Unidos, mas sim um crescimento mais fraco, de 1,8%.

O que aconteceu desde o começo do ano para cá foram eventos que desestabilizaram a economia mundial colocando-a numa "fase perigosa", na expressão usada pelo FMI. Houve alguns inesperados, como o terremoto no Japão. Na economia, ele não é visto pela tragédia humana que provocou, mas sim pelo fato de ter afetado cadeias produtivas e jogado o país na recessão. O levante político em alguns países árabes é outro inesperado. Para a economia, a revolta no mundo árabe é vista apenas pelo lado negativo. Não é o fim de ditaduras, nem a chance de um novo começo para os povos da região, mas sim uma instabilidade que atingiu os preços do petróleo.

Houve também decepções. A economia americana, que parecia estar se recuperando, deu meia volta e começou a desacelerar. O ritmo dessa mudança de marcha foi inicialmente subestimado. Ela atinge principalmente a falta de confiança dos consumidores. A Europa não está conseguindo encontrar uma solução para a crise da dívida de alguns dos seus países. Segundo disse o economista-chefe do FMI na entrevista: "os mercados estão céticos sobre a capacidade de alguns governantes de estabilizarem o nível da dívida pública."

Quando se olha o número da previsão de crescimento, o cenário não parece tão mal. O mundo vai crescer 4% este ano e 4% no ano que vem, pelas previsões do Fundo. O problema é que isso é média: 1,6% nas economias avançadas; 6,4% nas economias emergentes.

Uma parte do baixo desempenho dos países dito avançados vem dos enormes déficits públicos e do crescimento forte das dívidas. O baixo crescimento é em parte alimentado pelo desequilíbrio fiscal; mas o desequilíbrio fiscal alimenta o baixo crescimento, informa o FMI.

Diante disso, fazer o quê? O Fundo, no fundo, não sabe. Sobre a Itália que acaba de ser rebaixada, o FMI diz que o ajuste fiscal do país conseguirá inverter a curva de crescimento da dívida em 2013. Sobre as políticas monetárias de cada país, o FMI diz que é hora de "parar para ver". Sobre o Brasil, o que se explica é que a redução da taxa de juros apesar da inflação em alta será compensada por uma política fiscal apertada.

Ontem mesmo o IPCA-15 trouxe outra má notícia. Ficou acima do esperado para o mês. Com isso, a inflação em 12 meses foi para 7,33%. Esse índice deve ser confirmado no IPCA do mês. O que significa que a inflação continuou subindo em setembro, apesar de o governo ter previsto que a partir deste mês ela começaria a cair. A esperança foi adiada para outubro. Segundo o economista Luiz Roberto Cunha, ainda há possibilidade de o índice cair para 6,5% até o fim do ano. A inflação terá que ficar em torno de 0,4% a 0,5% ao mês até dezembro para bater na trave: ou fica no teto máximo da meta ou então estoura ligeiramente a meta.

Alimento até não subiu muito no índice divulgado ontem, em que o vilão foi a tarifa aérea. O problema é que a partir de agora os alimentos começam a subir por causa da sazonalidade, e o dólar em alta não ajudará mais a inflação; pelo contrário. O Brasil apesar de ser do grupo dos emergentes, começou a crescer cada vez menos e com inflação subindo.

E o que o FMI tem a dizer sobre tudo isso é que o mundo entrou agora numa fase perigosa, e pede que os governos cooperem para encontrar uma solução.

FONTE: O GLOBO

Procuradora diz que assinaturas do PSD não são suficientes para registro

De acordo com Sandra Cureau, apenas 220 mil assinaturas tiveram a autenticidade comprovada. Para criar uma legenda são necessárias pelo menos 482.894 assinaturas de apoio

Mariângela Gallucci,

BRASÍLIA - Cerca de 385 mil assinaturas de apoio à criação do PSD são suspeitas, na opinião do Ministério Público Eleitoral. Em parecer encaminhado ontem ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau, reafirma que do jeito que está o partido não pode ter registro. Ela diz que apenas 220 mil assinaturas tiveram a autenticidade comprovada. Para criar uma legenda são necessárias pelo menos 482.894 assinaturas de apoio.

Advogado do PSD, Admar Gonzaga sustenta que o partido já conseguiu 585.707 assinaturas "fora as que ainda estão chegando". Por causa das supostas irregularidades, Sandra Cureau pede pela terceira vez que o TSE converta o processo em diligência. Se esse pedido não for aceito, ela defende a recusa do registro.

A conversão em diligências atrasaria um processo que já está apertado. Para conseguir lançar candidatos na eleição do próximo ano, o PSD tem de estar com o registro e com políticos filiados até o dia 7 de outubro. Isso ocorre porque a legislação eleitoral estabelece que o processo tem de ser concluído com pelo menos um ano de antecedência à eleição que, em 2012, está marcada para 7 de outubro.

"Não houve o atingimento do número mínimo de apoiamentos para a criação do novo partido, pois somente estão certificadas, na forma da resolução TSE 23.282/2010, 220.305 assinaturas, quando são necessárias 482.894, segundo informações obtidas junto ao sítio eletrônico desse Tribunal Superior Eleitoral", disse.

Pela legislação, o número mínimo de assinaturas em apoio à criação de um partido deve ser comprovado por certidões expedidas pelos tribunais regionais eleitorais (TREs). Em vários Estados, como São Paulo, as certidões foram expedidas por zonas eleitorais e não pelos tribunais, segundo Sandra Cureau.

No parecer, a vice-procuradora menciona decisão tomada na semana passada pelo ministro do TSE Arnaldo Versiani recusando o registro do Partido Democrático Vida Social (PDVS). Conforme o ministro, o pedido do PDVS tinha falhas na documentação que impediam a concessão do registro.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Bandeiras dos tucanos, como LRF, são atribuídas a PT, aponta pesquisa

Para destacar atuação do PSDB, partido vai lançar agenda para o Brasil

Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. Saiu caro para o PSDB não ter defendido o legado dos oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso nas últimas três campanhas presidenciais. Essa foi a conclusão que a cúpula tucana chegou ontem após a apresentação de pesquisas encomendadas pelo partido ao cientista político Antonio Lavareda. Embora o Plano Real continue lembrado como o principal ativo do PSDB, o PT acabou se apropriando de várias bandeiras dos tucanos, a ponto de 60% dos brasileiros atribuírem a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) aos petistas, esquecendo-se que eles votaram contra a proposta.

- Durante dez anos não defendemos o que fizemos. Esquecemos o nosso partido e permitimos que o PT se apropriasse do que fizemos - disse o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE).

Os tucanos constataram que os escândalos de corrupção que eclodiram no governo Lula acabaram colando na imagem do PT de forma definitiva. A maioria dos brasileiros, porém, considera que o grau de corrupção na gestão do PT é igual ao do governo de FH. A pesquisa mostrou que 70% da população do país consideram a gestão petista como uma continuidade da iniciada pelos tucanos.

Já a faxina ética deflagrada pela presidente Dilma Rousseff ainda não convenceu totalmente a população. Pelo menos 40% dos ouvidos consideram que Dilma tem sido seletiva na apuração dos desvios, embora outros 40% achem que ela quer, de fato, enfrentar a corrupção.

A pesquisa mostrou também que todos os benefícios sociais existentes no país são vinculados ao governo do PT, embora o PSDB tenha lançado o Bolsa Escola, embrião do Bolsa Família.

Para mudar esse quadro, está sendo organizado um seminário para discutir o legado do PSDB e apresentar um projeto de país.

- Está na hora de o PSDB apresentar uma nova agenda, focando em educação básica, saúde e qualificação profissional - defendeu o senador Aécio Neves (PSDB-MG).

FONTE: O GLOBO