domingo, 18 de setembro de 2011

Opinião do dia – PMDB: liberdade de imprensa

"Garantir a liberdade de imprensa que é luta nossa desde a criação do MDB".

PMDB. Compromisso do PMDB com o povo brasileiro, item 4. Fórum – Brasília, 15/9/2011.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Investimentos em estradas atrasam e acidentes triplicam
Brasil não forma jovem para mercado globalizado

FOLHA DE S. PAULO
Construtoras do país multiplicam obras no exterior
Economia perde mais força do que se previa

O ESTADO DE S. PAULO
Com isenção de impostos, petroleira importa até biquíni
CNJ reproduz vícios que tem de combater
STJ anula provas da PF contra família de Sarney
Na ONU, Dilma defenderá pleito palestino

CORREIO BRAZILIENSE
O novo Eldorado fica às margens da BR-060
A República da Hora Extra
Classe Média sufocada em dívidas

ESTADO DE MINAS
O escândalo das emendas forasteiras

ZERO HORA (RS)
Ditando as regras

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Comida, bebida e muitos empregos

A liberdade que nos une

Uma trinca de cientistas políticos analisa a lenta e contraditória caminhada da democracia no mundo

Ivan Marsiglia

Na mesma data em que a Organização das Nações Unidas (ONU) celebrava o Dia Internacional da Democracia, essa quinta-feira, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, e o premiê britânico, David Cameron, erguiam desajeitadamente os braços do líder rebelde Mustafa Abdul Jalil em Benghazi, na Líbia, anunciando um futuro de liberdade e progresso após a queda do ditador Muamar Kadafi.

Assim será? Os rebeldes estão prontos para traduzir os anseios da população líbia? E como fica a situação da Síria e de outras nações do Oriente Médio e do Norte da África que se insurgiram na chamada "primavera árabe"? Estarão as grandes democracias ocidentais dispostas a colaborar, respeitando a soberania nacional, nesse processo emancipatório - sem esquecer, como disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em sua mensagem comemorativa, que "a democracia não pode ser exportada ou imposta de fora, ela deve ser gerada pela vontade das pessoas e alimentada por uma sociedade civil forte e ativa"? O mundo atual caminha de fato na direção da livre manifestação do pensamento, das liberdades civis e dos direitos políticos? Como anda a qualidade da democracia no Leste Europeu, na Ásia, na América Latina e, em especial, no Brasil?

Para responder a essas perguntas, o Aliás escalou um time internacional de cientistas políticos especializados no tema. Do Brasil, falou José Álvaro Moisés, professor da Universidade de São Paulo e diretor do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas (NUPPs), que coordena atualmente uma ampla pesquisa sobre os 25 anos de democracia no País. Da Europa, o convidado foi Leonardo Morlino, professor da Universidade de Florença e presidente da Associação Internacional de Ciência Política (Ipsa). Dos Estados Unidos, o representante foi Scott Mainwaring, professor da Universidade de Notre Dame e diretor do Instituto de Estudos Internacionais Helen Kellogg. A seguir, os pontos de vista de cada um.

Com o fim das ditaduras latino-americanas nos anos 70 e 80, a dissolução da União Soviética nos 90 e a recente "primavera árabe", podemos dizer que a democracia venceu?

José Álvaro Moisés: A expansão da democracia por várias regiões do mundo, a partir dos anos 70, foi o fenômeno político mais importante do século 20. Ela sobrepujou todas as alternativas, como o fascismo, o stalinismo e os autoritarismos militares. Hoje, um dos seus grandes desafios continuam sendo as desigualdades econômicas e sociais que afetam a liberdade política, a competição eleitoral e a participação dos cidadãos. Outro são o terrorismo e a intolerância política, que, em alguns casos, foram usados para justificar a invasão de nações e o cerceamento de liberdades civis e políticas. Apesar disso, as virtudes da democracia alimentam um poderoso efeito-demonstração, apontando as implicações do regime na qualidade de vida das pessoas.

Scott Mainwaring: A democracia certamente se expandiu globalmente desde o final dos anos 70, mas de maneira muito desigual. Segundo as avaliações da Freedom House (organização sem fins lucrativos sediada em Washington que promove pesquisas sobre direitos humanos, democracia e Estado de Direito), em 1978, quando a terceira onda de democratização na América Latina teve início, 30% dos países do mundo eram considerados livres, 35% eram parcialmente livres e 24% não eram livres. Essas estimativas não eram tão precisas na década de 70, mas são a única fonte confiável disponível. O último relatório dela, lançado em 2010, diz que 45% dos países hoje são livres, 31% parcialmente livres e 24% não livres. É um bom sinal. Entretanto, a Freedom House considera a situação global da economia estagnada desde 1998. Vários países, incluindo a proeminente Rússia, regrediram: considerada parcialmente livre na década de 90, degringolou para o autoritarismo.

Leonardo Morlino: Não há dúvida de que desde o início dos anos 70 o fenômeno da democratização teve forte aceleração no mundo. Entretanto, há hoje dois aspectos que não nos permitem dizer que ela seja dominante no mundo. O primeiro é o fato de o país com o segundo maior PIB mundial, a China, ter um regime politicamente não democrático. Sem falar na já citada Rússia, que pratica uma espécie de autoritarismo eleitoral. O segundo aspecto está relacionado ao contexto mundial de crise econômica e desemprego que vivemos - que pôs em xeque a capacidade de ação das elites políticas das grandes democracias.

Entender democracia como mero sistema eleitoral é um engano frequente?

Morlino: O sistema eleitoral é muito importante, ele é a regra chave para o mecanismo de resolução pacífica de conflitos que está no coração da democracia. Mais: os arranjos institucionais da democracia, seus procedimentos básicos, estão diretamente relacionados às eleições. Assim, entender democracia como sistema eleitoral não é engano. É, no entanto, uma simplificação, se deixamos de prestar atenção em outros valores fundamentais dela, como a igualdade econômica e social.

Moisés: Eleições limpas, regulares e competitivas são condição sine qua non da democracia, mas insuficientes. Exemplo disso são os casos em que elas convivem com o desrespeito ao primado da lei, a expansão incompleta dos direitos de cidadania e a inexistência de instituições, mecanismos e normas eficazes de fiscalização e controle dos poderes republicanos. Alguns exemplos são os casos da Venezuela, Equador, Paquistão, Rússia e, em menor escala, Bolívia. O Irã não tem eleições livres. Em alguns desses países, lideranças escolhidas pelo voto popular tendem a se sobrepor às instituições democráticas, intervindo no Poder Judiciário, limitando o Legislativo e, às vezes, anulando a capacidade de ação dos partidos de oposição. Essas são democracias incompletas ou iliberais.

Mainwaring: Entender democracia exclusivamente como sistema livre e justo de contagem de votos é certamente um engano. Ele não é frequente entre cientistas políticos, mas a Organização dos Estados Americanos (OEA) e diversos governos nacionais focam exclusivamente a tabulação de votos na hora de avaliar a democracia nos países. Em sua acepção contemporânea, ela depende de três elementos: sufrágio adulto quase universal, sistema de proteção das liberdades civis e direitos políticos e ausência de atores políticos capazes de veto ou controle da arena de decisões políticas.

Como avaliar a qualidade da democracia?

Mainwaring: A qualidade da democracia depende do grau de entendimento, por parte da sociedade, dos procedimentos que a preenchem. Uma democracia de alta qualidade é a que o campo em que se dá o jogo eleitoral seja justo, em que quase todos os adultos exerçam seus direitos políticos formais, em que o Estado garanta efetivamente direitos políticos e liberdades civis e, repito, em que os governantes eleitos não estejam sujeitos a veto por parte das Forças Armadas, por exemplo. Em grande parte da América Latina, o grande desafio hoje é garantir a existência de um campo político justo, para que os diversos grupos disputem as eleições em condições de igualdade.

Molino: Essa é uma questão muito importante hoje. Em meu último livro, Changes for Democracy (Oxford University Press), vejo três significados na qualidade da democracia. O respeito ao império da lei, com accountability eleitoral e institucional, é um deles. A promoção dos valores da liberdade e da igualdade é outro. O terceiro é a "responsividade" (conceito que se refere à obrigação e capacidade de governos de corresponderem às expectativas dos que os elegeram). Em minhas pesquisas na Europa e América Latina, estipulei indicadores para avaliar cada uma dessas dimensões.

Moisés: Democracias eleitorais só se transformam em democracias efetivas se os poderes militar e policial forem devidamente controlados pelas autoridades civis eleitas e se os conflitos e divisões internas próprios de sociedades complexas tiverem meios efetivos de solução por mediação institucional. Instituições existem para controlar o abuso de poder, assegurar a efetividade do Estado de Direito e do império da lei e o que Norberto Bobbio chamou de "promessas democráticas". Se, por exemplo, o acesso à Justiça for negado a setores menos privilegiados da sociedade, partidos e Parlamentos não convencerem os eleitores de sua credibilidade e a política for vista como um domínio de privilégios e distorções que beneficiem alguns, a própria ideia de democracia fica profundamente afetada.

Países da "primavera árabe" receberam tratamento diferenciado das nações ocidentais, dependendo de seu alinhamento ou não a elas. Como se "promove" a democracia?

Mainwaring: Não há fórmula predeterminada. Depende das condições específicas de cada país. Normalmente, dar suporte internacional às oposições democráticas, como ocorreu agora na Líbia, é uma opção melhor do que assumir o protagonismo na criação da nova democracia - como aconteceu de maneira extremamente custosa, em termos de dólares, vidas humanas e destruição da infraestrutura, no Iraque em 2003. Já os esforços da OEA para desencorajar retrocessos autoritários são positivos: por meio da resolução 1080, a organização impediu golpes na Guatemala em 1993 e no Paraguai em 1996 - além de ajudar no restabelecimento de eleições livres no Peru em 1995. Por outro lado, a OEA não soube ser efetiva em situações de autoritarismo eleitoral, como na Venezuela desde 1999.

Morlino: Na última década houve desenvolvimento efetivo de estratégias de promoção da democracia. O chamado mecanismo das "condicionalidades" (que determina de que maneira organismos internacionais como Banco Mundial, FMI e outros prestem apoio a países de histórico autoritário ou em processo de democratização) é importante. Mas pesquisas empíricas feitas por diversos acadêmicos mostram que tais ações, para funcionar, devem ter credibilidade e continuidade no tempo. Ações externas só são eficazes quando encontram forças domésticas prontas a assumir o risco de implementar uma agenda democrática no país.

Moisés: Intervenções militares são sempre questionáveis do ponto de vista moral, político e do direito internacional. Por isso, são quase sempre negativas para "encorajar" a democracia. Isso não se confunde, no entanto, com situações como a vivida hoje pela Síria e até recentemente pela Líbia - em que governos ditatoriais reprimem com violência a reivindicação legítima de suas populações civis. Esses casos exigem coragem e determinação das nações democráticas, pois o respeito a direitos humanos não pode ser limitado por fronteiras diplomáticas ou considerações de realpolitik. Meu juízo, nesse caso, é que a posição do Brasil em recentes decisões da ONU foi lamentável, e deveria ser revista. Invasões como a do Iraque, contudo, envolvendo claros interesses econômicos e geopolíticos, não podem ser chamadas de estímulo à democracia.

Vinte e cinco anos após a redemocratização, como os senhores veem a qualidade das instituições no Brasil?

Molino: O Brasil tem sido importante para o desenvolvimento da democracia em toda a região da América Latina por duas razões. Em primeiro lugar, a forma bem-sucedida como ela foi implementada no País enfraqueceu alternativas neopopulistas como a da Venezuela e a da Bolívia. Em segundo lugar, as políticas brasileiras de redução da desigualdade e da pobreza mostraram à região que na democracia os valores da liberdade e da igualdade podem e devem andar juntos. Não é possível haver liberdade sem algum nível de igualdade no que se refere à educação, qualidade de vida, assistência médica, etc. E vice-versa.

Mainwaring: A qualidade da democracia no Brasil melhorou muito desde Sarney e Collor. Naquela época, os militares ainda tinham poder de veto sobre importantes decisões políticas. As engrenagens do período autoritário permaneciam fortes, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Hoje, as eleições são livres, justas e raramente contestadas. A participação política se expandiu. A proteção às liberdades civis e aos direitos políticos avançou enormemente. A imprensa e a sociedade civil são independentes e vigorosas. Há ainda, no entanto, desigualdade de direitos. Os pobres e a população negra no Brasil não desfrutam dos mesmos direitos e liberdades civis. Outro déficit da democracia brasileira é a impunidade de políticos flagrados em casos de corrupção. Mas, falando estritamente, eu diria que os grandes problemas do Brasil hoje são mais econômicos e sociais que de qualidade de sua democracia.

Moisés: O Brasil é um país democrático, não há duvida. Mas penso que a qualidade da sua democracia está em questão, sim. A hipertrofia do Executivo, herdada do período autoritário, limita a autonomia e a independência do Legislativo, comprometendo a representação da sociedade e o poder efetivo dos eleitores. O sistema partidário brasileiro é fragmentado e relativamente instável, com quase 30 partidos nominais e perto de 10 efetivos. A corrupção é endêmica, frauda a igualdade da competição eleitoral e desvia para fins privados recursos que deveriam ser investidos em políticas públicas. O chamado presidencialismo de coalizão, se por um lado garante a governabilidade, por outro estimula a irresponsabilidade dos partidos que formam as coalizões governistas majoritárias sem comprometê-los com a probidade no uso dos recursos públicos. Os escândalos nos Ministérios dos Transportes, da Agricultura e do Turismo atestam isso.

Como a corrupção afeta a democracia?

Moisés: Minhas pesquisas de cultura política mostram que um dos fatores determinantes da altíssima desconfiança dos cidadãos nas instituições democráticas do País é a corrupção. Essa prática desmoraliza a política, passa a ideia de que a lei e as normas democráticas são irrelevantes e não precisam ser cumpridas. O exemplo que vem de cima deteriora a moralidade política e desqualifica a dimensão republicana da democracia. É certo que houve avanços, devidos às denúncias da mídia e à ação do Ministério Público, da Polícia Federal, do TCU e, mais limitadamente, da CGU. Mas, em anos recentes, o governo Lula foi considerado um dos mais corruptos pelos entrevistados de pesquisas de opinião, só perdendo para o governo Collor.

Mainwaring: Não há dúvidas de que a corrupção mina a confiança pública. E, obviamente, enfrentá-la é um dos grandes desafios da democracia brasileira e de grande parte da América Latina. A perspectiva de punição é a melhor vacina contra a corrupção. O País precisa desenvolver métodos efetivos de investigação e um Poder Judiciário capaz de perpetrar punições exemplares. Por outro lado, é preciso reconhecer que a capacidade do Estado brasileiro de investigar e punir a corrupção foi bastante aperfeiçoada desde a metade dos anos 90. O problema é que a classe política age com instinto de autopreservação, formando um "clube da impunidade": um protege o outro. Um círculo vicioso difícil de quebrar.

Morlino: Um nível alto de corrupção mostra que o império da lei é frouxo e afeta a confiança nas instituições e na democracia. A sociedade civil e as elites políticas precisam combater essas práticas. Mas deixe-me de novo ressaltar os avanços do Brasil nos últimos anos, e quanto a situação era pior há duas décadas. Muitas vezes sofremos de "perfeccionismo democrático": buscamos altos resultados imediatos e subestimamos os avanços parciais obtidos. Uma dose de realismo é necessária para não se criar expectativas impossíveis que só nos levam ao desapontamento.

O STF tem sido acionado para arbitrar questões que o Congresso não esteve apto a discutir, como a união civil entre pessoas do mesmo sexo. O que isso diz a respeito de nossa democracia? Plebiscitos são uma boa alternativa para a inação do parlamento?

Mainwaring: Plebiscitos podem ser um instrumento suplementar à democracia representativa. Porém, como pude perceber morando na Califórnia, onde esse tipo de iniciativa popular é frequente, eles também podem ser manipulados por interesses particulares. Lá, grandes corporações e lobbies poderosos muitas vezes conseguem propor e dominar plebiscitos. Eles não são uma panaceia. A democracia representativa é que precisa funcionar bem.

Morlino: A melhor maneira é a mais difícil: via mobilização e participação popular. O papel cada vez maior da magistratura é um fenômeno disseminado por todas as democracias e parte da accountability institucional. Plebiscitos e referendos podem ser instrumentos ocasionais, mas de fato podem ser distorcidos e manipulados por forças políticas ou grupos de interesse. Sobre eles, vale o slogan: use com moderação.

Moisés: O STF tem agido em casos em que o Congresso e os partidos são omissos ou as leis votadas são inconstitucionais. Seria melhor se isso fosse evitado, mas depende do Congresso recuperar suas prerrogativas e assumir papel efetivo na definição da agenda política do País. A pressão da sociedade - crescente através das redes sociais - é um novo caminho. A adoção de plebiscitos, referendos e iniciativa popular de leis, previstos na Constituição, pode revitalizar a democracia representativa.

Democracia e sustentabilidade combinam?

Moisés: O desenvolvimento sustentável depende da democracia. Só nesse regime a sociedade tem informações claras e qualificadas sobre as decisões de governos que afetam o meio ambiente. O caso das usinas nucleares é exemplar: muitas decisões do regime militar sobre sua construção e suas implicações só se tornaram conhecidas no Brasil após a conquista da democracia. Sem falar no debate sobre as implicações ambientais, o incremento da produção de petróleo, a alternativa do etanol e a construção de grandes usinas hidroelétricas como Belo Monte em áreas que afetam a preservação ambiental e as condições de vida das populações autóctones, que surgiu, mas mostrou também quanto temos de caminhar nesse tema.

Morlino É preciso trabalhar para que ambas andem juntas, mas a ideia de sustentabilidade ecológica precisa estar ligada à de sustentabilidade econômica - levando em conta, igualmente, os custos sociais e civis de cada decisão. É doloroso ver as novas democracias emergirem em um mundo que discute como manter ou baixar suas expectativas para torná-las compatíveis com os recursos econômicos existentes.

Mainwaring: Democracias tendem mais à sustentabilidade do que ditaduras. Mas vamos ser claros: há uma batalha nas democracias sobre o que priorizar neste momento. O governador do Texas, Rick Perry, é pré-candidato à presidência nos EUA e nem sequer acredita na existência do aquecimento global. E a profunda crise econômica pela qual o país passa torna ainda mais difícil um encontro entre democracia e sustentabilidade no curto prazo: a prioridade é promover crescimento e gerar emprego. Por outro lado, não podemos desconsiderar o fato de que algumas ditaduras são eficazes na promoção do ambientalismo quando querem. A China, que chegou atrasada à discussão e tem graves problemas ambientais, está se transformando rapidamente em país de ponta nas tecnologias verdes.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO/ALIÁS

Rede social é usada para atrair apoio para marcha contra corrupção

Mais de 30 mil confirmaram no Facebook que estarão esta terça na Cinelândia

Bruno Góes e Marcio Allemand

Mais de 30 mil pessoas confirmaram presença, pelo Facebook, em uma manifestação contra a corrupção que acontecerá nesta terça-feira, na Cinelândia, no Rio. Cansados de ver as primeiras páginas de jornais recheadas de casos de desvio de dinheiro público, cinco amigos resolveram abandonar o comodismo, há pouco mais de um mês, e divulgar a ideia. Hoje, a expectativa é que o ato reúna quase o mesmo número de pessoas indicado na rede social, como aconteceu na manifestação do dia 7 de setembro, em Brasília.

A hora do protesto, porém, pode fazer com que mais cariocas estejam presentes. Às 17h, início do horário de saída do trabalho, começa a manifestação, que tem previsão para terminar às 20h.

- A adesão se deu aos poucos, e agora grupos de pessoas que também lutam pela mesma causa já estão imprimindo fitas e adesivos da marca que criamos. Professores entraram em contato e nos chamaram para debates - conta Cristine Maza, uma das organizadoras.

O protesto marcado pela rede social tem mostrado como o processo de mobilização é colaborativo e descentralizado. A marca com o símbolo da manifestação, que está no site contraacorrupcao.com.br, por exemplo, já foi usado neste fim de semana por pessoas que distribuíram panfletos na Praia de Ipanema.

Para Cristine, manifestações como essa podem provocar resultados práticos e efetivos contra a corrupção:

- O barulho é tamanho no Brasil inteiro que (as manifestações) vão fazer com que as autoridades repensem e que as pessoas aprendam a votar. Quem votou neles foi a gente. É hora de começar a pensar.

FONTE: O GLOBO

Colóquio "Comunistas Brasileiros: cultura política e produção cultural"

Apresentação

O fenômeno comunista no Brasil e no mundo, situado dentro da tradição mais ampla das esquerdas na história contemporânea, é um dos temas mais complexos e multifacetados da historiografia e das ciências humanas como um todo, propiciando abordagens nos campos da política, cultura, economia, antropologia, artes, comunicação, entre outros. No decorrer do século XX o cenário político foi polarizado pela presença do projeto comunista e sua promessa de instalar o reino da igualdade entre os homens, que se tornou um horizonte de expectativa para milhões de pessoas. Tão grande o seu poder de sedução e, conseqüentemente, a sua força política, que engendrou adversários poderosos, militantes da causa de salvar o mundo do comunismo, frequentemente tomado como sinônimo de regime antidemocrático e totalitário.

No Brasil, as idéias e a cultura comunista encontraram aderentes dedicados a partir do início dos anos 1920, quando intelectuais e líderes sindicais de esquerda se deixaram entusiasmar pelos sucessos da Revolução de 1917 e se propuseram a organizar um partido nos moldes soviéticos, o Partido Comunista do Brasil, posteriormente, Partido Comunista Brasileiro (PCB). Inicialmente, sua influência se restringiu a pequenas camadas sociais das principais zonas urbanas, mas, com a adesão de Luis Carlos Prestes (e a apropriação e ressignificação do mito prestista originário dos movimentos tenentistas dos anos 1920), o Partido Comunista ganhou condições de crescimento para além das suas bases originais. Após a Segunda Guerra, a influência do comunismo viveu seu momento de auge, alimentada pela força dos seus principais mitos (Prestes, o cavaleiro e mártir, após sua prisão em 1936, e a URSS, “nação proletária” vencedora do nazi-fascismo). Além disso, a partir de meados dos anos 1940, o enraizamento do partido nos movimentos sociais então existentes, sobretudo o sindical urbano, também ajudou a disseminar os valores do Partido. Outro índice da capacidade de atração dos valores comunistas foi o número significativo de intelectuais e artistas que se ligou ao PCB, que, por sua vez, serviam como chamariz para novas adesões.

Fenômeno longevo na história brasileira, ao qual se poderia facilmente aplicar as categorias temporais braudelianas (a média duração), o comunismo pecebista deitou raízes na sociedade e no debate político-cultural brasileiro, ainda que não tenha logrado atingir as grandes massas proletárias do país. No entanto, e apesar dos esforços repressivos do Estado e de várias campanhas anticomunistas, as idéias e valores provenientes da cultura comunista circularam no espaço público, encontrando abrigo em periódicos, editoras e livros, e influenciaram a produção artística e cultural em suas diversas expressões, desde o romance, a poesia e o teatro, até o cinema e a televisão.

Na historiografia e nas ciências sociais, a temática do comunismo tem atraído a atenção dos pesquisadores há bastante tempo. Porém, tal produção acadêmica tendeu, majoritariamente, a tratar o tema partindo de abordagens clássicas, como o funcionamento das instituições partidárias, o debate programático, a repressão política, o papel das lideranças, as ligações com o movimento sindical, entre outras. Não se pretende aqui criticar tal produção, ao contrário, reconhecemos sua fundamental contribuição aos estudos do fenômeno comunista no Brasil. Mas a proposta deste Colóquio é reunir trabalhos e pesquisadores dedicados ao tema a partir de outro viés, capaz de lançar luz sobre aspectos ainda pouco explorados. Interessa-nos, sobretudo, abordar os comunistas e o comunismo (de filiação pecebista, sobretudo), simultaneamente, como cultura política e como agência produtora de cultura. Por cultura política entendemos um conjunto de valores, tradições, práticas e representações políticas partilhado por determinado grupo humano, que expressa uma identidade coletiva e fornece leituras comuns do passado, assim como fornece inspiração para projetos políticos direcionados ao futuro. E na acepção utilizada aqui, vale a pena esclarecer, a categoria representações configura conjunto amplo que inclui ideologia, linguagem, memória, imaginário e iconografia, capaz de mobilizar e produzir mitos, símbolos, discursos, vocabulários e uma rica cultura visual (cartazes, emblemas, caricaturas, cinema, fotografia, bandeiras etc).

A análise de fatores culturais como valores, crenças, normas e representações ajuda a esclarecer e a compreender as múltiplas facetas do político, notadamente a origem de certas formas de ação e de comportamento na esfera pública que não se explicam somente pela determinação de interesses individuais ou coletivos, mas também pela influência de valores e paixões, bem como pela força da tradição ou do costume. E o projeto comunista engendrou uma cultura política das mais sólidas e complexas, produto da mescla entre elementos nacionais e internacionais, resultando em um conjunto de valores, convicções e representações que alimentou o debate político e a atuação de intelectuais, artistas e produtores culturais.

Assim, a motivação do Colóquio é entender melhor os elementos constituintes da cultura comunista/pecebista, cujos valores e idéias circularam para além dos espaços tradicionais da esquerda, fornecendo temas e argumentos para os agentes culturais, assim como inspirando determinadas políticas culturais. Ao centrar o foco das análises tanto na cultura quanto na produção cultural comunista teremos melhores condições de compreender os mecanismos que explicam sua força de atração e capacidade de reprodução ao longo do tempo e, quem sabe, dimensionar de maneira mais acurada a sua influência no debate político-cultural brasileiro.

Marcos Napolitano (USP)
Rodrigo Patto Sá Motta (UFMG)
Rodrigo Czajka (UFVJM)

PROMOÇÃO

 Departamento de História / Universidade de São Paulo
 Programa de Pós-Graduação em História Social / USP

APOIO:
 CAPES
 Pró-Reitoria de Pesquisa / Universidade de São Paulo
 Departamento de História / USP
 Programa de Pós-Graduação em História Social/USP
 Programa de Pós Gradução em História / Universidade Federal de Minas Gerais
 Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e do Mucuri

Informações e inscrições

 Maiores informações sobre o colóquio podem ser obtidas pelo e-mail:
coloquiocomunistas@gmail.com
 As inscrições para o Colóquio poderão ser feitas, gratuitamente, na Secretaria do Departamento de História da Universidade de São Paulo (Av. Prof. Lineu Prestes 338, Cidade Universitária, São Paulo (SP), entre 14hs e 19hs. O evento disponibiliza 180 vagas, com direito a certificado de participação.
 Para ter direito ao certificado, será necessário assistir ao menos 4 das 6 mesas previstas no programa.

Programa do Colóquio: “Comunistas brasileiros: cultura política e produção cultural”

Segunda feira (3/outubro

Abertura – 9h00

Mesa 1 (9h30-12h00): Cultura política e representações comunistas

 Rodrigo Patto Sá Motta (UFMG): A cultura política comunista: alguns apontamentos
 Paula Elise Ferreira Soares (UFMG): O camponês na cultura política comunista
 Marcelo Ridenti(UNICAMP): Brasilidade revolucionári

Mesa 2 (14h30-17h00): Dramaturgia comunista: conexões do teatro e audiovisual

 Reinaldo Cardenuto (ECA/USP e FAAP): A sobrevida da dramaturgia comunista na televisão dos anos 1970: o percurso de um realismo crítico em negociação
 Igor Sacramento (UFRJ): Por uma teledramaturgia épica: a experiência dos dramaturgos comunistas na televisão.
 Denise Rollemberg (UFF): O encontro de Dias Gomes com a Globo e o grande público. O intelectual comunista sob ditadura.

Terça feira (4 de outubro)

Mesa 3 (9h30-12h00): Políticas culturais

 Carine Dalmás (USP): Propostas e concepções político-culturais do PCB e do Partido Comunista do Chile entre 1935 e 1956: aportes do estudo comparado à história do comunismo na América Latina.
 Miliandre Garcia (UVJM): A gestão de Orlando Miranda no SNT e os paradoxos da “hegemonia cultural de esquerda”
 Francisco Alambert (USP): Comunistas e Tropicalistas

Mesa 4 (14h30-17h00): Intelectuais e vida partidária

 Rodrigo Czajka (UVJM): “A luta pela cultura”: intelectuais e o Comitê Cultural do PCB
 Lincoln Secco (USP): Caio Prado Junior como intelectual comunista
 Paulo Cunha (UNESP-Marília-SP): Nelson Werneck Sodré: uma militância entre o Sabre e a Pena

Quarta feira (5/outubro)

Mesa 5 (9h30-12h00): Palavra e engajamento (literatura, imprensa)

 Eduardo Tollendal (UFU): Arte revolucionária, forma revolucionária: o romance de José Godoy Garcia
 Marco Roxo (UFF): Jornalistas comunistas: trajetórias sinuosas entre o jornalismo e política
 Martin Cezar Feijó (Universidade Mackenzie): O comunista e o hippie: Uma interpretação histórico-cultural da peça “Rasga-Coração”, de Oduvaldo Vianna Filho (1967-1974.

Mesa 6 (14h30-17h00): Comunistas e resistência cultural durante o regime militar

 Marcos Napolitano (USP): A “estranha derrota”: os comunistas e a resistência cultural durante o regime militar
 Miriam Hermetto (UFOP): Práticas de resistência cultural no Grupo Casa Grande (1975-1978): o frentismo comunista contra a ditadura
 Arnaldo Contier (USP e Universidade Mackenzie): O Centro Popular de Cultura, Sérgio Ricardo e a canção engajada nos anos 60.

FONTE: USP

Qualidade em xeque:: Merval Pereira

O resultado do mais recente Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), que revelou um incrível desnível das escolas públicas em relação às escolas privadas do país, além de colocar em discussão a qualidade do ensino em si, está também acendendo o debate sobre a eficácia dos diversos mecanismos de avaliação da educação no país.

O movimento "Todos pela Educação", aliança de empresários brasileiros cujo objetivo é garantir educação básica de qualidade para todos os brasileiros até 2022, ano do bicentenário da Independência, está aprofundando uma análise das avaliações, pois há pesquisadores questionando os resultados medidos pelo Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) ou pelo Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos).

Questões de amostragem podem pôr em xeque os avanços registrados, que, embora para o ministro da Educação Fernando Haddad pareçam evidentes, são questionados por educadores.

O Brasil ficou em 53º lugar, entre 65 países, numa prova que avaliou a capacidade de leitura de alunos de 15 anos. O Pisa ainda avaliou habilidades em Matemática e Ciências.

Mas, segundo relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil teve "um grande ganho" na nota de leitura nos últimos anos. Apesar disso, ainda fica atrás de Chile (44º ), Uruguai (47º ), Trinidad e Tobago (51º ) e Colômbia (52º ). Em Ciências, os estudantes brasileiros obtiveram 405 pontos, e, em Matemática, 386 (contra 600 da China).

Fernando Veloso, especialista em educação do IBRE/FGV, lembra que os resultados do Enem, por ser este um teste voluntário, não devem ser interpretados como uma medida de qualidade do ensino médio. Para analisá-la, seria melhor usar os resultados do Pisa e do Ideb, que se baseiam em amostras representativas do total de alunos.

Veloso diz que os resultados do Pisa e do Ideb mostram "uma evolução da qualidade da educação no Brasil, embora ainda lenta, principalmente no ensino médio".

Os resultados recentemente divulgados da prova ABC, que avalia leitura, escrita e Matemática ao fim do 3º ano do ensino fundamental, também mostram enorme disparidade no desempenho das escolas públicas e particulares, assim como revelou o Enem.

Embora possam refletir diferenças de gestão, Veloso diz que elas estão relacionados às diferenças nas condições socioeconômicas dos alunos das redes pública e particular.

Como desenhar intervenções que reduzam o impacto das condições socioeconômicas no desempenho dos alunos é uma questão muito debatida hoje nos EUA, diz Veloso. Têm surgido experiências promissoras, que combinam maior duração do dia e do ano letivos, avaliações frequentes de professores e alunos e preocupação em estimular características como disciplina, motivação e persistência.

O ponto importante, diz, é que as intervenções de sucesso consistem em uma combinação de determinadas ações adaptadas a cada contexto específico. "Portanto, são algo muito diferente de simplesmente abrir novas creches ou aumentar o tempo na escola".

Na mesma linha vai o educador Arnaldo Niskier, ex-secretário estadual de Educação e membro da Academia Brasileira de Letras. Embora admita que a escola está sendo submetida a avaliações de todo o tipo, "o que é um mau, toma um tempo precioso do que interessa mesmo, que é dar aula, ministrar conhecimento", Niskier lembra que o país viveu "sem avaliação 500 anos e nunca se teve instrumentos para se medir com precisão o que deveria ser feito para melhorar a qualidade do ensino, que é o que está em jogo".

O que é inequívoco, diz, é que para quem tem uma escola boa, qualquer que seja a avaliação, o resultado será o mesmo. "É o caso do São Bento, uma escola de qualidade há cem anos, baseada numa educação humanista".

Ele cita várias razões para os avanços e recuos do ensino, especialmente a formação dos professores: "Eles são muito mal remunerados e mal formados no início da carreira, e não têm a formação continuada que nos países desenvolvidos é permanente. Se o professor não se atualiza, o aluno perde o respeito intelectual pela figura do mestre".

Niskier lembra que o Rio já teve a liderança pedagógica do país, e que, de uns tempos para cá, enquanto o ensino privado vai bem, o ensino público no estado "é caótico".

Frisa que o colégio São Bento, considerado o melhor do país, tem tempo integral: o aluno entra às 7h30m e sai às 18h20m. No sistema público, o máximo são quatro horas.

Para Niskier, nas escolas particulares bem colocadas no Enem "se pratica a disciplina de forma bastante séria, em que o aluno não é dono da escola; quem manda é o professor. Nas públicas é onde ocorrem os maiores fenômenos de indisciplina e violência, por distorção de prioridades".

Para o educador, "o Brasil não pode dormir tranquilo com sua educação nos últimos lugares no âmbito internacional. A economia está crescendo, oferecendo novas oportunidades, mas vamos bater em uma barreira que é a ausência de recursos humanos qualificados".

João Batista Oliveira, do Instituto Alfa e Beto, considera que os dados do Pisa revelam que nossos alunos sabem ainda menos Matemática que Português. O Pisa é para alunos de 15 anos, e o Enem, para quem têm em torno de 17 anos; portanto, são aplicados a gerações muito próximas.

"Os resultados de um são espelhados no resultado de outro. E, claro, refletem que não houve mudanças na educação que justificassem mudanças nos resultados".

Ele diz que a estabilidade das avaliações reflete a boa qualidade dos testes: testes bem feitos só mudam muito se houver mudanças dramáticas num sistema educacional. Diz que há poucas semanas o "Todos pela Educação" apresentou pesquisa com alunos do 3º ano em 2011, "cujos dados mostram que a aprendizagem continua muito baixa".

Para Oliveira, "salvo milagre, a continuar como vão esses alunos, daqui a nove anos eles vão repetir esses resultados no Enem". Em síntese, diz, "não há nada no panorama educacional brasileiro que justifique razão para otimismo".

O nome correto do presidente do IBP é João Carlos França de Luca, e não José Carlos como escrevi na coluna de ontem.

FONTE: O GLOBO

Uma mulher na Onu:: Eliane Cantanhêde

O presidente brasileiro abre as assembleias gerais da ONU todos os anos, e Dilma Rousseff é a primeira presidente mulher do Brasil. Logo, ela será a primeira mulher a abrir a Assembleia Geral da ONU.

Essa equação, basicamente burocrática, tem um resultado bastante político: a chance de Dilma estrear triunfalmente no palco internacional, nesta semana, em Nova York.

Ela vai capitalizar ao máximo a condição de mulher que lutou e sofreu pela democracia, enfrentou e venceu um câncer e foi eleita por um dos maiores eleitorados do mundo para presidir um país que ganha cada vez mais peso no cenário internacional.

Vai ter encontros bilaterais com os alguns dos principais líderes do planeta: Obama, dos EUA, Sarkozy, da França, e Cameron, do Reino Unido. E vai a reuniões paralelas sobre transparência governamental, segurança nuclear e combate ao câncer e à diabete. Além de receber dois prêmios, um de líder política, outro na área de saúde.

Se dependesse apenas do Itamaraty, Dilma faria um discurso frio, contido, correto, mas não combina com seu estilo. Assim, ela consultou as notas e sugestões enviadas pelo chanceler Patriota e encomendou acréscimos à Fazenda e à Saúde, para apimentar o conteúdo.

Em resumo, vai ratificar o apoio ao Estado Palestino num momento crucial, cobrar maior equilíbrio no mundo e maior responsabilidade dos países ricos, fazendo propaganda do modelo brasileiro, ou "lulista", baseado em paz, desenvolvimento e inclusão social. Enquanto o Brasil inclui aos milhões, os EUA, a Grécia, a Espanha... excluem também aos milhões. Os miseráveis batem recorde nos EUA.

Quase sempre, o discurso vira manchete na imprensa brasileira e passa em branco na internacional. Mas Dilma não vai falar para jornalistas nem para o público em geral e sim para centenas de líderes mundiais que a estarão ouvindo ao vivo, em cores. Boa sorte!

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Pode ser que me engane...:: Ferreira Gullar

Os principais fundadores do PT deixaram o sonho do igualitarismo e cuidam de seu próprio enriquecimento

Dando curso a minha tentativa de entender quem é esse cara chamado Lula, acrescento à crônica que publiquei aqui, faz algumas semanas, novas observações.

Por exemplo, fica evidente que Lula e seu pessoal, ao chegar ao poder, elaboraram um plano para nele permanecer. Aliás, José Dirceu chegou a afirmar isso, poucos meses depois da posse de Lula na Presidência: "Vamos ficar no poder pelo menos 20 anos".

O mensalão era parte do plano. Descartar o PMDB e aliar-se a partidos pequenos para, em vez de lhes dar cargos ministeriais, lhes dar dinheiro. Sim, porque, para permanecer 20 anos no poder, era necessário ocupar a máquina do Estado, tê-la nas mãos, de modo a usá-la com finalidade eleitoral.

Por isso, um dos primeiros atos de Lula foi revogar o decreto de Fernando Henrique que obrigava a nomeação de técnicos para cargos técnicos. Eliminada essa exigência, pôde nomear para qualquer função os companheiros de partido, tivessem ou não qualificação para exercer o cargo.

Ocorreu que Roberto Jefferson, presidente do PTB, sublevou-se contra o mensalão e pôs a boca no mundo. Quase acaba com o governo Lula. Passado o susto, ele teve que render-se ao PMDB e distribuir ministérios e cargos oficiais a todos os partidos da base aliada. Não por acaso, os 26 ministérios que recebera de FHC cresceram para 37, mais 11.

No primeiro momento, ele próprio deve ter visto isso como uma derrota, mas, esperto como é, logo percebeu que aquele poderia ser um novo caminho para alcançar seu principal objetivo, isto é, manter-se no poder.

Se já não podia comprar os partidos aliados com a grana do mensalão, passou a comprá-los com outra moeda, entregando-lhes os ministérios para que os usassem como bem lhes aprouvesse: dinheiro ali é o que não falta. E assim, como se vê agora, nos ministérios dos Transportes, da Agricultura, do Turismo, cada partido aliado montou seu feudo e passou a explorá-lo sem nenhum escrúpulo.

Lula, pragmático como sempre foi, fazia que não via, interessado apenas em contar com o apoio político que lhe permitiria garantir a sucessão, isto é, eleger Dilma. Essa candidatura inusitada -que surpreendeu e desagradou ao próprio PT- era a que convinha a ele, pelo fato mesmo de que se tratava de alguém que jamais sonhara com tal coisa e que, por isso mesmo, jamais se voltaria contra ele ou contrariaria seus propósitos. Não é por acaso que, regularmente, eles se encontram em jantares a dois, para acertarem os ponteiros e ele lhe dizer o que fazer.

Não estou inventando nada. Não só ambos já admitiram esses encontros como ela, recentemente, respondendo a uma jornalista que lhe perguntou se discordava de Lula, respondeu:

"Não posso discordar de mim mesma". Isso não exclui, porém, um fator contraditório: a necessidade que ela tem, como a primeira mulher presidente do Brasil, de afirmar sua autonomia.

Cabem aqui algumas considerações. Todos sabem que o PT, nascido partido da esquerda revolucionária, não admitia deixar o poder, uma vez tendo-o conquistado. Os demais partidos aceitam a alternância no poder porque estão de acordo com o regime.
Já o partido revolucionário vem para implantar outro regime, que exclui os demais partidos. É claro que esse era o PT de 1980, que não existe mais, mesmo porque, afora o pirado do Chávez, ninguém em sã consciência acha que vai recomeçar o socialismo em Macondo, quando ele já acabou no mundo inteiro.

Disso resulta que os principais fundadores do PT abandonaram o sonho da sociedade igualitária e cuidam de seu próprio enriquecimento. Por esperteza e conveniência, porém, tentam fingir que se mantêm fiéis aos ideais socialistas. Desse modo, dizendo uma coisa e fazendo outra, enganam os mal informados, enquanto usam o poder político e institucional para intermediar interesses de grupos econômicos nos contratos com o Estado brasileiro.

Ideologicamente, é preciso distinguir Lula do PT, ou de parte dele, que não consegue aceitá-lo como um partido igual aos outros nem perceber Lula como ele efetivamente se tornou. Nada mais esclarecedor do que vê-lo chegar a Cuba em companhia do dono da Odebrecht, no avião particular deste, para acertar as coisas com Fidel Castro.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Nosso Estado de sinecuras:: José de Souza Martins

Vícios do tempo da corte ainda norteiam a concepção do mandato: o eleito assume levando consigo ideias de poder e "direitos" ilegais

Sai um ministro do Turismo representante do Maranhão e entra outro ministro do Turismo também representante do Maranhão. Ambos apadrinhados de um senador que representa os interesses do Maranhão, mas se elege pelo Amapá. É nesse nó que está o modelo estrutural da trama do Brasil oligárquico, o Brasil que manda, mais do que o Brasil que governa. De comum entre eles há o fato de que nenhum dos dois entende nada de turismo. E isso importa pouco. O que importa é ter poder.

Nesse nó está o miolo do que é a democracia brasileira e está também a matriz estrutural da corrupção, que dela se nutre. No currículo do ministro que entra, o uso de suas funções federais para concretizar obras municipais, deputado federal atuando como prefeito e vereador quando, para isso, já existem as instituições e os mandatos municipais. No currículo do ministro que sai, constam as suspeitas de que, durante anos, pagou com dinheiro público a governanta de seu apartamento em Brasília e o motorista particular de sua mulher, além de referências à liberação de recursos para empreiteiras fantasmas em seu Estado. Há aí uma mentalidade de corte na concepção do mandato. O eleito carrega consigo ideias de poder pessoal e arcaicos e ilegais direitos de prebenda, que no passado eram as rendas vitalícias dos canônicos. No período colonial, eram eles os chamados "pais da pátria", patriarcas de largas famílias de parentes e agregados que se abrigavam sob sua proteção segura. Muitas das figuras da nossa política ainda pensam e agem assim.

Naquele tempo, pátria era ainda a localidade do pai da extensa parentela. Com o tempo, os "filhos da pátria" e de pais economicamente decadentes foram se abrigando nas funções públicas e nas chamadas mamatas, nutrindo-se do peito farto e generoso do Estado. O Estado brasileiro ainda é mais um Estado prebendário do que um Estado democrático.

O município, na história brasileira, nasceu republicano e em oposição e limitação aos poderes centralizados da Coroa. Coroa com poderes mais simbólicos do que reais, em boa parte assentados na religião, valeu-se dos bens privados dos súditos para instituir o público do governo, recompensando os particulares com honrarias que se transformavam em poder e dinheiro. Alternativo e oposto ao poder centralizado e tendencialmente antidemocrático, o município capturou e subjugou desde cedo os ímpetos democráticos dos setores esclarecidos da opinião pública, que lentamente se difundiram entre nós.

Como já assinalou Victor Nunes Leal, nossa história política tem sido a do movimento pendular que alterna centralização e ditadura, de um lado, e descentralização e democracia, de outro. Descentralização significa entre nós o protagonismo político do município e nesse marco nossa democracia é prisioneira há muito do localismo antiquado, essencialmente antidemocrático, pois se apoia ainda em resquícios de poder pessoal. Não é à toa que nosso senso comum político veja com simpatia a ditadura, tida indevidamente como punitiva e "honesta", e considere a democracia como sinônimo de impunidade e corrupção. É que, na verdade, "nossa" corrupção é expressão de atraso e arcaísmo, apoiada nas nossas mais antiquadas tradições políticas, a do tudo pode do patriarcalismo ainda forte nas províncias remotas do País. Remotas porque politicamente distantes do mundo moderno.

Não é estranho outro episódio de corrupção, destes dias, ocorrido no Rio de Janeiro. PMs cooptados pelo tráfico, com propina entregue em casa, para se manterem nos postos policiais em vez de fazerem rondas na favela, especialmente nos fins de semana, dias de maior movimento e comércio de drogas. Tornaram-se funcionários do crime, vestindo farda e recebendo salário do governo do Estado. Não é estranho porque, remotamente, nossas polícias surgiram como alternativa para o jagunço privado dos potentados locais, quando se constituiu o Estado nacional. Quando do combate ao cangaço, nos anos 20 e 30, literalmente não havia diferença entre a composição dos bandos de cangaceiros e a composição da polícia que os combatia. No fundo, os policiais não atuavam como agentes do serviço público, mas como cangaceiros do Estado. A mentalidade era a mesma. O recrutamento dos policiais ainda se dá na camada da população mais próxima da mentalidade localista, para a qual os valores e distinções de público e privado são tênues e em que a farda legitima ímpetos de poder pessoal e não a impessoalidade do Estado.

Um dos erros na análise da corrupção no Brasil é o de tratá-la como anomalia e corpo estranho tanto na sociedade quanto no governo. Como se tivéssemos um sistema político instituído sobre a premissa da honestidade e uma sociedade movida e motivada pela ética. Essa história vem de longe. Morrem os velhos corruptos e longe do mal se extinguir, logo há vários para substituí-lo. As estruturas profundas da sociedade brasileira encarregam-se de regenerar a corrupção e a mentalidade que lhe corresponde.

José de Souza Martins, sociólogo e professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP, é autor de A política do Brasil Lúmpen e Místico (Contexto)

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO/ALIÁS

Fenômeno solar :: Alberto Dines

Para ganhar notoriedade deveria ter um codinome, talvez sigla (algo como ADM, Agenda Diária Mundial) e, para ostentar respeitabilidade adotar uma palavra da Antiguidade Clássica, soa sábia. Speculum, do latim, viria a calhar: o espelho, amigo-algoz, é na verdade uma compulsão que nos obriga a especular sobre as transcendências cotidianas.

No espelho diário do noticiário, abarrotado com premências, acumulam-se contradições, confusões, mistificações e simploriedades. No País, o combate à corrupção parece prioritário. A presidente Dilma Rousseff acumula pontos ao completar a marca de quatro ministros demitidos por improbidade nos seus 285 dias de governo. Mas a demissão é um castigo volátil sujeito a uma rápida diluição, só funciona nas rememorações, no âmbito do Google e demais buscadores de dados.

Antônio Palocci está hoje confortavelmente instalado na galeria dos esquecidos, assim também Alfredo Nascimento e Wagner Rossi, aos quais se juntará dentro de dias o "turista" Pedro Novais. Se demitir mais três até o fim do ano - o que seria plenamente justificável - a presidente-faxineira não terá neutralizado substancialmente a imoralidade instalada na máquina pública. Enquanto o senador José Sarney manter-se como vice-rei de uma República cada vez menos republicana, o Estado continuará administrado pela inépcia e pelo despudor.

O Estado está na berlinda: a extrema-direita mundial, inspirada no Tea Party das charmosas matronas Sarah Palin e Michele Bachman, quer castrá-lo. A ala canibal do sistema financeiro internacional não se importa com fraudadores como Kweku Adoboli que acaba de dar um golpe de US$ 2 bilhões no suíço UBS (o equivalente à economia gerada pelo corte 3.500 empregos), nem com Jérôme Kerviel que deu sumiço em US$ 6,8 bilhões na Societé Générale. Os especuladores não querem controles, não querem regulação, abominam o Estado responsável, precisam da loteria dos derivativos para embolsar bônus bilionários e deixar o mundo dependente de seus delírios.

Nessa sexta-feira, o maior diário esportivo brasileiro, Lance publicou na capa um editorial onde dizia que o governo "não pode assumir o compromisso de realizar a Copa sem saber no que está se metendo." O editorial foi estampado pela primeira vez em 28 de setembro de 2006, há exatos cinco anos. Na mesma sexta-feira, O Globo instalou uma espécie de ampulheta em sua primeira página: "Faltam 1.000 dias, 52 obras, 12 estádios, leis e uma seleção". Falta tudo, inclusive a Lei Geral da Copa. Estamos enfiados numa inexorável corrida em direção ao vexame amparados no cânone único da verdadeira religião brasileira, "Deus é brasileiro".

Seu nome não deveria ser invocado em vão como preconiza o Primeiro Mandamento. Mas os fanáticos terroristas agem em seu nome, assim também aqueles que se empenham na guerra ao terror. Na Cisjordânia, alegando inspiração divina ocupa-se território alheio, impede-se a soberania de um povo enquanto litigantes e apoiadores fazem questão de esquecer a decisão da ONU aprovada há 64 anos determinando a partilha da ensanguentada Terra Santa.

A primavera árabe pretendia liquidar a opressão e entronizar o Estado de Direito, mas na Líbia recém-liberada seus novos dirigentes prometem adotar uma democracia islâmica. Não muito longe, em Túnis, o premiê turco Recep Erdogan quer ajudá-los, tenta desfazer a contradição e cai em outra, maior: "Um cidadão não precisa ser laico, mas o Estado sim". Ora, se o Estado tem uma religião, não é laico.

A Agenda Diária Mundial está em rebuliço, doida. O espelho está embaçado. Culpa da nova série de explosões solares.

Alberto Dines é jornalista

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Chico Buarque - Pedro pedreiro

Nascem flores no pântano :: Gaudêncio Torquato

A flor de lótus nasce no pântano. Exibe beleza e força. Das águas lodosas desabrocham flores brancas, imaculadas, uma perfeição da natureza. A imagem da flor foi usada, faz bom tempo, neste espaço para expressar a crença de que no meio do caos há uma réstia de esperança. A frase era: "A política chegou ao fundo do poço em matéria de moral. Mas não morreu a esperança de nascer uma flor no pântano". Saulo Ramos, jurista e sábio, e também um incréu, pinçou a alegoria em seu livro Código da Vida para atribuí-la aos "puros, os poetas, os idealistas", não sem fazer votos para que "eles tenham razão" na pregação.

Pois bem, a política continua cercada de lama por todos os lados, mas são inegáveis as flores que nascem aqui e ali, sob os cuidados atentos de uma gente de fé que junta forças e motivação para deixar o conforto de sua casa e organizar uma Marcha Contra a Corrupção, dando-se as mãos, erguendo faixas, ecoando palavras de ordem, clamando por decência. As manifestações do dia 7 de setembro, em Brasília e em outras regiões, mostram que o Brasil está longe de ser um gigante adormecido em berço esplêndido. Fazia tempo que não se distinguiam, em rostos juvenis, as cores verde e amarela, traços da estética cívica que o Brasil tem gravados desde os tumultuados idos do impeachment de Collor.

Há uma chama iluminando parcela considerável da consciência social. Ou, para usar outra imagem, um rastilho de pólvora se infiltra em numerosos espaços, pronto para receber o fósforo da explosão. A escalada ética que se descortina neste instante é emoldurada, de um lado, pelo desenho da assepsia que a presidente Dilma Rousseff realiza em estruturas críticas da administração federal e, de outro, por atos corporativos como o da Câmara ao inocentar a deputada federal Jaqueline Roriz, flagrada em indecoroso gesto de receber dinheiro suspeito.

A mobilização social pela moralização de costumes e práticas na política ganha volume ao impulso das redes sociais, sendo este, aliás, um fenômeno que se amolda ao modo de pensar e agir das correntes da sociedade. O fato é que os milhões de internautas que usam cotidianamente as redes tecnológicas da comunicação - beirando 50 milhões de pessoas - configuram um poderoso núcleo irradiador de informações e visões e, como tal, funcionarão como pulmões a oxigenar o coração da opinião pública. Não há mais como deixá-los à margem do processo comunicacional brasileiro. Doravante deverão ser avaliados sob o prisma da articulação e da mobilização, sendo demonstração cabal de seu poderio a convocação da Marcha Contra a Corrupção, sob a égide exclusiva das teias sociais.

Ao lado do fator tecnológico, que confere ao Brasil posição de destaque no ranking da internet mundial, é oportuno atentar para a organicidade social. O País alcança grau elevado no que concerne à organização de grupos, núcleos, categorias profissionais, gêneros, raças e etnias. O IBGE acaba de catalogar 338 mil organizações não governamentais. Adicione-se o exército composto pelos batalhões informais para contabilizar cerca de meio milhão de entidades jogando fermento na massa nacional.

Voltemos às flores do pântano, para lembrar que sua proliferação se deve, também, ao denso composto organizacional aqui formado. É inegável que os últimos ciclos governamentais privilegiaram a articulação com movimentos da sociedade, que foram incentivados a tomar assento na mesa de políticas públicas e em foros de participação política. Reforço a essa estratégia foi proporcionado pelo universo político, na esteira de crises intermitentes que o consomem e que se apresentam ao crivo da opinião pública sob o desfile de denúncias de abusos, desvios, flagrantes de conchavos, prisões escandalosas, etc.

Nossa democracia representativa vive o clímax de sua crise crônica. Eventos negativos se sucedem. A escatologia da política pantanosa transparece em exibições midiáticas e, agora, frequenta a lupa de milhares de olheiros e analistas das redes, que não se furtam a expressões virulentas contra os atores flagrados com a boca na botija. Portanto, ante o refluxo e o descenso do poder centrífugo - o poder das instituições políticas - emerge, abrindo novas fronteiras, um poder centrípeto, que se movimenta a partir das margens sociais em direção ao centro. No espaço intermediário da pirâmide social - e essa é a observação a frisar - abrigam-se novos grupamentos médios, vindos de baixo, os quais começam a se iniciar nas artes e técnicas usadas pelas classes tradicionais. Essa faceta da composição social passa a gerar efeitos sobre o modo nacional de pensar. A dedução é que as marolas no meio da lagoa pantanosa se multiplicam, com possibilidade de deflagrar uma cadeia homogênea de pressões e interações, as quais, por sua vez, fazem o papel de filtro contra o lodo.

É interessante observar que o dicionário da política, antes restrito a meia dúzia de letrados, começa a ganhar locução aberta e irrestrita nas redes da internet. Conceitos como reforma política, sistema de voto, qualidade da representação, renovação e até posições individuais de atores políticos passam a ser acompanhados de maneira atenta. E essa corrente pode vir a alargar as ondas da reforma política. Com maior clareza sobre coisas como voto em lista, voto distrital, distritão, tais instrumentos poderão compor o debate imediato sobre essa reforma, principalmente quando lideranças, como Lula, se dispõem a colocar a temática na agenda nacional.

O fato auspicioso é que a consciência cívica dá sinais de alerta nestes tempos de intensa mudança de quadros, troca de ministros e de mutirões de mobilização, destinados a permanecer nas redes sociais. No dia 12 de outubro, a convocação pela via eletrônica sinalizará uma nova marcha, desta feita pela educação e contra a corrupção.

Não há por que deixar de crer - e ver - que resplandecem flores no pântano.

Jornalista, é professor titular da USP e consultor político e de comunicação

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

O fundo de pensão dos servidores:: Suely Caldas

Entre as matérias que quer aprovar rapidamente no Congresso, o governo deu prioridade à criação do Funpresf, o fundo de pensão que vai complementar a aposentadoria de servidores públicos que desejarem receber acima do teto de R$ 3.689,66, fixado pelo INSS para trabalhadores do setor privado. Válido só para quem ingressar no funcionalismo federal após sua promulgação, o fundo será capitalizado com contribuições do governo (até o limite de 7,5% do salário) e do funcionário ao longo de sua vida ativa. O projeto já passou por duas comissões na Câmara, será submetido a mais duas e só depois irá ao plenário para votação. Até concluir a tramitação no Senado, sua aprovação final deve ocorrer em meados de 2012. A proposta de criação do fundo chegou ao Congresso em 2003 e por lá dormitou por sete anos, pois o ex-presidente Lula dela desistiu, pressionado pelas centrais sindicais. Dilma Rousseff decidiu retomá-la. Não é a reforma que a Previdência precisa, mas ao menos busca estancar o enorme déficit bancado pelo Tesouro, que em 2011 somará R$ 57 bilhões.

Quando a ideia nasceu - e lá se vão sete anos -, o governo Lula acreditava que ela vingaria também nos Estados e municípios: governadores e prefeitos fariam germinar centenas de fundos de pensão para seus servidores Brasil afora. Seria a solução não só para estancar os infindáveis e gigantes déficits previdenciários de Estados e municípios. Criaria um sistema sustentável e seguro para o servidor e ainda contribuiria para elevar a taxa de poupança da economia brasileira, que precisa chegar a 25% do PIB para alavancar investimentos, mas é a mais baixa entre todos os países emergentes e patina em 17%.

Na época, governadores e prefeitos se entusiasmaram com a ideia, mas logo desistiram ao perceber que dela não tirariam vantagem financeira durante seus mandatos. É que nos primeiros 15 anos de vigência do novo sistema os governos vão mais gastar do que economizar com a previdência, já que vão arcar com duas despesas: o pagamento dos benefícios pelo sistema atual e a contribuição mensal da capitalização do novo fundo. O futuro servidor pode escolher ficar fora do fundo, mas terá a aposentadoria limitada a R$ 3.689,66. Ou pagará para receber acima disso.

Mas, se o governo gasta mais no curto prazo, quem ganha com a proposta?

Só este ano o Tesouro vai bancar R$ 57 bilhões para cobrir o déficit previdenciário da União, concentrado em apenas 950 mil pessoas. Duas comparações para medir essa injusta concentração da renda pública: o déficit do INSS, de R$ 39 bilhões, é 32% menor e abrange 24 milhões de aposentados e pensionistas; o Bolsa-Família custa ao País 72% menos (R$ 16 bilhões) e beneficia 12 milhões de famílias, ou cerca de 50 milhões de pessoas. Se o déficit é equacionado e o dinheiro, economizado a médio prazo, ganham 190 milhões de brasileiros, principalmente os mais pobres que podem aspirar à educação e à saúde de melhor qualidade e redes de esgoto e água tratada, se os futuros governantes aplicarem o dinheiro poupado com justiça e honestidade. E, se os governadores também aderirem à ideia, aliviando o déficit de R$ 31 bilhões dos Estados, ganha a economia do País, com fundos de poupança que ajudam a fomentar o investimento público e multiplicar empregos. Ganha o próprio servidor público, que passa a ter um sistema previdenciário estável e seguro. E, sobretudo, ganham as futuras gerações, porque sairá de suas costas o peso de pagar cada vez mais caro por um sistema inviável.

Mesmo que gastem mais nos primeiros 15 anos, governadores e prefeitos serão vistos como responsáveis por, finalmente, equilibrar as contas da previdência, dar uma solução definitiva à questão, estancar a sangria de despesas que ano a ano devora cada vez mais verbas públicas de Estados e municípios e que pode ser revertida em investimentos usufruídos por toda a população. No curto prazo podem gastar um pouco, mas a médio e a longo prazos a população é beneficiada e saberá retribuir ao seu governante. Mas como o político brasileiro pensa pequeno, até agora a ideia só seduziu o governo de São Paulo.

Jornalista e professora da PUC-Rio

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Ruralista troca de lado e semeia apoio a Dilma

De oposicionista de Lula, senadora representante do agronegócio vira parceira do governo e ajuda a votar Código Florestal

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. De forma surpreendente, a senadora ruralista Kátia Abreu (sem partido-TO) passou a ser queridinha no Palácio do Planalto nos últimos meses. Depois de uma atuação fortemente oposicionista nos dois mandatos do governo Lula, a senadora agora já é listada como parceira do governo Dilma. A rápida mudança de posição chama a atenção de antigos aliados da oposição e dos novos parceiros governistas. Kátia já anunciou sua filiação ao PSD, o partido ainda em fase de criação.

Com dificuldade para se ajustar ao novo discurso sem admitir ser adesista ou vira-casaca, a senadora, que também é presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), afirma que permanece na oposição até o fim do seu mandato, em 2014. Mas sua argumentação a respeito de vários temas já é de uma integrante da base aliada.

Perguntada sobre o movimento de recuo da faxina da presidente Dilma no primeiro escalão do governo, a senadora foi só elogios:

- A presidente Dilma não refluiu na faxina. Em toda batalha, há um recuo estratégico. Mas ela vai persistir nisso. Não vai tolerar corrupção. O que tem sido feito é para aplaudir. Se fosse no governo Lula, não cairia ninguém. Esse combate à corrupção vai ser um marco.

O primeiro encontro da senadora com Dilma aconteceu em junho. Em agosto, chamou a atenção do núcleo palaciano o discurso que Kátia Abreu fez na Exporinter - exposição agropecuária internacional no Rio Grande do Sul - com elogios não só à presidente Dilma, mas também ao ex-presidente Lula.

Algo impensável até recentemente. Ainda no DEM, Kátia quase foi candidata a vice do tucano José Serra na eleição presidencial - que rejeitou a ideia de ter uma ruralista na chapa - e na campanha fez duras críticas à dupla petista.

Nos bastidores, ela tem ajudado a construir no Senado consenso para o Código Florestal. Depois da derrota que o Planalto sofreu na Câmara, agora passou a negociar com Kátia solução para o impasse. E ela tem sido flexível, segundo relatos de assessores da presidente.

- Às vezes, é melhor perder o anel do que um dedo - afirma a senadora, ao explicar como tem negociado com o governo o texto do Código Florestal.

A afinidade entre a senadora ruralista e a presidente leva a interpretações de que não só Kátia Abreu mudou. Mas também a política ambiental do governo, tendo ficado mais próxima, em alguns aspectos, dos interesses dos grandes agricultores.

De relatora da emenda que extinguiu a CPMF, em dezembro de 2007, até o momento de sintonia com a Dilma, a senadora do Tocantins passou por muitas mudanças. Ao GLOBO, afirmou:

- Não sou vira-casaca. Sei que é complicado entender a minha posição. Mas, ao longo do tempo, tudo ficará claro. Não quero cargo. Eu tenho minhas convicções.

A metamorfose de Kátia Abreu foi construída aos poucos. Ela tentou um primeiro contato com o Planalto, em 2009, quando assumiu a CNA. Chegou a se encontrar com Lula. Mas não houve química.

- Não estava de mal com Lula. Mas, sim, com as ações dele.

Em fevereiro, já avisava que votaria com o governo em temas de interesse do país, como o salário-mínimo. Após a votação, participou de evento em Palmas (TO), ao lado da então ministra da Pesca, Ideli Salvatti.

- O discurso da Kátia surpreendeu muito. Ela falou na solenidade e depois disse para mim: "Você deve ter estranhado o meu voto (no mínimo). Mas a minha época de líder estudantil está superada"- relembra hoje a ministra de Relações Institucionais. - Tem um movimento de aproximação, principalmente por causa da CNA. Ao mesmo tempo, a mudança para o PSD também ajudou no nosso diálogo.

Sobre a CNA, setores do governo pensaram até em lançar o senador Blairo Maggi (PR-TO) - antes da crise no Ministério dos Transportes - como candidato para tentar impedir a reeleição de Kátia no comando da entidade dos agricultores. O governo não só desistiu da ideia, como espera que ela seja reeleita, em outubro.

A mudança partidária, bem recebida no Planalto, é criticada por seus antigos aliados:

- O novo posicionamento da senadora, de maior alinhamento com o governo, não é por acaso. O segmento que ela representa começou a sentir desconforto com ela, por estar muito radical contra o governo, o que prejudicava a CNA. Para os ruralistas, a posição teria que ser de defesa do setor, e não de enfrentamento com o governo - afirma o deputado Rodrigo Maia (RJ), ex-presidente do DEM.

A aproximação com a presidente aconteceu numa sala vip do Agrishow, outra grande feira agropecuária, em Ribeirão Preto, em junho. Kátia confirma:

- Foi uma conversa muito boa. Superou as expectativas. Tratou de todos os assuntos do setor e gera em mim confiança naquilo em que acredito. Sinto que há interesse real no tema.

Logo depois, num gesto de simpatia ao Planalto, apoiou o nome do novo ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro. A senadora também acertou parcerias com Dilma. Numa delas, a CNA vai colaborar com o Ministério do Trabalho para fiscalizar a legislação trabalhista, estabelecendo até parceria com a Contag, por solicitação de Dilma. Com a ministra Tereza Campello (Desenvolvimento Social) combinou parceria, dentro do Brasil sem Miséria, para capacitar técnicos.

FONTE: O GLOBO

Lula vira ‘ministro de assuntos eleitorais’

Com aval de Dilma, ex-presidente articula alianças com as 17 siglas da base para 2012

João Domingos

No comando de uma base com 17 partidos e problemas de sobra, a presidente Dilma Rousseff decidiu ficar longe das querelas da montagem das chapas que vão disputar as prefeituras nas eleições do ano que vem. A articulação partidária ficará a cargo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que será uma espécie de "ministro extraordinário para assuntos eleitorais".

O cargo, claro, é fictício. Mas no Palácio do Planalto Lula é tratado assim. Quando alguém fala em articulação partidária e política, a presidente costuma lembrar que a função é de seu antecessor. Desse modo, o ex-presidente acaba sendo visto como "40.º ministro" de Dilma.

Hoje, são 38 ministérios. O das Pequenas e Médias Empresas está sendo criado pelo Congresso. Será o de número 39.

Apesar da agenda interna e das articulações políticas, Lula não desarma a agenda internacional. Na próxima sexta-feira, dia 23, ele vai para Washington. Em seguida, para Paris e Gdansk (Polônia), onde em 1980 nasceu o Solidariedade, o único sindicato independente do antigo Leste Europeu. Termina seu périplo internacional em Londres. No início de outubro, volta ao País.

No Brasil, de acordo com informações da assessoria de Lula, ele já esteve reunido com líderes do PT de Belo Horizonte, Salvador, Rio, Goiânia e Recife. A todos, pediu que busquem manter coligações com os partidos da base aliada, evitem disputas internas e procurem candidatos que representem renovação.

"O que mais gosta". Daqui até a definição dos candidatos, em junho do ano que vem, Lula deverá percorrer 26 Estados - a 27.ª unidade, o Distrito Federal, não tem eleição municipal - para montar chapas que fiquem dentro do perfil da base de apoio de Dilma. Por enquanto, ele tem a intenção de conversar muito - só terá uma atuação mais próxima da intervenção quando não for possível resolver os problemas pelas vias amigáveis.

São duas as razões para que Lula se transforme no articulador das eleições municipais e para que Dilma se recolha, afirmam dirigentes do PT e assessores da presidente da República. Primeiro, Lula é um político que tem à sua disposição as 24 horas do dia. E que gosta, e muito, de fazer política. Segundo, Dilma não tem o mesmo traquejo do antecessor para resolver os impasses políticos. Portanto, é natural que ela cuide da administração do País e Lula saia por aí a fazer acordos eleitorais.

Leva-se em conta ainda no Palácio do Planalto que a presidente tem trabalho demais pela frente, como a conclusão das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Minha Casa, Minha Vida, dos estádios de futebol e dos aeroportos para a Copa de 2014 e das obras da Olimpíada de 2016. Tem ainda de administrar uma base aliada gigante, ideológica e fisiologicamente diversificada, além de enfrentar as consequências da crise econômica internacional.

"Lula está livre para fazer tudo o que mais gosta, que é política e articulação", lembra o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), ex-presidente da Câmara. "E ele terá trabalho, porque, onde for possível, quer fazer com que os partidos da base saiam o mais unidos possível."

Por enquanto, Lula está procurando resolver os problemas internos do PT. Ao mesmo tempo, trabalha para repetir, nas eleições municipais, o que fez na presidencial, quando apadrinhou Dilma, que nunca havia disputado uma eleição, e a transformou em sua sucessora. Sob o argumento de que "é preciso renovar", Lula trabalha para fazer do ministro Fernando Haddad (Educação) o candidato a prefeito de São Paulo.

A pouco mais de um ano das eleições, Lula não pode se queixar de que não tem o que fazer em seu partido. Em São Paulo, enfrenta a resistência do grupo da ex-prefeita Marta Suplicy, que não aceita a imposição de Haddad. Em Recife, o senador Humberto Costa e o ex-prefeito João Paulo fazem carga para tirar da disputa o atual prefeito, João da Costa.

O impasse chegou a tal ponto que João Paulo ameaçou deixar o PT em busca de um partido que lhe dê a legenda para concorrer à prefeitura. Lula correu até ele e pediu que não saia, porque o problema, segundo o ex-presidente, será resolvido. No fim, avisou ao ex-prefeito, que insistia em uma solução rápida: "Se deixar o partido, eu não o apoiarei". João Paulo recuou. Sabe que, sem a ajuda de Lula, não tem como vencer.

Há disputas fortes dentro do PT também em Fortaleza. Mas Lula, por enquanto, aguarda o desenrolar da crise. Só entrará em campo se a direção do partido não conseguir uma solução. Na quinta-feira, o presidente do PT, Rui Falcão, convocou a São Paulo os principais dirigentes do partido no Ceará. Entre eles, Luizianne Lins, prefeita de Fortaleza, e o deputado José Guimarães. Por enquanto, cinco nomes querem disputar a prefeitura. O governador Cid Gomes (PSB) apoiará o candidato petista, desde que tenha condições de vitória.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

ESCOLA DO CABRAL

Estava errada e era injusta a proposta para que a Escola Municipal Sérgio Buarque de Hollanda passe a se chamar Escola Municipal Eduardo Paes.

O colégio, na Barra da Tijuca, tem dupla administração. No ensino médio, ela fica por conta do governo do Estado, e foi nessa condição que lhe coube o título de lanterninha do Enem, com 467 pontos, contra 761 do campeão (o São Bento) e 553 da média nacional. Eduardo Paes não tem nada a ver com a ruína. Ela pertence ao governador do Estado. Portanto, a "Sérgio Buarque de Hollanda" deveria se chamar "Escola Sérgio Cabral".

FONTE: O GLOBO/ ELIO GASPARI

Reforma política ganha fôlego

Fabiano Costa

Ex-presidente entrou nas articulações para tentar garantir o primeiro desafio da proposta: passar por comissão na Câmara

Ainda que tenha deixado a reforma política de lado nos oito anos em que governou com alta popularidade, o ex-presidente Lula agora virou fiador da proposta elaborada na Câmara. A entrada do petista deu fôlego às negociações, acrescentando um ingrediente a um cenário em que cada partido defende uma receita diferente de reforma: a que mais lhe convém.

Se nos discursos a mudança no sistema eleitoral é considerada urgente e indispensável, no chão do plenário ela esbarra em interesses pessoais e partidários. O texto gestado durante seis meses seria votado na comissão especial na próxima quarta-feira, mas, diante do naufrágio iminente, o relator, Henrique Fontana (PT-RS), pediu mais uma semana para tentar convencer os demais 40 do colegiado.

Antevendo uma manobra para sepultar mais uma vez a reforma – que deve ser votada em plenário na segunda quinzena de novembro –, Fontana recorreu à força política de Lula. Em encontro com o ex-presidente na última segunda-feira, na sede do Instituto Cidadania, em São Paulo, o deputado expôs o cenário pessimista e apelou para que Lula interviesse. Sob os olhares do líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), o ex-presidente concordou.

Petistas do entorno de Lula revelam que seu súbito empenho, no momento em que canaliza suas energias para a eleição de 2012, surge da preocupação de garantir que os interesses do PT sejam assegurados na reforma.

Oposição vê propostas de petista com desconfiança

Os petistas defendem o financiamento público exclusivo de campanha e o voto misto em lista, uma fórmula criada para tentar permitir que o eleitor escolha a legenda que mais lhe agrada, e não mais o candidato. As duas propostas encontram resistências da oposição.

– A lista fechada é uma maneira de impedir que o eleitor escolha seu candidato, fazendo com que os partidos façam isso por ele. Já o financiamento público manda a conta para o contribuinte – critica o líder da bancada do PSDB, Duarte Nogueira (SP).

Mesmo os governistas PSB e PC do B resistem ao fim das coligações proporcionais. Parceiros na disputa por cadeiras no parlamento, as siglas acreditam que suas bancadas seriam reduzidas. Na sexta-feira, Lula sentou-se à mesa com dirigentes de PSB, PC do B e PDT e tentou dobrar as resistências. Diante da promessa de obter compensações para o fim das coligações (como a possibilidade de formar federações de partidos), os aliados acenaram com abertura para de sustentar a proposta de Fontana.

Nos bastidores, o ex-presidente adverte ao PT que não será possível agradar a todas as siglas. Para ele, o imprescindível é costurar um acordo com o PMDB.

Os peemedebistas, porém, não simpatizam com o sistema de voto em lista defendido pelo PT. Partido com o maior número de prefeituras no país, o PMDB advoga pelo voto distrital, modelo no qual cada deputado é eleito individualmente nos limites de um distrito pela maioria dos votos. Na visão dos peemedebistas, a força do partido nos municípios poderia fortalecer sua bancada no Legislativo.

Além disso, a ala tucana do PMDB diz ter detectado na disposição de Lula de emplacar o voto em lista uma artimanha para inchar as bancadas do PT em 2014. Na hipótese de o ex-presidente voltar a disputar a Presidência, sua popularidade atrairia votos para as listas petistas.

FONTE: ZERO HORA (RS)