quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Opinião do dia – Aloysio Nunes: 2014

"Mais que uma indelicadeza, essa insinuação de uma possível candidatura de Lula à Presidência em 2014 beira a traição".

Senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) sobre declaração do ministro Paulo Bernardo (Comunicações), segundo quem o petista pode concorrer a novo mandato a depender do desempenho e do interesse de Dilma em se reeleger. Folha de S. Paulo, 18/7/2011

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil


O GLOBO

FOLHA DE S. PAULO

O ESTADO DE S. PAULO

VALOR ECONÔMICO

ESTADO DE MINAS

CORREIO BRAZILIENSE

ZERO HORA (RS)

JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Denúncias derrubam outro ministro, agora do PMDB


Rossi deixa Agricultura após admitir uso de jatinho de empresa agropecuária

Menos de 24 horas após admitir com naturalidade o uso de um jatinho da Ourofino, empresa do setor agropecuário, o ministro da Agricultura, o peemedebista Wagner Rossi, perdeu as condições de permanecer no cargo e caiu. Em menos de três meses, é o quarto ministro demitido do governo Dilma, depois de Antonio Palocci, Alfredo Nascimento e Nelson Jobim. Rossi sai em meio a escândalos em pastas comandadas por aliados: Transportes, Turismo e Agricultura. Com Rossi no ministério, repasses do governo federal para a Ourofino cresceram. Só em financiamentos, foram R$ 38,9 milhões em 2010, contra R$ 13,6 milhões em 2009. Para aliados, Rossi saiu para proteger o vice-presidente Michel Temer, que patrocinou sua indicação. O líder do governo no Congresso, Mendes Ribeiro, é cotado para a vaga. O ministro do Turismo, Pedro Novais, disse que fica no cargo até Dilma dizer o contrário.

"Raras vezes" tantas quedas

Dilma perde o 4º ministro em dois meses e meio, desta vez Wagner Rossi, do PMDB

Regina Alvarez, Evandro Éboli e Luiza Damé

Quatro ministros fora do governo em menos de três meses. Ontem, foi a vez do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, deixar o cargo em meio a denúncias de corrupção e fisiologismo na pasta. Com o gabinete na mira de investigação da Polícia Federal, Rossi, apadrinhado pelo vice-presidente Michel Temer, entregou carta de demissão alegando ser vítima de perseguição e acusações infundadas. Antes dele, já tinham deixado o governo Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes) e Nelson Jobim (Defesa). Nenhum dos quatro tinha sido escolha pessoal de Dilma.

Depois de receber a carta de demissão do peemedebista Wagner Rossi, no início da noite de ontem, a presidente Dilma Rousseff lamentou a saída do ministro da Agricultura e agradeceu sua contribuição ao governo. A presidente saiu em defesa do ex-auxiliar, lamentando que ele "não tenha contado com o princípio da presunção da inocência, diante de denúncias contra ele desferidas".

O secretário-executivo José Gerardo Fonteles assumirá interinamente o Ministério da Agricultura. Rossi se reuniu com Dilma por volta das 18h45m. O encontro foi rápido, e o vice-presidente Michel Temer também participou.

Anteontem, Rossi foi acusado de usar o jatinho da empresa Ourofino, que tem ligações com o Ministério da Agricultura. O ministro não teve constrangimento em admitir que usou o avião "raras vezes", apesar de a conduta ser vedada pela Comissão de Ética Pública. O caso seria examinado pela comissão na próxima reunião, marcada para o início de setembro.

Rossi atribui denúncias a Serra

Na carta de demissão, o ministro afirma que estava deixando o governo a pedido de sua família e se defende, afirmando que foi vítima de uma campanha de adversários. Segundo Rossi, nenhuma das acusações indicaria "um só ato (...) que pudesse ser acoimado (tachado) de ilegal ou impróprio no trato com a coisa pública". Afirma que nos últimos 30 dias enfrentou diariamente "uma saraivada de acusações falsas, sem qualquer prova". Sem citar nomes, insinua na carta que sabe de onde partiu a campanha.

"Só um político brasileiro tem capacidade (...) de acumular tantas maldades fazendo com que reiterem e requentem mentiras e matérias que não se sustentam por tantos dias", diz o texto. Segundo auxiliares, Rossi atribui as denúncias a José Serra, ex-governador de São Paulo. Procurado, o tucano não quis comentar a acusação.

Na carta, Rossi elogia a presidente Dilma Rousseff e diz torcer pelo sucesso de seu governo."Deixo o governo, agradecendo a confiança da presidenta Dilma, do vice-presidente Michel Temer, do presidente Lula e dos líderes, deputados, senadores e companheiros do PMDB e de todos os partidos que tanto respaldo me deram", destaca no texto. "Confio que o governo da querida presidenta Dilma Rousseff supere essa campanha sórdida e possa continuar a fazer tanto bem ao nosso país".

Segundo Rossi, a campanha teria "objetivos políticos, em especial a destituição da aliança de apoio à presidenta Dilma e ao vice-presidente Michel Temer, passando pelas eleições de São Paulo onde, já perceberam, não mais poderão colocar o PMDB a reboque de seus desígnios".

Na mensagem, Rossi reclama da divulgação das denúncias feitas pelo ex-presidente da comissão de licitação da pasta Israel Leonardo Batista. Há duas semanas, a revista "Veja" revelou que o lobista Júlio Froés circulava livremente no ministério, montava licitações e ainda distribuía propina a servidores da pasta. Segundo Israel Batista, Fróes tinha até sala junto à comissão de licitação com o aval do então secretário-executivo do ministério Milton Ortolan. Amigo de Rossi há 25 anos, Ortolan foi obrigado a pedir demissão.

"Embora me mova a vontade de confrontá-los, não os temo, (...), mas não posso fazer da minha coragem pessoal um instrumento de que esses covardes se utilizem para atingir meus amigos ou meus familiares. (...) minha família é meu limite. Aos amigos tudo, menos a honra", diz na nota, referindo ao ex-presidente da comissão de licitação.

A Polícia Federal abriu inquérito para investigar as denúncias de irregularidades no Ministério da Agricultura. A PF já tomou o depoimento de Israel Leonardo Batista. No depoimento, Batista confirmou que o lobista Júlio Fróes tinha aval do gabinete do ministro para atuar na pasta.

No depoimento, Batista disse que ouviu o lobista conversar com Ortolan ao telefone e se referir ao "chefão 1". À PF, o depoente não soube dizer se essa expressão era usada para identificar o ministro Rossi. Mas repetiu que foi chamado a uma sala da assessoria parlamentar no oitavo andar do ministério, onde ficava o gabinete de Rossi, onde recebeu uma pasta com notas de R$50. Batista diz ainda que não aceitou o dinheiro e devolveu sem contar. Outros servidores também teriam recebido pasta semelhante, mas Batista não indicou essas pessoas.

A investigação da Polícia Federal vem sendo conduzida pelo delegado Leo Garrido de Sales Meira. Foi ele quem tomou o depoimento do ex-chefe da comissão de licitação. Batista esta na Telebrás atuando na mesma função. Ele disse à PF que foi vítima de perseguição, porque não quis participar do esquema.

FONTE: O GLOBO

TCU bloqueia bens de 25 por fraudes no Turismo


Nove empresas suspeitas de participação nos supostos golpes contra o ministério também terão bens tornados indisponíveis

Catarina Alencastro
BRASÍLIA. O Tribunal de Contas da União (TCU) determinou ontem o bloqueio dos bens de 25 pessoas acusadas de envolvimento no esquema que teria desviado R$4 milhões do Ministério do Turismo. Também terão seus bens indisponíveis nove empresas suspeitas de participação na fraude de dois convênios.

Um deles firmado entre o ministério e o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi), e o outro entre o ministério e a Cooperativa de Negócios e Consultoria Turística (Conectur), ambas contratadas para capacitar profissionais de turismo no Amapá. Esses contratos foram a base da Operação Voucher, da Polícia Federal, que prendeu 36 pessoas na semana passada.

Empresas são cobradas a devolver R$2,78 milhões

No esquema, o Ibrasi teria subcontratado outras empresas com o dinheiro do ministério. O TCU deu um prazo de 15 dias para que os sócios das firmas apontadas apresentem a defesa. Caso contrário, terão de devolver aos cofres públicos R$2,78 milhões. A Sinc Recursos Humanos terá de devolver R$1,1 milhão; a Luaxe Produções, R$664 mil; a Barbalho Reis Comunicação, R$220 mil; a Manhattan Propaganda, R$516 mil; e a Conectur, R$250 mil.

O Ibrasi, por sua vez, está impedido de usar o dinheiro recolhido no contrato com o governo. As outras empresas que terão seus bens indisponibilizados são a Animea Recursos Criativos, a Jads Assessoria e a AG1 Turismo.

Também estão com seus bens bloqueados pelo período de um ano Mário Moysés, que já foi secretário-executivo do Ministério e presidente da Embratur, Regina Magalhães Cavalcante, diretora do Departamento de Qualificação e Certificação do Ministério, o pastor Wladimir Silva Furtado, da Conectur, entre outros.

Tribunal desconfia de fraude em outros estados

O tribunal determinou ainda uma auditoria em todos os convênios do ministério firmados entre 2008 e 2011. O ministro Augusto Nardes, autor do pedido, desconfia que o que aconteceu no Amapá se reproduziu em outros estados.

- Parece que o modus operandi do que aconteceu no Amapá não foi somente lá. Me parece que acontece em outros estados. Diante disso, proponho que o tribunal faça uma fiscalização centralizada de 2008 a 2011 para fazer uma avaliação e dessa forma fazer uma proteção ao erário e evitar que haja desvios, e buscar os recursos que eventualmente tenham sido desviados - argumentou o ministro.

No relatório, Nardes afirma que não há comprovação de que os serviços contratados foram, de fato, prestados. O ministro relator determinou à Caixa Econômica Federal o bloqueio da conta do convênio com o Ibrasi para evitar eventuais novos repasses.

FONTE: O GLOBO

Oposição convoca sociedade para movimento em defesa da CPI da Corrupção

Nadja Rocha

Mobilizar a sociedade para o combate à corrupção. Com esse objetivo foi lançado, na tarde desta quarta-feira, no Salão Verde da Câmara dos Deputados, a campanha “CPI da Corrupção. Eu Apoio”. O movimento suprapartidário tem como objetivo mobilizar a sociedade para pressionar os parlamentares a assinarem o requerimento de instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar as denúncias de corrupção no governo federal.

Durante o evento, foi o lançado o site do movimento (http://www.cpidacorrupcao.blogspot.com), onde o cidadão poderá assinar uma petição de apoio à CPI e pressionar parlamentares, principalmente, os de seu estado, a apoiarem o pedido de investigação.

Até o lançamento da campanha, o requerimento de CPI Mista da Corrupção contava com o apoio de 92 deputados e 19 senadores de vários partidos, inclusive da base de apoio ao governo. Para ser instalada, a comissão são necessárias 171 assinaturas na Câmara e e 27 no Senado. No site  é possível acompanhar a evoluçaõ das assinaturas para a CPI

O evento contou com a participação de mais de 30 parlamentares de vários partidos. Com maior participação do PPS, PSDB, DEM e PSol.

Para o líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), a sucessão de escândalos envolvendo o governo federal é resultado do fisiologismo político praticado pelas gestões do PT. Ao defender o apoio da sociedade para a faxina ética na política, Bueno disse que a quantidade de escândalos na gestão de Dilma Rousseff se assemelha a um saco de caranguejos.

“Começou pelo Palocci, o homem forte do governo, que caiu por não ter como explicar seu enriquecimento, depois foi o Alfredo Nascimento, abatido por denúncias de corrupção dos Transportes. Agora, estão na berlinda Pedro Novais, do Turismo, e Wagner Rossi, da Agricultura”, criticou Bueno.

O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), disse que as denúncias de irregularidades já provocam descontentamento até na base de apoio ao governo. Mas, no entanto, ele acha que é preciso que a população se manifeste, pressionando, inclusive, os parlamentares para que assinem o pedido de instalação da comissão. “Lula passava a mão na cabeça de seus aloprados; Dilma não pode passar, mas também não fará faxina na sujeira de seu antecessor. Por isso é preciso o apoio da população para que essa CPI seja instalada”, destacou Freire.

O parlamentar elogiou ainda o trabalho da imprensa tanto nas investigações de casos de ilegalidades nos ministérios quanto na divulgação do trabalho que a oposição vem desenvolvendo em resposta a eles.

A ideia dos idealizadores da campanha é buscar o apoio de entidades como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e das redes sociais.

Clamor popular

Na avaliação do líder do DEM na Câmara, deputado ACM Neto (BA), o site do movimento pela CPI da Corrupção vai possibilitar que os cidadãos brasileiros saibam quais os parlamentares que realmente são a favor da apuração das irregularidades. Já o seu colega do PSDB na Câmara, deputado Duarte Nogueira (SP), destacou a natureza suprapartidária do movimento. Para ele, a CPI não é uma briga entre o governo e os partidos de oposição. “Há um clamor popular para que os ilícitos no governo sejam investigados a fundo. Essa CPI vai sair (instalada) com a força da sociedade”, ressaltou.

“É preciso que este Parlamento busque o apoio da sociedade”, afirmou o líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO). Ele , acredita que a campanha “CPI da Corrupção. Eu Apoio” possa reeditar o mesmo movimento nacional a favor da Lei do Ficha Limpa.

O deputado Chico Alencar (RJ), do PSol, afirmou que o Parlamento não deve abrir mão de sua prerrogativa de investigar os ilícitos praticados no governo. Ele ressaltou ainda que a faxina tem de ser ética e “não atentar para a cor partidária”.
FONTE: PORTAL PPS

A Luta pela Anistia - exposição de cartazes na Reitoria da Unesp: de 25/08 a 16/09


Dilma avança :: Merval Pereira


A presidente Dilma conseguiu manobrar com muita habilidade a saída de Wagner Rossi do Ministério da Agricultura, a ponto de se livrar de mais um assessor direto envolvido em corrupção sem criar um clima de impasse com o PMDB, pelo menos aparentemente. E avançou na sua política de "limpeza ética".

O vice-presidente Michel Temer, fiador de Rossi no ministério, teve o bom senso de levar o apadrinhado a pedir demissão antes que perdesse o controle da situação, mas certamente não deve estar satisfeito. Mas ganhou o direito de indicar o substituto, sem o direito político de errar novamente.

O ministro demitido, além de ser do PMDB, é do PMDB paulista, cuja organização está sob o comando de Temer, depois da morte de Orestes Quércia.

E é em SP que repercutem algumas demissões, como a de Mario Moysés, ex-secretário-executivo de Marta Suplicy quando ministra do Turismo.

Ontem, o TCU aumentou as agruras de Marta, virtual candidata à prefeitura de SP, decretando o bloqueio de Moysés, que era presidente da Embratur e foi apanhado pela Operação Voucher.

E não foi por acaso que o ex-ministro Wagner Rossi, na carta de demissão, insinuou que as acusações contra ele têm a ver com a política paulista.

A referência velada ao tucano José Serra, que seria, segundo ele, "o único político brasileiro" a poder manipular o noticiário da imprensa em seu benefício, é mais um dado da disputa da prefeitura paulista.

O governo, de maneira geral, e o PT e o PMDB em especial, estão convencidos de que Serra será o candidato do PSDB à sucessão do prefeito Gilberto Kassab e colocam na sua conta as denúncias contra o governo, dando a Serra um poder quase sobrenatural, que se ele possuísse teria tido mais sorte nas vezes em que disputou a Presidência da República.

O PMDB paulista está empenhado em fazer do deputado federal Gabriel Chalita seu candidato à prefeitura, e considera que as denúncias contra Rossi, um dos principais apoios de Chalita, juntamente com Temer, fazem parte dessa disputa.

É evidente que é mais fácil para quem sai do ministério sob acusações culpar manobras políticas ou a imprensa por sua desdita.

Existem dois pontos a serem considerados na questão da segurança pública no Rio: o caso do assassinato da juíza Patrícia Lourival Acioli, da 4ª Vara Criminal da Comarca de São Gonçalo, é gravíssimo, um atentado à democracia, e, se não for esclarecido, com os mandantes e assassinos punidos, abre-se o campo para uma prática perigosa que já aconteceu em outros países, como a Colômbia, e em outros estados brasileiros, como o Espírito Santo quando era dominado por grupos mafiosos que tomaram conta de toda a estrutura do estado, até mesmo da Justiça e da Assembleia Legislativa, com a conivência do governo estadual.

Foi o primeiro e único estado até hoje que, por um período, foi dominado por uma organização criminosa, desbaratada com a reação conjunta da sociedade e dos políticos, com o auxílio de forças federais.

Aqui no Rio, não temos, apesar desse assassinato brutal, e de fatos anteriores em que agentes penitenciários foram fuzilados, clima de descontrole, e por isso mesmo esse crime tem de ser desvendado e seus autores e mandantes, punidos exemplarmente.

O combate à bandidagem nos morros do Rio, carro-chefe do governo Sérgio Cabral, tem tido inegável êxito.

O estado está paulatinamente retomando o controle de territórios que eram dominados por traficantes de drogas.

As Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) têm se revelado eficazes nessa retomada, e a decisão de levar os serviços sociais essenciais a esses locais para reafirmar a presença do Estado, tudo indica, poderá consolidar essa política.

Mas está surgindo nos últimos dias efeito colateral dessa política que é muito perigoso, e que o governo deveria ter se organizado para combater. Trata-se da onda de assaltos pela cidade, que tem no ônibus tomado por bandidos no Centro da cidade o episódio exemplar.

A polícia agiu de maneira temerária e, embora tenha conseguido salvar os reféns e prender os bandidos, colocou em risco não apenas os passageiros do ônibus como os transeuntes, numa demonstração de que não foi treinada o suficiente para minimizar os riscos. Tantos anos depois do episódio do ônibus 174, não aprendemos a atuar em situações de risco como essas.

O assalto ao carro do treinador Zagallo, de 80 anos, quando levava sua senhora para um hospital em Botafogo, também é exemplar do surto de ações criminosas em diversos pontos da cidade, com sequestros-relâmpago, arrastões e assaltos a locais de turismo, principalmente hotéis.

Esses episódios são sinais de que os morros foram ocupados, e os bandidos expulsos desses locais estão atuando de outra forma. E aumenta a insegurança na cidade com assaltos a apartamentos, a carros nos sinais, a transeuntes.

Seria de se esperar que esse tipo de crime aumentasse, e que muitos desses criminosos fossem para outras cidades do interior, onde o índice de criminalidade tem crescido.

Inclusive porque a tática do governo é avisar com antecedência que vai invadir este ou aquele morro, dando tempo para os bandidos saírem sem resistir à chegada da polícia, para evitar banho de sangue e colocar em risco os moradores.

Isso porque a ideia principal das UPPs não é acabar com o tráfico de drogas, mas com o domínio dos bandidos sobre o território das favelas.

Interessa mais a essa política liberar as favelas para os cidadãos do que propriamente impedir o tráfico e prender os traficantes. É razoável que se tenha essa estratégia, mas é o caso de perguntar: onde estão os bandidos, foram para onde?

Diz o governo que, daquele grupo que fugiu do Morro do Alemão, com a televisão mostrando a famosa imagem dos bandidos em debandada, já foram presos mais de 200.

Pode ser, mas há muitos outros soltos pelas ruas do Rio, a exigir uma estratégia específica de reforço do policiamento.

FONTE: O GLOBO

Tratamento vip:: Dora Kramer


Enquanto permaneceu no cargo de ministro da Agricultura, Wagner Rossi foi a expressão viva do ditado segundo o qual quem tem padrinho não morre pagão.

Seu braço direito e amigo há 25 anos foi demitido por conta de relações perigosas com um lobista que transitava livremente com autonomia e autoridade dentro do ministério.

Contra Rossi pesam suspeições de irregularidades não só no posto atual, mas também relativas à época em que ocupou as presidências da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp).

O Estado mostrou que cooperativas agrícolas que receberam dinheiro da Conab financiaram campanhas de parlamentares, entre eles o filho do ministro, Baleia Rossi. O jornal Folha de S. Paulo publicou entrevista do ex-chefe da comissão de licitação do Ministério da Agricultura falando sobre "licitações corrompidas" na pasta.

Isso para não falar sobre a frase - "lá (no ministério) só tem ladrão" - do irmão do líder do governo no Senado, demitido da Conab por ter saldado uma dívida de R$ 8 milhões para uma empresa de fachada.

Nesta semana se descobriu que o já ex-ministro Rossi se valeu dos favores da Ourofino Agronegócios - com negócios no ministério e doadora da campanha de Rossi júnior (Baleia) - para ir de São Paulo a Ribeirão Preto no jatinho da empresa.

Wagner Rossi admitiu que viajou de carona no Embraer Phenon da Ourofino algumas vezes. Na verdade, ele falou em "raras vezes", na tentativa de amenizar o evidente conflito de interesses.

Por muito menos Eliseu Resende foi demitido do Ministério da Fazenda no governo Itamar Franco. Ficou sob suspeição de ter tido diárias de hotel em Nova York pagas por uma empreiteira, mostrou que pagara do próprio bolso, mas Itamar considerou impróprio até o fato de seu ministro ter se hospedado no mesmo hotel que os diretores da construtora.

Eram outros tempos, outra gente.

Na quadra atual da nossa história, a Wagner Rossi foi dada a prerrogativa de pedir demissão dizendo-se injustiçado e perseguido. Por quê? Porque é do PMDB e Dilma Rousseff não quer confusão com o partido. Porque Rossi era indicação pessoal do vice-presidente Michel Temer.

Entrelinhas. O diabo mora nos detalhes também na pesquisa CNT/Sensus que aponta 70% de popularidade para a presidente.

1. Dos 49,5% que aprovam o governo Dilma, apenas 10% o qualificam como "ótimo".

2. Dos pesquisados, 45% disseram que o governo Lula era melhor.

3. A expectativa de que a presidente fará uma boa gestão caiu de 69% para 61%.

4. A avaliação positiva sobre a composição do ministério era de 45% em dezembro. Em agosto desabou para 24%.

Muito cedo. A "saída" do PR da base governista no Congresso não quer dizer nada se o parâmetro for o prejuízo concreto ao governo. Até porque não é uma decisão unânime: cinco dos sete senadores do partido já avisaram que não largam o osso, sendo o mais vistoso composto pelas superintendências regionais do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

Porém, nem só de objetividades se faz a política. E no campo do simbólico não é interessante a governo algum que, antes de completados os primeiros oito meses de quatro anos, aliados já se sintam à vontade para transformar suas intenções em gestos de rebeldia.

Êxodo. Nunca tantos ministros do Supremo Tribunal Federal ficaram tão pouco tempo na função que, pela lei, poderiam exercer até completarem 70 anos de idade.

Nos últimos tempos já pediram aposentadoria antes do prazo regulamentar Nelson Jobim, Eros Grau e Ellen Gracie. Celso de Mello e Marco Aurélio Mello são agora os únicos dos 11 ministros que não foram indicados pelo ex-presidente Lula.

Marco Aurélio seria a estrela solitária se Celso de Mello, o decano, tivesse feito o que disse amigos o ano passado quando manifestou desejo de sair.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Pântano que traga ministros :: Eliane Cantanhêde

Cai o quarto ministro, Wagner Rossi, da Agricultura. O PMDB ameaça, o PT se omite, o PR se diz "independente", mas Dilma tem suas armas -e suas versões.

Sai o PR da base aliada? OK, entra o PV. O PMDB é tão grande quanto instável? OK, vem aí o PSD do prefeito Gilberto Kassab (que, aliás, encontra-se hoje com Dilma).

Quando o que se discute é faxina ética, há inversões e chegam apoios à presidente de onde ela menos esperava: de senadores como Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos, do PMDB, que não têm nada de governistas. Para a imagem do governo, era melhor ter Wagner Rossi ou passar a ter Simon e Jarbas?

Na versão para a opinião pública, Dilma faz uma "faxina ética". Na repassada para aliados do PMDB, do PT, do PTB e de todo o resto, ela nega e explica que não é ela quem está com o rodo, a vassoura e o aspirador de pó nas mãos. A faxina é da responsabilidade de outras instituições e instâncias. Mesmo que quisesse impedi-la, não teria meios para isso.

Na prática, diz, quem investiga e joga luz sobre os desvios nos Transportes, na Agricultura e no Turismo são o TCU, a Polícia Federal, o Ministério Público, a imprensa. Ela alega que não ajuda, mas também não pode atrapalhar. Assim, tenta ficar com os bônus, sem arcar com os ônus. Enquanto a economia deixar, não há problema.

Dilma, assim, tenta se equilibrar entre dois personagens convenientes: a presidente que varre a corrupção e a presidente que nega estar varrendo os corruptos. Como se eles caíssem sozinhos.

A base aliada ao Planalto está insatisfeita, mas continua imensa, movendo-se, reacomodando-se, ajeitando-se como pode, enquanto faz cálculos sobre onde e em que momento fincar estacas: no terreno firme do lulismo ou no ainda pantanoso caminho de Dilma.

Wagner Rossi é o quarto ministro a afundar nesse pântano. Quem e quando será o próximo?

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Brincando de legisladores:: Raquel Ulhôa


Em março, com pouco mais de um mês no Senado, Itamar Franco foi designado presidente de comissão mista responsável pela análise de medida provisória relativa ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Levou a sério a tarefa e convocou a reunião de instalação, mas não houve quórum. Além dele, apareceu apenas um dos 12 titulares, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

O ex-presidente protestou no plenário contra o "aviltamento" do Congresso. O esvaziamento das comissões mistas, previstas no artigo 62 da Constituição para emitir parecer sobre as MPs, era apenas um dos problemas que o ex-presidente queria expor. "Eu venho dizer da minha desesperança, pelo menos até agora, com o Poder Legislativo. Estamos brincando do que não somos: de legisladores", disse.

Assim como Itamar, os atuais senadores se insurgiram contra o que consideram submissão ao Executivo. E, mais uma vez, tentam mudar as regras de tramitação. Desde sua criação, na Constituição Federal de 1988, a MP é apontada como responsável por entraves ao processo legislativo e conflitos entre Câmara e Senado. Como o próprio Itamar dizia, cumprir as regras existentes talvez já ajudasse a melhorar o processo legislativo.

Câmara deve mudar PEC, mas deixando prazo para Senado

O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), em seu décimo mandato na Câmara, discordou de alguns pontos da emenda constitucional que resultou no artigo 62 da Constituição, em 2001. Mas defende que a regra seja obedecida. "A culpa é do Congresso Nacional. Mesmo sendo ruim o ritual de tramitação, o Congresso não o cumpre. Não instala as comissões e não examina o juízo de admissibilidade."

Para Miro, seria mais útil acabar com esse requisito de relevância e urgência, que são conceitos objetivos e abrangentes. "Não somos parlamentaristas. No parlamentarismo, se a MP cair, cai o governo. É o voto de desconfiança. Aqui no presidencialismo brasileiro, que é imperial, ela virou o instrumento da lei de um homem só", diz.

O processo, em geral, se repete. A Presidência da República edita, o Congresso aceita, as comissões mistas nunca são instaladas, o texto vai ganhando penduricalhos ao longo da discussão - embora a legislação atual já determine que cada lei deve tratar de um único objeto -, a pauta de votações da Câmara acaba trancada por causa da demora na tramitação, e o Senado vota às pressas, sem poder alterar o texto, sob pena de levar a medida a perder a validade.

As críticas a esse quadro ocuparam boa parte das sessões do Senado deste ano. Para Pedro Taques (PDT-MT), o Congresso virou "apêndice" do Palácio do Planalto. Ana Amélia (PP-RS) diz que a função de legislar foi delegada ao Executivo, que predomina na produção legislativa brasileira. O petista Walter Pinheiro (BA) afirma que o Senado virou "carimbador de medidas provisórias".

A pressão levou o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), a apresentar uma proposta de emenda constitucional (PEC) para, basicamente, dividir o tempo de tramitação entre Câmara e Senado. Como relator, Aécio Neves (PSDB-MG), enxergando oportunidade de afirmação do mandato, avançou. Chegou a propor que as MPs só tivessem força de lei após aprovação da admissibilidade por uma comissão permanente. A ideia foi barrada. Após muita negociação, chegou-se à PEC aprovada - com rara agilidade.

Como está, a PEC pode resultar em problemas para o governo. De cara, vai aumentar a necessidade de entendimento com os parlamentares. Atualmente, em muitos casos, o Planalto precisa negociar a aprovação de uma MP apenas com a Câmara, onde a tramitação se prolonga. Com a regra proposta, serão vários os balcões. A começar pelas comissões de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara e do Senado, que passam a ter a tarefa de dar parecer sobre a admissibilidade (nos dez primeiros dias do prazo da respectiva Casa).

Com a nova regra, os 120 dias de tramitação são divididos entre Câmara (80 dias) e Senado (30). Os dez dias restantes ficam reservados para a Câmara analisar eventuais mudanças feitas no Senado. O texto veda a reedição, na mesma sessão legislativa, de "matéria constante" de MP rejeitada ou que tenha perdido eficácia por decurso de prazo. A intenção é evitar o que ocorre hoje: a reedição de MP é proibida, mas partes dela pegam carona em outras.

Já houve duas mudanças na tramitação das MPs. Em 2001, quando Aécio presidia a Câmara, emenda constitucional proibiu reedições e instituiu o trancamento da pauta - um dos problemas atuais. A Câmara não teve, em 2011, uma única sessão deliberativa ordinária com a pauta liberada. Michel Temer, em sua última gestão na presidência da Casa, adotou uma interpretação inovadora. Restringiu as matérias sujeitas ao trancamento da pauta, criando a possibilidade de algumas propostas serem apreciadas em sessões extraordinárias. Melhorou, mas não resolveu o problema, principalmente do Senado.

Até agora, Aécio conduziu o processo sem muita contestação. Mas o PT da Câmara pretende enfraquecer seu papel, lembrando a Lei Delegada adotada no governo de Minas Gerais em questões administrativas. A essas críticas, o tucano reage mostrando diferenças entre a MP e a Lei Delegada - previamente autorizada pela Assembleia Legislativa do Estado, trata de um tema só e tem prazo definido.

Na Câmara, a tendência é alterar a PEC. Para dividir os louros de Aécio, mas também para reduzir amarras do governo. Mas há simpatia por manter o prazo para o Senado votar, porque nem mesmo os petistas querem continuar "legislando de brincadeira". E uma rebelião na Casa pode tumultuar votações do interesse do Planalto.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Dilma, ele assina em teu nome :: Demétrio Magnoli


O ditador Bashar Assad encontrou nos enviados do Ibas (Índia, Brasil e África do Sul) os bonecos de ventríloquo ideais para transmitir ao mundo a sua versão dos eventos sangrentos em curso na Síria. O comunicado final da delegação, um dos documentos mais abjetos jamais firmados pelo Brasil, pinta o cenário de um regime engajado na sua reinvenção democrática, mas assediado pela violência de grupos armados opositores. A assinatura brasileira converte Antonio Patriota em cúmplice de um Estado policial que se dedica à matança de sua população. Patriota, contudo, é funcionário de Dilma Rousseff. A assinatura dele é a dela.

O Itamaraty difunde a narrativa oficial síria, segundo a qual o derramamento de sangue deve-se à violência de setores da oposição. Há, nisso, uma nota sinistra, só audível para quem conhece o passado recente da Síria. Refiro-me a Hama e a fevereiro de 1982. Naquela cidade sunita, operavam guerrilheiros islâmicos que combatiam o regime de Hafez Assad, pai de Bashar. Após uma emboscada dos rebeldes contra forças militares, o ditador ordenou o bombardeio de toda a cidade, por terra e ar. Num tempo anterior à internet e aos celulares, há escassas, mas pungentes, imagens do resultado. No fim, Hama parecia as cidades alemãs extensivamente bombardeadas na guerra mundial.

Um dos filhos do ditador supervisionou o ataque e se gabou de matar quase 40 mil pessoas, uma cifra confirmada pelas estimativas independentes. Quando os escombros ainda ardiam, o governo vazou para a imprensa libanesa a notícia das dimensões da carnificina, enviando uma mensagem ao povo sírio. A mensagem foi decodificada, em muitos sentidos. Até há pouco, aos murmúrios, os sírios se referiam ao massacre por meio de um sombrio eufemismo: "os incidentes de Hama". Agora, enfrentando munição real, os manifestantes voltam às ruas num ânimo quase suicida pois sabem que só têm a alternativa de derrubar o regime. Patriota deveria ter a decência de pensar duas vezes antes de colar o selo do Itamaraty sobre a versão de Damasco: na linguagem dos Assad, a expressão "gangues terroristas" é a senha para aplicar a "lei de Hama".

Além de tudo, a versão é falsa. No 17 de julho, uma conferência nacional de 450 líderes opositores, laicos e religiosos, conclamou à desobediência civil pacífica. O regime respondeu armando 30 mil milicianos da minoria alauita, a fim de reconfigurar o cenário como um conflito sectário. Artilharia, tanques e navios alvejam Hama, Homs, Deir ez-Zor e Latakia. O saldo provisório já atinge 2 mil mortos. Líderes da tribo Baqqara, de Deir ez-Zor, autorizaram o uso de armas contra incursões assassinas do Exército, de casa em casa, que não poupam crianças. Vergonha: o gesto desesperado de pessoas acuadas serve como o pretexto para Patriota reverberar a senha de uma ditadura inclemente.

Pretexto é a palavra certa. O Itamaraty não se importa com os fatos: segue uma agenda ideológica. A Constituição prescreve, no artigo 4º, que o Brasil "rege-se, nas suas relações internacionais" pelo princípio da "prevalência dos direitos humanos"". Dilma prometeu respeitar o artigo constitucional. O compromisso, expresso num voto contra o Irã, não resistiu a um outono. Em março, a abstenção na resolução da ONU de intervenção na Líbia evidenciou uma oscilação. Em junho, a recusa da presidente em receber a dissidente iraniana Shirin Ebadi, Nobel da Paz, sinalizou o recuo. No 3 de agosto, a rejeição a uma condenação da Síria no Conselho de Segurança da ONU concluiu a restauração da política de Lula, Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia. No seu desprezo inigualável pelo mandamento constitucional, o comunicado do Ibas equivale a uma celebração orgiástica da velha ordem.

Num "Roda Viva" da TV Cultura, indaguei a Celso Amorim sobre os motivos do governo para ignorar sistematicamente o artigo 4º da Constituição. O então ministro do Exterior retrucou invocando o princípio da autodeterminação dos povos e da não intervenção, contemplados no mesmo artigo, mas em posição inferior. A resposta vale tanto quanto as promessas reformistas de Assad. Na verdade, como fica explícito num livro do ex-secretário-geral do Itamaraty Samuel Pinheiro Guimarães, a linha do governo deriva de uma curiosa tradução do objetivo de promover a "multipolaridade" nas relações internacionais. "Multipolaridade", no idioma de nossa atual cúpula diplomática, exige a redução da influência global dos EUA - o que solicitaria o apoio brasileiro aos regimes antiamericanos, sejam eles quais forem.

A Turquia perdeu a paciência com a Síria e exigiu uma imediata retirada militar das cidades assediadas. Sob pressão popular, governos árabes condenam, sem meias palavras, a selvagem repressão. O Egito alertou Damasco sobre a ultrapassagem de um "ponto de não retorno". Nas ruas do Cairo e de Beirute, manifestações pedem o isolamento de Assad. Longe da região, irresponsável, alheio às obrigações assumidas pela comunidade internacional, o governo brasileiro se converte num dos últimos bastiões de um Estado policial sanguinário. Desse modo, numa única tacada, viola um elevado princípio constitucional da nossa democracia e agride o interesse nacional, afastando-nos da meta legítima de uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Não há muito a fazer. A Comissão de Relações Exteriores do Senado é presidida por um neolulista chamado Fernando Collor. A oposição renunciou ao confronto político de ideias, limitando-se à pescaria de ocasião na lagoa pútrida da corrupção nos ministérios. Os intelectuais de esquerda, sempre prontos a fulminar com os raios de sua fúria santa os desvios retóricos do editorial de um grande jornal, não produzem manifestos de contestação aos atos do lulopetismo - ainda mais se justificados pela doutrina do antiamericanismo. Resta escrever: atenção, Dilma, Patriota assina em teu nome!

Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em geografia humana pela USP.

FONTE: O GLOBO

A “faxina” de Dilma e a possibilidade de recuperação das prerrogativas do Congresso::Jarbas de Holanda


A intervenção no ministério dos Transportes (do qual foi afastado todo o comando, inclusive o ministro, virtualmente demitido); a ordem para a demissão do secretárioexecutivo do da Agricultura; e o crédito pelas prisões de 35 integrantes da cúpula da pasta do Turismo estão propiciando uma avaliação predominantemente positiva da presidente Dilma Rousseff. Estimulada por sua retórica moralista de que não tolerará práticas de corrupção em nenhum órgão do governo. Embora as ações em dois dos ministérios se tenham devido a denúncias da imprensa e, no terceiro a uma operação da Polícia Federal, cujo crédito é no mínimo controverso pois o Palácio do Planalto proclamou formalmente, ou simulou, ter sido surpreendido.

Nos segmentos melhor informados da sociedade tais ações são bem recebidas até pelo contraste com o bloqueio e as tentativas de desqualificação que denúncias semelhantes sofreram nos dois mandatos de Lula, e como encorajamento para elas que prossigam e se ampliem. E a avaliação política favorável – ainda recusada por vários analistas mas já feita por outros, inclusive por alguns de postura oposicionista, bem como por um pequeno grupo de parlamentares independentes da liderança de seus partidos – estende-se de um apoio pontual às referidas ações até a aposta no desdobramento delas e de que isso levará a progressivo conflito da presidente com seu antecessor e padrinho.

Sem dúvida é correta a indignação social gerada pelas recentes denúncias da mídia, desde as que envolveram o ex-chefe da Casa Civil Antonio Palocci, e pelo conhecimento amplo dos critérios de composição do governo, com a divisão fisiológica dos cargos e do acesso a verbas entre os partidos que o apoiam. Indignação que inclui a cobrança de punição para os responsáveis por tais práticas e que crescerá com uma extensão delas a mais órgãos da máquina federal, como as que se voltam para o ministro peemedebista da Agricultura, Wagner Rossi.

Mas esse processo precisa de dividendos bem mais qualificados que os que tem obtido até agora e vincular-se a objetivos políticos e institucionais diversos daqueles que estão prevalecendo. Por enquanto, ele tem servido, basicamente, ao marketing da presidente Dilma, orientada pelo publicitário João Santana para a conquista na classe média de um respaldo que se somará, ou somaria, ao de Lula, muito forte, no chamado povão. E se assenta na contraposição de um Executivo “trabalhador e ético” a um Congresso “de politiqueiros e corruptos”, explorando e potencializando a imagem popular negativa do segundo. Marketing inteiramente falso pois a exacerbação dos critérios fisiológicos de composição do governo e de formação da base parlamentar de apoio foi concebida e consagrada pelo ex-presidente Lula após o desastre do mensalão, com base em sua elevada popularidade e tendo em vista a dupla função de controle das decisões do Legislativo e de montagem da aliança para a eleição da sucessora. Isso implicando um grande esvaziamento da autonomia e das prerrogativas institucionais deste e a troca delas por cargos e verbas do governo federal. Num roteiro cuja sequência será extremamente lesiva à preservação da democracia representativa que as diversas variantes do populismo latino-americano vêm tentando substituir pela “democracia direta” autoritária e plebiscitária.

À frente, há dois cenários possíveis. Um deles, o de continuidade dessa troca, que a presidente Dilma tem posto em xeque com seu estilo impositivo e com o acolhimento de parte das denúncias da mídia, mas que deseja manter tornando-o ainda mais vantajoso para o Executivo por meio de maior controle, pessoal, sob a justificativa de critérios técnicos, das indicações dos partidos para os diversos cargos. Continuidade articulada pelo padrinho Lula. Inclusive para evitar uma resposta efetiva e constitucional à amplitude dos escândalos político administrativos que vêm sendo identificados – a instauração de uma CPI independente, como a dos Correios e do mensalão instaurada em 2005.

O outro cenário, de probabilidade ainda pouco visível, é o de reconstrução e afirmação das prerrogativas do Congresso. Mas este precisará configurar-se a partir de uma postura autocrítica das principais lideranças parlamentares não petistas, dos campos governista e da oposição, sobre a série de escândalos envolvendo ou protagonizados por representantes dos diversos partidos. Autocrítica combinada com uma mudança de qualidade da relação com o governo, dependente sobretudo da direção do PMDB, agora unificada ou bem menos dividida que antes. A qual já ensaiou um primeiro passo nesse sentido – o anúncio de um bloco parlamentar sem o PT – recebido criticamente por alguns analistas que o avaliaram como a remontagem do ‘centrão’ que atuou na Constituinte do final dos anos 80.

Jarbas de Holanda é jornalista

Senado aprova novas regras para MPs

Proposta seguirá agora para votação na Câmara, que promete fazer alterações no texto

BRASÍLIA - O Senado aprovou ontem, em segundo turno, a PEC (proposta de emenda constitucional) que muda o rito de tramitação das medidas provisórias no Congresso.

O texto já tinha sido aprovado na votação em primeiro turno, na terça-feira.

Agora, a proposta segue para votação na Câmara -que promete mudar o texto dos senadores porque ele reduz os poderes dos deputados em relação às medidas.

O impasse em torno da PEC se arrastava desde o primeiro semestre, mas governo e oposição fecharam acordo para aprová-la depois que o senador Aécio Neves (PSDB-MG), relator da matéria, retirou do texto pontos que desagradavam ao governo.
A principal mudança é a limitação do prazo da Câmara para a análise de uma MP. Aécio fixou o prazo de 80 dias para que os deputados analisem as MPs antes de encaminhá-las ao Senado.

Antes da mudança, o Congresso tinha 120 dias para votar as medidas provisórias, sem a divisão do prazo entre as Casas -o que permitia à Câmara consumir quase todo o tempo previsto em lei.

VIGÊNCIA

Para atender ao governo, Aécio retirou o artigo que impedia a vigência imediata da MP depois de editada pelo Poder Executivo.
O senador também aceitou que as Comissões de Constituição e Justiça da Câmara e do Senado tenham dez dias para analisar a constitucionalidade das MPs que chegarem no Congresso.

Aécio disse que vai se reunir com o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), para pedir que seu texto seja mantido da forma como foi aprovado no Senado.

"Vou defender que o texto fique inalterado. É importante para o Congresso", afirmou o senador.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Economia brasileira tem 1ª retração desde dezembro de 2008


Gabriela Valente
BRASÍLIA. Ao contrário do que previam os analistas, a economia brasileira não apenas desacelerou, mas encolheu em junho. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) - que tenta antecipar as variações do Produto Interno Bruto (PIB) e ajuda a calibrar a política de combate à inflação - registrou recuo de 0,26% sobre maio, a primeira queda mensal desde dezembro de 2008.

- A economia está desacelerando e não dando marcha a ré - afirmou o professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite. - Um mês só é insuficiente para saber (a magnitude do tombo).

O professor admitiu, no entanto, que o esfriamento da economia foi bem mais forte do que o esperado:

- Talvez não se esperasse uma queda. Se isso se repetir, é mais grave, mas acho que não vai acontecer, porque é um dado pontual e não uma tendência.

Segundo o BC, o crescimento do Brasil desacelerou bastante no segundo trimestre de forma geral. A expansão da economia foi de 0,69%, bem menor que a de janeiro-março, que foi de 1,37% frente ao trimestre anterior.

Para Leite, o dado de ontem é a confirmação de que BC terminou o período de alta da Taxa Selic, que começou em janeiro. Hoje, a Selic está em 12,5% ao ano. Mas ele acha que ainda é cedo para falar em cortes dos juros, por causa do cenário global turbulento.

FONTE: O GLOBO

Geração de empregos perde ímpeto em serviços e na indústria


João Villaverde

Brasília - A desaceleração da economia, perseguida pelo governo Dilma Rousseff desde o início do ano, deu sinais mais fortes no mercado de trabalho. O saldo de 140,5 mil vagas formais criadas em julho, divulgado ontem pelo Ministério do Trabalho, foi muito inferior aos 181,8 mil do mesmo mês do ano passado e também aos 203,2 mil de julho de 2008. O resultado foi superior aos 138,4 mil registrados em julho de 2009, quando se iniciava a recuperação da crise mundial. O resultado foi influenciado pelo desempenho recorde do setor extrativo mineral, que contratou 2 mil trabalhadores.

Responsável pelo maior estoque de empregados no país, com 14,9 milhões de trabalhadores formais (32,5% do total de postos de trabalho), o setor de serviços criou menos postos de trabalho em julho pelo terceiro mês consecutivo, na comparação com igual período do ano passado. Foram criadas 45,9 mil vagas em serviços em julho. Esse desempenho foi não só inferior aos 61,6 mil postos criados no mesmo mês de 2010, mas também o menor dos últimos dois meses - 53,4 mil em junho e 71,2 mil em maio.

"A terceira queda consecutiva, tanto na comparação com os últimos dois meses, como na comparação desses com igual período do ano passado já configura uma tendência", disse Fabio Romão, especialista em mercado de trabalho da LCA Consultores. Segundo ele, o setor de serviços é o que tradicionalmente apresenta maior resistência a movimentos da economia real. "Se ele está desacelerando é porque um processo de perda de força na atividade começou efetivamente."Na indústria, afetada pela competição com importados (que influencia menos os setores de comércio, serviços e construção civil) e pela desaceleração da economia, os efeitos de desaquecimento no mercado de trabalho são ainda mais evidentes. A indústria criou 23,6 mil vagas formais em julho, resultado pouco superior aos 22,6 mil de junho, mas muito aquém dos 41,5 mil registrados em julho do ano passado.

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, cedeu pela primeira vez em suas estimativas otimistas de criar 3 milhões de novas vagas este ano. Até o mês passado, Lupi afirmava que o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) terminaria o ano com este saldo. As estimativas mais otimistas do mercado não chegam a 2 milhões - a LCA prevê criação de 1,6 milhão, na conta sem a incorporação de dados coletados pelo governo nas empresas fora do prazo oficial, e 1,8 milhão, na conta "cheia".

Ontem, no entanto, Lupi reformulou sua estimativa, referindo-se, agora, aos dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), que leva em conta também a criação de vagas entre os militares e os funcionários públicos estatutários. O Caged contabiliza apenas a criação de vagas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Em 2010, enquanto o Caged registrou saldo de 2,5 milhões de vagas, a Rais apontou criação de 2,8 milhões.

Segundo Lupi, o fraco resultado de julho não indica uma tendência. Ele acredita que os dados de agosto a outubro serão mais fortes. "As pessoas estão falando tanto de crise mundial que algumas empresas seguraram um pouco as contratações, mas isso é passageiro, o Brasil anda com as próprias pernas", disse.

Para Romão, o saldo de agosto pode atingir até 239 mil vagas - 100 mil a mais que julho, portanto, mas, de acordo com o especialista, "não será uma reversão de tendência". Os meses de agosto a outubro concentram as contratações na indústria e no comércio, antevendo as festas de fim de ano, quando a atividade acelera. "O setor de serviços já apontou que o mercado de trabalho, embora ainda aquecido, não tem mais a mesma força do primeiro semestre", afirmou.

Pelos dados do Caged, no acumulado do ano foram criados 1,405 milhão de novas vagas. Desse total, a indústria respondeu por 19%, percentual inferior aos 26% que corresponderam à participação do segmento no mesmo período do ano passado.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Alimentação volta a pressionar inflação


Flavio Leonel

O coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), Antonio Evaldo Comune, elevou, de 0,29% para 0,38%, a expectativa para a inflação de agosto na capital paulista. Ele disse que o aumento na projeção para o indicador de inflação está ligado, principalmente, ao comportamento do grupo Alimentação, que surpreendeu o instituto na segunda quadrissemana de agosto, com uma alta mais forte do que a prevista.

Ontem, a Fipe informou que o IPC da segunda quadrissemana de agosto subiu 0,41%, ante alta de 0,33% verificada na primeira leitura do mês. O resultado ficou acima da projeção de Comune, que era de 0,32% para o período, e foi superior também às expectativas dos economistas do mercado financeiro ouvidos pelo AE Projeções, que esperavam alta de 0,32% a 0,38%.

O grupo Alimentação saiu de uma elevação de 0,25% na primeira quadrissemana, para uma alta de 0,57%.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Haja tempo:: Míriam Leitão


Passado o pânico da semana passada, esta semana é de pessimismo com os dados reais das economias europeias. Os mercados queriam que os dois líderes europeus anunciassem uma fórmula milagrosa, mas ela não existe. Um banco se resgata com dinheiro; uma crise de confiança se estanca com medidas espetaculares. Crise fiscal e recessão levam tempo para resolver.

Desequilíbrios fiscais na dimensão da que ocorre em algumas economias, algumas grandes, produzem crises crônicas. Assim ficará o mundo por longo tempo. Quando aparecer um dado positivo, uma forte declaração ou fato, haverá euforia; quando aparecer uma notícia ruim, pode voltar a fase de maior volatilidade.

Antes de cada reunião de líderes ficará a expectativa de que eles tragam alguma poção milagrosa. Neste começo de semana, houve desânimo com números do não crescimento europeu, para depois haver decepção com a reunião da chanceler Angela Merkel e do presidente Nicolas Sarkozy. O mercado torcia por medidas dramáticas, como um anúncio de que o Fundo Europeu de Estabilização Financeira passaria a ter 1 trilhão, em vez de 400 bilhões, e que os dois líderes fariam uma mágica, tirando da cartola um bônus europeu que pudesse substituir títulos de países encrencados que estão queimando na carteira dos bancos e fundos. Nada disso é fácil fazer, e por isso a Alemanha propôs a criação de mais um órgão supranacional e a França reapresentou a velha ideia de um imposto sobre transações financeiras internacionais, uma espécie de CPMF global. Anunciaram alguma coisa para não dizer que nada têm a dizer.

Para o Brasil, o cenário externo piora as expectativas um pouco, na opinião do economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio:

- Tínhamos um cenário de recuperação mundial lenta, com o Brasil mais seguro. Agora, já sabemos que seremos afetados. Mas, em termos relativos, estaremos sempre melhores. Se eles caírem muito, cairemos menos. Se conseguirem crescer pouco, cresceremos mais. Para o BC, ficou mais fácil lidar com a inflação porque a desaceleração está se confirmando. Mas o efeito sobre os preços ainda é muito incerto.

Por outro lado, a queda do crescimento mundial e a redução de preços de produtos que o país exporta podem complicar os dados do balanço externo. O economista José Augusto de Castro, da AEB, tem alguns números que impressionam:

- Em julho, com exceção de minério de ferro, açúcar e petróleo, as commodities tiveram queda em volume exportado. Em quantidade, porque o valor continua alto. O café caiu 18% no volume em julho; a soja, 18%; farelo de soja, 30%; óleo de soja, 12%. Suco de laranja caiu 32%; carne suína, 35%; carne bovina, 19%; carne de frango, 11%; couro, 17%; fumo, 7%. O minério de ferro subiu 7% e o açúcar está concentrado neste mês por causa das safras. A piora no cenário internacional da semana passada só começará a ter efeito sobre as exportações em dois a três meses. A soja já está vendida. O minério de ferro tem preço estabelecido por contrato. A dúvida é no ano que vem. Podemos ter queda na receita de exportação, com queda de preço e volume.

Os economistas estão recalculando o que acontecerá com a economia brasileira. Sérgio Vale, da MB Associados, disse que o cenário mais provável é de impacto forte, mas não de ruptura. Isso manteria o Brasil crescendo, mas num ritmo mais lento.

- Um período recessivo externo afetaria basicamente exportação e indústria. E o impacto maior neste último decorreria justamente das menores exportações para os países industrializados. Nesse cenário, o PIB poderia desacelerar para números não muito diferentes do que temos hoje. Seria um crescimento de 3,9%, ao invés dos 4,2% projetados atualmente. Num cenário de agravamento da crise externa, o crescimento brasileiro pode cair para 2,5% este ano.

José Júlio Senna, da MCM Consultores, lembra que o Brasil será afetado, apesar de a China continuar crescendo.

- Com os EUA e a Europa em recessão, o mundo todo crescerá menos, e isso vale para o Brasil. Cerca de 30% das exportações da China têm como destino os Estados Unidos e a Europa. Então se eles crescerem menos, a China será afetada e, consequentemente, o Brasil. A bolsa brasileira tem muita empresa de commodities. Se a China comprar menos do Brasil, a bolsa sentirá muito, e isso afetará as expectativas porque a bolsa é um canal muito importante para a confiança. A queda do Ibovespa também mexe com a visão que os estrangeiros têm do país. Diante dessa mudança, os investimentos são os que sofrem mais.

Então o que está diante de nós neste ano em que o cenário já mudou bastante é um longo período em que tudo ficará mais difícil. O Brasil pode ser afetado por vários canais. O que o governo não deve fazer é aumentar os gastos, distribuir subsídios, ampliar a oferta de empréstimos subsidiados pelos bancos oficiais para evitar que a crise nos afete. Isso foi usado em 2009. Reduziu a recessão, mas deixou a herança de desequilíbrios, na inflação e nos gastos públicos, principalmente porque em 2010 o Brasil não se preparou para essa segunda onda que agora está se formando.

O mundo precisará de tempo para digerir os enormes déficits e dívidas que acumulou. Não há estímulo fiscal brasileiro que mude esse cenário.

FONTE: O GLOBO

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

Walter Alfaiate - Coração oprimido