quinta-feira, 28 de julho de 2011

Opinião – Fernando Henrique Cardoso: Refazendo caminhos

 Antes de especificar estes argumentos, esclareço que a maior complexidade para as oposições se firmarem no quadro atual – comparando com o que ocorreu no regime autoritário, e mesmo com o petismo durante meu governo, pois o PT mantinha uma retórica semianticapitalista – não diminui a importância de fincar a oposição no terreno político e dos valores, para que não se perca no oportunismo nem perca eficácia e sentido, aumentando o desânimo que leva à inação. É preciso, portanto, refazer caminhos, a começar pelo reconhecimento da derrota: uma oposição que perde três disputas presidenciais não pode se acomodar com a falta de autocrítica e insistir em escusas que jogam a responsabilidade pelos fracassos no terreno “do outro”. Não estou, portanto, utilizando o que disse acima para justificar certa perplexidade das oposições, mas para situar melhor o campo no qual se devem mover.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente da República. O papel da oposição. Revista Interesse Nacional, nº 13, - abril-junho, 2011.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO

FOLHA DE S. PAULO

O ESTADO DE S. PAULO

VALOR ECONÔMICO

ESTADO DE MINAS

CORREIO BRAZILIENSE

ZERO HORA (RS)

JORNAL DO COMMERCIO (PE)

PT critica Jobim, que disse ter votado em Serra

Para petistas, ele está sem espaço no governo e quer sair
Maria Lima e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. A declaração pública do ministro da Defesa, Nelson Jobim, de que votou em José Serra (PSDB) na eleição de 2010 irritou petistas e foi interpretada ontem, tanto no PMDB quanto no PT, como mais um episódio em que ele revela seu mal-estar na relação com a presidente Dilma Rousseff. Dilma ignorou a declaração, e Jobim, por meio da assessoria, negou que esteja descontente no governo. Ontem, a "Folha de S.Paulo" publicou entrevista em que Jobim declara ter votado em Serra.

Jobim informou ontem que é "muito amigo de Serra e chegou a morar com ele em Brasília". Para Jobim, "não há surpresa alguma para ninguém". Petistas dizem que o ministro está sem espaço no governo e procura uma desculpa para sua provável saída:

- Aparentemente, Jobim está querendo sair do governo. Mas não posso afirmar isso. Só ele pode esclarecer. Agora, é estranho ele integrar o governo Dilma e dar esse tipo de declaração - disse o líder do PT, senador Humberto Costa.

"Deve se achar a última bolacha do pacotinho"

O mais irado era o secretário nacional de Comunicação do PT, deputado André Vargas (PR). No Twitter, ele disse não entender como Jobim continua no governo: "Para dar uma declaração destas Jobim deve se achar a última bolacha do pacotinho. Deve achar que não há outro ministro de Defesa possível. Se acha transpartidário" - disse. "Só votou no PSDB até agora, e o Lula o nomeou ministro. Na campanha declarou sua preferência e foi mantido. Aí se sente no direito de nos expor".

Nunca foi segredo a opção de Jobim por Serra. Após a eleição, a coluna Panorama Político, do GLOBO, publicou declaração do líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), afirmando que Jobim votara em Serra. Jobim não desmentiu.

Mas a declaração pública de Jobim incomodou o PMDB, porque ele explicitou não ter votado na chapa que incluía o vice-presidente Michel Temer, do seu partido, e sim Índio da Costa, ex-DEM. Soma-se a isso o fato de o ministro ter participado de reuniões dos senadores dissidentes do PMDB que pregam independência do governo. Henrique Alves preferiu reagir com bom humor:

- O que passou passou. Ele tinha uma amizade muito grande com o Serra, respeitamos. Agora, o nosso trabalho é convencê-lo a votar daqui a quatro anos na Dilma e no Michel.

Colaborou: Bruno Góes

FONTE: O GLOBO

Oposições nas ruas

Bloco da Mesa da Unidade vai realizar “blitzs” para fiscalizar Prefeitura

Franco Benites

As ações da Mesa da Unidade – bloco de oposição municipal – começam a sair do papel na próxima semana. A abertura dos trabalhos se dará com o lançamento do site oficial do movimento e com uma blitz na cidade. “Para marcar a volta às aulas, faremos uma fiscalização na área educacional. Não podemos adiantar a data para evitar maquiagem da Prefeitura”, destacou o ex-deputado Raul Jungmann (PPS).
Os oposicionistas também preparam a série de debates “Presente e Futuro da Cidade: Os Caminhos para o Recife”. Ainda sem local definido, o primeiro deles está marcado para 29 de agosto e poderá ter a participação de convidados nacionais e internacionais. No encontro inicial, serão discutidas soluções nas áreas de mobilidade, social (educação e saúde), infraestrutura e falta de manutenção do município. Já o site do movimento, cujo endereço ainda não está disponível, terá o apoio das redes sociais. A meta é usar o ambiente virtual para dialogar com os recifenses.
As estratégias da Mesa da Unidade foram apresentadas ontem. Na ocasião, o grupo apresentou a marca do movimento e reforçou a teoria de que nesse primeiro momento não há discussão em torno de pré-candidaturas. “A sucessão não está na pauta. Isso ocorrerá no ano que vem no âmbito de cada partido. Agora, é o momento de discussão técnica sobre os problemas do Recife”, destacou o presidente municipal do PSDB, Evandro Avelar.
O bombardeio será maior nas áreas de educação e mobilidade. Esse tema, que a partir da Via Mangue foi destaque ontem na nova propaganda da prefeitura, deverá suscitar grandes embates entre governistas e oposicionistas. “Há dez anos que se faz propaganda da Via Mangue. Hoje, não há nada além de um túnel que leva o nada a lugar nenhum e movimentações no Diário Oficial. Essa administração é virtual. O prefeito remanejou R$ 1,5 mil do Capibaribe Melhor para a propaganda porque quer criar a percepção de uma cidade que não existe”, criticou a vereadora Priscila Krause (DEM).
FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Aliados históricos cada vez mais distantes

Corrida às prefeituras deve colocar PCdoB e PSB em palanques opostos aos dos petistas na maioria das capitais

Tiago Pariz

Aliados históricos do PT, PSB e PCdoB planejam ser adversários dos petistas nas eleições municipais do ano que vem, nas maiores cidades do país. Seja com candidato próprio ou em alianças com partidos de oposição à presidente Dilma Rousseff, os quadros desenhados até aqui mostram que as conversas estão azedas em várias capitais. Fazem parte da lista São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, Belo Horizonte, Salvador, São Luís e Florianópolis, além de cidades paulistas importantes como Campinas, São Vicente e Jundiaí.

Na corrida pela prefeitura paulistana, o PT terá candidato próprio — os favoritos são a senadora Marta Suplicy e o ministro da Educação, Fernando Haddad. O PCdoB pretende lançar o vereador Netinho de Paula. Outro aliado histórico petista, o PSB, avisou ao governador Geraldo Alckmin que apoia o nome tucano desde que o concorrente não seja da alçada de José Serra.

O favorito de Alckmin é o secretário de Meio Ambiente, Bruno Covas. O dirigente socialista Márcio França, secretário de Turismo do governo Alckmin, disse que só haveria chance de apoiar um nome do PT na capital caso o candidato fosse um dos deputados federais: Jilmar Tatto, Carlos Zarattini ou Arlindo Chinaglia. "Em São Paulo, nós somos governo. Então é mais fácil caminhar com eles. E é pouco provável que os deputados do PT sejam candidatos", afirmou França.

O presidente do PCdoB, Renato Rabelo, disse ser emblemático para o partido ter candidato próprio em São Paulo e lembrou que Netinho teve votação expressiva para o Senado, ficando em terceiro lugar, com diferença diminuta para Marta Suplicy. Rabelo afirmou que a candidatura tem apoio do PDT e pretende avançar nas conversas com o PSB. "O PSB está sem alternativa, precisa apoiar alguém e se reunirmos apoio dos dois partidos teremos uma candidatura forte", desenhou Rabelo. Márcio França disse que houve conversas, mas descartou avanços por considerar Netinho competitivo, mas sem densidade suficiente para chegar à Prefeitura. Por conta dessas barreiras, há comunistas que pensam diferente de Renato Rabelo e acreditam haver espaço para conversas com o PT caso o candidato seja Haddad e não Marta.

O mesmo quadro de separação entre PT e aliados é observado em São Luís. O PCdoB voltará a apostar no presidente da Embratur, Flavio Dino, para disputar a prefeitura e terá o apoio do PSB. O PT, pela visão da direção nacional, deve primeiro conversar com o PMDB, da governadora Roseana Sarney.

As conversas sobre a sucessão em Belo Horizonte dividem petistas, socialistas e comunistas. Márcio Lacerda (PSB) é candidato à reeleição, mas o PT só aceita fechar aliança caso os tucanos não façam parte da chapa. "Se no centro da aliança tem um partido aliado, como PT ou PSB, é do nosso interesse fechar o apoio e não importa que outros partidos da oposição venham a aderir. Para nós não implica nenhuma dificuldade ter apoio de partidos da oposição", afirmou Rabelo. Os comunistas, por sua vez, se equilibram entre apoiar Lacerda e lançar a deputada federal Jô Moraes (PCdoB-MG). Segundo França, é mais fácil os socialistas cooptarem o apoio do PSDB em Belo Horizonte do que do PT.

Governadores

Em Salvador, o PCdoB entende que passou da hora de ter candidato próprio e pretende lançar a deputada federal Alice Portugal. "Passou da hora de ter candidato em Salvador", afirmou Rabelo. O dirigente do PSB sustentou que a senadora Lídice da Matta seria um nome forte, mas sublinhou que ela não se lançará contra a vontade do governador baiano Jaques Wagner.

Os socialistas estão privilegiando mais as conversas com os governadores do que com a presidente Dilma Rousseff. Em Florianópolis, o partido deve apoiar o nome a ser lançado pelo governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo. O PT, por exemplo, terá candidato próprio, mas não se decidiu sobre o nome. Não está descartada ainda a possibilidade de a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, concorrer, mas as chances são pequenas, segundo petistas.

Marina nega contato com tucanos

A ex-senadora Marina Silva (sem partido) negou ontem pelo Twitter qualquer negociação com o PSDB mineiro tendo em vista as eleições presidenciais de 2014. Ela receberá em breve o título de cidadã honorária de Minas Gerais, a requerimento do deputado estadual Délio Malheiros (PV-MG). O governo do estado chancelou a ideia e homenageará a ex-parlamentar, que amealhou quase 20 milhões de votos nas eleições presidenciais do ano passado. O decreto foi publicado neste fim de semana, mas a solenidade só será marcada quando o governador mineiro, Antonio Anastasia, voltar de agendas oficiais no Japão e na Alemanha.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Em menos de um mês, 20 já caíram no Dnit

Com o pedido de demissão de Geraldo de Souza, feito ontem, restou apenas um dos sete diretores do órgão

Roberto Maltchik, André de Souza e Maria Lima
BRASÍLIA. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) terá em seus quadros, a partir de hoje, 25 dias após o início da crise que assola o setor de Transportes, apenas um dos sete diretores da sua estrutura formal. Ontem, o diretor de Infraestrutura Ferroviária, Geraldo Lourenço de Souza, que também acumulava a diretoria de Administração e Finanças, pediu demissão ao ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos. Em nota, o ministério afirmou que o pedido será encaminhado à Presidência da República.

Segundo o jornal "O Estado de S.Paulo", em sua edição de ontem, Geraldo de Souza é réu em uma ação penal em Tocantins, onde o Ministério Público o acusa de corrupção passiva e falsidade ideológica. De acordo com a promotoria, em 2003, quando era delegado titular da Delegacia Estadual de Crimes Contra os Costumes, Jogos e Diversões, ele integrou uma quadrilha responsável pela exploração de jogos de azar, recebendo semanalmente R$1.500 de um contraventor.

Outro executivo do Dnit, também alvo de denúncias sobre suposto favorecimento, deixa o órgão: Nilton de Brito, superintendente do Dnit em Mato Grosso, pediu demissão no mesmo dia que o seu padrinho político, o ex-diretor geral do órgão Luiz Antonio Pagot, e sua exoneração foi confirmada ontem.

A empreiteira Engeponte Construções, de Milton de Brito, irmão de Nilton, fechou contratos de R$26 milhões com o Dnit nos últimos dois anos. Os dois contratos foram assinados após processo de licitação, e Nilton alega que a empresa do seu irmão não foi favorecida, pois já existia antes de ele assumir o cargo.

Com Souza e Britto, agora já são 20 pessoas que saíram do Ministério dos Transportes e órgãos vinculados - Dnit e Valec - desde que vieram à tona, no começo do mês, denúncias de corrupção envolvendo a pasta.

Superintendente no Paraná está na mira

Citado nos bastidores do governo como um dos dirigentes regionais do Dnit que estariam na mira da faxina da presidente Dilma Rousseff, o superintendente no Paraná, José da Silva Tiago, também ligado a Pagot, divulgou nota ontem para afirmar que foi nomeado "para arrumar a casa depois de denúncias de irregularidades no órgão". Diz que, em momento algum, foi citado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) ou pela Controladoria Geral da União (CGU) por atos irregulares no Paraná, desde que foi empossado, em setembro de 2009, e mesmo em outras atuações de sua vida pública, "como servidor de carreira há 36 anos".

No acordão 1541/2011 do dia 08 de junho passado, o ministro Ubiratan Aguiar, do TCU, dá um prazo de 90 dias para que José Tiago corrija o superfaturamento das obras de duplicação e adequação do Contorno Norte de Maringá, na BR-376/PR. O prejuízo para o erário, segundo o TCU, é de R$10.591.840,93. O superintendente, porém, diz que as recomendações do TCU foram atendidas e que nenhum dos relatórios de fiscalização resultou em condenação até agora.

FONTE: O GLOBO

Governo age e dólar tem maior alta em um ano

O governo anunciou ontem medidas para inibir a especulação com o dólar. As operações ficarão mais caras, pois quem fechar novos negócios com derivativos e elevar sua posição acima de US$ 10 milhões recolherá 1% de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). O primeiro efeito do pacote foi conter a queda da moeda americana, que teve alta de 1,3% -a maior em um ano- e atingiu R$ 1,557

Dólar tem maior alta do ano após novas medidas

Moeda americana sobe 1,3% com criação de imposto para derivativos, mas efeito no longo prazo é incerto

Decisão do governo pode inibir especulação, mas aumentará custos para exportadores e empresas endividadas

BRASÍLIA, SÃO PAULO, RIO - O governo anunciou ontem novas medidas para inibir a especulação com o dólar no mercado financeiro, em mais uma tentativa de combater os efeitos negativos da enxurrada de dólares que atinge a economia brasileira.

As medidas afetam o mercado de derivativos, instrumentos financeiros que empresas e investidores usam para se proteger contra variações inesperadas na taxa de câmbio ou simplesmente para especular com o dólar.

O primeiro efeito das medidas foi conter a queda do valor da moeda americana, cuja cotação no mercado brasileiro subiu ontem 1,3% e atingiu R$ 1,557. Foi a maior alta observada em um ano.

Mas o impacto das medidas no longo prazo ainda era considerado incerto ontem. Uma das únicas certezas era que elas aumentarão os custos que as empresas têm para evitar perdas em seus contratos de exportação e com dívidas contraídas no exterior.

O governo anunciou que passará a cobrar 1% de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) em novas transações feitas por investidores que tiverem mais de US$ 10 milhões em negócios no mercado de derivativos e quiserem aumentar suas apostas.

Ao apresentar as medidas, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a alíquota do novo imposto poderá ser elevada para até 25% se o governo julgar necessário. "Vamos tirar rentabilidade da especulação", afirmou.

O secretário-executivo da Fazenda, Nelson Barbosa, reconheceu que as medidas trarão custos para os exportadores, um dos principais motores da atividade econômica no país hoje. Mas disse que esses custos poderão ser compensados se a queda do valor do dólar for contida.

O dólar barato ajudou o governo a conter a inflação nos últimos meses, barateando produtos importados que competem com mercadorias nacionais. Mas ele torna as indústrias exportadoras menos competitivas no exterior.

O governo adotou diversas medidas nos últimos meses para conter a entrada de dólares no país, taxando aplicações financeiras e empréstimos externos de curto prazo, mas não conseguiu evitar a valorização do real em relação à moeda americana.
Muitos investidores driblaram as restrições impostas pelo governo e continuaram trazendo dólares para aplicar no Brasil, que é hoje um país atrativo para os investidores por pagar taxas de juros muito superiores às encontradas nos EUA e na Europa.

INTERVENÇÃO

Operadores do mercado de câmbio disseram que as medidas anunciadas ontem dificilmente mudarão isso, mas poderão coibir operações financeiras mais arriscadas como as que muitas empresas teriam feito para lucrar especulando com o dólar.

Muitos investidores se assustaram com o poder que as medidas dão ao governo para intervir de maneira agressiva nos negócios com derivativos. "A medida autoriza uma ampla intervenção no mercado", disse Sidnei Nehme, diretor da corretora NGO.

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse que as novas medidas têm o objetivo de garantir a estabilidade financeira do país e não afetarão os investimentos estrangeiros no setor produtivo, que atingiram nível recorde nos últimos meses. "O Brasil continua sendo receptivo a investimentos estrangeiros", afirmou.

E EU COM ISSO? MESMO SE SUBIR, DÓLAR AINDA ESTARÁ BARATO

Se as medidas surtirem efeito, o dólar poderá voltar a subir. Essa alta não encarecerá as viagens ao exterior e o preço dos importados. A trajetória do dólar no mundo é de baixa. Quem precisa pode comprar em pequenas frações: se a moeda subir, a pessoa terá comprado parte do que precisa com preço bom; se cair, ainda poderá adquiri-la por valor atraente.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Bom sinal:: Merval Pereira

O PMDB está incomodado com as notícias de que os ministérios ocupados pelo partido não serão investigados porque o governo precisa do apoio dos peemedebistas para garantir a governabilidade. Em vez de se envaidecer com o que poderia ser o sinal de sua força política, o PMDB entende que, ao contrário, essa percepção refletiria uma fraqueza institucional que lhe é prejudicial.

O vice-presidente da República, Michel Temer, que acumula a função com a presidência de fato do PMDB, chegou a esboçar uma nota pedindo que os órgãos fiscalizadores do governo revelem se existe alguma suspeita de má conduta de algum indicado pelo PMDB nos ministérios e em órgãos públicos.

Seria uma exigência que poderia parecer uma confrontação, e essa foi a razão oficial para que a nota tenha sido abortada.

Mas, na verdade, o que as lideranças do PMDB estão discutindo é qual a melhor maneira de reagir a essa percepção generalizada de que o PMDB só não é escrutinado pelo governo porque é muito forte e indispensável para o apoio do governo no Congresso.

O que embute a ideia de que, se fiscalizarem os órgãos dirigidos pelo PMDB, encontrarão as mesmas falcatruas ocorridas no Ministério dos Transportes.

Há na verdade uma ideia de setores do governo de intervir em Furnas Centrais Elétricas, órgão do Ministério das Minas e Energia sob o controle do PMDB, mas ainda não houve clima político que permita essa atitude.

De qualquer maneira, é interessante que o PMDB tenha essa reação, é um bom sinal. Nenhum partido quer ser visto como blindado por questões políticas, todos querem ser vistos como partidos corretos. O mais complicado é agir com correção.

Mas esse pode ser um bom efeito colateral da faxina que a presidente Dilma empreende no Ministério dos Transportes. Se todo mundo ficar com essa preocupação, pode ser que melhore a situação.

Blindados ou não, partidos da coligação governamental terão que enfrentar uma nova situação, pois é previsível que novas denúncias surjam em diversas áreas, não apenas porque é provável que haja outros focos de corrupção no governo, mas porque a guerra interna está aberta.

A disputa dentro do governo prossegue, e, assim como pegaram o PR, os dirigentes desse partido devem também estar levantando dossiês contra outros partidos.

PT e PMDB continuam na disputa pelo espaço de poder, e essa guerra de dossiês, uma distorção de nossa democracia, tende a continuar enquanto as relações políticas estiverem pautadas nos termos atuais, mais pelo fisiologismo do que por projetos de governo.

O importante é saber como a presidente se comportará diante de novas denúncias, especialmente se elas surgirem em setores controlados por partidos políticos fundamentais no apoio legislativo.

Em agosto do ano passado o economista Roberto Gianetti da Fonseca, diretor de Comércio Exterior da Fiesp, teve uma reunião com o ministro Guido Mantega para tentar convencê-lo de que somente com a taxação da especulação com o dólar futuro a valorização do real seria contida.

A medida demorou a ser adotada porque a Bolsa de Mercadorias e Futuro (BMF) e a Federação dos Bancos (Febraban) conseguiram evitá-la esse tempo todo, com a alegação principal de que poderia haver uma crise no mercado financeiro.

A tese da Fiesp é que a entrada de investimento direto no país, que tem batido recordes, não justificaria por si só a valorização do real de tal magnitude, já que o déficit de conta corrente - serviços, turismo - quase equilibraria a balança.

O turismo, por sinal, também tem batido recordes históricos de gastos de brasileiros no exterior.

O volume em jogo no mercado futuro é que seria o responsável principal pela especulação que leva o dólar a se derreter, pois a legislação brasileira permitia que os especuladores jogassem ao mesmo tempo nas duas pontas, com a valorização do real e a alta dos juros.

As medidas adotadas ontem pelo Ministério da Fazenda têm o objetivo de aumentar o risco e reduzir o lucro dos operadores do mercado futuro de dólar.

Não é a bala de prata que resolverá a questão cambial, mas é um passo importante.

Na coluna de ontem houve um pequeno empastelamento que acabou alterando o sentido de uma frase.

O título da palestra do historiador Boris Fausto na Academia Brasileira de Letras é "A flexibilização da ética".

A frase seguinte tinha a ver com outro parágrafo, onde estavam listadas algumas das razões específicas do processo brasileiro citadas por Fausto, valendo-se de um trabalho do historiador e acadêmico José Murilo de Carvalho, para a crise ética que vivemos, como lideranças políticas vindas da ditadura militar e o presidencialismo de coalizão.

Para os leitores mais jovens, e os que não são acostumados a termos técnicos do jornalismo, especialmente os anacrônicos, empastelamentos eram fenômenos comuns antigamente, quando comecei a trabalhar em jornal, no tempo do linotipo, mas como não sei definir, nesses tempos digitais, o que aconteceu, valho-me do termo antigo mesmo.

Refere-se a "misturar ou apresentar em desordem os tipos, títulos, linhas de composição, na montagem ou paginação", segundo o Dicionário Houaiss.

FONTE: O GLOBO

Caminho da roça:: Eliane Cantanhêde

Há coisas que a gente pensa, mas não diz. Há coisas que todo mundo sabe e não precisam -ou não devem- ser ditas. Ao agredir essas duas regras básicas de elegância social e convivência pacífica, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, deixa no ar uma interrogação: aonde ele quer chegar?

Em entrevista a Fernando Rodrigues na estreia do programa "Poder e Política" da Folha, Folha.com e UOL, Jobim justificou que "não costuma fazer dissimulações" e disse, em bom e alto som, que votou no tucano José Serra em 2010.

Acrescentou que, com Serra, "seria a mesma coisa" na gerência da crise dos Transportes, quando Dilma Rousseff botou 18 para correr, incluindo os que optaram pela versão da demissão "a pedido".

Tanto quanto não há e não havia dúvida sobre o candidato de Jobim na eleição Serra versus Dilma, não há dúvida de que ele está insatisfeito. Primeiro, criticou o governo até em casamento. Depois, usou um discurso em homenagem a Fernando Henrique para falar nos "idiotas" que ficam e lembrar que o ex-presidente não gritava e não humilhava assessores. Nada sutil.

Chamado ao Planalto, disse a Dilma que era tudo intriga da imprensa. Aliás, que os "idiotas" a que se referira eram os jornalistas que criticavam FHC. Todos, e sobretudo Dilma, fingiram que acreditaram, mas isso certamente ficou entalado. Agora mais essa. Novamente chamado, o que Jobim diria?

Esse excesso de liberdade para falar verdades aí tem uma origem certa e um objetivo deduzido. A origem é que Jobim só está ministro porque Lula convidou e Dilma engoliu. O objetivo é que, sem ter mais o que fazer, Jobim está tomando o caminho da roça.

O mais curioso é que, enquanto o PT tomou as dores de Dilma, o PMDB se dividiu entre os que não viram nada demais e os que até defenderam o correligionário.

Assim: o PMDB é leal a Dilma, mas não pega em armas por ela.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Jogo das carapuças:: Dora Kramer

Dizer que há mal-estar no PMDB em relação a atitudes da presidente Dilma Rousseff, digamos que não seja notícia nova nem que se configure fato passível de produzir riscos de peso à coalizão governamental.

A saúde da aliança segue preservada, a despeito de alguns abalos e do inconformismo com a perda de espaço, de prestígio e de importância dos cargos destinados ao partido em relação ao governo Lula.

Mas digamos também que a insatisfação no PMDB seja um fator de tensão perfeitamente percebido pelo Palácio do Planalto e, quando necessário, utilizado pelos dirigentes do partido para impor um alto lá.

Há um caso desses em curso e diz respeito ao que os pemedebistas identificam internamente como uma ofensiva do governo de se aproveitar da má fama dos políticos para acrescentar pontos positivos à imagem de "paladina" da luta contra a corrupção que Dilma vem conquistando desde que iniciou a série de demissões no Ministério dos Transportes.

A desconfiança que suscitou o mais recente curto-circuito surgiu no fim da semana passada, quando circularam na imprensa declarações atribuídas a ministros e auxiliares próximos de Dilma dando conta de que ela seria "cautelosa" no exame de denúncias que porventura envolvessem o PMDB.

Davam a entender que o partido seria poupado do procedimento reservado ao PR, por conta de seu peso e poder específicos. Receberia do Planalto um tratamento diferenciado como uma forma reverência.

Se de um lado esse tipo de manifestação, se confirmado, deixasse o governo mal, porque indicaria a existência de pesos diferenciados para o combate à corrupção, de outro as antenas do PMDB captaram a mensagem como tentativa de acusar o partido pela via da insinuação e resolveu reagir.

Na segunda-feira alguns ministros e dirigentes se reuniram com o vice-presidente Michel Temer e redigiram uma nota afirmando que a apuração de irregularidades não é uma questão política e, portanto, os "órgãos de controle" deveriam estar à vontade para cumprir sua obrigação de fiscalizar sem o receio de reações.

Inicialmente o documento sairia ontem, como iniciativa dos ocupantes de cargos federais. Como a notícia saiu horas antes de a nota ser divulgada, Temer resolveu submeter o texto à Executiva do PMDB explicando que a intenção não é de ataque, mas de defesa, o que seria feito na próxima segunda-feira.

Se houver discordância quanto à oportunidade de oficializar a posição em nota, nem por isso se perde a essência do que está escrito porque é exatamente o que vem sendo dito pelo partido. Em tradução livre: devagar com o andor, que há muitos santos de barro.

Pelas beiradas. Assim como quem não quer nada e querendo tudo, o senador Aécio Neves evolui no cenário como candidato a presidente em 2014, em fase de evidente "agregação de valores".

No Senado, aproxima-se sem alarde dos colegas governistas; no movimento sindical, articula conquista de apoio junto a centrais; no mundo artístico circula com desenvoltura.

O lance mais recente é a concessão do título de cidadã honorária de Minas Gerais à ex-senadora Marina Silva. E assim segue Aécio estreitando relações, a fim de construir uma candidatura que mais adiante, no momento adequado, o encaixe com suavidade na moldura de um nome "natural".

Noção das coisas. O ministro do Supremo Tribunal Federal José Antonio Toffoli silencia sobre a ida dele ao casamento do criminalista Roberto Podval na Itália, com despesas de hotel pagas pelo noivo, mas não deveria. Aliás, nem poderia se o Judiciário precisasse de fato prestar contas a alguma instância eficaz de controle.

Podval não é um amigo como qualquer outro, como quer fazer crer Toffoli ao se recusar a dar satisfação de seus atos. Podval é um advogado que atua junto ao Supremo e isso marca toda a diferença entre o público e o privado. Preceito constitucional que integrantes da corte têm - ou deveriam ter - o dever de resguardar.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

As complicações da economia já este ano e o custo político do agravamento em 2012::Jarbas de Holanda

Só com a progressiva retomada em agosto dos trabalhos do Senado e da Câmara, depois do recesso de julho, será possível medir-se com alguma precisão as repercussões no conjunto da base governista no Congresso do desmonte do controle do ministério dos Transportes pela cúpula do PR. Bem como se a presidente Dilma Rousseff parara com a demissão do ministro Alfredo Nascimento e dos dirigentes do DNIT e da Valec sua ofensiva moralizadora do governo (curiosamente até agora apenas como resposta a denúncias da imprensa), ou se a estenderá a órgãos da máquina federal ocupados por representantes de outros partidos, especialmente do principal aliado, o PMDB, nesta hipótese subestimando advertências do antecessor sobre os riscos de erosão da referida base. Esta semana – no contexto de férias parlamentares – cabe tratar das complicações da economia, que se traduzem num leque de indicadores negativos do desempenho este ano, e em projeções do adensamento deles em 2012. Independentemente das implicações de possível, mas improvável, desencadeamento de uma crise na economia dos EUA com a persistência do impasse entre o governo Obama e a maioria de republicanos na Câmara de Representantes.

Seguem-se alguns desses maus indicadores da relação da nossa economia com o Palácio do Planalto, no primeiro semestre do governo Dilma. A forte valorização do Real exacerba os problemas restritivos de nossas exportações industriais e de serviços. A continuidade do aumento das despesas de custeio – em torno de 12% em relação à disparada delas promovida no ano eleitoral de 2010, desqualifica a promessa formal e reiterada da nova presidente de que iria reduzi-las; promessa combinada com outra igualmente desmentida – a de preservação do nível de investimentos, que teve queda significativa crescendo apenas 1,5%. Por outro lado, reforçam-se as avaliações relativas à inflação e ao PIB deste ano, também contrapostas às do governo: de que a primeira tende a situar- se além do limite de tolerância da meta, de 6,5% (o que vai alimentando um processo de reindexação) e de que o crescimento será inferior a 4% (de 3,8% segundo pesquisa da CNI divulgada ontem). O presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, já admitiu – praticamente antecipando – uma elevação do preço dos combustíveis. E voltam a circular informações de que o Planalto terminará partindo para a recriação da CPMF (ou adoção de imposto semelhante).

Quanto ao desempenho em 2012, a pesquisa Focus feita semanalmente pelo Banco Central e divulgada anteontem, mudou a estimativa de inflação de 5,2% para 5,8% constituindo mais um indicador da inviabilidade do objetivo de retorno, até o final do próximo ano, do índice ao centro da meta de 4,5%. E tal estimativa dificilmente resistirá ao impacto e aos desdobramentos do salto das despesas, a partir do início de 2012, decorrentes do aumento de 14% do salário mínimo e dos seus efeitos nas contas da Previdência, bem como nos custos dos serviços em geral. Cabendo lembrar que parte desses efeitos afetará as finanças dos estados e municípios. Isso tudo sob as pressões por mais gastos de um governo petista, num ano eleitoral.

Lula, Alckmin e as prévias

Os principais adversários na disputa eleitoral paulistana de 2012, o expresidente Lula e o governador Geraldo Alckmin, têm também posturas divergentes quanto à realização de prévias no processo de indicação dos candidatos a prefeito, do PT e do PSDB. Lula é contrário com o argumento de que acirram os conflitos entre os pré-candidatos, dificultando a necessária unidade na fase decisiva da disputa; e, de fato, pelo motivo de que elas atrapalham seu papel, como maior liderança petista, de condutor do processo. Da escolha do nome à montagem de alianças (tendo em vista já um 2º turno), com o tratamento da campanha como etapa dos objetivos maiores, projetados para 2014, de derrota da hegemonia tucana no estado de São Paulo e da eleição presidencial, em que poderá voltar a ser protagonista. Já para o governador Alckmin, a defesa das prévias associa-o, bem como o PSDB, à democratização das decisões partidárias, com bons dividendos na opinião pública. E a realização delas – num cenário em que ele conta com amplo apoio do conjunto do partido no estado e na capital – terá dupla utilidade. De um lado, a provável indicação de um pré-candidato afinado com o Palácio dos Bandeirantes. De outro, a de reduzir sua dependência de uma definição de José Serra (se assumirá ou não a candidatura), com a geração de alternativa capaz de forçar tal definição. Que, Alckmin segue torcendo para que seja positiva.

Jarbas de Holanda é jornalista

A crise da Europa e o ódio da extrema-direita:: Cláudio de Oliveira

Recebi com espanto e consternação as notícias vindas da Noruega. Um militante de extrema-direita, Anders Behring Breivik, de 32 anos, assumiu a autoria do atentado contra o escritório do primeiro-ministro Jens Stoltenberg, do Partido Trabalhista, de tendência social-democrata, bem como o massacre de adolescentes no acampamento de férias da juventude trabalhista. Ao todo, segundo a polícia, foram 76 mortos.

O extremista, que se auto-intitula cristão radical e nacionalista, justifica sua ação como defesa da Europa contra o islamismo e o marxismo, isto é, as ideias socialistas.

É possível que aquela seja uma ação isolada de uma pessoa mentalmente perturbada. Mas o episódio está longe de ser um fato isolado. O substrato ideológico da ação há tempos se dissemina pelo velho continente. É a pregação do ódio racial, religioso e xenófobo dos muitos partidos de extrema-direita que crescem pela Europa, inclusive do Partido Popular, da Noruega, do qual o assassino foi militante.

Tal pregação contra os imigrantes, negros, árabes, latino-americanos, asiáticos, encontra receptividade junto a setores menos esclarecidos da população, assustados com a crise econômica, o rebaixamento do seu nível de vida, o desemprego e a falta de horizontes. Em vez dos judeus, a intolerância se volta agora contra os muçulmanos.

E nos Estados Unidos, cresce a pregação reacionária da ala de extrema-direita do Partido Republicano, o “Tea Party”, que vem criando obstáculos à administração do democrata Barack Obama.

A crise econômica nos EUA e na Europa

Em 2008, li mensagens de amigos esquerdistas alegres com a crise das hipotecas dos Estados Unidos. Segundo eles, enfim, o capitalismo vivia sua crise terminal. Lembrei-me dos tempos de militante do Partidão, nos anos 1980, quando os velhos e experimentados dirigentes rejeitavam a tese do “quanto pior, melhor”, muito comum, à época, a determinados grupos de esquerda.

Alertavam que, na crise de 1929, não foram as correntes socialistas que se beneficiaram das dificuldades econômicas e sociais, mas exatamente o seu extremo oposto, a extrema-direita. O exemplo era a Alemanha de Weimar, de 1918 a 1933, com mais de seis milhões de trabalhadores alemães jogados no desemprego, quando o Partido Social-democrata, o Partido Social-democrata Independente e o Partido Comunista foram incapazes de chegar a um acordo. O resultado trágico da divisão foi abrir espaço para a vitória da extrema-direita, do Partido Nazista, de Adolf Hitler.

Ainda que cada vez mais minoritárias, há ainda certas esquerdas que acreditam em construir um possível socialismo a partir dos escombros do capitalismo, que se auto-destruiria a partir de suas próprias contradições internas.

É curioso que já no século XIX, em 1890, um marxista alemão, Eduard Bernstein, em seu livro “Os pressupostos do socialismo e as tarefas da social-democracia”, rejeitava tal visão apocalíptica do ortodoxia socialista. Para ele, o socialismo seria não uma negação pura e simples do capitalismo, mas a sua superação, com a democratização de suas estruturas pela ação dos cidadãos, dos partidos e dos movimentos sociais. Tal superação não seria um determinismo histórico, mas uma opção ética e moral da sociedade.

Não sou cientista social, mas vejo como ingênua a visão daqueles que veem a atual como uma crise final do capitalismo. Avalio que aquele sistema ainda tem muito a se expandir pela Ásia, pela China, pela América Latina e pela África.

Volta à regulamentação social

Há pelos menos 300 anos, o mundo ocidental se bate internamente. De um lado, sua face sombria, das Cruzadas, da Inquisição, do absolutismo, do obscurantismo religioso, do fascismo, do nazismo e das ditaduras. De outro, seu lado esclarecido, do Iluminismo, da razão, do humanismo, dos ideais da democracia e da igualdade social.

Creio eu que o que está posto pela realidade é a necessária regulamentação do capitalismo em termos internacionais. É o que defende o historiador britânico Tony Judt, morto o ano passado, em seu livro “O mal ronda a terra”, ante à voracidade do sistema financeiro, desregulado nos anos 1980-1990, e reponsável pela atual crise mundial.

Cláudio de Oliveira, jornalista e cartunista (http://chargistaclaudio.zip.net)

Dólar e juros:: Míriam Leitão

As medidas anunciadas pelo Ministério da Fazenda estão na direção certa. Não resolvem o problema do dólar, mas aumentam a prudência e evitam o excesso da tendência de valorização. No governo, a avaliação é que desde o começo do ano a situação internacional se deteriorou muito. A elevação dos juros será interrompida mesmo com a inflação acima da meta.

Ontem o dólar subiu, mas não foi um fenômeno só brasileiro. Aconteceu no mundo inteiro, e as explicações no mercado eram as mais variadas. No Brasil, foi atribuído às decisões anunciadas no mercado de derivativos, que elevaram o custo das operações no futuro de dólar e limitaram ou obrigaram o registro das operações. O governo quis com as medidas impedir os excessos de queda do dólar, e também aumentou a transparência das operações.

Há quem considere que, travadas aqui, as operações de derivativos continuarão a ser feitas no exterior porque elas nascem da necessidade de proteção das empresas. Quem tem risco cambial precisa se proteger nessas operações de futuro do dólar. O problema é que o Brasil já se queimou uma vez exatamente por isso. Todos se lembram das encrencas em que se envolveram empresas grandes e internacionalizadas, em 2008, por excesso de exposição a derivativos cambiais.

O problema cambial não tem a ver apenas com operações que foram inibidas ontem, e sim com a questão maior da crise internacional. E é justamente pelo grau de incerteza, e a deterioração rápida e profunda do cenário da economia americana e europeia, que o Banco Central muito provavelmente manterá os juros estáveis. Hoje, quando sair a ata, os termos podem continuar sendo herméticos, mas depois de cinco altas, os juros ficarão parados por algum tempo, exatamente esperando a evolução da economia internacional.

Nos Estados Unidos, o impasse continua. Há um ritual que tem que ser cumprido quando um país deixa de pagar algum título: as agências de classificação rebaixam a nota da dívida soberana e em seguida os fundos de investimento do mundo inteiro tiram parte daqueles papéis de seu portfólio. No caso americano pode acontecer uma das duas coisas: ou há um acordo de última hora que eleve o teto da dívida; ou eles não pagam, as agências rebaixam, mas mesmo assim os fundos não cumprirão a rotina de se desvencilhar dos papéis, porque eles são, afinal, os títulos do Tesouro americano, que em algum momento superará o impasse político. O Brasil tem, como se sabe, mais de US$200 bilhões em títulos do Tesouro americano entre as suas reservas.

Na Europa, a crise não foi resolvida. Foi apenas delineada. Agora já se sabe que os bancos perderão parte dos seus ativos, tendo que conceder descontos no valor do principal dos títulos gregos. O Fundo Europeu de Estabilidade Financeira receberá recursos, e o próprio Banco Central Europeu terá que ser capitalizado porque ele também tem títulos da dívida grega. Mas não basta ter assinado o acordo fechado na última quinta-feira. Os parlamentos dos países maiores terão que aprová-lo, porque são eles que depositarão recursos fiscais no fundo e no BCE para capitalizá-los.

Qualquer que seja a evolução tanto dos Estados Unidos quanto da Europa, o cenário é de baixo crescimento. As empresas americanas estão anunciando balanços com lucro, mas a recuperação continua fraca e sem criação de emprego. A crise da Europa ainda tem incertezas, o risco de contaminação não foi debelado e o baixo crescimento afeta a maioria dos países. Neste contexto é que o Brasil vai parar de subir os juros. Pelas incertezas do mercado internacional.

Aqui dentro, a inflação vai continuar subindo dos atuais 6,7% em 12 meses. Vai superar 7% e ficar assim até setembro. No último trimestre, a inflação de cada mês será alta, mas não tão alta quanto a do ano passado e por isso o acumulado em 12 meses vai cair. Daí para diante a avaliação feita no governo é que a inflação continuará caindo até maio, mas há riscos de que esse cenário benigno não se concretize, dependendo de alguns preços da entressafra, como etanol, mas principalmente pelo impacto do aumento do salário mínimo sobre custos do governo e na inflação de serviços. Quem acredita que a queda da inflação anualizada continuará pondera que a inflação de outubro de 2010 a maio de 2011 foi bem alta. Portanto, ao sair o dado desse período e entrar o de outubro de 2011 a maio de 2012 a tendência será continuar a queda.

Tudo isso pode ser alterado se houver uma elevação da moeda americana. O governo fica assim no dilema de tomar medidas para evitar o derretimento do dólar - como as que tomou ontem - mas se a moeda subir demais será mais um fator inflacionário num contexto em que não está ainda garantido que a inflação caminhará em direção ao centro da meta.

As medidas anunciadas ontem que obrigam o registro de operações no mercado de balcão com derivativos cambiais, ou impõe novos impostos sobre as operações, podem evitar o excesso de especulação. Mas o problema cambial é maior e muito difícil de resolver.

FONTE: O GLOBO

Tucanos inauguram obra e fazem festa ao PMDB em SP

Inauguração de ponte que levou nome do ex-governador Orestes Quércia reuniu lideranças dos dois partidos; PSDB busca aproximação com foco em 2012

Daiene Cardoso

De olho numa possível aproximação com o PMDB nas eleições municipais de 2012, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), inaugurou nesta quarta-feira, 27, a ponte estaiada Governador Orestes Quércia, homenagem ao ex-presidente do diretório estadual peemedebista morto em dezembro de 2010. O evento na capital paulista reuniu caciques do PMDB paulista, prefeitos, deputados, vereadores e desafetos históricos no mesmo palco, entre eles o pré-candidato do PMDB à sucessão do prefeito Gilberto Kassab, deputado federal Gabriel Chalita (SP), e o ex-governador José Serra.

Além da mulher Alaíde e de três dos quatro filhos de Quércia, compareceram ao tributo a ele o vice-presidente da República, Michel Temer, que veio representando o PMDB nacional, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, o deputado estadual Baleia Rossi (presidente do PMDB em São Paulo), o vereador paulistano Antonio Goulart (quem sugeriu a homenagem a Quércia), a vice-prefeita Alda Marco Antônio, o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, e líderes regionais do partido.

Entre os tucanos marcaram presença, além de Serra, o ex-governador Alberto Goldman, o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP) e secretários de Alckmin. Numa festa que teve como anfitriões tucanos e peemedebistas, compareceram também o prefeito Gilberto Kassab (ex-DEM), o vice-governador Guilherme Afif Domingos (ex-DEM), o deputado federal Paulo Maluf (PP) e o senador petista Eduardo Suplicy.

"Justíssima". Durante a inauguração da ponte, Alckmin celebrou a "justíssima" homenagem a Quércia. "Nós relacionamos esta homenagem ao seu papel importante na redemocratização do País", disse. Segundo Alckmin, a obra de R$ 85 milhões que ligará a Avenida do Estado e a Marginal do Tietê está à altura da importância de Quércia para o Estado: "Ele dedicou uma vida inteira a São Paulo e ao Brasil e foi o governador das grandes realizações."

Em nome do PMDB, Temer elogiou a "sabedoria" de Alckmin em dar o nome de Quércia a uma obra de grande porte. "Vossa Excelência teve a sabedoria de não nomear uma rua, uma pequena ponte", agradeceu. Embora Quércia tenha liderado o PMDB paulista na campanha do então candidato José Serra à Presidência da República, Temer fez questão de anunciar que trazia de Brasília os cumprimentos de diversos ministros, incluindo os que não são do PMDB. "Trago também o abraço fraternal da presidente Dilma Rousseff à dona Alaíde (viúva de Quércia)", acrescentou.

Em seu breve discurso, Temer afirmou que Quércia foi uma "ponte entre o povo mais humilde e o poder". Diante de Serra, o líder do PMDB rasgou elogios a Alckmin e Kassab pela capacidade de demonstrar "que podem unir as mais variadas correntes". "Vocês são aqueles que unem as pessoas e a democracia precisa disso." Perguntado por jornalistas se a homenagem era um sinal de aproximação entre PSDB e PMDB visando a 2012, Temer disse que em política "tudo é possível". "O que vai acontecer só o futuro vai dizer", desconversou.

Amigos e inimigos. Em uma de suas primeiras inaugurações como pré-candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo, o deputado federal Gabriel Chalita teve de dividir o palco com amigos e inimigos políticos. Discreto na chegada, o deputado foi anunciado pelo mestre de cerimônias, subiu ao palco e evitou cumprimentar o prefeito Gilberto Kassab e o ex-governador José Serra.

Chalita preferiu ficar no fundo, o mais distante possível de Serra e Kassab. Cumprimentou ex-colegas tucanos, como o ex-governador Alberto Goldman, mas, quando percebia a aproximação de Serra, mudava imediatamente de lado. O deputado chegou a passar ao lado de Kassab, mas fingiu que não viu. Em nome da diplomacia, Kassab também se fez de desentendido, mas no discurso não relacionou o deputado na lista das autoridades presentes. Se Serra e Kassab ignoraram o deputado, Temer e Alckmin (tradicional aliado de Chalita) chamaram a atenção para sua presença em seus discursos.

Desde que trocou o PSB pelo PMDB, Chalita tem procurado circular com o vice-presidente da República. Recentemente, o deputado acompanhou Temer na cerimônia de premiação dos destaques AE Empresas e Setores, evento promovido pelo Grupo Estado e que reuniu empresários de todo o País em São Paulo. Nesta quinta, Chalita participou do evento como presidente do diretório municipal do partido. Ao final da inauguração, Chalita saiu pelos fundos, sem falar com a imprensa, acompanhado do vice-presidente da República.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Nos EUA, o tempo está acabando

Em mais um dia de corrida contra o relógio, os republicanos adiaram para hoje a votação de uma proposta para cortar gastos públicos e conter o déficit. Os Estados Unidos lutam para elevar o teto do endividamento no Congresso até o dia 2 de agosto para que não entrem em moratória. O presidente Obama não quer aumentar o limite por decreto

Republicanos alteram proposta sobre dívida

Casa Branca argumenta que plano democrata é mais abrangente no corte de gastos, com US$2,2 trilhões

Fernando Eichenberg*

WASHINGTON. A Casa Branca lançou ontem uma nova ofensiva para sobrepor seu plano de aumento do teto da dívida federal, hoje em US$14,3 trilhões, à proposta dos republicanos, que deverá ser debatida hoje no plenário da Câmara. Os democratas acusam a oposição de desperdiçar um tempo precioso, pois o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, já anunciou sua intenção de vetar o projeto de lei dos republicanos, de improvável aprovação no Senado.

A proposta alterada ontem pelo líder da maioria republicana na Câmara, John Boehner, prevê US$917 bilhões de cortes de gastos públicos em dez anos e uma elevação do limite da dívida de US$1 trilhão - o que garantiria recursos para o Tesouro americano por apenas mais seis meses. Entre seus argumentos, o governo usou o relatório do Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês), que apontou um corte superior, de US$2,2 trilhões, se adotada a proposta do líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid.

Obama rejeita recorrer a emenda constitucional

Na véspera da possível votação na Câmara, os líderes republicanos ainda não estavam seguros de poder contar com as 217 vozes necessárias para aprovar a proposta, que tem a oposição da ala mais conservadora do partido. Em reunião fechada, Boehner convocou os deputados republicanos a "arriscar o traseiro" e votar por um aumento da dívida federal de curto prazo.

- A cada dia que ele (Boehner) passa impondo seus desejos na reunião de líderes de seu partido, adernamos cada vez mais perto de um catastrófico calote - advertiu o senador democrata Charles Schumer.

Mas o líder da minoria republicana no Senado, Mitch McConnell, defendeu a proposta de Boehner:

- Continuo comprometido como sempre em resolver a crise de uma maneira que nos permita evitar o calote sem elevar impostos e cortar gastos sem truques orçamentários. Só há uma opção que faz isso, e é a que Boehner apresentou - afirmou.

Ontem, Obama rejeitou a sugestão de parlamentares democratas para ignorar os debates no Congresso e invocar a 14ª emenda da Constituição americana para elevar o teto de endividamento federal. A emenda diz que a dívida pública dos EUA, autorizada pela lei, "não deve ser questionada".

- Nós avaliamos essa possibilidade, mas essa não é uma opção - descartou o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney.

Em depoimento ontem na Comissão de Serviços Financeiros da Câmara, o presidente da agência de classificação de risco Standard&Poor"s, Deven Sharma, disse não acreditar na hipótese de uma moratória da dívida americana, mas não descartou o rebaixamento do rating do crédito soberano dos EUA, hoje com a nota máxima, "AAA".

- Baixar a nota não significa que o país vá entrar em default (calote), mas que aumentaram os seus riscos - afirmou Sharma.

Analistas discordam de data-limite de 2 de agosto

Para o economista Michael Mussa, do Peterson Institute for International Economics, uma alteração do rating para "AA" fará pouca diferença.

- O que as agências de classificação de risco pensam sobre o governo dos EUA e a administração de suas finanças não é particularmente importante. No fundo, os EUA são bem conhecidos em suas forças e fraquezas.

O Barclays Capital Research estimou que o governo terá recursos suficientes para pagar suas obrigações até 10 de agosto, conforme estudo baseado em dados do Tesouro, que apontam US$14 bilhões adicionais na arrecadação até meados deste mês. Segundo os cálculos anteriores do Barclays, faltariam US$2 bilhões em caixa para o pagamento de US$32 bilhões em débitos no próximo dia 3. A Stone & McCarthy Research Associates e a Wrightson ICAP preveem fundos federais para segurar as contas até o dia 15 de agosto. Já o Centro de Políticas Bipartidárias do Congresso (BCP, na sigla em inglês) calcula que entre os dias 2 e 10 agosto o governo não terá mais dinheiro para efetuar os pagamentos devidos.

A Casa Branca voltou a afirmar ontem que a data-limite para uma eventual moratória é 2 de agosto.

- E ainda que à meia-noite de 2 de agosto não nos transformemos todos em abóboras, perderemos, como país, nossa autoridade de tomar emprestado pela primeira vez em nossa História. E isso seria muito, muito ruim - ressaltou o porta-voz Jay Carney.

Para Mussa, o governo terá de recorrer a um certo contorcionismo para cobrir o buraco de cerca de US$135 bilhões nas contas no mês de agosto.

- É improvável que se deixe de pagar os juros dos títulos do Tesouro. Poderá ocorrer um adiamento temporário, mas não deverá se prolongar, e serão necessários cortes de outros pagamentos. Mas não acredito numa moratória. Se ocorrer, nenhum político de Washington conseguirá se reeleger. A noção de não elevar o teto da dívida é completamente absurda - afirmou o economista.

(*) Com agências internacionais

FONTE: O GLOBO