quarta-feira, 22 de outubro de 2008

FRASE SELECIONADA

Em um sistema de produção onde toda a continuidade do processo de reprodução depende do crédito, quando este acaba subitamente e somente transações com dinheiro passam a ser aceitas, é inevitável que ocorra uma crise, uma tremenda demanda por meios de pagamento. É por isso que, à primeira vista, a crise inteira parece ser somente uma crise de crédito e de moeda. E de fato trata-se apenas da conversibilidade de letras de câmbio em dinheiro. No entanto, a maioria destes papéis representam compras e vendas reais, cuja extensão – para muito além das necessidades da sociedade – é, afinal, a base de toda a crise. Ao mesmo tempo, há uma quantidade enorme destas letras de câmbio que representam mera especulação, que agora revela sua face e colapsa; especulação fracassada com o capital de outras pessoas, com o capital-mercadoria depreciado ou invendável, ou com ganhos que nunca mais poderão ser realizados. Todo esse sistema artificial de expansão forçada do processo de reprodução evidentemente não pode ser resolvido com um banco, por exemplo, o Banco da Inglaterra, entregando a todos esses especuladores o capital que lhes falta através de seus títulos, comprando mercadorias depreciadas a seus antigos valores nominais. Aliás, é nesse momento que tudo começa a parecer distorcido, já que nesse mundo de papel, o preço real e seus fatores reais desaparecem, deixando
visível somente metais, moedas, cédulas, letras de câmbio e títulos.


(Karl Marx, O Capital, vol. 3, cap. XXX.)

Moraes Moreira: Uma declaração de amor ao Rio


EM FORMA DE “CORDEL” UMA DECLARAÇÂO DE AMOR AO RIO E O MEU APOIO TOTAL À CANDIDATURA GABEIRA:

Pelo Rio de Janeiro
Declaro meu bem querer
Como tantos Brasileiros
Que aqui vieram viver,
Feliz é quem tem a manha
O jeito de alcançar
O topo dessa montanha
E a profundeza do mar

Provoca tanta cobiça
Essa cidade mulher
Encanta e nos enfeitiça
Como esse Rio dá pé!
Quem ama assim essa terra
Sabe o milagre que faz
Enxerga além dessa guerra
Os horizontes da paz

O orgulho bate no peito
Eu faço o V da vitória,
Que seja o nosso prefeito
Alguém que tenha uma história
Que venha noutra batida
Mudando o rumo da prosa
Em prol da nossa querida
Cidade maravilhosa

Sou de São Sebastião
Um verdadeiro devoto
Com muita satisfação
Declaro aqui o meu voto:
Sendo eleitor consciente
Meu nome é Moraes Moreira
Eu digo pra toda gente
Meu candidato é GABEIRA.

A bola fora de Paes

Pedro Motta Gueiros
DEU EM O GLOBO

Filho de Saldanha: candidato é retrógrado

Um pouco da polêmica que João Saldanha provocou em vida - seja como técnico de futebol, comentarista ou político - ressurgiu na campanha do segundo turno do Rio. Anteontem, o candidato do PMDB, Eduardo Paes, afirmou que seu adversário, Fernando Gabeira (PV), "lembra até o João Saldanha. Fica comentando as propostas que faço e não apresenta nenhuma". Um dia depois, parentes do "João Sem Medo" trataram de revivê-lo ao entrar no confronto com o peemedebista e manifestar apoio ao rival.

- É um absurdo que um candidato à prefeitura do Rio não saiba quem é João Saldanha e se refira a ele de maneira irônica. Isso nos revolta - disse Elza Saldanha Milliet, de 85 anos, irmã do ex-técnico do Botafogo e da seleção brasileira. - O Eduardo me parece que é uma pessoa que está por fora de tudo. Se esquivou além da conta. É uma coisa feia porque o João já está morto.

A família gosta de lembrar o temperamento forte de Saldanha. Quando comandava a seleção brasileira, João pôs Pelé no banco e enfrentou o regime militar ao se opor à convocação do atacante Dario, indicada pelo então presidente, o general Emílio Garrastazu Médici. Meses depois, o técnico foi afastado e Dario chegou à seleção junto com o técnico Zagallo.

Em vez de chuteiras, seu filho do mesmo nome calça sapatilhas, mas conserva o espírito de luta e a paixão pelo Botafogo. Para o coreógrafo João Saldanha, de 49 anos, a declaração mostra o descompasso de uma candidatura sob pressão.

- Isso revela que o Eduardo Paes está desesperado e que também não anda em muito boa companhia. Usar o nome do papai para atacar o Gabeira, sendo ele um político moderno, como se diz, é uma ação retrógrada, uma tática eleitoral atrasada - disse o filho, satisfeito com o desfecho do episódio. - O Gabeira já respondeu brilhantemente, ele sabe que tem o apoio de toda a família, e, quem sabe agora, de toda a torcida botafoguense. Acho que o Eduardo está precisando de mais alguns anos para amadurecer.

Em carta, assinada por Elza, pelas filhas Vera, Sonia e Ruth e pelo sobrinho Raul, a família responde à pergunta que apresenta no título: "Quem foi João Saldanha?". Além de responsável pelo lendário time do Botafogo de 1957, é apontado como o técnico que montou a base da seleção tricampeã do mundo em 1970. Na política, está registrado seu trabalho na defesa de camponeses e operários e sua liderança na construção do "maior projeto de democratização esportiva" do Brasil, o "Recriança" que atendeu mais de 500 mil crianças. O texto termina dizendo que "assim era João Saldanha, personagem que Eduardo Paes parece desconhecer."

Para a única dos cinco irmãos que ainda está viva, o desconhecimento do candidato, no entanto, é circunstancial.

- Se o João estivesse vivo, ele não ia abrir a boca - disse Elza.

Procurado, Paes não respondeu às declarações, pois estava num debate.

Dito pelo não dito


Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Pode acontecer qualquer coisa na disputa pelas presidências da Câmara e do Senado em fevereiro de 2009, menos o acordo de rodízio firmado há dois anos entre PT e PMDB ser cumprido na sua integralidade.

Antes de prosseguirmos, uma explicação sobre a relevância do tema: os próximos presidentes das duas Casas do Congresso comandarão o Parlamento em pleno processo de sucessão do presidente Luiz Inácio da Silva, cujo sucesso em boa medida depende da preservação da harmonia na aliança partidária que sustenta o governo e tem naqueles dois partidos os principais parceiros.

Se uma briga os tornarem incompatíveis, a sustentação do projeto de Lula de eleger o sucessor corre sério risco. Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, começou a perder a chance de ser substituído por um aliado dois anos antes, quando os então senadores Antonio Carlos Magalhães e Jader Barbalho quase se pegam a tapas no plenário.

A rixa quebrou o equilíbrio ecológico na aliança, repercutiu na disputa pelas presidências do Legislativo no ano seguinte, a combinada divisão dos cargos entre PMDB e PFL foi para o espaço, o PSDB fez de Aécio Neves presidente da Câmara, o PFL reagiu e ali considerou encerrado seu compromisso de lealdade com Fernando Henrique.

Daí surgiu a candidatura de Roseana Sarney, cujo fracasso foi atribuído pelo PFL a subterfúgios engendrados pelo candidato tucano José Serra e o resto da história está registrado nos anais da dispersão do campo governista até a derrota final para Lula.

Evidentemente, o atual presidente não vai querer que lhe aconteça o mesmo e, por isso, é de se supor que empenhe todos os esforços para manter o PMDB, que sai das urnas mais forte do que nunca, na sua base.

É este partido cheio de respaldo e disposição que desde já se rebela contra a eleição do senador petista Tião Viana para a presidência do Senado, conforme o anteriormente combinado. Pertence ao mesmo partido o atual presidente da Casa, Garibaldi Alves, que diz o seguinte sobre o acerto: “Acordos feitos com muita antecedência têm um risco”. Na visão dele, o pacto em questão “é um sério candidato a zebra”.

Garibaldi mesmo está no páreo. Fez uma primeira consulta sobre suas possibilidades legais e não teve uma boa resposta. Mas vai insistir, sob o argumento de que apenas cumpre o restante do período para o qual foi eleito Renan Calheiros. “Mudou o homem, mas o mandato é o mesmo.”

O próprio Calheiros trabalha contra Viana, põe na roda o nome de José Sarney (uma hipótese sempre levantada quando há sinal de confusão nas proximidades) e o PMDB, com isso, quer dizer uma de duas: ou que se acha no direito de dar as cartas e, portanto, reivindicar o comando das duas Casas ou que atira ao mar a candidatura de Michel Temer a presidente da Câmara.

Esta última é bem pouco provável. Primeiro, porque Temer é simplesmente o presidente do partido e, segundo, porque ele guarda na gaveta da escrivaninha o acordo assinado por escrito. Nele, em troca do apoio do PMDB a Arlindo Chinaglia (atual presidente), o PT se compromete a apoiar um pemedebista para o delicado período 2009/2010.

No caso de quebra do escrito, raciocinemos: fica na desvantagem o PMDB, cuja mercadoria será disputada a tapa no mercado da sucessão, ou o PT, cujo poder central estará em jogo e não tem nada a oferecer?

Até por uma questão de custo-benefício, se não for tudo resolvido na santa paz, Lula, na posição de quem parte e reparte, ficará com quem puder lhe propiciar a melhor parte.

Discretamente

Sem dar ao cenário o nome de confronto, o presidente Lula e o governador José Serra transferiram para São Bernardo o enfrentamento que não houve na capital de São Paulo.

Desde o primeiro turno, Lula aposta todas as fichas na eleição de Luiz Marinho. Agora, no segundo, Serra intensificou presença em prol da candidatura de Orlando Morando.

O petista é o favorito e talvez por isso não interesse aos tucanos chamar atenção para a existência do embate “de cima”. Mas se porventura a maré virar certamente farão grande alarde, pois Marinho é a última - e única - chance de o presidente creditar uma vitória em sua conta nessas eleições.

Além da cidade de origem e moradia de Lula, São Bernardo foi palco do maior investimento eleitoral do presidente que lá esteve inúmeras vezes.

Ironia do destino

Leonardo Quintão, o pemedebista que tirou do governador Aécio Neves a oportunidade de eleger Márcio Lacerda no primeiro turno em Belo Horizonte, foi escolhido candidato na convenção do partido com o apoio de aliados do governador.

Temendo a vitória do oponente Sávio Souza Cruz, a área de influência de Aécio no PMDB se mobilizou em prol do nome de Quintão, cujo grau de oposicionismo é próximo do zero e o potencial de perturbação na campanha era considerado, por isso, muito reduzido.

Relações que inspiram cuidados


Rosângela Bittar
DEU EM O VALOR ECONÔMICO


O governo está esperando a volta de deputados, senadores e ministros da campanha de eleição dos prefeitos para começar a juntar os pedaços da aliança que dá sustentação à gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A previsão que se faz no Palácio do Planalto é que será necessário um trabalho forte de reconstrução antes de convocar os partidos amigos a seguirem com a agenda do governo no Congresso.

Ao descrever esta agenda, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, cita duas prioridades de interesse do governo: a votação dos projetos de Fundo Soberano e de Reforma Tributária, nesta ordem. Há, também, o Orçamento para 2009, cuja aprovação, em todos os anos, serve aos mais baixos instintos do clientelismo de alguns partidos desta aliança.

As medidas de combate à crise econômica mundial já estão sendo negociadas, inclusive com a oposição, pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e até o momento, pelas reações, com sucesso.

Mas embora o ministro não admita que estas questões estejam na agenda do governo, há polêmicas no forno das intenções de líderes governistas no Congresso. Já se discute, por exemplo, a possibilidade de instituição de uma Constituinte para promover, entre outras mudanças, a reforma política. Aquela em que, para um grande grupo do PT, está sempre subentendida a possibilidade do terceiro mandato para o presidente da República. Menciona-se, ainda, outro projeto originado nas más idéias fixas: a recriação da CPMF, por intermédio do novo nome de contribuição social. Empreitada em que o governo precisará de uma base não só coesa como muito feliz.

Tanto para os mais, quanto para os menos polêmicos, o presidente precisará reunir em torno de si a base de quase 400 parlamentares. Lula não se envolveu nas disputas entre aliados no segundo turno das eleições municipais - ficou restrito aos amigos do peito que têm adversários de oposição - mas é com grande expectativa que aguarda o desenlace nas cidades onde os partidos que formam a base de apoio no Congresso concorrem entre si agora e passaram por uma refrega dura no primeiro turno.

O PSB, um dos principais partidos aliados de Lula que têm candidato à sua sucessão, precisa absorver, antes de fazer as pazes, principalmente a guerra aberta pelo PT nacional contra a aliança com o PSB em torno da candidatura de Márcio Lacerda em Belo Horizonte. Embora a sua disputa seja com o PMDB, o problema real foi e ainda é dentro do próprio PT, cuja cúpula negou apoio aos aliados.

A eleição em Porto Alegre, outro exemplo sobre a complexidade das relações a serem reconstituídas, possibilitou ao PT criar constrangimentos com vários partidos da aliança lulista, com o PMDB, na disputa direta, e com o PSB e o PCdoB, que ficaram unidos contra os petistas, esgarçando as relações desde o primeiro turno. Em São Paulo, o PCdoB, outro aliado histórico, só foi chamado a integrar a chapa de Marta Suplicy, como vice, depois que o PT perdeu o PMDB e o PR. No Rio, o aliado PMDB está na disputa final depois de um primeiro turno em que não houve possibilidade de conquistar o PT para a aliança municipal que negou apoio tambem ao PCdoB.

As campanhas de primeiro turno apresentaram desgastes acentuados dentro aliança lulista. Provavelmente premido por uma destas situações, a de Fortaleza, onde o PT manteve, desde 2004, um jogo duro com aliados, é que no fim de agosto, portanto ainda no início da campanha, o deputado Ciro Gomes (PSB), em viagens pelo Brasil, já previa que dificilmente a base de hoje ficaria unida em 2010. Um mês depois de Ciro foi a vez de o líder do PSB no Senado, Renato Casagrande, fazer o mesmo alerta. Ela previa maior facilidade para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva escolher um candidato e ir em frente com ele do que amarrar os apoios dos partidos aliados a esta candidatura do presidente à sucessão.

São praticamente 15 partidos nesta aliança: PT, PMDB, PP, PSB, PDT, PR, PCdoB, PTB, PSC, PRB, PTC, PCB, PTdoB, PMN, PV (em parte) e PHS. Entre todos eles foram registrados problemas durante a campanha, mas nada que se aproxime do que ocorreu entre os dois principais e maiores, o PMDB e o PT. Governadores, ministros, prefeitos, líderes nacionais e regionais se engalfinharam, disputaram do abraço presidencial às verbas federais, levando as campanhas a transcorrerem da pior forma possível.

Salvador, em segundo turno, é uma eleição considerada emblemática para o Palácio do Planalto no que diz respeito à possibilidade de reconstrução da aliança. Mais delicada do que qualquer outra em que o maior partido da base e mais bem sucedido nestas eleições, o PMDB, enfrenta o partido do presidente. Uma eleição tensa, disputada voto a voto, com um risco forte de deixar seqüelas. A expectativa do Palácio do Planalto quanto à volta do PMDB à base de apoio ao presidente, e à fidelidade à agenda de interesse do governo no Congresso, está inteiramente voltada ao que se passa na Bahia.

Unidos para derrotar o adversário comum em 2006, PMDB e PT estão agora em campos opostos liderados, cada um, por um líder importante na equação política do governo federal. Geddel Vieira Lima (PMDB), ministro da Integração Nacional, considerado o novo rei da Bahia, que coroou 130 prefeitos nesta disputa municipal, trabalha para reeleger o atual prefeito da capital, João Henrique, do PMDB. Jacques Wagner, governador do Estado, ex-ministro do governo Lula, eleito com o apoio de Geddel, lidera a campanha do PT com o candidato Walter Pinheiro. O ambiente político é tenso em Salvador.

O PT, com sua militância que se agiganta em finais de campanha, é um partido que tem formas agressivas de buscar o voto. O PMDB, pela circunstância de ser o seu chefe quem é, está numa situação considerada delicada e sabe que não pode cometer erros que inviabilizem, desde agora, o início da articulação do dia seguinte tendo no horizonte a sucessão presidencial. No Palácio do Planalto sabe-se que, em campanha, o exagero é lugar comum, mas vê-se como delicada a situação na Bahia. Evita-se definir caminhos para reaglutinação de forças antes de ver como os dois partidos sairão desta campanha em Salvador. É ali que se joga a sorte da aliança.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

O vento rondou


Nas Entrelinhas: Por Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

A crise financeira mundial volatilizou o otimismo e disseminou a incerteza. Esse “fator psíquico” pouco influiu no resultado das eleições municipais, mas pode ser determinante na sucessão do presidente Lula

É temerário antecipar resultados eleitorais, mesmo com pesquisas idôneas nas mãos. Principalmente quando a eleição está muito polarizada e há um candidato com uma linha ascendente, ainda que esteja atrás do favorito. O imponderável, na reta final das campanhas, é o voto dos eleitores que se mantiveram indiferentes ao debate político e entram no processo às vésperas do pleito: escolhem um candidato e desequilibram a disputa. Muito do que está acontecendo no segundo turno se deve à ocorrência desse fenômeno.

As capitais

Feita a ressalva, vamos aos prognósticos. Em São Paulo, é previsível a vitória do prefeito Gilberto Kassab (DEM) contra Marta Suplicy (PT) apesar do empenho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em favor da petista. No Rio, Fernando Gabeira (PV) mantém vantagem em relação a Eduardo Paes (PMDB), um cristão novo do governismo. Em Belo Horizonte, o prefeito Fernando Pimentel (PT) e o governador Aécio Neves (PSDB) tentam reverter a dianteira de Leonardo Quintão (PMDB) sobre Márcio Lacerda (PSB), mas está difícil. O prefeito José Fogaça (PMDB) caminha para se reeleger em Porto Alegre, derrotando a petista Maria do Rosário. Em Salvador, João Henrique (PMDB) também marcha para a reeleição, com vantagem em relação a Walter Pinheiro (PT).

Amazonino Mendes (PTB), em Manaus, atropelou o prefeito Serafim Corrêa (PSB), que está conseguindo a proeza de perder a reeleição. Em Belém, Duciomar Costa (PTB) e José Priante (PMDB) estão em empate técnico. Já em São Luís, José Castelo (PSDB) manteve o favoritismo em relação a Flávio Dino (PCdoB). Em Cuiabá, Wilson Santos (PSDB) deve se reeleger, derrotando Mauro Mendes (PR). Camilo Capiberibe (PSB) também confirma seu favoritismo contra Roberto Góes (PDT), em Macapá. E Dario Berger (PMDB), cujo adversário é o ex-governador Esperidião Amin (PP), provavelmente será mais um prefeito reeleito, em Florianópolis.

Nessas capitais, o foco dos debates foi a administração local. Não houve “nacionalização” do voto do eleitor. O fato de Kassab e Gabeira liderarem as pesquisas não significa que o povo está mandando um recado malcriado para o presidente Lula. Para o bem ou para o mal, a relação dos candidatos com os governadores José Serra (PSDB) e Sérgio Cabral (PMDB), respectivamente, teve mais peso nas eleições. A tese de que qualquer poste pode ser eleito se tiver apoio das máquinas de governo também foi rejeitada pelos eleitores. O candidato, mesmo ungido por poderes federal, estadual e/ou municipal, precisa provar que tem talento político e vocação eleitoral.

O rumo

Por tudo isso, é chover no molhado mitigar o papel do presidente Lula nas eleições municipais. Seu prestígio foi devidamente capitalizado pela base governista, mas não foi suficiente para garantir a vitória dos candidatos do PT em qualquer circunstância. O PMDB, por exemplo, soube faturar melhor a participação no governo e está sendo o partido mais bem-sucedido nas eleições. Manteve sua histórica implantação nos pequenos e médios municípios e voltou a disputar o poder em grandes cidades. Neste segundo turno, deve fazer de quatro ou cinco prefeituras de capitais.

Entre o primeiro e o segundo turnos, o que mudou não foi o eixo do debate eleitoral, mas a conjuntura econômica. Por causa da crise financeira, o real sofreu uma desvalorização, o crédito ficou mais difícil, os investimentos subiram no telhado. A economia crescerá menos e o fantasma do desemprego ronda comércio e indústria. Lula faz o que pode para manter o discurso do “nunca antes neste país”, mas crise é maior do que o seu carisma. A capacidade de absorvê-la dependerá mais do crédito oficial e do gasto público direcionado corretamente.

Na verdade, a crise financeira mundial volatilizou o otimismo e disseminou a incerteza. Esse “fator psíquico” pouco influiu no resultado das eleições municipais, mas pode ser determinante na sucessão presidencial em 2010. Tudo vai depender do ambiente econômico e do perfil dos candidatos para enfrentá-lo. Por enquanto, a crise já abalou a expectativa de poder em torno da candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que mergulhou na “marolinha”. Ao mesmo tempo, alimenta as articulações petistas para recuperar das cinzas, como fênix, a candidatura do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci (PT-SP) à Presidência da República. É que o vento rondou e já não se sabe para que lado soprará.

Debates

Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
DEU NO ESTADO DE MINAS



À medida que a comunicação eleitoral foi se profissionalizando e se tornando mais e mais parecida com a propaganda de produtos e serviços, os debates na televisão se tornaram uma das poucas maneiras através das quais os eleitores comuns podem ver os candidatos mais parecidos com o que são na vida real

Nas cidades onde se disputa o segundo turno das eleições municipais, os últimos dias estão sendo marcados por uma sucessão de debates entre os candidatos nas emissoras de televisão, na base de dois ou mais por semana. O número é maior que no fim do primeiro turno, mas nem tanto. Naqueles dias, como agora, cada uma organizou o seu.

Debates entre candidatos, transmitidos ao vivo, fazem parte da vida democrática moderna. Alguns foram memoráveis, alterando tendências de eleições que pareciam consolidadas ou afirmando lideranças novas, que os eleitores aprenderam a respeitar. Quem estuda a história política se lembra dos célebres debates entre John Kennedy e Richard Nixon, em 1960, nos quais aquela eleição americana se definiu.

Em nossa própria experiência, tivemos alguns decisivos, seja em eleições estaduais ou presidenciais. De todos, talvez o mais crucial foi o que aconteceu no fim do segundo turno da eleição de 1989. Há quem considere que foi nele que Collor assegurou sua vitória sobre Lula, que teve, naquela noite, seu pior momento de todas as eleições que disputou.

Os eleitores, de uma maneira geral, dizem se interessar muito por eles e considerá-los uma das melhores oportunidades para tomar suas decisões de voto, colocando-os, nas pesquisas, entre as principais formas para conhecer e avaliar os candidatos. Mesmo quem não se interessa muito por política acha que são relevantes.

As razões são previsíveis. À medida que a comunicação eleitoral foi se profissionalizando e se tornando mais e mais parecida com a propaganda de produtos e serviços, os debates na televisão se tornaram uma das poucas maneiras através das quais os eleitores comuns podem ver os candidatos mais parecidos com o que são na vida real. Fora dos estúdios, sem poder ler o que dizem, menos produzidos, ficam mais naturais (ou menos artificiais).

Por tudo isso, é pena que os debates entre candidatos na televisão continuem a sofrer os problemas que atualmente têm e que exista tão pouca disposição para resolvê-los. Enquanto sobra, em nossos legisladores, vontade para enfrentar questões sem nenhum significado (minúcias irrelevantes sobre o que se pode ou não fazer nas campanhas, por exemplo), ninguém se preocupa em criar condições para que algo tão importante e tão valorizado pelos eleitores possa cumprir suas finalidades.

A mais urgente é acabar com o falso igualitarismo que obriga as emissoras a convidar todos os que se registram na eleição, entre os quais há de tudo. Dele apenas decorre que os eleitores ficam privados de conhecer melhor os verdadeiros candidatos, vendo desfilar bizarrices que não possuem qualquer base na sociedade.

É claro que isso muda no segundo turno, mas o desejável é que debates verdadeiros aconteçam desde cedo.

A segunda questão é, uma vez estabelecido que apenas os que significam algo vão participar, desengessar as regras que se tornaram padrão nos nossos debates, com tantas filigranas que até os jornalistas que fazem sua mediação volta e meia se confundem. Debate é debate, sem limitações exageradas de tempo e amarras de réplicas, tréplicas, direitos de resposta e coisas parecidas.

Outra questão a tratar é a subordinação de uma instituição tão relevante às disputas de audiência e imagem entre as emissoras comerciais. A líder quer sempre fazer o “último debate”, para preservar um papel de pretensa centralidade no processo eleitoral. Todas as outras querem fazer “o seu”.

Isso é bom? Agora, na reta final, termos tantos debates, organizados na última hora, cada um mais rígido que o outro? Não existem soluções melhores?

Que tal analisar o exemplo americano, ao qual chegaram depois de passar por problemas parecidos com os nossos? Debates em rede, agendados com antecedência, com jornalistas de renome, regrados com bom senso, mais longos, cada um em torno de um tema central? Pode não ser a opção para o Brasil, mas que é melhor que o que temos, não resta dúvida.

Lula mergulha a barba no molho da prudência


Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL


"Bobo não senta nesta cadeira de presidente da república", ensinou o presidente Itamar Franco a dois assessores ansiosos e afoitos que o aconselhavam a assumir a articulação para a escolha do seu sucessor.

E de bobo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tem nada, apesar dos muitos escorregões da língua solta na diluvial maratona diária de três, quatro, cinco improvisos.

Agora, por exemplo, Lula não está inventando a roda, mas aplicando as regras do bom senso e da experiência para pular a fogueira da campanha justamente na semana decisiva da eleição, com o quadro enrolado em indefinições em muitas capitais e grandes cidades e os institutos de pesquisa batendo cabeça na contradição embirutada dos índices que mais confundem do que ajudam a entender as chances dos favoritos.

Lula usa bem a sua facilidade de comunicação, com a invejável popularidade batendo na lua. Joga o seu xadrez político movendo as pedras com a experiência das suas muitas campanhas, com três derrotas na briga pela Presidência e as duas vitórias sucessivas que lavam a alma e só não apagam a nódoa da implicância com o seu antecessor e alvo predileto, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Embalado pela aprovação popular e com o afago de importantes êxitos administrativos, o presidente esperou a hora para entrar na campanha e, com meia dúzia de discursos, decidir a parada nas capitais duvidosas, nas quais os seus candidatos necessitavam da sua palavra para apontar o rumo ao voto.

No primeiro turno, pagou o preço da arrogância e da mesquinharia quando ameaçou expelir do Congresso o senador José Agripino Maia, líder da bancada dos Democratas, na eleição para a prefeitura de Natal. Caiu do pangaré com a eleição de Micarla de Sousa, lançada pelo Partido Verde para promover a legenda.

O castigo foi bem aproveitado. Na reta do segundo turno com os institutos de pesquisa enlouquecidos pelas súbitas correções do rumo do eleitorado, o presidente consultou o espelho, acariciou as barbas grisalhas antes de mergulhá-las no caldo da prudência.

E entre três ou quatro lances, liquidou a fatura com os candidatos que não podem perder e anunciou que se retirava da campanha do segundo turno, recolhendo-se ao seu gabinete para "trabalhar, trabalhar e trabalhar". A tríplice repetição é uma tática para dissipar a névoa da incredulidade com o impacto de uma mudança da água para o encorpado vinho de castas nobres.

Não precisava tanto. Mas, nunca é demais exagerar na ênfase. Motivos é o que não faltam para o presidente assumir o comando das articulações da equipe econômica enquanto a crise vai e vêm, na ressaca dos grandes do mundo ensandecido.

E o eleitorado, ou parte dele, parece que resolveu escolher o seu candidato dispensando os feitores que se consideravam insubstituíveis. Ninguém pode estar certo da vitória. Talvez, com a ressalva do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), candidato à reeleição, muito ajudado pela desastrada adversária Marta Suplicy, que se envenenou ao morder a língua.

No Rio, a crescente violência dos ataques do Eduardo Paes (PMDB) é um golpe de faca de dois gumes.

È melhor esperar pela palavra final das urnas eletrônicas de domingo.

E saborear a sagacidade da lição do presidente Lula do seu retiro no Palácio do Planalto: "Pode ser que não tenha muita diferença ideológica entre democratas e republicanos. Mas, do ponto de vista simbólico, este mundo eleger um torneiro mecânico pela segunda vez, eleger um índio na Bolívia e um negro nos Estados Unidos é demais".

Como se vê, uma panacéia que serve para tudo.

Obama avança


Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


NOVA YORK. À medida que se aproxima o dia da eleição presidencial, a vantagem do democrata Barack Obama se consolida, e os debates tiveram parte importante nesse trajeto. A mais recente pesquisa do Pew Institute, divulgada ontem, mostra uma liderança de nada menos que 14 pontos percentuais para o candidato democrata depois do terceiro debate, exatamente o dobro do resultado verificado na pesquisa feita após o primeiro debate, que se realizou em 26 de setembro. O mais grave para o adversário republicano McCain é que ele teve em Hempstead, na quarta-feira passada, sua melhor atuação nos debates, e isso está registrado em algumas pesquisas, embora em todas elas Obama tenha vencido.

A questão é que McCain foi melhor que ele mesmo, se superou no derradeiro debate, mas não teve capacidade de jogar seu oponente na lona. Ele saiu daquela noite na Universidade de Ofstra com dois motes que estão sendo explorados nesses últimos dias antes das urnas: a afirmação de que não é o presidente Bush, e o personagem de Zé, o encanador, para tentar atrair os votos da classe média trabalhadora.

Depois disso, em todos os comícios em que comparece, e mesmo nos anúncios pela televisão, McCain repete o mantra "eu não sou George Bush" e fala dos impostos que supostamente Obama vai tirar da classe média empreendedora.

Mas, o que fez com que McCain se saísse melhor do que nas vezes anteriores foi justamente a retomada do homem cordial que ele era no início da campanha, o republicano ameno e independente que dava aos eleitores independentes uma alternativa de voto.

Mas, McCain não conseguiu levar sua campanha para uma trajetória mais leve, e teve que assumir a candidatura de Sarah Palin como vice-presidente para recuperar os eleitores da base direitista do partido que estavam decepcionados com sua "mão leve" nos ataques a Obama.

Palin cada vez mais representa essa interferência pesada da direita política na campanha de McCain, e cada vez mais afasta os eleitores independentes. A mesma pesquisa do Pew Institute indica que a presença de Palin na chapa republicana parece enfraquecê-la contínua e crescentemente: 49% dos eleitores têm uma impressão desfavorável a ela, contra 44% que a vêem de maneira favorável.

Esses números eram, em meados de setembro, favoráveis a Sarah Palin por 54% a 32%. Pior: as mulheres, especialmente as de menos de 50 anos, tornaram-se crescentemente críticas a Sarah Palin, chegando a 60% as que não gostam dela, quando esse número era de 36% em meados de setembro.

Quando Sarah Palin aparece como na noite de sábado no programa humorístico "Saturday Night Live", aceitando com bom-humor as críticas do programa e participando das brincadeiras, sua popularidade melhora.

E a situação para McCain piora porque, ao contrário das opiniões sobre Joe Biden, o vice de Obama, as sobre Sarah Palin têm uma influência na decisão de voto republicana, para o bem ou para o mal.

A confiança do eleitor republicano em uma vitória de McCain decresceu sensivelmente desde a última pesquisa, há um mês: hoje, cerca de 40% dos republicanos acreditam em uma vitória de McCain, contra 70% da pesquisa anterior. Naquela ocasião, apenas 13% dos republicanos admitiam uma vitória de Obama, número que agora já é de 35%.

Obama já aparece como o candidato que inspira mais confiança nos eleitores em assuntos em que antes ele era uma interrogação, como Iraque e terrorismo, o que mostra que a tentativa da campanha republicana de transformá-lo em uma escolha arriscada, e as sugestões de seus laços com um ex-terrorista não surtiram efeito.

A pesquisa do Pew Institute detectou um movimento que pode ser decisivo entre os eleitores: nada menos do que 31% deles planejava votar antes do dia da eleição, o que pode indicar que McCain terá ainda menos tempo para reverter o quadro. E mais: entre os que votarão antecipadamente, beneficiando-se de um sistema eleitoral que permite o voto pelo correio, 58% apóiam Obama.

Uma das esperanças dos estrategistas republicanos é que a situação econômica, que tem beneficiado os democratas, acalme-se até o dia 4 de novembro, permitindo que o eleitor analise as opções longe dos impactos das más notícias financeiras.

Obama também está ganhando nos chamados "estados decisivos" por uma margem de 52% a 37%, nos mesmos estados onde o atual presidente George Bush venceu na maioria, por margens que chegaram a ser de 21% em Indiana. O candidato democrata John Kerry venceu em cinco deles, todos com pequenas margens.

Esses resultados, embora em alguns estados como Nevada e Carolina do Norte McCain continue competitivo, só tornam mais crucial uma outra vantagem de Obama: a arrecadação de fundos para a campanha.

O democrata acaba de bater um novo recorde, recebendo US$150 milhões de dólares de doações em setembro, o que lhe permite utilizar mais a propaganda eleitoral paga na televisão nos estados em que a disputa está acirrada.

De acordo com a avaliação de um grupo independente de análise de mídia, os anúncios de Obama na TV são na proporção de 4 para 1. Só na última semana a campanha de Obama transmitiu 50 mil spots de 30 segundos em cadeias nacional, local e TV a cabo, o que representaria, segundo a mesma análise, cerca de 17 dias de anúncios seguidos.

Na Flórida, por exemplo, um estado importante e que está mudando para apoiar os democratas, a campanha de McCain não transmitiu nenhum anúncio em Miami na última semana, enquanto Obama colocou na TV 1120 spots. Na internet, o massacre foi maior ainda: no mês passado, foram colocados nada menos que 914 milhões de anúncios, contra 7,8 milhões de Obama.

A Flórida latina


Fernando Rodrigues
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


MIAMI - Os EUA elegem neste ano o primeiro negro ou o mais idoso presidente do país. Será uma decisão de relevância histórica sem precedentes. Mas há outras complexidades regionais com grande riqueza simbólica e política.

É o caso do voto latino aqui na Flórida. Cerca de 20% do eleitorado do Estado é de origem hispânica.

Grande parte tem raiz em Cuba e no anticastrismo. Por décadas, esse foi um reduto republicano. Agora, há sinais de mudança.

Pesquisas mostram os latinos divididos ao meio entre o democrata Barack Obama e o republicano John McCain. É impossível prever o desfecho, mas é clara a trajetória declinante do eleitorado pró-linha dura em relação a Cuba.

Na região de Miami, onde estão os latinos, observa-se um abismo geracional e de entusiasmo entre as duas campanhas. Na segunda-feira à tarde, o comitê central republicano estava calmo. Mulheres na faixa dos 60 anos e com laquê no cabelo recebiam os poucos visitantes -apenas dois em uma hora.

"Posso olhar a sala dos telefones?", perguntei. Trata-se de um galpão onde os voluntários se revezam para fazer ligações e conquistar eleitores. A assessora pediu alguns minutos. Percebi quando funcionários foram levados para o local. Sentaram-se em frente às mesas. Fingiram estar telefonando.

Ainda assim, muitos aparelhos ficaram desocupados.

No mesmo momento, uma massa de 50 mil pessoas participava de um comício de Obama na cidade de Tampa. Ontem, mais 50 mil eram esperadas à noite num evento obamista no centro de Miami.

Os democratas só venceram duas das dez últimas eleições na Flórida.

Desta vez, o eleitorado conservador mostra-se mais frágil. Há menos terror no ar contra Cuba.
Esse cenário pode não se transformar em realidade já, mas tem pinta de ser inevitável no futuro.

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